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O governo da direita logo que tomou posse tratou de aviar todas as mudanças que tinha preparado contra os direitos dos trabalhadores. Foi o Código do Trabalho, foi a Lei de Bases da Segurança Social, foi a entrega de parte do Serviço Nacional de Saúde aos privados, foi a restrição do acesso à Justiça por parte dos trabalhadores, etc. Com a maioria absoluta que obteve em 20 de Fevereiro, muito à custa de ter pro- metido mudanças significativas em todas estas áreas, o PS ainda não foi além de intenções. Mas os trabalhadores não podem continuar a esperar indefinida- mente pelas verdadeiras medidas de cor- recção das políticas de Durão e Santana. Urge que o Código do Trabalho seja expurgado, sem evasivas, dos pontos gravosos para os trabalhadores. Urge que o ataque à Segurança Social, pública, uni- versal e solidária, seja travado. O Governo do PS apresentou, finalmen- te, as primeiras medidas de “correcção” das políticas de Durão e Santana. Mas, salvo alguns pormenores positi- vos, quanto ao essencial, o que Sócrates nos veio dar, foi mais do mesmo, ou seja, mais sacrifícios para os trabalhadores, sem beliscar os privilégios dos ricos. Ao subir o IVA para 21%, o Governo agrava o factor de crescimento da econo- mia, pondo em risco o já débil aparelho produtivo. Continuamos sem perceber por que é que as pequenas e médias em- presas pagam 25% de IRC, quando a Ban- ca só paga metade continuando assim a promover a especulação financeira . MAIS CASTIGO PARA OS TRABALHADORES ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 73 EDITORIAL As grandes manifestações populares do 25 de Abril e do 1º de Maio só podem ter uma leitura: Os trabalhadores estão atentos às políticas seguidas pelo Governo do PS. Nas imponentes manifestações do 31º aniversário do 25 de Abril, um pouco por todo o País, com a participação e mobilização das comissões de traba- lhadores, mas especialmente em Lisboa e no Porto, o povo quis mostrar o seu regozijo pela queda democrática do governo das direitas, ao mesmo tem- po que exigia ao Governo do Eng.º Sócrates o cumprimento das promessas eleitorais. Nas jornadas do 1º de Maio, que tiveram por cenários mais de 45 cidades de norte a sul do continente, a que se juntaram algumas da Madeira e dos Açores, a CGTP-IN impôs-se mais uma vez como a maior organização social do País. Tanto em Lisboa como no Porto as grandes consignas e palavras de ordem gritadas por muitos milhares de manifestantes, centraram-se em torno da luta contra os aspectos mais gravosos do Código do Trabalho do Bagão, exigindo-se que o actual Governo as revogue. A caducidade anunciada da contratação colectiva de trabalho e a necessi- dade de um aumento intercalar do salário mínimo nacional foram os pontos fulcrais focados na grandiosa manifestação em Lisboa, que reuniu muitos milhares de pessoas. Importa agora que o Governo saiba e queira ler com realismo os sinais que os trabalhadores lhe quiseram transmitir tanto no 25 de Abril como no 1º de Maio. 25 DE ABRIL E 1º DE MAIO OS TRABALHADORES ESTÃO ATENTOS E MOBILIZADOS

À Tabela 73

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Orgão da Comissão de trabalhadores da CP

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O governo da direita logo que tomou

posse tratou de aviar todas as mudanças que tinha preparado contra os direitos dos trabalhadores.

Foi o Código do Trabalho, foi a Lei de Bases da Segurança Social, foi a entrega de parte do Serviço Nacional de Saúde aos privados, foi a restrição do acesso à Justiça por parte dos trabalhadores, etc.

Com a maioria absoluta que obteve em 20 de Fevereiro, muito à custa de ter pro-metido mudanças significativas em todas estas áreas, o PS ainda não foi além de intenções. Mas os trabalhadores não podem continuar a esperar indefinida-mente pelas verdadeiras medidas de cor-recção das políticas de Durão e Santana.

Urge que o Código do Trabalho seja expurgado, sem evasivas, dos pontos gravosos para os trabalhadores. Urge que o ataque à Segurança Social, pública, uni-versal e solidária, seja travado.

O Governo do PS apresentou, finalmen-te, as primeiras medidas de “correcção” das políticas de Durão e Santana.

Mas, salvo alguns pormenores positi-vos, quanto ao essencial, o que Sócrates nos veio dar, foi mais do mesmo, ou seja, mais sacrifícios para os trabalhadores, sem beliscar os privilégios dos ricos.

Ao subir o IVA para 21%, o Governo agrava o factor de crescimento da econo-mia, pondo em risco o já débil aparelho produtivo. Continuamos sem perceber por que é que as pequenas e médias em-presas pagam 25% de IRC, quando a Ban-ca só paga metade continuando assim a promover a especulação financeira .

MAIS CASTIGO PARA OS TRABALHADORES

ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 73

EDITORIAL

As grandes manifestações populares do 25 de Abril e do 1º de Maio só podem ter uma leitura: Os trabalhadores estão atentos às políticas seguidas pelo Governo do PS.

Nas imponentes manifestações do 31º aniversário do 25 de Abril, um pouco por todo o País, com a participação e mobilização das comissões de traba-lhadores, mas especialmente em Lisboa e no Porto, o povo quis mostrar o seu regozijo pela queda democrática do governo das direitas, ao mesmo tem-po que exigia ao Governo do Eng.º Sócrates o cumprimento das promessas eleitorais. Nas jornadas do 1º de Maio, que tiveram por cenários mais de 45 cidades de norte a sul do continente, a que se juntaram algumas da Madeira e dos Açores, a CGTP-IN impôs-se mais uma vez como a maior organização social do País.

Tanto em Lisboa como no Porto as grandes consignas e palavras de ordem gritadas por muitos milhares de manifestantes, centraram-se em torno da luta contra os aspectos mais gravosos do Código do Trabalho do Bagão, exigindo-se que o actual Governo as revogue.

A caducidade anunciada da contratação colectiva de trabalho e a necessi-dade de um aumento intercalar do salário mínimo nacional foram os pontos fulcrais focados na grandiosa manifestação em Lisboa, que reuniu muitos milhares de pessoas. Importa agora que o Governo saiba e queira ler com realismo os sinais que os trabalhadores lhe quiseram transmitir tanto no 25 de Abril como no 1º de Maio.

25 DE ABRIL E 1º DE MAIO OS TRABALHADORES ESTÃO ATENTOS E MOBILIZADOS

No parecer (negativo) que a Comissão de Trabalhado-

res deu ao Balanço Social da CFP-EP, relativo ao ano de 2004, evidencia-se a prática continuada de uma má ges-tão dos recursos humanos, técnicos e financeiros.

A extinção cega de postos de trabalho, a pretexto da necessidade de se reduzir o défice de exploração foi mais uma vez seguida pelo CG, mas com um resultado que não deixa margem para dúvidas: a desertificação da CP cresce na exacta proporção em que o défice se agrava. Estamos, portanto, perante um embuste de proporções escandalosas, a que urge pôr termo.

Em 2004 o défice da CFP-EP foi de 252 milhões de Euros (50 milhões de contos), o que corresponde a um significativo agravamento relativamente a 2003. No que se refere à extinção de postos de trabalho, houve tam-bém um agravamento, pois em 2004 foram extintos 9 por cento dos efectivos, para 6,8 por cento em 2003. Mas o Balanço Social apresentado pelo CG falha sobretudo, par além dos resultados negativos que apresenta, pela total ausência de uma perspectiva global, com uma má análise aprofundada da realidade e projecções rigorosas para o futuro. A displicência com que foi mais uma vez elabora-do o Balanço Social denuncia a reduzida relevância que o CG concede a este documento, transformando-o numa mera obrigação burocrática, sem qualquer significado social.

De qualquer maneira ficámos a saber que em 2004 a CP

COMISSÃO DE TRABALHADORES INICIOU NOVO MANDATO

Apurados os resultados da eleição de 30 de Março, a nova Comissão de Trabalhadores, com as respectivas Sub-Comissões, já estão a trabalhar em pleno.

Participaram na eleição do pretérito dia 30 de Março quarenta e um por cento dos trabalhadores da CP, valor muito acima do que se tinha verificado na eleição ante-rior, que não fora além dos vinte e nove por cento. Fica assim mais uma vez desmentida a tese dos que, de há muito, anunciam o fim das CT’s, que dizem estar fora do contexto político actual.

No momento em que inicia um novo mandato, a CT saú-da todos os trabalhadores e faz votos sinceros de que todos possam contribuir para a melhoria das condições de vida do conjunto dos ferroviários, razão pela qual estende esta saudação às comissões de trabalhadores da REFER e da EMEF, na certeza de que a colaboração mútua será vantajosa para todos. GOVERNO DEVE AMPLIAR ÂMBITO DO PASSE SOCIAL

Quando reclamaram a extinção da Rodoviária Nacional, para se apoderarem da sua actividade comercial, as actuais concessionárias do transporte de passageiros em autocarro sabiam perfeitamente em que condições iam trabalhar. Não se justifica, portanto, o seu actual alarido por causa do aumento dos combustíveis. Quem é para receber os lucros, também deve estar disposto a suportar prejuízos. É portanto inaceitável a chantagem que os bar-raqueiros estão a fazer sobre o Governo para exigir aumentos sobre aumentos nas tarifas.

O passe social não pode ser extinto. Deve é ser o seu 2

perdeu 365 trabalhadores, quase todos afastados “voluntariamente” através das famosas rescisões por mútuo acordo, que não passam, como sabemos, de uma treta. Mas uma coisa é certa: Os trabalhadores não têm responsabilidade nenhuma no aumento do défice da empresa, pois todos sabemos que os nossos salários reais têm diminuído brutalmente, os custos com os admi-nistrativos subiram em espiral.

MAIS DE UM MILHÃO DE HORAS EXTRAORDINÁRIAS

Revela o Balanço Social que em 2004 foram pagas mais

de um milhão de horas de trabalho extra, o que põe mais uma vez claro a má gestão dos recursos humanos, uma vez que os postos de trabalho extintos seriam mais bara-tos que o trabalho extraordinário.

Outro aspecto altamente negativo da gestão da CP, em 2004, refere-se à redução do número de trabalhadores aos quais foi proporcionado o acesso à formação profissional.

O mais que miserável investimento no apoio social aos trabalhadores é outro aspecto negativo da gestão que o balanço põe à mostra. Para não falarmos já do agravamen-to do leque salarial que evidencia cada vez mais o fosso existente entre os vencimentos mais altos e os mais bai-xos. Quanto à higiene e segurança registamos com agrado uma ligeira descida do número de acidentes no trabalho, assim como um aumento do número de visitas da Medici-na aos postos de trabalho (de 5 para 15), embora conside-remos este valor muitíssimo insignificante.

Por tudo o que, em síntese, fica dito, facilmente se deduz que a posição da CT não poderia ser outra, ao dar o seu veemente parecer negativo a este Balanço Social.

âmbito alargado a zonas mais periféricas dos grandes cen-tros. Se o negócio não lhes interessa, pois que o larguem. Não podem é fazer chantagem com os direitos adquiridos dos utentes. DISTRIBUIÇÃO DO RENDIMENTO CADA VEZ MAIS INJUSTA

Como todos sabemos, os aumentos salariais na CP redu-ziram-se este ano a 2,5 por cento, portanto abaixo da infla-ção oficial.

Este mísero aumento resultou, segundo os economistas de serviço, ao reequilíbrio do PIB, pois, como ainda há dias afirmou o eng.º Mira Amaral (o tal que se auto-reformou da Caixa Geral de Depósitos com uma reforma de 3600 contos por mês, que é um autêntico ROUBO a todos nós ), os portugueses estão a viver acima dos seus rendimentos reais.

É por esta e por outras como esta que Portugal é o país da Europa com a mais injusta distribuição da riqueza. Mas apesar de saber isto tão bem como nós o Governo autoriza um novo aumento das tarifas dos transportes, quase sem-pre acima de 3,7 por cento, em média, porque na CP, nos percursos superiores a 50 quilómetros o aumento verifica-do é da ordem dos 6,5 por cento.

E como se isto não fosse suficiente para escancarar os olhos dos trabalhadores, os jornais noticiam todos os dias que as empresas não produtivas estão a registar aumen-tos verdadeiramente escandalosos, que chegam, muitas vezes, aos oito por cento, numa demonstração inequívoca de que a especulação é que está a dar.

Em suma, em Portugal os governos continuam a apostar claramente no agravamento do fosso social, que afasta cada vez mais os que ganham mais dos que ganham menos. (continua na página seguinte)

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA

BALANÇO SOCIAL EVIDENCIA MÁ GESTÃO

ESCURIDÃO

Ali para os lados do Poceirão está uma escuridão dos diabos. Por escuridão queremos nós dizer, na nossa, que a falta de visibilidade é imensa, como se uma negra manta de nevoeiro cerrado tivesse caído sobre a região, especial-mente sobre a zona ferroviária.

Consta (e não se fala de outra coisa) que um determina-do senhor teria ganho algum com o negócio do transporte de cimento de Setúbal para Vila Real de Santo António. O mau acondicionamento da mercadoria obrigou a CP a pagar indemnizações quer à Sécil quer aos clientes desta. A CP Carga ficou com o cimento recusado, o qual, na maior informalidade que se pode imaginar, foi desapare-cendo. Ao todo são, ao que consta, uns largos milhares de sacos. A escuridão a que nos referimos resulta do facto de serem uns a pagar as indemnizações e outros a ficarem com o espólio.

A escuridão resulta ainda mais espessa quando se diz que houve um negócio escuro com um indivíduo que é o mesmo que andou a anos a fio a tapar as baldas de um tal engenheiro que desempenhava as suas funções na CP, ao mesmo tempo, ou seja dentro do mesmo horário dava aulas a trinta quilómetros de distância. E para que o qua-dro fique ainda mais negro há quem diga que o mesmo indivíduo (que manda mais que alguns doutores e aos quais mete medo) ocupa o cargo de encarregado geral numa empresa da esposa de um supradito engenheiro, que vende sistemas de climatização à CP.

Diz-se ainda que toda a gente sabe disto menos o CG, que acabou por condecorar o cujo-dito com uma nomea-ção para administrador de uma unidade de negócios como agora se diz.

DOIS PARA LÁ E TRÊS PARA CÁ

Como se sabe os amigos são para as ocasiões. É nesta perspectiva que devemos encarar as recentes nomeações, em regime livre de reciprocidade, dos gestores para os quadros efectivos, como acessores, da CP e da REFER.

A Inspecção de Finanças já pôs dúvidas à legalidade da operação. Mas achamos que não tem razão. Há sempre uma rábula de advogado velho para defender o indefensá-vel. A questão é essencialmente de ética (ou falta dela), muito mais do que jurídica.

O que é preciso é encaixar os amigos e afilhados, mes-mo que seja à má fila. Não é todos os dias que se arranja uma oportunidade para arranjar um tacho de mais de mil contos mensais, mesmo que seja num país e numa empre-sa onde se discute um cêntimo no aumento dos salários dos trabalhadores. (continuação da página anterior)

É também este o cenário que se observa na CP, onde o leque salarial se agrava de ano para ano, quer através dos aumentos salariais, quer por via das mordomias que se concedem a meia dúzia de privilegiados. VAMPIROS AMEAÇAM SEGURANÇA SOCIAL

Felizmente que o plano da direita para a privatização da Segurança Social foi, pelo menos adiado. Mas não tenha-mos dúvidas.

Ou o sistema público se torna sustentável, a médio e longo prazo, ou as companhias de seguros vão voltar à

carga, seja por intermédio do Bagão Félix ou doutro seu serventuário de serviço.

Urge, pois, que a Segurança Social pública, universal e solidária, seja defendida por todos os trabalhadores.

Torna-se, portanto, necessário que a discussão dos pro-blemas de sustentabilidade financeira da Segurança Social seja alargada a todos os trabalhadores, pois não é assunto para debatido apenas por especialistas. É preciso que o governo explique porque razão não são metidos na cadeia os empresários que, ostensivamente, não entregam as contribuições que cobram aos trabalhadores, contribui-ções que ascendem a muitos milhões de contos por ano. Será ainda necessário que o governo ponha urgentemente fim ao escândalo que consiste em ser o regime de Segu-rança Social a suportar os custos do regime do recibo ver-de. Como se sabe a maior parte são falsos recibos verdes, que apenas servem para livrar as empresas ao pagamento da sua contribuição para a Segurança Social. Além do mais, trata-se de uma escandalosa forma de concorrência desleal, que prejudica as empresas que pagam tudo na hora,. Seja como for, o que é preciso é que o governo trate objectivamente de defender a sustentabilidade da Segu-rança Social, obrigando todas as empresas a pagar as suas contribuições, porque toda a gente sabe que isso dos trabalhadores independentes não passa, em mais de 90 por cento, de uma grande fraude. CENÁRIO ENGANADOR ILUDE ESTAGIÁRIOS

Queremos deixar desde já bem claro que a CT nada tem contra a iniciativa do Governo que consiste em colocar uma centenas de estagiários universitários nas empresas públicas.

Pretende-se com esta iniciativa promover a competência e a inovação. Em teoria a ideia até não é má, mas, como tudo na vida, da teoria à prática pode ir todo um mundo de embuste e de ilusões. No caso da CP vieram cá parar uma dezena de estagiários formados em Direito e em Gestão, os quais têm sido apaparicados pelo CG com pequenos almoços e lanches servidos por uma empresa externa.

Quando se sabe a forma como o mesmo CG lida com a generalidade dos ferroviários, fica-se com a impressão de que a coisa cheira a falso. Ao pretender-se incutir nos jovens estagiários uma imagem humanista na gestão da empresa, está a incutir neles uma ideia que nada tem de realidade, por mais que isso possa valer em termos de marketing.

Depois fica-se sem se saber porque razão a CP não apro-veita os licenciados que se formaram em exercício e aos quais continuam a não ser distribuídas tarefas de acordo com as suas habilitações.

Acima de tudo a CT exige que as coisas sejam tratadas num clima de verdade.

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“À TABELA” Nº 73

JUNHO DE 2005

Orgão da Comissão de Trabalhadores da CP-EP

Redacção - Secretariado da Comissão de Trabalhadores da CP-EP

Composição e Impressão - Comissão de Trabalhadores da CP-EP

Calçada do Duque, 14 1249-109 LISBOA

Tel: 213215700 Ext: 23 739 Fax: 213430738

ECOS DA CALÇADAECOS DA CALÇADA

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA

Aqui há dias, estava eu a ouvir o

“Prós e Contras”, na RTP, quando a minha Teresa decidiu embirrar comigo por causa do choque tecnológico que o Governo pretende aplicar-nos.

O tema em discussão andava em torno da inovação, portanto muito per-to dos problemas que se nos colocam face ao nosso recorrente atraso tecno-lógico, económico e social.

Como a minha Teresa, que de parva não tem mesmo nada, como já sabe-mos, estava mesmo numa de descon-versar, dei-lhe as boas noites e recolhi ao vale de Lençóis, que o dia já ia mui-to comprido.

Foi quando já estava a pegar no sono que a campainha da porta tocou. Era a Alzira, a vizinha de estimação da minha Teresa, que além de ser boa rapariga tem a mania de se questionar sobre os problemas que nos vão sur-gindo pela frente.

Sem comentários, que só fariam per-der interesse ao diálogo, aqui deixo as partes essenciais da conversa da minha Teresa com a Alzira:

Teresa - Então viste o programa da RTP?

Alzira - Vi e gostei. Acho que as nos-sas escolas dão muita teoria, mas não ensinam quase nada do que os moços precisam para trabalhar.

T. - Isso é verdade, mas o pior é ain-da o que se passa no terreno. Ainda há dias via aqui na televisão um senhor da CP a dizer que o caminho de ferro precisa é de mais propagan-da, mesmo que não tenha quase nada, de novo, para oferecer, aos utentes...

A.- Mas estamos a falar do choque tecnológico ou da propaganda na CP?

T. - Então não vês que isso está tudo ligado?

Neste momento temos em Portugal

mais de 500 mil desempregados, com uma boa fatia de desempregados de longa duração. Entretanto continua a assistir-se à deslocação impune de empresas para países onde a mão-de-obra é ainda mais mal paga do que em 4

A. - Como? T. - Nos últimos tempos a CP refor-

çou bastante as suas estruturas de propaganda e “marketing”, admitin-do inúmeras pessoas, para ocupa-rem os lugares de outros entretanto postos na prateleira...

A. - Estás a falar daquilo a que cha-mam os “Boys”?

T. - É isso mesmo. Um ministro, antes de sair, recomenda uma prima ou uma amiga ou amigo de uma pri-ma. E já está...

A. - E porque razão vão todos para isso da imagem, da propaganda ou do “marketing”?

T. - Lá isso não sei, mas há quem suspeite de que se calhar é por não saberem fazer nada...

A. - E ninguém protesta? T. - Os trabalhadores vão recalci-

trando, mas sem grande êxito. No fim tido se resolve com mais umas entradas de uns “Boys” doutra manada e fica tudo abafado...

A. - Eu ouvi dizer ao meu Ernesto que o Tribunal de Contas até se meteu num negócio em que adminis-tradores de empresas ferroviárias, sabendo que iam ser afastados pelo novo Governo, trataram de se enfia-rem uns aos outros nos quadros efectivos, todos eles a ganharem balúrdios, mas sem fazerem népia...

T. - É verdade. E é para esconde-rem essas e outras do mesmo géne-ro que reforçam cada vez mais o departamento da propaganda.

A.- Mas não sei bem o que é que tudo isto tem a ver com o choque tecnológico…

B.T. - Ai não sabes? É que a propa-ganda acaba muitas vezes por se tornar independente da realidade,

Portugal. E quando dizemos impune é porque em muitos casos as empre-sas receberam avultados incentivos do Estado e das Autarquias para se instalarem, ao que parece sem a obrigação de qualquer contrapartida em caso de encerramento.

começando a ter vida própria, tornan-do absolutamente virtual qualquer choque tecnológico que seja lançado no País.

A. - Desculpa lá, Teresa, mas não estou a perceber...

T. - Então eu explico: Enquanto o Governo se prepara para lançar o seu choque tecnológico, com o qual todos estamos de acordo, na CP, onde o meu Zé trabalha há 27 anos, se um trabalhador quiser frequentar um sim-ples curso profissional, de três ou quatro dias, bem pode esperar três ou quatro anos por que tudo depende da vontade e da boa ou má disposição do respectivo capataz.

A. - Mas isso passa-se, na realidade? T. - Toda a gente sabe que é assim.

Basta que o chefe da secção informe que a ausência do trabalhador não é conveniente para o serviço, para que o seu curso, de dois ou três dias, fique adiado, um, dois, três ou mesmo qua-tro anos.

A. - Mas o Governo vai mandar jovens lá para fora, para adquirirem novas competências...

T. - Já te disse que ninguém discor-da do choque tecnológico, mas terás de convir que não se pode andar a falar de grandes voos ao mesmo tem-po que se proíbem os trabalhadores de darem um pequeno salto, como é um simples curso de actualização informática.

A. - Mas isso é mesmo verdade? T. - É verdade e é do conhecimento

de todos os administradores, que con-tinuam a ver a formação profissional como um abusivo privilégio dos traba-lhadores.

A. - Mas eu pensava que a formação profissional, além de ser decisiva para o desenvolvimento do País, devia ser encarada por todos como um direito dos trabalhadores...

T. - Pensavas e pensas bem. Mas uma coisa é a propaganda, onde a CP gasta o que tem e o que não tem e outra é a negra realidade de todos os dias...

A. - Queres então tu dizer que há quem esteja a lançar-nos poeira para os olhos?

T. - Nem mais. É isso mesmo. Comentários para quê? Chama-se a isto a lei da selva. E

como sabemos que em cada quatro desempregados apenas um recebe subsídio de desemprego, fácil se torna avaliar os dramas familiares que se espalham por esse País fora.

O combate ao desemprego deve, portanto, ser hoje um dos objectivos prioritários da política económica e social.

Zé Ferroviário

do choquedo choque tecnológico oficial,tecnológico oficial, à realidade na CP...à realidade na CP...

DESEMPREGO ESTÁ IMPARÁVEL