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É cada vez maior o número de portugueses que se inter- rogam acerca do rumo que a vida política portuguesa está a tomar. Muitos dos que, há pouco mais de um ano, vota- ram PS, começam agora a questionar-se sobre a decisão que tomaram. Todos sabemos que um governo responsável tem que estar atento aos sinais do mercado. Se não conseguimos vender lá fora o que produzimos, a breve trecho estare- mos a braços com o aumento galopante do desemprego, da exclusão, em suma, da miséria. O que preocupa as pes- soas não é, pois, a atenção que o governo presta aos pro- blemas da produtividade e da competitividade. O que nos preocupa profundamente é a forma irresponsável como o mercado está a ser encarado. Dir-se-ia que, para este governo, o mercado é tudo e o resto é nada, ou quase nada. Só assim se compreende que o executivo do eng.º Sócrates tenha ficado impávido e sereno ao ser tornado público que os administradores de um banco se fazem pagar pela tarifa escandalosa de 60 mil contos por mês, ou seja 350 vezes o valor do salário mínimo nacional. É claro que vem logo atrás a esfarrapada justificação das leis do mercado. Trata-se de empresas privadas, que pagam aos seus administradores o que lhes apetece, pois só têm que responder perante os accionistas. Mas um governo que até se diz socialista tinha obriga- ção de impor algumas regras de equidade e de responsa- bilidade moral e social. Isto porque se torna verdadeira- mente escandaloso que num país que tem os mais baixos salários da Europa, onde mais de vinte por cento da popu- lação vive abaixo do limiar da pobreza, ou seja passa fome, o governo considera normal que alguns se permi- tam a vergonha de se pagarem salários 350 vezes superio- res aos de muitas centenas de milhares. Um governo que não se tivesse demitido totalmente das suas obrigações sociais, perante tão afrontoso escândalo, teria forçosamente de, pelo menos, dar sinais de algum desconforto, tanto mais quando se sabe que os bancos pagam 10 ou 12 por cento de IRC, ao mesmo tempo que a um operário se exige o dobro… Portugal é hoje o país da Europa com a mais injusta distribuição do rendimento. Toda a gente sabe isto, mas o governo do eng.º Sócrates teima em fingir que não vê o que está à frente dos olhos de todos. Todos sabem que a actual e injusta distribuição do rendimento resultou de anos e anos consecutivos de aposta nos baixos salários, na produção de mercadorias com baixo valor acrescenta- do e na ausência de inovação. Ora tudo isto depende das políticas estruturais definidas pelos sucessivos gover- nos. Assim como a justiça social não cai do céu, por não ter unhas, também a injustiça e o agravamento das desi- gualdades sociais não têm causa espontânea, pois são fruto de políticas concretas. Neste momento os trabalhadores lutam contra a impo- sição de tectos salariais muito inferiores à inflação. Mas o governo do eng.º Sócrates, apoiado, aplaudido e vito- riado pelo grande patronato, continua agarrado ao tecto de 1,5%. Ainda antes do 25 de Abril o prof. Armando Castro, da Escola Superior de Economia do Porto, publicou um livro onde demonstra que a subida dos salários tem um impacto residual na inflação. É um intelectual conotado com a esquerda, olhado com desconfiança pela direita e zonas adjacentes. Mas eis que, agora, o eng.º João Cravi- nho, o coveiro da CP no tempo do governo do eng.º Guterres e alto dirigente do PS, vem defender a mesma tese, em resposta à teoria dos que defendem salários cada vez com menos poder de compra, para que possa- mos competir no mercado internacional. Será que as pessoas começam a abrir os olhos? Se assim não for temos todas as razões para nos interrogar- mos: Para onde vamos? ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 78 EDITORIAL PARA ONDE VAMOS?

À tabela 78

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Orgão da Comissão de Trabalhadores da CP

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É cada vez maior o número de portugueses que se inter-

rogam acerca do rumo que a vida política portuguesa está a tomar. Muitos dos que, há pouco mais de um ano, vota-ram PS, começam agora a questionar-se sobre a decisão que tomaram.

Todos sabemos que um governo responsável tem que estar atento aos sinais do mercado. Se não conseguimos vender lá fora o que produzimos, a breve trecho estare-mos a braços com o aumento galopante do desemprego, da exclusão, em suma, da miséria. O que preocupa as pes-soas não é, pois, a atenção que o governo presta aos pro-blemas da produtividade e da competitividade. O que nos preocupa profundamente é a forma irresponsável como o mercado está a ser encarado. Dir-se-ia que, para este governo, o mercado é tudo e o resto é nada, ou quase nada. Só assim se compreende que o executivo do eng.º Sócrates tenha ficado impávido e sereno ao ser tornado público que os administradores de um banco se fazem pagar pela tarifa escandalosa de 60 mil contos por mês, ou seja 350 vezes o valor do salário mínimo nacional. É claro que vem logo atrás a esfarrapada justificação das leis do mercado. Trata-se de empresas privadas, que pagam aos seus administradores o que lhes apetece, pois só têm que responder perante os accionistas.

Mas um governo que até se diz socialista tinha obriga-ção de impor algumas regras de equidade e de responsa-bilidade moral e social. Isto porque se torna verdadeira-mente escandaloso que num país que tem os mais baixos salários da Europa, onde mais de vinte por cento da popu-lação vive abaixo do limiar da pobreza, ou seja passa fome, o governo considera normal que alguns se permi-tam a vergonha de se pagarem salários 350 vezes superio-res aos de muitas centenas de milhares.

Um governo que não se tivesse demitido totalmente das suas obrigações sociais, perante tão afrontoso escândalo, teria forçosamente de, pelo menos, dar sinais de algum desconforto, tanto mais quando se sabe que os bancos pagam 10 ou 12 por cento de IRC, ao mesmo tempo que a um operário se exige o dobro…

Portugal é hoje o país da Europa com a mais injusta

distribuição do rendimento. Toda a gente sabe isto, mas o governo do eng.º Sócrates teima em fingir que não vê o que está à frente dos olhos de todos. Todos sabem que a actual e injusta distribuição do rendimento resultou de anos e anos consecutivos de aposta nos baixos salários, na produção de mercadorias com baixo valor acrescenta-do e na ausência de inovação. Ora tudo isto depende das políticas estruturais definidas pelos sucessivos gover-nos. Assim como a justiça social não cai do céu, por não ter unhas, também a injustiça e o agravamento das desi-gualdades sociais não têm causa espontânea, pois são fruto de políticas concretas.

Neste momento os trabalhadores lutam contra a impo-sição de tectos salariais muito inferiores à inflação. Mas o governo do eng.º Sócrates, apoiado, aplaudido e vito-riado pelo grande patronato, continua agarrado ao tecto de 1,5%.

Ainda antes do 25 de Abril o prof. Armando Castro, da Escola Superior de Economia do Porto, publicou um livro onde demonstra que a subida dos salários tem um impacto residual na inflação. É um intelectual conotado com a esquerda, olhado com desconfiança pela direita e zonas adjacentes. Mas eis que, agora, o eng.º João Cravi-nho, o coveiro da CP no tempo do governo do eng.º Guterres e alto dirigente do PS, vem defender a mesma tese, em resposta à teoria dos que defendem salários cada vez com menos poder de compra, para que possa-mos competir no mercado internacional.

Será que as pessoas começam a abrir os olhos? Se assim não for temos todas as razões para nos interrogar-mos: Para onde vamos?

ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 78

EDITORIAL

PARA ONDE VAMOS?

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O alheamento dos gestores da empresa face aos verda-

deiros e prementes problemas do caminho de ferro, dos sues utentes e dos seus trabalhadores é a tónica dominan-te do balanço social apresentado, ao qual a Comissão de Trabalhadores, obviamente, não deu parecer positivo.

No seu parecer a CT sublinha que os resultados opera-cionais da CP continuam a degradar-se, não obstante o recurso cego à redução de postos de trabalho e de transfe-rência para os privados de serviços sempre cumpridos pela empresa pública.

Depois de referir que os sucessivos governos continuam a privar a CP das indemnizações compensatórias que legalmente lhe cabem, o parecer da CT aponta, mais uma vez, para uma recorrente quebra de receitas, no segmento de mercadorias, ao mesmo tempo que se verifica uma con-tinuada redução do número de passageiros transportados. Tudo acontece, reafirma a CT, pelo facto dos governos e dos seus gestores estarem interessados em tudo menos numa gestão que confira à CP o papel estruturante que o caminho de ferro deve assumir num sistema integrado que dê efectivamente prioridade ao transporte público, o único que assegura a defesa do ambiente e inegáveis eco-nomias de escala.

Recusando a ideia de “Oásis” que o Balanço Social pre-tende induzir, a CT alerta para os sérios riscos que o

Decidiu o governo do eng.º Sócrates cumprir mais uma

reforma do sistema. Agora é a Segurança Social que está na berlinda.

Todos temos consciência de que o aumento da esperan-ça de vida, que é uma coisa óptima, acabaria por ter con-sequências na sustentabilidade do sistema público da Segurança Social.

O que não sabíamos era que um governo, que se diz socialista, poderia querer resolver o problema mais uma vez à custa exclusiva dos mesmos, ou seja dos mais fra-cos.

Num momento em que o país ficou a saber que os direc-tores de um banco se fazem pagar por 60 mil contos men-sais, seria de esperar que o governo admitisse ir buscar o dinheiro onde ele está e não aos míseros bolsos dos traba-lhadores.

Um estudo da CGTP-IN estima que a antecipação da

Todos nós já ouvimos, vezes sem conta, que o país está a viver acima do rendimento. Trata-se de uma afirmação que sai, invariavelmente, das bocas de conhecidos econo-mistas ao serviço da propaganda neoliberal.

Para estes senhores temos de trabalhar mais e ganhar menos, para que as contas se equilibrem. Mas vamos lá a ver onde está a verdade. Será que é o país todo que está a viver acima do rendimento?

Será que os milhares de trabalhadores que levam para casa pouco mais que o salário mínimo estão a viver acima do rendimento?

Vem esta interrogação a propósito dos escandalosos lucros que têm estado a ser anunciados pelos bancos e outras grandes empresas que se dedicam à especulação financeira. O banco X anuncia aumentos dos juros líquidos da ordem dos 35 por cento, a companhia Y confessa que arrecadou proveitos de 62 por cento. E nós, trabalhadores, temos de nos arranjar com aumento de 1,5 por cento, que é para equilibrar o défice das contas públicas. E o pior é que os que apresentam lucros maiores pagam impostos mais baixos que o comum dos trabalhadores.

Soube-se agora que os directores de um banco ganham 60 mil contos por mês, ou seja o equivalente a 775 salários 2

caminho de ferro corre com este tipo de gestão. No plano social o parecer da CT denuncia, de novo, a

destruição das Actividades Sociais da empresa, exigindo uma inversão desta política, que está patente no encerra-mento dos infantários de Santa Apolónia e Campanhã, embora se reconheça o mérito das beneficiações operadas no do Entroncamento.

CONCLUSÕES: Lamentavelmente, o Balanço Social de 2005 merece-nos,

tal como os anteriores, um muito mais reforçado parecer NEGATIVO, pelos seguintes motivos:

Continuação da política de redução do número de traba-lhadores, com consequências nefastas para estes, para as populações, para o caminho de ferro, para os utentes e para a economia nacional;

Continuação de uma gestão que, assentando na redução cega de pessoal e na redução da formação profissional, cria condições objectivas e subjectivas para que os riscos associados à segurança sejam potenciados;

Continuação de um elevado resultado líquido negativo, a níveis superiores ao de 1998, e manutenção de uma má situação financeira, apesar dos custos com pessoal baixa-rem e continuarem a ter um peso cada vez menor nos cus-tos totais;

Rejuvenescimento praticamente inexistente; deficientes condições de higiene e segurança no traba-

lho; redução das acções de formação profissional e inexis-

tência de qualquer formação profissional interna; persistência de uma actividade social a níveis residuais

inaceitáveis. entrada em vigor do novo sistema de cálculo das pen-

sões vai prejudicar, mais de 650 mil trabalhadores assim que este governo, que pelos vistos de socialista não tem nada, promove a justiça social que tanto apregoa. Mas a especulação financeira continua à rédea solta, porque no altar do sagrado mercado ninguém pode tocar.

Se o governo quisesse, de facto, equilibrar as contas da Segurança Social deveria começar por acabar com as cen-tenas de milhares de casos de recibos verdes, passados por falsos trabalhadores independentes, numa fraude gigantesca, que beneficia empresas não cumpridoras, as quais, como se sabe, fazem, assim, concorrência desleal às que respeitam a lei. Se o governo quisesse, de facto, a sustentabilidade do sistema, iria facilmente descobrir que um especulador financeiro, num gabinete com um compu-tador, pode ganhar milhões de contos sem descontar um tostão para a Segurança Social.

Mas atacar estas situações está fora de questão por que o eng.º Sócrates o que respeita, acima de tudo, é o merca-do.

Com o tipo de reforma que está a fazer o governo do PS não faz mais do que seguir as pisadas do PSD/CDS, ou seja, para esta gente são os pobres que devem pagar a crise…

mínimos. Uns comem tudo e os outros, a maioria, ficam a chuchar

no dedo... Sabe-se também que Portugal é o país da Europa com a mais injusta distribuição do rendimento, mas os sucessi-vos governos da direita e os que se dizem de esquerda sacodem a água do capote sempre que se trata de apurar as causas desta situação. “São as leis do mercado”, dizem eles, para tentar enganar-nos, mas todos sabem (aqui e em qualquer parte do mundo), que a justiça social depende muito mais da distribuição do que da produção.

Num país onde se permite que uns ganhem 755 vezes mais do que a generalidade da população, facilmente se chega à conclusão que o agravamento das desigualdades sociais se deve às políticas seguidas pelos sucessivos governos. Em nome do sacrossanto mercado permite-se que uns rebentem de fartura, enquanto outros, a maioria, mirra de fome e de miséria. Um governo que deve promo-ver a justiça social e, no concreto, promove o agravamento das desigualdades, das duas uma, ou é incompetente ou está a governar de má fé.

Vamos então acabar com a hipocrisia dos que se limitam a lamentar a injustiça que se verifica na distribuição do rendimento. Todos sabemos que esta injustiça resulta objectivamente das políticas de direita levadas a cabo pelos governantes que temos tido nos últimos 30 anos.

Nunca neste país se acumularam tantas fortunas como agora. Como dizia o Zeca Afonso, eles comem tudo e não deixam nada... Os Vampiros, claro...

CT DÁ PARECER NEGATIVOCT DÁ PARECER NEGATIVO AO BALANÇO SOCIALAO BALANÇO SOCIAL

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA

REFORMA DA SEGURANÇA SOCIAL

ELES COMEM TUDO

Page 3: À tabela 78

“À TABELA” Nº 78 JUNHO DE 2006

Orgão da CT da CP Redacção - Secretariado da CT da CP Composição e Impressão - CT da CP

Calçada do Duque, 14 1249-109 LISBOA - Tel: 213215700

ECOSECOS DA CALÇADADA CALÇADA

A CT está a diligenciar junto do CG no sentido de ser resolvido, de uma vez por todas, o grave problema que resulta da anarquia instalada no sis-tema de escalas dos operadores de apoio.

A situação torna-se particularmente grave quando os trabalhadores enfrentam chefias que não olham a meios para apresentarem bons resul-tados aos administradores.

No passado dia 20 de Abril houve um operador de apoio a quem foi imposto uma jornada de trabalho de 18 horas sem interrupção. Pegou num comboio às 15 horas e só o lar-gou no dia seguinte, pelas 9 horas da manhã. No mesmo dia deu-se situa-ção semelhante com um trabalhador forçado a uma jornada de 13 horas seguidas.

Pode dizer-se que os trabalhadores

Num abaixo-assinado enviado ao presidente do CG da CP e ao presi-dente da Comissão Executiva da CP Carga, os operadores de apoio do Depósito do Entroncamento manifes-tam-se contra a decisão que levou à elaboração das escalas de serviço serem feitas no Poceirão.

Segundo os referidos trabalhado-res, que contam com todo o apoio da CT e da respectiva Sub-CT, o actual sistema é susceptível de vir a criar

Sem esquecer a forma atrabiliária como a CP foi afastada do concurso à concessão da travessia do Tejo, para deixar o terreno livre à FERTÁ-GUS, neste momento, importa é evi-tar que o crime que lesa utentes e ferroviários se agrava ainda mais.

Foi esta, no essencial, a posição defendida pela CT e pela respectiva Sub-CT, num encontro há dias efec-tuado no Barreiro, com a participa-ção das autarquias locais dos conce-lhos do Barreiro, Moita , Palmela e Setúbal, Associações de Utentes da Linha do Sado, Sindicatos, etc.

Para a CT, na linha do que tem defendido desde a primeira hora, o que importa defender é a manuten-ção da CP à frente da exploração da linha suburbana Barreiro a Praias do Sado, bem como a modernização integral de todo o sistema, desde a

podem recusar um serviço que vá para além dos limites legais estabe-lecidos, mas quem conhece os can-tos à casa sabe muito bem que nem sempre é fácil suportar as conse-quências de uma atitude frontal. Além do mais, as indemnizações resultantes dos acidentes de traba-lho, podem não ser pagas invocan-do a seguradora que o trabalhador já tinha superado o tempo máximo de trabalho sucessivo estabelecido por lei, sendo responsável o traba-lhador e apenas o trabalhador pelos incidentes ou acidentes que daí advenham. Terão que ser os trabalhadores a se precaverem. E por aqui nos ficamos. O que impor-ta é que o problema seja resolvido, porque, quando há acidentes, a culpa e, invariavelmente, atribuída ao mais fraco…

sérios conflitos, uma vez que o ser-viço lhes é comunicado pelo telefo-ne. As falhas do novo sistema têm sido várias, mas, a título de exem-plo, é apontado o caso do dia 4 de Abril último, em que um comboio foi suprimido por falta de operador de apoio. Muitas vezes, para o ser-viço de rotina, recorre-se ao opera-dor de reserva, ficando o depósito deserto. E se entretanto surgir uma situação de emergência?

infra-estrutura ao material circulan-te, sem esquecer a electrificação dos 16 quilómetros por fazer.

Só assim se defenderão os inte-resses do país, da CP e dos uten-tes. A aventura FERTÁGUS já cus-tou muito dinheiro ao erário públi-co. É tempo de se lhe pôr cobro, até porque esta empresa privada está interessada apenas na explo-ração até Setúbal, excluindo Praias do Sado, deixando de fora portanto, os utentes do Instituto Politécnico. A menos que este seu desinteresse sirva como argumento para exigir ainda mais indemnizações compen-satórias (receberam mais dinheiro de indemnização do Estado pela exploração de cerca de 40 quilóme-tros de linha do que a CP que explora mais de mil)...

A César o que é de César...

O CG decidiu suprimir as para-gens dos Alfas em todas as esta-ções do distrito de Santarém. Ao que julgamos saber esta importan-te decisão não colheu a unanimi-dade do próprio CG, havendo, ao que consta, quem se questionasse sobre a lógica de suprimir os Alfas, ao mesmo tempo que se projectam paragens para o TGV...

Junto de alguns técnicos pude-mos ouvir uma opinião que se nos afigura mais razoável, que é a que aponta para a intensificação da promoção dos Alfas. Ou não será este um primeiro passo para abrir espaço para o famoso TGV à portu-guesa?

Veio nos jornais um rasgado

elogio do governo do eng.º Sócra-tes feito pela dr.ª Manuela Ferreira Leite, que foi escolhida para o Con-selho de Estado pelo actual Presi-dente da República. No mesmo dia os jornais inseriam, quase ao lado, uma primeira crítica de Manuel Alegre às políticas do governo. Para coincidência pura não será de mais? Ou não estará aqui um pou-co da história do gato escondido com o rabo de fora? Sócrates teria mesmo sido apanhado de surpresa com a eleição de Cavaco Silva?

Depois da promessa de termos,

até 2010, uma CP líder de eficiên-cia, com o melhor equilíbrio finan-ceiro da Península, vem agora o ministro dos transportes revelar a sua veia iberista. Poderá tratar-se de mera coincidência, mas dada a influência financista que ameaça dominar tudo e todos, não nos admiraria que possamos vir a cami-nhar para uma nova versão do defunto projecto da União Ibérica, que os povos rejeitaram no século XIX.

O ministro radiante com o finan-ciamento da ligação Porto/Vigo por TGV por bancos espanhóis. Será isto tudo mera coincidência?

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DEZOITO HORAS DE TRABALHO SEGUIDAS

OPERADORES DO ENTRONCAMENTO CONTRA ESCALAS FEITAS NO POCEIRÃO

ECOSECOS DA CALÇADADA CALÇADA

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA

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Zé Ferroviário

A minha Teresa tem estado engripa-

da, mas pelo que se sabe a gripe das aves ainda não chegou a este canti-nho à beira-mar plantado, razão pela qual não há motivo para alarme. Mas lá que ela fica sempre mal disposta quando a gripe lhe aparece, lá isso fica. Mas o pior é quando, à gripe se junta qualquer outro motivo de aborre-cimento. Foi o que sucedeu há dias, mais uma vez.

Foi por causa do “simplex” do eng.º Sócrates. Ao todo foram anunciadas 333 medidas para facilitar a vida dos que já a têm mais que facilitada. Os bancos e todos os que se dedicam à generosa actividade da especulação financeira vão continuar a viver à grande. Pagam muito menos impostos que os trabalhadores e ninguém lhes vai à perna. Esta é a opinião da minha Teresa, que de parva, como se sabe, não tem nada. Mas desta vez o “simplex” socratiano deu-lhe, vejam lá, para se atirar aos inúmeros “simplex’s” já anunciados para a CP, mas que acabaram todos, mas todos, na opinião desapiedada da minha Teresa, de “dar com os burrinhos na água”. Estou a referir-me a todos os planos e estudos, desde o do governo Soares, passando pelo Cavaco ao do Cravinho.

Eu lá fui dizendo que não podemos ser tão pessimistas, pois sempre se vai fazendo alguma coisa de mérito. Mas a minha Teresa, sobretudo com o pingo no nariz, é que não está para meias medidas. Atira-se ao concreto das situações e esquece deliberada-mente a propaganda.

- Tu não vês, Zé, que esta gente anda a gozar com o povo. Todos os dias apresentam dúzias de planos para isto e para aquilo, mas o que fica é que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres, os trabalhadores, estão cada vez mais de tanga.

- Nem tudo o que se faz é mal feito... - Pois não, Zé. Para racionalizar as

idas aos serviços de urgência dos hospitais aumentam-se brutalmente as taxas moderadoras. Mas simultanea-mente mandam encerrar os centros de saúde às oito da noite... Queres outro exemplo? Proclama-se que é preciso equilibrar a Segurança Social, mas na prática o que fazem é tudo para dese-quilibrá-la. Queres um exemplo? Aí vai: mais de um milhão de sub empre-gados estão sujeitos ao regime de recibo verde. Sabes para que serve isto? Serve apenas, na esmagadora maioria dos casos, para as empresas não pagarem nada à Segurança Social. Além do mais trata-se de uma forma de concorrência desleal com as empresas que pagam tudo. Por sua vez, os trabalhadores, para não fica-rem sem uns tostões optam por pagar o mínimo. 4

E isto é com trabalho com horários

de 10 e 12 horas por dia, sem vínculo nem férias nem 13º mês, com anún-cios em todos os jornais e nas bar-bas da fiscalização, que na prática, não existe, como convém.

Mas este verdadeiro reino na pla-nocracia, onde se governa com base em planos que ninguém tem a míni-ma intenção de cumprir, verifica-se em todo o lado. Olha bem para a CP e logo vês se eu tenho ou não tenho razão...

- Desculpa lá, Teresa, mas desta vez não vejo o que é que a CP tem a ver com tudo Isto?

- Ai não vês? - Olha para trás e vê lá quantos

planos e estudos já foram solene-mente apresentados para resolver os problemas do sector. Se vires bem, já não têm conto. E quanto a resulta-dos? Um zero do tamanho do mun-do. Claro que me refiro a resultados positivos, porque resultados negati-vos são eles às carradas. Confesso que não estou a acompa-nhar o teu raciocínio…

Então vê lá se te lembras, e só falo de alguns; Primeiro vieram os cana-dianos com o seu grande Plano de Reestruturação, onde a tónica princi-pal era a destruição do movimento sindical, para que os trabalhadores ferroviários ficassem completamente à mercê da voracidade de todos os planifica dores de serviço. Os daque-la altura e os que, infelizmente, have-riam de chegar, como se viu.

Mas a verdade é que não consegui-ram decapitar o movimento sindical, embora o tenham prejudicado bas-tante...- Isso é verdade, Zé. Mas tive-mos depois o Plano de Reconversão e Modernização do Caminho de Fer-ro, que apostava, já abertamente, na privatização de tudo o que dava lucro, deixando os prejuízos para o estado. Antes, tivemos ainda o Plano Hay Iberia, de que já ninguém se lembra, mas que custou um barril dos grandes de massa aos cofres do Estado, para servir apenas de instru-mento de promoção de mais de cem “boys”. Finalmente, a coroar esta pirâmide infernal, temos agora o famigerado Plano Rolemberg que deu origem ao Líder 2010, que nos promete o Sol e a Lua para daqui a quatro anos.

- Mas temos de reconhecer que alguma coisa se fez... Teresa...

- Sem dúvida, Zé. O número de postos de trabalho foi reduzido em mais de um terço, as tarifas cobra-das aos passageiros quintuplicaram, os prejuízos acumulados das empre-sas do sector mais do que decupli-caram e o comboio foi tirado a popu-lações que, no total, já ultrapassam os 600 mil.

E tudo isto feito sob a cobertura de planos e mais planos, todos pagos a peso de ouro, todos pagos com o dinheiro dos contribuintes, enquanto os ferroviários e técnicos da CP eram colocados na prateleira ou empurra-dos para as rescisões “amigáveis”. Tu não vês Zé, que os prejuízos acumula-dos do sector ferroviário, desde o pri-meiro plano de reestruturação, já andam perto dos 800 milhões de con-tos?

- Agora estou a ver mais claro... - Pois é, Zé. Não podemos andar tão

distraídos porque eles, com tantos planos, cada vez nos vão comendo mais as papas na cabeça...

- Mas... - Qual mas nem meio mas?... Então

tu não vês que o ordenado chega cada vez menos? Tu não vês que com tan-tos planos, para melhorarem a vida dos portugueses, os partidos que têm estado nos governos só têm piorado a vida de quem trabalha? Então tu não vês que na CP, por exemplo, é cada vês menor o número de passageiros transportados assim como se reduziu a tonelagem de mercadorias, relativa-mente há 15 anos atrás?

- Lá nisso tens razão, Teresa... - Pois tenho. A verdade salta à vista,

mas, como diz o povo, o pior cego é aquele que não quer ver…

Simulando um estado de surpresa em que ninguém já acredita, a rotativi-dade dos “boys” que abundam no centrão, a que por aí se dá o nome de alternância, que, por acaso, tem muito pouco de democrática, o presidente do CG da CP foi à “vida”, sem ter tem-po de mostrar o mérito do seu mirífico plano líder 2010.

Toda a gente já sabia que esta ope-ração estava a ser preparada desde há meses. Seja como for do que temos a certeza é que, a seguir vai ser entroni-zado no CG da CP outro “boy” agora do PS, que trará na bagagem mais um fabuloso plano de gaveta, com certeza de que pode apontar para um horizon-te de alguns anos, sabendo que o vão, seguramente, apear muito antes.

Não queremos nem podemos formu-lar qualquer juízo de valor sobre o próximo “boy” que o PS já escolheu para nos vir brindar com o 12º ou 13º plano de reabilitação da CP, planos esses que, no terreno da verdade incontestável dos factos, só nos dei-xaram o empobrecimento indesmentí-vel do sector, traduzido no encerra-mento de mais de um terço das linhas, estações e apeadeiros e na redução de mais de uma centena de milhões de passageiros. Tudo isto foi feito com o falso objectivo de equilibrar as contas de exploração, as quais, como se sabe, estão desequilibradas do que nunca.

E isto não obstante a destruição de mais de 14 mil postos de trabalho, a redução drástica dos salários reais, e o poder de compra dos trabalhadores, enquanto os administradores comiam à tripa forra, ao mesmo tempo que se entregavam a um ataque cada vez mais feroz aos direitos dos ferroviá-rios e das suas organizações repre-sentativas.

maismais um planoum plano

para destruirpara destruir

TUDO NA MESMA COMO A LESMA