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A REV EM OPINIÃO US$ 6.00 R$ 7,90 I N O 477 I 9 JULHO 2007 www.epoca.com.br O capítulo final da saga de Harry Potter 9 771415 549002 00477 As gêmeas Branca e Beatriz Feres, musas do nado sincronizado brasileiro Pan A tela sensível ao toque dos dedos são o futuro do computador? Por dentro do 40 páginas para você acompanhar os Jogos do Rio Um guia de GUIA ENEM 2007 Grátis o segundo fascículo

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A REV EM OPINIÃO

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Jogos Pan-Americanos

ESPECIAL

Diego HypólitoGinástica artísticaO ginasta paulista realiza um elemento de equilíbrio aos pés do Cristo Redentor. Com suas vitórias no solo, Diego, que mora desde os 7 anos no Rio, saiu da sombra da irmã mais velha, Daniele

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9 d e j u l h o d e 2 0 0 7 I r e v i s ta é p o c a I 6 3

rio estava precisando do Pan. Até agora as man-chetes dos jornais regis-traram em 2007 um dos anos mais dolorosos na história da cidade. O me-

nino João Hélio, arrastado por facíno-ras pelas ruas; as lágrimas da mãe da menina Alana, vítima de bala perdida; os mais de cem mortos e feridos na guerra do Complexo do Alemão; uma empregada doméstica espancada, por ter feito... nada. A cidade merece uma trégua. E é possível encontrar inspira-ção para isso no esporte. Mais precisa-mente nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. O registro arqueológico mais antigo dos Jogos, de 776 a.C., é jus-tamente um disco de pedra marca-do com um acordo de paz. Durante os Jogos, não havia guerra entre as s

Num ano marcado pela violência, os Jogos Pan-

Americanos são uma ocasião ideal para a

cidade mostrar seu lado generoso e acolhedor

ORAFAEL PEREIRA (TEXTO)

E MARcELO cORRêA (FOTOS)

Uma chancepara o Rio

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Jogos Pan-Americanos

ESPECIAL

cidades gregas. O Pan do Rio 2007, que acontece entre os dias 13 e 29 deste mês, é uma chance para todos – moradores, governantes e visitantes – mostrarem que é possível haver disputas sem balas, mortos ou feridos. Em meio a facções criminosas, polícias e exércitos, chegou a hora de falar dos 15 mil voluntários dos Jogos, das pessoas que abrigarão turistas em suas casas, das famílias que compra-ram ingressos para assistir às partidas, do orgulho dos pedreiros que ajudaram a construir um grande estádio. Chegou a hora de falar dos atletas de todas as re-giões do país, muitos deles nascidos ou radicados no Rio de Janeiro, o que torna ainda mais especial este Pan. Alguns entre os principais deles, a convite de ÉPOCA, atua ram como modelos no ensaio foto-gráfi co destas páginas. Espera-se que os cariocas, “da gema”, sejam durante estas semanas parte de um exército de homens de bem, que investe e acredita na alegria da cidade e na possibilidade real de paz.

O administrador de empre-sas e carioca Neyder Saraiva Lima é um exemplo dessa “força de paz”. Pelo Pan do Rio, Neyder abre as portas de sua casa. Ele é um entre os incontáveis voluntários que vão hospedar turistas e parentes de atletas durante os Jogos. Em sua casa, fi carão um canadense, um paranaense e o irmão do canoísta nas-cido na Argentina e radicado no Brasil Sebastian Cuattrin. Além de participar, Neyder organiza uma comunidade no Orkut com outros cariocas interessados em fazer o mesmo. Outro carioca, Ri-cardo Ferreira, usou a criatividade para participar do Pan. Ele é presidente da associação formada pelos moradores da Rua Alzira Brandão, no bairro da Tijuca, zona norte, e organizou um mutirão para decorar a rua com o tema dos Jogos. Para o advogado Henrique Ávila, participar é comprar ingressos e prestigiar os atletas brasileiros. “Comprei a fi nal da natação para mim, mas vou levar minha mulher e minha mãe para ver a ginástica artística”, afi rma Ávila. No total, serão 1,9 milhão de ingressos para os Jogos, com preços entre R$ 10 e R$ 250.

Talvez sob má infl uência das páginas policiais, a maioria das notícias que se s

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Flávio cantoJudô

O medalhista olímpico medita na Rocinha, uma das comunidades

onde mantém um projeto social para jovens carentes.

“Sou muito mais forte com o incentivo da molecada”, afirma

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Jogos Pan-Americanos

ESPECIAL

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ouviram sobre o Pan era ruim. Davam conta de atrasos nas obras, problemas de licitação, superfaturamento das con-tas dos Jogos. São problemas reais, mas não impediram o Pan de se tornar uma realidade. As obras fi caram prontas, as licitações começarão a ser investigadas em agosto e os R$ 3,5 bilhões investidos – 400% a mais que o previsto inicial-mente – foram justifi cados como gas-tos para credenciar o Rio a hospedar as Olimpíadas de 2016. Em cinco anos, desde que a cidade foi escolhida como sede dos Jogos Pan-Americanos, dez instalações esportivas foram totalmente reformadas e quatro estádios brotaram do nada na paisagem carioca.

A principal e mais vistosa herança do Pan para a cidade é, sem dúvida, o novíssimo Estádio Olímpico João Havelange, batizado pelo povo de Engenhão (leia o quadro sobre o está-dio na página 74). Foram 84.000 metros cúbicos de concreto, 7.115 toneladas de aço e o esforço de 5 mil operários. Os moradores do bairro de Engenho de Dentro sofreram com o barulho de lixas elétricas e britadeiras por dois anos. Alguns começam a recuperar o prejuízo. O comerciante Mayke Rodri-gues abriu o Bar da Torcida no lugar de uma antiga loja de persianas ao lado do Engenhão e já está fazendo boas vendas antes mesmo de os Jogos começarem. Estima-se, ainda, que os imóveis ao lado do estádio tenham tido valoriza-ção de cerca de 30%.

Os R$ 3,5 bilhões gastos em infra-es-trutura foram destinados a novos está-dios e ginásios na paisagem carioca e a reformas profundas nos antigos equipa-mentos esportivos da cidade. O Maraca-nãzinho foi praticamente reconstruído. Com a atual estrutura, é quase impossí-vel que o Rio precise disputar novamen-te com outra capital do país o direito de representar o Brasil na briga por eventos esportivos de grande porte, como acon-teceu na disputa com São Paulo para a candidatura ao Pan de 2007. Hoje, e por muitos anos, o Rio de Janeiro será a ca-pital brasileira dos esportes.

Com estádios prontos, a turnê das más notícias mudou de lugar. Às vésperas s

Fabiana BeltrameRemo

A atleta catarinense carrega seus remos na Colônia de

Pescadores do Posto Seis, em Copacabana. Radicar-se no

Rio salvou a carreira da atleta, ameaçada por falta de apoio

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Jogos Pan-Americanos

ESPECIAL

da cerimônia de abertura, é a segu-rança a maior preocupação dos orga-nizadores e das autoridades. Há um mês, um tiroteio interrompeu por três horas o tráfego de carros na Linha Ver-melha, única ligação da cidade com o Aeroporto Internacional Tom Jobim, por onde chegará a maioria dos atletas. Para não falar na guerra sangrenta no Complexo do Alemão.

Para garantir a paz, o governo ado-tou uma iniciativa inédita. O Pan será o primeiro grande evento internacional da cidade com a segurança sob coman-do civil, e não do Exército. Serão 4.261 policiais civis, 8.763 policiais militares, 3 mil agentes da Polícia Federal, 3 mil homens da Polícia Rodoviária Federal e 6 mil soldados da Força Nacional de Se-gurança. O comando-geral está nas mãos da Secretaria Nacional de Segurança Pú-blica. Outra novidade será a atuação de 12 mil jovens com idades entre 14 e 24 anos, que trabalharão como guias cívicos. Eles foram selecionados em 115 áreas po-bres do Rio e receberam capacitação para orientar visitantes sobre a cidade. Deu-se preferência a mães solteiras e menores que já praticaram algum tipo de infração e cumprem penas socioeducativas.

O uso do Pan como ferramenta de inclusão social foi um trunfo do Rio durante a campanha contra as demais cidades das Américas. O principal in-vestimento foram as Vilas Olímpicas da Prefeitura nas principais áreas pobres da cidade. O sucesso da iniciativa ajudou o Rio a derrotar a cidade americana de San Antonio na disputa para ser sede. Pode, agora, ajudar na conquista de uma medalha. Rosângela Oliveira, velocista de 16 anos, treina desde 2002 na Vila Olímpica Mestre André, em Padre Mi-guel, na zona oeste do Rio. Conseguiu no mês passado uma vaga na equipe do revezamento 4 x 100 metros no Pan. O projeto fi ca ao lado da Vila Vintém, uma das favelas mais violentas da cidade.

No resto do país, iniciativas semelhan-tes nos trazem esperança de ouro. O bo-xeador Rafael Lima, de 24, que luta por medalhas na categoria 91 quilos, come-çou a praticar o esporte com 17 anos no projeto Atleta Olímpico, da Prefeitura s

Juliana e LarissaVôlei de praiaA dupla bicampeã mundial treina em Ipanema, praia onde conquistaram alguns de seus principais títulos. Na maior parte do ano, as duas se preparam em Fortaleza

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Jogos Pan-Americanos

ESPECIAL

de Belém, no Pará. “Eu chegava em casa com o olho roxo e meu pai dizia que eu passava o dia apanhando e não ganha-va nada com isso”, afi rma. “Depois dos primeiros prêmios, ele passou a ser o primeiro a reclamar quando não vou à academia treinar.”

O Pan também serviu como uma boa oportunidade para que as autoridades do país do futebol fi nalmente investis-sem nos esportes olímpicos. O primeiro passo foi a Lei 10.264, de 2001, também conhecida como Lei Agnelo/Piva (refe-

rência aos parlamentares que a propu-seram, o ex-deputado federal e ex-mi-nistro dos Esportes Agnelo Queiroz e o ex-senador Pedro Piva). Segundo essa lei, 2% de todo o montante arrecadado com loterias no país é destinado ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. Só em 2006, fo-ram R$ 67,4 milhões. Essa verba livrou o esporte olímpico da necessidade de men-digar recursos do governo a cada compe-tição. Deu, também, um poder inédito ao COB, encarregado de distribuir a verba

aos esportes que apresentarem proje-tos consistentes de formação de atletas de alto nível. No fi m do ano passado, o esporte também ganhou uma lei de in-centivo fi scal semelhante à da cultura. O impacto dela ainda não foi sentido, mas pode ser até maior que o da lei de 2001 para as equipes olímpicas brasileiras.

Em 2005, parte da verba prevista pela Lei Agnelo/Piva foi dirigi-da à criação do Fundo Pan-Americano 2007, destinado a formar boas equipes

cassius DuranSaltos ornamentais

O saltador simula um mergulho em São Conrado.

Desde o começo do ano o paulistano treina no Rio. “É

importante ensaiar no mesmo local da prova”, diz

Sandra SoldanTriatloA triatleta pedala no calçadão, cenário de suas primeiras passadas, braçadas e pedaladas. “Com 9 anos eu já ia do Posto Seis ao Leblon”, diz

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para o Pan do Rio. No ano passado, quando o dinheiro foi aplicado, o nú-mero de atletas em equipes olímpicas permanentes subiu de 502 para 710.

Uma das equipes auxiliadas pela Lei Agnelo/Piva foi a de hóquei sobre gra-ma. O esporte é praticamente desco-nhecido no país. Para participar do Pan, precisava apenas de uma confederação, já que o Brasil, como sede, tem direito a participar com equipes em todos os esportes. A confederação foi criada às pressas em 2005. O time foi formado

por atletas garimpados nas escolas de Florianópolis, como Julia Gelbke, hoje a principal jogadora do time feminino. A quadra de hóquei sobre grama do Pan, construída no Complexo Esportivo de Deodoro, é a primeira e única do país com medidas internacionais.

Para o hóquei sobre grama, a simples participação é uma vitória. Para a equipe brasileira de beisebol, outro esporte pouco praticado por aqui, o objetivo é a meda-lha. A equipe vem evoluindo a cada Pan. Ficou em sexto em 1995, quinto em 1999

e quarto em 2003. Com os recursos da lei, 50 atletas fi caram concentrados em sistema de semi-internato, em 2005, em Ibiúna, in-terior de São Paulo, estudando de manhã e treinando à tarde. Esses exemplos sugerem que o esporte olímpico brasileiro mudou de patamar. Isso permite prever que o Pan seja apenas um degrau para um número recorde de medalhas brasileiras nas Olim-píadas de Pequim, no ano que vem. Se isso acontecer, será mais um motivo para os ca-riocas se orgulharem da contribuição que estes Jogos terão dado. ◆

Virgílio de castilhoTriatlo

O atleta carioca sai das águas do Arpoador, perto do local

onde tentará conquistar o ouro no Pan. “Sou bairrista, e

considero o Rio maior que seus problemas”, afirma

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SOCIEDADE

Nos jogos olímpicos de atenas, em 2004, as placas de grama ao redor do estádio Olímpico ainda

estavam sendo colocadas na véspera da cerimônia de abertura. O evento foi rea-lizado sem que muitos detalhes de aca-bamento tivessem sido fi nalizados. Coisa pior aconteceu nos Jogos Pan-America-nos de 2003, em Santo Domingo, na República Dominicana, disputados em ginásios e estádios parcialmente inaca-bados. Não se sabe de algum megaevento esportivo que tenha sido cancelado por-que as obras não fi caram prontas a tem-po. Com o Pan do Rio de Janeiro, não será diferente. ÉPOCA acompanhou em seguidas visitas, ao longo dos últimos quatro meses, o andamento das obras para os Jogos. A duas semanas do início da competição, pode-se dizer que está

tudo pronto, apesar do som intermiten-te de martelos e lixas elétricas.

Faltam apenas detalhes de acabamento nas obras e a maquiagem com a marca dos Jogos por cima da estrutura de concreto, chamada pelos técnicos de overlay. Fora isso, é só limpar a poeira. A obra que mais inquietava os organizadores era a jóia da coroa, o Estádio Olímpico João Havelange, ou Engenhão. Vai ser entregue no prazo, com direito até a um evento-teste, como é praxe an-tes de grandes competições. O estádio vai abrigar o atletismo e o futebol no Pan. A pista de atletismo é a primeira do país a receber a nota máxima da Federação Internacional de Atletismo. Os principais problemas do Engenhão estão no entorno. Não foram feitas obras de ampliação das vias de aces-so ao estádio, e as estreitas ruas de mão

dupla do bairro de Engenho de Dentro, onde ele fi ca, prometem dar um nó no trânsito em dias de jogo. A construção do Engenhão valorizou em até 30% as construções da vizinhança, o que pode acalmar os ânimos dos moradores.

Além do novíssimo Engenhão, que brotou em quatro anos do meio de um terreno baldio, o Pan do Rio vai fi car

marcado por ter possibili-tado a reforma do maior e mais conhecido estádio do país, o velho Maracanã. É lá que vão ocorrer a abertura e o encerramento dos Jogos.

Dois telões foram colocados atrás dos gols, e até o fi m dos Jogos serão instala-dos três novos placares. O único pedido em cima da hora foi a retirada de parte do gramado, que está sendo feita às pres-sas. “A festa de abertura cresceu desde s

Os palcos estão prontosA duas semanas do início dos Jogos, estádios, ginásios e piscinas construídos ou reformados para o Pan recebem os últimos retoques

JÓIA DA COROAOperários instalam

uma trave para a inauguração do Engenhão, que

sediará o atletismo e o futebol no Pan

RAFAEL PEREIRA

Confiraa lista de estádios e ginásios do Pan em

www.epoca.com.br

SOCIEDADE

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SOCIEDADE

fevereiro, e agora vai ter um palco de três andares no meio do campo. Isso já está sendo feito”, afi rma Eduardo Paes, secre-tário estadual de Esporte e Turismo.

As duas obras que mais tiveram pro-blemas, o Parque Aquático Maria Lenk, palco da natação, e a Arena Multiuso, da ginástica olímpica e do basquete, são as que mais impressionam pela ra-pidez dos operários. As obras fi caram paralisadas por um ano – a empresa responsável não conseguiu arrecadar verbas – e foram assumidas pela Prefei-tura do Rio em 2005. O lugar era ape-nas um descampado com algumas vigas enfi leiradas. Dois anos depois, os dois lugares, que formam o Complexo do

Autódromo, estão concluídos. A Arena Multiuso é a que mais chama a atenção pela tecnologia. Tem quatro conjuntos de arquibancadas retráteis de 3 mil lu-gares – a capacidade total é de 15 mil espectadores, em assentos numerados – e um grande placar central de qua-tro faces que, junto com os canhões de luzes coloridas, dá ares de NBA ao lugar. O Parque Aquático já é conside-rado o mais moderno da América Lati-na, equipado inclusive com sistema que gera bolhas de ar para amortecer a queda dos atletas de saltos ornamentais. Fora do complexo, o que se vê são mudas de árvores ainda nos suportes de madeira e grama acinzentada, recém-plantada e

queimada pelo sol. É feio, mas nada que atrapalhe público e atletas.

Só um esporte esteve realmente pró-ximo de ser cancelado no Pan do Rio: a vela. Foi ameaçada porque a estrutura que seria construída para servir de garagem para os barcos foi embargada por ordem do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. As obras iriam mo-difi car uma área tombada na Marina da Glória, no centro do Rio, às margens da Baía de Guanabara. Depois do impasse, a solução foi improvisar essa estrutura. “É uma pena, porque instalações provisórias não deixam legado para o esporte”, afi rma Alan Adler, diretor-técnico da Federação Brasileira de Vela e Motor. ◆

PISCINÃOO Parque Aquático

Maria Lenk tem até um sistema que gera bolhas

na água para amortecer a queda dos competidores

de saltos ornamentais

As obras do PanONDE TUDO CORREU BEM

O Rio ganhou pistas e quadras de Primeiro Mundo, mas o metrô não avançou

>> ESTÁDIO DE PRIMEIRO MUNDO O João Havelange, conheci-do como Engenhão, já é o melhor do país em conforto e segurança para público e atletas. A característica marcante são os grandes arcos metálicos, projeto do arquiteto Carlos Porto

>> NOVO MARACANÃ As verbas do Pan ser-viram para revitalizar o estádio e adequá-lo ao Estatuto do Torcedor, uma antiga reivindicação dos cariocas. O ginásio Maracanãzinho ganhou ares de NBA com a reforma

>> LEGADO PARA O TURISMO Para receber os 600 mil turistas previstos, o Rio precisou melhorar sua infra-estrutura. Destaque para a recuperação dos quiosques da orla de Copaca-bana e as obras de ampliação da capacidade do Aeroporto Santos-Dumont

ONDE HOUVE PROBLEMAS

>> PROJETOS DESCARTADOS Obras de infra-estrutura foram prometidas, e não saíram do papel. As principais são o metrô de superfície para ligar os aeroportos à Barra da Tijuca e a ampliação da auto-estra-da Lagoa–Barra, principal ligação entre as zonas sul e oeste da cidade

>> ORÇAMENTO ESTOURADO Os Jogos Pan-Americanos custaram até agora R$ 3,2 bilhões, quase 700% a mais que os R$ 409 milhões previstos em 2002. O Tribunal de Contas da União e a Câmara Municipal estão examinando os gastos

>> ATRASOS A demora na entrega das obras impediu a realização de vários eventos-teste. O embargo judicial de parte das obras na Marina da Glória quase impediu a realização das regatas de iatismo

Fotos: Felipe Varanda/ÉPOCA e Ag. O Globo (2)

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SOCIEDADESOCIEDADE

EMPOLGAÇÃO A seleção de futebol feminino celebra a conquista do ouro. O Maracanã lotado para a decisão simbolizou o êxito do Pan

o pan do rio de janeiro foi um sucesso. Os fantas-mas que atormentavam os organizadores antes dos Jogos, como as obras atrasadas, o possível de-sinteresse do público e os

temidos episódios de violência, não haviam aparecido até o fim da semana passada, a dois dias do encerramento. Pequenas fa-lhas de organização, como a iluminação insuficiente no estádio de beisebol, o ines-perado apagamento da pira pan-america-na (leia o quadro ao lado) e a precariedade das lanchonetes em alguns estádios, não ofuscaram o brilho dos atletas, a emoção das competições e um clima de paz e con-

fraternização que durou duas semanas. Até Cauê, mascote tachada de insossa antes dos Jogos, tornou-se símbolo popular do êxito da competição. O megaevento será um trunfo importante da candidatura carioca à sede dos Jogos Olímpicos de 2016, uma disputa cujo vencedor será anunciado dentro de dois anos. “O saldo ainda não está concluído, mas já pode-mos afirmar que é extremamente positi-vo”, diz Ruy Cezar Miranda Reis, secretá-rio especial da Prefeitura carioca para o Pan. Pode-se discutir se R$ 3 bilhões é um preço excessivo pelo evento – e o assunto será analisado pelo Tribunal de Contas da União e pela Câmara Municipal carioca –, mas será preciso reconhecer que o investi-mento resultou em um bom Pan.

Em grande parte, esse sucesso se deve a uma rara colaboração entre os governos municipal, estadual e federal. Apesar do “incidente diplomático” entre as três esferas, provocado pela vaia ao presidente na ceri-mônia de abertura, nos bastidores houve coordenação: nem Lula, nem o governador Sérgio Cabral, nem o prefeito Cesar Maia tinham interesse em ver algum incidente manchar a imagem do país, do Estado ou da cidade. Os R$ 562 milhões investidos em segurança, que incluiu a montagem de uma moderna central de monitoramento no centro do Rio, se traduziram em um Pan livre de violência (à parte um atleta americano assaltado na Lapa). Outras áreas da organização, como a logística, a adminis-tração dos voluntários e a transmissão de

Por que o Pan deu certoCom belos estádios, disputas emocionantes e público vibrante, os Jogos empolgaram o país. O sucesso aumenta a chance de o Brasil sediar as Olimpíadas em 2016

rAfAEL PErEIrA e AnDré fOntEnELLE

Fotos: Marcelo Theobald/Ag. O Globo e reprodução (2)

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3 0 d e j u l h o d e 2 0 0 7 I r e v i s ta é p o c a I 9 9

SOCIEDADE

O temido caos não se produziu: até o fim da semana passada, o Pan havia se desenrolado sem falhas graves de organização

n O nível dos estádios e ginásios recebeu elogios unânimes

n O trânsito funcionou, apesar de alguns engarrafamentos. Respeitou-se a faixa exclusiva para delegações

n Mesmo sem lotar as provas, o público compareceu em bom número

n O policiamento ostensivo deu à cidade uma rara sensação de segurança

O melhor e o pior dos JogosO LADO BOM O LADO RUIM

n As vaias aos rivais dos brasileiros foram malvistas pelas delegações estrangeiras. Os chineses estão fazendo uma campanha educativa para evitar isso em Pequim-2008

n A pira pan-americana apagou (foto). Os organizadores alegaram uma inusitada parada para manutenção

n O público sofreu com poucas e caras opções de alimentação nos ginásios

TV, funcionaram bem porque se recorreu à experiência de profissionais estrangeiros, acostumados a trabalhar em grandes even-tos como as Olimpíadas. O público carioca também tem uma cota de responsabilidade pelo sucesso. Os cariocas abraçaram o Pan, interessando-se até por esportes de pou-ca torcida, como esgrima, tae kwon do e hóquei sobre grama. Contribuíram para isso os resultados dos atletas brasileiros, que superaram o recorde de medalhas do país

em um único Pan, levando o país a disputar com Cuba o segundo lugar no quadro de medalhas (leia a reportagem à página 100). Do 1,7 milhão de ingressos disponíveis até a quinta-feira, 71% do total havia sido vendido. A taxa de ocupação dos hotéis foi de 85%, e o fatu-ramento dos restaurantes aumentou 30%, números considerados bons. “Não contá-vamos com tantos turistas, principalmente por causa do caos aéreo”, diz o presidente do sindicato dos hotéis, bares e restaurantes, Alexandre Sampaio. A TV Globo, que exibiu ao vivo as principais competições, ganhou três pontos de audiência de manhã, dois à tarde e um nas provas noturnas. O SporTV, normalmente o terceiro canal por assinatura mais visto, assumiu a liderança durante o Pan e teve a maior audiência de sua história: 3,4 milhões de telespectadores por dia.

Para o Rio de Janeiro provar aos membros do Comitê Olímpico Inter-nacional (COI) que é capaz de organizar as Olimpíadas de 2016, falta mais. Segundo Lamartine DaCosta, brasileiro membro do Centro de Estudos Olímpicos do COI, a en-tidade se interessa por mais que segurança e infra-estrutura. “A cidade tem de apresen-tar o que chamamos de legado social, o que ficará para o povo depois que o circo dos Jogos se desarmar”, afirma DaCosta. Nesse ponto, o Pan não cumpriu suas promessas. Falou-se, por exemplo, em despoluição da Baía de Guanabara e extensão do Metrô até a Barra da Tijuca, dois projetos que ficaram só na intenção, apesar da inflação de 400% em relação ao orçamento original.

As exigências do Comitê Olímpico Internacional são maiores que as da Organiza-ção Desportiva Pan-Ameri-cana, que controla o Pan. O

economista do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (Ipea) Fabio Giambiagi, que estuda a viabilidade de grandes eventos, lembra que o Pan, apesar de ter sido bem realizado, tem pouca repercussão fora das Américas. Sugere que o Brasil se prepare para 2020, e não para 2016. “Se por um lado a imagem do bom Pan ainda está fresca, por outro há a necessidade de uma estrutura ainda mais complexa, e principalmente mais segurança, já que os Jogos envolvem questões como o terrorismo”, diz.

Estudiosos discutem se as Olimpíadas são um negócio lucrativo para as cidades que as organizam. É difícil quantificar seu impacto. Os Jogos de Sydney, em 2000, custaram US$ 2,2 bilhões aos aus-tralianos, e calcula-se que a publicidade positiva gerou US$ 3,8 bilhões em arre-cadação para o turismo nos anos seguin-tes. Os gregos, por sua vez, ainda fazem as contas para saber se os US$ 8,4 bilhões investidos nos Jogos de Atenas, em 2004, valeram a pena. A maior parte das instala-ções esportivas construídas para o evento está praticamente sem uso. Os chineses gastarão mais de US$ 20 bilhões com os Jogos do ano que vem. O governo comu-nista bancará a conta. O Rio, que brigará com cidades do porte de Chicago, nos Estados Unidos, e Roma, na Itália, pelos Jogos de 2016, ainda precisa fazer as con-tas para decidir se as Olimpíadas valem a pena tanto quanto o Pan valeu. u

Confira o blog de ÉPOCA com o balanço do Pan em

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os jogos pan-ameri-canos do Rio de Janei-ro foram abertos numa sexta-feira 13, mas os organizadores fizeram de tudo para não dar chance ao azar. A pro-

gramação da cerimônia de abertura, no velho estádio do Maracanã, havia sido cuidadosamente ensaiada dois dias antes. Ao som de “Wave”, clássico da bossa nova composto por Tom Jo-bim, jovens dançarinos entraram em campo vestidos de branco e azul, em uma coreografia ensaiada com pre-cisão e realçada por uma iluminação elaborada e de bom gosto. Na manhã do mesmo dia, em uma favela próxima dali, na zona norte carioca, um atleta uniformizado tomava café da manhã quando foi alvejado por uma bala. Leandro Silva David, de 16 anos, não ia participar do Pan. Por isso, seu caso não ganhou as manchetes dos jornais. Era jogador de futebol juvenil do São Cristóvão de Futebol e Re-gatas, clube que revelou o craque Ronaldo. No mes-mo dia, além dele, morre-ram com tiros em outros pontos da cidade um líder comunitário, um sargen-to da PM e dois supostos traficantes.

Não é difícil imaginar a repercus-são na imprensa se, dois dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, ocorressem cinco assassinatos na capital grega. Essa repercussão não ocorreu no caso ca-rioca, em parte, porque o Pan não tem a importância das Olimpíadas, mas também devido à banalização da morte no Rio de Janeiro.

A maior festa do esporte nas Américas começou na semana passada, dividin-do espaço com um conflito urbano. Nas próximas duas semanas, 5.684 atletas, 2.274 “oficiais técnicos” e 4 mil jorna-listas de mais de 40 países passarão por uma cidade onde, só nos primeiros qua-tro meses deste ano, mais de 600 pes-soas foram vítimas de armas de fogo. São números semelhantes aos de zonas urbanas em guerra declarada. Segundo um levantamento publicado por ÉPOCA duas semanas atrás, mais de 70 pessoas foram mortas ou feridas por balas per-

didas no Rio desde o co-meço do ano. O presidente Lula não poderia ter sido mais explícito no recado que deu aos responsáveis pela segurança dos Jogos, no mês passado. “Muitos estrangeiros vão vir para o Pan. Se acontecer uma des-graça, a imagem do Brasil vai para a cucuia. Aí, vão dizer que não podemos s

Uma megaoperação foi armada para garantir que nenhum incidente manche o Pan – e a imagem do Rio e do Brasil no exterior

rafael pereIra

afestaserá segura?

o moderno centro de comando e controle dos Jogos tem cem computadores e opera 1.500 câmeras

o lado aleGreO ensaio para a cerimônia de abertura, no Maracanã. No mesmo dia houve cinco mortes à bala na cidade do Pan

Foto: Genilson Araujo/Parceiro/Ag. O Globo

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fazer uma Olimpíada no Brasil porque tem violência”, disse durante uma ceri-mônia de entrega de 800 veículos para a frota de segurança do Pan.

Quem responde ao presidente e a to-dos os que temem pela segurança nos próximos 15 dias é o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, responsável número um pela paz no Pan. “Podem ficar tranqüilos, porque os profissionais que elaboraram o plano e que executarão esse plano são da mais alta qualidade”, afirma. Um aparato de segurança semelhante ao de Olimpíadas começou a funcionar no Rio no fim de semana passado. Usan-do uma expressão presidencial, “nunca antes na história deste país” viu-se uma operação tão complexa para um evento de grande porte.

Na sempre citada reunião de chefes de Estado da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1992, também no Rio de Janeiro, foram mobilizados 15 mil soldados do Exército brasileiro. Agora, o contingen-te é de 18 mil homens, entre policiais federais, civis e militares e soldados da Força Nacional. Pela primeira vez são os civis, e não os militares, que farão o serviço. A intenção era trabalhar nos bastidores, para que o Rio não parecesse uma praça de guerra, como nos vídeos e fotos que correram o mundo por meio das agências de notícias internacionais na Rio 92. Naquela ocasião, e em ou-tras operações do gênero, as esquinas cariocas ganharam tanques camuflados e soldados com pintura de guerra.

De 1992 para cá, mudou a cor dos uni-formes. Em vez do verde do Exército, a Força Nacional faz a patrulha das vias expressas e dos principais estádios e gi-násios dos Jogos com uniformes em tons de cinza e chamativas boinas vinho. Além deles, é claro, trabalham os tradicionais policiais civis e militares. Nesse aspecto, o Pan do Rio supera em muito os números da Copa do Mundo da Alemanha, a mais vigiada da História. Lá, havia 7 mil sol-dados patrulhando as ruas, contra os 18 mil daqui. Para auxiliar essa tropa, serão utilizados 1.768 veículos, 30 aeronaves e 120 cães farejadores. Cada um dos 18

mil agentes terá um rádio digital para co-municação com o Centro de Comando e Controle dos Jogos.

O Centro de Comando é o maior or-gulho da equipe coordenada pela Secre-taria Nacional de Segurança Pública. A tecnologia de última geração contrasta com o lugar onde foi instalado, o caquético prédio da Central do Bra-sil, no centro do Rio. Trata-se de uma rede de mais de cem computadores integrada a 1.500 câmeras espalhadas nos arredores dos locais de competição. Dos modernos computadores do Centro é possível, por exemplo, identificar um carro suspeito com imagens de uma câmera, verifi-car a situação do veículo pelo número da placa, localizar por GPS as viaturas

que estão mais próximas e acioná-las por meio de computadores de mão ou radiotransmissores para que uma abor-dagem seja feita. Foi um investimento de R$ 161 milhões, que ficará como le-gado para a polícia carioca.

Apesar da firmeza dos números e do discurso, a sensação de insegurança nas favelas cariocas faz com que todo esse aparato de guerra não dissipe a preocupação.

Depois das primeiras incursões da polícia e da Força Nacional no Complexo do Ale-mão, apontado pelas autoridades como o quartel-general do tráfico de drogas no Rio, o governador Sérgio Cabral pediu para que o Exército se juntasse às tropas. “Estamos precisando apenas de um apoio das Forças Armadas. Será uma decepção muito gran-

Foto: André Nazareth/ÉPOCA

Acompanhe os Jogos Pan-Americanos em um blog especial em

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de se as tropas não puderem ajudar”, disse Cabral exatamente há um mês. O Exército ficou de fora. Dez dias depois da declaração de Cabral – em uma clara demonstração de força para provar que os homens que defenderão o Pan têm capacidade técnica para o serviço –, o Rio de Janeiro assis-tiu à maior operação do país contra o tráfico de drogas. Foram 1.350 policiais e soldados da Força Nacional e muitas balas disparadas no Complexo do Ale-mão, um saldo de 19 civis mortos, além de armas e drogas apreendidas.

A ação policial no Complexo do Ale-mão foi um marco no combate ao tráfico no Brasil, mas ainda se discute se foram cometidos excessos. Na terça-feira passa-da, o médico-legista Odoroilton Larocca Quinto concluiu um laudo encomendado pela Comissão de Direitos Humanos da

Ordem dos Advogados do Brasil sobre as 19 mortes ocorridas na operação. Se-gundo o laudo, é possível “deduzir” que algumas das vítimas foram executadas. Só não é possível chegar a uma conclu-são definitiva porque os documentos dos exames cadavéricos feitos pelo Instituto Médico-Legal, usados para a elaboração do laudo, têm limitações. “Por causa da destruição das provas, agora já não é mais possível fazer uma perícia autônoma”, diz João Tancredo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. A pe-rícia não pôde determinar se algumas das vítimas receberam ou não tiros a curta distância porque os corpos chegaram ao IML nus, o que prejudicou a localização de marcas de pólvora. Cinco dos mortos podem ter sido atingidos à queima-rou-pa. Além disso, nos laudos produzidos

pelo IML não há descrição precisa dos fe-rimentos e não foram feitos exames com-plementares, como raios X. Pelo laudo de Quinto, uma das vítimas pode ter sido esfaqueada. Algumas tinham ferimentos nos braços, o que sugere que tentaram se defender. Treze vítimas receberam balas pelas costas, sinal de uma possível execu-ção. Há três vítimas com tiros na nuca. Outras podem ter sido atingidas senta-das ou agachadas, ou seja, já rendidas. “O exame direto dos corpos já não é mais possível. Muitas perguntas ficarão sem respostas”, escreveu Quinto no laudo.

para os Jogos, prevê-se que não sejam feitas operações desse porte, para evitar retaliações que possam colo-car em risco a segurança da população, dos atletas e dos turistas. Quando não provocados, os traficantes de drogas ca-riocas costumam evitar confronto com policiais. A presença de turistas na cidade aumenta o lucro com a venda de entor-pecentes. Quem explica essa lógica é o prefeito do Rio, Cesar Maia. “O varejo de drogas não se conecta com outros crimes, como roubo e furto, que é o que realmente preocupa em grandes even-tos. Neles, o que os traficantes querem é vender mais, e não criar problemas”, afirma. A experiência nesse campo é tão grande que as autoridades do município de Niterói, vizinho do Rio, já se prepara para uma suposta “migração de bandi-dos”. Isso pode ocorrer porque a polícia aumenta o cerco nas favelas cariocas para garantir a segurança e traficantes se refu-giam nas cidades vizinhas. No município de Itaboraí, também próximo ao Rio, a situação é a mesma. “Estamos atentos. (Em maio) houve uma troca de tiros em Itaboraí. Um morto era do Complexo do Alemão”, afirmou o coronel Cesar Mu-niz, chefe do policiamento local. Seja no Rio, seja nos arredores, o que se espera é que, pelo menos durante a festa, a população viva uma trégua. u

COlABOROU solaNGe azevedo

BIG BroTHerA sala principal do Centro de Comando e Controle dos Jogos. Dali é possível monitorar todo o esquema de segurança do Pan

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