12
A Teoria da Trofobiose sob a abordagem sistêmica da agricultura: eficácia de práticas em agricultura orgânica. The Trophobiosis Theory based on agriculture systemic approach: eficiency of organic agriculture practices VILANOVA, Clélio 1 ; SILVA JÚNIOR, Carlos Dias da 2 . 1 Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Pós-Graduação e Estudos em Recursos Naturais, Mestrado em Agroecossistemas, Aracaju/SE, Brasil, [email protected]; 2 Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Biologia, Aracaju/SE, Brasil, [email protected] RESUMO: Na agricultura, o enfoque sistêmico é cada vez mais necessário, devido à crescente complexidade de sistemas organizados e manejados pelo homem e da emergência do conceito de sustentabilidade. Na abordagem sistêmica se busca entender as interações de fatores e a complexidade ambiental, com o estudo do desempenho total de sistemas, em vez de se concentrar isoladamente nas partes. A resistência fisiológica vegetal, que tem um dos mecanismos na Trofobiose, contempla uma visão sistêmica, considerando que o ambiente de uma planta cultivada individual é composto de muitos fatores que interagem e que o manejo sustentável do agroecossistema requer o conhecimento da complexidade do ambiente e de como os fatores podem ser manejados. De acordo com a Teoria da Trofobiose, todo organismo vegetal fica vulnerável à infestação de pragas e doenças quando há excessos de aminoácidos livres e açúcares redutores no sistema metabólico. No presente estudo, com base em princípios e métodos agroecológicos, procura-se determinar quais as práticas de agricultura orgânica podem ser mais eficazes na contribuição ao equilíbrio trofobiótico e como a trofobiose está diretamente relacionada ao manejo agroecológico das culturas, contribuindo para a resistência fisiológica vegetal e caracterizando-se como um mecanismo de sustentabilidade do agroecossistema. PALAVRAS-CHAVE: trofobiose, abordagem sistêmica, agricultura orgânica. ABSTRACT: In agriculture, the systemic focus is more and more necessary, because of the crescent complexity of organized systems managed by man and the urgency of the sustainability concept. The systemic approach looks for understanding the interaction of factors and the ambient complexity, with a study of the total development of systems, instead of concentrating in isolated parts. The physiologic vegetal resistance, that has one mechanism in Trophobiosis, contemplates the systemic vision, considering that the environment of an individual crop plant consists of many factors that interact among themselves and that the sustainable management of the agro-ecosystem requires the knowledge of the environment complexity and of how the factors can be managed. According to the Trophobiosis Theory, every vegetal organism is vulnerable to the pest infestation and illness when excess of free amino acids and glycosides reductor species are present in the metabolic system. This study, based on agro ecological principles and methodology, tries to determine which organic agricultural practice can be more efficient in the contribution to the trophobiotic equilibrium and how the trophobiosis is directly related to the crops agro ecological management, helping out to the physiological vegetal resistance and distinguishing itself as an agro-ecosystem mechanism of sustainability. KEY WORDS: trophobiosis, systemic approach, organic agriculture. Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009) ISSN: 1980-9735 Correspondências para: [email protected] Aceito para publicação em 25/04/2009 39

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem sistêmica da ... · A Teoria da Trofobiose sob a abordagem sistêmica da agricultura: eficácia de práticas em agricultura orgânica. The

Embed Size (px)

Citation preview

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem sistêmica da agricultura:eficácia de práticas em agricultura orgânica.The Trophobiosis Theory based on agriculture systemic approach: eficiency of organicagriculture practices

VILANOVA, Clélio1; SILVA JÚNIOR, Carlos Dias da2.

1Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Pós-Graduação e Estudos em Recursos Naturais,Mestrado em Agroecossistemas, Aracaju/SE, Brasil, [email protected]; 2 Universidade Federal deSergipe, Departamento de Biologia, Aracaju/SE, Brasil, [email protected]

RESUMO: Na agricultura, o enfoque sistêmico é cada vez mais necessário, devido à crescentecomplexidade de sistemas organizados e manejados pelo homem e da emergência do conceito desustentabilidade. Na abordagem sistêmica se busca entender as interações de fatores e a complexidadeambiental, com o estudo do desempenho total de sistemas, em vez de se concentrar isoladamente naspartes. A resistência fisiológica vegetal, que tem um dos mecanismos na Trofobiose, contempla umavisão sistêmica, considerando que o ambiente de uma planta cultivada individual é composto de muitosfatores que interagem e que o manejo sustentável do agroecossistema requer o conhecimento dacomplexidade do ambiente e de como os fatores podem ser manejados. De acordo com a Teoria daTrofobiose, todo organismo vegetal fica vulnerável à infestação de pragas e doenças quando háexcessos de aminoácidos livres e açúcares redutores no sistema metabólico. No presente estudo, combase em princípios e métodos agroecológicos, procura-se determinar quais as práticas de agriculturaorgânica podem ser mais eficazes na contribuição ao equilíbrio trofobiótico e como a trofobiose estádiretamente relacionada ao manejo agroecológico das culturas, contribuindo para a resistênciafisiológica vegetal e caracterizando-se como um mecanismo de sustentabilidade do agroecossistema.PALAVRAS-CHAVE: trofobiose, abordagem sistêmica, agricultura orgânica.ABSTRACT: In agriculture, the systemic focus is more and more necessary, because of the crescentcomplexity of organized systems managed by man and the urgency of the sustainability concept. Thesystemic approach looks for understanding the interaction of factors and the ambient complexity, with astudy of the total development of systems, instead of concentrating in isolated parts. The physiologicvegetal resistance, that has one mechanism in Trophobiosis, contemplates the systemic vision,considering that the environment of an individual crop plant consists of many factors that interact amongthemselves and that the sustainable management of the agro-ecosystem requires the knowledge of theenvironment complexity and of how the factors can be managed. According to the Trophobiosis Theory,every vegetal organism is vulnerable to the pest infestation and illness when excess of free amino acidsand glycosides reductor species are present in the metabolic system. This study, based on agroecological principles and methodology, tries to determine which organic agricultural practice can be moreefficient in the contribution to the trophobiotic equilibrium and how the trophobiosis is directly related tothe crops agro ecological management, helping out to the physiological vegetal resistance anddistinguishing itself as an agro-ecosystem mechanism of sustainability.KEY WORDS: trophobiosis, systemic approach, organic agriculture.

Revista Brasileira de AgroecologiaRev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)ISSN: 1980-9735

Correspondências para: [email protected] para publicação em 25/04/2009

3 9

Introdução

O termo Trofobiose origina-se do grego:Trophos (alimento) e Biosis (existência de vida).De acordo com essa Teoria, todo organismovegetal fica vulnerável à infestação de pragas edoenças quando excessos de aminoácidos livres eaçúcares redutores estão presentes no sistemametabólico (POLITO, 2005). A trofobiose estádiretamente relacionada ao manejo agroecológicodas culturas, contribuindo para a resistênciafisiológica vegetal e sustentabilidade doagroecossistema.

A Agroecologia, a partir de um enfoquesistêmico, adota o agroecossistema como unidadede análise e proporciona as bases científicas(princípios, conceitos e metodologias) para apoiaro processo de transição do atual modelo deagricultura convencional para estilos deagriculturas sustentáveis. Sendo oagroecossistema a unidade fundamental deestudo, nos quais os ciclos minerais, astransformações energéticas, os processosbiológicos e as relações sócio-econômicas sãovistas e analisadas em seu conjunto, seusobjetivos não são a maximização da produção deuma atividade particular, mas a otimização doagroecossistema como um todo. Isso significa anecessidade de uma maior ênfase noconhecimento, na análise e na interpretação dascomplexas relações existentes entre as pessoas,os cultivos, o solo, á água e os animais. Nestaperspectiva, torna-se evidente a necessidade dese adotar um enfoque holístico e sistêmico emtodas as intervenções que visem transformarecossistemas em agroecossistemas (ALTIERI,2002; CAPORAL & COSTABEBER, 2004).

A abordagem sistêmica visa ao estudo dodesempenho total de sistemas, em vez de seconcentrar isoladamente nas partes. Naagricultura, o enfoque sistêmico tem-se tornadocada vez mais necessário, devido à crescentecomplexidade de sistemas organizados emanejados pelo homem e da emergência do

conceito de sustentabilidade (PINHEIRO, 2000).A sanidade dos organismos agrícolas deve ser

considerada como uma situação de equilíbriodinâmico, pela qual se busca atingir asustentabilidade, da qual os ecossistemasnaturais nos oferecem amostras. Como osagroecossistemas não são naturais, masmantidos pelo homem para privilegiar oscultígenes de seu interesse, são necessáriasmedidas compensadoras, que constituem astécnicas de agricultura orgânica (DEFFUNE,2007).

A sanidade dos vegetais e animais e aqualidade de seus produtos dependem não só dastécnicas adotadas, mas da aplicação conscientedo conhecimento dos processos vitais envolvidose da natureza dos problemas (pragas, doenças)que necessitem ser resolvidos (DEFFUNE, 2007).Considerando os efeitos das tecnologias sobre aagricultura, há de se observar, de forma sistêmica,os mecanismos de causa e efeito das tecnologiassobre a sustentabilidade do agroecossistema, damesma forma em que Hipócrates, pai da Medicinarecomendava: Sublata causa tolitur effectus(“eliminada a causa cessam os efeitos”). Comessa premissa, o cientista francês FrancisChaboussou estabeleceu as bases da Teoria daTrofobiose, considerando que o ataque de pragase doenças nos cultivos é um efeito, cuja causaestá no desequilíbrio metabólico da planta(PINHEIRO & BARRETO, 1996).

De forma sustentável, a agricultura orgânicautiliza uma dos pilares de qualquer ecossistema –o solo – como “um espaço habitado por milharesde organismos, com infindáveis interações entre sie com os componentes não vivos, comportando-se como um componente vivo dentro doecossistema, afetando e sendo diretamenteafetado pelas práticas culturais utilizadas noprocesso de produção” (FEIDEN, 2001). Deacordo com Gliessman (2005), os princípios emétodos ecológicos, que formam a base da

Vilanova & Silva Junior

Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)4 0

Agroecologia, são essenciais para determinar: seuma prática, insumo ou decisão de manejoagrícola é sustentável; a base ecológica para ofuncionamento, a longo prazo, da estratégia demanejo escolhida. Uma vez que esses estejamidentificados, podem ser desenvolvidas práticasque reduzam os insumos externos comprados,diminuam os impactos de tais insumos quandousados e estabeleçam uma base para desenharsistemas que ajudem os produtores a sustentarseus cultivos e suas comunidades produtoras.

No presente estudo, com base em princípios emétodos agroecológicos, procura-se determinarquais as práticas de agricultura orgânica podemser mais eficazes na contribuição ao equilíbriotrofobiótico e como a trofobiose está diretamenterelacionada ao manejo agroecológico das culturas,contribuindo para a resistência fisiológica vegetale caracterizando-se como um mecanismo desustentabilidade do agroecossistema.

Materiais e métodosOs estudos foram desenvolvidos na

mesorregião do Agreste Sergipano, no Estado deSergipe. O sistema de agricultura orgânica doAgreste Sergipano está caracterizado pelo cultivopredominante e diversificado de hortaliças,associado com pequena pecuária (gado de leite eovinos). Os produtores orgânicos estãoorganizados em associações (ASPOAGRE –Associação de Produtores Orgânicos do Agreste eAPM – Associação dos Pequenos e MédiosEmpreendedores Rurais de Malhador) edesenvolvem o sistema, em pequenaspropriedades, há cerca de sete anos, comcertificação pelo Instituto Biodinâmico – IBD.Dentre o grupo de produtores foi identificado umprodutor padrão (Sr. Carlos Batista dos Santos),em cuja unidade familiar de produção (SítioMatapuã), de 4,8 hectares, desenvolve seu cultivohortícola diversificado (com plantios de couve,cenoura, tomate, abóbora, pimentão, batata),associado a pequena pecuária (gado leiteiro e

ovinos) e onde executa a grande maioria daspráticas de agricultura orgânica adotadas pelogrupo de produtores, com regularidade eeficiência, sendo, portanto, representativo nosistema de produção adotado pelo grupo. Apropriedade analisada (Sítio Matapuã) estálocalizada no município de Itabaiana, comcoordenadas UTM N 06 66 81 e E 88 23 10 ealtitude de 223 m.

A caracterização das áreas produtivas, dogrupo de produtores e do sistema de produçãoorgânica adotado no Agreste Sergipano,considerados neste estudo, está baseada emdiagnósticos realizados pelo SEBRAE/SE (2006ae 2006b).

Foram identificadas, dentro do sistema deprodução, as práticas mais eficazes para alcançarum equilíbrio trofobiótico e como a trofobiose estádiretamente relacionada ao manejo agroecológicodas culturas, contribuindo para a resistênciafisiológica vegetal e caracterizando-se como ummecanismo de sustentabilidade doagroecossistema. Embora escolhidas conforme osistema de produção da área em estudo(agricultura orgânica do Agreste Sergipano), aspráticas são comuns aos padrões de cultivoutilizados em qualquer plantio que adote ospreceitos da Agricultura Orgânica.

Resultados e discussão

Sustentabilidade de práticas agrícolasmediante princípios agroecológicos – Manejoda complexidade

O ambiente, no qual um organismo individualocorre, precisa ser compreendido como umconjunto dinâmico, em constante mudança, detodos os fatores ambientais (luz, temperatura,precipitação, vento, solo, umidade do solo, fogo efatores bióticos) em interação, ou seja, como umcomplexo ambiental. O manejo sustentável deagroecossistemas requer o conhecimento de

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem

4 1Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

como fatores individuais afetam organismoscultivados e como todos os fatores interagem paraformar o complexo ambiental (GLIESSMAN,2005).

Diante dos recursos naturais, as práticasexecutadas nos agroecossistemas pela agriculturaorgânica têm o objetivo de otimizar os fluxos denutrientes, reduzir as perdas e melhorar ascondições ambientais para proporcionarprodutividades ótimas das culturas comsustentabilidade, considerando–se as suas inter-relações e implicações com e sobre o restante dosistema (FEIDEN, 2001).

Estando a trofobiose intimamente relacionadaaos mecanismos fisiológicos do estresse, capazde motivar o estado em que aminoácidos livres eaçúcares redutores estejam disponíveis paraalimentação de fitoparasitas, é importanteobservar os fatores que promovam esse estresse,bem como as práticas agrícolas capazes deminimizá-lo.

Uma série de condições do ambiente naturalpode causar o estresse da planta (LARCHER,2000):

- fatores abióticos – fatores climáticos (alta oubaixa radiação, temperaturas excessivamentealtas ou baixas, precipitação deficiente, seca,ventos fortes) e condições do solo (altasconcentrações de sal e minerais ou deficiênciamineral, acidez, baixa concentração de oxigênio);

- fatores bióticos – adensamento de plantas,uso intenso das plantas por animais emicroorganismos, ações antropogênicas.

Raramente na natureza ocorre um fator deestresse sozinho e sem a influência de outrosfenômenos. Frequentemente, múltiplos estressesestão envolvidos, em uma combinação de fatores(LARCHER, 2001). A análise individualizada deuma prática agrícola que possa minimizar um fatorde estresse é uma análise parcial e deve serampliada para o conjunto de práticas adotadas nosistema produtivo e redesenho de todo o sistema,de modo que os múltiplos estressores possam ser

contornados.Entre os fatores estressores, capazes de

promover o desequilíbrio metabólico que agesobre a proteossíntese e, consequentemente,sobre a resistência da planta, Chaboussou (1999)destaca:

- fatores intrínsecos, que envolvem aconstituição genética da planta (a espécie e avariedade, a idade dos órgãos ou da planta);

- fatores abióticos: o clima (energia solar,temperatura, umidade, precipitação, influênciascósmicas);

- fatores culturais: o solo (composição química,estruturação, aeração), a fertilização (orgânica emineral), a enxertia (influência do porta-enxertosobre a fisiologia do enxerto e reciprocamente), otratamento com agrotóxicos (desencadeamentode desequilíbrios biológicos.

Um conjunto de práticas agrícolas baseadasnos princípios agroecológicos pode ser bastanteeficaz no manejo da complexidade ambiental e nacontribuição ao equilíbrio trofobiótico, resultandoem menor vulnerabilidade das plantas à incidênciade pragas e doenças. Essas práticas deverãosempre incluir (ALTIERI, 2002):

- cobertura vegetal como uma medida eficientena conservação do solo e da água, através do usode plantio direto, cobertura morta, cobertura vivaetc;

- suprimento regular de matéria orgânica(esterco, composto) e promoção da atividadebiótica do solo;

- mecanismos de reciclagem de nutrientesatravés do uso de rotações de culturas, sistemasintegrados de produção de plantas e animais,sistemas agroflorestais e sistemas consorciados;

- controle de pragas, com maior atividade dosagentes de controle biológico, alcançada porintermédio do manejo da biodiversidade e daintrodução e/ou conservação dos inimigosnaturais;

- maior capacidade de uso múltiplo dapaisagem;

Vilanova & Silva Junior

4 2 Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

- manutenção da produção sem uso deinsumos químicos que degradam o ambiente.

Não desconsiderando uma série de práticasculturais recomendadas no manejo agroecológicopreconizado pela agricultura orgânica, algumaspráticas principais podem ser destacadas pela suaefetividade à trofobiose:

- uso eficiente da irrigação;- formação de quebra-ventos;- adubação orgânica;- manejo nutricional do plantio;- emprego de biofertilizantes e caldas

fertiprotetoras;- calagem e gessagem;- uso de espécies e variedades adequadas às

condições edafoclimáticas locais;- manutenção da cobertura do solo;- exclusão do uso de agrotóxicos.

Uso eficiente da irrigaçãoEm regiões de baixa precipitação pluviométrica

ou de distribuição irregular das chuvas durante oano, o uso eficiente da irrigação procura manter aumidade do solo sempre em condiçõesadequadas para o desenvolvimento das plantas,sem falta nem excesso de água. O déficit hídricocomo fator de estresse ocorre quando muitopouca água está disponível à planta.

Não há processo vital que não seja afetado dealguma forma pelo declínio do potencial hídrico,alterando numerosas funções celulares. A primeirae mais sensível resposta ao déficit hídrico é adiminuição da turgescência, associada àdiminuição do processo de crescimento. Ometabolismo das proteínas e dos aminoácidos élogo limitado (LARCHER, 2001; FUMIS &PEDRAS, 2002).

Quando a turgescência começa a diminuir sãoiniciadas medidas osmorregulatórias. Acombinação de síntese de compostos orgânicosnitrogenados e a conversão de amido paracarboidratos solúveis ocasiona a acumulação desubstâncias orgânicas de baixo pelo molecular

nos compartimentos celulares e no citosol(LARCHER, 2001). Essa disfunção ocorre sobdiversas condições de estresse (não apenashídrico)1.

Formação de quebra-ventosO efeito físico do vento, em áreas que tendem

a ter vento mais constante, pode desenvolvercondições desfavoráveis às plantas, como adessecação. No desenho de agroecossistemassustentáveis devem ser consideradas as técnicascapazes de mitigar os aspectos negativos dovento, como os quebra-ventos.

A abertura dos estômatos na folha da plantaleva a um espaço de ar na qual a troca de gásocorre nas paredes das células circundantes.Neste espaço, saturado de umidade, o vapord’água flui de dentro para fora da folha, criandouma camada limítrofe de ar saturado ao redor dasuperfície da folha. O vento remove essa camada,aumenta a transpiração e a perda de água pelaplanta. Esta perda pode ser prontamentesubstituída por absorção pelas raízes e transportesubseqüente para as folhas, mas se a taxa dedessecação exceder à da substituição, podeocorrer murcha e conseqüente desequilíbriometabólico (GLIESSMAN, 2005).

A formação de barreiras ou de faixas devegetação nas margens dos cultivos proporcionatambém uma redução na dispersão de pragas(como pulgões e tripes) pelo vento na áreacultivada (ALTIERI et al., 2003).

Adubação orgânicaDe acordo com Paschoal (1996), ao contrário

dos fertilizantes minerais solúveis, os adubosorgânicos fornecem todos os macro emicronutrientes que as plantas precisam e emdoses proporcionais, sem excessos nemcarências. Por isso culturas adubadasorganicamente acham-se perfeitamente

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem

4 3Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

equilibradas em seu metabolismo, não ocorrendoacúmulos de substâncias solúveis, o que astornam mais resistentes à ação deletéria dasespécies daninhas. Estimulando a proteossíntese,o húmus protege as plantas de pragas e doenças.A matéria orgânica humificada do solo tambémmelhora as propriedades físicas e biológicas dosolo, permitindo que as raízes desenvolvam-semais e assim a planta (cultura) consiga competirmais satisfatoriamente com as plantas invasoras(espontâneas). Estimuladas pelas substânciashúmicas, a raiz aumenta sua capacidade deabsorção de nutrientes e outros compostosminerais e orgânicos liberados no solo pela maioratividade microbiana. Desta forma é que sealcança, na prática da Agricultura Orgânica, umacondição de resistência fisiológica da plantas àspragas e doenças, permitindo uma maiorsustentabilidade do sistema de produção.

Manejo nutricional do plantioTodos os aspectos da resistência fisiológica

das plantas estão intimamente relacionados com o“status” nutricional das plantas e refletem tantouma modificação no ambiente nutricional dopatógeno como na ação de enzimas e naprodução e acúmulo de compostos inibidores dapatogênese, como as fitoalexinas (ZAMBOLIM &VENTURA, 1996; POLITO, 2006; DEFFUNE,2007).

Muitos estudos demonstram a estreita relaçãoentre a nutrição mineral e a resistência da planta apatógenos, verificando-se que alguns nutrientesaumentam a severidade da incidência de doençase pragas, enquanto outros a reduzem, devendo-sebuscar uma nutrição equilibrada. Os mecanismosde resistência fisiológica pelos nutrientes têm sidoassociados à regulação de aminoácidos e àsíntese de proteínas. O nitrogênio normalmenteestabelece a composição de certos aminoácidos eproteínas, enquanto que o zinco e outroselementos interagem com o nitrogênio pararegular aminoácidos, amidas e a concentração de

proteínas (SIQUEIRA & FRANCO, 1988;PRIMAVESI, 1994; ZAMBOLIM & VENTURA,1996; POLITO, 2006).

Os elementos minerais não somente servemcomo substratos, mas também determinam a rotadas reações fisiológicas do metabolismo. Oaumento da taxa de respiração, permeabilidadecelular e a translocação podem aumentar adisponibilidade de nutrientes para o patógeno. Oestado nutricional do hospedeiro é particularmentecrítico no caso de patógenos obrigatórios. Aconcentração de determinados vírus éproporcional ao vigor do hospedeiro (ZAMBOLIM& VENTURA, 1996).

O manejo nutricional deve considerar, noentanto, não apenas o aporte de nutrientes àsplantas, em adequadas proporções, mas aredução das perdas de nutrientes no sistema. Deacordo com Feiden (2001), enquanto nas regiõestemperadas os solos são ricos em nutrientes e aatividade biológica é lenta e sofre interrupçõesocasionadas pelo inverno rigoroso, em regiõestropicais e equatoriais úmidas, os solos sãopobres e a atividade biológica é intensa. Emnossas condições tropicais, a melhor estratégiapara conservar os nutrientes no sistema é mantê-los fixados na matéria orgânica, tanto nas plantasvivas como na matéria orgânica do solo. Assim, aimobilização de nutrientes, que é consideradocomo um aspecto negativo no manejoconvencional de fertilizantes, sob o enfoqueagroecológico passa a ser um mecanismo chavena manutenção dos nutrientes noagroecossistema.

Emprego de biofertilizantes e caldasfertiprotetoras

Os biofertilizantes líquidos, na forma defermentados microbianos enriquecidos, funcionamcomo promotores de crescimento (equilíbrionutricional) e como elicitores na indução deresistência sistêmica na planta. Além disso,ajudam na proteção da planta contra o

Vilanova & Silva Junior

4 4 Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

ataque de doenças, por antibiose, e contra oataque de pragas, por ação repelente,fagodeterrente (inibidores de alimentação) ouafetando o seu desenvolvimento e reprodução(MEDEIROS, 2002; MEDEIROS et al., 2003).Embora existam diferentes formas de preparo debiofertilizantes, na agricultura orgânica praticadano Agreste Sergipano tem sidopredominantemente utilizado o chamado Biogeo,enriquecido com o composto orgânico Microgeo®(SEBRAE/SE, 2006a; SEBRAE/SE, 2006b).

Os biofertilizantes possuem compostosbioativos, resultantes da biodigestão decompostos orgânicos de origem animal e vegetal,contendo células vivas ou latentes demicorganismos de metabolismo aeróbico,anaeróbico e fermentação (bactérias, leveduras,algas e fungos filamentosos), além de metabólitose quelatos organominerais (MEDEIROS et al,2003). Os biofertilizantes contribuemsignificativamente para o manejo nutricional doplantio e seu equilíbrio trofobiótico, no sistema deprodução orgânica. Alves et al. (2001) destacamsua importância para o controle sustentável daspragas e redução dos custos de produção dacultura, devendo fazer parte do manejoagroecológico para a cultura, levando em contasua influência sobre as relações trofobióticas dasplantas e pragas.

Caldas fertiprotetoras (sulfocálcica, bordalesa eviçosa) têm ação inseticida, acaricida, fungicida enutricional, preparadas pelos agricultores epulverizadas sobre as plantas objetivando ocontrole de doenças e o aumento da resistênciada planta às pragas, restabelecendo o equilíbriotrófico e fornecendo cálcio, cobre, enxofre emicronutrientes (POLITO, 2000; ANDRADE &NUNES, 2001; MEDEIROS et al., 2007). No casoda calda sulfocálcica, o enxofre tem efeito nosistema de proteossíntese, ligado especialmente àmetionina e cisteína (POLITO, 2005).

Calagem e gessagem

Para correção da acidez do solo, recomenda-se a calagem, com aplicação de calcário nãosuperiores a 2 t/ha por ano (FEIDEN, 2001),calculadas com base na análise de solo paracorrigir deficiência de cálcio e magnésio ouneutralização de alumínio trocável.

A aplicação do gesso agrícola (gessagem),além de adicionar enxofre ao sistema, favorece otransporte de Ca e Mg para camadas maisprofundas do solo, estimulando a penetração dasraízes. Com o melhor desenvolvimento radicular aplanta aumenta sua capacidade de absorção deágua e nutrientes, tornando-se menos vulnerávelà baixa unidade e reciclando os nutrientesarrastados às camadas mais profundas do solo. Ogesso também pode ser usado, eventualmente,no tratamento contra salinidade do solo ², assimtornado, por exemplo, pela má utilização dairrigação ou ausência de drenagem.

Uso de espécies e variedades adequadas àscondições edafoclimáticas locais

O modelo de agricultura convencional enfatizaas monoculturas e o plantio de variedades maisprodutivas e com pequena variabilidade genética,criando sistemas ecológicos muito simplificados einstáveis, favorecendo o estabelecimento emultiplicação de pragas e doenças (PASCHOAL,1996). Estas variedades, em geral, só respondemao potencial produtivo quando associadas a umpacote tecnológico que utilize altas doses deagrotóxicos e fertilizantes. Já as culturastradicionais foram adaptadas às condiçõesreinantes do ambiente, especialmente àscondições adversas (PRIMAVESI, 1994) e são,portanto, menos suscetíveis a estresses causadospor condições ambientais desfavoráveis.

Manutenção da cobertura do soloNo manejo ecológico do solo utiliza-se

cobertura do solo, seja através de plantas vivasou de cobertura morta, a fim de

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem

4 5Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

proteger a superfície do solo da intensa radiaçãosolar, evitando a queima da matéria orgânica dosolo, reduzindo a amplitude térmica da superfície,a perda de água por evaporação, o impacto dasgotas de chuva sobre a superfície e a velocidadedo escorrimento superficial do excesso de águadas chuvas (PRIMAVESI, 1986; PRIMAVESI,1994; FEIDEN, 2001; ALTIERI, 2002).

A estratégia de manutenção da cobertura dosolo, além de proteger o solo das perdas denutrientes pela erosão, também atua no sentido demanter estes nutrientes na biomassa do sistema(FEIDEN, 2001).

Alta radiação, alta temperatura e baixaumidade são fatores causadores de estresse e dedistúrbios metabólicos (LARCHER, 2001), quepodem ser evitados ou reduzidos pela coberturado solo.

Exclusão do uso de agrotóxicosNumerosos estudos, discutidos por

CHABOUSSOU (1999), demonstram o aumentoda sensibilidade das plantas ao ataque de pragase doenças após tratamentos com agrotóxicos.

A despeito das barreiras que devemultrapassar os agrotóxicos, sejam sistêmicos ounão, sejam fungicidas, inseticidas ou herbicidas,penetram mais ou menos nos tecidos da planta e,portanto agem sobre seu metabolismo, reduzindoa proteossíntese, acumulando aminoácidos livrese açúcares redutores, utilizáveis pelas pragas eagentes fitopatogênicos (PASCHOAL, 1996;CHABOUSSOU, 1999; ALVES et al., 2001).

A identificação de quão eficazes são aspráticas agrícolas utilizadas no sistema adotadopara que se atinja um bom nível desustentabilidade requer uma abordagemsistêmica. Uma prática, isoladamente, não écapaz de promover efeitos sobre asustentabilidade agrícola, se não foremimplementadas em todo o sistema, práticassustentáveis de manejo. A prática agrícola éapenas uma parte de um todo, que é o sistema

agrícola.As práticas convencionais de manejo atuam

principalmente na tentativa de controlarrigidamente e homogeneizar todas as condiçõesisoladamente, sem considerar a complexidadecaracterística do sistema e suas interaçõesecológicas e simplificando os agroecossistemas.A Agroecologia, por outro lado, enfatiza anecessidade de estudar tanto as partes quanto otodo, de modo que o manejo do agroecossistemaleva em conta os efeitos de qualquer ação ouintervenção sobre o sistema como um todo,desenhando práticas que visam reforçar seufuncionamento e suas qualidades (GLIESSMAN,2005).Pragas e doenças não podem ser alvos, nessaabordagem sistêmica, do uso apenas dedeterminadas práticas. De acordo com DEFFUNE(2007), as causas de pragas e doenças resultamda combinação de desequilíbrios ambientais,nutricionais e genéticos, desfavoráveis às plantascultivadas, cujos tecidos se tornam campofavorável aos parasitas e cujas defesas orgânicassão ou estão temporariamente insuficientes.

Enquanto nos animais a resistência eresposta imunológica individual têm um papelsignificativo, nos vegetais a resistência é coletiva,populacional e muito mais dependente doequilíbrio de fatores ambientais, ou seja, da saúdedo agroecossistema ou organismo agrícola comoum todo. Saúde esta obtida a partir de princípiosagroecológicos no desenho de agroecossistemassustentáveis (Figura 1).

Abordagem sistêmica da agricultura e visãosistêmica da resistência fisiológica vegetal

Na agricultura, o enfoque sistêmico tem setornado cada vez mais necessário, devido àcrescente complexidade de sistemas organizadose manejados pelo homem e da emergência doconceito de sustentabilidade. A grande maioriados sistemas agropecuários tem requerido umaabordagem holística e multidisciplinar, a fim de

Vilanova & Silva Junior

4 6 Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

melhor serem entendidos e analisados. Nessaabordagem sistêmica é visado o estudo dodesempenho total de sistemas, em vez de seconcentrar isoladamente nas partes (PINHEIRO,2000).

Uma das debilidades da abordagemagronômica convencional no manejo deagroecossistemas, segundo Gliessman (2005), éque ela ignora as interações de fatores e acomplexidade ambiental. As necessidades dacultura são consideradas isoladamente e cadafator é manejado separadamente. O manejoagroecológico, ao contrário, considera o sistemade produção como um todo e reconhece que oambiente no qual um organismo individual ocorreprecisa ser compreendido como um conjuntodinâmico, em constante mudança, de todos osfatores ambientais em interação.

O estudo da resistência fisiológica vegetal, quetem um dos mecanismos na Trofobiose, consideraque o ambiente de uma planta cultivada individualé composto de muitos fatores que interagem e queo manejo sustentável do agroecossistema requero conhecimento da complexidade do

ambiente, de como cada fator afeta ou é afetadopelos outros e de como esses fatores podem sermanejados. Contempla, portanto, uma visãosistêmica.

A Trofobiose está inserida no contexto maisamplo da chamada Resistência Sistêmica Vegetal(WALDEMAR, 2002; DEFFUNE, 2007). Emconjunto com outros mecanismos (como acoevolução e as fitoalexinas), compõe umacomplexa interação de fatores que determinam aresistência fisiológica vegetal. A coevoluçãorefere-se à resposta adaptativa interativa de duasespécies levando a mudanças evolutivas de umasobre a outra. As fitoalexinas são substâncias dedefesa contra infecção (DEFFUNE, 2007).

Trofobiose como mecanismo parasustentabilidade do agroecossistema

A sustentabilidade é definida por Conway(1987) como a habilidade de umaagroecossistema em manter a produtividadequando submetido a grande distúrbio. Essedistúrbio, atual ou potencial, pode ser causado porum estresse intensivo, freqüente ou contínuo,

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem

4 7Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

capaz de gerar efeitos cumulativos.Alternativamente, o distúrbio pode ser causadopor um choque, definido como infreqüente,relativamente grande e imprevisível distúrbio quetem potencial de criar uma grande perturbaçãoimediata.

A sustentabilidade pode determinar apersistência ou durabilidade da produtividade doagroecossistema, em função das característicasintrínsecas do agroecossistema, da natureza eforça do estresse e choque a que está submetido,e da ação humana introduzida para conter esseestresse ou choque (CONWAY, 1987). Na medidaem que trofobiose apresenta relação direta com osdistúrbios metabólicos causados pelo estressefisiológico das plantas (seja por déficit hídrico, altaradiação e temperatura, desequilíbrio nutricional,aplicação de agrotóxicos, ou qualquer outromotivo), está consequentemente, relacionadatambém com a determinação das respostas daprodutividade a esses distúrbios e àcorrespondente sustentabilidade doagroecossistema. A ação humana, através depráticas agroecológicas, poderá conter ou regularo estresse, de modo a manter a sustentabilidade eo nível de produtividade.

Conway (1987) alerta que, em algumassituações, a ação humana pode se tornar parte doproblema porque, direta ou indiretamente, geraestresses ou choques, como a aplicação freqüentede agrotóxicos, que pode induzir a resistência depragas ao agrotóxico, sendo necessário aumentaro número de aplicações para manter aprodutividade, podendo causar uma situaçãoinsustentável, de colapso da produtividade. Nocaso da trofobiose, a aplicação do agrotóxicopoderá causar um distúrbio metabólico na planta,com aumento de substâncias (aminoácidos livrese açúcares solúveis) que irão favorecer a nutriçãoe desenvolvimento de diversos fitoparasitas,sendo necessário, para o controle, novas emaiores aplicações de agrotóxicos, tornando a

produtividade do agroecossistema tambéminsustentável.

De acordo com Marten (1988), um sistema detecnologia agrícola é um projeto para umagroecossistema, especificando todas asproduções que podem ser empregadas numarranjo espacial e temporal e todos os insumosque entram no sistema para produzir o que sedeseja, com todos os costumes e concepções queum sistema de cultivo possui. A estrutura de umagroecossistema, por sua vez, é conseqüêncianão apenas do projeto agrícola, mas também dascondições ambientais (clima, solo, topografia,organismos da área) que definem os recursosdisponíveis para a implantação de umagroecossistema, e dos agricultores e suascondições sociais (valores humanos, instituições ehabilidades), que influenciam na interação entreeles e o ecossistema de que fazem parte,determinando como a tecnologia pode serempregada para moldar o ambiente para umagroecossistema. Essa forma, Marten (1988)destaca o caráter multidimensional dasustentabilidade e demais propriedades dosagroecossistemas, levando em conta ascondições ambientais e sociais de umdeterminado local, quais os tipos deagroecossistemas são mais apropriados paraessas condições e identificando pontosvulneráveis no sistema de tecnologia agrícolapara sugerir quais devem ser fortalecidos.

As várias dimensões da sustentabilidade deum agroecossistema são concebidas apenas pelatecnologia agrícola de abordagem holística,derivada dos princípios da Agroecologia, como aagricultura orgânica. Na tecnologia convencional,ao contrário, são desconsideradas as interaçõesentre a agricultura, as condições ambientais e ascondições sociais, uma vez que as necessidadesda cultura são consideradas isoladamente, emque cada fator ambiental é manejadoseparadamente para alcançar o rendimento

Vilanova & Silva Junior

4 8 Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

máximo e o melhor resultado econômico.A trofobiose está relacionada a um manejo do

sistema como um todo, em que vários fatores (e ainteração entre eles) contribuem para a existênciade condições adequadas de equilíbrio trofobiótico.Portanto, apenas através de uma tecnologia deabordagem sistêmica, em que a estrutura e asfunções do agroecossistema sejam analisadas demaneira holística, é possível a trofobioseexpressar seu equilíbrio, promovendo um aumentoda sustentabilidade.

Considerações finaisOs princípios e métodos agroecológicos são

essenciais para determinar se uma prática,insumo ou decisão de manejo agrícola ésustentável. As práticas de agricultura orgânica,baseadas nos princípios da Agroecologia,proporcionam o desenho de agroecossistemassustentáveis.

O conjunto de práticas agrícolas escolhidaspode ser bastante eficaz no manejo dacomplexidade ambiental e na contribuição aoequilíbrio trofobiótico, resultando em menorvulnerabilidade das plantas à incidência de pragase doenças.

A resistência fisiológica vegetal, que tem umdos mecanismos na Trofobiose, contempla umavisão sistêmica, ao considerar que o ambiente deuma planta cultivada individual é composto demuitos fatores que interagem e que o manejosustentável do agroecossistema requer oconhecimento da complexidade do ambiente, decomo cada fator afeta ou é afetado pelos outros ede como esses fatores podem ser manejados.

A trofobiose está relacionada a um manejo dosistema como um todo, em que vários fatores (e ainteração entre eles) contribuem para a existênciade condições adequadas de equilíbrio trofobiótico,promovendo um aumento da sustentabilidade.

Notas1 “Toda circunstância desfavorável à formação

de nova quantidade de citoplasma, isto é,desfavorável ao crescimento, tende a provocar nasolução vacuolar das células um acúmulo decompostos solúveis inutilizados, como açúcares eaminoácidos; este acúmulo de produtos solúveisparece favorecer a nutrição de microorganismosparasitas e, portanto, diminuir a resistência daplanta às doenças parasitárias”. Op. Cit.:DUFRÉNOY (1936), apud CHABOUSSOU (1999).

2 A alta concentração de sais é um fator deestresse para as plantas, pois apresenta atividadeosmótica retendo a água, além da ação dos íonssobre o protoplasma (distúrbio no balanço iônico eefeito sobre enzimas e membranas). A água éosmoticamente retida em uma solução salina, deforma que o aumento da concentração de saistorna a água cada vez menos disponível para aplanta. A assimilação do nitrogênio é limitada e ometabolismo das proteínas sofre distúrbios(LARCHER, 2001).

Referências BibliográficasALTIERI, M.. AAggrrooeeccoollooggiiaa:: bbaasseess cciieennttííffiiccaass ppaarraa

uummaa aaggrriiccuullttuurraa ssuusstteennttáávveell. Guaíba:Agropecuária, 2002. 592p.

ALTIERI, M & NICHOLLS, C. I. Soil fertilitymanagement and insect pests: harmonizing soiland plant health in agroecosystems. SSooiill &&TTiillllaaggee RReesseeaarrcchh, 72:203-211, 2003.

ALTIERI, M.; SILVA, E. do N.; NICHOLLS, C. I. OOppaappeell ddaa ddiivveerrssiiddaaddee nnoo mmaanneejjoo ddee pprraaggaass..Ribeirão Preto: Holos, 2003. 226 p.

ALVES, S. B.; MEDEIROS, M. B.; TAMAI, M. A.;LOPES, R.B. Trofobiose e microrganismos naproteção de plantas: Biofertilizantes eentomopatógenos na citricultura orgânica.BBiiootteeccnnoollooggiiaa CCiiêênncciiaa ee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo,21:16-21, 2001.

ANDRADE, L. N. T. & NUNES, M. U. C. PPrroodduuttoossaalltteerrnnaattiivvooss ppaarraa ccoonnttrroollee ddee ddooeennççaass ee pprraaggaasseemm aaggrriiccuullttuurraa oorrggâânniiccaa. Aracaju: EmbrapaTabuleiros Costeiros, 2001 (Documentos, 28).

CAPORAL, F. R. & COSTABEBER, J. A..AAggrrooeeccoollooggiiaa:: aallgguunnss ccoonncceeiittooss ee pprriinnccííppiiooss.. 24p. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004.

CHABOUSSOU, F. PPllaannttaass DDooeenntteess ppeelloo UUssoo ddeeAAggrroottóóxxiiccooss ((AA TTeeoorriiaa ddaa TTrrooffoobbiioossee)). 2ª. ed.,Porto Alegre: L&PM, 1999. 272p.

A Teoria da Trofobiose sob a abordagem

4 9Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)

CONWAY, G. R. The Properties ofAgroecosystems. AAggrriiccuullttuurraall SSyysstteemmss. 24:95-117. 1987.

DEFFUNE, G. Sistemas de ProduçãoAgroecológicos Integrados. 77 p. (REDCAPA –Curso à distância de Aperfeiçoamento emAgroecologia – 4º. Módulo – Unidade 3). 2007.

FEIDEN, A. CCoonncceeiittooss ee PPrriinnccííppiiooss ppaarraa oo MMaanneejjooEEccoollóóggiiccoo ddoo SSoolloo. Seropédica: EmbrapaAgrobiologia, dez. 2001. 21 p. (EmbrapaAgrobiologia. Documentos, 140).

FUMIS, T. de F. & PEDRAS, J. F. Variação nosníveis de prolina, diamina e poliaminas emcultivares de trigo submetidas a déficitshídricos. PPeessqq.. AAggrrooppeecc.. BBrraass.., Brasília, v. 37,n. 4, p. 449-453, 2002.

GLIESSMAN, S. R. AAggrrooeeccoollooggiiaa:: pprroocceessssoosseeccoollóóggiiccooss eemm aaggrriiccuullttuurraa ssuusstteennttáávveell. 3ª. Ed.Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

LARCHER, W. EEccooffiissiioollooggiiaa VVeeggeettaall. São Carlos:RiMa, 2001. 531p.

MARTEN, G. C. Productivity, Stability,Sustainability, Equitability and Autonomy asProperties for Agroecosystem Assesment.AAggrriiccuullttuurraall SSyysstteemmss. 26:291-316. 1988.

MEDEIROS, M. B. de Ação de biofertilizanteslíquidos sobre a bioecologia do ácaroBrevipalpus phoenicis. Piracicaba: EscolaSuperior de Agricultura “Luiz de Queiroz” -Universidade de São Paulo, 2002. 110 p. TeseDoutorado.

MEDEIROS, M. B de; WANDERLEY, P. A.;WANDERLEY, M. J. A. Biofertilizantes Líquidos:Processo trofobiótico para proteção de plantasem cultivos orgânicos. BBiiootteeccnnoollooggiiaa CCiiêênncciiaa eeDDeesseennvvoollvviimmeennttoo, 31:38-44, 2003.

MEDEIROS, M. B. de; SANTOS, D.; BARBOSA,A. da S. Produtos trofobióticos para proteção deplantas. RReevviissttaa BBrraassiilleeiirraa ddee AAggrrooeeccoollooggiiaa.2(2):1268-1272, 2007.

PASCHOAL, A.D. Pragas da Agricultura nosTrópicos. 72 p. (ABEAS – Curso de AgriculturaTropical – Módulo 3.1). 1996.

PINHEIRO, S. L. G. O Enfoque Sistêmico e oDesenvolvimento Rural Sustentável: UmaOportunidade de Mudança da AbordagemHard-System para Experiências com Soft-System. AAggrrooeeccoollooggiiaa ee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo RRuurraallSSuusstteennttáávveell, Porto Alegre, 1(2):27-37, abr/jun,2000.

PINHEIRO, S. & BARRETO, S. B. ““MMBB--44””::AAggrriiccuullttuurraa SSuusstteennttáávveell,, TTrrooffoobbiioossee ee

BBiiooffeerrttiilliizzaanntteess. Fundação Juquira Candiru /MIBASA, 1996. 273 p.

POLITO, W. L. Calda sulfocálcica, bordalesa eviçosa: os fertiprotetores no contexto datrofobiose. AAggrrooeeccoollooggiiaa HHoojjee, Botucatu,1(3):20-21, 2000.

POLITO, W. L. Fitoalexinas e a ResistênciaNatural das Plantas às Doenças. 2005.Disponível em www.ppi-ppic.org/ppiweb/pbrazil.nsf/$FILE/Palestra%20Wagner%20Luiz%20Polito.ppt.. Acesso em 05de setembro de 2006.

POLITO, W. L. The Trofobiose Theory and organicagriculture: the active mobilization of nutrientsand the use of rock powder as a tool forsustainability. AAnnaaiiss ddaa AAccaaddeemmiiaa BBrraassiilleeiirraa ddeeCCiiêênncciiaass, 78 (4): 765-779, 2006.

PRIMAVESI, A. MMaanneejjoo EEccoollóóggiiccoo ddoo SSoolloo:: aaaaggrriiccuullttuurraa eemm rreeggiiõõeess ttrrooppiiccaaiiss. São Paulo:Nobel, 1986. 541 p.

PRIMAVESI, A. MMaanneejjoo EEccoollóóggiiccoo ddee PPrraaggaass eeDDooeennççaass:: ttééccnniiccaass aalltteerrnnaattiivvaass ppaarraa aa pprroodduuççããooaaggrrooppeeccuuáárriiaa ee ddeeffeessaa ddoo mmeeiioo aammbbiieennttee. SãoPaulo: Nobel, 1994.

SEBRAE/SE. Diagnóstico do Sistema deProdução Orgânica dos Associados daAssociação dos Produtores Orgânicos doAgreste – ASPOAGRE. Maio/2006. ProjetoAgricultura Orgânica. Relatório de Consultoria –Clélio Vilanova Lemos e Silva. 2006a.

SEBRAE/SE. Diagnóstico do Sistema deProdução Orgânica dos Associados daAssociação dos Pequenos e MédiosEmpreendedores Rurais de Malhador – APM.Setembro/2006. Projeto Agricultura Orgânica.Relatório de Consultoria – Clélio VilanovaLemos e Silva. 2006b.

SIQUEIRA, J. O. & FRANCO, A. A. BBiiootteeccnnoollooggiiaaddoo SSoolloo:: FFuunnddaammeennttooss ee PPeerrssppeeccttiivvaass. Brasília,MEC – ESAL – FAEPE – ABEAS, 1988. 236p.

WALDEMAR, C. C. Uma Visão Sistêmica daResistência Vegetal. AAggrrooeeccoollooggiiaa HHoojjee,Botucatu, 16:15-16, 2002.

ZAMBOLIM, L. & VENTURA, J.A. Resistência aDoenças Induzida pela Nutrição Mineral dasPlantas. 45 p. (ABEAS. Curso de AgriculturaTropical – Módulo 3.2.1). 1996.

Vilanova & Silva Junior

5 0 Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1):39-50 (2009)