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Universidade Estadual de Maringá 08 e 09 de Junho de 2009
1
A TEORIA PIAGETIANA NOS PROGRAMAS DE PSICOLOGIA DA
EDUCAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UEM (1993 a 2005)
FABRIL, Fátima Regina (UEM)
CALSA, Geiva Carolina (Orientadora/UEM)
Por mais de 50 anos, período compreendido entre 1920 e 1980, Jean Piaget e
colaboradores, dedicaram-se a estudos de natureza epistemológica. Piaget referia-se
frequentemente à sua abordagem como epistemologia genética, cuja significação foi de
tema de muitos de seus escritos.
A definição de conhecimento é o problema central da epistemologia. Poucos psicólogos
cognitivos tentaram enfrentar essa tarefa. É motivo de prestígio para Jean Piaget tê-lo
enfrentado e, proposto, ademais, a reformulação da questão epistemológica clássica para
indagar como se processa a mudança de níveis mais simples de conhecimento até um
mais complexo, resultante da interação entre sujeito e objeto.
O autor procurou fundamentar uma epistemologia genética que permitisse estudar o
processo de formação do conhecimento, ao observar e estudar a evolução do mesmo na
sua gênese. Para tanto, formulou paralelamente uma teoria epistemológica e uma teoria
psicológica, sem manter vínculos explícitos nem com a filosofia e nem com a
psicologia.
A elaboração paralela da epistemologia e da psicologia genética deve-se,
principalmente, ao fato de Jean Piaget buscar um método que melhor respondesse ao
seu problema de pesquisa. Como na época não encontrou nenhum que se adequasse aos
seus propósitos epistemológicos, precisou inventá-lo. A psicologia genética, portanto, se
constituiu como o método de pesquisa que permitiu a realização de um trabalho
experimental de forma, marcadamente, diferente daqueles existentes.
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Jean Piaget e seus colaboradores por meio de seus estudos, ao seu tempo,
revolucionaram tudo o que se sabia acerca da criança, particularmente, no domínio do
desenvolvimento da inteligência e da construção do conhecimento. Seus trabalhos,
também modificaram a epistemologia e a psicologia de sua época e, hoje, há mais de
vinte e cinco anos após sua morte, sua teoria ainda permanece fecunda.
Essa fecundidade foi destacada por um grupo de autores que, em 1997, escreveram
artigos para um número especial da Revista SUBSTRATUM, Editora Artes Médicas,
em celebração ao centenário de nascimento de Jean Piaget: Eduardo Martí; Jacques
Vonèche; Rolando García; Juan Pascual-Leone; Juan Delval; José Castorina; César Coll
e Emilia Ferreiro.
Martí (1997), colaborador de Piaget, afirma, na introdução dessa revista, que os textos
são uma amostra da vitalidade das idéias piagetinas, dezesseis anos após a morte do
mestre suíço. Acrescenta que, para os autores, os trabalhos de Piaget significaram um
marco em seus próprios trabalhos, sendo o testemunho de cada um deles a melhor forma
de homenageá-lo. Esses autores compartilham, ainda, segundo Martí (1997), da opinião
de que as questões epistemológicas motivaram as pesquisas realizadas por Piaget e
colaboradores e, a apreciação de sua obra, deve levar em conta essas questões, a fim de
evitar deformações conceituais.
A despeito dos alertas feitos pelo próprio Piaget de que seus estudos tinham objetivo
epistemológico e, que embora se interessasse por problemas educacionais, sua obra teve
grande repercussão entre especialistas da educação. É consenso entre vários autores
(COLL, 1997; MARTÍ, 1997; REVAH, 2004; VASCONCELOS, 1996) que o período
compreendido entre meados da década de 60 e 70 e, no Brasil, na década de 80 (séc.
XX), a teoria piagetiana foi difundida nos meios educacionais, quase que unicamente
por meio de propostas pedagógicas denominadas construtivistas.
Os anos subseqüentes a 1990 corresponderam, entretanto, ao período em que a palavra
construtivismo (no sentido pedagógico) comportou divergências, principalmente entre
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os profissionais da educação, passando a ocupar um lugar secundário diante da
aceitação de outros enfoques teóricos. Entretanto, como previsto por Martí (1997),
mesmo com a diminuição das referências à Piaget em artigos de psicologia e pedagogia
nos anos de 1990, a revitalização de algumas das teses piagetianas estaria presente na
psicologia do século XXI.
Soma-se a isso a afirmação de García (1997, p. 50):
[...] ao longo da história da ciência, nenhuma disciplina, nenhuma teoria se manteve imune diante de novas pesquisas ou de novos dados experimentais nem ficou livre de correções, limitações ou ampliações. Era impensável que isso não ocorresse com uma epistemologia que se apresentava com os atributos de uma ciência. Mas daí a considerá-la superada, como se costuma afirmar, há uma enorme distância.
Qualquer uma das formas de abordagem da teoria piagetiana, que apontem seus limites
ou possibilidades, já exclui, portanto, de acordo com García (1997), que essa teoria fora
superada. Ademais, é preciso, segundo o autor, diferenciar pesquisa psicogenética da
epistemologia genética, uma vez que novos dados experimentais podem aumentar,
limitar ou alterar resultados de pesquisas antecedentes, mas isso não refuta a teoria que
embasou a realização dos estudos.
García (1997) considera pertinente esclarecer a expressão “superação de uma teoria”,
por considerá-la ambígua. Recorre para esse esclarecimento ao exemplo da substituição
da teoria aristotélica do movimento pela teoria de Newton, sendo a primeira, portanto,
eliminada e, não, superada. Já a superação, segundo o autor, implica mostrar que a
teoria, até então, aplicável a certos domínios de fenômenos e não a outros, continua a
explicar os anteriores, mas além desses, também outros que não explicava. Sobre a
epistemologia genética, García (1997, p. 51) afirma:
É natural, por conseguinte, que novos dados experimentais ampliem, restrinjam ou modifiquem resultados obtidos pela escola genebrina no domínio da pesquisa psicogenética. Isso refuta a “teoria de Piaget”? Qual teoria? [...] Mas, mesmo supondo que existam experiências que
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refutem “a teoria”, onde está a teoria epistemológica alternativa? (grifos do autor).
Delval (1997), reportando-se a Pascual-Leone, comenta que qualquer análise de uma
teoria, piagetiana ou não, deve realizar-se a partir dos pressupostos da própria teoria no
intuito de evitar explicações fora de contexto, leituras parciais e, conseqüentemente,
afirmações que o autor nunca disse, mas que podem resultar numa corrente de más
interpretações.
Como ouvi Pascual-Leone dizer muitas vezes [...]: se quisermos fazer um trabalho de análise epistemológica tanto da teoria de Piaget, como de qualquer outro autor, devemos examiná-la a partir dos pressupostos da própria teoria e tentar descobrir o que o autor queria dizer e não disse. Quando uma frase é analisada, principalmente se estiver fora do contexto, precisamos considerar a coerência com a própria teoria e somente assim poderá ser interpretada [...] (DEVAL, 1997, p. 93).
A ressalva que Delval faz nessa passagem, reportando-se a Pascual-Leone, também é
preocupação de outros autores (por exemplo, BECKER, 1987, 1984; COLL, 1997;
FERREIRO, 1997; RANGEL, 2002; RUIZ e BELLINI, 1998) que se dedicam ao estudo
da teoria piagetiana e debatem a respeito da existência de leituras enviesadas dessa obra,
em estudos de caráter teórico e em tentativas de sua aplicabilidade, especialmente, à
educação escolar.
A partir dos pressupostos de que a recepção das idéias piagetianas no Brasil se
caracterizou pela inserção de sua teoria no meio educacional (VASCONCELOS, 1996)
e de que as formas de apropriação e de difusão da teoria de Jean Piaget têm provocado
distorções significativas da mesma, pretendeu-se investigar por quais fontes a teoria
piagetiana tem chegado aos acadêmicos do curso de Pedagogia, destinado à formação
de professores. Essa investigação constituiu-se como pesquisa de mestrado para o
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá
(UEM).
É importante registrar que não se pretendeu analisar se o conteúdo das obras
investigadas está ou não de acordo com o que propõe a teoria piagetiana e tampouco
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oferecer uma interpretação dessa teoria a partir desse conteúdo. O foco de estudo se
dirigiu ao contorno dado à teoria piagetiana pelo conjunto dos temas abordados nas
obras referenciadas, na disciplina Psicologia da Educação, aos pedagogos durante sua
formação acadêmica, a partir da hipótese que os aspectos dessa teoria privilegiados nas
obras podem favorecer uma apropriação consistente ou reducionista dessa teoria e,
posteriormente, sua aplicação adequada ou inadequada em estudos teóricos ou práticos.
A escolha pelo curso de Pedagogia ocorreu em razão dessa graduação incidir
diretamente na formação dos educadores da educação básica, para quem a compreensão
enviesada da Epistemologia e Psicologia Genética pode acabar se constituindo em
prejuízos significativos à sua qualificação e atuação profissional. No entanto, entende-
se que a compreensão adequada dessa teoria, apesar dos limites existentes em qualquer
ciência, pode contribuir com os processos escolares de ensino e aprendizagem, desde
que não se faça sua mera transposição (e não somente da epistemologia ou psicologia
genética) à prática pedagógica.
A limitação da pesquisa às obras referenciadas nos programas da disciplina Psicologia
da Educação, embora outras disciplinas pudessem apresentar referências à teoria de Jean
Piaget, ocorreu pela presença dessa disciplina em todos os projetos curriculares, desde a
implantação do curso de Pedagogia, em 1973. Considerou-se também a alteração
curricular do curso de Pedagogia, em 2006, que resultou no desdobramento dessa
disciplina em seis abordagens1, sendo uma delas destinada, especificamente, à
abordagem da teoria piagetiana: Psicologia da Educação - Epistemologia Genética.
O ano de 1983 representou o limite inicial do estudo com base na constatação de que o
registro das referências bibliográficas (informação imprescindível para se chegar às
fontes utilizadas para divulgação da teoria piagetiana entre os acadêmicos do curso de
Pedagogia), nos programas das disciplinas Psicologia da Educação, consta somente a
1 As seis abordagens são: Psicologia da Educação: Epistemologia Genética; Psicologia da Educação e Identidade do Pedagogo; Psicologia da Educação: Aspectos Neuropsicológicos e Afetivos; Psicologia da Educação: Abordagem Histórico-Cultural; Psicologia da Educação: Abordagem Comportamental e Humanista e Psicologia da Educação: Temas da Vida Contemporânea.
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partir do segundo semestre desse ano. O limite temporal superior foi o ano de 2005 em
virtude da última alteração curricular ser implantada em 2006 que coincidiu com o ano
de início da pesquisa.
O estudo dos programas da disciplina de Psicologia da Educação do curso de Pedagogia
da UEM-PR objetivou: identificar quais as referências bibliográficas utilizadas nessa
disciplina para a abordagem da teoria de Jean Piaget (Epistemologia e Psicologia
Genética); efetuar o mapeamento dos aspectos privilegiados dessa teoria nessas
bibliografias e analisar, em conjunto, se esses aspectos favoreceram uma apropriação,
pelos graduandos em Pedagogia, consistente ou reducionista da teoria piagetiana com
repercussão na aplicação adequada ou inadequada dessa, em estudos teóricos ou
práticos, por esses profissionais.
Para atender esses objetivos, buscou-se identificar e localizar as fontes de informações
que permitiram chegar às referências bibliográficas, formalmente, utilizadas para a
divulgação da teoria de Piaget entre os acadêmicos do curso de Pedagogia.
Posteriormente, por intermédio da transformação das informações como procedimento
de pesquisa documental, analisaram-se as fontes documentais (projetos curriculares e
programas de disciplinas) das quais se extraíram as referências bibliográficas que, em
um terceiro momento, foram submetidas ao procedimento de análise de conteúdo.
Para a realização da análise de conteúdo – procedimento técnico teorizado por muitos
autores, entre eles, pode-se citar: Moraes (1999), Bardin (1979), Triviños (1987), Gil
(1999), Lüdke e André (1986) – utilizaram-se as cinco etapas descritas por Moraes
(1999) para esse fim: 1) preparação das informações; 2) unitarização ou transformação
do conteúdo em unidades; 3) categorização ou classificação das unidades em categorias;
4) descrição e 5) interpretação. As três primeiras etapas, nesta pesquisa, corresponderam
ao que se chamou de tratamento dos dados. Esse tratamento significou entrar em contato
com todas as obras e identificar as amostras de informações que foram analisadas,
especificamente, algumas das obras foram consideradas integralmente e de outras foram
selecionadas as partes que abordavam a teoria piagetiana.
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Após esse primeiro contato ou primeira leitura, outras releituras das obras se fizeram
necessárias a fim de averiguar os temas da teoria piagetiana abordados nessas obras.
Esse levantamento dos temas permitiu a categorização do texto das obras em unidades
de análise que, de acordo com Moraes (1999, p. 16), correspondem a um elemento do
documento, como palavras, frases, temas, textos ou ao próprio documento em sua forma
completa.
Concluiu-se a etapa de tratamento de dados com a classificação e o agrupamento das
unidades de análise em cinco categorias temáticas: (A) BIOGRAFIA DE JEAN
PIAGET; (B) PROPOSTA TEÓRICA; (C) MÉTODO; (D) CONCEITOS e (E)
LIMITES E POSSIBILIDADES DA TEORIA. A elaboração dessas categorias
obedeceu ao critério semântico, dentre outros critérios disponíveis para classificação de
dados - sintáticos, léxicos e expressivos (MORAES, 1999). Também atendeu ao
pressuposto de que a compreensão adequada de uma teoria depende, significativamente,
do estudo do autor, do seu problema de pesquisa, da metodologia, dos subsídios teóricos
para, enfim, apreciar os seus resultados, sem que se abandone sua coerência interna em
favor de aspectos particulares e isolados que podem deflagrar equívocos de
interpretação.
Com esse pressuposto entende-se, ainda, que diferentes perspectivas sejam adotadas por
aqueles dispostos a interpretar uma ciência e avaliar seus estatutos teóricos e
metodológicos. Essa tarefa, no entanto, requer, indispensavelmente, que o autor informe
o referencial do qual parte sua interpretação de determinada obra, a fim de garantir aos
leitores a possibilidade de distinguir a própria leitura das idéias do escritor bem como de
seu intérprete. Isso porque todo ato de leitura é feito no intuito de compreender as
intenções do escritor, mesmo que por meio de um de seus intérpretes, e, daí, derivar
novos conhecimentos.
As categorias temáticas e suas correspondentes unidades e subunidades de análise,
utilizadas para auxiliar na análise das referências bibliográficas foram as seguintes:
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A. BIOGRAFIA DE JEAN PIAGET
a. Dados pessoais e profissionais: Aa1) nascimento, filiação, formação educacional; Aa2)
funções profissionais e produção científica.
B. PROPOSTA TEÓRICA
a. Epistemologia Genética: Ba1) concepção da teoria; Ba2) problemática epistemológica
piagetiana; Ba3) relação com outras concepções teóricas.
b. Subsídios teóricos: Bb1) fatores do desenvolvimento mental; Bb2) invariantes funcionais
(Organização e Adaptação); Bb3) concepção de equilíbrio e equilibração; Bb4) abstração,
experiência física e lógico-matemática; Bb5) conhecimento físico e lógico-matemático.
C. MÉTODO
a. Desenvolvimento do método2: Ca1) elaboração e formalização do método; Ca2) etapa dos
desenvolvimentos recentes.
D. CONCEITOS
a. Desenvolvimento: Da1) definição; Da2) relação entre fatores afetivos, cognitivos e sociais;
Da3) relação entre pensamento e linguagem; Da4) relação entre desenvolvimento e
aprendizagem; Da5) egocentrismo: concepção e influência;
b. Inteligência: Db1) definição; Db2) hereditariedade / a priori epistemológico; Db3)
esquema, estrutura e operações mentais;
c. Estágios (períodos) do desenvolvimento mental: Dc1) critérios delimitativos; Dc2)
caracterização dos estágios; Dc3) particularização de estágios.
E. LIMITES E POSSIBILIDADES DA TEORIA
a. Limites: Ea1) críticas; Ea2) equívocos;
b. Possibilidades: Eb1) aplicações da teoria; Eb2) implicações educacionais.
Em seguida à eleição das categorias temáticas, procedeu-se à descrição das obras por
meio da organização de excertos, selecionados das próprias obras, para que pudessem
expressar o significado presente nas unidades de análise de cada categoria, ora definida
e presente nas obras analisadas. Essa comunicação correspondeu à elaboração de um
“texto-síntese” extraído das obras analisadas, que expressasse o significado das
unidades de análise agrupadas em cada uma das categorias temáticas. O texto-síntese
2 A denominação das subunidades de análise foi baseada no roteiro sugerido por Vinh-Bang (VISCA, 1995; Delval, 2002) para compreender evolução do método e da obra de Jean Piaget.
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constituiu-se do uso intensivo de citações diretas, utilizado em consignação à etapa de
descrição da análise de conteúdo sugerida por Moraes (1999, p. 23).
Após a descrição das obras selecionadas, a partir das categorias e unidades de análise,
buscou-se entrever as relações e considerações cabíveis a este estudo, a partir, da análise
das categorias encontradas nas obras referenciadas nos programas da disciplina
Psicologia da Educação que abordaram a teoria piagetiana.
Neste trabalho, os resultados apresentados são parciais e correspondem às categorias e
subunidades de análise das fontes bibliográficas, pertencentes aos Programas de 1996
das disciplinas de Psicologia da Educação I e II, no período de 1993 a 2005, que
agrupou as seguintes obras: Psicologia da Educação I: Davis e Oliveira (1991);
Fitzgerald, Strommen e Mckinney (1983); Goulart (1987); Rappaport (1981) e,
Psicologia da Educação II: Davis e Ramos (1990); Dolle (1987); Goulart (1987);
Palangana (1998), Piaget (1978; 1993), Piaget e Gréco (1974), Piaget e Inhelder (1986).
Para melhor visualização e acompanhamento da organização da análise, foram
construídos gráficos discriminando a presença/ausência das categorias e suas
respectivas subunidades de análise nas obras investigadas. Os dados referentes à
especificidade da categorização de cada uma das obras foram registrados no
APÊNDICE A, do qual se extraíram as informações para a elaboração dos gráficos. A
presença ou ausência das categorias, nas quinze obras, foi resumida no gráfico a seguir
(Gráfico 1).
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Os dados revelam que as cinco categorias elaboradas para este estudo foram
contempladas nas obras analisadas. A categoria (A), que se refere à BIOGRAFIA DE
JEAN PIAGET, e a categoria (C), correspondente ao MÉTODO, foram localizadas em
quatro das quinze obras. Por sua vez, a categoria (E) acerca dos LIMITES E
POSSIBILIDADES DA TEORIA, foi encontrada em oito das quinze obras analisadas.
Dentre as cinco categorias, destacou-se a categoria (B), que aborda a PROPOSTA
TEÓRICA de Jean Piaget, presente em treze obras e também a categoria (D), que trata
dos CONCEITOS, presente nas quinze obras.
O próximo gráfico (Gráfico 2) permite a visualização da ocorrência das subunidades de
análise pertencentes a cada uma das categorias temáticas analisadas nas obras, pois,
como mencionado anteriormente, as categorias foram constituídas por subunidades de
análise. Para construção do Gráfico 2, portanto, considerou-se como categoria
contemplada na obra investigada, a presença de uma (no mínimo) de suas subunidades.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
A B C D E
Gráfico - 1 Presença/Ausência das Categorias de Análise no Total das Obras dos Programas de Psicologia da
Educação I e II (1996)
Categorias
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A categoria (A), que trata da BIOGRAFIA DE JEAN PIAGET, esteve presente em
quatro das quinze obras, sendo as subunidades (Aa1) e (Aa2) contempladas. Tais
subunidades abordam os dados pessoais do autor: nascimento, filiação e formação
educacional e funções profissionais e produção científica.
Em meio às quinze obras categorizadas, nove fizeram alusão à subunidade (Bb2), que se
refere às invariantes funcionais, um dos subsídios teóricos da Categoria (B), relativa à
PROPOSTA TEÓRICA de Jean Piaget. A subunidade (Ba2), referente à exposição da
problemática epistemológica piagetiana, também se destacou entre as demais
subunidades dessa categoria, presente em sete das quinze obras analisadas.
A categoria (C) que aborda o MÉTODO – elaborado e aprimorado durante os mais de
50 anos de pesquisa de Jean Piaget – foi encontrada em quatro das quinze obras,
especificamente, a subunidade (Ca1), que trata da elaboração e formalização do
método, e apenas duas, dessas quatro, fizeram menção à subunidade (Ca2) que
representa, aqui, a quarta etapa – desenvolvimentos recentes (desde 1955) – de evolução
do método clínico de Jean Piaget.
As subunidades da categoria (D) CONCEITOS foram encontradas em todas as quinze
obras analisadas, sobretudo a subunidade (Db3), que aborda os esquemas, estrutura e
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Aa1 Aa2 Ba1 Ba2 Ba3 Bb1 Bb2 Bb3 Bb4 Bb5 Ca1 Ca2 Da1 Da2 Da3 Da4 Da5 Db1 Db2 Db3 Dc1 Dc2 Dc3 Ea1 Ea2 Eb1 Eb2
Gráfico - 2 Presença/Ausência das Subunidades de Análise no Total das Obras dos Programas de
Psicologia da Educação I e II (1996)
Subunidades
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operações mentais, se destacou em treze obras. Outras duas subunidades (Da2) e (Dc1)
foram aludidas em meio a nove obras e a (Dc2) em oito obras, que tratam de: relação
entre os fatores afetivos, cognitivos e sociais; e critérios delimitativos e caracterização
dos estágios do desenvolvimento mental. As demais subunidades: (Da1), (Da3), (Da4),
(Da5), (Db1), (Db3) e (Dc3) foram encontradas em menos da metade do total das treze
obras analisadas.
A categoria (E), LIMITES E POSSIBILIDADES DA TEORIA de Jean Piaget,
composta das seguintes subunidades: (Ea1) críticas, (Ea2) equívocos, (Eb1) aplicações
da teoria e (Eb2) implicações educacionais, foi localizada em oito das quinze obras,
designadamente, cinco abordaram a subunidade (Eb2); quatro contemplaram (Ea1); três
trataram da subunidade (Eb1) e, apenas uma abordou a subunidade (Ea2).
Os dados, em conjunto, revelaram que todos os aspectos que categorizaram as
subunidades de análise, pertencentes às cinco categorias, foram contempladas nas obras
analisadas. Entretanto, a categorização realizada sugere que, na apresentação da obra de
Jean Piaget aos acadêmicos de Pedagogia por meio das quinze fontes bibliográficas da
disciplina Psicologia da Educação, predominou a abordagem dos seguintes: os conceitos
de esquema, estrutura e operações mentais, a caracterização dos estágios do
desenvolvimento mental e a definição das invariantes funcionais (organização e
adaptação). Outros aspectos também se destacaram em meio às obras analisadas,
especificamente, a relação entre os fatores afetivos, cognitivos e sociais e a exposição
da problemática epistemológica piagetiana.
Por fim, a categorização das quinze obras referenciadas nos programas da disciplina
Psicologia da Educação (1996) do currículo de Pedagogia mostra que, apesar de
predominarem, na abordagem da teoria de Jean Piaget, os conceitos relacionados aos
seus aspectos estruturais, esse predomínio pode ter sido minimizado pela exposição de
outros temas imprescindíveis para o estudo dessa teoria (e de outras): os dados sobre o
autor, a delimitação do problema de pesquisa, os objetivos, a metodologia, os subsídios
teóricos, os resultados, os limites e as suas possibilidades. Esses elementos são
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necessários para que se possa assegurar, em princípio, que não seja abandonada a
coesão interna de uma teoria em favor da apreciação de noções isoladas e da falsa
crença de que a síntese colabora para a melhor compreensão, mas que findam em
distorções. Vários trabalhos têm mostrado a existência desse problema no sistema
educacional brasileiro (RANGEL, 2002; BECKER, 1987; MACEDO, 1994).
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APÊNDICE A: Categorização das obras dos programas de Psicologia da Educação I e II (1996) – Período (1993 a 2005) *N0TA: Para a SOMA das subunidades, a repetição de uma mesma obra (grifadas em cinza) foi considerada apenas uma vez.
Disciplina Psicologia da Educação I Disciplina Psicologia da Educação II
C
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SOM
A*
Aa1 X X X X X X 4 A
Aa2 X X X X X X 4 Ba1 X X X X X 4
Ba2 X X X X X X X X 7 Ba3 X X X X 3 Bb1 X X X X X X 5 Bb2 X X X X X X X X X X 9 Bb3 X X X X X X 5 Bb4 X X X X 4
B
Bb5 X 1 Ca1 X X X X X 4
C Ca2 X X X 2 Da1 X X X X X 4
Da2 X X X X X X X X X X 9 Da3 X X X X X X X 6 Da4 X X X X X X X X 6 Da5 X X X X X X X 7 Db1 X X X X 4 Db2 X X X X X 5 Db3 X X X X X X X X X X X X X X 13 Dc1 X X X X X X X X X X 9 Dc2 X X X X X X X X X 8
D
Dc3 X X X X X X 6 Ea1 X X X X X 4
Ea2 X 1 Eb1 X X X 3
E
Eb2 X X X X X X 5
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