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ISSN 1676-0336 VOL. 23 - Nº 54 - JULHO DE 2012 Piadas de “mau gosto” sobre pessoas idosas: a disseminação do preconceito à velhice

A terceira idade : estudos sobre o envelhecimento .VOL. 23 - Nº 54 - julho DE 2012 issn 1676-0336 Piadas

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Acompanhamos a todo o momento os avanços da medicina anunciando novas descobertas para o diagnóstico e tratamento de doenças, o que tem colaborado para aumentar a esperança de vida da população idosa. Importantes mudanças vêm acontecendo também nas relações da sociedade com a velhice e notórios são os interesses dos estudiosos da Geriatria e Gerontologia, que muito têm contribuído para esclarecer conceitos e divulgar conhecimentos quefundamentam a assistência à população idosa em bases científicas.Apesar desse panorama favorável, o imaginário coletivo sobre a velhiceainda é carregado de preconceitos, mitos e ideias errôneas. O relacionamento do idoso com o mundo se caracteriza pelas dificuldades adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas: suaperformance ocupacional e social, o pragmatismo, a dificuldade paraaceitação do novo, as alterações na escala de valores e a disposiçãogeral para o relacionamento objetual.Frequentemente, pessoas idosas são vítimas de rituais de agressõesexpressas em diversas manifestações no cenário social. A forma comoos idosos são tratados pela sociedade reflete os mitos e os estereótipossobre a velhice e os velhos, associados a atributos negativos e, nestesentido, uma simples piada pode vir carregada de preconceito.Nesta edição, destacamos a reflexão trazida por Marília VianaBerzins e Elisabeth Frohlich Mercadante sobre as piadas tematizadas pela velhice, geralmente carregadas de discursos subjetivos ediscriminatórios, e os preconceitos que elas apontam. Sem motivos para rirPublicação técnica editada peloSesc – Serviço Social do Comércioissn 1676-0336

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So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE1ISSN 1676-0336 VOL. 23 - N 54 - JULHO DE 2012Piadas de mau gosto sobre pessoas idosas: a disseminao do preconceito velhice2ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012VOLUME23NMERO54JULH02012Publicao tcnica editada pelo SESC Servio Social do ComrcioI SSN1676- 03362ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012Artigos para publicao podem ser enviados para avaliao da comisso editorial, nos seguintes endereos:Servio Social do Comrcio SESC-SP Revista A Terceira Idade (GETI)Av. lvaro Ramos, 991 - 3o andar CEP 03331-000 - So Paulo - SPFone:(11) 2607-8241Fax: 2607-8250e-mail: [email protected] Terceira Idade: Estudos sobre Envelhecimento /Servio Social do Comrcio. ST Gerncia de Estudos e Programas da Terceira Idade. Ano 1, n. 1 (set. 1988) So Paulo: SESC-GETI, 1988-A Terceira Idade1988 2006QuadrimestralISSN1676-03361. Gerontologia-Peridicos 2. Idosos-PeridicosI. Servio Social do ComrcioCDD 362.604SESC - Servio Social do ComrcioAdministraoRegionalnoEstadode So Paulo Presidente do Conselho Regional Abram SzajmanDiretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Tcnico-Social Joel Naimayer PadulaComunicao Social Ivan GianniniAdministrao Luiz Deoclcio Massaro GalinaAssessoria Tcnica e de PlanejamentoSrgio Jos BattistelliGerentes Estudos e Programas da Terceira Idade Cludio Alarcon Adjunta Lilia LadislauArtes Grcas Hlcio MagalhesAdjunta Karina MusumeciComisso EditorialCelina Dias Azevedo(coordenao), Adriese Castro Pereira, Clvia Ramiro, Denise Kieling, Francis Marcio Alves Manzoni, Jefferson Alves de Lima, Lourdes Teixeira Benedan, Malu Maia, Marta Lordello Gonalves, Regiane Cristina Galante, Regina Clia Sodr Ribeiro,Sandra Regina Feltran, Terezinha Augusta Gouva.Secretaria Rose Meire D. Garcia de MoraesEditorao e capa: Lourdes Teixeira BenedanFotograaspag.1,3,6,20,34e48: GustavoBoemer;pag.1,3e62: Lourdes Teixeira Benedan; pag. 1, 3, 80, 84, 87, 88, 91 e 4 capa: Alice Vergueiro Reviso: Marco StoraniTranscrio entrevista: Maria Clara MachadoEsta revista est indexada em:Edubase (Faculdade de Educao/Unicamp)Sumrios Correntes de Peridicos OnlineSIBRA (SIBRADID Sistema Brasileiro de Documentao e InformaoDesportiva Escola de Educao Fsica UFMG)Nota: As opinies e armaes contidas emartigoseentrevistapublicadas naRTIsoderesponsabilidadede seus autores. 7Piadas de mau gosto sobre pessoas idosas: a disseminao do preconceito velhiceMarlia Viana Berzins e Elisabeth Frohlich Mercadante

19O lazer como expresso de vitalidade na velhice: uma experincia das atividades desenvolvidas em um Centro de Convivncia de Idosos em Fortaleza-CEKelly Maria Gomes Menezes 33A inuncia do gnero e a participao da mulher na solidariedade entre geraesMrcia Botelho de Oliveira e Neuza Maria da Silva47Idoso em instituies de longa permanncia no municpio de Vitria/ES: relaes familiares einstitucionalizaoMaria Goretti Dalvi61Identicao do perl do consumidor idoso quanto aos hbitos alimentares e fatores determinantes de consumo de leite Adriana Alvarenga de Sousa, Luiz Alfredo Yamanaka E. Pereira e Guilherme Lemes Sanfelice79Entrevista com Valdete da SilvaSumrioAcompanhamosatodoomomentoosavanosdamedicina anunciando novas descobertas para o diagnstico e tratamento dedoenas,oquetemcolaboradoparaaumentaraesperana de vida da populao idosa. Importantes mudanas vm acontecendo tambmnasrelaesdasociedadecomavelhiceenotriossoos interesses dos estudiosos da Geriatria e Gerontologia, que muito tm contribudoparaesclarecerconceitosedivulgarconhecimentosque fundamentamaassistnciapopulaoidosaembasescientcas. Apesar desse panorama favorvel, o imaginrio coletivo sobre a velhice ainda carregado de preconceitos, mitos e ideias errneas.Orelacionamentodoidosocomomundosecaracterizapelas diculdadesadaptativas,tantoemocionaisquantosiolgicas:sua performanceocupacionalesocial,opragmatismo,adiculdadepara aceitao do novo, as alteraes na escala de valores e a disposio geral para o relacionamento objetual.Frequentemente, pessoas idosas so vtimas de rituais de agresses expressas em diversas manifestaes no cenrio social. A forma como os idosos so tratados pela sociedade reete os mitos e os esteretipos sobre a velhice e os velhos, associados a atributos negativos e, neste sentido, uma simples piada pode vir carregada de preconceito.Nestaedio,destacamosareexotrazidaporMarliaViana BerzinseElisabethFrohlichMercadantesobreaspiadastematizadas pelavelhice,geralmentecarregadasdediscursossubjetivose discriminatrios, e os preconceitos que elas apontam.Sem motivos para rirEDITORIALPublicamos, tambm, os seguintes artigos: O lazer como expresso de vitalidade na velhice: uma experincia das atividades desenvolvidas em um Centro de Convivncia de Idosos em Fortaleza CE, de Kelly MariaGomesMenezes;Ainunciadogneroeaparticipaoda mulher na solidariedade entre geraes, de Mrcia Botelho de Oliveira e Neuza Maria da Silva; Idoso em instituies de longa permanncia no municpio de Vitria ES: relaes familiares e institucionalizao, de Maria Goretti Dalvi; e Identicao do perl do consumidor idoso quanto aos hbitos alimentares e fatores determinantes de consumo de leite, de Adriana Alvarenga de Sousa, Luiz Alfredo Yamanaka E. Pereira e Guilherme Lemes Sanfelice.AentrevistadadestaedioValdetedaSilvaCarneiro, organizadoraelderdogrupoMeninasdeSinh,formadopor50 mulheresdevariadasfaixasetrias,queseunirampararecuperaro melhor de sua infncia, sua histria, sua cultura, expressa em cantigas derodaecantigasdeninar.ValdeteparticipoudoEncontroIdoso Protagonista, realizado em novembro de 2008, no SESC Santo Andr, quedestacoucasosexemplaresdemembrosdaterceiraidadeque souberamdriblarainrciaeoesquecimentoepartiramparaaao, com o objetivo de colaborar na melhoria de qualidade de vida de suas comunidades.DANILO SANTOS DE MIRANDADiretor Regional6ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE7Piadas de mau gosto sobre pessoas idosas: a disseminao do preconceito velhiceRESUMOPessoas idosas so vtimas frequentes de violaes aos direitos hu-manosfundamentais.Asociedade,quedeveriaprotegererespeit-las, criamecanismosdediscriminaoetriaepreconceitosaesteimpor-tante e crescente segmento etrio. Na sociedade atual, os velhos ainda carregam valores negativos revelados em vrias manifestaes estereoti-padas e desabonadoras. Propagandas, msicas, histrias infantis e piadas soapenasalgunsexemplosveiculadosnavidacoletivaqueressaltam atitudespreconceituosasparacomaspessoasidosas.Essasmanifesta-es no colaboram na construo de uma sociedade para todas as ida-des.Pelocontrrio,elassegregamereforamatributosnegativosda velhice, afastando cada vez mais os sujeitos da vida social e ensinam aos mais novos o desejo de uma vida longa sem o fato de carem velhos. Este artigo pretende reetir sobre a perversidade e a discriminao reveladas nas piadas que circulam e desabonam os mais velhos. Reetimos sobre o discurso subjetivo e discriminatrio contido nas piadas e os preconcei-tos que elas apontam. A percepo sobre a velhice e o envelhecimento precisa ser transformada na vida social. Torna-se necessrio rearmar o compromissodetodosparaumenvelhecimentodignonoBrasil,detal forma que se assuma o compromisso de proteger e defender os direitos das pessoas mais velhas, reunindo esforos para erradicar todas as formas de discriminao e violncia.Palavras-chave: violncia; autoimagem; direitos e cidadania; excluso social.MARLIA VIANA BERZINS 1ELISABETH FROHLICH MERCADANTE21 Marlia Viana Berzins, Assistente Social. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e Doutora em Sade Pblica pela Faculdade de Sade Pblica da [email protected] Doutora em Cincias Sociais pela PUC SP. Atualmente professora doutora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.Editora Cientca da Revista Kairs Gerontologia.8ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012ABSTRACTElderlypeoplearefrequentvictimsoffundamentalhumanrights violations. Society, which should protect and respect them, creates me-chanisms of age discrimination and attitudes of prejudice towards this importantandincreasinglylargergroupofpeople.Intodayssociety, elderlypeoplearestillexposedtovariousstereotypesandallsortsof derogatorytreatments.Prejudicedattitudestowardselderlypeoplecan be found in various elements of our collective life, including advertise-ments, music, childrens stories and jokes, among others. These attitudes arenothelpfultowardsbuildingabettercommunity.Onthecontra-ry,theysegregatepeopleandreinforcethenegativecharacteristicsof aging, pushing people away from social life, and making young people want to live longer while denying the fact that they are growing older. This article aims to discuss the attitudes of perversity and discrimination whichareexpressedthroughjokesthatdemeanelderlypeople.Italso discusses the subjective and discriminatory messages that are contained in those jokes as well as in their underlying prejudices. Peoples percep-tions about old age and aging must be transformed in society. We must reafrm our commitment to ensure the dignity of the aging process in Brazil, toprotect and defend the rights of elderly people, thereby uni-ting our efforts to eradicate all forms of discrimination and violenceKeywords: violence, self-image; rights and citizenship, social exclusionA velhinha foi ao mdico: Doutor, eu tenho problema com gases, mas realmente isso no me aborrece muito. Eles nunca cheiram e sempre so silenciosos. Eu vou lhe dar um exemplo: eu soltei gases 20 vezes, pelo menos, desde que entrei no consultrio. Aposto que voc no sabia que eu os estava soltando porque eles no cheiram e so silenciosos. O mdico apenas diz: Sei, sei... leve estas plulas, tome 4 vezes ao dia e volte a semana que vem. So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE9Na semana seguinte, a senhora regressa: Doutor, eu no sei que inferno voc me deu, mas agora meus gases, embora ainda silenciosos, fedem terrivelmente! O mdico diz: Bom sinal!!! Agora que curamos seu nariz, vamos cuidar do seu ouvido!!CONSI DERAESI NI CI AI S... fcil crer no que cr a multido (...)Difcil saber o que diverso.GoetheO humor no o estado de esprito, mas uma viso do mundo.Wittgenstein Opreconceito,expressoemdiferentesformasdediscriminao, uma realidade objetiva para mulheres e homens idosos. Condies socio-econmicas, idade e muitos outros itens compem a agenda de questes que, historicamente, esto no alvo da intolerncia, da no aceitao da diferena e da excluso da vida social dos sujeitos maiores de 60 anos. na vida cotidiana que se materializam as mais diversas expresses de discriminao, preconceitos e esteretipos para com as pessoas que com-pem a populao idosa brasileira.Frequentemente, pessoas idosas so vtimas de rituais de agresses expressasemdiversasmanifestaesnocenriosocial.Aformacomo os idosos so tratados pela sociedade reete os mitos e os esteretipos sobre a velhice e os velhos. Apesar do aumento do nmero de pessoas idosasnapopulaoreveladonoCenso2010(21milhesdepessoas), um contingente signicativo da sociedade associa velhice atributos ne-gativos: os idosos so feios, doentes, infelizes, ranzinzas, improdutivos, so seres assexuados, solitrios, conservadores e improdutivos. Todos de-sejam viver muito, mas no querem car velhos. Para Menezes (2010, p. 10ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 201231),avelhicenorepresentaumaetapadavidasemrosto, sem autonomia, sem capacidade e tambm no vazia. Preci-samos reunir esforos para lutar contra o preconceito e contra a generalizao da velhice e incentivar prticas que respeitem e valorizem as diferenas da coletividade. A discriminao etria uma violao aos direitos huma-nos, assim como os esteretipos associados velhice. Entre-tanto, na prtica cotidiana que o conjunto simblico explici-ta os signicados, sejam eles desabonadores ou no. Os idosos so apontados como caricaturas, uma generalizao que no evidencia situaes especcas, diferenciadas dos vrios mo-dos de viver a vida. Ao contrrio, as pessoas mais velhas so homogeneizadas num nico jeito de ser e viver estereotipa-do da velhice.O pensamento generalizador sobre a velhice fundamenta--se em uma construo cultural do pensamento e tambm da ao ati-tudes , que so produzidos e reproduzidos em uma classicao dicot-mica em que, de um lado, so colocados os idosos com suas qualidades, atributos presentes no corpo e no pensamento; de outro lado, os jovens apresentando tambm de forma generalizada, homogeneizada no cor-po e no pensamento qualidades contrrias s presentes nos idosos.A velhice uma construo social e cultural fundamentada na clas-sicao etria. Se assim consideramos, ser importante levar em conta novasclassicaesquegeremnovasformasdepensar,sentireatuar culturalmente, para que a viso estereotipada, fundamentada em genera-lizaes, naturalizao e caricaturas sobre a velhice e tambm sobre os outros segmentos, seja modicada. Trata-se de um processo contnuo que poder levar muito tempo e depender da histria, das relaes sociais, dosdesejoseprincipalmentedaconscientizaodasociedadesobreo envelhecer, o envelhecimento e a velhice.Nasociedadeatual,osvelhosaindacarregamvaloresnegativos reveladosemvriasmanifestaesestereotipadasedesabonadorasaos mais velhos. Propagandas, msicas, histrias infantis e piadas so ape-nas alguns exemplos veiculados na vida coletiva que ressaltam atitudes preconceituosasparacomaspessoasidosas.Essasmanifestaesno colaboramnaconstruodeumasociedadeparatodasasidades.Pelo contrrio, elas segregam e reforam atributos negativos da velhice, afas-NA SOCIEDADE ATUAL, OS VELHOS AINDA CARREGAM VALORES NEGATIVOS REVELADOS EM VRIAS MANIFESTAES ESTEREOTIPADAS E DESABONADORAS AOS MAIS VELHOS. PROPAGANDAS, MSICAS, HISTRIAS INFANTIS E PIADAS SO APENAS ALGUNS EXEMPLOS VEICULADOS NA VIDA COLETIVA QUE RESSALTAM ATITUDES PRECONCEITUOSAS PARA COM AS PESSOAS IDOSAS. So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE11tando cada vez mais os sujeitos da vida social, e ensinam aos mais novos o desejo de uma vida longa sem carem velhos. Mediante essas consideraes, pretendemos reetir sobre o discurso subjetivo e discriminatrio contido nas piadas que circulamnavidasocialarespeitodepessoasidosas,nelas identicados como velhinho ou velhinha, e os preconcei-tosqueelasapontam.Noopropsitodoartigoestudar os aspectos lingusticos e discursivos das piadas como so construdas , uma vez que a anlise lingustica de piadas tem por nalidade explicitar como funcionam, como, por exemplo, porqualouquaiselementoslingusticossetornaengraado algo que dito de outra forma no teria graa. Tambm no nosso interesse censurar ou acabar com o humor. O nosso objetivo chamar a ateno para uma viso da pessoa idosa como segmento desviante, sinnimo de doente ou pouco produtivo, revelada nas piadas. um humor que ressalta caractersticas fortes, negativas, desrespeitosas. As piadas so elementos fundamentais cujopensamentopreconceituosoediscriminatrioaparecelivremente nos vrios espaos da vida cotidiana, protegido pelo senso de humor que lhe d uma leveza, graa, amenizando e reforando os preconceitos.Desenvolvimento o sentido das piadasSegundo o Dicionrio Houaiss, piadas ou anedotas so ditos ou aluses engraadascujahistriacurtaapresentaumnalsurpreendente,es vezes picante ou obsceno, contadas para provocar risos ou gargalhadas. Elastrazemdiscursoscomrepresentaesgrosseiraseestereotipadas, e caracterizam-se como um recurso humorstico utilizado na comdia e tambm na vida cotidiana. As piadas tratam de temas que so socialmente controversos e com valoresarraigados.Vriostemasdaspiadassorecorrentes,como,por exemplo,sexo,poltica,racismo,alcoolismo,casamento,homossexua-lismo, etc. As piadas veiculam esteretipos. Exemplicando: nas piadas de portugus e de loiras, o atributo negativo veiculado nessas piadas que todo portugus e toda loira so burros, idiotas ou desprovidos de inteligncia. TAMBM NO NOSSO INTERESSE CENSURAR OU ACABAR COM O HUMOR. O NOSSO OBJETIVO CHAMAR A ATENO PARA UMA VISO DA PESSOA IDOSA COMO SEGMENTO DESVIANTE, SINNIMO DE DOENTE OU POUCO PRODUTIVO, REVELADA NAS PIADAS. UM HUMOR QUE RESSALTA CARACTERSTICAS FORTES, NEGATIVAS, DESRESPEITOSAS.12ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012Segundo Folkis (2004, p. 26), as piadas veiculam um discurso proi-bido, subterrneo, no ocial, que no se manifestaria, talvez, de outras formas. o discurso politicamente incorreto. De maneira geral, as piadas veiculam discursos no explicitados correntemente, isto , discursos pou-co ociais (Folkis, 2004, p. 8).Oentendimentodapiadadependediretamentedoconhecimento prviodoouvinteoudoleitorsobreoassunto.Paraqueapiadaseja compreendida, necessrio que o receptor (quem ouve) j tenha o dis-curso ou a apreenso simblica da cultura dominante de que, por exem-plo, os idosos so impotentes, desmemoriados ou outras caractersticas negativas. Caso contrrio, a piada no far sentido e no cumprir a fun-o a que se destina, fazer o receptor rir, achar graa e entender a piada. Portanto,umapiadaserconsideradacomxitoedesucessoquando produzir humor no receptor. De uma maneira geral, as piadas no identicam seus autores. Elas so contadas e repetidas anonimamente. Elas circulam sem a necessidade de apresentar o seu autor. Ningum sabe quem o autor daquela piada quecontadanoscenriossociais.Ningumdonodeumapiada. Para que as piadas possam continuar a existir elas necessariamente no podem ter um autor:Ser autor de discurso implica a responsabilidade pelo que se disse. As piadassoanunciadasanonimamente:sabedaltimaqueouvi?ou vocsabeaquelapiadadoportugusque....Senohautor,no h quem responsabilizar pela circulao de um discurso eventualmente proibido ou desrespeitoso: no h julgamento moral sobre quem conta piadas.Ento,circulampiadasquefalamdepreconceitosraciais,da burrice dos portugueses e das loiras, de homossexuais, de velhinhos (Folkis, 2004, p. 12).Qualquer discurso humorstico, na qualidade de discurso, nasce em um contexto histrico-social que o justica e o qualica. Certamente que ningum condenado por contar piadas racistas, sexistas, homofbicas ou qualquer outra que revele preconceitos, tampouco so condenadas as pessoas que riem e acham engraadas as piadas. Mas os preconceitos e as discriminaes veiculam-se em forma de piadas. O discurso politicamente proibido pode ser pronunciado, uma vez que ele no levado a srio, pois aparece sob forma de brincadeira. A que julgamos que mora o perigo. As piadas analisadas neste artigo foram selecionadas do site www.orapois.com, que rene um conjunto extenso de piadas. As piadas So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE13AS PIADAS QUE TM AS PESSOAS IDOSAS COMO ATORES ESTO PREDOMINANTEMENTE RELACIONADAS AOS ESTERETIPOS CORPORAIS DECADENTES ASSOCIADOS DOENA E INCAPACIDADE. ASSIM SENDO, A SEXUALIDADE (PRINCIPALMENTE MASCULINA) EST FORTEMENTE PRESENTE NO CONTEDO DAS PIADAS. OUTROS DOIS ESTERETIPOS PREDOMINANTES SO A AUSNCIA DA MEMRIA ASSOCIADA DEMNCIA. emformadetextoestoclassicadasem32temas.Assim, podemosencontrarnosite,deacordocomaclassicao adotada, por exemplo: piadas de argentinos, bbados, bichas, cornos,gagos,loiras,loucos,papagaios,sogras,portugus, japons,judeus/turcos,mineiros,gachos,caipiras,etc. necessrio ao internauta apenas selecionar o tema que deseja e escolher a piada que deseja ler. O site oferece ainda outras opesparadiversodosinternautas.Asoutrasopesso temticasnaseguinteordem:Destaques,Imagens, Multimdia, Jogos e Outros. No subtema idosos so registradas 313 piadas de texto. Para efeito comparativo, no subtema portugus h 950 pia-das e o tema preferido, ocupando o primeiro lugar de piadas. Em seguida, vm as piadas subtemticas de Joozinho, com 793, e posteriormente esto as piadas de loiras, que renem 546 anedotas. Todas elas recebem ttulos bem sugestivos ao contedo e esteretipo que cada piada ressalta, sugerindo assim que a nomeao das piadas um elemento importante na construo destas. Alguns exemplos encontrados nos ttulos das piadas: Casa de velhinhos; Velhinhode80anos;Duasvelhinhasnumacidadezinha;Velhinho tarado;Noquartodoasilo.Oconjuntodettulosimportantepor serreveladordospreconceitosparacomosidososcomo,porexemplo, a infantilizao (velhinho) ou o lugar adequado que os idosos deveriam ocupar (asilo) e talvez reprimir a sexualidade na velhice (tarado). As piadas que tm as pessoas idosas como atores esto predominan-tementerelacionadasaosesteretiposcorporaisdecadentesassociados doena e incapacidade. Assim sendo, a sexualidade (principalmente masculina) est fortemente presente no contedo das piadas. Outros dois esteretipos predominantes so a ausncia da memria associada de-mncia. Aspiadassocontadasnosmaisdiversossalesdavidasocial. Esclarecemos que as piadas selecionadas neste artigo para ilustrar o pre-conceito esto redigidas e nomeadas da mesma forma que esto no site de origem. No inclumos algumas piadas por consider-las inadequadas no presente texto e poderiam causar constrangimentos aos leitores. En-tretanto, a maioria das piadas de idosos vexatria e obscena. O nosso propsito neste artigo contribuir, no campo da gerontologia, para uma 14ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012reexo sobre a linguagem preconceituosa e discriminatria das piadas de mau gosto sobre pessoas idosas. Acreditamos que no existem pia-das de bom gosto em contraponto ao tema do nosso artigo. Uma piada s ter graa se desqualicar o sujeito que nela est referido. O objetivo fazer o receptor rir da desqualicao do outro. A piada que est regis-trada no incio deste captulo um exemplo. A personagem velhinha, alm de soltar gases, tambm tem problemas de olfato e ouvido. A graa da piada est no fato de ela ter o comprometimento dos seus sentidos. A piada abaixo refora as limitaes dos sentidos:A velha surdaA velhinha fazia tric na antessala do mdico quando a recepcionista a adverte: Hoje no dia de consultas!A velhinha continua fazendo o seu tric. A recepcionista imagina que ela deveria ser surda e mostra-lhe a mensagem escrita num pedao de papel.E a velhinha: Por favor, leia pra mim, minha lha! Estou sem culosClassicamos as piadas em trs temas que reforam os mitos e pre-conceitos a respeito da velhice:Dores do corpoDependncia fsica, mltiplas doenas, problemas de audio, dores pelo corpo e outras limitaes esto presentes nas piadas. Sob a capa dabrincadeira,aspiadasburlamainterdiodosdiscursosnoauto-rizadosetransgridemaocircularnavidasocialasdiscriminaespara com os mais velhos. As piadas podem dizer o que se pensa sem sofrer as penalidades sociais e at mesmo jurdicas. ListinhaA velhinha com mais de 80 anos, mas toda eltrica, entra na farmcia. Vocs tm analgsicos? Temos sim, senhora. Vocs tm remdio contra reumatismo? Temos sim, senhora.So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE15 Vocs tm Viagra? Temos sim, senhora. Vocs tm remdio para o corao? Temos sim, senhora. Vocs tm pomada antirrugas? Temos sim, senhora. Vocs tm gel para hemorroidas? Temos sim, senhora. Vocs tm bicarbonato? Temos sim, senhora. Vocs tm antidepressivos? Temos sim, senhora. Vocs tm sonferos? Temos sim, senhora. Vocs tm remdio para a memria? Temos sim, senhora. Vocs tm fraldas para adultos? Temos sim, senhooooora. Vocs tm... Minha senhora, aqui uma farmcia, ns temos isso tudo. Qual o seu problema?quevoucasarnomdoms.Meunoivotem85anosens gostaramosdesabersepodemosdeixarnossaListadeCasamento aqui com vocs...A piada acima apresenta a velhice caricaturada com todos os pro-blemas de sade. A lista de presentes do casal idoso est disponvel na farmcia. O que a piada aponta no o casamento dos idosos, mas sim a lista de presentes que os velhos devem ganhar dos convidados. A esta a graa. Pessoas idosas, ao chegar aos 80 e 85, s podero precisar de medicamentos e insumos presentes na farmcia. O pensamento homogeneizado de lugar social da velhice o asilo, conforme a piada abaixo assinala. O prprio marido oferece esposa a ida ao asilo. Refora-se tambm a questo de gnero. Lugar de velho, e principalmente da mulher, no asilo, negando aos sujeitos maiores de 60 anos o direito de viver na vida social.16ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012Por favor, senhor... Por favor, senhor, poderia contribuir com alguma coisa para o Asilo das Velhas? Claro que posso! Espere s um momento, que vou buscar minha mulher!MemriaAs piadas sobre pessoas idosas revelam que estas tm problemas de memria e por isso so esquecidas e confusas. Os valores e atributos ne-gativos do esquecimento so predominantes nas piadas sobre a velhice.Memria aada O velhinho se gabando para a netinha fala: Olha, menina, eu tenho 89 anos e no tenho problema de memria. Meu segredo que eu sempre associo nomes a fatos do dia a dia; por exemplo, pra lembrar seu nome, eu me lembro da famosa jogadora de vlei e pronto, seu nome Paula.A netinha logo responde: Vov, a famosa jogadora de basquete e meu nome Hortncia.Uma velhinha de uns 70 anos. . . Uma velhinha de uns 70 anos estava sentada no banco da praa, chorando copiosamente. Um sujeito que passava pelo local se comoveu com a cena e perguntou: Minha senhora! Qual o motivo de tanto choro? Tenho um namorado de 22 anos em casa! - Respondeu ela aos prantos. Ele faz amor comigo todas as manhs, depois me traz caf na cama: cereais, ovos mexidos, frutas. . . Mas por que a senhora est chorando? Ele tambm faz a minha sopa preferida, os meus bolinhos preferidos. . . Faz amor comigo a tarde toda. . . Mas. . . por que o choro, minha senhora? No jantar ele me faz uma comida deliciosa com um vinho excelente e uma torta deliciosa de sobremesa e depois faz amor comigo at de madrugada!So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 7-18 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE17 Ento me diga! - Gritou o sujeito, aito. Por que cargas dgua a senhora est chorando?Ento a velhinha olhou para ele e disse: que eu no consigo lembrar onde moro!SexualidadeH uma crena que associa o envelhecimento a declnio e ausncia dodesejosexual.Piadasdesexoentreosidosossoaspreferidas.As cores, as expresses, os personagens so cruis e na sua grande maioria recheados de vulgaridade e obscenidade. Nas piadas, os velhos so impo-tentes ou so tarados. Velhinho tarado Um senhor chega farmcia e, enquanto esperava para ser atendido, ouviu uma moa dizer: Por favor, me d um mamex! O velhinho cou intrigado e perguntou: O que mamex?O farmacutico respondeu: um remdio para endurecer os seios. E o velhinho sussurra: Ah! Ento o senhor me d um pintex, por favor! Aposentadoria Quando apresentei minha documentao para a merecida aposentadoria do INSS a atendente pediu a carteira de identidade pra conrmar minha idade. . .Procurei e percebi que esquecera o documento em casa. Vou at l buscar e volto em seguida.A mulher me disse: Desabotoe a camisa.Abro a camisa meio sem jeito e revelo meu trax cheio de cabelos grisalhos e ela comenta: Esse cabelo prateado prova bastante para mim, e processa o protocolo, recebendo a documentao.18ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n 54 | p. 7-18 | jul. 2012Quando chego em casa e conto pra minha via sobre a experincia no guich do INSS, ela me disse: Voc devia ter baixado as calas. Ia conseguir uma aposentadoria por invalidez!Consideraes naisA percepo sobre a velhice e o envelhecimento precisa ser trans-formada na vida social. Torna-se necessrio rearmar o compromisso de todos para um envelhecimento digno no Brasil, de tal forma que se as-suma o compromisso de proteger e defender os direitos das pessoas mais velhas, reunindo esforos para erradicar todas as formas de discriminao e violncia. preciso reconhecer que as pessoas idosas so sujeitos de direito pleno e que as atitudes antienvelhecimento devem ser afastadas da vida social. Esperamos que as consideraes e o contedo do presente texto possam contribuir para uma nova atitude geradora de ressignica-es sobre a velhice e o envelhecimento.REFERNCI ASBI BLI OGRFI CASFOLKIS, G. M. B. Anlise do discurso humorstico: as relaes marido e mulher nas piadas decasamento.2004.Tese(DoutoradoemLingustica)UniversidadeEstadualde Campinas, Campinas, 2004.GEERTZ, Cliford. A interpretao das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.TTORA, S. tica da vida e envelhecimento. In: CRTE, B.; MERCADANTE, E. F.; GAETA, I. G. (Orgs.). Envelhecimento e velhice: um guia para a vida. So Paulo: Vetor, 2006.SITES CONSULTADOS Orapois.com. Disponvel em: . Acesso em: 17 maio 2012.So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE19KELLY MARIA GOMES MENEZES1O lazer como expresso de vitalidade na velhice: uma experincia das atividades desenvolvidas em um Centro de Convivncia de Idosos em Fortaleza-CERESUMOEsta pesquisa objetivou reetir sobre os signicados que os velhos, participantes de um Centro de Convivncia, atribuem s atividades de la-zer desenvolvidas. Durante todo o processo pretendeu-se analisar a ques-to da velhice, haja vista sua maior notoriedade decorrente do crescente aumentonapopulaobrasileira.Almdisso,procurou-seperpassara prtica de lazer como expresso de vitalidade para os sujeitos. Para tan-to, lanou-se mo da pesquisa quali-quantitativa em razo de a postura cientca da autora estar voltada para a compreenso de processos subje-tivos, sejam grupais e/ou sociais que visam ao estudo de indivduos e dos grupos por meio de seus discursos, costumes, tradies, etc. O referido grupo composto de 86 velhos, entre eles 62 so partcipes assduos das atividades desenvolvidas. A construo do perl foi realizada por inter-mdio de questionrio contendo os dados de todos os velhos assduos, e as entrevistas semiestruturadas foram feitas com seis deles. Com base nosresultados,concluiu-sequeaprticadelazeremergecomouma oportunidade singular para que o velho participe de projetos polticos e coletivos, e esteja, tambm dessa forma, expressando sua vitalidade. O tema que perpassa a questo da velhice e de atividades direcionadas para o seu lazer deve ser cada vez mais considerado, merecedor de novos es-tudos e pesquisas que resultem em propostas de melhorias na qualidade de vida dessa populao.Palavras-chave: lazer; centro de convivncia.1 Assistente social, mestre em Polticas Pblicas e Sociedade pela Universidade Estadual do Cear (Uece), participante do Grupo de Pesquisa: Famlia, Gnero e Gerao nas Polticas Pblicas, professora substituta do Curso de Servio Social da Uece. [email protected] RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE21ABSTRACTThe aim of this paper is to reect on the meanings that elderly pe-ople gave to their leisure activities at a Community Center. Throughout the process, we have sought to examine the issues of old age as the older population increases in size and becomes more visible. In addition, we have sought to examine the issue of participation in leisure activities as an expression of vitality. To this end, we have conducted a qualitative and quantitative survey, since the authors scientic approach is geared towardstheunderstandingofsubjectivesocialand/orgroupprocesses that seek to study individuals and groups based on their accounts, cus-toms, traditions, etc.This group was composed of 86 elderly people, 62 of whom were frequent participants of the activities. The prole of the respondents was elaborated based on a questionnaire containing infor-mation about all the frequent participants, six of whom were given semi--structured interviews. Based on the results, we have concluded that the participationinleisureactivitiesrepresentedauniqueopportunityfor elderly people to participate in political and collective projects, and the-refore, express their vitality. The theme of old age and leisure-oriented activitiesshouldbesubjecttofurtherstudiesandsurveysinorderto improve the quality of life of the elderly population.Keywords:leisure; community center.I I NTRODUOO envelhecimento da populao constitui-se hoje como um fenme-no mundial, uma vez que os nmeros revelam o seu crescente aumento emrelaosdemaisfaixasetrias.Ocontingentedapopulaomais velhanuncafoitograndeemtodoomundoenodecorrerdetodaa histria. AContagemdaPopulaodoInstitutoBrasileirodeGeograae Estatstica(IBGE,2010)mostrouque,nosltimosseteanos,apopu-laodoBrasilcresceuaumamdiaanualde1,21%.Noano2000, eram 169.799.170 milhes de habitantes, aumentando para 183.987.291 milhes em 2007. Especicamente, com relao populao velha bra-22ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012sileira, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) de 2009, doIBGE,revelaqueonmerodepessoasnoBrasilcom60anosou mais chegou a cerca de 21 milhes. Considerando apenas o segmento de pessoas com mais de 75 anos (cerca de 5,5 milhes), os mais velhos no Brasil tomam propores signicativas, mudando bastante o perl etrio at pouco tempo considerado extremamente jovem. Maisdoquenunca,otemadoenvelhecimentodapopulaobra-sileira tem merecido destaque especial nas pautas de discusses e deli-beraes de direitos especcos para os velhos destacam-se a Poltica NacionaldoIdoso(PNI)em1994eoEstatutodoIdosoem2003, pormosestudosaindasoconsideradosincipientesparacontemplar asparticularidadesqueosegmentodemanda.Nessaperspectiva,este trabalho props-se a estudar os velhos e sua corporeidade, expressa na vitalidade de atividades fsicas, bem como suas relaes, sobretudo as de poder, com as demais geraes.Em2012,assiste-seaoAnoEuropeudeEnvelhecimentoAtivoe SolidariedadeentreGeraes,cujodesaoodediscutirefomentar polticas pblicas efetivas em consonncia com o acelerado processo de envelhecimentoeasnecessidadesquedemandam.Ospaseseuropeus no fogem regra de envelhecimento populacional e, por isso, revelam a preocupao com a nova velhice que se mostra cada vez mais visvel e ativa.Ademais, considera-se importante justicar a terminologia adotada em todo o trabalho com relao palavra velho, to estigmatizada e pejorativa na sociedade atual. Conforme evidencia Beauvoir: Toda uma tradiocarregouessapalavra[velho]deumsentidopejorativoela soa como um insulto. Assim, quando ouvimos nos chamarem de velhos, muitas vezes reagimos com clera (1990, p. 353). Porm, corroborando com as ideias do professor Rubem Alves (2001), e com autores especia-listas em gerontologia social, entende-se que o vocbulo idoso uma maneiradeeufemizar(oumaquiar)estafasedavida,trazendotona apenas a questo do politicamente correto ou do aspecto legal, des-considerando, assim, o lado afetivo, potico e, sobretudo, real da palavra velho. Apartirdetalrelevnciaeurgncia,estetrabalhosepropea compreender os signicados que as atividades de lazer desenvolvidas em um Centro de Convivncia de Idosos representam para os velhos partici-So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE23pantes.Ademais,comoobjetivosespeccosdesteprocesso investigativo, destacam-se: conhecer o trabalho desenvolvido pelo Centro de Convivncia em estudo, com vistas a identi-carseasestratgiasutilizadascontribuemparaumamelhor qualidade de vida dos participantes; apreender o perl socio-econmico dos sujeitos, haja vista a importncia de se avaliar e reetir sobre seus reais modos e condies de vida; reetir como o Estado, por meio dos Centros de Convivncia de Ido-sos, tem construdo e viabilizado polticas pblicas no sentido de institucionalizar direitos.Esta investigao foi desenvolvida a partir da abordagem quali-quantitativa de carter explicativo. Para a coleta de da-dos, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 6 dos 62 velhos assduos do C.C.I., totalizando uma amostra de 10%; e os questionrios para a construo do perl foram aplicados com todos os participantes assduos. Destaca-se que os velhos, na qualidade de sujeitos da pesquisa, caramcientesdestademaneiraqueresponderamsquestesespon-taneamente e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.Dessamaneira,esteartigoestorganizadoemtrstpicos,ase-guir: Vitalidade, corpo e lazer; Os participantes do Centro de Convivncia em estudo; e, por m, tem-se as Consideraes nais da pesquisa.Vitalidade, corpo e lazerVitalidade, do latim vitalitate, cuja raiz vita signica vida. Segundo o dicionrio, trata-se de um vocbulo que representa qualidade do que vital; vigor, energia; conjunto das funes de um organismo. Toda a des-crio mencionada tem como cerne a palavra vida. Em outras palavras, vitalidade a tentativa de no morte, a rearmao da vida, a negao do corpo e da mente para a nitude.Na tica de Dietrich Bonhoeffer (2006), o vitalismo compreendido como componente inato e fundamental do ser: Bonhoeffer no aceita o mecanicismo relativizador da vida como meio para um m, bem como no aceita o vitalismo absolutizador da vida como m em si prprio (COSTA JNIOR, 2004, p. 11). Em outras palavras, vitalidade tudo o que ex-presso dentro do equilbrio: direitos/deveres.VITALIDADE, DO LATIM VITALITATE, CUJA RAIZ VITA SIGNIFICA VIDA. SEGUNDO O DICIONRIO, TRATA-SE DE UM VOCBULO QUE REPRESENTA QUALIDADE DO QUE VITAL; VIGOR, ENERGIA; CONJUNTO DAS FUNES DE UM ORGANISMO. TODA A DESCRIO MENCIONADA TEM COMO CERNE A PALAVRA VIDA. 24ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012Logo, vitalidade caracteriza-se como um estilo de ser, indo alm da dimenso cronolgica. Segundo Neri e Debert (1999), diversos outros fa-tores so determinantes ao se avaliar a fora vital de um indivduo, quais sejam: gnero, classe social, sade, educao, cultura, etc. A condio social retratada por Beauvoir (1990) como um fator extremamente li-mitante, embora no seja o nico, para o velho vivenciar sua vitalidade.Alm da condio social, Beauvoir (1990, p. 387) alerta que o moral e o fsico esto estreitamente ligados:Pararealizarotrabalhoquereadaptaaomundoumorganismopejo-rativamentemodicado,precisoterconservadooprazerdeviver. Reciprocamente: uma boa sade favorece a sobrevivncia de interesses intelectuais e afetivos. Na maior parte do tempo, o corpo e o esprito caminham juntos (...). Mas nem sempre (...). Os moralistas que, por ra-zes polticas ou ideolgicas, zeram a apologia da velhice, pretendem que ela liberta o indivduo de seu corpo. Por uma espcie de jogo de equilbrio, o que o corpo perde, o esprito ganharia (...).Monteiro (2003), em Espaos internos e externos do corpo: envelheci-mento e autonomia, destaca que, se o velho no tiver autonomia sobre o prprio corpo, ele perder at a possibilidade de adquirir conhecimentos, pois no estar aberto s experimentaes que a vida oferece. Essa teoria preconizada por Maturana (1997) e arma que o organismo sempre se relacionar com o ambiente externo enquanto estiver vivo, obtendo um sentimento de pertena.J Giddens (1993) arma que o corpo o instrumento para o ser hu-mano conhecer o mundo, os outros e a si prprio, a fora expressiva de interao e vitalidade. Alm disso, o corpo , sobretudo, uma construo cultural e, como tal, deve ser estudado contextual e especicamente. A possibilidade de estar em contato com o mundo e com o outro provoca, segundo Monteiro (2003), a sensao de vitalidade. Em outras palavras, a partir do corpo externo que se sente o corpo interno; ou, como no dizer de Merleau-Ponty (1971): o corpo o veculo do ser-no-mundo.Costa (2001) ratica que o corpo deve ser analisado como um espa-o de expresso da vitalidade e da comunicao. Dessa maneira, observar a corporeidade signica, ao mesmo tempo, observar os modos e estilos de vida do ser humano, a ser explorado a seguir. Por sua vez, Davidoff (2001)tambmrelataqueumcorpoquevivesozinhoeemambientes pequenos,comoumquarto,comprometesuasadeevitalidadetanto em nvel sensorial como no comportamental, pois o corpo necessita de So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE25VITALIDADE O PODER DE CRIAR ALM DE SI PRPRIO SEM PERDER A SI PRPRIO. QUANTO MAIOR PODER DE CRIAO ALM DE SI PRPRIO TEM UM SER, MAIS VITALIDADE TEM ELE. espao e movimento: A excluso privada favorece o processo de descor-poricao,odesaparecimentodapessoa,porquesemocorponoh existncia, deixando lugar apenas para o diagnstico (MONTEIRO, 2003, p. 146).Aofertadeespaosmaioresecoletivospodefavorecer a vida e a sade do velho, proporcionando-lhe a sensao de vigor, bem-estar e, claro, vitalidade (PERRACINE, 2006). por intermdio do corpo que o mundo do ser humano construdo, logo, se, com a chegada da velhice, h a total falta de movi-mentoepoucocontatocomooutro,ovelhodeixadeviver e passa a esperar pelo momento de sua morte; alguns, menos engajados em seus projetos, defendem-se, entretanto, do de-clnio com energia, por um sentimento de dignidade. Vivem sua ltima idade como um desao. o tema da narrativa de Hemingway O velho e o mar (BEAUVOIR, 1990, p. 385).Costa Jnior (2003 p. 8) conclui vitalidade como sendo uma potn-ciadoser,realmenteexistenteemcadaum,masnonecessariamente externalizada: Vitalidade o poder de criar alm de si prprio sem per-der a si prprio. Quanto maior poder de criao alm de si prprio tem um ser, mais vitalidade tem ele. Entre as expresses mais conhecidas da vitalidade est o lazer. O exerccio fsico, sob a forma do lazer, favorece apessoavelhaaminimizarosefeitoscausadospeloprocessonatural deenvelhecimento,tantoemnvelpatolgicocomo,sobretudo,numa dimenso psicossocial.OcaptuloVdoEstatutodoIdoso,deacordocomasexposies anteriores, especialmente dedicado aos direitos fundamentais da edu-cao, da cultura, do esporte e do lazer. Em relao educao e ao lazer, dever do Poder Pblico criar oportunidades de acesso a cursos especiais queabranjamtambmodomniodenovastecnologiasparaapessoa velha. No sentido da preservao da memria e da identidade culturais, os velhos devem participar das comemoraes de carter cvico ou cultu-ral. Assim, mais uma vez, os velhos tm direito ao desconto de 50% em eventos artsticos, culturais, esportivos e de lazer.Ainda que o lazer, a partir da Constituio de 1988, tenha se trans-formado em direito de todos os cidados brasileiros e uma das obrigaes doEstado,seuacessoaindabastantelimitado.Asorganizaesdos velhos, por intermdio dos Grupos de Convivncia, representam a cons-26ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012tituio de um espao no qual podem ter acesso ao lazer por meio das atividades que desenvolvem. Torna-se oportuno e essencial, na atualida-de, o desenvolvimento de uma dinmica que permita pensar ou executar meios a m de que recursos criativos para as pessoas velhas possam ser aplicados de maneira que entendam a urgncia de seu crescimento demo-grco e da importncia de sua participao social, econmica, poltica e cultural. As condies atuais so muito mais favorveis aos velhos que antigamente, poisEmmdia,osnossosbisavsviviam300milhoras,trabalhavam120 mil horas e dormiam 94 mil horas. Descontados os anos da infncia e de escola primria, lhes restavam s 23 mil horas para dedicarem-se s atividades domsticas e de higiene, reproduo, diverso e velhice (...). Por sorte, em somente duas geraes a sociedade industrial pro-vocou mudanas revolucionrias, de modo que hoje aumentou a massa de pessoas que no trabalham no sentido estrito do termo (estudantes, desocupadoseidosos),emesmoaquelaquetrabalhadispedemais tempo livre. Subtrada a infncia e os oito anos de escola obrigatria, o tempo que sobra, livre do cansao e do sono, supera as 300 mil horas. Portanto, as horas de que dispomos como tempo vago so equivalentes a toda a existncia de nossos bisavs (DE MASI, 2000, p. 316). O lazer, na qualidade de expresso da vitalidade do ser, atua como conrmao e superao da vida, isto , transcende o aspecto da idade na medida em que o velho age como sujeito ativo e poltico em seu meio social.Desenvolverpotencialidadesdeveserumaatividadeconstante humanae,navelhice,proporcionaumamaiorcompreensodasperdas ocasionadas pelo envelhecimento. O lazer direcionado aos velhos emerge como um momento privilegiado em que os indivduos so convencidos a assumir a responsabilidade pelo seu envelhecimento e, consequentemen-te,pelasuasade,pelasuaaparncia,pelasuaparticipaoativana sociedade e, sobretudo, pela expresso de sua vitalidade (NERI & DEBERT, 1999). importante frisar, pois, que cada velho possui seu ritmo, advindo de suas experincias e modos de vida, tece a sua prpria corporeidade de viver a sua vitalidade e que vai alm de uma viso meramente cronol-gica, j que(...) se o indviduo se propuser, em qualquer atividade, imprimir toda a sua vontade e todo o seu potencial, fazendo o melhor possvel dentro de suas limitaes, no h justicativa para desnimo ou sentimento deinutilidadeouincompetncia.Asatividadespodemseradaptadas So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE27de acordo com os interesses e as necessidades dos idosos, valorizando--se mais o ato em si do que a velocidade imprimida ao movimento. A sua aprendizagem se faz de modo mais lento e talvez seja por isso que eles conseguem cercar seus erros com mais prudncia e rapidez (COSTA JUNIOR, 2004, p. 3).Em outras palavras, corpo e sociedade estabelecem uma relao di-nmica e recproca. Mais importante que a longevidade como viv-la, ou seja, de que maneira se vive e se propaga a prpria energia. impres-cindvel garantir a vivncia plena da corporeidade e, consequentemente, da vitalidade.Os participantes do Centro de Convivncia em estudoA instituio estudada possui um quadro multiprossional de equipe tcnica, qual seja: uma pedagoga, duas assistentes sociais, um psiclo-go,umaeducadorasocial,umaauxiliardeeducao.OServioSocial surgiunareferidainstituioporvoltade2004,nonaldagestodo entoprefeitodeFortaleza,JuraciMagalhes.Desde2009,oServio Social conta com o apoio de um CRAS. Dentre os programas e/ou projetos que o Centro desenvolve, desta-cam-se: Projeto Sade, Bombeiros e Sociedade (PSBS); Programa Nacio-naldeInclusodeJovens:Educao,QualicaoeAoComunitria (ProJovem); Programa Falando com a Comunidade do Instituto Municipal de Pesquisas, Administrao e Recursos Humanos (Imparh); Programa de Incluso Produtiva para Mulheres do Bolsa-Famlia; Programa Municipal de Atendimento Bsico Pessoa Idosa (Pabi).Aps a aplicao de questionrios, conclui-se que o perl dos velhos encontrados no C.C.I. no difere muito do perl nacional do segmento. Em geral, a maior parte feminina; encontra-se nas faixas de idade de 60 a 70 anos e 71 a 80 anos, respectivamente; mantm-se casada; possui um nvel de escolaridade considerado baixo; custeada por meio de be-nefcios sociais e previdencirios, os quais somam, majoritariamente, um salrio mnimo; no trabalha e, por isso, muitas vezes, sobrevive desses benefcios; reside em casa prpria e moram com duas a trs pessoas; natural do interior cearense.Jnasestrevistassemiestruturadas,quedizemrespeitoaolazer, foram levados em considerao os 62 velhos assduos do grupo, entre os quais se recortou a amostra de 10%, ou seja, o equivalente a 6 sujeitos. 28ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012Como o objetivo deste trabalho avaliar de que forma os velhos veem o lazer no Centro, como expresso de sua vitalidade, a amostra no foi aleatria, isto , por meio da tcnica da observao direta, constatou-se quais eram as pessoas mais apropriadas no momento para as entrevistas, as que mais participavam das atividades e as frequentadoras assduas do Centro.Observou-se que os velhos entrevistados esto entre 60 e 75 anos deidade,so,emsuamaioria,casados,possuemEnsinoFundamental completo e so todos catlicos. Como j foi ressaltado, tambm possuem outra caracterstica em comum: esto numa fase ativa da vida, em que a vitalidade expressa por meio das atividades de lazer.Para fazer esta interpretao com o maior esmero possvel, ela foi realizada com o embasamento metodolgico da anlise de contedo cuja tcnica abrange a explorao do material, o tratamento dos resultados e a interpretao. De acordo com Bardin (1977), o estgio de explorao do material consiste em codic-lo numericamente, ao passo que o trata-mento e a interpretao dos resultados abrangem a fase em que o pesqui-sador, j embasado teoricamente sobre o tema, pode intercruz-lo com a realidade apresentada, sistematizando as ilaes. Dessa forma, consiste em descobrir os ncleos de sentido que compem a comunicao e cuja presena, ou frequncia de apario, podem signicar alguma coisa para o objectivo (sic) analtico escolhido (BARDIN, 1977, p. 105).Demodocondensado,osentrevistadostmprefernciapelasati-vidadesreligiosas,porpasseioseviagensepelasatividadesfestivase de dana. Grande parte armou que no existem empencilhos para viver tais tipos de lazer e que, com a chegada da velhice, aumentaram as pos-sibilidades de viver mais plenamente. Todos reconhecem o desconto de 50% em atividades ldicas, respaldado pelo Estatuto do Idoso, porm seu acesso ainda um processo. Com relao s atividades desenvolvidas pelo Centro de Convivncia, eles assinalaram a preferncia por trs delas, quais sejam: passear e/ou viajar, realizar atividades fsicas e/ou esportivas, e participar das festas com msica e dana. J as atividades de que menos gostam promovidas peloCentrosoosjogosdemesaeasrelacionadascomleiturae/ou escrita.So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE29Consideraes nais e sugestesAntes de iniciar a anlise nal deste processo investigatrio, faz-se necessrio reconhecer, primordialmente, que ele no est acabado, muito pelocontrrio,asproposiesqueserolanadasagoranesteespao servemapenascomosubsdioparareexesmaioresemaisprofundas. Outrossim, no h, de forma alguma, o desejo de desmerecer esta cons-truo terica, pois ela tambm um acrscimo aos diversos estudos que esto surgindo a respeito do velho e da velhice.Estetrabalhoprocurou,durantetodooprocesso,contribuirpara uma maior reexo sobre o velho e a velhice conectando-os com a ques-to do lazer como expresso da vitalidade. Ento, a partir da descrio das atividades de lazer desenvolvidas pelo C.C.I. e da pesquisa realizada com os velhos participantes, puderam-se traar as consideraes que se-guem.Constatou-se, pois, ao longo de toda a trajetria da pesquisa, que o velho, independentemente de suas determinaes sociais, sente a neces-sidade de estar em um ambiente onde o contato e a identicao com o outro sejam uma constante. Os Centros/Grupos de Convivncia de Idosos, naqualidadedeespaode(re)socializaodoindivduo,representam uma nova viso de mundo para o velho, pois ali que ele pode expressar a sua vitalidade, por meio das atividades de lazer.Ainserodovelhonogrupopossibilita-lhe,portanto,umoutro olhar ao mundo, na medida em que abre oportunidades ao novo. O fato de conhecer novas pessoas mais do que isso, de identicar-se com elas traz o sentimento de pertena e, com isso, surgem os elos de amizade, fundamentais no processo de autonomia e construo de novos projetos de vida. Ao adentrar o grupo, o velho passa a se interessar mais por si mesmo, a interagir com outras pessoas, a ser mais curioso pelo outro e pornovasinformaes.Essesaprendizadosrepresentamumaformade renovar a vitalidade e de viver mais e melhor. No concernente aos resultados das entrevistas, concluiu-se que os interlocutores tm preferncia pelas atividades religiosas, por passeios e viagens e pelas atividades festivas e de dana. Grande parte armou que no existem empencilhos para viver tais tipos de lazer e que, com a che-gada da velhice, aumentaram as possibilidades de viver mais plenamente. Todos reconhecem o desconto de 50% em atividades ldicas, respaldado 30ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012pelo Estatuto do Idoso, porm seu acesso ainda um privilgio para pou-cos. Com relao s atividades desenvolvidas pelo C.C.I., eles assinalaram aprefernciaportrsdelas,quaissejam:passeare/ouviajar,realizar atividades fsicas e/ou esportivas, e participar das festas com msica e dana. J as atividades de que menos gostam promovidas pelo Centro so os jogos de mesa e as relacionadas com leitura e/ou escrita.O C.C.I. est situado no fala de Debert (1997, p. 162) em que cons-tata que os programas foram e esto sendo criados para resgatar a dig-nidade do idoso, reduzir os problemas da solido, quebrar os preconceitos eesteretiposqueosindivduostendemainternalizar.umespao, portanto,ondeoenvelhecimentodeixadeservistoapenascomoum momento de perdas, e passa a ser visto por meio de um novo olhar cuja experincia e os saberes acumulados no decorrer dos anos vividos fazem da velhice uma fase igualmente importante e signicativa da vida. Dessa maneira, percebeu-se que o lazer proporciona no somente o momento de diverso, o recorte do dia dos velhos, mas que possui um signicado maior. As atividades de lazer emergem como uma estratgia interventiva para que o velho participe de projetos polticos e coletivos, eesteja,tambmdessaforma,expressandoseuvitalismo.Emoutras palavras, o velho sente-se vivo na medida em que tem voz, em que sua opinio respeitada e levada em conta. No entanto, preciso considerar tambm que o lazer para essa populao apenas uma parte do todo, ou seja,existemvriosoutrosdeterminantessociaisquepermeiamavida desses velhos.Considera-se, ainda, o Centro de Convivncia um locus privilegiado para o lazer e momento de socializao dos velhos. Em razo da situao depobrezadospartcipes,evidenciou-sequeoCentro,muitasvezes, constitui-seonicoequipamentosocialdequeosujeitodispepara viveroseulazer.Envelhecercomqualidadedevidanaatualidade,e principalmentenoBrasil,ondeasdesigualdadessociaiseeconmicas so to acentuadas, revela-se como um grande desao para a sociedade civil e para o Estado.Torna-se emergencial, principalmente nos dias atuais, que o velho tenha, de fato, seus direitos garantidos, uma vez que, somente a partir de sua efetivao, ele poder exercer sua cidadania e, assim, viver mais dignamenteasualongevidade.Paraisso,igualmentenecessrioque aequipemultidisciplinarexistentenosCentrosdeConvivnciaesteja So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 19-32 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE31preparada, tanto numa perspectiva de formao prossional como de res-peito e tica, para trabalhar e conviver com os velhos. Outro apontamento em relao vida pblica desses velhos, pois, de acordo com o que foi estudado, h muito os Centros deixaram de ser apenas um local de vivncia do lazer. Para reivindicar direitos sociais preciso conhec-los e, acima de tudo, elevar as discusses a um patamar coletivo cujo objetivo permeie a luta pela cidadania e a garantia de direi-tos. Assim, o grupo deve incentivar atividades que esclaream os direitos do segmento, bem como propiciar momentos polticos de interveno.REFERNCI ASBI BLI OGRFI CASABIGALIL,Albamaria;FERRIGNO,JosC.;LEITE,MariaL.C.deB.Centrosegruposde convivnciadeidosos:daconquistadodireitoaolazeraoexercciodacidadania. In: FREITAS, Elizabete V. de et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.ALVES, Rubem. As cores do crepsculo: a esttica do envelhecer. So Paulo: Papirus, 2001.BARDIN, Lourence. Anlise do contedo. Lisboa: Edies 70, 1977.BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Traduo: Maria Helena Franco Monteiro. 4. ed. 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Por isso o objetivo deste trabalho foi apresentar uma breve reviso bibliogrca identicando as formas de solidariedade que so oferecidas por idosos aos seus lhos e a inuncia do gnero nessa solidariedade. Assim, foi realizada uma discusso acerca da realidade vi-vida pelos aposentados e em especial sobre os papis sociais desempe-nhados por homens e mulheres idosos dentro das famlias, compreenden-do as estratgias familiares na busca por melhorias na qualidade de vida. Pode-seperceberumadiferenciaoentreasformaseafrequnciada solidariedade oferecida pelo pai e pela me aos lhos, sendo que as mes ajudam duas vezes mais que os pais, tanto afetiva quanto nanceiramen-te. Pode-se concluir que os apoios familiares parecem ser constitutivos de identidade feminina, mostrando que as mulheres esto no centro das solidariedades, tanto afetivas quanto nanceiras.Palavras-chave: solidariedade; gnero; A inuncia do gnero e a participao da mulher na solidariedade entre geraes1 Mestranda do Curso de Economia Domstica pela Universidade Federal de Viosa, Viosa/[email protected] Professora Adjunta do Departamento de Economia Domstica da Universidade Federal de Viosa, Viosa/[email protected] BOTELHO DE OLIVEIRA 1NEUZA MARIA DA SILVA 234ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE35ABSTRACTThe aging of the population poses new challenges to society becau-se of its impact on the consumer, the transfer of goods, the labor market and,especially,thefamilyorganization.Severalstudiesonaginghave examined elderly people who had become dependent, as if they were a burden to the family. However, today a signicant portion of elderly pe-ople are able to maintain themselves as well as their families, performing daily chores or providing nancial support. Therefore, the purpose of this work was to provide a brief bibliographic review to identify the ways in whichelderlypeopledemonstratetheirsolidaritytotheirchildrenas well as the inuence of gender in this situation. To this end, a discussion was held about the real lives of retired people, with a particular focus on the roles elderly men and women play within their families and the strategies used by the families to improve their quality of life. It can be said that fathers and mothers demonstrate their solidarity to their chil-dren in different ways and with different frequencies, and that mothers provide twice as much support to the family as fathers, both emotionally and nancially. It can be concluded that support to others in the family appears to be a primary component of identity for women, putting them at the heart of the solidarity, both emotionally and nancially.Keywords: solidarity, gender, I NTRODUOApopulaodeidososdepasesdesenvolvidosesubdesenvolvi-dos est aumentando cada vez mais. No caso do Brasil esse processo de envelhecimento populacional, segundo Augusto (2003), consequncia de uma srie de fatores, tais como a diminuio da taxa de natalidade, emrazodaintroduoedifusodemtodoscontraceptivosorais;o aumento da expectativa de vida; o aumento da escolaridade feminina, e sua maior insero no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasi-leiro de Geograa e Estatstica (IBGE), a populao de idosos em 1991 erade10.722.705,passandopara14.536.029em2000.Jem2010 foram aproximadamente 21 milhes de pessoas com 60 anos ou mais de 36ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012idade, representando 11,1% da populao brasileira. Estima-se que esse contingente atinja 14% no ano de 2020, e que continue a crescer a taxas elevadas (IBGE, 2010).O envelhecimento da populao apresenta desaos sociedade, pois inuencia o consumo, a transferncia de bens, o mercado de trabalho e acimadetudoaorganizaofamiliar(SILVA,2005).Diversosestudos (SANTOS,2003;CALDAS,2002;NERIetal.,2002;SAAD,1997)tratam deidososquesetornamdependentesderedesdeapoioformale/ou informal. As primeiras so representadas por hospitais, asilos e unidades de apoio domiciliar, ao passo que as redes de apoio informal funcionam baseadas na solidariedade entre geraes.Assim, esses estudos mostram os idosos representando nus nan-ceiro ou mesmo como um fardo para a famlia. Porm, hoje uma parcela signicativa de idosos consegue manter no s o prprio sustento como tambm amparar sua famlia, por meio de transferncias nanceiras (OLI-VEIRA & SILVA, 2007; AREOSA & AREOSA, 2008; ALMEIDA, 1998; LEAL et al., 2007; TAVARES et al., 2011). Desse modo, entende-se por transferncias o ato ou efeito de trans-ferirrecursosemformadebenseservios,quesereverteemajuda, monetriaouno,paraasfamliasouosindivduos.Astransferncias oferecidas pelas famlias possuem duas subcategorias: herana e transfe-rncias entre vivos. Por herana compreende-se a transmisso de proprie-dade nanceira ou de outra natureza, para outras pessoas, aps a morte dealgum.Astransfernciasentrevivosreferem-setransmissode dinheiro, de bens e de servios entre pessoas vivas (SILVA, 1994).Ao analisar alguns estudos como os de Peixoto (2005), Vitale (2005) e Guedes et al. (2009), pode-se classicar as transferncias (entre vivos) de recursos na famlia ou solidariedade familiar em nanceira/material e afetiva/simblica, que juntas constituem a base das relaes familiares. Atransfernciaderecursoschamadadenanceira/materialcorrespon-de a pagamento de estudos, quitao de contas domsticas (gua, luz, telefone,etc.),emprstimodedinheiro,entreoutros.Aopassoquea afetiva/simblicacompreende,emgeral,atividadesdocotidianocomo auxlionastarefasdomsticas,levarebuscarascrianasnaescolaou ao mdico.Com relao aos fatores que inuenciam na solidariedade entre gera-es, Saad (2004) arma que algumas caractersticas familiares aparecem So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE37ASSIM, PDE-SE REALIZAR UMA DISCUSSO ACERCA DA REALIDADE VIVIDA PELOS APOSENTADOS E EM ESPECIAL SOBRE OS PAPIS SOCIAIS DESEMPENHADOS POR HOMENS E MULHERES IDOSOS DENTRO DAS FAMLIAS, COMPREENDENDO AS ESTRATGIAS FAMILIARES QUE BUSCAM MELHORIAS NA QUALIDADE DE VIDA.frequentemente associadas a diferentes padres de suporte. A importncia do gnero, tanto dos pais quanto dos lhos, ca clara na denio dos uxos de solidariedade. Uma pesquisa feitaporAdams(1964)sobreosfatoresqueafetamaajuda paterna aos lhos casados revelou que tal ajuda est relacio-nada ao tempo de casamento do lho, ao estrato ocupacional da famlia de origem e ao sexo do recebedor. Adams sugeriu que, em razo das diferenas de gnero quanto ao treinamento para ser independente, as jovens casadas tinham maior proba-bilidade de aceitar e de receber ajuda de seus pais do que os rapazes casados.Analisandoosdiversostrabalhosencontradospode-se perceberoutrofatoquedeveserdestacado:asolidariedade familiarbidirecional.Assimcomoexistemlhosquenecessitamda ajuda de seus pais, existem pais que por motivos nanceiros ou de sa-desoajudadosporseuslhos(PEIXOTO,2005).Porm,estetrabalho se centrou nas solidariedades familiares nanceira/material e simblica/afetiva realizadas da gerao mais velha para a mais nova.Sendoassim,oobjetivodestetrabalhofoiapresentarumabreve revisobibliogrcaidenticandoasformasdesolidariedadequeso oferecidas por idosos aos seus respectivos lhos e a inuncia do gnero nessa solidariedade.Paraatenderaoobjetivopropostofoirealizadaumabuscabiblio-grca e posteriormente uma seleo de artigos e livros que tratam do tema. Assim, pde-se realizar uma discusso acerca da realidade vivida pelos aposentados e em especial sobre os papis sociais desempenhados porhomensemulheresidososdentrodasfamlias,compreendendoas estratgias familiares que buscam melhorias na qualidade de vida.Solidariedade nanceira/materialNoBrasil,assimcomonospasesdaAmricaLatinaemgeral,o intercmbio de ajuda entre pais e lhos tende a acontecer ao longo de todo o ciclo de vida familiar, como se existisse uma espcie de contrato intergeracionalestipulandoopapeldosdiferentesmembrosdafamlia em cada estgio do ciclo (SAAD, 2004).38ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012Essas ajudas so usadas como estratgias de muitas fa-mlias em momentos de diculdades nanceiras, isso porque, segundo Motta e Scott, apud Almeida (1998), existe uma parte da populao que no tem condies para ter acesso ao crdi-to e a emprstimos, pois no possui renda suciente para ga-rantir o pagamento. Ento, uma alternativa para essas pessoas solicitar emprstimos a parentes. Assim, essas transferncias so usadas com o objetivo de amenizar as condies precrias de vida da populao de baixa renda.Pesquisas realizadas por Williams, apud Almeida (1998), mostram a importncia das transferncias de renda entre fa-mliasparamanutenodasubsistncia,parasobrevivncia eparamelhoriadaqualidadedevida.Aautoraarmaque, em muitos casos, apesar dos recursos limitados, os familiares fornecem ajuda nanceira e de outros tipos s suas redes de parentesco.Saad (1999) estudou as transferncias entre geraes no Brasil e ob-servou que, apesar de as relaes de troca entre pais e lhos assegurarem a sobrevivncia nas idades mais avanadas, em decorrncia da situao de carncia e desemprego que predomina em grande parte da populao brasileira, crescente o nmero de lhos adultos dependentes dos pais idosos, fazendo com que o rendimento de penso destes se transforme na principal fonte de renda da famlia.Nestesentido,deve-sedestacarapesquisarealizadaporPeixoto (2004), na qual foi mostrado que grande parte dos pais com mais de 60 anosajudaoslhosadultostantopormeiodaprestaodepequenos servios quanto nanceiramente. E essa ajuda nanceira dos pais aposen-tados, em especial daqueles que tm duas fontes de renda aposenta-doria e trabalho informal, por exemplo , desempenha um papel decisivo naorganizaofamiliar.IssotambmvistoemestudosdeCamarano (1999a)ePessa(2007),osquaismostramqueasfamliasbrasileiras compostasdepessoasaposentadasseencontramemmelhorsituao econmica que as outras. Pesquisas de Oliveira e Silva (2007) corroboram essaassertivaquandodestacamqueasfamliasquepossuemmulheres aposentadasestoemmelhorescondieseconmicasqueasdemais, pois as mulheres esto no centro das transferncias de recursos.Peixoto (2004), numa pesquisa com idosos, na cidade do Rio de Ja-neiro, que recebem penso de aposentadoria de at sete salrios mnimos, OS HOMENS TRABALHAM, EM GERAL, COMO CAMELS, CARPINTEIROS, PINTORES DE PAREDE E MOTORISTAS DE CAMINHO, AO PASSO QUE AS MULHERES EXERCEM, PRINCIPALMENTE, ATIVIDADES DOMSTICAS REMUNERADAS COMO COSTURA, LAVAGEM DE ROUPA, PRODUO DE BOLOS E DOCES PARA VENDER, FAXINAS EM DOMICLIOS OU VENDA DE PRODUTOS DE BELEZASo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE39constatou que muitos desses aposentados continuam a traba-lharmesmodepoisdaaposentadoria.Oshomenstrabalham, emgeral,comocamels,carpinteiros,pintoresdeparedee motoristas de caminho, ao passo que as mulheres exercem, principalmente, atividades domsticas remuneradas como cos-tura, lavagem de roupa, produo de bolos e doces para ven-der, faxinas em domiclios ou venda de produtos de beleza. Um dos motivos de esses idosos continuarem trabalhando mesmo depois de se aposentar a necessidade de socorrer nanceira-mente lhos e netos, pois esses aposentados armam saber o quanto a famlia depende dessa ajuda. Vrios entrevistados confessaram estar cansados e ter vontade de se aposentar denitivamente, contudo, enquanto a famlia necessitar, eles continuam trabalhando.Oliveira e Silva (2007) analisaram as transferncias nanceiras fei-tas aos parentes por pessoas idosas, por meio de emprstimos tomados deinstituiesnanceiras,chegandoaduasconclusesinteressantes. Primeiramente, entre as mulheres pesquisadas, 63,7% tomaram emprs-timo para repassar o valor a seus lhos, ao passo que apenas 30,7% dos homens usaram essa mesma estratgia. Como pode ser visto, as mulheres aposentadas que participaram dessa pesquisa ajudaram os lhos nancei-ramente duas vezes mais que os homens.Emsegundolugar,esseestudorealizadonomunicpiodeViosa/MGsugeriuqueapercepodoslhosquantodvidaassumidajunto a seus pais e mes era varivel: quando a ajuda era oferecida pelo pai, 26,7% dos lhos lhe devolveram a quantia emprestada; ao passo que nos casos em que a ajuda era oferecida pela me, o porcentual de devoluo caiu para 14,3%. Assim, na maioria das vezes (85,7%) em que as mes utilizaram emprstimos tomados em instituies nanceiras para ajudar seus lhos, elas assumiram uma dvida sem que aqueles se sentissem na obrigao de pagar o emprstimo.Um dos motivos pelos quais o lho no reembolsa a me parece estar ligado percepo do papel social da me como sendo a pessoa que tem por obrigao cuidar e suprir as necessidades dos lhos. Do mesmo modo, a me parece se responsabilizar pelo pagamento do emprstimo feito para ajudar um lho, com base na ideia de que esse o papel de me e esse ocomportamentoqueafamliaesperadela:querealmenteelasejaa responsvel por ajudar nanceiramente os lhos e no cobrar reembolso.UM DOS MOTIVOS PELOS QUAIS O FILHO NO REEMBOLSA A ME PARECE ESTAR LIGADO PERCEPO DO PAPEL SOCIAL DA ME COMO SENDO A PESSOA QUE TEM POR OBRIGAO CUIDAR E SUPRIR AS NECESSIDADES DOS FILHOS.40ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012Solidariedade afetiva/simblicaDeacordocomosdadosdeumapesquisasobregnero,famliae trabalho realizada por Peixoto (2005), as relaes entre avs/avs, lhos e netos demonstram que, quando as mes trabalham fora de casa, car e cuidar dos netos so tarefas das avs. Os homens aposentados auxi-liam seus lhos duas vezes menos que as aposentadas nas atividades do-msticas. Esse estudo tambm mostrou que apenas 6,6% das mulheres de baixa renda que trabalham fora tm empregada domstica. Isso porque so as avs que ajudam as lhas, assumindo a tarefa de prover e educar osnetos.Nessamesmatemtica,Moragas(2004)alertasobreapossi-bilidade de essa ajuda resultar no abuso dos lhos, que deslocam todas as obrigaes aos seus pais (avs) para o cuidado de seus lhos (netos).Com relao s mulheres aposentadas, a pesquisa de Attias-Donfut (1995) conrma que so elas que, em geral, organizam-se em redes de ajuda para a realizao das atividades domsticas; ao passo que os ho-mensaposentadossoduasvezesmenossolidriose,essencialmente, para os trabalhos manuais e pequenos reparos.Numa anlise comparativa, Rossi (1986) e Shi (1993) declaram que asmulheres,emgeral,aparecemmuitomaisengajadasemuxosde apoio que os homens, o que costuma ser atribudo no s s suas maiores necessidades nanceiras, mas tambm ao fato de serem elas mais apega-das emocionalmente aos lhos.Dados da pesquisa de Leal et al. (2007), na qual foi in-vestigada a importncia das transferncias e trocas com idosos nocontextofamiliar,corroboramcomoscitadosacima,nos quais a questo do gnero nas ajudas dos idosos na famlia se compatibilizacomaformatradicionaldesedesempenhar as funes do lar. Os trabalhos de manuteno domstica, na formadeconsertosereformas,eramrealizadospredominan-tementepeloshomens,aopassoqueastarefascomocuidar de crianas e limpar a casa predominavam entre as mulheres. Essa pesquisa tambm exps que as mulheres ajudam os lhos adultos duas vezes mais que os homens, 66,6% e 35,0%, res-pectivamente. NUMA ANLISE COMPARATIVA, ROSSI (1986) E SHI (1993) DECLARAM QUE AS MULHERES, EM GERAL, APARECEM MUITO MAIS ENGAJADAS EM FLUXOS DE APOIO QUE OS HOMENS, O QUE COSTUMA SER ATRIBUDO NO S S SUAS MAIORES NECESSIDADES FINANCEIRAS, MAS TAMBM AO FATO DE SEREM ELAS MAIS APEGADAS EMOCIONALMENTE AOS FILHOS.So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE41As marcas de gnero na solidariedade familiarNo sculo XIX, houve no Brasil uma focalizao na educao femi-nina, mostrando a necessidade de ensinar as mulheres a ler, escrever e contar,demodoquesepermitissequeestassetornassemmesaptas aformarcidadosbonsevirtuosos.Aeducaovoltadaparaamulher consistia em aperfeioar as habilidades domsticas, preparando-a para o papel de me e esposa, pois as aes sociais exercidas por essas mulheres deveriam continuar restritas aos domnios domsticos (GALINDO, 1999). O objetivo da educao da mulher para exercer apenas os papis de me e esposa demonstra a representao existente do lar como esfera feminina e da rua como esfera mascu-lina, fazendo com que a vida domstica seja o destino natu-ral da mulher. Segundo Passos (1999), essa diviso sexual adquiridaculturalmenteetransmitidaseguindoatendncia de acreditar que esse direcionamento natural: o masculino segueocaminhodaagressividade,criatividadeedomundo externo,aopassoqueofeminino,odapassividade,menor criatividade e do mundo domstico.Nocampoprossional,umadasconsequnciasdessas atitudes a mulher obter menos prestgio e carreiras mal re-muneradas, exercendo atividades na rea de ensino, cuidar e servir, como, por exemplo, secretrias, enfermeiras e professoras. Sendo essas atividades exercidas concomitantemente com os trabalhos doms-ticos (PASSOS, 1999).Diantedetalsituao,pode-senotarqueasmulheresidosasde hojetiverammuitomenosoportunidadeseducacionaisedeparticipa-o no mercado que os homens. Em consequncia disso, atualmente es-sas mulheres possuem rendimentos mais baixos e mais escassos (MOTTA, 1999). Neste sentido, Attias-Donfut (2004) acrescenta que as mulheres so penalizadas na velhice por terem dividido seu tempo de vida entre o trabalho e as tarefas domsticas.Entretanto,deacordocomapesquisadeOliveiraeSilva(2007), mesmo passando por diculdades por causa dos baixos rendimentos e se privando de algumas coisas, as mulheres so maioria em se tratando de solidariedade nanceira.O OBJETIVO DA EDUCAO DA MULHER PARA EXERCER APENAS OS PAPIS DE ME E ESPOSA DEMONSTRA A REPRESENTAO EXISTENTE DO LAR COMO ESFERA FEMININA E DA RUA COMO ESFERA MASCULINA, FAZENDO COM QUE A VIDA DOMSTICA SEJA O DESTINO NATURAL DA MULHER. 42ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012Souto (1999) ressalta que so as mulheres idosas tambm que assumem novos papis na famlia, como a responsabilida-de dos cuidados dos netos pela necessidade da participao da mulher no trabalho fora de casa.CorroborandocomSouto(1999),Vitale(2005)arma que, no esteio das relaes entre as geraes, os avs, mais especialmente as mulheres, convivem muitas vezes com a res-ponsabilidadesobreocuidadodosnetos,somadasajudas nanceirasoferecidasaoslhos.Issoporquedasmulheres que a famlia espera e delega a assistncia gerao mais nova.Outraperspectivaexistenteadasmulheresss.Isso porque, como as mulheres excedem numericamente os homens constituem pelo menos 60% da populao idosa , terminam cando sem par estvel, uma vez que os homens morrem mais cedo.Comisso,existeumasignicativaparcelademulheressolteiras, separadas ou vivas, terminando por assumir um posto tradicionalmente masculino, mas crescentemente feminino, de chefes de famlia (MOTTA, 1999).Essassoasavschefesdefamlia,provedorasdeumgrupo familiar acerca do qual Camarano (1999b) arma que existem poucas pes-soas trabalhando. Com isso, pode-se perceber que nesses casos as mulhe-res contribuem afetiva e nanceiramente para a manuteno da famlia.Os diversos, novos e velhos, papis desempenhados pelas mulheres aposentadas na famlia proporcionam a elas bem-estar, pois, de acordo comSouto(1999),osidososbuscamumarevalorizaoperanteaso-ciedade,umasensaodepertena,pormeiodaqualsesintamparte fundamental da famlia, sentimento esse que perdido com a chegada da velhice.Historicamenteainvisibilidadedamulhermascarouoseupapel como sujeito ativo no mundo do trabalho e sua consequente contribuio na vida privada, particularmente para a sobrevivncia familiar. Os relatos histricos davam destaque ao homem, branco e adulto, das camadas mais altas da sociedade. Essa invisibilidade passou, ento, a ser questionada e modicada pela ao de pesquisadores e estudiosos que, conscientes do lugar da mulher na histria, passaram a respeitar suas especicidades culturais.HISTORICAMENTE A INVISIBILIDADE DA MULHER MASCAROU O SEU PAPEL COMO SUJEITO ATIVO NO MUNDO DO TRABALHO E SUA CONSEQUENTE CONTRIBUIO NA VIDA PRIVADA, PARTICULARMENTE PARA A SOBREVIVNCIA FAMILIAR. OS RELATOS HISTRICOS DAVAM DESTAQUE AO HOMEM, BRANCO E ADULTO, DAS CAMADAS MAIS ALTAS DA SOCIEDADE.So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE43Comoadventodofeminismosomostradasemvrias pesquisas as conquistas sociais das mulheres, embora na rea decinciassociaissejantidaaescassezdeestudossobre oshomensdeidade.Motta(2009)realizouumadapoucas pesquisas sobre a participao do homem idoso na sociedade atual. A autora mostra que historicamente os homens caram socialmente quietos, pois no tinham revoluo de gnero a fazer. Os homens no precisavam porque sempre tiveram liber-dade de sair e se reunir em praas e jardins com outros homens para conversar. Essa constatao mostra, mais uma vez, que a educao do homem voltada para a vida pblica e o trabalho acabouporfazercomqueestesseengajassem,emmenor proporoqueasmulheres,nasatividadesdomsticasenas necessidades dos lhos.ConclusoOs resultados encontrados nas bibliograas consultadas demonstram agrandeimportnciadeconcederaosindivduosidososoportunidades de insero nas decises sociais da sua prpria vida. A signicativa par-ticipao,tantonasolidariedadenanceiraquantonaafetiva,indica que eles esto muito alm da condio de serem tratados somente como objetosdecuidado,tendosemostrado,muitasvezes,comoumapoio fundamental no qual a famlia se ampara. Assim, faz-se necessrio compreender o novo papel desempenha-do pelos idosos em nossa sociedade, gerado por novas responsabilidades sociais que eles passam a assumir. Sendo assim, a imagem que se tem de aposentados como guras dependentes e quase invlidas para o trabalho deveserrepensada,tantopelosensocomumquantopelacomunidade cientca. claramente visvel a diferena existente entre as formas de soli-dariedade, afetiva e nanceira, oferecidas pelo pai e pela me aos lhos. Outra diferena observada na frequncia da ajuda, sendo que as mes ajudamduasvezesmaisqueospais,tantoafetivaquantonanceira-mente.Assim,comocuidardosoutrosfazpartedopapelsocialmente construdo, designado s mulheres, so elas as responsveis por auxiliar, ajudar e cuidar de seus lhos e depois de seus netos. CLARAMENTE VISVEL A DIFERENA EXISTENTE ENTRE AS FORMAS DE SOLIDARIEDADE, AFETIVA E FINANCEIRA, OFERECIDAS PELO PAI E PELA ME AOS FILHOS. OUTRA DIFERENA OBSERVADA NA FREQUNCIA DA AJUDA, SENDO QUE AS MES AJUDAM DUAS VEZES MAIS QUE OS PAIS, TANTO AFETIVA QUANTO FINANCEIRAMENTE. 44ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 33-46 | jul. 2012No Brasil, a perspectiva de gnero dentro das solidarie-dades familiares tem sido pouco debatida, tanto nos estudos sobre as questes contemporneas quanto naqueles que pes-quisam e tratam do envelhecimento. importante considerar a categoria gnero em pesquisas e estudos que analisam qual-queraspectorelacionadoaoenvelhecimento,poisapesarde homensemulheresterememcomumasituaodavelhice, alm das diferenas biolgicas de cada sexo, eles foram educa-dos de formas distintas. Isso fez com que homens e mulheres idosos de hoje trilhassem caminhos sociais diferentes.Essa educao adquirida culturalmente, baseada na divi-sosexual,foiconstrudapelaprpriasociedade,colocando osindivduosemtrajetriasdiferentes,emqueasmulheres foram educadas e treinadas para preparar-se para o papel de me e es-posa. Assim, o destino das mulheres idosas de hoje a vida domstica e a famlia, e essa circunstncia um dos fatos que podem explicar essa maior participao das mulheres na solidariedade familiar.Sendo assim, pode-se perceber que as aposentadas serem lembradas como guras de cabelos brancos, fazendo croch e cuidando da horta no corresponde ao perl das aposentadas atuais, considerando as mudanas pelas quais as famlias passaram nas ltimas dcadas.Diante disso, pode-se concluir que as mudanas dos laos familiares e a escassez de recursos que atinge as famlias demandam novos papis, apresentando novas exigncias para as mulheres idosas, que acabam por se tornar personagens de grande importncia, tanto como auxiliares nas atividades domsticas e no cuidado com os netos quanto no sustento dos lhosadultos,mediantecontribuiesnanceiras.Portanto,osapoios familiares parecem ser constitutivos de identidade feminina, mostrando que as mulheres esto no centro das solidariedades entre geraes.REFERNCI ASBI BLI OGRFI CASADAMS, B. 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Foi feita uma pesquisa por meio da aplicao de formulrios semiestruturados, em uma amostra de idosos de trs instituies de longa permanncia do municpio de Vitria/ES duas privadaseumalantrpica,entreoutubrode2010efevereirode2011. Sendo os dados analisados por meio do mtodo qualitativo. Os resulta-dos indicaram que a idade por si no um determinante de asilamento. Entretanto, o declnio das condies de sade, a perda da autonomia e da independncia, a fragilidade dos laos afetivos e a ausncia de dispo-nibilidade de cuidador na famlia so fatores cruciais. Apresenta, ainda, indicativo de que a maioria dos idosos j vivia, antes do asilamento, uma situao de solido dentro de suas famlias.Palavras-chave: instituies de longa permanncia; relaes familiares; po-lticas pblicas.Idoso em instituies de longa permanncia no municpio de Vitria/ES: relaes familiares e institucionalizao1 Assistente Social; Especialista em Famlia; Mestre em Polticas Pblicas e Desenvolvimento Local pela Santa Casa de Misericrdia de Vitria - EMESCAM2 Assistente Social; Especialista em Famlia; Mestre em Polticas Pblicas e Desenvolvimento Local pela Santa Casa de Misericrdia de Vitria - EMESCAMMARIA GORETTI DALVI1MARIA HELENA RAUTA RAMOS 248ATERCEI RAI DADESo Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 47-61 | jul. 2012So Paulo | v. 23 | n. 54 | p. 47-61 | jul. 2012ATERCEI RAI DADE49ABSTRACTThisarticleaimstoprovideaproleofelderlypeopleintermsofrace, education, age, marital status and number of children, and discuss the family relationships and the factors that led to their institutionalization. Based on pre-vious studies and on eldwork results, this article seeks ways to improve services and increase social support networks for the elderly. Between October 2010 and February2012,asurveywasconductedusingsemi-structuredquest