A Tragédia Grega x a Tragédia Elizabetana

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TRAGÉDIA

O substantivo “tragédia” é de origem grega e significa“canção do bode”. Suas origens são tão antigas que ninguémsabe se a associação com o bode deriva do fato de um bodeser sacrificado durante a apresentação, ou porque um bodeera usado como prêmio, ou porque os atores vestiam pelesde bode. As únicas certezas são que a forma trágicaantecede quaisquer registros escritos de sua prática e queoriginalmente ela tinha significado religioso, provavelmenteassociado com a celebração dos ritos de Dionísio. Uma origem religiosa também está por trás dodesenvolvimento do drama ocidental na Idade Média. Taisorigens nos lembram que o drama surgiu das aspirações maisprofundas do homem e carrega consigo alguns dos mistériosque decorrem dessas aspirações.

A tragédia, como uma forma teatral, alcançou seuprimeiro patamar de desenvolvimento na Grécia antiga (500A.C.). Já nessa época ela revelava muitas das característicasque hoje viemos a considerar como inseparáveis. O trabalhodescritivo de Aristóteles (384-322 A.C.), estabelecidoposteriormente como “regras”, veio a reforçar a noção de que“tragédia” é sinônimo de “tragédia grega”. No entanto temostambém a tragédia elisabetana, a tragédia neoclássicafrancesa, entre outras. Essas variações nem semprecorrespondem às especificidades da tragédia grega, porémparecem capturar a mesma essência, algo próximo da mesmavisão trágica.

A Tragédia Grega x A TragédiaElizabetana....

A Tragédia Grega x A Tr…

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Prof. Pietro Martins B. Noga

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modo triste. Porém para os estudiosos de drama, é costumese fazer uma distinção entre o que é trágico e o que émeramente triste. A tragédia precisa enobrecer a vítima. Oseventos trágicos devem ter uma significância que transcendeas conseqüências imediatas para amigos e familiares. Essasconseqüências devem ter uma validade universal, que toquediretamente nas nossas crenças com respeito ao significadoda vida.

O que se espera numa tragédia é um senso dedignidade e importância que vá além da vida diária, oumesmo de situações extremamente infelizes. No passado,esse sentido de relevância era projetado, em parte, atravésda elevação da linguagem, geralmente poética, e daimportância dos personagens, usualmente nobres ouindivíduos das classes altas. A maioria dos críticos aceita apossibilidade de personagens socialmente menos elevadosfalarem em prosa, contanto que o protagonista possaalcançar uma nobreza interior e que os eventos exibam umpadrão que possamos reconhecer como significante emtermos das questões humanas mais cruciais, tais como odestino do homem, o significado da justiça, os limites da forçade vontade. Aristóteles afirma que a tragédia inspira noespectador um sentido de pena e medo que ela purga essasemoções (catarse). Esperamos que o efeito da tragédia sejamais relevante do que a diversão e mais elevado do que aempolgação.

No entanto ainda resta a questão: “O que é trágico ecomo pode ser reconhecida a tragicidade?” Os critérios para acompreensão do trágico envolvem a visão pessoal de cadaum quanto aos significado e o propósito da existência, que é oobjeto da tragédia. A tragédia depende de uma visão da vidacomo uma dimensão parcial e dependente de uma realidade







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mesmo tempo, anterior e superior ao nosso próprio, suaexistência projeta um elemento de mistérios em nossomundo. A tragédia é o encontro do homem com essesignificado maior, abrangido pelo mundo transcendental. Atragédia é o homem se lançando contra os propósitos (queele freqüentemente desconhece) do mundo superior. Dissoresulta uma confrontação, que é a mais essencial dassituações dramáticas. Tratam-se, porém, de poderesdíspares, e o homem está predestinado a perder, comoPrometeu perdeu há vinte e cinco séculos. Ainda assim, doconflito e da perda surge um certo esclarecimento quanto aosignificado da vida.

A tragédia não tem como tema o mundotranscendente. Ela não pode ser igualada à teologia, já queas convenções teatrais exigem da tragédia que o tema destaseja o homem neste mundo. Ainda assim a tragédia temcomo preceito básico a idéia de que existe uma realidadetranscendente maior do que a realidade diária; e sem talpreceito, as situações de Macbeth ou Édipo, de Hamlet ouPrometeu, tornar-se-iam meramente estudos de caso.

Muitos críticos defendem a idéia de que atragédia não é possível na época atual, já que elaassume a existência de uma realidadetranscendental. O homem moderno, esses críticosafirmam, não consegue mais ver uma dimensãoalém do universo físico que conhecemos. Se essavisão realmente domina nossa vida intelectual, elainibe a criação da tragédia. As tragédias dopassado são precisamente o que mais honramosnos primórdios do drama à medida que elas vãoalém do infortúnio.







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momentos mais exaltados e que, de algum modo, faz comque o espectador torne-se uma pessoa melhor do que eraantes de assisti-la. Uma análise das características principaisdos tipos mais comuns de tragédia do passado contribui paraum melhor entendimento desse gênero.

A TRAGÉDIA GREGA As observações de Aristóteles nunca tiveram aintenção de se tornar leis ou regras, porém foram colocadascom uma clareza e organização tão admiráveis, quecontinuam sendo os melhores comentários sobre a prática datragédia grega. Aristóteles observou que a tragédia gregadependia muito do enredo, que seria “a alma da tragédia”.Porém o personagem está, como sempre esteve,profundamente ligado ao enredo. A tragédia grega é chamadade tragédia do destino, sugerindo o papel determinantedestinado a forças externas ao caráter do protagonista. Atragédia shakespeareana, por outro lado, é denominada detragédia do personagem, apesar do papel importantefreqüentemente desempenhado pelo destino ou outrapoderosa força externa.

Aristóteles definiu a tragédia grega como uma“imitação de uma ação” que é “séria, completa e de uma certamagnitude”. O herói sofre uma mudança em sua sorte(reversão ou “peripeteia”) e esta reversão pode ser de boasorte para má sorte, ou vice-versa. A tragédia envolve nãosomente uma transformação de sorte para azar comotambém uma mudança tão catastrófica que a peça terminaem desastre ou morte para o protagonista, e com freqüência,também para outros personagens.

Na tragédia grega, a reversão causa umreconhecimento (“anagnorisis”), uma percepção de algo, uma







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principal. O herói que experiencia esse fato é geralmente umhomem acima da média, porém imperfeito. Ele geralmentetem uma falha trágica (“hamartia”) que contribui para suaqueda, apesar da possibilidade de existir também, um destinoinexorável que opera independentemente dos defeitos doherói. A falha trágica mais comum nos protagonistas gregos é“hubris” (orgulho em exagero), como em Édipo.

Aristóteles usou Édipo como um exemplo porque eleilustra perfeitamente a prática grega. Nem todas as tragédiasgregas encaixam-se tão bem nas categorias de Aristóteles.Apesar da diferença nos detalhes, as tragédias gregasseguem um padrão geral bastante similar, que pode sercolocado como “propósito, paixão e percepção” (“poiema”,“pathema”, “mathema”). A paixão refere-se ao sofrimento, dor(de “patior”, “passus”). Existem geralmente cinco passagensprincipais de ação e diálogo, refletidas em cinco odes do coro;vem daí, portanto, a divisão clássica em cinco atos: prólogo(exposição), “parodos” (uma canção apresentada quando ocoro entra), episódios (“epeisodion”), a ode trágica(“stasimon”), “epode” (stand) e “exodos”. Essascaracterísticas derivam de rituais antigos. Elas transmitemdignidade e seriedade para a tragédia grega, ficando entre asprincipais causas de sua força e poder de emoção. A tragédiagrega também se distingue por sua observância das unidadesde tempo, lugar e ação. A ação acontece num período de 24horas, num único lugar. É uma ação única, sem enredossecundários.

Personagens de alta linhagem, uso de linguagemelevada e um padrão geral de conflito e reversão, seguido desofrimento e reconhecimento, são discerníveis na maioria dasgrandes tragédias.







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dramaturgos como Marlowe e Webster. A tragédiaShakespeareana difere da grega em muitosdetalhes, sendo que, em parte, isso se deve àdiferença física das casas de apresentação e osdiferentes passados teatrais. Ainda assim os doistipos de tragédia demonstram certa semelhançaem um aspecto importante: a tragédia elisabetanadesenvolveu-se da dramatização da história cristãque surgiu na idade média, proveniente de liturgiada igreja; como a tragédia grega, ela tem suasorigens nas celebrações religiosas. O dramamedieval que precedeu o elisabetano égeralmente chamado de “drama litúrgico”.

O drama litúrgico fica bem ilustrado no Quem quaeritistrope (“Quem procuras?”) e é o que o anjo na tumba de Cristodisse às três Marias. A cena era dramatizada na liturgia cristã,na Páscoa. Uma “trope” em drama é uma amplificação de umtexto litúrgico. Dessas “tropes” nasceram os “milagres”(baseados nas lendas dos santos) e os “mistérios”(celebrando as escrituras). O século XIV viu odesenvolvimento das “moralidades” (dramas didáticos usandoabstrações de virtudes e vícios). O drama posterior, incluindoo elisabetano, evoluiu dessas formas.

Existe também uma mistura de teoria clássica nodrama elisabetano. Muita da retórica sofisticada e das cenasde violência provém do escritor trágico romano Sêneca (5D.C. a 65 D.C.). No entanto, a idéia da queda trágica tambémé medieval. A tragédia cristã medieval acreditava que atragédia era a queda do homem de um nível alto para umbaixo, uma idéia próxima da reversão grega. A tragédiaelisabetana, incluindo a maioria das peças históricas de







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de alta linhagem, que sofrem devido a alguma fraqueza deseu caráter: a arrogância de Lear, a ambição da Macbeth.Isso cria um tipo de triunfo transcendental até mesmo duranteo sofrimento e a catástrofe. É um triunfo espiritual que pareceser mais forte por emergir de obstáculos intransponíveis eadversidades da vida.

Na tragédia shakespeareana existe uma noção danobreza e dos limites da experiência humana, expressaatravés de poesia magnífica e cenas profundamente tocantes.Mas, ao contrário da tragédia grega, que é famosa por suasimplicidade, a tragédia elisabetana é marcada por umaabundância de enredo e pelo uso liberal de enredossecundários. Esses refletem e intensificam o enredo principal,porém contrastam profundamente com o foco único datragédia grega. Shakespeare também inclui em suastragédias cenas da vida comum e comédia. Esses artifíciossão chamados “alívio cômico”, apesar de seus efeitosfreqüentemente intensificarem as situações ao invés dealiviá-las.

O melhor exemplo da tragédia shakespeareana é ReiLear (1606). Apesar das diferenças estruturais com relação àtragédia grega, Lear exibe um padrão geral muito parecidocom o grego: propósito, paixão, percepção. O propósitoinicial é a divisão do reino de Lear. Isso gera um conflitofamiliar que também causa uma reversão e um grandesofrimento (paixão). O clímax é a percepção, da parte deLear, e a grande desgraça que se segue. O sofrimento deLear não é inteiramente desprovido de mérito, mas é muitosuperior aos pecados que cometeu, pois seu sofrimento écataclísmico e total. O que Lear tem em comum com outrasgrandes tragédias é que a peça é uma ação que inclui osentido trágico da vida, com a consciência que todas as







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abstratas, mas na própria ação trágica.

A tragédia elisabetana pode ser subdividida emgêneros subordinados, tais como a tragédia de vingança e atragédia doméstica.

Fonte: G. B. Tennyson. Introduction to Drama.

Ilustração da Tragédia Grega

[http://3.bp.blogspot.com/-IgJvInDTOZ8/TdAvC2rZshI/AAAAAAAAAH8/WlqhIocgw0Q/s1600/Sem+t%25C3%25ADtulo-1.jpg]

1: Exposição2: Ponto de virada3: Ação decrescente4: Clímax5: Catástrofe

ilustração Tragédia Elizabetana

[http://3.bp.blogspot.com/-OAO27LnYx64/TdAxMJU7wTI/AAAAAAAAAIA/dOy2qfpNv_w/s1600/elizabeth.jpg]

A: Exposição (ato I)B: Força incitadora







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Ilustrações da Tragédia Shakespeariana - KING LEAR (1606)

[http://1.bp.blogspot.com/-WjW2JS-QrA4/TdAyJphaMSI/AAAAAAAAAIE/6C9m3sHExeI/s1600

/1974_king_lear_weeping_over_the_death_of_cordelia.jpeg]( A morte de Cordelia - filha do REI)







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[http://3.bp.blogspot.com/-1ar2hAq3NQM/TdAyypwgnQI/AAAAAAAAAII/RDWo-QamW-0/s1600/3505.jpg]

O Rei Lear com seu BOBO (Lear with his fool)

[http://1.bp.blogspot.com/-DcmFSRSt_2U/TdAy1MbluEI/AAAAAAAAAIM/uEifff5X5eQ/s1600/3508.jpg] .

Rei Lear com seu melhor amigo Gloucester.(Lear and his friendGloucester)

Alunos do ensino médio: 1ºEMD,







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necessidade de tê-lo integralmente,portanto a parte relacionada com

nossas aulas de teatro e a relação deconstrução do personagem trágico

pelas suas características vocêsprecisam ter, uma vez que fazem

parte do conteúdo avaliativo teórico.







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Postado há 15th May 2011 por Pietro

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