45
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE LEANDRO BARBOSA DE ME LLO CHAVES A TUTELA AN TECIPADA E A EFETIVIDADE DO PROCESSO Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação da Universidade Candido Mendes como exigência do exame de qualificação para obtenção do título de Pós- graduação RIO DE JANEIRO 2006

A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LEANDRO BARBOSA DE MELLO CHAVES

A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO

PROCESSO

Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação

da Universidade Candido Mendes como exigência do

exame de qualificação para obtenção do título de Pós-

graduação

RIO DE JANEIRO 2006

Page 2: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

2

LEANDRO BARBOSA DE MELLO CHAVES

PÓS-GRADUAÇÃO EM PROCESSO CIVIL

A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO

PROCESSO

RIO DE JANEIRO

2006

Page 3: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

3

SUMÁRIO

Introdução 4

1 - Capitulo I

1.1 - Evolução Histórica 5

2 - Capitulo II

2.1 - Da antecipação de tutela tal como preconizada pelo art. 273 do CPC 10

2.2 - Conceito e natureza jurídica 19

2.3 – Requisitos 19

3 - Capitulo III

3 – Da tutela Antecipada nas Obrigações de fazer e Não Fazer 28

3.1 – Evolução da tutela nas Obrigações de fazer e Não Fazer 28

3.2 – Modalidades de Execução 30

3.3 - Síntese acerca da Tutela antecipatória do art. 461 33

3.4 – Breves considerações ao art. 461 do CPC 35

3.5 – Cotejo entre o sistema do art. 273 e 461 do CPC 35

4 - Capitulo IV

4 – As tutelas antecipatórias e a efetividade do processo 37

4.1 – Introdução 38

4.2 – Do Sincretismo Processual advindo das alterações do art. 273 § 6º e § 7º do CPC 40

5 – Conclusão 42

6 – Bibliografia 44

Page 4: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

4

INTRODUÇÃO

Com a evolução histórica e social de nossa sociedade percebe-se as mudanças dos

reiterada de usos e costumes, os quais acabam por refletir na legislação e especificamente

em nossas vidas.

Com efeito, o Judiciário, com a ajuda do legislativo, tentam de forma singular

solucionar os problemas advindos das relações humanas, exercendo a atividade judicante e

provendo aos interessados a resolução dos problemas existentes.

Não obstante as aludidas demandas, insurge-se grande parcela da sociedade contra

a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta

morosidade.

O legislativo, ao seu turno, tenta prover ao país uma legislação mais eficaz, capaz

de proporcionar ao cidadão, e, por conseguinte ao judiciário, a resolução prática para

determinados problemas.

Com efeito, o instituto estudado, qual seja, a tutela antecipada vem na contra mão

desta morosidade, tentando de forma heróica ajudar na efetivação da tutela jurisdicional,

pois apesar dos critérios de ordem legal e administrativo a corroborar com a morosidade,

certo é que a referida tutela acaba por antecipar provimento jurisdicional antecipado às

partes, não resolvendo a problemática da morosidade, mas contribuindo para amenizar a

referida morosidade.

Desta sorte, servirá o presente trabalho para analisar o instituto da tutela

antecipatória, sob o prisma do art. 273 e 461 do CPC, bem como para abordar a

problemática da morosidade da justiça, confrontando-a com o referido instituto a fim de

saber se este contribui para a efetivação da prestação jurisdicional.

Page 5: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

5

1 - CAPITULO I

1.1 - Evolução Histórica

Antes de adentrarmos ao objeto de estudo da presente monografia, entendemos por

oportuno trazer à baila o desenvolvimento histórico do referido instituto a fim de facilitar a

compreensão deste.

A longa histórica da civilização, que veio desaguar nas idéias liberais que

fomentaram a Revolução Francesa, deram ao Estado uma figura mínima e a vontade

individual de uma dimensão maior no plano dos regramentos jurídicos. Para romper com o

velho regime aristocrático, não havia valor a prestigiar que fosse maior do que a liberdade

cujo caráter quase absoluto passou a dominar a teoria dos negócios jurídicos.

Assim sendo, percebe-se que a revolução francesa representou um divisor d´aguas, onde a

liberdade do cidadão fora considerada valor extremo, ou seja, constituía-se à época um

momento social no qual a autonomia da vontade ganhava a cada dia mais o seu apogeu.

Revivia-se em certo sentido o famoso brocardo latino pacta sun servanda..

Nesta perspectiva toda sanção que se destinava a garantir o cumprimento de uma

obrigação teria de recair sobre o patrimônio do devedor, posto que todo aquele que se

obrigava, pessoalmente, respondia com seus bens presentes e futuros, particularmente em

se tratando de uma ação pessoal do devedor, isto é, um fazer ou não fazer.

Com efeito, ninguém poderia ser compelido, contra vontade, a adotar qualquer tipo

de comportamento pessoal. Não havia execução forçada em prestações típicas de

obrigações de fazer e não-fazer. Por ser intocável a liberdade pessoal do devedor, em não

sendo de seu interesse cumprir voluntariamente a obrigação, não restando outro caminho ao

credor senão converter seu prejuízo através das perdas e danos.

Com o advento e mudanças introduzidas pela revolução francesa, já nos início do

século XX, este paradigma começou a sofrer alterações, posto que o Estado Liberal acabou

evoluindo-se para o Estado Social. Nesta nova ideologia de Estado Democrático, este

Page 6: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

6

deixou de ser mero declarantes de direito para se transformarem em agentes realizadores

desses direitos.

Desta forma, passa o Estado a assumir e/ou intervir na vida econômica e social dos

cidadãos, fazendo-se respeitar os direitos coletivos e difusos destes.

Após toda esta evolução social, bem como processual, percebe-se que a doutrina e

legislação atual quedaram-se aos ensinamentos de CHIOVENDA (no concernente à

efetividade processual), ora jungidos à indignação do civilista LOUIS JOSSERAND, pois

seus pensamentos colidiam frontalmente com a ratio essenci do art.1142 do Código Civil

francês que dispõe: "toda obrigação de fazer ou não-fazer se resolve em perdas e danos em

caso de inexecução por parte do devedor".

Inaceitável e frustrante tal posicionamento, posto que com a evolução do processo

como um todo, tal posicionamento tornara-se inócuo. A força vinculatória dos contratos

perderia em boa parte seu sentido. Exemplo clássico de um escultor que se obrigou a

confeccionar obra e não cumpre com o acordado. Não há forma alguma que se possa

compeli-lo a cumprir como compromisso, senão a conversão em perdas e danos?

Porque todos eram livres para enunciar suas vontades e, assim, dispor de seus bens

e contrair obrigações, o regime contratual encontrou seu apogeu na consagração do pacta

sunt servanda. O contrato, oriundo da vontade livre do contratante, era lei a ser respeitada e

cumprida, sem resistência.

Como, todavia, o indivíduo era o centro de toda a normatização jurídica, mesmo quando

descumprisse o contrato, não poderia, de forma alguma, ser pessoalmente compelido a

executar a prestação prometida ao credor. Toda a sanção legal destinada a garantir o

cumprimento da obrigação teria de recair sobre seu patrimônio, porque, tal como

proclamava o art. 2.092 do Código Napoleão, o princípio dominante era no sentido de que

todo aquele que se obriga pessoalmente fica sujeito a sofrer as conseqüências de sua

obrigação sobre todos os seus bens presentes e futuros.

Page 7: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

7

Quando as obrigações eram de dar, a execução forçada proporcionada pela tutela

estatal cumpria-se in natura, porque fácil era alcançar o bem devido sem necessitar de

coagir o devedor pessoalmente. Bastava que os agentes do poder apreendessem ditos bens e

os entregassem ao credor. Mas, quando a prestação estivesse intimamente ligada a uma

ação pessoal do devedor - a um facere ou um non facere - esbarrava a concepção liberalista

numa barreira intransponível. Ninguém poderia, na ótica de então, ser compelido, contra a

sua vontade, a adotar qualquer tipo de comportamento pessoal. Logo, ninguém poderia ser

levado pela execução forçada a praticar prestações típicas das obrigações de fazer e não

fazer. Da antiga regra romana - nemo ad factum potest cogi - o direito francês do Século IX

exportou para todo o mundo ocidental o preceito de que "toute obligation de faire ou de ne

pas faire se résout en dommages et intérêts en cas d’inexécution de la part du débiteur".

Na plenitude do liberalismo, então, não havia lugar, em princípio, para a execução

específica das prestações de fazer e não fazer. Por ser intocável o devedor em sua liberdade

pessoal, uma vez recalcitrasse em não cumprir esse tipo de obrigação, outro caminho não

restava ao credor senão conformar-se com as perdas e danos.

O direito processual, praticamente inexistente como técnica ou ciência autônoma,

apresentava-se como mero apêndice do direito material. Nada acrescentava em termos de

medidas criativas para dar maior eficácia aos preceitos da ordem substancial. Era, aliás, o

próprio direito material que predeterminava os expedientes instrumentais que

correspondiam aos direitos subjetivos de fundo quando descumpridos ou violados. Não

cabia, assim, ao Poder Judiciário maior flexibilidade no uso dos remédios do processo.

Havia um processo ordinário ou comum a ser observado no julgamento das lides

e que teria de servir, às causas em geral, e as ações especiais eram rigorosamente

destinados a casos típicos que não poderiam ser dirimidos na sistemática do procedimento

comum. Não havia maleabilidade alguma no terreno do processo.

Page 8: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

8

Diante da ausências deste ramo processual autônomo, implantava-se ritos

específicos (ações predeterminadas) para cada tipo de direito subjetivo violado, haja vista

que para a teoria civilista ou imanentista da ação, ora supracitada, considerava esta como

um mero apêndice do direito material violado1. .

Com o enfraquecimento das idéias francesas promoveu-se um amadurecer e um

desenvolver processual passando-se por diversas teorias, dentre elas: Teoria do direito

concreto de agir (Adolf Wash); Teoria do direito Potestativo de agir (Giuseppe Chiovenda);

Teoria do Direito Abstrato (Heinrich Degenkolb e Alexander Plósz); teoria eclética, dentre

outras2, até chegarmos aos dias de hoje.

Não obstante a evolução processual retro mencionada, denota-se um certo desvio do

foco do indivíduo para a sociedade que se conseguiu divisar na passagem para o Século

XX, a existência de interesses sociais que estavam a reclamar a atenção do ordenamento

jurídico, forçando, assim, a ampliar seus domínios além do milenar binômio direito público

- direito privado.

O Século XX pôde impor esse modo de ver na medida em que o Estado Liberal foi

suplantado, politicamente, pelo Estado social. Nessa concepção do Estado Democrático, a

organização da máquina estatal deixou de ser meramente declaratória, de direitos

fundamentais, para transformar-se em agente realizador desses mesmos direitos.

Em nome de tais concepções, o Estado assumiu a intervenção na vida econômica e

social para proclamar e fazer respeitar os direitos coletivos e difusos e, para tanto, não

podia continuar a se valer apenas dos procedimentos judiciais forjados no Século XIX, sob

o predomínio das idéias liberais puras.

1 Lições de Direito Processual Civil; Câmara, Alexandre Freitas; Vol I; 08º edição; editora Lumem Iuris; ano 2003, pág. 111.2 Lições de Direito Processual Civil; Câmara, Alexandre Freitas; Vol I; 08º edição; editora Lumem Iuris; ano 2003, pág. 112-115.

Page 9: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

9

Aos poucos foram surgindo ações de feitio coletivo para instrumentalizar direitos

até então nem sequer conhecidos da ordem jurídica tradicional, como os direitos

indivisíveis da comunidade, isto é, da sociedade como um todo, ou de grandes parcelas da

sociedade. Ao mesmo tempo ampliava-se a ordem jurídica material para agasalhar os

direitos transindividuais ou coletivos, e concebiam-se novos procedimentos judiciais que

pudessem lhes dar cobertura quando necessário fosse discuti-los em juízo.

Essa abertura para o social não só fomentou a preocupação com os problemas

gerados pela convicção da necessidade de tutelar adequadamente os novos direitos sociais,

como também impôs aos operadores do direito processual a conscientização de que o

processo, em si mesmo, ainda que não cogitando de ações coletivas, era sempre um

instrumento tutelar da cidadania. O direito de ação não mais se via como simples meio de o

indivíduo reagir contra a violação de algum direito subjetivo. Era, isto sim, o direito cívico

de acesso à Justiça, como uma das garantias fundamentais do moderno Estado Democrático

de Direito. Era ele mesmo a expressão de uma das maiores garantias da paz social e da

realização política dos ideais da nação agasalhados em sua ordem constitucional.

Passou-se a divisar no processo, desde então, metas que iam além da simples

composição dos litígios e que se comprometiam com as aspirações do devido processo

legal, tanto no plano formal como no material. A missão do judiciário a ser cumprida por

meio do processo, a partir de então, vinculou-se à preocupação de efetividade, ou seja, à

perseguição de resultados que correspondessem à melhor e mais justa composição dos

litígios.

Foi, à luz dessa nova constatação, desse novo posicionamento institucional que se

insinuou e se fez prevalecer a teoria das tutelas diferenciadas.

Em suma, o instituto da tutela fora desenvolvendo-se junto com as mudanças e

necessidades dos cidadãos, evoluindo de acordo com os anseios da sociedade, sendo certo

que acaso tal instituto não fosse adotado, certamente as relações obrigacionais perderiam

Page 10: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

10

sua força vinculante, haja vista a impossibilidade de obrigar o devedor a cumprir sua

obrigação espontaneamente.

2 - CAPITULO II

DAS TUTELAS ANTECIPATÓRIAS

Almeja-se com o presente capítulo percorrer todos os meandros legais,

doutrinários e jurisprudenciais da instituto da antecipação de tutela disciplinada no art. 273

do CPC, possibilitando-se uma melhor concepção do instituto sob legal supramencionada.

2.1 - DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA TAL COMO PRECONIZADA PELO ART. 273 DO CPC.

Da origem do instituto especificamente junto ao CPC e legislação extravagante

O instituto da antecipação de tutela passou a ser reiteradamente utilizado no

processo civil brasileiro com a redação dada pela Lei n.º 8.952/1994 ao art. 273 do Código

de Processo Civil. Quer-se com isso afirmar que a antecipação de tutela já existia, sendo

utilizada antes mesmo do advento da citada lei. Inúmeros são os exemplos de dispositivos

legais que, implícita ou expressamente, acolhiam a possibilidade de se antecipar os efeitos

da decisão final, total ou parcialmente.

Diante desta insatisfação começaram a surgir instrumentos capazes de coibirem tais

situações, tanto que o Código de Processo Civil já previa o instituto da tutela antecipatória

através de seu sistema jurídico formal. Na verdade, tal instituto já era previsto no codex

processual civil, através do art. 928, onde se permite a antecipação do mérito da demanda,

com a concessão da liminar restauradora da posse, nas ações possessórias de força nova,

desde que os requisitos específicos ali exigidos se consolidem.

Ademais, na legislação extravagante processual, denota-se também a existência do

aludido instituto, pois o art. 12 da lei n.° 7.347, de 24/07/85, a que rege a ação civil pública,

Page 11: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

11

contém uma permissibilidade dos efeitos do mérito da demanda a ser antecipado. O referido

dispositivo dispõe:

“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem

justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.

Em face desta disposição, nas ações civis públicas onde se discutem temas como de

responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao

consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico

ou qualquer outro interesse difuso coletivo e por infração de ordem econômica (art. 1° da

Lei 7.347/85), o mérito pode ser antecipado por via liminar. Outra situação considerada

como sendo de antecipação da tutela meritória, por muitos autores é a prevista no art. 59, §,

1.°, I, da Lei 8.245/91. Nas duas hipóteses fáticas reguladas pelo referido dispositivo, a

primeira cuida de ser resilida a locação por mútuo acordo entre as partes, e a segunda, da

possibilidade do despejo ser concedido liminarmente, caso o inquilino não cumpra o acordo

celebrado.

A antecipação da tutela já era, como visto, entidade processual conhecida no

nosso ordenamento Jurídico. Apresentava-se, contudo, sem uma construção sistematizada e

com aplicação genérica, uma vez que só podia ser deferida em situações específicas e

vinculada a determinado tipo de relação jurídica. Algumas nações estrangeiras praticam a

antecipação da tutela há mais de 40 anos.

A imagem de ser uma providência nova presente no mundo jurídico não tem

procedência. Somente a partir de 94 chegou ao direito brasileiro forma (como acima

transcrito). A necessidade de adotá-la decorreu da imposição da sociedade por não mais

suportar o desequilíbrio nas relações conflitantes causado pela demora na entrega da

prestação jurisdicional.

Page 12: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

12

Na Itália, por exemplo, em 1942, foi introduzido no Códice de Procedure Civile,

por nova redação dada ao art. 700, um verdadeiro sistema da antecipação da tutela

meritória, conforme afirma Ernane Fidelis dos Santos:

Em 1942, introduziu-se no Códice de Procedure Civile novo art.

700, fazendo parte do capítulo III, que trata exatamente Dei

Procedimenti Cautelari, mais ou menos nestes termos: fora dos

casos regulados nas seções precedentes deste capítulo, quem tiver

fundado motivo de temer que, durante o tempo que possa decorrer

para que se reconheça seu direito nas vias comuns, por estar

ameaçado de perigo iminente e irreparável, poderá requerer ao

juiz provimento de urgência, que se apresente, segundo a

circunstância, como meio mais idôneo a assegurar provisoriamente

os efeitos da decisão de mérito3.

O Código de Processo Civil da Alemanha (ZPO) nos §§ 935 e 940, cuida de caso

típico de antecipação da tutela. Eis o comentário feito por Emane Fidelis:

Na Alemanha, introduziram-se no Código de Processo Civil (ZPO)

os §§ 935 c 440. O primeiro é de verdadeira medida cautelar

atípica, de fim assecurativo, enquanto o segundo tem fim regulador

da relação controvertida, ou seja, regula-se temporariamente uma

relação ou situação jurídica, em caso típico de antecipação de

tutela. Não é garantida de pretensão, mas de relação jurídica

litigiosa4.

Observou, ainda. Emane Fidelis, na obra citada, com apoio na lição de Calvosa, que

no ordenamento austríaco não há limitação à tutela antecipada, a não ser quando a situação

regulada for suscetível de execução forçada e, na Inglaterra, no âmbito do Contempt of

Court, o juiz pode não apenas ditar provimentos que previnam ou reprimam qualquer

3 Novos Perfis do Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Editora Dei Rey. 1996. P.23.4 idem. p. 22

Page 13: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

13

ameaça à atividade jurisdicional, como também estabelecer remédios processuais, criando

forma de tutela jurisdicional diversa do procedente jurisprudencial ou legislativo5.

Assim, por exemplo, podemos citar inúmeros casos de antecipação de tutela, na

ação possessória (art. 928 e 929 do CPC); na ação de nunciação de obra nova (art. 937 do

CPC); na ação de busca e apreensão de coisa vendida a crédito com reserva de domínio

(art. 1.071 do CPC); na ação de embargos de terceiro (art. 1.051 do CPC); na ação de busca

e apreensão de bem alienado fiduciariamente em garantia (Dec.-Lei 911/69, art. 3º, "f"); na

ação de mandado de segurança (Lei 1.533/51, art. 7º, II); na ação de desapropriação (Dec.-

Lei 3.365/41, art. 15); na ação popular (Lei 4.717/65, art. 5º, §4º; na ação civil pública (Lei

7.347/85, art. 12; na tutela específica da obrigação de fazer ou não fazer (Código de Defesa

do Consumidor, art. 84, §3º; nas liminares previstas na Lei do Inquilinato (Lei n.º 8.245/91,

art, 59, §1º)

A redação dada ao art. 273 do CPC veio oficializar a existência da antecipação de

tutela no direito brasileiro, ampliar a generalizar a aplicação do instituto e instaurar,

doutrinariamente, a diferença entre a pretensão cautelar e a antecipatória.

O art. 273 do CPC oficializou a existência do instituto sob comento, eis que

somente a partir de sua nova redação é que os operadores jurídicos passaram a conceber um

instituto próprio para antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da decisão final de mérito.

No mais, o art. 273 do CPC estendeu a possibilidade de se antecipar os efeitos da

tutela final de mérito a outras pretensões, não só àquelas hipóteses retro mencionadas,

desde que satisfeitos os requisitos legais exigidos.

Por fim, a nova redação do art. 273 do CPC estabeleceu, com nitidez, a diferença

entre a pretensão cautelar e a antecipatória, desencadeando discussões no âmbito da

doutrina e da jurisprudência. Quanto a isso, há de se dizer que, antes da nova redação do

5 idem p.23

Page 14: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

14

art. 273 do CPC, além daquelas hipóteses legais enumeradas de antecipação de tutela, a

pretensão antecipatória era obtida sob as vestes da medida cautelar inominada

compreendida pelo art. 798 do CPC. Como assevera William Santos FERREIRA, "nessas

ações o que o autor buscava era o próprio bem da vida pretendido, e não apenas e tão-

somente assegurar o resultado do processo de conhecimento ou do processo de execução,

razão pela qual restou batizada de cautelar satisfativa 6".

Muito embora evidente que se estava, ao utilizar a previsão do art. 798 do CPC,

suprindo uma falha do ordenamento, consistente em não prever a antecipação de tutela para

todas as pretensões cuja a antecipação dos efeitos era possível, muitas foram as confusões

geradas na comunidade jurídica. A diferença entre a tutela cautelar e a antecipatória não era

facilmente compreendida, ensejando distorções no pleito de providências jurisdicionais de

urgência, como bem retrata Cândido Rangel DINAMARCO:

Por vezes a confusão que se faz entre a tutela antecipada e a tutela

cautelar pode gerar conclusões equivocadas. Em julgado do 1º Tribunal de

Alçada Civil de São Paulo, entendeu-se que não seria cabível, em sede

antecipatória, o cancelamento de protesto de duplicata já declarada paga,

pois nada se acautelaria, uma vez que o protesto já havia ocorrido (AI

730.951, 10ª Câmara, j. 01.04.1997, Rel. Paulo Hanaka). No entanto, a

ocorrência do protesto, se cumpridos os requisitos do artigo 273 confere

total interesse ao postulante da medida, já que de nada adiantaria após anos

obter o referido cancelamento, pois já estaria impossibilitado de atuar com

instituições financeiras, cliente e tantas outras conseqüências advindas do

protesto (este é o escopo da tutela antecipada). Em nossa atuação

profissional já tivemos oportunidade de ajuizar a mesma ação e o juiz

deferiu a tutela, mas de forma muito mais criativa: para desviar-se do perigo

de irreversibilidade (já que havia um registro publico do protesto),

determinou que não fosse mais sobre este informado qualquer apontamento,

6 FERREIRA, Wilian santos; Tutela antecipada; ed. Renovar, 1994, p. 167.

Page 15: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

15

o que também deveria ser observado pelos bancos de dados (como Serasa,

SPC etc). 7

Nesse sentido, também o escólio de Luiz Guilherme MARINONI:

A reforma eliminou a necessidade do uso distorcido da "ação

cautelar" para a obtenção da tutela antecipatória, possibilitando a correção

dos equívocos que eram cometidos.... Em um dos artigos que escrevemos

para justificar a introdução da tutela antecipatória no Código de Processo

Civil deixamos bem clara a problemática da duplicação dos procedimentos

para o mesmo fim: "a prática forense tem mostrado várias hipóteses em que

processos rotulados de "cautelar" perdem qualquer sentido após a concessão

da liminar. Isto quer significar que a prática, em vários casos, reduziu a

importância do processo cautelar a uma liminar. A prática, com apoio da

doutrina, aceita a tese de que a cautelar pode substituir o mandado de

segurança, uma vez escoado o seu prazo decadencial. O que era direito

líquido e certo transforma-se em fumus boni iuris. Porém, passada a fase

propícia à concessão da liminar, por inexistir necessidade de elucidação de

matéria de fato, o juiz está em condições de proferir sentença capaz de

produzir coisa julgada material. Ou seja, a ação cautelar seria suficiente para

a resolução definitiva do mérito. Contudo, a doutrina deixa claro que o lugar

do julgamento do mérito é no chamado "processo principal",

desnecessariamente instaurado quando percebido que o processo dito

cautelar foi travestido para tornar viável a postulação da liminar. Nestes

casos, realmente, a conclusão deveria ser a de que a "ação principal" é

despicienda e a "ação cautelar" não é cautelar. Necessário é um

procedimento de cognição exauriente em que seja possível a obtenção de

uma tutela antecipatória. A doutrina transforma direito líquido e certo em

7 Dinamarco, C. A reforma do CPC; 02º edição, ed. Malheiros, 1995, p. 138.

Page 16: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

16

fumus, mas não tem coragem para reconhecer que são completamente

desnecessários dois procedimentos para tais casos. 8

Atualmente, passou-se a mais facilmente compreender que a tutela cautelar destina-

se a assegurar a eficácia prática do processo de conhecimento ou de execução, uma vez

declarada a procedência da pretensão, ao passo que a tutela antecipatória destina-se a

antecipar os efeitos do provimento final de mérito, total ou parcialmente. Todavia, em prol

do princípio da fungibilidade, a reforma procedida pela Lei n.º 10.444, de 07 de maio de

2002, inseriu no art. 273 o §7º, o qual veio a declarar que: "Se o autor, a título de

antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando

presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do

processo ajuizado."

Para José Rogério Cruz & TUCCI, "A introdução do §7º vem mitigar a exegese

estritamente formalista que se verifica na prática, em detrimento da urgência de

determinadas situações. Jamais se aconselha que a forma sacrifique o direito do

jurisdicionado 9."

Mesmo antes da reforma, porém, já se observava da jurisprudência uma atitude

comprometida com a efetividade do direito material em detrimento da forma, como restou

declarado, por exemplo, no acórdão unânime, proferido em julgamento de Agravo de

Instrumento n.º 806.046-6, da 12ª Câmara Cível do 1º TACSP, relatado por José Roberto

BEDAQUE, como se ressai da seguinte passagem

Neste estágio processual, o autor teria satisfeito a pretensão deduzida na exordial?

Claro que não. Precisamos agora de um novo processo para a execução do título judicial.

Deflagra-se nova relação processual, agora objetivando a constrição judicial em bens do

devedor, para posterior arrematação e pagamento do credor. Efetivada a penhora, abre-se a

possibilidade de o executado interpor embargos à execução, dando-se azo, novamente, à

instauração incidental de um novo processo de conhecimento, asseguradas todas as

garantias processuais (e constitucionais) dos contendores. Novamente profere-se decisão de

8 Marinoni. A antecipação de tutela. p.170.9 Cruz e Tucci, Jr; lineamentos da nova reforma do CPC, 02º edição, São Paulo ed. Malheiros, 1995; p. 105.

Page 17: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

17

mérito, a qual, também, estará sujeita à recurso de apelação, onde, em algumas hipóteses (e

artimanhas)poder-se-á obter o duplo efeito. Processo sobre a Segunda instância e,

eventualmente, até os Tribunais Superiores. Retoma com novo trânsito em julgado para a

final satisfação da pretensão executória 10.

Essa “via crucis” não duraria menos de um decênio. Com essa reprodução do

modelo pregado pelo direito romano, onde se protegia escancaradamente o réu, em

detrimento do autor, não havia como ser um processo justo, razoável e muito menos

efetivo.

Veio então, com vistas a solucionar estes problemas, a Lei 8952 de 13/12/1994, que

alterou o Código do Processo Civil e provocou radical modificação no Artigo 273, com

alteração integral do texto, o permitiu que fosse introduzido no sistema processual o

instituto que passou a ser denominado de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional de

mérito, ou, simplesmente, tutela antecipada.

O que se espera com a tutela antecipada é que a velha concepção de Chiovenda, no

sentido de que o processo deve proporcionar ao interessado tudo e exatamente aquilo que

tem o direito de obter, seja efetivamente atingida, logrando êxito na busca desse ideal, para

que o que é essencial, a par da efetividade do processo, a tempestividade da tutela

jurisdicional.

O poder jurisdicional monopolizado pelo Estado demonstrou, com o acumular dos

anos, a sua precariedade para a proteção tutelar desejada, parte pelo acúmulo de processos

em decorrência de uma busca cada vez maior do Poder Judiciário e parte pelo fato de que

os atos processuais, que visam garantir o livre exercício do direito de defesa e o devido

processo legal transformaram-se num emaranhado de atos e recursos que, se por um lado

propiciam a formação da verdade material, por outro prejudicam a celeridade processual.

10 Exemplo adaptado do texto Antecipação da Tutela: utopia ou realidade de Edgard António Lippmann Jr.

Page 18: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

18

A questão da demora do processo tomou-se ponto de estrangulamento do processo

civil. A parte, que tem o direito de obter da atividade jurisdicional tudo aquilo que deveria

obter se a ela não tivesse que ter recorrido (como lembramos inicialmente, desde que houve

a proibição da autotutela pelo próprio Estado, chamando para si a obrigação de prestar a

jurisdição) não vinha obtendo a resposta satisfatória da atividade jurisdicional. Em milhares

de casos espalhados pelo Brasil, como o que apresentamos anteriormente, tem-se

constatado que quando a parte finalmente tem acesso ao produto final da jurisdição, que é a

realização do direito material posto em discussão no processo, o resultado final pouco ou

nada lhe será útil ou lhe terá mais alguma serventia objetivada no início da lide, diante do

transcurso de longos anos, entre o ajuizamento da ação e a efetividade da prestação

jurisdicional.

Para o Estado, diante de tal situação sobrariam duas alternativas: uma, aos nossos

olhos mais correia e eficaz, por ser definitiva, que seria uma mudança no aparelhamento

estatal com vistas à modernização do Judiciário, e outra, a criação de uma lei que minorasse

os efeitos da situação vigente e retirasse do Estado ou remediasse em face deste a pecha de

um Estado moroso e um Judiciário, por consequência “inchado.”

Sobre isso falou Dorival Renato Pavan:

Para o Estado, parece-me, foi mais interessante simplesmente

modificar a lei, o que o liberou da preocupação de ter que

modificar a estrutura do próprio Estado no que diz respeito à

atividade jurisdicional. Modificar a lei é bem mais simples e

econômico do que gastar dinheiro com a modernização do

Judiciário, se bem que a modificação na estrutura do processo de

conhecimento, como ainda se verá, também se fazem necessária. O

ideal, que seria a modificação tanto da estrutura do Judiciário,

quanto da estrutura do processo de conhecimento, não foi atingido,

posto que o Judiciário não funciona a contento, estando

desaparelhado, como realmente está, e agora em total descompasso

Page 19: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

19

com a legislação no que diz respeito a sua absoluta falta de

estrutura para atender ao comando emergente da norma11.

É o Estado Brasileiro, que de “remendos” tenta prosseguir sem uma reforma justa e

completa do nosso Poder Judiciário.

Então, com o propósito de minorar a morosidade da justiça, o CPC sofreu

alterações de maior importância, é certo que, bem compreendidas e aplicadas, virão atender

plenamente aos reclamos dos jurisdicionados, mantendo-nos na vanguarda das modernas

legislações processuais. Essas alterações, no entanto, só terão êxito assegurado, se houver,

de um lado, postulações responsáveis, e, de outro, o exercício de uma jurisdição igualmente

responsável.

2.2 - Conceito e Natureza Jurídica

Nelson Nery Jr. conceitua a tutela antecipatória dos efeitos da sentença de mérito

como a providência que tem natureza jurídica mandamental, que se efetiva mediante

execução lato sensu, com o objetivo de entregar ao autor, total ou parcialmente, a própria

pretensão deduzida cm juízo ou os seus efeitos. Comenta ainda: “É tutela satisfativa no

plano dos fatos, já que realize o direito, dando ao requerente o bem da vida por ele

pretendido com a ação de conhecimento 12”.

A decisão que antecipa a tutela tem natureza constitutiva com vista a gerar efeitos

imediatos, desde que presentes os pressupostos elencados. Sua execução ocorre de

imediato, equiparando-se aos provimentos judiciais de caráter mandamental, razão porque

se distingue tanto da figura da execução provisória, como também da execução

propriamente dita, como ainda daquelas específicas de obrigação de fazer e não fazer,

contidas na inovação inserida pelo art. 461 do CPC.

11 PAVAN, Dorival Renato, e CARVALHO, Cristiane da Costa. Tutela Antecipada em face da Fazenda Pública para recebimento de verbas de cunho alimentar. RP n.º 91. P. 13712 NERY JÚNIOR, Nelson. NERY, Rosa Andrade. Código de Processo Civil Comentado

Page 20: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

20

2.3 - Requisitos

Para uma melhor análise dos requisitos da tutela antecipada, faz-se mister a leitura

do artigo 273 do CPC que assim dispõe13:

O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou

parcialmente os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial,

desde que, existindo prova inequívoca, se convença da

verossimilhança da alegação e:

I - Haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação; ou

II - Fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou manifesto

propósito protelatório do réu.

§ 1° Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo

claro e preciso, as razões do seu convencimento.

§ 2° Não se concederá a antecipação da tutela quando houver

perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.

§ 3° A execução da tutela antecipada observará, no que couber, o

disposto nos incisos II e III do Art. 588.

§ 4° A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a

qualquer tempo, em decisão fundamentada.

13 Segundo Nelson Nery Jr., a redação do “Caput” do CPC 273 comporta um pequeno reparo, pois se utiliza do pleonasmo “pedido inicial”, quando não há pedido que não seja deduzido por petição inicial

Page 21: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

21

§ 5° Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o

processo até o final do julgamento.”

§ 6 º A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um

ou mais dos pedidos cumulados, ou parte deles, mostrar-

seincontroverso.

§ 7º Se o autor, a Título de antecipação de tutela, requerer

providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presente os

respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar incidental do

processo ajuizado.

A partir do exame deste texto legal, toma-se possível à formulação dos requisitos da

tutela antecipada. São eles: a) requerimento da parte; b) antecipação total ou parcial; c)

fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; d) abuso de direito de defesa ou

manifesto propósito protelatório; e) perigo de irreversibilidade; f) fundamentação do ato

decisório atinente à antecipação da tutela; g) caráter de provisoriedade da tutela antecipada;

h) não extinção do processo; i) verossimilhança; j) prova inequívoca.

Trataremos, separadamente, de cada um destes requisitos elencados acima.

A) requerimento da parte ( Legitimidade para requerer):

A princípio, podemos dizer que somente o autor pode pleitear a antecipação da

tutela 14. Porém, sabemos que as relações processuais são dotadas de grande dinamicidade o

que nos leva a contemplar outras possibilidades. Assim, a antecipação da tutela é estendida,

em tese, a todos aqueles que deduzem pretensão em juízo, como, por exemplo, o

denunciante na denunciação da lide; o opoente, na oposição; ao autor da ação declaratória

incidental (CPC, arts. 5 e 325).

14 DINAMARCO, Cândido Rangel, A reforma do CPC, 02º edição, Ed. Malheiros, 1995.

Page 22: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

22

Poderão também se beneficiar da tutela antecipatória o assistente simples do autor

(CPC art. 50), desde que o assunto não se oponha, e o réu, quando “contra-ataca” através da

reconvenção. Isso, porque, como já sabemos, o réu quando reconvém torna-se autor da ação

de reconvenção.

B) Antecipação total ou parcial:

Podemos dividir a antecipação da tutela em total e parcial.

A antecipação total dos efeitos da tutela condenatória consiste na antecipação do

efeito executivo da tutela de condenação, que toma viável a antecipação da realidade

forçada do direito afirmado pelo autor.

Já a antecipação parcial dos efeitos da tutela nada mais é do que a antecipação do

efeito executivo para a antecipação da realidade forçada do direito afirmado.

C) Fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação:

Deste requisito, trata o inciso I do art. 273 da CPC.

O fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, encontra situação

análoga no art. 798 do CPC que trata da “lesão grave e de difícil reparação” pertinente ao

processo cautelar. Isso porque, em ambos, existe a carência de uma tutela de urgência.

O “receio”, aludido na lei, traduz a apreensão de um dano não ocorrido, mas prestes

a ocorrer, pelo que deve, para ser fundado, vir acompanhado de circunstâncias fáticas

objetivas, a demonstrar que a falta da tutela dará ensejo à ocorrência do dano, e que este

será irreparável ou, pelo menos, de difícil reparação. Sendo o receio, um sentimento de

índole subjetiva, deverá ser ele analisado com bastante cautela. O “fundado receio”

significa temor justificado, que possa ser objetivamente demonstrado com fatos e

circunstâncias e não apenas uma preocupação subjetiva.

Page 23: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

23

Neste requisito, retoma-se o conceito do “periculum in mora”, do processo cautelar.

Disso podemos concluir que, os mesmos princípios, abundantemente versados pela

doutrina e aplicadas pela jurisprudência, relativos ao “periculum in mora”, serão aplicados

quando houver o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

Sobre tal requisito, achamos bastante oportuna a transcrição do comentário de

Cândido Rangel Dinamarco que, com muita propriedade, diz: “No juízo equilibrado a ser

feito para evitar a transferência para o réu dos problemas do autor, o juiz levará em conta o

modo como a medida poderá atingir a esfera de direitos daquele, porque não lhe é lícito

despir um santo para vestir outro15”.

D) Abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório:

A inserção do inc. II no art. 273 demonstra a preocupação do legislador com os

efeitos que a litigância de “má-fé” pode acarretar.

Tal disposição de lei, ratifica o princípio de que a boa - fé deve presidir, de forma

perene, a prática dos atos processuais e as relações entre as partes no processo. Seu

principal objetivo foi evitar que o uso de vias judiciais retardasse a prestação jurisdicional,

com defesa infundada, contrária, muitas vezes, até à jurisprudência sumulada em última

instância.

Logo, podemos afirmar que haverá abuso de direito de defesa ou manifesto

propósito protelatório do réu sempre que a jurisprudência se firmar em determinado

sentido, nas Cortes superiores de Justiça, mormente através de orientação sumulada, e o

demandado insistir em negar, através de contestações estereotipadas, o direito do autor,

com o único propósito de retardar a prolação da sentença de mérito.

15 DINAMARCO, Cândido Rangel, A reforma do CPC, 02º edição, Ed. Malheiros, 1995.

Page 24: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

24

É oportuno lembrar, contudo, que, segundo o entendimento da jurisprudência, não

há litigância de má-fé na apresentação dos recursos previstos em lei, exceto se nitidamente

protelatórios, como por exemplo, com discussão de matéria já preclusa.

E) Perigo da Irreversibilidade:

Sobre este requisito parece-nos mais acertado reforçar a crítica com a qual a maioria

dos autores parece concordar: o parágrafo 2° do artigo 273 fala em irreversibilidade do

provimento. Porém, segundo a doutrina majoritária, o provimento nunca é irreversível, na

verdade, são as consequências de fato ocorridas pela execução da medida, ou seja, os

efeitos decorrentes de sua execução.

Assim que a irreversibilidade não é óbice intransponível à concessão do

adiantamento, pois, caso o autor seja vencido na demanda, deve indenizar a parte contrária

pelos prejuízos que ela sofreu com a execução da medida.

F) Fundamentação do ato decisório atinente à antecipação da tutela:

Neste requisito não reside nenhuma novidade. Como já sabemos, a motivação das

decisões judiciais é um dos muitos princípios que regem o processo.

Destarte, sendo a antecipação da tutela uma decisão, ainda que provisória, não deve ser

diferente o tratamento dado pelo juiz na fundamentação desta.

G) Caráter de provisoriedade da tutela antecipada:

Como dissemos anteriormente, a tutela antecipada possui caráter provisório que é

facilmente constatado com uma rápida análise do parágrafo 4° do art. 273. Segundo o texto

legal, a tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo. Isso ocorre

porque a antecipação de tutela não constitui, ainda, a decisão da causa, o que só ocorrerá

com a sentença de mérito, após regular instrução do feito, com a observância do

contraditório.

Page 25: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

25

É importante não olvidar que a tutela antecipada é um provimento emitido a

requerimento de uma das partes (o autor), para valer em face da outra (o réu), pelo que sua

revogação ou modificação, a qualquer tempo, tal como previsto no § 4° do art. 273 do CPC,

depende, igualmente, de requerimento da parte. Logo, se a antecipação da tutela não é

concedida de ofício, não pode, ser modificada ou revogada de ofício, o que também só

ocorrerá, se tiver havido mudanças nas circunstâncias que determinam o provimento.

H) Não extinção do processo:

A leitura do § 5° deixa claro que o processo não se extingue com a tutela

antecipada, pelo contrário, deve prosseguir até o final julgamento.

Justamente por se tratar de um “pré –julgamento”, o juiz deverá proceder a cognição

sumária para apreciar o pedido da tutela antecipada. Logo, pelo fato de ser sumária a

instrução que precede a tutela antecipada, diferencia- se esta da sentença, que requer,

sempre, como ensina Sérgio Monteiro de Andrade: “instrução euxariente 16”.

Constata-se, pois, que a antecipação da tutela encontra-se condicionada à

verossimilhança, enquanto a sentença exige o conhecimento da verdade formal, isto é,

aquela que resulta prova dos autos, mas que nem sempre coincide com a verdade real.

I) Verossimilhança

Não despretenciosamente, deixamos o requisito da verossimilhança como dos

últimos a serem analisados.

Etimologicamente, verossimilhança corresponde àquilo que é verossímil, ou seja,

semelhante à verdade, que tem “aparência” de verdade. Porém, a análise etimológica da

expressão não é o bastante para um bom entendimento da sua aplicação no universo

16 Jurisprudência Temática. Tutela Antecipada. RT 740/164.

Page 26: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

26

jurídico, porquanto, já sabemos, a simples aparência pode corresponder à verdade. Isso

explica o motivo pelo qual parte da doutrina identifica a verossimilhança à “mera aparência

de direito”, a “credibilidade” e o “fumus boni iuris” (fumaça do “bom” direito).

Quando o texto do “caput” do art. 273 fala em “verossimilhança da alegação”, quer

dizer que o juiz não depende necessariamente de provas para formar seu convencimento, se

a pretensão se assenta em fatos incontestes, não carentes de demonstração, caso em que a

atividade cognitiva detém-se no simples exame do direito.

Podemos concluir que, diante de uma alegação, a verossimilhança se assenta num

juízo de probabilidade, que resulta, por seu turno, da análise dos motivos que lhes são

favoráveis (convergentes) e dos que lhes são contrárias (divergentes). Se os motivos

convergentes são superiores aos divergentes, o juízo de probabilidade cresce; se os motivos

divergentes são superiores aos convergentes, a probabilidade diminui.

É importante ressaltar que, como acentua J. E. Carreira Alvin17, o conceito de

verossimilhança depende do subjetivismo de cada autor, e continuará a depender do de cada

juiz no momento de decidir sobre o pedido de antecipação da tutela.

J) Prova inequívoca:

Podemos conceituar prova inequívoca como aquela que apresenta um grau de

convencimento tal que, a seu respeito, não se possa ser levantada qualquer dúvida, ou, em

outros termos, cuja autenticidade ou veracidade seja provável.

Retomando esta idéia da probabilidade podemos traçar um interessante paralelo

entre a prova inequívoca e a verossimilhança. Nessa linha de raciocínio, parece-nos mais

acertada a opinião de Cândido Rangel Dinamarco18, que é quem melhor sintetiza o

entendimento a respeito:

17 Carreira Alvim, J.E, A reforma do CPC, Ed. Impetus, 2005.18 DINAMARCO, Cândido Rangel, ibidem.

Page 27: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

27

Aproximando as duas concepções formalmente contraditórias contidas no

artigo 273 do CPC (“prova inequívoca” e “convence-se da

verossimilhança”), chega-se ao conceito de probabilidade, portador de

maior segurança do que a verossimilhança. Probabilidade é a situação

decorrente da preponderância dos motivos convergentes à aceitação de

determinada proposição, sobre os motivos divergentes. As afirmativas

pesando mais sobre o espírito da pessoa o fato é provável; pesando mais

as negativas, ele é improvável (Malesta). A probabilidade, assim

conceituada, é menos que a certeza, porque lá os motivos divergentes não

ficam afastados, mas somente suplantadas, e é mais que a credibilidade

ou verossimilhança, pela qual na mente do observador os motivos

convergentes e os divergentes comparecem em situação de equivalência

é, se o espírito não se anima a afirmar, também não ousa negar.

Desse modo, conclui-se que, para conciliar as expressões “prova inequívoca” e

“verossimilhança”, aparentemente contraditórias, exigidas como requisitos para a

antecipação da tutela de mérito, é preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre elas, o que

se consegue com o conceito de probabilidade, mais forte do que a verossimilhança, mas não

tão peremptório quanto o de prova inequívoca.

Page 28: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

28

3 - CAPITULO III

3 - DA TUTELA ANTECIPADA NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

3.1 - Evolução da tutela nas obrigações de fazer e não fazer

Com efeito, o art. 1.144 do Código Francês dispunha, a propósito da matéria

pertinente à obrigação de fazer (como já devidamente), que o credor, no caso de

inexecução, poderia ser autorizado a, ele mesmo, fazê-la executar a expensas do devedor.

E, no caso de obrigação de não fazer, o art. 1.143 assegurava ao credor o direito de

demandar a destruição de tudo aquilo que fosse realizado pelo devedor em desrespeito à

convenção; e permitia ao credor obter autorização para, ele mesmo, proceder à destruição, a

expensas do devedor.

O Código Civil brasileiro contém iguais previsões nos artigos 881 e 883, ou seja,

em se tratando de obrigação positiva, "se o fato puder ser executado por terceiro, será livre

ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora"; e, em se

tratando de obrigação negativa, "praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara,

o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o

culpado perdas e danos".

O que havia, antes da reforma do art. 461 era a dificuldade de obter a execução, in

natura, que somente poderia dar-se, em juízo, após o trânsito em julgado da sentença

condenatória e dentro de um complicado procedimento executivo (arts. 634, 637 e 642-

Page 29: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

29

643). No mais das vezes, o que prevalecia, pela inoperância e complexidade do

procedimento legal, era o recurso à execução indireta, contentando-se o credor em reclamar

problemáticas e insatisfatórias perdas e danos.

As inovações do art. 461 do CPC não vieram modificar as regras materiais das

obrigações de fazer e não fazer, pois estas já consagravam o cabimento da execução

específica, desde que se tratasse de obrigação fungível (isto é, realizável "por terceiro", no

lugar do devedor). O grande marco da reforma está em facilitar e tornar mais efetivo o uso

da execução específica de tais obrigações.

Até mesmo as obrigações infungíveis, antes do Código de 1973 e ainda no regime

do Código de 1939, já contavam com a execução indireta, ou seja, com um processo que

usava a cominação de multas para coagir ao credor a realizar a prestação devida in natura.

Era a antiga ação cominatória, em que a multa poderia ser cominada na própria citação do

réu (CPC, de 1934, arts. 302, XII, e 303, caput ). Não é novidade, destarte, a preocupação

do ordenamento jurídico pátrio com a execução específica das obrigações de fazer e não

fazer.

Assim, o caput do art. 461, ao contrário do que pretendia o direito francês do Século

XIX, coloca em último plano a conversão em perdas e danos, e dá garantia ostensiva ao

direito do credor de exigir, em juízo, o cumprimento in natura da prestação devida, ou de

algo que praticamente a ela eqüivalha.

O Art. 461 não teria evoluído se tivesse sido concebido somente como meio de

garantir acesso à complicada execução forçada dos arts. 634 e ss do CPC.

Procurou o legislador, ao contrário, assegurar para o credor um julgamento que

propiciasse, dentro do possível, a prestação ´in natura´ e ainda no âmbito do processo de

conhecimento obter tutela diferenciada, que, diante de particularidades do caso concreto,

pudessem reforçar a exeqüibilidade da prestação específica pleiteada a fim de satisfazer a

execução.

Page 30: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

30

Com efeito, a men legis em relação ao cumprimento da obrigação de fazer ou não

fazer residia-se no fato de compelir o devedor a satisfazer a obrigação (evitando-se a não

menos famosa conversão em perdas e danos), materializada através do art. 461 do Código

de Processo Civil o qual explicitou a tutela específica para cumprimento de obrigação (leia-

se de fazer ou não fazer), prevendo inclusive multa pecuniária par o caso de

descumprimento, ora denominada astrient (art. 461, § 4, do CPC).

Desta forma, importante observar as similitudes entre as tutelas específicas oriundas

do CPC, haja vista que o intuito destas serão compelir o devedor (ou terceiro co-obrigado) a

executar determinada obrigação.

Quando a obrigação for de dar poderemos utilizar da tutela antecipatória prevista

no art. 273 do Código de Processo Civil, ao passo que quando estivermos diante das

obrigações de fazer ou não fazer poderemos utilizarmos da tutela específica do art. 461 do

Código de Processo Civil.

Importante frisar que após a analise mais aprofundada das referidas tutelas

poderemos perceber, através de um simples cotejo analítico, que tais institutos, apesar de

sua natureza e criação, acabam por prestar grande efetividade ao direito subjetivo

demandado, acarretando, por conseguinte, na efetividade e celeridade da tutela

jurisdicional, como restará demonstrado no capitulo posterior.

Antes de adentrarmos ao mérito do IV capítulo, entendemos por oportuno

esclarecer a dinâmica da execução referente a tutela do art. 461 do CPC, a fim de

possibilitar ao leitor uma visão mais abrangente do instituto.

3.2 - Modalidades de execução

O processo de execução é programado para proporcionar ao credor a satisfação

efetiva de seu direito subjetivo, mediante resultados práticos que correspondam à prestação

descumprida pelo devedor, ou que a compensem por equivalentes econômicos. Os atos de

satisfação específica, porém, nem sempre são praticáveis pelos agentes do judiciário. Por

Page 31: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

31

isso, às vezes, os atos da execução forçada se limitam a realizar a prestação. Nesse sentido,

pode-se falar em:

a)execução própria, que visa resultados materiais satisfativos diretamente por obra

dos agentes executivos estatais; e

b)execução imprópria, cujos atos não compreendem a realização direta da

satisfação do direito subjetivo do credor, mas apenas exercem coação para levar o devedor

a adimplir.

Na execução própria, outrossim, pode acontecer: a) a execução específica,

mediante entrega do bem devido, in natura; e b) a execução sub-rogatória, quando se

proporciona algo diverso ao credor, mas que equivalha, em sentido prático, à prestação

devida, ou que, pelo menos, indenize a falta da prestação específica.

A reforma do art. 461 do CPC se fez com o evidente e confessado propósito de

imprimir novo ritmo e nova eficiência ao processo de execução, no caso das problemáticas

obrigações de fazer e não fazer.

Nesse campo, o procedimento inovado da execução se caracteriza pela preocupação

de proporcionar, sempre que possível, a execução específica, e, para tanto, são previstos:

a)medidas sub-rogatórias, as mais variadas, cuja prática imediata, pode até

dispensar a actio iudicati, proporcionando, ainda dentro do processo de conhecimento, a

imediata satisfação do direito do credor;

b)a "astreinte" - multa diária aplicável, de ordinário, após a sentença, ou

antecipadamente, nos casos de relevância da pretensão e do risco de frustração da sentença,

caso se tenha de aguardar o trânsito em julgado da condenação. Aqui, o procedimento

executivo para exigir a multa, será o das execuções por quantia certa (art. 461, § 4º do

CPC);

Page 32: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

32

c)quando as medidas sub-rogatórias não puderem substituir totalmente a actio

iudicati, o juiz poderá servir-se delas para simplificar ou amoldar o complexo procedimento

normal das execuções de fazer às peculiaridades do caso concreto;

d)além da multa, vários meios de apoio podem ser empregados no reforço da tutela

específica, utilizáveis tanto na antecipação de tutela como na execução normal após a coisa

julgada; meios estes aplicáveis de forma mandamental, de modo a dispensar, a seu respeito,

o rito da actio iudicati.

O art. 461 não teria maior significação se tivesse sido concebido apenas como meio

de garantir o acesso à complicada execução forçada dos arts. 634 e seguintes do CPC, dado

que é notória sua complexidade bem como sua escassa aptidão prática para levar

rapidamente o credor à satisfação in natura de seu direito.

O que, em primeiro lugar, visou o legislador, no novo texto do art. 461, foi

assegurar para o credor um julgamento que lhe propiciasse, na medida do possível, a

prestação in natura, e ainda no âmbito do processo de conhecimento, obter medidas de

tutela diferenciada, que, diante de particularidade do caso concreto pudessem reforçar a

exeqüibilidade da prestação específica e, se necessário, abreviar o acesso à satisfação de

seu direito material.

Não se pode pretender que a execução forçada dos arts. 634 e seguintes do CPC

tenha sido suprimida pela adoção da nova sistemática do art. 461. Nem sempre o juiz usará

a tutela antecipada, que mesmo para as obrigações de fazer e não fazer continua

subordinada às regras gerais do art. 273. Outras vezes, o uso de faculdades criadas pelo art.

461 servirá para determinar apenas o que será o objeto da execução do art. 634 e como ele

será aplicado a seu tempo, ou seja, após a coisa julgada .

Muitas vezes, porém, acolhida a antecipação de tutela em moldes de maior

amplitude, pelas características do caso concreto - como, por exemplo, no caso de

demolição autorizada antecipadamente, ou de conclusão de obra, em igual conjuntura -

totalmente afastada ficará a observância posterior da execução forçada tradicional. Aliás, a

feição interdital do processo de conhecimento autorizada genericamente pelo art. 273, e não

Page 33: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

33

apenas especificamente pelo art. 461, traz como conseqüência à possibilidade de as duas

funções jurisdicionais - conhecimento e execução - fundirem-se num mesmo processo.

Numa só relação processual o juiz acerta o direito da parte e o realiza, de sorte que a

sentença, diante da tutela executiva antecipada, em sendo procedente a demanda, se

limitará a tornar definitiva a providência satisfativa já tomada em favor do autor.

Desaparecerá a actio iudicati, por falta de objeto.

Pode-se concluir que o art. 461, posto que incluído entre as normas do

processo de conhecimento, não se limita a propiciar apenas atividade cognitiva ou de

acertamento. Em princípio, sim, o processo apoiado no art. 461 continuará sendo de

acertamento e o juiz cuidará de definir o direito da parte e de assegurar-lhe

convenientemente a execução específica para depois da sentença. Casos, porém, ocorrerão

em que os provimentos antecipatórios e as medidas de apoio se concretizarão ainda na

pendência do processo de conhecimento, eliminando-se, praticamente, a separação, em

processos autônomos e distintos, entre cognição e execução.

3.3 - Síntese acerca da tutela antecipatória do art. 461

O regime atual da tutela das obrigações de fazer e não fazer, no direito processual

brasileiro, apresenta-se com as seguintes características:

a) a execução específica é a prioridade do sistema; o credor somente será remetido

para o equivalente econômico (perdas e danos) se for impossível chegar-se à prestação

devida, ou se for opção sua;

b)a sistemática inovadora instituída pelas medidas coercitivas e sub-rogatórias do

art. 461 se insere no plano das tutelas diferenciadas, e como tal, convive com a execução

tradicional das obrigações de fazer e não fazer. Às vezes a elimina, outras vezes a

complementa e reforça;

Page 34: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

34

c)a possibilidade de usar medidas satisfativas em caráter de antecipação de tutela

pode dar ao processo feitio interdital; conhecimento e execução podem ocorrer numa única

relação processual, eliminando a actio iudicati (execução de sentença por outra ação) 19;

d)as astreintes podem ser impostas para reforço da sentença, caso em que incidirão

após a coisa julgada e já no bojo da execução forçada; podem, também, ser aplicadas como

parte do expediente de antecipação de tutela, tornando-se exigíveis de imediato, antes

mesmo da sentença definitiva ;

e)a antecipação de tutela figura como mecanismo importante para alcançar a tutela

específica das obrigações de fazer e não fazer, mas não assume a categoria de liminar

manejável discricionariamente pela parte e pelo juiz (45). Como medidas satisfativas, estão

sujeitas aos requisitos gerais do art. 273 do CPC que devem ser conjugados com os do art.

461; ou seja, como reforço da execução de sentença são adicionáveis, sem maiores

exigências ao procedimento executivo comum; mas como antecipação de tutela, somente as

condições especiais arroladas no art. 273, especialmente o perigo de dano grave e de difícil

reparação e a necessidade de preservar-se a reversibilidade, podem autorizar a quebra do

contraditório e a agressão patrimonial antes da exaustão da ampla defesa, e da formação da

coisa julgada. Há, na verdade, uma teoria geral a ser observada em todos as tutelas de

urgência, sejam cautelares, sejam antecipatórias, e principalmente nestas últimas. Não se

altera o devido processo legal, sem que razões sérias e excepcionais o exijam e justifiquem;

f)a tutela específica é proporcionável à parte não só pela realização exata da

prestação a que se obrigou o devedor, como também por meio de outras providências que,

no efeito prático, produzam resultado equivalente; quer isto dizer que, antes de submeter o

credor a aceitar o equivalente econômico, deve-se tentar obter resultados práticos que,

mesmo não sendo exatamente a prestação devida, a ela se equiparem;

g)a aplicação das medidas de cunho sub-rogatório e coercitivo autorizados pelo § 5º

do art. 461 do CPC se dá por meio de procedimento mandamental, isto é, por ordem do juiz

19 Ferreira, W.S, Tutela Antecipada no âmbito Recursal. São Paulo, RT, 2000, p. 53.

Page 35: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

35

exequível de plano, inclusive com apoio de força policial, se necessário; não se sujeitam

tais providências, ao procedimento normal das execuções forçadas 20;

h)o caráter mandamental, porém, aplica-se às medidas de apoio e não à sentença

final condenatória; esta será executada normalmente, após a coisa julgada, segundo o

procedimento adequado à prestação imposta pela condenação; não poderá, então a sentença

ser imediatamente posta em execução, se a apelação for interposta com o duplo efeito legal;

em outros termos: o art. 461 autorizou medidas cautelares e antecipatórias, a serem exigidas

do réu sob forma mandamental, mas não tornou a sentença final provimento de ação

mandamental fora do alcance normal dos efeitos da apelação e capaz de autorizar sempre a

execução provisória antes do julgamento do referido recurso;

i)as medidas do art. 461, § 5º, são enunciadas em caráter exemplificativo, de sorte

que o juiz pode lançar mão de outros expedientes não previstos expressamente em lei,

desde que necessários e compatíveis com a execução a ser implementada; a escolha e

delimitação do alcance da medida coercitiva ou sub-rogatória deverão dar-se dentro dos

padrões ditados pelos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; só se deferirão,

nessa ordem de idéias, medidas necessárias e que não submetam o devedor a

constrangimentos injustificáveis, diante do objetivo da tutela específica;

j)a aplicação da multa diária, pode ocorrer de ofício, ou a requerimento da parte;

mas as medidas do § 5º do art. 461 só se deferem a requerimento da parte. Em se tratando

de medidas excepcionais, de caráter satisfativo, somente quando a lei as tenha autorizado

expressamente, como se fez em relação às astreintes (§ 4º), é que se terá o juiz como

autorizado a tomá-las ex officio.

3.4 - BREVES CONSIDERAÇÕES AO ART. 461 DO CPC

O drama da justiça estatal é o de atuar de maneira a corresponder à confiança que

nela deposita aquele que se considera vítima de lesão jurídica. A prestação jurisdicional,

para ele, é quase sempre a última esperança.

20 Marinoni. A Antecipação de Tutela, p.45 – 46.

Page 36: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

36

A tutela específica e as medidas antecipatórias e sub-rogatórias que a completam

não podem falhar, seja por omissão do órgão judicial, seja por uso injustificado e, portanto,

abusivo. Em qualquer caso o que se desmerecerá, perante o jurisdicionado e ainda no

consenso social, será a própria justiça a quem a ordem constitucional confiou a manutenção

da ordem jurídica e a realização da tutela a todos os direitos subjetivos violados ou

ameaçados. Perder-se a confiança na justiça é o último e pior mal que pode assolar o Estado

Democrático de Direito.

3.5 - COTEJO ENTRE O SISTEMA DO ART. 273 E 461 DO CPC.

Aparentemente, o CPC teria adotado dois regimes distintos de antecipação de tutela

nos arts. 273 e 461, de fato, no art. 273 exige-se que a parte apresente prova inequívoca

conducente à verossimilança do alegado, comprove perigo de dano de difícil reparação e

que os efeitos da providência a ser antecipada não sejam irreversíveis.

Já no art. 461 a lei reclama, como condição da tutela antecipada, a relevância do

fundamento da demanda e o justificado receio de ineficácia do provimento final, caso não

se adiante a prestação jurisdicional provisoriamente. Ora, falar-se em relevância do

fundamento não é outra coisa que exigir-se a verossimilhança de tudo o que arrola o autor

para pretender a tutela jurisdicional. Não há, portanto, diferença profunda, no aspecto do

fumus boni iuris, entre o art. 273 e o art. 461.

Quanto à situação de perigo é exatamente a mesma nas duas hipóteses: o risco de

dano grave e de difícil reparação, de que fala o art. 273 é justamente o fundado temor de

que o provimento final se torne ineficaz, caso a medida do art. 461 não seja antecipada.

Correta, portanto, a observação de que os requisitos legais exigidos pelo art. 461

"estão mais para a tutela antecipatória do art. 273 do que para o processo cautelar. É que

estamos diante de tutela antecipatória e não de tutela cautelar .

A irreversibilidade é de exigir-se, como regra, porque a antecipação de tutela é

forma de execução provisória e toda execução da espécie tem de ser praticada de forma a

prever a eventualidade do retorno ao status quo ante.

Page 37: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

37

Mas, embora a lei arrole a irreversibilidade como obstáculo à antecipação de tutela,

a regra, tanto para o art. 273 como para o art. 461, deve ser interpretada como linha de

princípio e não como vedação irremovível. Em regra, não quer a lei que os efeitos da

medida antecipatória sejam irreversíveis. Mas, se o risco de lesão corrido pelo direito do

autor, também apontar para dano irreparável, se consumado, o juiz terá de fazer um balanço

entre as duas situações de perigo para decidir qual delas tutelar. Não poderá simplesmente

cruzar os braços em face da probabilidade de a prestação jurisdicional, pela falta de

prevenção, tornar-se uma completa inutilidade para a parte vencedora da causa.

CAPITULO IV

4 - AS TUTELAS ANTECIPATÓRIAS E A EFETIVIDADE DO PROCESSO

Antes de adentrarmos definitivamente ao cerne do presente capítulo,

cumpre esclarecer que a problemática da morosidade da justiça (não obstante os seus

inúmeros fatos geradores) tem importante correlação com os instituto da tutela

antecipatória, ao passo que, consoante a nossa tese, entendemos que a men legis deste

instituto acaba por corroborar em muito com a resolução de alguns problemas correlatos à

prestação da tutela jurisdicional.

Com efeito, importante salientar que a tutela antecipatória do art. 273,

quando deferida, resolve parcialmente o conflito de interesses posto em juízo (em alguns

casos), bem como a fixação das atrients nos casos de obrigação de fazer ou não fazer,

compelindo o devedor a satisfazer a obrigação.

Page 38: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

38

Desta forma, não obstante a evolução do instituto importante asseverar que o

mesmo veio a contribuir de forma singular para a efetividade do processo, ou melhor, da

prestação jurisdicional, estando em perfeita consonância com as diretrizes da

processualística moderna, dentre elas, a efetividade do processo.

Nesta seara, tentamos através do presente trabalho monográfico mostrar não

apenas todos os aspectos do instituto, evolução e principais alterações, bem com a sua

conexão com a efetividade do processo.

Destarte, surge a seguinte indagação? Apesar da correlação existente entre os

institutos da tutela antecipatória e a efetividade do processo poderíamos dizer que a criação

do instituto da tutela antecipatória acabou por benefiaciar a efetividade processual?

Com efeito, poderemos, após a dissertação dos institutos estudados chegarmos

a uma conclusão lógica sobre o instituto.

4.1 – INTRODUÇÃO

O termo efetividade advém do latim efficere, o qual significa produzir, realizar,

estar ativo de fato; de modo que, em se relacionando ao processo, a efetividade

corresponde, nos dizeres de EGAS MONIZ DE ARAGÃO, à "preocupação com a eficácia

da lei processual, com sua aptidão para gerar os efeitos que dela é normal esperar 21".

A questão da realização efetiva do processo vem tomando espaço, cada vez maior,

junto aos processualistas, que passaram a "preocupar-se com um valor fundamental, ínsito

à tutela dos direitos, qual seja, a imprescindibilidade da efetividade do processo, enquanto

21 ARAGÃO, E. D. Moniz. Efetividade do processo de execução. In: ASSIS, Araken de; OLIVEIRA, Carlos Alberto A. de (orgs). O processo de execução: estudos em homenagem ao Professor Alcides de Mendonça Lima. Porto Alegre : Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 127.

Page 39: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

39

instrumento de realização da justiça 22".

O Estado, na posição de titular da Jurisdição, assume importante papel, na medida

em que deve assegurar, a todos os cidadãos, a efetivação dos seus direitos, mediante o

instrumento do processo.

Neste contexto, apresenta-se o processo civil como instrumento para a realização da

Justiça e garantia dos direitos e dos interesses individuais. Assim, deve o processo

propiciar, à parte que lhe invocar, a efetividade do resultado que a mesma poderia alcançar,

caso lhe fosse permitido usar dos recursos próprios para exigir o cumprimento da lei. "É

que o processo, para realmente ser efetivo, deve ao menos tentar chegar ao mesmo

resultado prático que seria obtido se espontaneamente fossem observados os preceitos

legais23 ".

Ultimamente, a efetividade é tida como o maior desígnio do processo moderno, tal

como se nota nas palavras de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR24:

"O processo hoje, não pode ser visto como mero rito ou

procedimento. Mas igualmente não pode reduzir-se a palco de

elucubrações dogmáticas, para recreio de pensadores esotéricos. O

processo de nosso final de século é sobretudo um instrumento de

realização efetiva dos direitos subjetivos violados ou ameaçados. E de

22 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo na fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo : Revista dos Tribunais, 1997. p. 63

23 MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1993. p. 87-8824 Genesis - Revista de Direito Processual Civil [on line], Curitiba, nº 8, abr-jun/98. Disponível: http:/www.genedit.com.br/3rdpc/rdpc8/doutnac/humberto.htm [capturado em 31/10/99

25 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 5ª ed. São Paulo : Malheiros, 1996. p. 309-310).

26 SLAIBI FILHO, Nagib. Notas sobre a nova redação dada ao art. 557 do Código de Processo Civil pela Lei nº 9.756/98, p. 2. [on line] : http://www.teiajuridica.com/af/557nlei.html

Page 40: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

40

realização pronta, célere e pouco onerosa. Enfim, um processo a serviço

de metas não apenas legais, mas, também, sociais e políticas. Um processo

que, além de legal, seja sobretudo um instrumento de justiça. Assim, o

devido processo legal dos tempos de João Sem Terra tornou-se, em nossa

época, o processo justo." (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Execução.

Rumos atuais do processo civil em face da busca de efetividade na

prestação jurisdicional.

Cada vez mais, percebe-se que não basta, ao direito processual, a pureza conceitual

de seus institutos e de seus remédios, mas sim, deve ser observado o resultado prático que

tais institutos propiciam, pois, nos tempos modernos, o que se espera é um processo de

resultado que satisfaça a pretensão dos que o acionam.

CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO tem enfatizado a necessidade de se

estabelecer um novo método de pensamento, para o processualista e o profissional do foro,

conforme se observa:

"O que importa é colocar o processo no seu devido lugar, evitando

os males do exagerado processualismo (tal é o aspecto negativo do

reconhecimento do seu caráter instrumental) e ao mesmo tempo cuidar de

predispor o processo e o seu uso de modo tal que os objetivos sejam

convenientemente conciliados e realizados tanto quanto possível. O

processo há de ser, nesse contexto, instrumento eficaz para o acesso à

ordem jurídica justa25."

Todavia, apesar da crescente preocupação dos juristas quanto à efetividade do

processo, nota-se, também, acentuado interesse no que diz respeito à segurança jurídica

do processo, a qual deve, igualmente, ser observada e assegurada, para que não se atropele

princípios básicos do direito, como o devido processo legal.

Motivados nesses pensamentos, os Ministros do Superior Tribunal de Justiça, com o

apoio do STF, TST e do Legislativo Federal, tiveram a iniciativa de criar uma lei que

primasse pela agilidade recursal, visando minorar o acúmulo dos recursos, sobretudo dos

Page 41: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

41

que não possuem a menor condição de admissibilidade ou procedência, resguardando,

entretanto, o devido processo legal.

Destarte, procurou-se agilizar e simplificar as formas procedimentais, de

modo a ensejar, tanto quanto possível, a efetividade do processo como

pressuposto do Estado Democrático de Direito, tendo em vista que o processo é o

instrumento e não o fim da realização do Direito26.

4.2 - Do sincretismo processual advindo com as alterações do art. 273, § 6 e §7 do CPC.

Apenas a título de ilustração, importante salientar que a processualista moderna

avança com o desenvolver de nossa sociedade, exteriorizando-se tais mudanças através

através de nossa legislação.

Com efeito, frise-se que a evolução da processualista moderna, não apenas em sede

doutrinária, acaba por influenciar o legislador ordinário, acarretando na mudança de alguns

institutios, principalmente a partir do advento das Leis 10.253 e 10.358 ambas de 2001; e

mais recentemente das Leis 11.187/05; 11.232/05; 11.276/05; 11.277/05 e 11.280/05.

Desta forma podemos destacar a inclusão dos § 6 e § 7 ao art. 273 do CPC, sendo

certo que esta fora uma das maiores inovações do direito processual brasileiro até o final do

século XX.

Segundo ensinamentos do Mestre J. E. Carreira Alvim27, um dos pontos mais

importantes da reforma, veio através do § 7º do art. 273 do CPC, que é a manifestação de

lege lata do fenômeno denominado sincretismo processual. E complementa: O sincretismo

processual traduz a tendência do direito processual de combinar fórmulas e procedimentos,

de modo a possibilitar a obtenção de mais de uma tutela jurisdicional, simplicter et de plano

27 J. E. Carreira Alvim, Alterações do Código de Processo Civil, Ed. Impetus, 03º edição, Rio de janeiro, 2006, pág. 58.

Page 42: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

42

(de forma simples e de imediato), no bojo de um mesmo processo, com o que, além de

evitar a proliferação de processos, simplifica e harmaniza a prestação jurisdicional.

Desta feita, percebe-se, de plano, que o instituto da tutela antecipatória acompanha a

evolução doutrinária e legislativa acerca das inovações trazidas pela processualista modera,

principalmente relativas ao campo da tutela antecipatória, posto que, como observado, a

aludida tutela acaba por influenciar no campo da tutela antecipatória.

5 - CONCLUSÃO

Inicialmente cumpre esclarecer que o presente trabalho monográfico teve por

intuito analisar o instituto da tutela antecipatória, em suas variadas abrangências, abordando

os aspectos processuais mais relevantes pertinentes ao art. 273 e art. 461 do Código de

Processo Civil.

Não obstante, vemos que a problemática da morosidade de nosso judiciário, nos

dias atuais, tem trazido grande preocupação à sociedade brasileira, tendo em vista os

enormes prejuízos advindo de tal sistemática.

Com efeito, na contra-mão desta morosidade caminha as diretrizes doutrinárias e

jurisprudenciais da processualista moderna, ora fomentada pela direito alienígena,

principalmente o Italiano, dentre outros, acarretando em uma maior efetividade do

processo.

Page 43: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

43

Desta forma procuramos com a presente obra demonstrar ao leitor a

peculiaridades do referido instituto e sua interconexão para com a efetividade do processo.

Assim sendo, entendemos que a o instituto da tutela antecipada, fomentando pala

evolução doutrinária da processualística moderna, vem corroborando em muito para a

efetividade do processo, haja vista que tenta prover a parte o uma possível tutela que, via de

regra, só poderia ser concedida em um provimento final (leia-se: sentença), antecipando

parcialmente (em alguns casos) o provimento jurisdicional pretendido, evitando-se

eventuais lesões à parte que pleiteia tal pedido.

Importante observar que a morosidade de nosso judiciário tem sua gênese em

inúmeros aspectos, tanto administrativos, bem com de ordem legislativa (material e

processual).

Não obstante a situação fática supramencionada, importante salientar que o instituto

da tutela antecipatória, ao nosso sentir, colaborou em muito para a efetividade do processo,

ao passo que pode proporcionar as partes antecipação de uma pretensão (nos caos do art.

273), ou até mesmo a efetivação de um direito (nos casos das obrigações de fazer ou não

fazer, art. 461, face a coercibilidade das astrinets).

Diante do exposto, entendemos que o instituto da tutela antecipatória veio a

corroborar de forma singular para com a efetividade do processo, caminhando no mesmo

caminho da processualística moderna, ao passo que as alterações do CPC advindas nos

últimos anos, principalmente em relação a este instituto, só vem a corroborar para com a

tese supramencionada.

Em que pese a incapacidade de tal instituto em exaurir a morosidade do judiciário

(tendo em vista os inúmeros problemas existentes), acreditamos que este é essencial à

efetividade da justiça, pois proporciona ao requerente a possibilidade de ver sua pretensão

Page 44: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

44

satisfeita de forma mais célere, fazendo com que o processo encontre o seu fim perseguido,

que é dar aquele de direito a prestação jurisdicional mais ampla efetiva.

6 - BIBLIOGRAFIA

1- Lições de Direito Processual Civil; Câmara, Alexandre Freitas; Vol I; 08º edição; editora Lumem Iuris; ano 2003, pág. 111.

2- Lições de Direito Processual Civil; Câmara, Alexandre Freitas; Vol I; 08º edição; editora Lumem Iuris; ano 2003, pág. 112-115.

3 - Novos Perfis do Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Editora Dei Rey. 1996. P.23.

4- idem. p. 22

5 - idem p.23

6 - FERREIRA, Wilian santos; Tutela antecipada; ed. Renovar, 1994, p. 167.

7 - Dinamarco, C. A reforma do CPC; 02º edição, ed. Malheiros, 1995, p. 138.

8 - Marinoni. A antecipação de tutela. p.170

9 - Cruz e Tucci, Jr; lineamentos da nova reforma do CPC, 02º edição, São Paulo ed. Malheiros, 1995; p. 105.

Page 45: A TUTELA ANTECIPADA E A EFETIVIDADE DO … BARBOSA DE MELLO CHAVES...a morosidade do judiciário, originando-se inúmeras apontamentos acerca das causas desta morosidade. O legislativo,

45

10 - Exemplo adaptado do texto Antecipação da Tutela: utopia ou realidade de Edgard António Lippmann Jr.

11- PAVAN, Dorival Renato, e CARVALHO, Cristiane da Costa. Tutela Antecipada em face da Fazenda Pública para recebimento de verbas de cunho alimentar. RP n.º 91. P. 137

12 -NERY JÚNIOR, Nelson. NERY, Rosa Andrade. Código de Processo Civil Comentado

13 - Segundo Nelson Nery Jr., a redação do “Caput” do CPC 273 comporta um pequeno reparo, pois se utiliza do pleonasmo “pedido inicial”, quando não há pedido que não seja deduzido por petição inicial

14- DINAMARCO, Cândido Rangel, A reforma do CPC, 02º edição, Ed. Malheiros, 1995.

15 -DINAMARCO, Cândido Rangel, A reforma do CPC, 02º edição, Ed. Malheiros, 1995.

16 Jurisprudência Temática. Tutela Antecipada. RT 740/164.

17 Carreira Alvim, J.E, A reforma do CPC, Ed. Impetus, 2005.

18 DINAMARCO, Cândido Rangel, ibidem.

19 Ferreira, W. S, Tutela Antecipada no âmbito Recursal. São Paulo, RT, 2000, p. 53.

20 Marinoni. A Antecipação de Tutela, p.45 – 46.

21 - ARAGÃO, E. D. Moniz. Efetividade do processo de execução. In: ASSIS, Araken de; OLIVEIRA,Carlos Alberto A. de (orgs). O processo de execução: estudos em homenagem ao Professor Alcides de Mendonça Lima. Porto Alegre : Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 127.

22 - TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo na fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo : Revista dos Tribunais, 1997. p. 63

23 - MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1993. p. 87-88.

24 - Genesis - Revista de Direito Processual Civil [on line], Curitiba, nº 8, abr-jun/98. Disponível: http:/www.genedit.com.br/3rdpc/rdpc8/doutnac/humberto.htm [capturado em 31/10/99

25 - DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 5ª ed. São Paulo : Malheiros, 1996. p. 309-310).

26 - SLAIBI FILHO, Nagib. Notas sobre a nova redação dada ao art. 557 do Código de Processo Civil pela Lei nº 9.756/98, p. 2. [on line] : http://www.teiajuridica.com/af/557nlei.html

27 - J. E. Carreira Alvim, Alterações do Código de Processo Civil, Ed. Impetus, 03º edição, Rio de janeiro, 2006, pág. 58