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7/23/2019 A Tutela Da Evidência Recursal No Novo CPC
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22/12/2015 Um a tutel a nada evi dente: a tutel a da evi dênci a r ecur sal - JOTA
http://jota.info/uma-tutela-nada-evidente-a-tutela-da-evidencia-recursal 1/6
O
Por Andre Vasconcelos RoqueAdvogado. Doutor e mestre em Direito Processual pela UERJSiga Andre no Twitter
lá, amigo leitor!
Vou falar de algo que talvez já tenha percebido: aqueles que
estudam o processo civil, de uma forma geral, estão bastante motivados
com o novo CPC.
Isso não significa que todos considerem o novo CPC a solução para os
males que assolam a justiça brasileira. Acredito que esta coluna é um
bom exemplo disso. Não foram poucas as oportunidades em que eu e os
colegas que compartilham esse espaço endereçamos críticas ao novo
código.
A razão pela qual estamos motivados não está na qualidade intrínseca do
novo CPC, mas em algumas de suas potencialidades. Campo fértil para
novas discussões, soluções e preocupações. E o texto de hoje trata de
questão que somente foi percebida por mim após sucessivas leituras de
alguns dispositivos do novo CPC.
Trata-se de forma de tutela de evidência escondida nas entranhas do
novo CPC e que, por isso mesmo, não é nada evidente.
1. Desvendando uma nova forma de tutela da evidência
Uma tutela nada evidente: a tutela da
evidência recursalPublicado 15 horas atrás
7/23/2019 A Tutela Da Evidência Recursal No Novo CPC
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O novo CPC contempla, entre uma de suas principais inovações, a
disciplina da tutela de evidência (art. 311). Trata-se de espécie de tutela
provisória (art. 294) que dispensa a demonstração da urgência, ou seja,
do perigo de dano. Nas hipóteses do art. 311, considerou o legislador que
o direito invocado pelo autor é tão evidente (uma espécie de fumus boni
iuris qualificado) que não faria sentido privá-lo da tutela jurisdicional
imediata, ainda que ausente o periculum in mora.
Nesse sentido, por exemplo, imaginemos que a ilicitude de determinado
tributo tenha sido reconhecida em recurso especial repetitivo. Nas ações
individuais subsequentes sobre a mesma matéria, bastaria ao autor, por
exemplo, demonstrar documentalmente suas alegações e o
enquadramento de seu caso na tese jurídica definida no recurso especial
repetitivo para fazer jus à tutela de evidência que suspendesse a
exigibilidade do tributo (art. 311, II), sem que fosse necessário
demonstrar o periculum in mora.
Embora sistematizada no art. 311, a tutela da evidência pode serencontrada em outros dispositivos do novo CPC, como na liminar das
ações possessórias (art. 562), na tutela inicial da ação monitória (art.
701) ou na liminar dos embargos de terceiro (art. 678).[1] Nada impede,
portanto, que esteja referida em outras passagens do CPC-2015.
Pois bem: o art. 1.012, § 4º do novo CPC disciplina a concessão de efeito
suspensivo ope judicis à apelação nas excepcionais hipóteses em que esta
não possui tal efeito de forma automática, por previsão legal (ope legis).
Vale dizer: em regra, a apelação tem efeito suspensivo automático,
decorrente da mera interposição do recurso, nos termos do art. 1.012,caput . Todavia, mesmo nos casos em que não conte com tal efeito
suspensivo automático (por exemplo, naqueles referidos no art. 1.012, §
1º), ainda assim tal suspensividade poderá ser determinada pelo juiz (ou
seja, ope judicis), desde que preenchidos os requisitos estabelecidos pelo
art. 1.012, § 4º.
E o que tudo isso tem a ver com a tutela da evidência? Observe os
requisitos previstos em tal dispositivo para a concessão ope judicis do
efeito suspensivo à apelação:
“§ 4 Nas hipóteses do § 1 , a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo
relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do
recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave
ou de difícil reparação”. (grifou-se)
Ao que parece, pela redação do dispositivo, estão disciplinadas duas
situações em que poderá ser concedido o efeito suspensivo ope judicis à
apelação, quais sejam:
(i) se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso –
sem que se exija a verificação da urgência –; ou
(ii) se, relevante a fundamentação ( fumus boni iuris), houver risco de
dano grave ou de difícil reparação (periculum in mora).
o o
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Ainda analisando a redação do dispositivo, observe que as duas hipóteses
encontram-se conectadas com a conjunção alternativa “ou”.
Não se ignora que, por vezes, deve o “ou” ser interpretado como se fosse
“e”, tratando-se de requisitos cumulativos. Tal entendimento, porém,
não parece fazer muito sentido no dispositivo em análise. É que a sua
primeira parte (“se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento
do recurso”) somente pode se relacionar ao fumus boni iuris, assim como
um dos requisitos na segunda parte desse mesmo dispositivo (“se
relevante a fundamentação”).
Se os requisitos fossem alternativos, não precisaria o legislador ter
repetido referências ao fumus boni iuris. Ademais, a “probabilidade de
provimento do recurso” parece ser mais intensa que a simples
demonstração de ser “relevante a fundamentação”, como se tratasse de
uma espécie de fumus boni iuris qualificado.
Mais adequado, assim, interpretar o “ou” como indicação de requisitos
alternativos, de modo que poderia ser concedido o efeito suspensivo ope
udicis à apelação apenas com a demonstração, pelo apelante, da
probabilidade de provimento do recurso, sem que seja necessário apontar
qualquer situação de urgência.
O dispositivo em análise, portanto, contempla uma forma – nada
evidente – de tutela da evidência na apelação. Assim como no CPC-1973
já eram conhecidas a tutela cautelar recursal e a antecipação de tutela
em sede recursal, com o novo CPC abre-se mais uma possibilidade: a
tutela da evidência recursal.
2. Em que casos deve ser concedida a tutela da evidência
recursal?
O art. 1.012, § 4º, ao se referir laconicamente à mera “probabilidade de
provimento do recurso”, não parece criar nova hipótese atípica e
autônoma de tutela da evidência. O dispositivo apenas contempla a
possibilidade de sua concessão em sede recursal, por decisão
monocrática do relator, fundada na evidência do direito do apelante.
Tal significa que, para que haja tutela da evidência recursal, o caso devese enquadrar em uma das situações previstas no art. 311 do novo CPC ou
em outros casos especiais de tutela da evidência estabelecidos no próprio
CPC-2015 ou, ainda, na legislação extravagante.
Para uma primeira compreensão da tutela da evidência recursal,
discutiremos o assunto tendo por perspectiva apenas as hipóteses gerais
do art. 311 do novo CPC.
O problema é que muitas das hipóteses relacionadas no art. 311 do novo
CPC, uma vez caracterizadas em sede recursal, autorizam o seuprovimento monocrático, nos termos do art. 932, V do CPC-2015. Ou
seja, em vez de se conceder tutela provisória amparada na evidência do
direito suscitado pelo recorrente, já se autoriza desde logo a tutela
definitiva em decisão monocrática do relator, esvaziando grande parte
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dos casos em que estaria permitida a tutela da evidência.
Assim, para que a tutela da evidência recursal apresente alguma
utilidade prática, deve encontrar seu espaço fora dos casos de
julgamento monocrático do art. 932, V.
Para avaliarmos qual seria esse espaço, será útil o confronto dos incisos
do art. 311 com as alíneas do art. 932, V do novo CPC:
Tutela da evidência (art. 311) Julgamento monocrático (art.
932, V)
“I – ficar caracterizado o abuso
do direito de defesa ou o
manifesto propósito
protelatório da parte”
–
“II – as alegações de fato
puderem ser comprovadas
apenas documentalmente ehouver tese firmada em
julgamento de casos repetitivos
ou em súmula vinculante”
Previsto nas alíneas “a”
(súmula, incluindo as
vinculantes), “b” (julgamentode recursos repetitivos) e “c”
(entendimento firmado em
incidente de resolução de
demandas repetitivas)
“III – se tratar de pedido
reipersecutório fundado em
prova documental adequada do
contrato de depósito, caso em
que será decretada a ordem deentrega do objeto custodiado,
sob cominação de multa”
–
“IV – a petição inicial for
instruída com prova
documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do
autor, a que o réu não oponha
prova capaz de gerar dúvida
razoável”
–
Nos casos do art. 311, I (abuso do direito de defesa ou manifesto
propósito protelatório por parte do recorrido), seria possível em tese a
tutela da evidência recursal, muito embora se imagine que tal situação
não seja tão frequente. É que uma defesa abusiva ou protelatória não
deveria conduzir, pelo menos em regra, a um pronunciamento favorável
ao recorrido e à consequente interposição de recurso pela parte
contrária, ao qual possa ser atribuída a tutela da evidência recursal.
Os casos do art. 311, II estão absorvidos pelas hipóteses de julgamento
monocrático, não havendo maior utilidade prática na tutela da evidência
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recursal.
Embora autorize, em tese, a tutela da evidência recursal, a situação
descrita no art. 311, III (“pedido reipersecutório fundado em prova
documental adequada do contrato de depósito”) é bastante específica e
se relaciona à supressão do procedimento especial da ação de depósito
no CPC-2015.[2]
O maior campo para a tutela da evidência recursal, em definitivo,encontra-se no art. 311, IV: trata-se dos casos em que há prova
documental suficiente do direito invocado pelo recorrente, não tendo o
réu apresentado prova capaz de gerar dúvida razoável. Nesta hipótese, ao
contrário do art. 311, II ou dos casos de julgamento monocrático
previstos no art. 932, V do CPC-2015, não se exige o enquadramento em
tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante. É suficiente, para que seja concedida a tutela da evidência,
que a prova documental seja robusta o bastante para afastar qualquer
dúvida razoável do direito do recorrente.Como se trata de hipótese de tutela da evidência amparada em exercício
ineficaz da defesa, não é possível a sua concessão liminar, antes que seja
exercido o contraditório (arts. 9º e 311, parágrafo único). Assim, a tutela
da evidência recursal amparada no art. 311, IV somente poderá ser
concedida após oportunizadas as contrarrazões.
3. Quais recursos admitem a tutela da evidência?
Nossas observações sobre a tutela da evidência recursal partiram do art.
1.012, § 4º do CPC-2015, que diz respeito à apelação. Alguém poderia
imaginar que tal modalidade de tutela provisória, portanto, somente
seria admitida para tal recurso. Nessa direção, o art. 995, parágrafo
único, que está inserido nas disposições gerais e disciplina a concessão
de efeito suspensivo ope judicis aos recursos em geral, não contempla em
sua redação a tutela da evidência recursal, ou seja, independentemente
de urgência.
Por outro lado, semelhante ao art. 1.012, § 4º é o art. 1.026, § 1º, que
disciplina o efeito suspensivo ope judicis nos embargos de declaração. Alitambém se estabelece que a eficácia da decisão embargada poderá ser
suspensa “se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso”,
sem que se imponha o requisito da urgência.
Não faz sentido, porém, que a tutela da evidência recursal esteja
contemplada apenas para a apelação e os embargos de declaração.
A tutela da evidência é instituto inserido na parte geral do CPC-2015,
que deve ser considerada para todos os recursos. Além disso, o art. 1.012,
§ 4º do novo CPC não parece ser o único dispositivo que teria aplicação
fora do escopo da apelação. Nesse sentido, por exemplo, o que impediria
a aplicação da teoria da causa madura (art. 1.013, § 3º) nos casos em que,
superando a extinção parcial do processo sem resolução do mérito em
sede de agravo de instrumento, o tribunal já se encontrasse em condições
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de proceder ao julgamento antecipado parcial do mérito?
Em síntese, portanto, perfeitamente possível a tutela da evidência
recursal em qualquer recurso, não estando adstrita à apelação ou aos
embargos de declaração.
4. Até o próximo ano!
Sintetizando o quanto se expôs no presente texto, sustenta-se apossibilidade de tutela da evidência em sede recursal, mediante decisão
monocrática do relator, desde que após oportunizada a apresentação de
contrarrazões pelo recorrido. Seu principal campo de incidência está nos
casos referidos no art. 311, IV do novo CPC, ou seja, sempre que a prova
documental produzida seja robusta o bastante para afastar qualquer
dúvida razoável do direito do recorrente. Além disso, embora prevista
explicitamente apenas nos arts. 1.012, § 4º é o art. 1.026, § 1º do CPC-
2015, a tutela da evidência recursal é possível em qualquer recurso
disciplinado pela legislação processual.
Caro amigo leitor, ficamos por aqui. Em março do ano que vem, ao que
tudo indica, o CPC-2015 estará em vigor. Que novas discussões nos
esperam? Quais serão as maiores dificuldades que encontraremos no
primeiro ano do novo código? Quais impactos serão sentidos na vida
real, fora dos livros acadêmicos?
Para explorarmos esse vasto campo de possibilidades, renovo o convite
ao amigo leitor. Venha com a gente, para conhecermos um pouco mais
do CPC-2015!
Por ora, fica aqui o meu desejo de um feliz Natal para todos e um
próspero Ano Novo. Para cada um de vocês e, tomara, para o processo
civil brasileiro.
Abraços e até logo!
______________________________________________________________________
[1] Nesse sentido, GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz;
ROQUE, Andre Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar Duarte de. Teoria Geral
do Processo – Comentários ao CPC de 2015. São Paulo: Método, 2015, p.924
[2] Sobre o ponto, GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz;
ROQUE, Andre Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar Duarte de. Teoria Geral
do Processo – Comentários ao CPC de 2015. São Paulo: Método, 2015, p.
926-927.