A Última Profecia

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    ALAN DARC 2 EdioIa

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    ALTIMA

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    Autor

    Alan Darc

    Obra escrita no perodo deMaro/95 a Agosto/96.

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    PARA MINHA ESPOSA ANAE MEUS FILHOS RAFAEL E CSSIA

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    NDICE

    Mensagem ao leitor 09

    1a. Parte:

    No topo do mundo 13 Na Colnia Critas 18 Revivendo o passado 25 Mestre Bobar 28 Urian Baba 32 Um caador solitrio 40 De volta ao presente 44

    A Esfera das Decises 50 Obras de arte 56 O Solar das Reminiscncias 61 A Galxia Melchi e as Carruagens de Fogo 63 Exibio de corpos 68 Um encontro preparado 74 Frutas que se multiplicam 80 Centro de recuperao Irm Paula 84

    A plataforma submarina 90 Uma Nave Me sobre as Bermudas 101 O Para e o Prncipe 110 O codificador Kardec e a Doutrina Esprita 114 Gengis Khan e a Grande Muralha da China 122 Um encontro imprevisto 125 O Centro Arcanjo Rafael 148 Um andaluz e sua filha 149

    2a. parte:

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    O Vale das lgrimas 158 A megera 160 Um cabar 162 Um viciado em pio 165 O reino dos suicidas 167 O Monsenhor Gustav 170 O Pastor Nicholas 175 Dois sofredores engraados 180 Personalidades famosas 188 Gregrio e Toms 192 Terrveis pigmeus 202 A regio dos gases 229 Chang e Eng 229 Oprichniki e oprichnina 238

    Penitenciria sem celas 2393a. parte: Prestando contas 242 Proposta Oficial 248 Nas plancies da Galilia 250 Em Jerusalm 251 Em Betnia 252 A ltima ceia 256

    O julgamento 261 Diante de Pncio Pilatos 262 O martrio 265 O destino dos acusadores 266 De volta Colnia Critas 270 A ss com Miguel 287 Alfred Bernhard Nobel 294 Helena Petrovna Blavatsky 298 Rodrigo e Lucrcia 299

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    Afinal, os pais 311 Robs e computadores 322 Na Lua 341 Na regio amaznica 354 A Me Natureza 359 Prola do Cruzeiro 372 Calangos 380 Java 386 De volta a Esfera das Decises 393 Em Vnus 409

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    AGRADEO A DEUS PELA INSPIRAO

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    MENSAGEM AO LEITOR

    Amigo leitor. com satisfao que apresento Altima Profecia, um livro que aborda os mais diversosassuntos. Creio que ir agrad-lo. Gostaria de contar comonasceu a idia do livro.

    Todos os dias eu tenho o hbito de apreciar o soldesaparecer no horizonte. Quando a tarde termina, umamagnfica estrela surge no cu. Para uns, a Estrela Dalva.Para outros, o Planeta Vnus. Estava entretido com oespetculo, quando de repente apareceu ao meu lado umacriatura livre dos inconvenientes da carne. Era de baixaestatura, vestia um hbito igual os que usam os franciscanos,e seu rosto estava coberto por uma barba branca bem aparada.

    Fixou o olhar em meu rosto e disse numa voz bem tranqila: O que voc acha da idia de escrever um livro? Por onde devo comear? perguntei, sem hesitar. Que tal pelas regies dos Himalaias?Estvamos no fim da tarde do dia 18 de maro de 1995.

    Levantei-me, apanhei uma pequena agenda, e j quase semluz, comecei a escrever com um toco de lpis. Sem perceber,escrevi 33 pginas.

    medida que os dias foram passando, as idias brotavamem minha mente. Comecei a escrever um romance deaventura. Primeiro criei um personagem central. Seria francse chamar-se-ia Hugo. Desejava com isso, prestar uma home-nagem a um de meus escritores preferidos, Victor Hugo.Resolvi mat-lo no incio da narrativa, para depois, j comoEsprito, lev-lo regies desconhecidas.

    Sem saber que havia morrido, Hugo ficou vagando noPico Everest por mais de vinte anos. Foram inteis vrias

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    tentativas de resgate, at que um ser de outro mundo foisocorr-lo. Da em diante, Hugo percorreu vrias regies aolado de seu salvador. A princpio conheceu civilizaes doespao, onde os seres viviam em perfeita harmonia. Voltouao passado e teve oportunidade de analisar vrias de suasvidas. Reencontrou seus antigos companheiros e aprendeuque h vida em todo o Universo. Visvel e invisvel a olhoshumanos. Viu flores de diversas cores num nico p; rvorescujos frutos no apodreciam; pssaros e peixes de conforma-es e matizes diferentes; cetceos de porte descomunal;espaonaves e obras de arte iguais s da Terra. Diligente pornatureza, insistiu em conhecer regies de sofrimento, no quefoi atendido. Para sua surpresa, encontrou nesses locais,homens que foram importantes na Terra, entre eles, os juzes

    que condenaram Jesus e os juzes da Santa Inquisio. Viajou Terra em misso de reconhecimento e teve oportunidade dever, alm de construes antigas protegidas pela vegetao,duas cidades localizadas em outra dimenso que so sentine-las avanadas das grandes civilizaes do Cosmos. Vou pararpor aqui, seno vou estragar a leitura. Outra coisa! Como soutambm revisor da obra, peo desculpas por possveis erros.Tenham um excelente entretenimento.

    O Autor

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    PRIMEIRA PARTE

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    1a. PARTE

    NO TOPO DO MUNDO

    ugo, at ento, nunca havia estado no topo deuma montanha. Acariciou o rosto com a pontados dedos, para certificar-se que no era um

    sonho. Para atingir seu objetivo, inmeros obstculos ficarampara trs, pois havia vencido perigosas trilhas. Encontrava-ses e longe dos companheiros e, quanto a estes, sequer sabiase ainda estavam vivos. Recordava vagamente, que apsintensa borrasca, gelo e neve misturados a lama, rolavampelas encostas, levando tudo que encontravam frente.Escapou milagrosamente refugiando-se numa caverna e, ao

    clarear o dia, viu, poucos metros acima, o cume soberbo emajestoso.Ali estava belo e ameaador, o mais alto, o at ento

    inexpugnvel pico do Everest, imponente com seus 8.848metros de altura, parecendo rir dos que ousavam desafi-lo.Hugo mirava fascinado. Sentiu suave brisa afagar-lhe o rosto,enquanto o vento parecia sussurrar em seus ouvidos, palavrasde estmulo. A jornada fora terrivelmente desgastante e,

    apesar de fraco, encheu-se de nimo, reuniu as parcasenergias que ainda lhe restavam, e comeou a mover-selentamente em direo ao alto. Aquela imensa massa de terrae pedra envolvida por tnues nuvens brancas, estava ao seualcance.

    Se era seu destino perecer na empreitada, restava-lhe oconsolo de ser o primeiro homem a chegar quela altura. Seusmembros, entorpecidos pela baixa temperatura, no obede-ciam seu comando. Vacilou por alguns instantes, mas ao vir-

    H

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    lhe mente a imagem do pai j falecido, algo estranhodevolveu-lhe o vigor e empurrou-o frente. Sentiu o trax serenlaado por dois braos fortes e, pouco a pouco, foi ven-cendo a distncia que o separava do pico. At suas mos quesangravam, deixaram de incomod-lo. Ao se ver com os pssobre o cume, foi tomado de indescritvel sensao. Ria echorava ao mesmo tempo. Sua emoo estava fora decontrole. Quando conseguiu o equilbrio necessrio, desenro-lou uma bandeira da Frana, fincou o pequeno mastro nosolo, ajoelhou-se, e orou em agradecimento. Naqueles mo-mentos, uma aura misteriosa envolveu todo seu ser.

    J senhor de suas faculdades, comeou a pensar na volta.Seus vveres estavam no fim, e tinha perdido a noo dotempo. Reuniu alguns gravetos, acendeu uma fogueira e,

    procurou adormecer. Ao despertar, no fazia idia do tempoque havia dormido. Seu relgio de pulso marcava quatorzehoras, mas logo percebeu que estava parado. Tinha sidoatingido por algo que rompera o vidro de proteo. Estavaclaro e, o Sol, deveria estar brilhando no Cu, pois a brumaque envolvia o pico impedia sua viso. Sob seus olhosdescortinava-se um cenrio belssimo e, as cadeias de mon-tanhas cobertas pela neve, luziam com a claridade. Os desfi-

    ladeiros pareciam no ter fim. Era um espetculo mara-vilhoso. Quantas criaturas pereceram tentando escalar aquelasmontanhas! Quantas almas se foram! Quantas histrias pode-riam ser escritas e contadas! Fortunas foram enterradas, noaf de dominar aquela grande massa de terra e pedra. Acuriosidade e o esprito de aventura, sempre empurraram ohomem em direo ao desconhecido. Com uma pontinha devaidade, Hugo comeou a julgar-se algum especial! Algum

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    predestinado! Como estava enganado! No havia conquistadonada e j estava envaidecido de seu feito.

    Voltou a realidade e comeou a pensar nos perigos queainda teria de enfrentar. A subida fora penosa e, a descida,seria pior. Lembrou-se que tinha estado entre a vida e a mortepor diversas vezes e, em duas delas, seu corpo foi lanado aoespao, escapando por obra do acaso. De certa feita, a cordaque lhe dava segurana e sustentao, enroscou-se numarocha, e isso permitiu que o corpo ficasse amparado numasalincia de terreno.

    Com muito esforo, arrastou-se para um lugar aparen-temente seguro, onde exausto, comeou a cochilar. Um sonhoo levou ao passado. Nesse sonho, conversava com Papin, umcolega de Faculdade. Papin, embora com dezenove anos

    incompletos, j havia estado diversas vezes na ndia e noTibet. Tinha especial atrao por aquelas terras, e gostava defalar sobre os Gurus que viviam isolados do mundo. Geral-mente eram encontrados dentro de mosteiros e cavernas, emgrandes altitudes. Esses homens eram venerados e conside-rados santos. Papin tinha imenso respeito por um eremita quehavia conhecido em Calcut. Seus seguidores lhe apregoa-vam milagres, e achavam que tinha mais de cento e cinqenta

    anos de existncia.Alimentava-se somente de ervas e razes e, apesar do

    rigor do frio que existia naquelas altas regies, vivia seminu.Apenas um pequeno tecido cobria suas partes ntimas.Apreciava meditar em companhia de um velho urso adotadoquando filhote. De quando em quando aceitava a companhiade alguns discpulos.

    A medida que Hugo recordava daquela conversa, estranhafigura comeou a se materializar diante de seus olhos.

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    Esfregou-os, mas aquela viso ntida, no desaparecia. suafrente, surgiu a imagem de um velho com as caractersticasdo religioso de Papin. Sorrindo e irradiando intensa paz,estendeu os braos magros e descarnados, e colocou-os sua-vemente sobre seus ombros. Um calor imenso o envolveu e, ofrio atroz que sentia, desapareceu como por encanto.

    ria suave e melodiosa atingiu seus ouvidos, fazendo-osentir-se novamente jovem e forte. Arrepiou-se ao pensar queestava perdendo o juzo e, que aquilo tudo, era produto de suaimaginao. No era a primeira, nem a ltima vez, quealgum enlouquecera em semelhante situao. Ser queestava insano? Passou a gargalhar. O recm chegado fitava-ocom meiguice e ternura e, seus olhos, refletiam intensa luz.Daquele ser extraordinrio, surgido aparentemente do nada,

    saam lampejos de extrema candura e amor.Hugo sentia-se incapaz de raciocinar. Era como sepequeninas setas tivessem atingido seu crebro, paralisando-omomentaneamente. Num esforo incomum, agachou-se,encheu as mos de neve, e arremessou-a contra o extico per-sonagem. Como num conto de fadas, o ancio desapareceu ereapareceu atrs dele. Aquele olhar afetuoso atingiu-onovamente e, eflvios suaves e amorosos, envolveram todo

    seu ser. Hugo prostrou-se ao solo de joelhos, e ps-se achorar convulsivamente. Entre soluos, suplicou ajuda. Desua boca saam palavras confusas e sem sentido. Suaimpresso era de que cada vez diminua de tamanho diante dovelho misterioso. Por outro lado, este levitava tranqilamentediante dele. Quando o velho colocou a destra sobre suacabea, quase desfaleceu com a sensao de paz que oinvadiu. Numa voz meiga e suave, este lhe disse:

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    Controle-se e no tente me ferir. Nada poder meabalar, pois estou a servio de Jesus. Vim te socorrer ealiviar-te desse fardo pesado. Tu no notastes, mas estsvagando por estas paragens h longo tempo. Estsnecessitando de ajuda, e para isso vim. Prepara-te paraempreender uma viagem. Vamos passar por regies desombras e de luz. No momento estamos na mais alta dasmontanhas terrestres, mas comparada a algumas queencontraremos no caminho, so simples montculos de terra.

    Hugo estava sem fala. Mirava o personagem e cada vezmais se convencia que havia perdido o juzo. O anciocontinuou:

    O Sol, formoso Astro Rei deste Planeta, uma tocha, secomparado com alguns astros espalhados pelo Universo.

    Embora todos sejam obras magnficas de Deus, uma delas ossupera: o Esprito. O Esprito a obra mais perfeita queexiste. Ao contrrio dos astros, eterno, desloca-se emvelocidade jamais imaginada pela mente humana, superafacilmente a velocidade da luz, e no sente o frio ou o calor.Transpe todas as barreiras e nada o afeta. imortal como oPai que o criou.

    Hugo sentiu um forte arrepiou e, de repente, com-

    preendeu que estava morto. Naquele instante seu pensamentovoltou ao passado, quando ento, viu seu corpo despencar emum precipcio. Encarou a nova situao com frieza e, pormomentos, sem saber por que, lembrou-se que quandocriana, os mais idosos insistiam em afirmar que todostinham um Anjo Guardio. Se realmente estavam certos, oseu estava sua frente.

    Captando seus pensamentos, o velho abriu um sorriso, edisse:

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    Hugo: no obstante vitorioso, o teu Anjo da Guarda noest mais ao teu lado. Quando cheguei trocamos algumasimpresses, e ele partiu muito contente. O maior prmio paraum Guia Espiritual saber que seu protegido triunfou.

    Voc est dizendo ento que eu triunfei? Exatamente! Vou levar-te para as Esferas de Luz, e

    sers preparado para uma nova misso. Apesar de tua ojerizapelos diversos evangelhos, praticaste a mais perfeita dasreligies: a Religio do Amor. A nica existente nas Esferasde Luz.

    Eu posso v-lo para agradecer? Ele j foi recompensado. No se preocupe com isso.

    Ainda ters oportunidade de pagar por essa ajuda. Prepara-te!Conhecers alguns recantos onde impera o amor, no existe

    dor, diferenas sociais e, indistintamente, todos se queremcomo verdadeiros irmos. Durante o trajeto vamos tambmpassar por alguns locais onde, infelizmente, esto muitoscompanheiros pagando por seus erros. Coloque este mantosobre a cabea. Quando estivermos atravessando as regiesde sofrimento, ele te abrigar do frio e dos maus fludos.Controla tua curiosidade e siga-me sem perguntas.

    NA COLNIA CRITAS

    dmirado, Hugo sentiu o corpo elevar-se do solo e,como atrado por um gigantesco im, passou a

    acompanhar pelo ar o seu protetor.A princpio deslocavam-se lentamente, mas a medida que

    avanavam, a velocidade comeou aumentar. Algo incom-preensvel os impulsionava. Por breves instantes atra-

    A

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    vessaram uma rea muito escura, donde vinham gritos depavor, misturados a imprecaes e gemidos. Odor ftidodesprendia-se, causando nuseas a Hugo. Embora diligente,Hugo no se atreveu olhar de onde partiam os lamentos.Depois da escurido, surgiu a claridade e ambos foramenvolvidos por suaves fludos. Uma abundante vegetaocomeou a surgir. rvores enormes, com copas riqussimas,pareciam do alto, cogumelos zelosamente ornamentados.Pssaros com plumagens coloridas cortavam os Cus, epareciam saudar os visitantes. Formaes rochosas detamanho descomunal surgiam diante dos olhos atentos deHugo, com suas faldas e cumes refletindo luzes e coloraesdas mais diversas.

    Essas montanhas disse o Guia tm em mdia

    cinqenta mil metros de altura, mas no so as maiores. Emalgumas regies elas so vistas como elevaes de portemdio.

    Desceram numa plancie coberta de verde vegetao. Amais ou menos vinte metros acima do solo, rolas azuisvoavam em crculos. Campos floridos e bem cuidados davamum tom especial ao cenrio. Havia flores em profuso.Ganhavam destaque as rosas, orqudeas, cravinas e gernios.

    Entre as flores, o gramado de fortes verdes parecia um grandeterciopelo. Um chafariz em formato de cruz elevava-se nocentro do que parecia ser uma fonte de gua corrente. Ostranseuntes possuam semblantes felizes. Todos os rostoseram corados e belos. Alguns passavam cantando, outrosassobiando. Suas vestimentas brilhavam como luzesartificiais e, diferenciavam-se das roupas utilizadas pelosnobres do Imprio Romano, somente pelo brilho. Cores ematizes eram de uma riqueza impressionante. Tudo era belo e

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    simtrico, inclusive os prdios com uma arquitetura simples,mas que irradiavam muita paz e calor. No havia dvida! pensou Hugo. Estavam no Paraso. No decantado den.

    Atravessaram espaosa e movimentada alameda, edirigiram-se a uma construo orlada de pinheirinhos. Nosfundos havia um roseiral com vrias espcies de rosas,algumas desconhecidas na Terra. Eram extasiantes! Hugoseguia em silncio os passos do Guia, desconhecendo os seuspropsitos.

    A medida que caminhavam, Hugo notou total trans-formao na aparncia de seu salvador. Os cabelos e barbasbrancas haviam desaparecido, e agora o Guia tinha o aspectode um jovem com pouco mais de vinte e um anos. Pararamdiante de uma formosa jovem, cujas faces, ligeiramente

    salientes, eram de um rosado suave. Seus lbios eram de umformato admirvel, e pareciam ter sido delineados por ummestre escultor. Os olhos eram da cor das amndoas madurase luziam como dois candeeiros. Seus cabelos longos e lourosrepartidos ao meio, lembravam os nazarenos. Usava umvestido de tecido fino, parecido com uma tiara, levementeamarelado. Os ps estavam protegidos por sandlias muitosimples. Dois pingentes prateados adornavam aquele rosto

    por demais belo. Com um sorriso aberto, saudou a ambos.Chamava-se Dulce. Hugo ofereceu a mo em cumprimento e,finalmente, soube que o nome de seu novo protetor eraMiguel.

    Polidamente, Miguel isolou-se com Dulce a um canto dasala, donde trocaram algumas impresses. Depois de umbreve dilogo, deu um afetuoso abrao em Hugo e, sem nadadizer, girou sobre os calcanhares e se foi silenciosamente.

    Dulce quebrou o silncio dizendo:

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    No fique preocupado, meu irmo. A ausncia deMiguel ser breve, e durante esse perodo serei teu Guia.Miguel estava sendo aguardado pelo irmo Emlio,governador geral desta comunidade.

    Aonde estamos? Na Colnia Critas. Aqui so recebidos os vitoriosos

    de vrias partes do Universo. Esta comunidade abriga umseleto nmero de trabalhadores do bem. uma Cidade Luz.Aqui no h noites. No muito distante daqui, esto asEsferas Celestiais, onde tm abrigo os irmos que atingiramum grau de evoluo to elevado que todos sonhamos atingir.

    Desculpe-me, irm. Voc disse h pouco, que para cvem os vitoriosos. Do mundo de onde eu venho, fui uminexpressivo engenheiro e nem em Deus acreditava, portanto

    me considero um insignificante mortal. Como se explica euestar entre os vitoriosos? Para ser vitorioso, o nico sentimento que conta, o

    amor que existe dentro de ns. Se acreditar em Deus desse opassaporte para entrar no Paraso, haveria poucos espritosnas trevas. Se voc est aqui porque bom. Eu estousabendo que voc sempre foi uma pessoa honesta e em teucorao havia muito amor. Tua maior virtude a modstia.

    Sabemos que voc distribuiu os teus bens entre os rfos deguerra. No h em nenhum mundo, alguma religio quesupere a do amor e da caridade.

    Meu Deus! Nunca pensei ter feito tudo isso!Vendo-o descontrado, Dulce convidou-o a um passeio.

    Junto a um repuxo, Dulce molhou os lbios no lquido quecorria entre dois frondosos ips. Um pouco mais adiantehavia um coreto cercado por um caramancho. Para l se

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    dirigiram. Sentaram-se num banco que havia dentro docoreto.

    Diga-me uma coisa, irm Dulce. Do que se ocupam aspessoas que habitam esta comunidade. Estou certo em cit-lascomo pessoas, no ?

    Eu j estava preparada para essa pergunta. Embora osdaqui sejam em sua maioria mais evoludos que os Espritosencarnados na Terra, tambm so pessoas. Um pouco maisesclarecidas, claro! Esta comunidade aparentemente vazia esem vida, pulsa mais que as grandes metrpoles da Terra.Logo voc ver que aqui todos trabalham sem cessar. Hmuita coisa a ser reparada nos diversos Universos. Nesteexato momento, o Conselho presidido pelo nosso venerandoirmo Emlio, est reunido traando os planos para uma nova

    incurso no Planeta Azul, ou como querem alguns, na Terra.Parte do plano eu j conheo. Devero intervir no meioreligioso, especialmente na Igreja Catlica Romana. Apsdois mil anos, a Humanidade tm sido conduzida por falsoscaminhos. Cada vez mais aumenta a misria, no obstantedois teros do planeta estar disposio para fartas colheitas.O egosmo, aliado ganncia, esto destruindo a sociedadeterrestre. Populaes inteiras gemem de fome e suplicam por

    justia, enquanto falsos pastores de almas, vivem cercadospela opulncia. Uma das metas principais da caravana queest sendo preparada, derrubar dos pedestais esses falsosrepresentantes de Deus. Alis eles fizeram se representar pelafora. Pela fora e pela mentira.

    Vou contar a voc um segredo que me acompanhadesde a mocidade. Parece absurdo, mas voc a primeirapessoa a escut-lo.

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    Sinto-me honrada. Que segredo esse mantido a setechaves?

    Na verdade esse segredo faz parte de vrios sonhos.Neles eu me via sempre envolvido com padres e freiras.Cheguei um dia a procurar uma cartomante de muito pres-tgio para decifr-los. Cobrou-me uma substancial soma, masdeixou-me ainda mais confuso.

    Que espcie de sonhos eram esses? Eram sempre de cunho religioso e todos eles acon-

    teciam dentro das paredes do Vaticano. Eu me via semprevestido de vermelho ao lado do Papa, dominava com extremafacilidade vrias lnguas, e era muito respeitado por minhagrande inteligncia. No tenho certeza, mas acho que eutambm era um de seus principais conselheiros. Como

    estvamos na poca da Santa Inquisio, as pessoas eramsacrificadas como ces vadios. Vrias vezes procurei intervirem defesa de mes acusadas de infidelidade. De jacobinos.De comerciantes que no contribuam com a igreja. Enfim, deinocentes. Eram tempos sombrios. Constantemente levei aminha preocupao ao Papa, mas ele no me dava ouvidos.

    Quem estava sentado no trono? Gregrio1.

    Vrios Gregrios sentaram no trono, mas um deles sedestacou pela crueldade: Gregrio XIII. Ele foi o responsvelpela noite mais negra da Histria: a noite de So Bartolomeu.Celebrou com um Te-Deum o Massacre de So Bartolomeu.Isso aconteceu no ano de 1.572.

    1Papa Gregrio XIII (Ugo Buoncompagni) ( Bolona, Itlia, 07-06-1502

    Roma, 10-04-1585). Corrigiu o calendrio Juliano, instituindo ocalendrio Gregoriano em 1582.

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    Ento isso no fazia parte de um sonho? Alguns sonhos so lembranas de algo que aconteceu

    no passado. Aqui cabe um comentrio. Apesar da Inquisioter abrigado em seus tribunais pessoas cruis e nefastas,alguns religiosos lutaram para mudar suas regras. GrandesEspritos se abrigaram debaixo de batinas. Jos de Anchieta2e Manoel da Nobrega3, foram dois deles. pena que erampoucos. Conte-me mais.

    Por onde passavam as comitivas, o terror estampava-seno rosto de cada indivduo. As crianas ficavam assombradascom o aspecto sombrio das comitivas. At os velhosfechavam os olhos para no v-los passar. Vestiam-se todosde preto, como a cor de suas almas. Tomei parte tambm dereunies ntimas onde o sexo e a bebida andavam lado a lado.

    Para voc ter uma idia, Calgula

    4

    se assombraria diantedesses espetculos. Acho que por isso que sou avesso aosdogmas da igreja. Ento certo, cara irm, que vivi nessemeio?

    o que parece. Voltemos ao presente, que o que nomomento interessa. Vou mudar um pouco de assunto. Quan-do nos despojamos da carne, meu caro Hugo, nossa sensi-bilidade aumenta. Que tal voc saber algo a respeito de algu-

    mas de suas existncias. Vou me afastar por alguns instantes.

    2Padre jesuta considerado o apstolo do Brasil ( La Laguna de Tenerife,ilhas Canrias, 19-03-1534 Reritiba, Esprito Santo, 09-06-1597).3Missionrio jesuta portugus ( Portugal, 18-10-1517 Rio de Janeiro,18-10-1570).4 Imperador Romano ( Gaius Caesar) (Antium, hoje Anzio, Itlia 31-08-

    12 d.C. Roma, 24-01-41). Sucessor de Tibrio aos 25 anos. Assassinadopor Cssio Qureas, durante os jogos palatinos.

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    Enquanto isso, medite um pouco sob o caramancho. Vocver com clareza o teu passado.

    REVIVENDO O PASSADO

    ugo acomodou-se debaixo do caramanchel comoum monge em penitncia. Dulce espreitou-o poralguns momentos, e tambm concentrou-se

    procurando ajud-lo. Um remoinho desenhou-se em suamente, e cenas de suas vidas comearam a surgir. Viajou,viajou, e finalmente parou e viu-se menino. Um casalamoroso mantinha-o numa pequena caminha e balanavamdiante de seus olhos um pequeno chocalho. Uma bela e

    elegante senhora levantou-o e estreitou-o em seu peito. Aseguir tirou um dos seios para fora, e a criana comeougulosamente a mamar. O homem mirava enternecido e cheiode orgulho. No havia dvida! Ali estava Hugo iniciandouma nova existncia. Por sinal a sua mais recente existncia.Imagens da infncia comearam a desfilar diante de seusolhos.

    Como nico filho, jamais teve de dividir o amor que lhe

    dedicavam os pais. Como eram meigos e carinhosos! Carol, ame, era extremamente sensvel a seus pedidos. Era profes-sora e lecionava num colgio de freiras. Leonard, o pai, eramdico e dividia seu tempo entre o hospital e a orientao dofilho. Apesar de severo, devotava-lhe imenso carinho. Era umhomem de reto carter e no se descuidava um s instante desua educao.

    Hugo nasceu e cresceu em Paris. Os pais eram naturais deMarselha. Formou-se com distino Engenheiro Civil, e trs

    H

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    anos depois de sua formatura eclodiu a primeira grandeguerra. Em pouco tempo os cinco continentes estavamenvolvidos, direta ou indiretamente, no grande conflito.Milhes de criaturas perderam a vida precocemente. Apesarde recm formado, Hugo obteve a patente de capito doexrcito francs. Sua misso era construir pontes de apoio edestruir passagens inimigas. Como era protegido dia e noitepor uma tropa de elite, saiu do cenrio de guerra ileso e semnenhum arranho. O mesmo destino no tiveram os pais.

    Quando a Alemanha se rendeu, corria o ano de 1.918.Hugo tomou parte no avano francs. Em fins de setembrodaquele ano, os reveses ocasionaram a queda do governo deBerlim. Retornando a sua terra natal, soube que os paishaviam falecido. A me foi atingida por uma bala perdida.

    Servia como enfermeira voluntria no corpo mdico, e foimorta quando socorria um ferido na linha de frente. O pai,que era mdico cirurgio, expirou atingido por um estilhaode granada.

    No incio do ano de 1.919 sua vida mudou por completo.Vivia ainda atordoado pelos efeitos da guerra, quandochegou-lhe s mos um exemplar de um livro que falava dasregies misteriosas do Himalaia. O Himalaia descrito no livro

    era um convite quela alma torturada pela perda dos pais. Depronto surgiu a idia de conhec-lo. Nasceu da, um ousadoplano para escalar o Monte Everest.

    Durante a guerra, obrigado pelas circunstncias, haviaescalado algumas montanhas nos Alpes. Comeou a planejar.Inicialmente, sozinho. Depois, j munido de vasta literatura,procurou Pierre, um amigo de infncia, e exps o plano. Aprincpio Pierre achou uma insensatez, mas contagiado pelas

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    palavras do amigo, acabou cedendo e atirou-se com vontadeao projeto.

    Os dias foram passando e j estavam em janeiro de 1.920.At aquela data, nenhum ser humano havia vencido aquelaimensa massa de terra e pedra, coberta de gelo. Por que noserem os primeiros? Por que no tentar? Eram jovens e fortese nada os prendia. Saram ilesos de uma guerra sangrenta, porque no sairiam ilesos da perigosa empreitada?

    Em fins de fevereiro comearam os preparativos oficiais.Seis rapazes previamente selecionados juntaram-se aos doisamigos. Os mais sofisticados e modernos equipamentosforam adquiridos. Como Hugo havia recebido como heranaalguns milhes de francos, no se importava com as despesas.

    J estavam em abril, quando desembarcaram no Nepal5.

    Na fronteira com o Tibet

    6

    , localizava-se o Monte Everest,com 8.848 metros de altura. Histrias e histrias contavam-seaos milhares a respeito das montanhas sagradas e corredeirasdo Himalaia. Rica e farta literatura era facilmente encontrada.Existiam belssimas tradues em ingls, francs e espanhol.Essa rica variao de livros descrevia em poemas as belezasdo lugar. Falavam dos poetas, dos mosteiros incrustados noalto das montanhas e dos religiosos que neles se abrigavam.

    Gurus e Mestres de infinita sabedoria refugiavam-se debaixode suas neves eternas. Alguns flocos de neve, pareciamprolas esbranquiadas faiscando sob a luz solar.

    Essas magnficas elevaes com seus picos apontados emdireo ao Cu, pareciam querer fur-lo. Suas geleiras trans-

    5Pas da sia Central, encravado no Himalaia, entre a China e a ndia.6Pas da sia Central, situado a SW da China e conhecido como o tetodo mundo graas a sua altitude.

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    formavam-se em guas lmpidas e saciavam a sede de mi-lhes de pessoas. Ao lado delas, os vales e plancies sotomados pelos lrios e uma grande variedade de florescoloridas. Os rododendros so facilmente encontrados emtodas as reas. Existem lrios com cores jamais vistas emnenhuma outra regio do planeta. Nas encostas encontram-seespcies raras de orqudeas. A misteriosa e rara ltus,princesa das flores, acha-se acima de mil metros de altura.Nas faldas, crescia extasiante e exuberante vegetao e, doisde seus rios mais famosos, o Indus7e o Ganges8, banhavam eirrigavam extensas reas, fazendo brotar as sementes de arrozlanadas por aquela gente humilde e simples.

    O Ganges, considerado um rio sagrado, muito procu-rado pelos povos da sia. Milhares de peregrinos so bati-

    zados dentro dele. Dizem que suas guas so milagrosas ecuram as mais variadas doenas. Caravanas e caravanas defiis chegam diariamente em busca de alvio para seus males.

    MESTRE BOBAR

    ugo estava fascinado. Os demais componentes do

    gru-po, tambm. Diante deles abria-se uma nova

    cultura, pois

    7 Rio do Sub-Continente indiano que nasce nos Himalaias (Tibet),atravessa a Cachemira e o Paquisto e desgua no Mar Arbico noOceano ndico.

    8 Rio da sia que atravessa a ndia e Bangladesh. Considerado um riosagrado.

    H

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    ali estavam conceituados Mestres do ocultismo. Todosdesejavam conhecer o quanto antes, uma dessas carismticasfiguras.

    Perto de onde estavam acampados, havia um clebreGuru. Os aldees diziam que o Guru tinha mais de cento ecinqenta anos de idade. Os mais exagerados achavam quetinha perto de mil anos.

    Como nos anos vinte a ndia estava sob domnio ingls elutava por sua independncia, em todas as cidades havia umdestacamento militar britnico. Perto de onde estavamacampados, havia um posto avanado, cujo comando estavaentregue ao Coronel Stevens, homem sensvel e bondoso. OCoronel, embora de formao protestante, era um fieldiscpulo de Bobar. Esse era o nome do Guru. Uma forte

    amizade unia os dois. Procurado por Hugo, gentilmenteofereceu-se para conduzi-lo presena de Bobar.Assim que chegaram, o ancio no moveu sequer as

    plpebras quando entraram no recinto. Encontrava-se sentadosobre um tapete felpudo e grosseiro, com as pernas entrela-adas. Seu busto era ereto e firme e, sua cabea de frontelarga, mantinha-se imvel sobre os ombros. A pele era bron-zeada, tinha uma vasta cabeleira branca, e espessa barba

    cobria o peito desnudo. No local havia uma grande e envol-vente sensao de paz. Uma coisa ficou bem clara: aquele serfascinava as pessoas e, sem dirigir-lhes um nico olhar,comeou a falar num francs fluente:

    A aventura vos reuniu e vos levar eternidade.A curiosidade vos trouxe a mimA curiosidade vos levar aos braos do Criador.A Natureza dcilAdmirem e respeitem-na.

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    Quando maltratada rigorosa.O Himalaia sagrado e reduto de deuses.Quem aprende a venerar suas montanhas,Jamais as deixa.Seus picos imponentesCobertos de neve eterna,So antenas invisveisQue une a Terra ao Espao Sideral.No devem, jamais,Serem violadosOu molestados pela mo do homem.Se algum de vs,Chegar ao mais alto de seus picos,

    Agradea a Me Natureza por essa ddiva.Que o Sbio dos Sbios vos acompanhe.

    Ergueu os braos, abenoou a todos e, silenciou.O militar levantou-se e convidou a todos para sarem. Mal

    cruzaram a porta, Hugo, Pierre e Jean dirigiram-se ao mesmotempo a Stevens, ansiosos por saber o que aquelas palavrassignificavam, e como o ancio adivinhou que eram franceses.

    Vamos por etapas comeou Stevens. Vocs estosurpresos, mas eu j estou acostumado e nada mais mesurpreende. Toda vez que levo estrangeiros presena deMestre Bobar, ele fala aos visitantes com impressionanteclareza e isso j se tornou um fato corriqueiro. Parece-me quealm de ler pensamentos, no h idioma desconhecido porBobar.

    Ento no h dvidas que ele possui poderes paranor-mais? perguntou, Jean.

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    Vocs comprovaram com que facilidade ele falava ofrancs. Ele l pensamentos, alivia o sofrimento das pessoas,cura enfermidades consideradas incurveis pelos mdicos efala fluentemente todos os idiomas existentes na Terra. Nosei se ele fala tambm a lngua dos Espritos.

    O que significa o tom sombrio de suas palavras? Havianelas algo de premonio. No lhe pareceu assim? pergun-tou dessa vez, Hugo.

    Acho que voc propenso a imaginao. No vi nadade sombrio, a no ser a forma como ele se expressou. Elesgostam de falar por parbolas e, tudo que dizem, tm um tomdivino. Para que vocs compreendam, um simples galhinhode relva tem um significado para eles. No devem serarrancados sem justa finalidade. A Me Natureza adorada

    por esta gente simples, pois dela obtm todas as suasnecessidades. Chegam a orar suplicantes quando so obriga-dos a abater algum ser vivo. Para quem no sabe, todos osseres, inclusive os vegetais, tm vida. Ele simplesmente pediua todos que respeitem a Natureza, e nisso no h nada desombrio.

    O que ele quis dizer quando falou que as montanhas nodevem, jamais, serem violadas ou molestadas pela mo do

    homem? perguntou, Pierre. Bobar sabe os poderes que emanam da Natureza. Ele

    contra aqueles que a ferem. Ela sente as retaliaes e hmuitas maneiras de mago-la. Vejam as caravanas. Elas dei-xam um rastro de lixo por onde passam, principalmentequando so comandadas por estrangeiros. o vosso caso. Osestrangeiros atiram em pequenos animais por simples prazer.Quando levantam acampamento, deixam atrs de si, umaquantidade considervel de resduos industriais. Garrafas

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    plsticas e de vidro, junto com caixas de variados tamanhosso abandonadas nos locais, transformando-se num cemitriode ratazanas. Muitas crianas, ao revolver o lixo em busca denovidades, so vtimas desses roedores. Esses resduos ferema Natureza e invadem os rios durante as chuvas, sobretudo osagrado Ganges. No me perguntem por qu, mas a Naturezatrata bem quem a respeita. A maioria das pessoas queperecem nas escaladas, no seguiram os conselhos de gentecomo Bobar. Muitos perdem a vida picados por cobras,quando poderiam evit-las se seguissem os conselhos dealdees humildes. Nestes meus quinze anos perambulandopelo Continente Asitico, aprendi a respeitar a todos e noduvidar de nada, pois h muita coisa que foge da observaode ns civilizados. Adotem como regra as observaes de

    Bobar. Respeitem suas palavras e tero menos aborrecimen-tos pela frente. Realmente ignoramos muitas coisas concordou, Hugo. Necessitamos viver vrias vidas para entender certas

    coisas ponderou, Stevens. Bem! Obrigado pela ajuda finalizou Hugo, estenden-

    do a mo ao ingls. No h motivo algum para agradecer. Se precisarem de

    mim, sabem aonde me encontrar.

    URIAN BABA

    odos haviam acordado que ficariam acampados nosop do Everest, aguardando o momento propciopara iniciar a subida. Pretendiam movimentar-se

    em fins de junho ou incio de julho, meses considerados osmelhores para se viajar no Himalaia.

    T

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    Nessa poca, a neve e as geleiras esto derretendo,formando-se milhares de ribeiras. O frio era agradvel e osguias estavam acostumados com esses fenmenos. Osequipamentos eram os mais modernos, os carregadores eramfortes, experientes, alegres e, sobretudo, amavam a profisso.Enquanto esperavam, os componentes do grupo faziampequenas incurses e se deliciavam com a paisagem.

    A olho nu, era impossvel medir a distncia das plancies.Perdiam-se de vista e estavam cobertas com plantaes decevada, trigo e lentilhas. Do acampamento poderiam servistos carneiros, gado bovino, bises, bfalos e cabras, almde galinhas, gansos e faises. O grou, da altura de umhomem, e o abutre barbado, tambm eram encontrados.

    Os rpteis eram mais numerosos que os mamferos.

    Destacavam-se os crocodilos, as tartarugas, os lagartos e ascobras. Entre as serpentes, a pton e a naja eram as maisperigosas e temidas, pois o veneno de ambas era extre-mamente mortal. Nas florestas viviam os mamferos selva-gens de grande porte. Destacavam-se o leo, o tigre, oleopardo, o lobo, o chacal e o rinoceronte. Os elefantesasiticos eram raros. Eram encontrados em maior quantidadena regio nordeste e sul da ndia.

    Apesar do perigo que representavam esses animais, a vidaera calma e pacfica. A Me Natureza dava tudo aos aldees,inclusive o sal e leo para queimar em suas lamparinas. Aspessoas respeitavam-se e contentavam-se em repartir comestranhos, os poucos vveres que tinham, pois eram hospi-taleiros e solcitos em tudo.

    As noites enluaradas eram por demais encantadoras e, asestrelas, disputavam renhidamente um lugar no Cu. A Luavestia-se de prata, mostrando-se dengosa e cheia de feitio.

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    Enciumado, o Astro Rei soltava chispas em sua direo. Davavontade toc-la com as mos. Vaidosa, eriava o plo dosmais sensitivos. A Natureza, presa ao seu encanto, espalhavaseu perfume com o auxlio da brisa da noite. Para completar ocenrio, estrelas cadentes riscavam os Cus, abenoando atodos.

    Ao ver os pirilampos com suas pequeninas luzes cla-rearem as matas, Hugo lembrou-se dos pisca-piscas dasrvores de natal de sua cidade. Milhares de pontos lumino-sos danavam em homenagem a Me Natureza. Era umespetculo que prendia a respirao at dos insensveis.Por alguns momentos seu pensamento se desviou para umquadro aterrador. Tambm eram luzes apagando e acendendo,s que eram luzes de holofotes tentando localizar os avies

    que bombardeavam as cidades. Canhes atiravam a esmotentando derrub-los, e s Deus sabia porque existiam asguerras.

    O encanto e a beleza do lugar fizeram-no retornar aopresente. De novo estava contagiado pela beleza e quietudeda noite. Seus companheiros estavam reunidos em volta deuma fogueira e conversavam alegremente. Ele resolveu serecolher.

    Na manh seguinte foram acordados por barulho depassos. Eram centenas de aldees que desciam das montanhasconversando ruidosamente. Todos dirigiam-se a um s ponto.Curioso, Hugo perguntou a Razak, chefe da caravana:

    O que est havendo? Ser que liquidaram com o tigreque rondava a aldeia?

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    Sahib9 respondeu o guia com voz pausada e numamistura de francs e brmanes est na aldeia, vindo da cida-de de Almora, Urian Baba, um Mestre de infinita sabedoria.Alm de sbio e mdico de almas, filosofo e costumadescrever estas regies abenoadas de forma potica. Suasproezas so conhecidas alm fronteira. Dentro de algunsminutos ele dar uma palestra. Meu povo o adora.

    Podemos nos juntar aos aldees? Ser uma honra para todos. Ento no percamos tempo!Seguiram unindo-se s pessoas que continuavam a con-

    versar animadamente. O local escolhido era uma vasta reacoberta por grama sedosa. Urian estava acomodado numpequeno patamar, sentado com as pernas cruzadas. Uma

    tnica de fino tecido, cobria-lhe o corpo delgado e magro e,seus olhos penetrantes, negros como azeviche, davam-lhe umaspecto de uma esttua grega. Tinha cabelos bem pretos,lisos e longos, e sua barba estava bem aparada. Apesar darudeza do local, Urian tinha trejeitos suaves e exalava umperfume muito agradvel.

    Sua voz de estranho timbre penetrava suavemente nosouvidos de todos. Falou quase duas horas seguidas e, pelo

    visto, ningum se moveria do local se falasse dois diasseguidos. Hugo apreciava admirado, mas nada entendia.Razak, observador, compreendendo o que se passava, ofe-receu-se para fazer um resumo do que estavam ouvindo.

    Sahib! Urian acabou de descrever os trechos maisfamosos e bonitos de dois poemas picos hindus: oRamayana e o Mahabbarata. Agora est falando sobre as

    9Forma respeitosa de tratamento.

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    nuvens que cobrem as montanhas do Himalaia, e que vemrolando mansamente da Baa de Bengala. So as mais antigasviajantes destas regies. Erguendo-se do Oceano, as nuvensde mono seguem em direo aos picos elevados, envolve-os, voltam com sons ensurdecedores aos vales e planciescarregadas de gua pura e, jogam sobre o solo, suas bnos.Quando nos sentamos pela manh ou a tarde no topo dasmontanhas, vemos beleza em nosso redor e, se temossensibilidade e espiritualidade, compreenderemos que essamaravilha um colquio amoroso junto ao Pai Divino, cujosatributos so a formosura, a eternidade e a verdade. O cre-psculo e a aurora vistos de cima, so simples movimentos,mas encerram profundo significado simblico. A manh, atarde e a noite, tem cada qual sua prpria beleza que lingua-

    gem alguma capaz de descrever. As montanhas mudam decor diversas vezes ao dia, porque o Astro Rei est a serviodelas. Pela manh so prateadas, ao meio dia douradas, e noite avermelhadas. O ambiente matinal do Himalaia tosereno, que leva as pessoas, espontaneamente ao silncio e ameditao. Isso explica porque os habitantes do Himalaia setornam meditativos. A Natureza a maior das faculdades dameditao e, durante a tarde, quando o tempo fica mais claro

    e o Sol rompe atravs das nuvens, tm-se a impresso que oPoderoso e Divino Artista, lana milhares de cores sobre ospicos nevados, formando quadros e telas preciosas, quejamais os pintores com seus pequeninos pincis pudessemimit-los. A arte existente no Nepal, Tibete, China e ndia,traz a influncia da beleza do Himalaia. A Natureza pacfica, e s perturba as que a perturbam, mas ensinasabedoria a quem a admira e aprecia sua formosura.

    Hugo ouvia impressionado.

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    Nas montanhas, encontram-se em abundncia muitasvariedades de flores. Os poetas dizem que vista dos picos, asvertentes atapetadas de flores parecem um imenso emagnfico vaso florido. Entre essas flores, os lrios e asorqudeas so consideradas as mais belas. Os lrios crescemem profuso, cobrindo as plancies com suas centenas devariedades. Existe um lrio cor-de-rosa, belssimo, que cresceem junho e julho a uma altitude acima de dois mil metros, smargens do rio Rudra Garo, afluente do Ganges. As orqu-deas, mais magnficas que qualquer outra flor, crescem numaaltitude acima de 1.200 metros. As flores so deslumbrantes,assombrosamente belas, e sua florao dura mais de doismeses. Existe tambm uma enorme variedade de rododen-dros. A mais preciosa a azul e branca. Comuns so as

    vermelhas e cor-de-rosa. Outra variedade possui ptalasmulti-coloridas. Flor rarssima, considerada a rainha dasflores do Himalaia, a ltus de neve.

    Com delicadeza, Hugo interrompeu dizendo: Caro Razak. Diante do que estou ouvindo, estou

    chegando a concluso de que voc, alm de excelente poeta, um profundo conhecedor destas reas. Os teus conheci-mentos abrir-te-iam as portas de qualquer faculdade do

    mundo. Com o que voc sabe, voc poderia se tornar umgrande palestrante. Os teus conhecimentos no devem ficararmazenados. Eles devem chegar aos ouvidos das pessoas.Por que voc guia de caravanas?

    Perdo, Sahib. Essas descries so de Urian Baba, nominhas.

    Ser que so! exclamou Hugo, com malcia.Mostrando timidez, o guia corou ligeiramente.

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    Voc ainda no me respondeu por que guia! insistiu,Hugo.

    muito simples, Sahib. Gosto desta profisso e estouintegrado ao ambiente que amo. Como guia j salvei muitasvidas. Para mim, isso muito importante. A maioria doshomens que escalam estas montanhas so simples aventu-reiros em busca de glria. Alguns s viram montanhas emfotos. Se lanam inadvertidamente ao perigo, principalmenteos mais jovens.

    De volta ao acampamento, avistaram um dos carrega-dores s voltas com um bule de ch. Os companheiros deHugo haviam retornado na frente, qui pela dificuldade ementender as palavras de Urian Bab. Estavam todos em voltada fogueira sorvendo o precioso lquido. Claude, o chan-

    teur do grupo, cantava uma cano feita em homenagem aParis. Ele possua uma linda voz. Quando avistou Hugo,parou com a cantoria.

    O grupo francs era composto por Hugo, Jean, Claude,Paul, Charles, Maurice, Louis e Pierre. Perto deles, ao redorde outra fogueira, estavam os carregadores e os guias. Hugo,embora jovem, era o mais velho entre os franceses. Seguia-ode perto, Paul, com vinte e oito anos Os demais estavam em

    torno de vinte e cinco anos.Paul era oriundo da cidade de Lion, falava seis lnguas e

    era o tradutor do grupo. Jean era formado em medicina eficara rfo bem cedo. Tinha um consultrio em Paris.Claude, dono daquela bonita voz, era reprter do Le Figaro.Reservadamente contou a Hugo que recebera uma propostapara atuar numa emissora de rdio. Na volta estudaria aproposta com carinho. Charles, o mais extrovertido do grupo,era fotgrafo profissional e contagiava a todos com sua

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    espontaneidade e alegria. Pierre, colega de infncia de Hugo,era desenhista e passava a maior parte do tempo pintando amaravilhosa paisagem que havia ao largo. Com exceo desteltimo, os demais foram atrados por um anncio que Hugomandou publicar no Le Figaro. Todos gozavam de excelentesade, e quatro deles h haviam participado de expedies.

    Para surpresa de todos, Razak chegou junto dos carre-gadores, ergueu os braos para o alto e comeou a orar. Hugoaproximou-se seguido pelos companheiros, e juntos forma-ram um crculo em volta do guia.

    Poderoso Sahib! dizia eleEscultor e Arquiteto Mor do Cu e do InfinitoVs que estais nas montanhas e plancies

    Nos vales e maresNos oceanos e desertos.Dai-nos a fora e a esperanaProtegei-nos durante a caminhadaQue nossas mentes sejam enriquecidas com Vossa

    presenaQue nossos membros tornem-se fortes e rijosQue a Me Natureza no seja hostil conosco.

    Que os Espritos das Montanhas no se zanguem eQue sejamos merecedores...

    Estranhamente o guia foi abaixando a voz e, por maisalguns instantes, orou em silncio. De seus olhos cerrados umprecioso lquido comeou escorrer sobre sua face. Pena queno viram o halo de luz que o ligava aos Cus.

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    UM CAADOR SOLITRIO

    omo previsto, iniciaram a jornada nos primeirosdias de junho. A caravana era composta de vintehomens e quinze mulas de carga. A proviso era

    farta, e os equipamentos estavam devidamente amarrados nodorso dos animais.

    A neve comeou a derreter, e inmeros cursos dgua seformavam pelas encostas. O espetculo era belo e grandioso.As populaes ribeirinhas deslocavam-se em busca de maiorsegurana, pois as avalanches eram constantes e perigosas.Havia um misto de assombro e euforia nos olhos dos fran-ceses. Parecia que havia algum cortando o Cu em peda-cinhos. Pequenos e grandes blocos de gelo se desprendiam

    das faldas, atingindo velocidades incrveis. Ao se espatifaremno fundo dos precipcios, faziam um rudo ensurdecedor.Gelo, pedras, cascalho e terra formavam um s bloco.Enormes crateras apareciam no solo. Embora perigoso, eraum bonito espetculo.

    A caravana se movia lentamente. Vistos de longe,pareciam formigas em movimento. Sob o comando de Razake Asmir, o outro guia, todos procuravam poupar as foras

    e no se expor a riscos. Os aldees sabiam que aquelasmontanhas atraentes, mas traioeiras, eram na realidade umesconderijo de mortos. Acima deles, o Everest parecia estarrindo daquelas formigas.

    Aps oito dias de marcha, aconteceu o primeiro incidente.Estavam acampados preparando-se para dormir, quando asmulas comearam a empinar e dar coices tentando se livrardas amarras. Pelo desespero, tudo indicava que haviamsentido a presena de um animal poderoso e temido por

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    todos. Tudo indicava que havia um tigre por perto. Noobstante oculto pela noite, haviam-no farejado. Uma dasmulas, enlouquecida pelo cheiro do carnvoro, conseguiuarrebentar as amarras e disparou em direo a ribanceira.Apavorado, o pobre animal lanou-se ao vazio e seu vultodesapareceu no negror da noite.

    Ao amanhecer avistaram-na no fundo da ribanceira. Seucorpo estava completamente esfacelado. Era um mistrio,mas a fera tinha chegado ao fundo e se banqueteado com oque restara do quadrpede. Reiniciaram a marcha maisvigilantes do que nunca.

    Razak e Asmir, em especial, sabiam que o felinoretornaria em busca de nova vtima, mas que s atacariaprotegido pela escurido da noite. Durante o dia estavam

    todos seguros. O problema era atravessar a noite. Diantedesse fato, resolveram destacar dois homens para irem emsua perseguio. Havia necessidade de mat-lo o quantoantes. Para cumprir a tarefa, foram escolhidos dois exmiosatiradores: Basra e Isra. No mesmo dia em que aconteceu oacidente, seguiram atrs do animal. Os dois j haviamparticipado de diversas caadas e, por isso, eram excelentesrasteadores.

    Sabiam que o tigre quando farejava o homem, s atacavaprotegido pela noite. De dia, s era feroz ao sentir-seameaado. No acampamento, enquanto aguardavam a voltados caadores, os franceses ficavam em constante movimentopara que o sangue no congelasse. O frio e o vento cortavamcomo fio de navalha.

    Quatro dias j havia se passado, quando os caadoresavistaram o esplndido espcime. Depois de atravessaremespessa e rica vegetao, viram o tigre numa clareira, parado

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    junto a uma ravina. Sua pelugem amarelo-avermelhada comlistas negras, brilhava luz do Sol.

    Inexplicavelmente o belo animal no fez meno de fugir,nem de atacar. Era um macho enorme. Encurralado e pres-sentindo o perigo que corria, rosnou incomodado. Pareciamais um lamento do que um rosnar de ameaa, poismantinha-se quieto e imvel, e seu olhar era dirigido a um sponto.

    Sem compreender o que se passava com o animal, Basra eIsra se separaram e procuraram circund-lo. Se errassem amira, talvez um deles seria despedaado. Qui os dois!Apesar de acuado, o animal invs de demonstrar ferocidade,estranhamente mantinha-se parado contrariando seus hbitos.Agora movia a cabea, ora para o lado direito, ora para o lado

    esquerdo, como procura de algo.Sem dar chance, Basra levantou o rifle e atirou cer-teiramente por duas vezes. O grande gato, com o impacto dasbalas, caiu ao solo, inerte. Um terceiro tiro foi dado por Isra.Aproximaram-se cautelosamente. Era um lindo exemplarcom aproximadamente trezentos quilos. Somente no enten-diam, porque a fera no os atacara. Encontraram a respostaquando observaram os olhos do animal: eram opacos e sem

    brilho. Aquele lindo espcime listrado era cego. Movia-se eia em busca de alimento guiando-se unicamente pelo faro.Por isso tinha se aproximado da caravana em busca dealimento fcil. Impossibilitado pela cegueira de perseguir umanimal selvagem, fora atrado pelo odor das mulas. Comotinha sobrevivido at aquela data sem enxergar, era ummistrio.

    Seguindo um velho costume, os dois caadores ajoe-lharam-se em volta da presa e pediram desculpas por lhe

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    terem arrebatado a vida. Aps algumas horas de jornadareencontraram o grupo. Foram calorosamente recebidos. Isratrazia o precioso trofu numa vara curta e grossa. A ponta davara estava enfiada num furo abaixo dos olhos do animal. Nagrande pele, via-se nitidamente trs orifcios. Uma das balashavia perfurado o corao do animal, matando-o instanta-neamente. No meio da algazarra e dos abraos, iam contan-do, cada qual a sua maneira, as peripcias da perseguio.Por outro lado, as mulas sentindo o cheiro sado da peledo animal abatido, comearam a escoicear e forar as amar-ras. Para que elas se acalmassem, a cabea e a pele do tigreforam deixados num povoado perto do local onde estavamacampados.

    Depois de treze dias de marcha, acamparam numa grande

    caverna. Em seu interior havia sido construdo, sei l porquem, um mosteiro. Ali se refugiavam Mestres e Gurudevasde diferentes partes. Ficavam longo perodo meditando e, dequando em quando, faziam incurses nas redondezas estu-dando a Natureza a fundo. O interessante e que despertou acuriosidade de Hugo e seus companheiros, que esseshomens contemplativos no tinham nenhuma proteo contrao frio intenso. Praticavam a yoga totalmente desnudos e,

    quando muito, colocavam sobre as partes ntimas, uma estrei-ta tira de pano.

    Travando conhecimento com um desses eremitas, quetinha como mascotes duas reluzentes najas, rpteis de mortalveneno, Hugo ficou sabendo que na ndia, o culto mais antigodos rias a religio vdica, assim denominada por causa doslivros sagrados em que est contida. Da religio vdica,desenvolveu-se o pensamento bramnico, o pensamento cls-sico da civilizao indiana. Razak j lhe tinha falado reserva-

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    damente, sobre a concepo pessimista e asctica do mundo,e como a vida se manifesta especialmente no bramanismo dosUpanixades, um livro sagrado.

    A tendncia yoga tida em grande honra, mas a solu-o do problema da vida, a evaso do mundo, procu-rada no por via prtico-negativa, e sim por via terica econtemplativa. Os religiosos que vivem nas cavernas e sel-vas, praticam a meditao procura de paz interior e comisso elevar-se.

    DE VOLTA AO PRESENTE

    nquanto Hugo estava s voltas com o pretrito,aproximou-se de Dulce um emissrio de Ezequiel,

    importante dirigente da Esfera das Decises.Chamava-se Israel e vinha em busca do recm-chegado, masvendo-o com os olhos cerrados, com-preendeu o que ocorria e limitou-se a sorrir, prometendo vol-tar dentro de instantes.

    Novamente a ss e, vendo Hugo um pouco agitado, Dulceachou conveniente cham-lo de volta. Tocou levemente suatesta com a ponta dos dedos, fazendo-o retornar.

    Que tal? perguntou, Dulce.Vendo que nada respondia, insistiu. Que tal? Como voc est se sentindo? Impressionante a cena que acabei de ver! Me vi

    enterrado lutando desesperadamente em busca de ar. Apresso da terra era tanta, que no conseguia mexer um sdedo.

    Percebi tua agitao. Por isso achei melhor cham-lo devolta.

    E

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    Eram cenas to reais, que ainda sinto o peso da terra emcima de mim. Isso significa que fui soterrado vivo?

    o que ocorreu. Voc e seus amigos estavam perto dopico, quando se desprendeu do alto uma grande quantidadede neve. No houve sobreviventes. Voc no acreditou namorte e ficou no local por mais de duas dcadas. Por diversasvezes tentamos atra-lo, mas fomos repelidos com veemncia.Nem todos aceitam a morte passivamente.

    Quer dizer ento que fiquei vinte anos achando queestava vivo?

    Isso mesmo. Como isso possvel? Quando a vida material termina, o esprito se desliga

    definitivamente da matria ao romper-se o elo que o prende

    ao corpo. Esse elo ou cordo chamado de perisprito. Amatria pouco a pouco se decompe, mas o esprito, at entocom as mesmas caractersticas do corpo que habitava pro-visoriamente, sobrevive. Essa semelhana do corpo com oesprito causa alguma confuso na hora da morte. A maioriano acredita estar morto fisicamente, apesar de ver a carcaasendo destruda pelos vermes. No teu caso no houve isso.Teu corpo permanece congelado debaixo da neve.

    Meu Deus! Vinte e cinco anos um longo perodo! Quando estamos ocupando um corpo um longo

    perodo, mas quando estamos livres, so apenas brevesmomentos.

    Voc est me dizendo que tambm existem dois tem-pos?

    Mais ou menos, Hugo! Mais ou menos! Outra horafalaremos disso. Muita coisa aconteceu na Terra enquantovoc passeava pelas montanhas. No final dos anos trinta,

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    aconteceu uma nova grande guerra. Essa guerra foi maisterrvel que a anterior. Milhes de irmos perderam a vidaestupidamente. A mesma nao que iniciou a primeira guerra,iniciou a segunda. S os autores mudaram. Sob pretexto dosmais esprios, a Alemanha invadiu a Polnia e declarouguerra Frana. Tanto uma como a outra sucumbiramfacilmente s poderosas foras nazistas. No satisfeito,Hitler10, esse era o nome do chefe do Movimento NacionalSocialista alemo, declarou guerra a Inglaterra e a Rssia e,dentro em pouco, os cinco continentes estavam envolvidos.Umas poucas naes no se envolveram diretamente.

    Mas como foi possvel um s exrcito abrir diversasfrentes?

    Sob os olhares compassivos da Frana e da Inglaterra,

    Hitler preparou tranqilamente o seu exrcito. Quandoperceberam as intenes expansionistas de Hitler, j eratarde. Alm disso, Hitler fez aliana com o Japo e a Itlia, oque lhe permitiu abrir vrias frentes de ataque. A per-severana e a coragem do povo ingls foi um fator decisivopara a vitria dos aliados, porm s com a entrada dosEstados Unidos no conflito foi possvel venc-los. Os russoslutaram renhidamente, pressionando o exrcito alemo contra

    seu prprio territrio. O ltimo pas a se render foi o Japo e,isso s aconteceu, porque os Estados Unidos lanou sobreseu territrio duas bombas atmicas. Seu efeito foi to devas-tador que duas cidades desapareceram num piscar de olhos.Os poucos sobreviventes ficaram deformados para o resto davida.

    10 Adolf Hitler Chefe alemo (Fhrer) de origem austraca (Braunau,ustria, 20-04-1889 Berlim, Alemanha, 30-04-1945).

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    De onde foram lanadas essas bombas? De dois gigantescos avies bombardeiros. Essas naves

    voavam a grandes altitudes. Eu acho que quem mandoulanar as bombas desconhecia seu poder de destruio.Perderam a vida mais de duzentas mil pessoas.

    Quem foi o infeliz que deu essa ordem? Harry Truman11. Truman substituiu o Presidente

    Franklin Roosevelt12que faleceu durante o mandato. Eu noculpo Truman. Acho que ele foi pressionado e mal informadopelo comando militar. Tenho quase que certeza que se elesoubesse o estrago que faria essas bombas, no autorizaria olanamento.

    No posso concordar com voc, a no ser que as duasforam lanadas na mesma hora do mesmo dia.

    Voc est certo. Eu no havia pensado nisso. Ele podiaevitar o lanamento da segunda. O qu aconteceu com os que fomentaram a guerra? Os que morreram fisicamente esto sendo julgados

    deste lado. Os que esto ainda vivos esto sendo procurados ejulgados em Nuremberg. Podero escapar das leis doshumanos, mas no escaparo das Leis Divinas. Dessasningum escapa. Alguns tiraram a prpria vida tentando

    escapar. Pobres infelizes! Hitler atirou contra a cabea.Mussolini, o chefe de estado italiano, foi morto junto com suaamante por aqueles que o apoiavam. Ambos j estogemendo nas profundezas. Existem muitos culpados que se

    11Harry S. Truman Poltico, norte-americano (Lamar, Missouri, 08-05-1884 Kansas City, Missouri Estados Unidos 26-12-1972).12 Franklin Delano Roosevelt Estadista norte-americano (Hyde Park,

    Nova York, 30-01-1882 Warm Springs, Gergia, Estados Unidos, 12-04-1945).

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    escondem atrs de importantes cargos pblicos. Existemmuitos eclesisticos que pensam que esto livres escondendo-se em batinas. No incio da guerra, quando os alemescomearam a exterminar os judeus, Sua Santidade se negouaceitar a realidade dos fatos. Preferiu ignorar o que estavaacontecendo. O mesmo fizeram os cardeais. Milhes dejudeus foram arrastados para a morte por ordem de uminsano, enquanto os insensatos se omitiam. Quanta hipocrisiaexiste no corao humano! Se as autoridades religiosasfossem mais honestas e severas na conduo de seu rebanho,Hitler no teria chegado aonde chegou. De qualquer forma,perdendo ou ganhando, esses privilegiados de momento sefortalecem porque continuam a explorar a misria humana.Vivem em palcios cercados de todo conforto, enquanto seus

    lacaios lanam seus tentculos sobre povos famintos esedentos de justia. Um dia isso ter fim na Terra. Por que at hoje h um forte preconceito contra os

    judeus? Ser por que executaram Jesus Cristo? O que a Humanidade j deveria saber, que Jesus

    Cristo foi retirado quando chegou sua hora Todos temosnossa hora. A Dele era aquela. Jesus preferiu o sacrifcio esilenciou diante de Pilatos. O Cnsul tentou demov-lo, mas

    o Mestre preferiu ignorar o conselho. Por detrs disso tudo hum enorme interesse poltico. Todos querem botar a mo emJerusalm.

    Mas Jerusalm no foi sempre uma cidade judaica? No sei se pertenceu sempre comunidade judaica,

    porm sei que nela sempre viveram judeus. Existem vriasfaces querendo tom-la. Quem sabe um dia ela sejadividida em quatro partes iguais: uma para os judeus, outrapara os palestinos, uma outra para os catlicos e uma ltima

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    para no sei quem. O que no entendo, que todos falamnum deus, mas as mortes no param de acontecer.

    Quem sabe um dia ela seja considerada um territrioneutro, aberto a todos os povos.

    O que acontece Hugo, que entre fanticos difcilhaver paz. Essa a nica verdade.

    Como esto as naes que perderam a guerra? Numa guerra no existem vencedores. Todos perdem

    alguma coisa. A Alemanha ainda no se recuperou dosestragos. Antes que os generais alemes assinassem arendio, a nao alem foi completamente destruda pelasbombas. Vinham de todos os lados. Berlim, a capital, sexiste no mapa. Hoje h duas repblicas alems: a RepblicaDemocrata Alem controlada pelos soviticos, e a Repblica

    Federal da Alemanha controlada pelos aliados. No seimpressione! O povo alemo rapidamente reconstruir umanova Alemanha. Futuramente haver a reunificao. Notenha dvidas disso. Acho que desta vez os alemescompreenderam que a paz somente se consegue longe dasarmas. Quanto aos japoneses a lio foi ainda maior, porqueconsideravam o Imperador Hiroito um verdadeiro deus.Quantos absurdos existem na Terra, voc no acha?

    Hugo preso a narrativa, preferiu continuar calado. A Itlia continuou Dulce trocou a monarquia por

    uma repblica democrtica. Seus atuais dirigentes estofazendo uma completa reforma. Acho que desta vez tambmos italianos aprenderam a lio. Com a finalidade de estreitaros laos de amizade entre as naes, um comit desportivoest preparando um novo campeonato mundial de futebol, umesporte praticado por vinte e dois atletas. Ser a primeiragrande festa esportiva do ps guerra. Estaro presente mais

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    de uma dezena de pases, inclusive a Itlia, a Inglaterra e osEstados Unidos.

    E a minha Frana, no estar presente? No sei exatamente quantos pases estaro presentes,

    porque quase todos foram afetados pela guerra. O Brasil sero pas anfitrio e tudo indica que ser uma bonita festa. Nomedindo esforos, seus dirigentes esto acabando de cons-truir um estdio com capacidade para abrigar duzentas milpessoas. Deus queira que tudo d certo. Os povos estoprecisando de um pouco de alegria.

    Desde j estou torcendo para que a minha Frana sefaa representar.

    Quem sabe!

    A ESFERA DAS DECISESoram interrompidos pela chegada de Israel. Depoisdas apre-sentaes, Hug despediu-se de Dulce e seguiu com

    o novo amigo. Israel era jovem e seus olhos eram to negrosque pareciam duas jabuticabas. Um veculo de forma circularos esperava. No tinha rodas, mas mantinha-se parado um

    metro acima do solo. Hugo, j acostumado com s surpresas,nada comentou.

    O estranho veculo levava confortavelmente oito pessoas,e movimentava-se em todas as direes com grande velo-cidade. Os assentos estavam colocados num s sentido. Nafrente dos dianteiros havia um painel com vrios botes decores diferentes. Quando Israel pressionou dois deles, oveculo disparou em relativa velocidade. Dezenas de outrosobjetos eram vistos medida que se deslocavam. Uns eram

    F

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    triangulares, outros retangulares, porm a maioria tinha aforma circular. No se avistavam nessas naves, luzes arti-ficiais, porm todas estavam circundadas por um grandenmero de pequeninas janelas. Nestas regies de intensaluminosidade, no havia necessidade de faris. Eramobsoletos. Hugo apreciava o panorama, impressionado com oque via.

    Passaram por plancies, florestas, grandes lagos e,finalmente, avistaram uma cidade construda na orla martimade um grande Oceano. De cima ainda foi possvel veralgumas embarcaes se movimentando na superfcie.Embora distantes, dava para perceber que eram belssimosveleiros. Hugo permanecia entretido com a vista, quandoIsrael chamou sua ateno apontando-lhe um grande planalto.

    Chegamos! comentou sorrindo.No plat podiam ser vistos edifcios cercados por imensosjardins floridos. Havia uma rica fauna entre a vegetao quecercava os jardins. Um grande pssaro colorido, perto de umacorrente dgua, despertou a ateno de Hugo. Era um mistode cegonha e flamingo, s que sua plumagem de diversascores, lembrava o Arco-ris. No muito longe do exticopssaro, centenas de borboletas voavam chocando-se no ar.

    Para onde dirigia o olhar, Hugo era surpreendido com novasbelezas. As rvores estavam cobertas com flores de diversascores e possuam uma simetria admirvel e harmoniosa.Hugo pensou: como possvel uma rvore ter flores deespcies diferentes? Os galhos e folhas formavam estranhosdesenhos. Entre dois desses vegetais de grande porte, haviauma lagoa de gua lmpida, onde peixinhos multi-coloridosnadavam entre corais. Era uma viso encantadora!

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    Israel pousou o veculo junto a um prdio comcaractersticas de uma catedral. Na parte central do prdio,havia uma torre com uma cobertura de vidro. Na coberturahavia uma comprida vareta e, na ponta da vareta, brilhavauma pequena esfera de cor azul. Duas torres de menortamanho ladeavam a torre central. Ambas tinham a mesmaaparncia da torre maior. Embaixo delas destacavam-se trsbalces. A fachada do prdio era toda da cor do ouro e, nasacada do meio, salientava-se uma escultura aparentementesolta no ar, representando uma criana com cabelosencaracolados, envolvidos com uma fita de metal pintada deazul. De seus pequeninos ombros, apareciam duas asas. Aoentrarem pela abertura central, cruzaram com algumaspessoas, cujos corpos emitiam tnues lampejos. Vestiam

    togas e tiaras brilhantes. No agentando mais a curiosidade,Hugo, perguntou: Por favor, Israel! Aonde estamos e quem so essas

    pessoas jovens? Esses jovens so alguns dos responsveis pela harmonia

    que existe entre os astros da via-lctea, entre eles, a Terra.Eles tambm tm a responsabilidade de vigiar e montaroperaes de socorro nas regies de sofrimento. Dentro delas

    h muitos enfermos. Voc ver mais adiante. Ainda quantoaos astros, voc ter oportunidade de notar que todos semovimentam em harmonia, sem causar nenhum acidente.Alguns desses jovens, observam e controlam os movimentosdesses astros.

    Voc est me dizendo que eles controlam a Natureza? possvel control-la?

    Por ora s posso te responder que nada foge dos olhosdo Criador. Nos diversos Universos h muito mistrio! H

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    muitos segredos! Por que eles existem? Talvez para atiar onosso crebro. Talvez para que possamos progredir. Em todolugar h vida, e onde h vida, h coisas para serem pes-quisadas. Este lugar onde estamos conhecido como Esferadas Decises. Por que Esfera das Decises? Porque daquipartem muitos desses jovens com misses importantes. Todosso voluntrios. Alm de vigiar o que voc chama de natu-reza, eles fazem operaes de resgate nos planos onde oambiente de desolao. H muitos planos de sofrimento etodos so chamados de Vale das Lgrimas. H mais seresnesses rinces, que nos locais de luz como este. Algunsdesses irmos so to ruins, que adquiriram a aparncia demonstros. So to agressivos e maldosos que suas mos setransformaram em garras. Os ps tm a aparncia de cascos.

    Se arrastam na lama desses lugares, como rpteis atrs desuas presas. Essas cenas comovem at os mais brutos. Essesjovens quando sentem que alguns desses seres tm umlampejo de bondade, vo atrs tentando resgat-los. Entreesses irmos sofredores existem muitos homens e mulheresque foram famosos e adorados na Terra. Alguns desen-carnaram h sculos, mas ainda so lembrados com carinho.Escaparam dos tribunais da Terra atravs de artimanhas, mas

    aqui ningum escapa. Ficaro eternamente nesses lugares? No acabei de dizer que quando algum tem um lampejo

    de bondade socorrido! Todos tero novas oportunidades.Deus jamais abandona seus filhos, por piores que sejam.

    Mas ento por que existem esses lugares? Para que haja justia. Para faz-los sentir o mal que

    causaram aos seus semelhantes. Voc no lembra doconselho de Jesus? No faa aos outros aquilo que voc no

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    quer que lhe faam! Infelizmente, a justia dos homens falha, por isso so julgados por Deus. Uma dessas criaturas,solta na Terra ou em planos anlogos, causaria um malirreparvel. Muitos deles foram importantes religiosos.Famosos e adorados cardeais. S que utilizavam seus cargospara benefcio prprio. Isso continua existindo. At quando,no sei! Perseguem os que no seguem seus dogmasultrapassados. Usam o nome de Deus para encobrir suasfaltas. Enfraquecem a autonomia das naes, semeando adiscrdia entre os povos. Fomentam o dio e se escondematrs das batinas. Nesses vales tambm existe um nmeromuito grande de homens pblicos de grande prestgio. Comoforam muito bajulados, conservam at hoje os mesmoshbitos. Fazem discursos em cima de rochas limbosas, como

    se estivessem em tribunas do senado. Continuam fazendoacertos e conchavos. So hbitos difceis de mudar. Talvez Dante13 tenha se inspirado nesses lugares para

    fazer a Divina Comdia! O que voc acha? Saiba voc uma coisa. Nenhum artista, seja ele pintor,

    msico ou escritor, faz algo sem intuio do Alto. Dante no uma exceo. Podemos chamar o Vale de Inferno, pois aliexiste toda espcie de tortura. Seus habitantes unem-se em

    bandos, e seviciam os mais fracos com requintes de cruel-dade. Alguns verdugos, quando esto esgotados, revezam-separa continuar com os castigos. No se afastam da vtima, umsegundo sequer. impressionante! Existe tambm uma

    13Dante Aleghieri Poeta italiano (Florena, maio de 1265 Ravena 14-

    09-1321). Autor da Divina Commedia uma das obras primas da literaturauniversal.

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    vigilncia permanente. Os guardas tm muito trabalho paraevitar que passem as barreiras.

    Mas se os guardas impedem a passagem, por que noimpedem os suplcios?

    Eu j me questionei sobre esse assunto. Sinceramente,tambm no sei! S posso afirmar que as Leis do Criador socertas e imutveis. Ns ainda no estamos em condies decompreender algumas delas. Um dia saberemos. Quandonuma daquelas mscaras horrveis se abre uma rstia depiedade, esses jovens aproximam-se e comea a a salvaode um deles.

    Poderamos chamar essa aproximao de doutrinao? Sem dvida nenhuma, pois preciso muito cuidado

    para no afast-lo. O sofredor atrado aos poucos. neces-

    srio muito tato e perspiccia. As vezes esse namoro duraanos. Os verdugos esbravejam em desespero tentando manteras vtimas sob seu controle. Para que a vtima seja tocadapelas fibras do amor e possa se desvencilhar, as vezes preciso o uso da fora.

    Gostaria de fazer parte desse trabalho. Isso possvel? Tudo possvel quando se tem amor. Quem sabe antes

    de partir, dar-te-o essa oportunidade. A respeito ainda dos

    jovens, devo acrescentar que eles mudam de aparnciaquando necessrio. Usam desse expediente para impres-sionar alguns sofredores. Geralmente adquirem a aparnciade parentes e entes queridos. Assim conseguem atingir seusobjetivos.

    At o momento, s tenho visto coisas bonitas. Sermuito interessante ter relao com esses sofredores do Vale.O que lhe parece?

    Tudo tem sua hora, meu caro Hugo!

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    OBRAS DE ARTE

    ntraram num amplo salo cujas paredes estavamcobertas com pinturas belssimas. Eram obras deRubens14, Rafael15, Renoir16, Tiziano17, Leonardo

    da Vinci18, Van Gogh19, Manet20e outros.Hugo ficou arrebatado quando viu duas esculturas

    ladeando uma passagem. Eram cpias exatas de duas dasmais famosas obras de Michelngelo21: David e Piet. Assurpresas no ficavam por a, pois sobre uma base ricamentetrabalhada estava a mais famosa obra do artista: Moiss. Noteto estavam reproduzidos os famosos e gigantescos afrescosda Capela Sistina. David, Piet e Moiss pareciam ter vida,

    uma vez que s faltavam os movimentos. Os personagenspintados caprichosamente no teto eram to perfeitos que

    14Peter Paul Rubens Pintor flamengo (Siegen, hoje Repblica Federalda Alemanha, 28-06-1577 Anturpia, hoje Blgica, 30-05-1640).15 Rafaello Sanzio Pintor e arquiteto italiano (Urbino, 06-04-1483 Roma 06-04-1520).16Pierre-Auguste Renoir Pintor francs (Limoges, 25-11-1841 Cagnes03-12-1919).17Tiziano Vecellio Pintor italiano (Pieve di Cadore, 1488-90 Veneza,27-08-1576).18 Leonardo da Vinci Artista e pensador italiano (Vinci, perto deFlorena, 15-04-1452 Castelo de Cloux, perto de Amboise, Frana 02-05-1519). Um dos maiores gnios da humanidade. Foi pintor, escultor,arquiteto, engenheiro e cientista.19 Jan Josephszoon Van Goyen (Goijen) Pintor holands (Leyden, 13-01-1596 Haia, 1656). O mais importante paisagista holands.20Edouard Manet Pintor francs (Paris, 23-01-1832 id., 20-04-1883).21 Michelangelo Di Lodovico Buonarrotti Simoni Escultor, pintor,arquiteto e poeta italiano (Caprese, 06-03-1475 Roma 18-02-1564).

    E

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    pareciam estar volitando. Sobre Moiss, contava-se na Terraque Michelngelo aps termin-la, incitou a esttua para quefalasse, tamanha era sua perfeio.

    Israel vendo a expresso de espanto de Hugo, sorriu ecomentou:

    Essas obras, Hugo, so as verdadeiras! So as originais!As que esto na Terra, so cpias. Seus autores foraminduzidos a cri-las

    Enquanto Israel se esmerava no comentrio, aproximou-se uma jovem muito bela, que lhes ofereceu um copo com umlquido muito transparente. Sorveram-no sem perguntar o queera. Hugo, principalmente, sentiu uma sensao muito agra-dvel, e seu corpo se tornou ainda mais leve. Lembrou-se queat aquele momento no havia comido nada, mas apesar

    disso, estava bem disposto.A jovem sorriu e disse: Sou Estela. Tenho ordens para lev-los. Por favor,

    sigam-me.Entre as esttuas de David e Piet havia uma passagem.

    Era um corredor estreito e comprido com paredes de vidro.Dos dois lados podiam ser vistos centenas de peixes coloridosmovimentando-se em guas cristalinas. Na verdade aquele

    corredor era uma passagem subterrnea, cujos lados e a partesuperior estavam envolvidos por uma quantidade conside-rvel de gua e corais.

    Depois de alguns minutos entraram numa ampla sala. Oambiente era sbrio e bem simples. No interior da sala haviavrias poltronas, um sof para cinco pessoas e trs pequenasmesas. Quatro grandes estantes cobriam as paredes e estavamcom todas as divises abarrotadas de livros. Era umaaconchegante sala de leitura, que se diferenciava das biblio-

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    tecas terrestres por uma nica coisa: no havia nenhumabibliotecria.

    Acomodem-se e fiquem a vontade. O irmo Ezequielchegar dentro de instantes. Que a paz de Deus estejaconvosco.

    Assim seja antecipou-se, Israel. A quem me devo dirigir para obter um livro

    perguntou Hugo, por curiosidade. A ningum respondeu rindo, Israel. s mentalizar o

    nome do livro junto aquele painel direita. Uma pequeninaluz vermelha se acender na capa do livro desejado. No fcil?

    Meu Deus! Quantas novidades!Quando Hugo j estava propenso a testar o sistema,

    entrou na sala Ezequiel. Tinha um aspecto magnfico. Vestiauma toga igual s utilizadas pelos tribunos da antiga Roma.Tez clara, olhos verdes e penetrantes, cabelos longos e negroscomo azeviche, davam-lhe um semblante majestoso. ComoDulce, seus cabelos eram repartidos ao meio ao estilo dosnazarenos. Nos ps usava sandlias do tipo franciscano. Hugoo reconheceu de pronto.

    Sorrindo, abraou Hugo, e disse de forma amorosa:

    Bons ventos o tragam, meu adorado filho! Ainda noestou livre das emoes que envolvem os humanos, apesar deestar livre da matria h muitos e muitos anos. Quantoscaminhos trilhamos juntos! Quantas separaes tivemos deenfrentar! Tudo isso no importa. Estamos juntos novamente!

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    Ezequiel era, nada mais nada menos, Lucius AnnaeusSeneca22, famoso filsofo romano que viveu no primeirosculo da era crist.

    Sob forte emoo, Hugo s conseguiu dizer: Como devo trat-lo? Voc sempre gostou do nome Lucius. Aqui todos me

    chamam de Ezequiel. Eu no tenho nenhuma preferncia pornomes. Meu tempo escasso, por isso irei direto ao assunto.Voc retornar Terra e vestir novamente uma batina. Serum importante homem no mundo religioso. No momento novou entrar em detalhes. Vou apenas adiantar que ser umardua tarefa e exigir empenho e sacrifcio. Embora seja umamisso difcil, eu no tenho dvidas que voc sair vitorioso.Depois disso, voc ter condies de viajar com liberdade por

    vrias regies do Universo. Israel e Estela tm instruespara enriquecer os teus conhecimentos. Eles vo te levar paradiversos lugares do plano espiritual. Bons e maus! Para voc,ser uma experincia magnfica sob todos os aspectos. Afastea timidez e no te omitas de perguntar. Tudo que voc ver poraqui, te ser til no futuro. Procure armazenar em teu esprito,todas as lembranas. Confie em mim, como confio em ti. Atbreve, e que a paz do Divino Mestre esteja sempre ao teu

    lado.Hugo fez meno de ajoelhar-se. Ezequiel carinhosa-

    mente o impediu. Ajoelha-te diante do Pai e do Divino Mestre, no diante

    de mim, que nada sou! Isso seria um sacrilgio!

    22 Lucius Annaeus Seneca Filsofo e poeta romano (Crdoba, com 4a.C. Roma, 65 d.C).

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    Osculou o rosto de Hugo e de Israel, e desapareceu comohavia surgido.

    Israel no era curioso, mas diante da novidade, comentoufilosofando:

    De uma boa cepa, sempre saiu um bom vinho! Estivemos juntos em vrias ocasies. Ele foi um timo

    pai! Sneca no foi aquele filsofo romano condenado

    injustamente por Nero23? Sim! Naquela ocasio eu fazia parte de sua guarda de

    segurana. Por cime e ordem de Messalina24, Sneca passouum perodo de sua vida exilado em Crsega. Chamado devolta por Agripina, A Jovem25, passou a ser o preceptor deDomcio, depois Imperador Nero. Domcio ento tinha 11

    anos de idade. Tambm enciumado pela popularidade deSneca, Nero passou a persegu-lo e, sob pretexto decumplicidade na conspirao de Piso, foi acusado injus-tamente. Nero ordenou sua morte e, mil anos depois, nosencontramos na baslica de So Pedro. Dessa vez, aquele quefoi Sneca, era Ezequiel, e fazia parte do Sacro Colgio dosCardeais. Eu era seu secretrio. Ezequiel nunca admitiu ainfalibilidade do Papa nas questes religiosas, pois s Deus,

    23 Nero Claudius Caesar Drusus Germanicus. Nome original, LuciusDomitius Ahenobarbus. Imperador romano (Roma, 37 d.C. id., 68).Adotado por Claudius a quem sucedeu no poder.24Valria Messalina (22 d.C. 48 d.C.) Esposa do Imperador ClaudiusI (Tiberius Claudius Drusus Nero Germanicus).25 Agripina, A Jovem (15 d.C. 59 d.C.) Me de Nero sobre a qual

    exerceu poderosa influncia. Casada em quartas npcias com o ImperadorClaudius I. Morreu assassinada a mando do prprio filho.

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    dizia ele, infalvel. Ns somos simples mortais. Eu sempretive a mesma opinio!

    Quem sabe por isso, voc foi o escolhido.

    O SOLAR DAS REMINISCNCIAS

    untaram-se a Estela na sada, e foram em direo aum edifcio de estilo barroco, cercado por palmeirasde porte mdio. Entre as rvores havia um rico jardim

    com mimosas de variadas cores. No lugar havia tamanhasensao de paz, que era possvel captar o barulho dosilncio. A atmosfera que os envolvia era to sensvel, que osfazia flutuar. Todo aquele conjunto tinha um nome sugestivo:Solar das Reminiscncias. Em seu interior, todos podiam

    rever o seu passado. Ficando a par da utilidade do Solar,Hugo comentou: Gostaria de passear de novo pelo passado. Existem

    coisas que eu gostaria de esclarecer. Intriga-me, sobretudo, ofato de nunca ter ocupado um corpo feminino, no obstanteter encarnado dezenas de vezes. Vocs no acham issoestranho?

    O qu h de estranho nisso? Eu tambm nunca fui

    homem! Isso pouco importa ao Esprito. Escolhemos o corpoque vamos encarnar de acordo com nossas tarefas. No acheabsurdo, mas aqui h um local onde podemos escolher nossoscorpos antes de encarnar. Logo voc saber! V agora embusca do teu passado. Voc est vendo aquele outro salocom um globo em cima da porta? Ficaremos a tua esperadentro dele. Que a paz de Deus permanea contigo.

    O piso do recinto estava protegido por um tapete felpudode cor branca. Hugo acomodou-se entre duas almofadas.

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    Havia dezenas delas esparramadas pelo cho. Numa dasparedes estava afixado um cartaz com a seguinte mensagem:O SILNCIO UMA PRECE QUE NOS UNE A DEUS.Todos que ali estavam haviam entendido a mensagem. Haviaum profundo silncio e, os diversos irmos que havia dentrodo salo, estavam com os olhos cerrados, meditando comomonges.

    Hugo assumiu a mesma postura. Como num passe demgica, comeou a aparecer em sua mente, cenas deexistncias anteriores. Viu como penosa e dramtica a lutaem busca da perfeio. Passou por dolorosa experinciaquando se viu dentro do corpo de um canibal. Teve vriasvidas entre selvagens, at receber permisso para ingressar nomundo considerado civilizado. No s na Terra peregrinou.

    Esteve em vrios planos semelhantes, alguns bens inferioresaos padres de vida da Terra. S comeou a sentir a presenada discrdia e da conseqente ambio que h nos seres,quando adentrou o mundo civilizado. Entre os selvagens aluta era somente para sobreviver. Quanto mais instrudoseram os povos, mas sentimentos de inveja havia. O dio, ocime e, principalmente a usura, acirravam a luta pelo poder.O orgulho e o egosmo estavam presentes em todos os lares.

    Isso impedia o acesso a mundos de maior progressoespiritual.

    Uma de suas existncias o marcou profundamente,justamente aquela que viveu entre os Cardeais da IgrejaCatlica. Alm de ter sido secretrio do ento CardealEzequiel, quando este fazia parte do Sacro Colgio deCardeais, foi tambm Arcebispo na Irlanda e conselheiro doPapa Gregrio XIII.

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    Durante a famigerada Santa Inquisio, um dos perodosmais negros da histria da Humanidade, ele viu cenas torepulsivas, que comoveriam o brbaro tila26e seus hunos.Os juzes eram to sdicos e cruis, que os prprioscarcereiros ficavam apavorados. Hugo tambm teve cinciaque jamais ficou espera da morte preso a um leito. Estevequatro vezes ao lado de Ezequiel. Numa dessas foi seu filho.Jamais animou um corpo feminino. Devagarinho, retornou aopresente.

    A GALXIA MELCHI E AS CARRUAGENS DE FOGO

    ncontrou Israel e Estela confortavelmenteinstalados num pequeno sof. Assim que cruzou a

    porta da sala, reparou que olhavam fixamente parao alto. Incontinente desviou o olhar para cima. O teto, que eracircular, era uma rplica do Cu visto da Terra numa noiteenluarada, s que invs de estrelas, viam-se milhares depequeninas esferas luminosas de variadas cores. As esferaseram do tamanho de uma cabea de alfinete e nenhuma eraidntica. Faiscavam e brilhavam a medida que giravam. Noh como descrev-las com fide-

    lidade. Eis Hugo exclamou eufrico, Israel um prottipo da

    Galxia Melchi. Nessa Galxia abrigam-se alguns dos seresmais adiantados dos diversos Universos.

    26Rei dos hunos (com 406-453). Considerado o mais terrvel dos chefesbrbaros da histria. Por sua ferocidade atriburam-lhe o cognome de

    Flagelo de Deus. Chegou s portas de Roma, e quando tinha tudo paraderrubar o imprio, resolveu voltar.

    E

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    Aquelas pequeninas luzes representavam as moradas dosirmos que atingiram, ou melhor, que estavam perto daperfeio. Cada cor representava o grau de elevao de umdesses seres. Tudo era luz e resplendor!

    Hugo no conseguia, sequer, mover os lbios, tamanhaera sua excitao. Estava com a expresso de um bobo.Jamais havia imaginado ver um quadro to fantstico emaravilhoso. As esferas tinham vida prpria e giravamlentamente nos eixos.

    Israel e Estela sorriam intimamente, enquanto acom-panhavam a expresso do rosto do amigo. A curiosidade deleaguou, quando observou o movimento de minsculas luzesentre as esferas. Israel, observador, disse:

    Essas luzes, Hugo, so cpias perfeitas de Discos

    Voadores. Aqui tambm tm esses nomes. Eles so utilizadosem benefcio de primitivas civilizaes. Isso aconteceu naTerra. Os primeiros habitantes do Planeta Azul foramtransportados nessas naves. Esses engenhos acompanharam ederam proteo ao povo hebreu enquanto atravessavam odeserto. Sem esse auxlio, os hebreus teriam sido aniquiladospor seus inimigos. O Patriarca Moiss27recebia suas ordens,via megafone, do chefe da tripulao. Esse querido emissrio

    foi confundido com Deus, principalmente quando deu aMoiss as Tbuas Sagradas28. A Bblia descreve os DiscosVo