A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade

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Porque é que o impacto das políticas anti-populares tem tão escasso relevo na transformação do quadro político em Portugal? Qual a natureza do regime democrático em Portugal? Qual a relação entre a corrupção e a revolução? Porque a esquerda social não se transforma em esquerda política?

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    A uma democracia de controlo poder suceder uma democracia de liberdade?

    Autores: Antnio Pedro Dores e Vtor Lima

    Resumo:

    Porque que o impacto das polticas anti-populares tem to escasso relevo na transformao

    do quadro poltico em Portugal? Qual a natureza do regime democrtico em Portugal? Qual a

    relao entre a corrupo e a revoluo? Porque a esquerda social no se transforma em

    esquerda poltica?

    A nossa contribuio menciona as causas da despolitizao, da administrao autoritria, da

    persistncia das limitaes educativas como fontes de constrangimentos de aco colectiva,

    no momento actual.

    Palavras-chave: 25 Abril, democracia, confiana, Europa

    A uma democracia de controlo poder suceder

    uma democracia de liberdade?

    Numa revoluo, como a de 1974/75 em Portugal, o espao de democracia de liberdade,

    sobretudo desde o golpe de 25 de Novembro, tem evoludo para uma democracia formal, de

    controlo biopoltico. semelhana do que prtica na Europa. Mas o grau de atonia social

    mpar. O que se observa comparando a reaco de repdio pelas polticas de austeridade

    impostas pela troika (Comisso Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetrio

    Internacional) com o que ocorre na Grcia e em Espanha, e mesmo em Itlia, onde a vontade

    das massas se manifesta nas ruas, nas greves.

    Cabe perguntar:

    Porque que o impacto das polticas anti-populares tem to escasso relevo na transformao

    do quadro poltico em Portugal? Ou, de outro modo, o que distingue e o que aproxima a

    situao poltica portuguesa das outras do sul da Europa?

    Por que razo os quadros de opes partidrias nos pases de Europa do Sul, sete anos aps a

    declarao de crise financeira global e cinco anos aps o estabelecimento do programa de

    transferncia de responsabilidades do sector bancrio para o sector estatal, esto em

    transformao e em Portugal esto estveis, apesar de todos serem alvos das mesmas

    polticas extractivistas, violadoras do princpio da responsabilidade privada pela falncia dos

    negcios privados?

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    Pretende-se aqui contribuir para o aprofundamento do debate sobre a natureza dos regimes

    democrticos no Sul da Europa, e em Portugal em particular. Esse debate, emergente em

    2010, quando as apologias ofuscantes do modernismo europeu de que a sociedade do

    conhecimento seria a gazua progressista abriram fissuras e deixaram passar a necessidade,

    at a reprimida, de compreender as histrias e as ideologias que aqui nos trouxeram. O 25 de

    Abril deixou de ser apenas uma data folclrica, com marchas e discursos institucionais, para

    ser motivo de curiosidade histrica e filosfica. Como a revoluo democrtica aderiu a

    sistema europeu que parecia democrtico mas d mostras de no o ser? A democracia implica

    necessariamente mais corrupo, como dizem os que afirmam que afinal sempre era Salazar

    que tinha razo (ele ao menos no era corrupto e punha ordem nisto)? Ou no houve

    seno uma encenao de revoluo? Sem sangue as revolues so farsas, sem sacrifcios

    revolucionrios nada dura? Na distncia da memria enfraquecida pela esperana na

    convergncia com os pases mais desenvolvidos da Europa, a especificidade do Processo

    Revolucionrio em Curso (PREC), entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975,

    revisitada nos debates actuais, como no era antes de 2010. Aquilo que aqui se tenta chamar a

    ateno para a benevolncia com que nos lembramos dos resultados prticos do PREC, na

    poltica. No se lembram factos como a suspenso da actividade repressiva do estado no PREC,

    substituda por represso directamente poltica, atravs de partidos polticos, da luta dos

    trabalhadores. O que explica como no 25 de Novembro no tenha havido uma reaco

    generalizada contra a normalizao poltica imposta militarmente. A opo consensual pela

    democracia de tipo ocidental em Portugal foi realizada por partidos cuja luta contra as foras

    populares foi feita directamente, sem mediao das foras repressivas, durante o PREC. A

    normalizao, financiada pelas potncias mundiais atravs dos partidos, imps-se atravs da

    reposio das foras repressivas do estado e da organizao de privilgios para os partidos e os

    polticos de todos os quadrantes. por isso que em Portugal os partidos no pagam impostos

    e as regalias dos polticos, comparados com os de outros pases bem mais ricos, so

    nominalmente superiores. Essa distncia criada entre a poltica e a populao singular em

    Portugal.

    Cabe aqui perguntar:

    Porque que o 25 de Abril continua a ser comemorado e o 25 de Novembro de 1975

    no tem direito a comemoraes populares, mas apenas a discretas comemoraes

    institucionais, reveladoras de algum desconforto dos vencedores de Novembro?

    O que une num nico regime poltico as suas diferentes partes, nomeadamente o arco

    da governao e partidos que jamais sero ou voltaro a ser governo neste regime?

    Sendo assim, o que divide o PS, enquanto esquerda dos partidos do poder e centro

    poltico do regime e os restantes partidos de esquerda, proprietrios do 25 de Abril?

    A resposta que ensaiamos gira em torno de:

    a despolitizao ser obra consensualizada entre todos os partidos no mbito do

    processo de normalizao poltica acordado no 25 de Novembro;

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    a crtica da administrao do estado fascista se ter restringido sucesso de vagas de

    ingressos na funo pblica de assessores polticos dos governos em funes;

    a presso e disponibilidade das famlias para educar os filhos imps a educao de

    massas mas no impediu a continuidade de um processo educativo virado para a

    submisso, e que tem produzido uma massa amorfa de professores e estudantes,

    concentrados na obteno de credenciais e alheados da necessidade de produzir

    conhecimentos adequados s circunstncias.

    Pontos de partida so a coincidncia entre a construo de um sistema partidrio de cima para

    baixo, a partir de financiamentos externos e interessados, relatados, por exemplo, por Rui

    Mateus (1996); o desinteresse, o alheamento e mesmo a repugnncia da populao

    relativamente poltica (os jornais mais lidos so o Correio da Manh e a Bola) em contraste

    com a euforia revolucionria de 1974/75 que tornou Portugal conhecido no mundo inteiro; o

    reduzido valor social atribudo ao associativismo, apesar da liberdade (a participao cvica e a

    confiana interpessoal comparam persistentemente mal com qualquer outro pas da Europa);

    as falncias desastrosas do BPN (banco ligado ao PSD, falido no tempo do governo PS) e do BES

    (banco ligado sobretudo ao PS, falido no tempo do governo do PSD) depois do assalto

    politicamente conduzido atravs da Caixa Geral de Depsitos e no tempo do governo PS ao

    BCP, banco at ento ligado a foras catlicas.

    A criao de uma democracia de controlo

    Em 1974 culmina um processo de entropia das instituies autoritrias do antigo regime.

    Estas, porm, sobreviveram custa da paulatina submisso popular ao paternalismo

    revolucionrio que dominou o PREC. Paternalismo continuado, depois do 25 de Novembro, por

    uma classe poltica que se autopromoveu junto de financiadores internacionais, de forma

    clandestina, em troco da proteco pessoal dos seus dirigentes e do cumprimento das

    orientaes internacionais sobre o modo de controlar um povo em estado revolucionrio.

    A classe poltica acordou entre si ensinar as populaes que a dependncia econmica (das

    classes dominantes) da explorao das colnias poderia ser substituda por fundos europeus

    da Europa connosco. As democracias, finalmente, tinham reconhecido os mritos

    democrticos do povo portugus e, por isso, estavam dispostas a financiar amigavelmente a

    integrao de Portugal numa carruagem do progresso. O financiamento sovitico do Partido

    Comunista, como o usado na reforma agrria, serviria apenas o partido e no seria chamado a

    suportar o regime, qual Cuba da Pennsula Ibrica. Porm, como disse Melo Antunes no dia 25

    de Novembro, o PCP seria um dos pilares da democracia portuguesa. Membro de pleno direito

    da classe poltica, embora fora do arco do poder.

    As estruturas partidrias criadas de novo foram protegidas do esprito revolucionrio ento

    vigente atravs do fechamento defensivo das listas de dirigentes, escolhidas entre grupos de

    influncia com acesso centralizado aos recursos financeiros (Mateus, 1996). A prpria

    Constituio sela a existncia dos partidos do novo regime nesses precisos termos: um escol,

    uma casta (so cerca de 300000 os inscritos em partidos, a maioria dos quais sem atividade

    poltica efetiva) com funes monopolsticas de representao dos interesses da populao,

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    vincadas por privilgios e financiamentos pblicos e estatuto legal especial (nomeadamente

    com tcita dispensa de prestao de contas e de pagamento de impostos, privilgios que

    fazem do financiamento poltico o centro da corrupo que mina o pas).

    Essa situao de empobrecimento democrtico, de diabolizao dos debates ideolgicos,

    acompanhou e reforou a tendncia internacional para as desigualdades inter-regionais e

    sociais, presentes no contexto europeu sobretudo a partir dos anos 80. A tendncia para uma

    mais desequilibrada distribuio de rendimentos a favor dos investidores tornou as

    conquistas de Abril, em termos salariais, uma saudade platnica para a esquerda do regime.

    As aces populares continuam a confrontar-se, como durante o PREC, com revolucionrios

    profissionais que, na prtica, boicotam a autonomia e a liberdade das iniciativas ao

    reclamarem protagonismo, conduzindo-as ao desanimo e disperso.

    Uma das caractersticas da actual situao a produo de um sentimento de normalidade,

    prprio das democracias ocidentais, que inclui uma sensao de segurana inscrita numa

    presuno de superioridade que nos faz sentir distantes das fomes em frica, das

    destruies no Iraque, Lbia ou Sria e, irresponsveis perante o que passa alegoricamente nos

    noticirios como reforo da desqualificao da maioria dos seres vivos na Terra, aos nossos

    olhos. (Por isso to importante manter os refugiados longe das nossas casas: eles trazem

    notcias que os noticirios no noticiam). Produzem-se, assim e de muitos outros modos,

    mecanismos ideolgicos que reforam e confirmam as desigualdades sociais no seio das

    sociedades ocidentais, contra as genericamente chamadas minorias; produz-se a aceitao de

    cortes em rendimentos e direitos dos que menos rendimentos e direitos tm. There is no

    alternative seno castigar os desvalidos? Como que a democracia que temos destruiu as

    alternativas? E sem alternativas ainda democracia?

    Antes do 25 de Abril de 1974, como se queixou Salgueiro Maia (1997), tambm se vivia uma

    normalidade. Embora com custos importantes para muitas famlias e a sociedade no seu todo,

    vivia-se um alheamento politicamente construdo (nomeadamente pela censura) das

    realidades da guerra colonial, que durou 13 anos. Para os que tinham recursos para isso,

    colocava-se o dilema entre escapar a salto (clandestinamente) para a Europa, como ento se

    dizia, ou ir tropa, uma vez que era proibido aos mancebos sair do pas sem autorizao do

    Estado, que temia a fuga em massa. Para muitos camponeses ir tropa era um risco

    compensador: aprendiam a ser homens, dizia-se. Pretendia-se dizer que o fim do tempo de

    tropa seria compensado para os sobreviventes, com uma vida urbana que anteriormente lhes

    era vedada.

    O crescimento econmico dos anos sessenta coincidiu com um apartheid informal que se

    expressava dizendo que Portugal Lisboa e o resto paisagem. A partir dos anos 90, as

    melhorias nas condies de vida nesse resto paisagstico conseguidas, nas ltimas dcadas,

    pelos fundos comunitrios, destruram o tecido social no campo mas no evitou o

    aprofundamento das desigualdades nas cidades, transformando essa paisagem, agora

    desertificada, em oportunidades para o turismo rural e os fogos sazonais. Por seu turno, os

    nmeros da emigrao dos anos sessenta e setenta voltaram a repetir-se nos ltimos anos,

    numa composio social e educacional diferente, mas igualmente nefasta para o futuro.

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    Fascismo e democracia, a mesma coisa?

    Quarenta anos depois, uma parte dos que viveram a ditadura prefere esquecer as suas

    prprias experincias econmicas e sociais. S se lembra do nimo prprio da juventude, que

    no volta mais. E do desnimo do desmoronar de expectativas de progresso actualmente

    comprometidas. Por isso convm ter presente, sobretudo os que no tenham experincia

    directa do fascismo, que era proibido os casais beijarem-se ou acariciarem-se, usar isqueiro

    sem licena, os descalos (havia muita gente que no tinha dinheiro para comprar sapatos)

    no se podiam aproximar dos espaos pblicos onde passavam os calados, as mulheres

    trabalhar ou viajar sem consentimento expresso dos maridos, os hotis controlavam o estado

    civil dos seus hspedes, as criadas de servir eram entregues pelos pais aos cuidados de famlias

    que as podiam alimentar, para que no passassem fome. Muitas eram usadas sexualmente

    pelas famlias de acolhimento. A fome era endmica e tolerada em muitas partes do pas. Os

    cuidados de sade no existiam e as escolas serviam para separar, aos 10 anos, os mais

    educados dos trabalhadores, que comeavam logo a trabalhar (a maioria) ou iam para os

    cursos mdios para se especializarem.

    Aos que alegam, ignorantes, que a democracia corrupta e a tirania impoluta, relembramos a

    propaganda do culto da personalidade e a corrupo moral, poltica e econmica no tempo do

    fascismo com, por exemplo, o caso de abuso sexual de crianas Ballet Rose, o favorecimento

    das famlias do regime (de que o caso do bacalhau e o senhor Tenreiro seria um dos mais

    evidentes) e a megalomania dos elefantes brancos, como o carssimo projecto de Sines (J. P.

    Pereira, 2014).

    O isolamento poltico e social portugus no foi uma experincia que sirva de referncia para

    melhorar a actual situao, embora os indicadores econmicos fossem melhores. O que se

    revela em tais comparaes a misria intelectual dos que insistem em fechar o debate

    poltico ao economicismo. Os servios de educao e sade no se comparam aos que ento

    disponveis, embora hoje estejam em fase de decadncia. O mesmo no sector da habitao, do

    acesso alimentao, transportes, sem prejuzo dos muitos problemas que existem nestes

    campos e que colocam a questo das continuidades e descontinuidades que hoje se observam

    face ao regime anterior.

    Algumas das continuidades so: os jovens no so informados do funcionamento do estado

    nem sobre a democracia, nem em famlia nem nas escolas. A poltica sentida como alguma

    coisa incompreensvel e mesmo repugnante, prpria para oportunistas e manobristas sem

    escrpulos, com ambies de poder abstractas dentro de mquinas partidrias dominadas por

    seitas secretas. Coisa prpria de classes dominantes, gananciosas e prepotentes. A democracia

    paternalisticamente reduzida simples existncia de eleies regulares, mesmo que a

    esmagadora maioria da populao no se possa candidatar a funo alguma perante o carter

    inicitico das fechadas mquinas partidrias. Essa concepo enganadora da democracia

    desarma qualquer ensejo de envolvimento na poltica activa; nos partidos, nos sindicatos, nas

    associaes de estudantes, nas reas de residncia, etc. Continuamos presos ao fado antigo,

    em que a poltica era uma porca e o z-povinho seu antagonista institucionalmente impotente.

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    Portugal existir na geopoltica europeia?

    As caratersticas sociolgicas de um povo so um sedimento do seu percurso histrico. Esse

    percurso histrico encontra-se inserido num territrio e numa matriz de relaes econmicas,

    polticas e culturais com outros povos, estabelecendo identidades e diferenciaes, quer face

    ao exterior, quer no seu prprio seio.

    O que torna diferente a situao dos portugueses de hoje face a outros povos submetidos a

    idnticas dificuldades e ameaas? Vamos limitar-nos a referir alguns aspetos da histria

    recente, num cotejo com os povos do estado espanhol, da Grcia e da Itlia.

    Todos os quatro pases conheceram ditaduras fascistas resultantes da tomada do poder pela

    fora, embora o fascismo em Portugal tenha sido mais longo do que nos outros pases e menos

    radical do que, por exemplo, o espanhol;

    No ltimo sculo, todos tiveram apetites territoriais sobre terras alheias: Espanha em

    Marrocos, Grcia na sia Menor, Itlia no Corno de frica, no Egeu, nos Balcs, no vale de

    Aosta e na Lbia. Portugal, mantendo-se conservador nesse aspecto desde finais do sculo XIX,

    sofreu os primeiros revezes na dcada de sessenta (Goa), sendo forado descolonizao em

    1974/75, poca em que Espanha tambm saiu, sem glria, da Guin Equatorial e do Sahara

    Ocidental;

    A guerra envolveu todos mas, Portugal no a sentiu no seu territrio, ao contrrio dos outros,

    nomeadamente gregos e espanhis. Itlia e Grcia conheceram ocupaes militares

    estrangeiras e Espanha uma crudelssima guerra civil. A guerra colonial que envolveu Portugal

    era geralmente de baixa densidade, de desgaste, desenrolava-se longe, a censura no deixava

    circular informao sobre o que se passava e a sua durao enquadrou-a como mais uma

    contrariedade na vida dos portugueses, dada a incapacidade poltica dos portugueses em

    estarem a par dos custos humanos e financeiros da guerra;

    Todos estes pases do Sul da Europa vivem sob forte influncia de instituies religiosas

    poderosas e ricas, geradoras tanto de apoios incondicionais como de radicais anticlericalismos,

    sendo Portugal onde essa influncia ser, apesar de tudo, menor, embora crescentemente

    favorecida pela atuao do actual governo;

    Portugal adoptou, em 1910, a forma republicana de estado, primeiro que os outros (Itlia,

    1946, Grcia, 1974), continuando a Espanha a ser uma monarquia e a sofrer as suas

    consequncias em fortes clivagens polticas;

    Grcia e Portugal so pases sem tenses nacionalistas internas, em contraste sobretudo com

    a Espanha (Catalunha, Euzcadi) mas, tambm da Itlia (Padnia e Tirol do Sul). No captulo do

    desenvolvimento econmico, todos apresentam grandes desigualdades regionais, todos foram

    vtimas de fortes processos emigratrios que se reativaram nos ltimos anos, excepto na Itlia;

    Em Portugal e aps a instaurao do fascismo, os perodos de tenses polticas e sociais foram

    muito curtos, sendo mais duradouro o que se seguiu a 25 de Abril de 1974 (18 meses). Na

    Grcia houve fortes movimentos de deslocados aps a guerra com a Turquia, a guerra civil

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    seguiu-se guerrilha contra a ocupao alem e, em 1967, surgiu um golpe de estado de

    militares fascistas. Em Espanha, guerra civil sucedeu um duro regime fascista mas, com a

    morte de Franco, a transio do fascismo para o regime actual foi tranquila, ainda que tenha

    prosseguido a atividade militar da ETA e a base de apoio franquista se tenha mantido agrupada

    num dos partidos do regime, o PP. Na Itlia, aps o fim da II guerra, viveram-se perodos

    crticos nos anos oitenta com o ativismo de esquerda e o seu contraponto fascista, este, como

    produto de conivncias entre a Mafia, o Vaticano e a NATO. A instabilidade poltica produziu o

    processo Mos Limpas, uma reaco de magistrados contra a corrupo, que fez implodir o

    sistema partidrio, para logo renascer sem aparentes diferenas, liderado por Berlusconi.

    Todos os pases esto integrados na NATO, com bases permanentes norte-americanas no seu

    solo, assim como todos so membros da UE e da zona euro. At tempos recentes, todos

    apresentavam sistemas polticos polarizados na alternncia de dois grupos partidrios, uma

    mais direita outro, menos direita. Porm, a austeridade tem colocado esse modelo em

    causa. Na Grcia, foi mesmo demolido esse sistema partidrio e surgiu uma nova formao

    Syriza com pendor social-democrata em paralelo com o crescimento de um partido nazi. Em

    Espanha, as movimentaes populares e autonomistas enfraqueceram o duo PP/PSOE, com o

    surgimento de duas novas formaes, o Podemos e o Ciudadanos, as quatro, agora com pesos

    prximos junto da populao. Na Itlia, os partidos herdeiros do ps-guerra desapareceram,

    incluindo os poderosos DC e PCI para darem lugar a duas coligaes tpicas recentemente

    perturbadas pelo Cinque Stelle. Em Portugal, o sistema poltico mostra-se imune aos efeitos da

    austeridade, mantendo-se o bipartidarismo de alternncia;

    H circunstncias sociais e histricas que fazem parte da memria recente dos povos. Na

    Grcia grande o interesse pela conjuntura externa, dado o seu enquadramento geogrfico

    nos Balcs, isolada territorialmente da Unio Europeia, e as desconfianas face Turquia,

    acentuadas pela partio de Chipre; por outro lado, h uma mirade de grupos polticos de

    esquerda e anarquistas, em contraponto a um movimento sindical relativamente pulverizado,

    todos com uma memria viva dos tempos da II Guerra Mundial, que custaram aos gregos um

    milho de mortos. Em Espanha, o movimento sindical que se manteve clandestino durante o

    franquismo, comporta hoje quatro centrais sindicais duas das quais anarquistas. O sistema

    poltico extremamente diversificado, opondo-se fiis monarquia e republicanos,

    espanholistas, autonomistas, independentistas e ecologistas, para alm das formaes com

    pendor ideolgico tradicional. Na Itlia, h trs grandes centrais sindicais mas a capacidade de

    atuao autnoma dos trabalhadores e da populao em geral grande e capaz de grande

    radicalismo. O sistema poltico bipolariza um grande nmero de partidos, nacionais, regionais

    ou autonomistas/independentistas, de todos os matizes.

    Em Portugal, no se fez o julgamento do regime fascista nem da polcia poltica, nem dos

    militares protagonistas de crimes de guerra; procedeu-se, pelo contrrio a uma amlgama no

    olvido, facilitadora de todos os oportunismos. O movimento sindical, muito partidarizado, tem

    vindo a refluir medida que avanam as privatizaes, o desemprego, a emigrao e a

    precariedade laboral. Fora do parlamento existem poucas e so pequenas as formaes

    polticas, sem implantao nem projetos conhecidos ou credveis. Por outro lado, no h, na

    prtica, organizaes anarquistas.

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    Neste quadro, os quatro pases, com pesos demogrficos e polticos distintos, inserem-se

    numa periferia Sul, mediterrnica, em paralelo com uma periferia Leste, ambas geridas de

    modo estandardizado a partir do eixo Berlim-Frankfurt-Bruxelas, com estratgia

    dominantemente alem e financeira. Nessa estratgia, a produo de altas tecnologias so

    concentradas na Alemanha, que as exporta para o mercado mundial, integrando as periferias

    nas suas redes de negcio, como fornecedoras de mo-de-obra barata, de bens primrios, de

    tecnologias intermdias e mercados protegidos. Cada pas da periferia, cada vez mais

    orientados a partir de Bruxelas, funciona como territrio colonizado, sem preocupaes

    polticas de solidariedade, de coerncia e de estabelecimento de sinergias mutuamente

    benficas. Essas sinergias apenas funcionam, como tpico dos regimes coloniais, acima das

    classes polticas nacionais da periferia, que funcionam como delegados do eixo Berlim-

    Frankfurt-Bruxelas na aplicao da sua estratgia global, como grandes autarcas.

    Da poltica

    Em vsperas do 25 de Abril, assistia-se a alguma atividade sindical, em parte resultante de

    alguma abertura do regime fascista que, no entanto, mantinha uma represso mitigada,

    materializada na existncia de poucas dezenas de presos polticos em cumprimento de pena.

    Em termos polticos, a radicalizao marcava as universidades e algumas reas operrias.

    Surgiram movimentos radicais ou de luta armada, enquanto a situao internacional isolava o

    regime Portugal era o nico pas a manter colnias pela fora. Ao contrrio do acontecido em

    1969, a oposio recusou participar nas eleies de 1973 para a Assembleia Nacional por as

    considerar falsas. A ala liberal, onde pontificavam os futuros criadores do PPD/PSD, tinha

    abandonado os seus lugares parlamentares de 1969. O PS era fundado na Alemanha, com

    apoio do SPD. O PCP encontrava-se na defensiva face radicalizao vigente, fruto da

    popularidade das ideias maoistas e terceiro-mundistas contra a hegemonia das superpotncias

    e do estrito alinhamento do partido com Moscovo.

    A revoluo dos 18 meses, iniciados em 25 de Abril de 1974, seguiu-se a um golpe militar que

    quase no encontrou resistncia do ltimo governo do fascismo. Esse golpe caraterizou-se

    pela moderao, consubstanciada pelo carter conservador da Junta de Salvao Nacional,

    onde alguns viriam a radicalizar durante o processo (Rosa Coutinho), ou a demonstrar alguma

    compreenso com o PREC (Costa Gomes e Pinheiro de Azevedo) enquanto os outros quatro

    membros, um gnero de fascistas descontentes, foram rapidamente afastados (Spnola,

    Galvo de Melo, Silvrio Marques e Diogo Neto). Esse conservadorismo era refletido no

    programa do governo Palma Carlos que tambm, na senda do programa inicial do Movimento

    das Foras Armadas (MFA), no se refere a colnias ou descolonizao e somente a ultramar,

    embora se reconhecesse que a soluo das guerras no ultramar poltica e no militar

    (Programa do MFA). No captulo da Comunidade Econmica Europeia, o programa do governo

    referia a vontade de Intensificao das relaes comerciais e polticas, a seguir a uma

    prioritria afirmao de fidelidade NATO. No se pensava em revoluo. Desejava-se uma

    passagem para um regime pluripartidrio de tipo europeu, com a destruio dos aparelhos

    repressivo e corporativo do fascismo. Para que a transio fosse tranquila contava-se no

    governo com Mrio Soares para assegurar a ligao com a Europa e os partidos sociais-

    democratas e, mais tarde, para garantir um apoio popular aos interesses que vieram a dominar

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    em 25 de novembro. O PCP foi encarregue do ministrio do Trabalho e Cunhal, seu secretrio-

    geral desde os anos 40, ministro sem pasta no governo para garantirem o controlo das

    mltiplas reivindicaes e atuaes populares entretanto em crescendo: dos saneamentos de

    fascistas e elementos repressores nas empresas, condenao de greves que faziam o jogo

    da reao e protagonizando assaltos a sindicatos, uma vez que o Estado estava, de facto, sem

    aparelho de represso. O isolamento e a represso dos grupos de extrema-esquerda ou das

    lutas mais radicalizadas foram tarefas que o PCP desempenhou com zelo at ao golpe de

    novembro, nas fbricas, nos sindicatos, nos quartis. O poder crescente do PCP nos sucessivos

    governos provisrios continuou at ao ltimo e assegurou a sua tutela do movimento sindical,

    a sua representao na Concertao Social e maiorias em dezenas de cmaras municipais.

    As divergncias provocadas pelo PREC fizeram-se sentir tambm nas foras armadas e

    obrigaram o MFA que organizou o golpe de estado a sair do seu apagamento inicial e adiar a

    entrega do poder aos civis, profundamente desorganizados. Os confrontos opuseram,

    sobretudo, as sensibilidades social-democratas e terceiro-mundistas aos defensores do poder

    popular. Os primeiros preferiram aliar-se aos sectores mais reacionrios do que acompanhar

    as movimentaes populares. Foi o PS que liderou o processo contra-revolucionrio, com vista

    a ganhar a respeitabilidade e a confiana necessria dos regimes europeus e norte-americano,

    opondo-se ao mesmo tempo ao PCP, estigmatizado pelo seu alinhamento com Moscovo e

    pelos desgnios da Guerra Fria, que colocavam Portugal no mbito geogrfico de influncia

    ocidental. Esta disputa teve tambm o efeito de dividir ideologicamente o pas entre Norte,

    anti-comunista e de direita, e Sul, revolucionrio e de esquerda.

    O golpe de 25 de Novembro abortou os preparativos de guerra civil, dado o isolamento dos

    oficiais radicalizados e o papel dbio do PCP Brejnev, ento lder da Unio Sovitica, j tinha

    dado sinais de que Portugal no lhe merecia confrontos com os EUA e que a poltica do

    Kremlin se centraria no aumento da influncia no Terceiro Mundo (Vietnam, Etipia, Angola).

    Mrio Soares, por seu lado, ofereceu uma cauo socialista aos vencedores.

    Aps o 25 de Novembro, com os militares radicais na cadeia, as responsabilidades coloniais

    terminadas (incluindo Timor-Leste, ocupada pela Indonsia), a prioridade passou a ser

    consolidar o sossego nas empresas, ocupar dos lugares deixados vagos pelos militantes do PCP

    no aparelho de estado, recuperar as terras nacionalizadas no Alentejo e a preparao da

    adeso CEE. Organizou-se um retorno tranquilidade obediente da populao, separada da

    possibilidade de interveno poltica, tal como acontecia durante o fascismo. Mas com fachada

    democrtica. A pretexto, verdadeiro, de os partidos polticos estarem pouco implantados e

    pouco aptos a enquadrar das vontades populares. O principal elemento de legitimao da

    desmobilizao, brandido pelo PS (A Europa connosco) foi a ideia de adeso CEE

    (Comunidade Econmica Europeia) onde o nvel de vida dos trabalhadores eram bem

    conhecidos pela presena de centenas de milhar de emigrantes portugueses, sobretudo em

    Frana e na Alemanha.

    Os portugueses passaram a posicionar-se politicamente atravs dos quatro partidos teis,

    dois direita e dois esquerda. Os mais jovens, os que no viveram a instalao do regime,

    simplesmente assistiram aos programas polticos de despolitizao da vida pblica,

  • 10

    centralizao das decises nos governos, por sua vez dominados pelos diretrios dos partidos

    e, em particular, pelos respetivos chefes, sistematicamente candidatos a primeiro-ministro e

    livres de escolherem os seus ministros mesmo entre pessoas amigas que nunca fizeram

    poltica. O Estado continuou a ser um estranho, explorador das populaes. O acesso vida

    poltica continuou a ser uma questo de cunhas. A sacralizao de uma Constituio com

    fortes marcas de proteo da oligarquia, apresentada como conquista de Abril e lei quase

    perfeita (embora ignorada na prtica jurdica quotidiana) constitui outro elemento de

    estandardizao pantanosa do regime. A populao foi colocada sob os efeitos hipnticos dos

    media. O modelo das conversas em famlia utilizado por Marcelo Caetano, o sucessor de

    Salazar, multiplicou-se em comentadores televisivos promotores dos respetivos partidos e

    futuros ou antigos primeiros-ministros.

    Grfico 1. Votos em democracia, em Portugal: azul absteno, votos brancos e nulos

    fonte: http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/05/votar-para-que-e-para-quem-parlamento

    O grfico 1 mostra o resultado: mancha de cima so as abstenes, acrescidas dos votos em

    branco e nulos. As novas geraes praticamente no votam. Se lhes perguntamos, a

    esmagadora maioria no sabe nem quer falar de poltica. E pouca ou nenhuma ideia tem do

    que possa estar em jogo, em democracia. (O que no quer dizer que as geraes mais velhas

    estejam em melhor posio, mas votam mais. Como quem vota num clube de corao, mesmo

    a contragosto. Porque sempre melhor do que deixar os outros ganharem, segundo a lgica

    do voto til).

    Esta situao permitiu o surgimento, em 1999, de um quinto partido, de jovens urbanos e de

    quadros intermdios, o Bloco de Esquerda, que aumentou votos nessa rea mas,

    contraditoriamente, no conseguiu afirmar nenhuma influncia ao nvel executivo, nem

    enraizar social ou localmente nova atividade poltica.

    O projeto europeu de segmentao territorial e social

    Quando surge a crise financeira, em 2008, nenhuma alternativa poltica estava disponvel para

    organizar uma reao poltica construtiva, a no ser o regresso ao passado, solidariedade

  • 11

    entre pases e entre classes e entre geraes, atravs de uma poltica keynesiana que tinha

    acabado de ser derrotada. Em Portugal, a solidariedade da Unio Europeia (UE), reencarnao

    da CEE alargada e transformada, era tomada por certa e a poltica normalizada uma coisa para

    especialistas. Tudo se resolveria no seio das instituies europeias, usando a experincia dos

    partidos conservadores/liberais (que enformam o PPE) ou, dos sociais-democratas/socialistas

    (no seio do S&D), cujas delegaes portuguesas tambm dominam a situao no pas. A

    derrocada da URSS e o fim da Guerra Fria, em 1989, abrira um perodo histrico caracterizado

    pela vitria do neoliberalismo, negligente com a democracia e o estado de direito,

    nomeadamente a nvel da corrupo, mas com influncia crescente nos partidos dominantes.

    E, dada a falta de credibilidade das oposies, nada preparara os europeus para o impacto da

    crise na sua vida de todos os dias.

    Numa primeira fase, entre 2008 e 2010, esperou-se por uma deciso do regime emanada da

    UE. Disputavam o terreno a soluo keynesiana e uma catadupa de grandes projetos

    aeroporto internacional Ota/Alcochete, Poceiro, nova ponte sobre o Tejo , protagonizada

    pelo PS, contra a conteno nos investimentos, defendida pelo PSD (Dores, 2009). A primeira

    ganhou eleitoralmente, com o PS, em 2009. Na prtica, porm, ainda com Scrates em

    primeiro-ministro, vingou a desvalorizao interna, pela austeridade, vincada pela interrupo

    da legislatura por parte do PSD, em 2011, com a conivncia de amplos sectores do PS. O

    vencedor das novas eleies acompanhou, com vontade prprias (Queremos ir alm da

    troika!) as decises tomadas em 2010 a nvel do topo da administrao da UE. Acelerou-se a

    transferncia para os trabalhadores das despesas da falncia do sistema financeiro global,

    atravs da criao da dvida pblica; politicamente justificada pelo fim da solidariedade entre

    os pases europeus e pelas exigncias subscritas por Scrates, como ltimo acto poltico, no

    memorando da troika relativo a Portugal. O pas estava vulnerabilizado pela

    desindustrializao, pela desafetao de camponeses e pescadores das suas tarefas

    tradicionais e pela falta de soberania financeira, no quadro do Euro.

    Paulatinamente, as populaes de classe mdia foram-se apercebendo que a propaganda que

    tinha gerado a despolitizao normalizadora anterior uma verso revisionista da velha

    mxima de Salazar a minha poltica o trabalho no assegurava que os estudos e o mrito

    garantissem uma vida tranquila e justificadamente acima da vida dos pobres (ao tempo do

    comeo da crise, os pobres foram calculados em 25% da populao europeia e cerca de 40%

    em Portugal, antes das transferncias sociais do Estado).

    A prioridade assumida pelo regime vigente na Europa pela competitividade e pela exportao

    anunciou que deveremos passar a viver como os trabalhadores chineses, que bem

    conhecemos das suas lojas entretanto instaladas em Portugal. Em vez de beneficiarmos

    apenas dos preos baixos (correspondentes aos salrios de alta explorao na China), por

    solidariedade internacionalista, os portugueses e os povos do Sul da Europa (tratados como

    PIIGS acrnimo lanado para iniciar um processo de humilhao poltica de Portugal, Itlia e

    Irlanda, Grcia e Espanha, comparados com porcos: preguiosos, corruptos, sem qualificaes,

    oportunistas, alimentados pelo trabalho dos outros, indisciplinados, etc.) passariam a

    experimentar o nvel de vida dos chineses. Essa prioridade instilada como uma dvida dos

  • 12

    pases pobres aos pases ricos, aprofundando a desigualdade entre eles, tornou-se um

    horizonte sacrificial inescapvel, mesmo para a gerao mais bem formada de sempre.

    Sem dvida que a situao de partida dos nveis de instruo dos portugueses antes do 25 de Abril eram muito baixos e houve uma natural e significativa melhoria desde ento. Porm, a situao actual continua a colocar Portugal no fundo da escala europeia. Na cauda da Europa tambm e sobretudo em temos das qualificaes escolares.

    Tabela 1. Populao com 25 ou mais anos (%) com o 2 ciclo do secundrio, o post-secundrio no superior e o superior (nveis 3-8)

    1992 2002 2014 1992 2002 2014 UE (28) nd 58,7 68,8 Hungria nd 64,5 74,1 Zona euro (18) nd 54,3 64,7 Irlanda 37 53,1 70,8 Alemanha 75,1 77,9 83 Islndia nd 56,3 70,7 ustria nd 72,1 78,1 Itlia 27,6 36,1 48,6 Blgica 42,8 52 65 Letnia nd 76,6 87,6 Bulgria nd 61,8 73,8 Litunia nd 72,3 83,3 Chipre nd 56,7 69,5 Luxemburgo 31,1 55,8 77,7 Crocia nd 59,7 73,4 Malta nd 16,4 35,8 Dinamarca 67,7 75,6 73,9 Noruega nd 82,6 81,6 Eslovquia nd 76,9 85,3 Polnia nd 72 83,5 Eslovnia nd 70,3 79,9 Portugal 16,9 16,7 34,2 Espanha 20 34,5 47,2 Reino Unido 49,2 66,1 77,6 Estnia nd 81,9 89,8 Rep. Checa nd 82 89,6 Finlndia nd 64,7 76,4 Romnia nd 60,7 63 Frana nd 54,5 68,6 Sucia nd 77,5 80,2 Grcia 30,9 44,4 56,3 Suia nd 77,3 84,6 Holanda nd 62,5 69,5 Turquia nd nd 29.4

    Fonte: Eurostat

    Reaes perante a re-hierarquizao da Europa

    A aplicao da austeridade teve momentos de reao espetaculares. Mega manifestaes

    foram a reao a um activismo de convocatrias pela internet. Foi o perodo em que os

    socilogos descobriram novssimos movimentos sociais, isto , falsos movimentos sociais

    (segundo as definies cunhadas nos anos 70) porque no havia nenhuma relao entre os

    manifestantes e os grupos que convocaram as manifestaes. Estes ltimos, em regra,

    dominados por quadros partidrios de esquerda com objetivos circunscritos s convenincias

    conservadoras dos partidos, eivados de ideias messinicas de condutores das massas e acesso

    aos media, fascinados com a ideia de as redes sociais poderem estar a substituir a aco

    poltica de massas. Por exemplo, a 15 de Setembro de 2012, a maior dessas manifestaes,

    saiu rua um milho de pessoas em todo o pas; 10% da populao, incluindo cidades que

    nunca tinham visto qualquer manifestao poltica para dizer do descontentamento

    generalizado. O conservadorismo do momento revelou-se pela desorientao dos

    manifestantes em Lisboa, que encheram a Praa de Espanha e se perguntavam o que fazer

    com isto? Ningum, na vspera, poderia dizer se essa manifestao seria mais um flop como

    muitas anteriores em que poucas dezenas de pessoas caminhariam juntas. As adeses

    declaradas convocatria na internet eram muitas. Mas isso pouco quer dizer para a prtica

    da mobilizao fsica das pessoas. Meia hora antes da hora marcada para a manifestao, no

    pequeno largo Jos Fontana, a manifestao arrancou porque j no cabia tanta gente.

    O presidente da repblica tinha acabado de conduzir, discretamente, um processo de

    transferncia de poder de um dos partidos do arco da governao para o outro no por

  • 13

    acaso, o seu partido. O governo recm-eleito, mais uma vez, cumpria a tradio em prtica

    desde o incio do sculo: dava o dito, na campanha eleitoral, por no dito e preparava-se para

    legislar a descapitalizao da segurana social, depois de diagnosticar as dificuldades de

    financiamento da mesma e de aumentar impostos; perdia de vista qualquer noo de

    garantias para o futuro das geraes a entrar na vida activa, quando as taxas de desemprego

    nesta faixa etria eram altssimas e as oportunidades de emprego pagas com salrios cada vez

    mais baixas; e, em simultneo, decidiu fustigar os reformados, com cortes nas penses e nos

    direitos sada da vida activa, ao mesmo tempo que os encarregava de sustentar filhos e

    netos, desempregados, despejados. O governo envolvia, assim todas as geraes numa lgica

    de precariedade de vida e de lento genocdio, em que se tornava claro que o objectivo de

    convergncia com os pases mais ricos fora substitudo pela convergncia com os pases mais

    pobres de outros continentes. Evidenciava tambm, como se havia observado com os

    imigrantes, sobretudo de Leste da Europa, que os estudos deixaram de assegurar

    compensaes de estabilidade.

    Foram mega manifestaes de classe mdia, muito diferentes das da classe operria dos anos

    70. Contrariamente ao observado naquele tempo, no h um desejo de poder prprio, de

    fazer greves ou uma contestao organizada. Bastavam reivindicaes conservadoras, como a

    manuteno do status-quo, de salrios e reformas. Ou exigir ingenuamente a antecipao da

    rotatividade dos partidos do arco da governao, sem discernimento para reconhecer que o

    poder residia na troika. Uma postura defensiva de manuteno de um estado social em

    desmantelamento surge mascarada de desejo revolucionrio, para ocultar que de facto se

    procedia a um peditrio. Simbolicamente, a persistente convergncia das manifestaes para

    a Assembleia da Repblica revelava a ausncia de contestao do poder e a crena na sua

    benevolncia para com o povo; ao mesmo tempo que mostrava a conduo poltica e logstica

    dos partidos da esquerda do hemiciclo nas aces de rua.

    Perante essa estratgia politicamente frouxa e sem resultados, houve esboos de tentativas de

    radicalizao. Recordamos anncios de uma marcha pela ponte 25 de Abril, uma ocupao do

    porto de Lisboa ou uma deciso de ocupar aquela mesma ponte na presena da polcia de

    choque. Tudo culminou sem glria nem responsabilidades. O ano de 2013 no voltou a

    manifestar-se.

    Um dos resultados dessas manifestaes, alm de algum revigoramento da discusso de ideias

    repescadas do passado ou novas, sobre o que fazer, foram as retricas sobre os alegados

    movimentos sociais afinal simples respostas desorganizadas e fugazes ao activismo das

    convocatrias por internet, activismo que levou a srio a conversa tecno-vanguardista de ter

    sido o facebook o instrumento decisivo para a mobilizao da Primavera rabe. Faltou em

    Portugal a dimenso e a maturidade das movimentaes sociais em Espanha e que vieram a

    justificar a Ley Mordaza: sintoma do medo a mudar de campo. Lei desnecessria em Portugal

    se se recordar a confraternizao entre a polcia e os manifestantes na derradeira

    manifestao de outubro de 2013 do grupo Que Se Lixe a Troika, dos mais bem sucedidos

    nas suas convocatrias. Em Portugal no houve a diversificao de temticas, nem criao de

    grupos locais, nem capacidade para alavancar algo como o Podemos em Espanha ou a chegada

    de Ada Colau alcaidaria de Barcelona.

  • 14

    Ficou claro o desamparo popular face ao sistema poltico comandado a partir da Unio

    Europeia e, em particular, pelo governo alemo. Em breve, a luta das instituies contra a

    coeso social conheceria um novo patamar. A diviso de geraes e de sectores, estimulada

    pelo governo do Partido Socialista, foi continuada pela luta dentro do regime, com o ex-

    primeiro-ministro Scrates e o seu aliado nacional, a famlia Esprito Santo, a serem mostrados

    em praa pblica como criminosos, para sua humilhao e sinal de que o poder deixara,

    definitivamente, de estar com aqueles a quem chamavam os donos disto tudo. A banca

    nacionalizada no PREC e reentregue aos seus anteriores donos portugueses, durante o perodo

    de normalizao, passou a estar em mos estrangeiras, sinal da queda do poder do estado

    portugus no quadro europeu e global.

    Os temores dos analistas que insistiam em interpretaes nacionalistas das decises de

    Bruxelas, nomeadamente em como os jogos de sombras por detrs da solidariedade pan-

    europeia eram substituies das tradicionais guerras entre a Frana e a Alemanha, a poltica

    como continuao da guerra, concretizaram-se de forma evidente e pblica. Deixaram de ser

    apenas normativas comunitrias (capazes de atacar vinhos ou azeites portugueses, por

    exemplo) a preocupar especialistas de assuntos europeus.

    A humilhao poltica dos povos do Sul da Europa, passou a ser o desporto favorito dos

    polticos europeus, bem representada pela expresso PIGS. A dvida pblica serviu de pretexto

    para inculcar nos povos uma culpa conhecida culturalmente como pecado original, sinal de

    decadncia irremedivel e justa, inerente a putativos defeitos congnitos a expiar com uma

    espiral de mais dvida, mais juros, mais reformas estruturais, sem fim vista, sem objectivos

    prticos. Para evitar a falncia dos bancos, fieis depositrios da confiana no sistema (falido)

    acentuaram-se as clivagens no seio da UE, dentro e fora de fronteiras, arriscando derivas

    perigosas e inimaginveis.

    No caso do governo de Passos Coelho, de que se vaticinava a queda eminente, no s chegaria

    ao fim da legislatura, como superou a clebre e brbara recomendao aos jovens para que

    emigrassem. A retirada de apoios sociais, revelou a nudez da pobreza de 40% dos residentes e

    a magreza de um incipiente estado social. Todos os membros do governo usaram uma discreta

    mas visvel bandeira nacional na lapela (provavelmente feita para turistas); embora ningum

    se tenha atrevido a comentar a inverso de sentidos que tal prtica estava a representar: o seu

    contraste com a postura subserviente face aos interesses estrangeiros representados pela

    troika.

    Quando o governo do Syriza, na Grcia, clamou por dignidade para o seu povo e fez

    reconhecer UE a crise humanitria que se vive naquele pas, essas foram vitrias de muita

    gente na Europa. Mas foram caladas por todos os governos europeus. Incluindo o governo

    protagonista desses vitrias na Grcia, depois do referendo ao povo grego ter manifestado a

    disponibilidade nacional de se opor aos diktat da UE. A continuidade das polticas de

    austeridade, apesar dos votos populares na Grcia, por serem repeties de outros votos

    igualmente impotentes em referendos e em eleies parlamentares, marcam o fim da ideia de

    democracia como vontade popular, na Unio Europeia; alis j bem expressa no tratado de

    Lisboa e no tratado oramental, como antes se verificara no desrespeito dos referendos que

  • 15

    no aprovaram a proposta de constituio europeia. Esta situao de afirmao oligrquica

    autoritria europeia reproduz a experincia, em Portugal, dos mais velhos: afinal sempre so

    iguais ao Salazar!

    Estado de esprito em Portugal

    Joo Ferreira de Almeida (2013) elaborou contribuies para uma teoria das transformaes

    bruscas, comparando a semelhana das condies sociais existentes em Portugal com as dos

    pases do Leste Europeu, por terem indicadores socio-emocionais semelhantes entre si, apesar

    de poucas relaes culturais existentes entre os extremos leste e oeste da Europa. nica

    exceo da arrumao nos ltimos lugares , curiosamente, a satisfao com o trabalho ()

    [ainda que] operrios () reconheam () os obstculos que enfrentam para tomar posies

    polticas, por escasso conhecimento prprio desse campo (op.cit.:240). As transformaes

    bruscas, aponta o autor, criam ressacas sociais sucessivas. No caso portugus, o

    desajustamento entre as expectativas e as realidades apanharam a sociedade como aquelas

    pessoas ansiosas a quem os vigaristas contam o que elas precisam de ouvir e que, por isso,

    entram na sndrome de adorao da causa dos seus prprios sofrimentos (Mateus, 1996).

    Almeida (2013:226-232) contabiliza quatro ressacas sucessivas: a) a das promessas

    automticas de transformao, ou o trabalho de desmobilizao poltica organizada pelas

    vanguardas revolucionrias, de que Salgueiro Maia (1997) faz meno no seu livro: b) a da

    normalizao, em que o campo europesta apresentou a ideia de passarmos a ser europeus,

    como prmio futuro da passividade favorvel aos protagonistas polticos alinhados com o

    ocidente; c) a esperana incumprida de ser possvel passar a viver em Portugal com o mesmo

    nvel de vida dos pases de acolhimento dos emigrantes; d) a alienao das relaes com os

    novos pases sados das antigas colnias, por razes de acantonamento poltico dos ento

    chamados terceiro mundistas, ao lado dos partidrios da aliana com os soviticos.

    Alvo de promessas e desiluses de um lado e do outro da Guerra Fria, Portugal foi campo

    cruzado de acolhimento de emigrantes que pensaram poder realizar o seu sonho de voltar a

    viver no seu pas e de retornados fora, a quem as vidas africanas foram espoliadas, como

    diziam. O Portugal eufrico e revolucionrio, que mobilizou o Sul da Europa e a Amrica Latina

    para a democratizao, afogou-se paulatinamente na incapacidade de aco: () Portugal,

    em termos comparativos europeus, [est] mais do lado da conservao do que da abertura

    mudana, e mais do lado da autopromoo do que do lado da autotranscendncia (Almeida,

    2013:239). Foi como a histria do pecado original: ao trincar o fruto da sabedoria afinal o

    mundo podia transformar-se confrontadas as esperanas com os constrangimentos, tornou-

    se aparente a complexidade da vida social e internacional. Entre os parasos e os infernos

    imaginados e vividos por cada um, confrontado com o cenrio de guerra civil, o pas

    reconciliou-se abolindo as discusses ideolgicas e a capacidade de deciso colectiva.

    Os estudos da Unio Europeia (European Values Study ESS) para este sculo mostram nveis

    de confiana interpessoal em Portugal muito baixos. Em 2013, o indicador confiana nas

    pessoas cifrou-se em 3,6, numa escala de 1 a 10, enquanto a Dinamarca atinge 7. A

    percepo de honestidade em Portugal ficou em 4,8; na Dinamarca em 7,3. Na percepo

    da prestatividade das pessoas Portugal teve 3,8; na Dinamarca 6,2. Jorge Vala, responsvel

  • 16

    pelos estudos da ESS em Portugal desde 2002, informa da permanncia dos baixos ndices de

    confiana em Portugal. Recorda ter estudado a possibilidade de haver erros metodolgicos, a

    pedido da equipa internacional com quem trabalha nesses inquritos. Mas o padro tem-se

    mantido sempre mais baixo do que o da maioria dos pases da Comunidade Europeia, ficando

    Portugal prximo da Polnia e da Eslovnia (Almeida, 2015). Um estudo realizado nos anos

    oitenta, em organizaes formalmente cooperativas, revelou uma ansiedade que se

    transformava numa incapacidade de assumir responsabilidades, transferindo-as para um

    dirigente (Baptista, Kovcs, & Antunes, 1985).

    Durante dcadas, portanto, os portugueses viveram da fama de revolucionrios, quando na

    prtica eram outra coisa. Mrio Soares pode bem ser quem melhor encarnou essa dualidade

    brusca, traumtica e difcil de compreender entre o caminho do socialismo, a que a prpria

    direita parlamentar anuiu, e o socialismo na gaveta (Mateus, 1996). A prtica neurtica de

    no chegar a horas a nenhuma reunio, tpica do nosso pas, merecedora de referncia nos

    guias de negcios para estrangeiros (AAVV, 2014), poder ser psicanaliticamente estudada

    como marca emocional da incapacidade de ser europeu, no sentido da pontualidade britnica,

    e da necessidade majesttica de sinalizao da superioridade das classes dominantes em

    Portugal.

    Este trabalho quotidiano de marcao da hierarquia social pelo direito ao desrespeito no

    apenas um tique cultural. tambm um trao econmico e poltico: no se paga a horas, mas

    no h nenhuma penalizao, nem jurdica, nem social, ningum ostracizado por isso, disse

    Alexandre Relvas, empresrio. Acrescentou: no h uma valorizao das obrigaes sociais

    que resultam de compromissos assumidos com os trabalhadores (Almeida, 2015). O

    comportamento de patres e do aparelho da Segurana Social disso revelador; muitos no

    pagam e quem so perseguidos so os que no podem pagar.1 Depois o governo usa o

    dinheiro dos trabalhadores ali acumulado para despesas do estado. Misturando, como fazem

    muitos empresrios, as contas pessoais com o dinheiro alheio de que fiel depositrio. Outro

    exemplo o do fisco: chama-se Autoridade Tributria e conhecida por tratar os contribuintes

    como delinquentes, a menos que sejam capazes de provar cumpriram as suas obrigaes. Mas

    nem por isso a corrupo um fenmeno controlado. E h quem tenha razes para afirmar

    que nem sequer foi combatido durante as ltimas dcadas.

    No que o poder de estado est focado no servir os contribuintes, correspondendo aos

    interesses comuns que haja. Foca-se em afastar o mais possvel qualquer controlo democrtico

    sobre a sua actividade, judicial ou executiva. Qualquer avaliao independente

    sistematicamente ostracizada e controlada pelas autoridades avaliadas. De um modo geral,

    toda e qualquer iniciativa cvica, em vez de incentivada, ou controlada por alguma das

    organizaes secretas, geralmente com ligaes partidrias, ou pressionada para fins de

    controlo por parte dos poderes fcticos. verdade que as regras europeias de relacionamento

    entre as ONG e o estado vo introduzindo alguma mudana neste aspecto e que h servios de

    1 A dvida para com a Segurana Social de 11574 M e corresponde a 12 meses de penses. Desse

    valor somente uns 500 M cabem a beneficirios e pequenos trabalhadores independentes mas so

    estes que se acumulam aos balces das seces executivas da instituio (R. V. Pereira, 2015).

  • 17

    estado com uma cultura de servio. Mas andorinhas no fazem a primavera. E os efeitos

    opressivos das autoridades portugueses sobre as populaes faz-se inequivocamente sentir

    (Gil, 2004).

    Na mudana de sculo, Manuel Villaverde Cabral registou que dois teros dos portugueses

    dizem que temos medo de exprimir as nossas opinies em voz alta acerca do Governo.

    Segundo Ldia Jorge, h medo de ir para a rua e no h capacidade para erguer

    organizaes cvicas credveis e com continuidade (Almeida, 2015).

    Sero os portugueses geneticamente diferentes dos espanhis e dos gregos? Ou haver uma

    estrutura social organizada que, apesar do grande combate misoginia levado a cabo no pas

    nas ltimas dcadas, tem conseguido manter por exemplo, atravs da influncia de

    organizaes discretas e eminentemente patriarcais, como a Opus Dei ou as Maonarias o

    prestgio social da hierarquizao (por mrito, mas sobretudo por nascimento e condio)?

    De uma maneira ao mesmo tempo radical e realista, Manuel Villaverde Cabral afirma: "O

    grande drama da democracia o catching up educativo ter totalmente falhado (Almeida,

    2015). O valor do mrito pelo esforo ou pelos resultados continua a no ser contemplado e

    reconhecido em Portugal, como tradicionalmente no o foi. Apesar de as famlias portuguesas

    serem, consistentemente, daquelas que na Europa mais investem (relativamente s suas

    possibilidades) na educao dos mais jovens, as polticas do estado tm sido recorrentemente

    refns das preocupaes de distino de classe. Distines que se espelham na separao e

    diferenas de tratamento entre ensino pblico e privado, ensino universitrio e politcnico, e

    na ansiedade com que polticos de topo, como os Scrates ou os Relvas, procuram credenciais

    universitrias para se sentirem melhor entre as elites a quem prestam servios.

    A credenciao , em Portugal, muito mais importante do que a aquisio do gosto por cultivar

    conhecimentos, sensibilidades e princpios ticos. comum a referncia a leituras em diagonal

    de um texto considerado mais longo ou a requerer algum esforo interpretativo; e da o papel

    educativo das muitas horas de televiso e dos comentadores encartados, credenciados pelos

    partidos. Para as famlias, os estudantes continuam a perder anos e a entrada ou a sada das

    universidades so vividos como actos hericos, que a popularidade das praxes acadmicas

    marca e ridiculariza. Onde os valores da hierarquizao, do patriarcalismo, da dissimulao em

    sociedades secretas e o medo da autoridade so precocemente cultivados, afirmados,

    legitimados, com naturalidade. Essas formas de inculcao ideolgica apoiada pelas foras

    polticas dominantes, nomeadamente atravs das universidades e das associaes de

    estudantes.

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