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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1551 A União e a Agricultura constroem a Força: a família de Dona Socorro e seu Tiquim Ibaretama Outubro/2014 Cantar Para ter a alegria De engravidar a mãe terra Cantar Pela honra e o trabalho Ser mais feliz (Gonzaguinha) Dona Socorro tem o Sertão no olhar. Seus olhos refletem a sabedoria de quem já viveu muito. No olhar dela tem flor e espinho, sol de rachar o chão e chuva que desabrocha os brotos. No olhar dela tem acolhimento e paz, aconchego e esperança. Assim como o Sertão, tem força. E essa força foi o que fez Socorro e Francisco, Tiquim como é mais conhecido seu esposo, a criarem os 12 filhos e a permanecerem unidos por mais de 40 anos. O casal e os filhos vivem na comunidade Cajazeiras, distrito de Pirangi, Ibaretama. Alguns filhos e filhas vivem mais pertinho, outros e outras um tantinho longe, mas todos e todas vivem da agricultura familiar. Quando chegaram em Cajazeiras, há 27 anos atrás, a terra era limpa, para não dizer que não tinha nada, um cajueiro era a única árvore frutífera do lugar. Daí começaram as tentativas de encontrar água. A primeira cacimba cavada pelo seu Tiquim só deu um pouquinho d'água. O filho e um trabalhador local cavaram a segunda tentativa e durante 23 anos a família teve o seu acesso à agua garantido através desse cacimbão que foi considerado uma verdadeira bênção caída do céu. Teve dias em que um balde d'água era a única coisa que dona Socorro tinha para cozinhar e banhar os filhos, mas com a cacimba o sofrimento pela falta de água foi amenizado. Quando os açudes da região secaram, reuniam-se um grupo de oito a dez mulheres para lavar roupa ao redor da cacimba. Um verdadeiro oásis no Sertão que a família compartilhava com toda a comunidade. A perseverança do casal se tornou um verdadeiro exemplo de convivência com o Semiárido para a região. A família já recebeu alunos e alunas do Projovem Campo, intercâmbios do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e no comecinho do ano foram visitados pela equipe do Nordeste Rural e a matéria está na internet para quem quiser ver. Dona Socorro e seu Tiquim apontam para as mangueiras. Dona Socorro e seu Tiquim recebem intercâmbio do Programa Uma Terra e Duas Águas - P1+2.

A União e a Agricultura constroem a Força: a família de Dona Socorro e seu

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Dona Socorro tem o Sertão no olhar. Seus olhos refletem a sabedoria de quem já viveu muito. No olhar dela tem flor e espinho, sol de rachar o chão e chuva que desabrocha os brotos. No olhar dela tem acolhimento e paz, aconchego e esperança. Assim como o Sertão, tem força.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1551

A União e a Agricultura constroem a Força: a família de Dona Socorro e seu Tiquim

Ibaretama

Outubro/2014

CantarPara ter a alegriaDe engravidar a mãe terraCantarPela honra e o trabalhoSer mais feliz (Gonzaguinha)

Dona Socorro tem o Sertão no olhar. Seus olhos refletem a sabedoria de quem já viveu muito. No olhar dela tem flor e espinho, sol de rachar o chão e chuva que desabrocha os brotos. No olhar dela tem acolhimento e paz, aconchego e esperança. Assim como o Sertão, tem força. E essa força foi o que fez Socorro e Francisco, Tiquim como é mais conhecido seu esposo, a criarem os 12 filhos e a permanecerem unidos por mais de 40 anos. O casal e os filhos vivem na comunidade Cajazeiras, distrito de Pirangi, Ibaretama. Alguns filhos e filhas vivem mais pertinho, outros e outras um tantinho longe, mas todos e todas vivem da agricultura familiar.

Quando chegaram em Cajazeiras, há 27 anos atrás, a terra era limpa, para não dizer que não tinha nada, um cajueiro era a única árvore frutífera do lugar. Daí começaram as tentativas de encontrar água. A primeira cacimba cavada pelo seu Tiquim só deu um pouquinho d'água. O filho e um trabalhador local cavaram a segunda tentativa e durante 23 anos a família teve o seu acesso à agua garantido através desse cacimbão que foi considerado uma verdadeira bênção caída do céu. Teve dias em que um balde d'água era a única coisa que dona Socorro tinha para cozinhar e banhar os filhos, mas com a cacimba o sofrimento pela falta de água foi amenizado. Quando os açudes da região secaram, reuniam-se um grupo de oito a dez mulheres para lavar roupa ao redor da cacimba. Um verdadeiro oásis no Sertão que a família compartilhava com toda a comunidade.

A perseverança do casal se tornou um verdadeiro exemplo de convivência com o Semiárido para a região. A família já recebeu alunos e alunas do Projovem Campo, intercâmbios do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e no comecinho do ano foram visitados pela equipe do Nordeste Rural e a matéria está na internet para quem quiser ver.

Dona Socorro e seu Tiquim apontam para as mangueiras.

Dona Socorro e seu Tiquim recebem intercâmbiodo Programa Uma Terra e Duas Águas - P1+2.

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Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Sobre os intercâmbios do P1+2, dona Socorro esperava há mais de um ano por uma visita em seu pedacinho de chão. Para ela, receber agricultores e agricultoras de outras localidades é a confirmação de que o seu trabalho pode ser uma inspiração para outras famílias que vivem no Semiárido. “A gente vive, vivendo e aprendendo, as coisas da vida são muito maravilhosas porque às vezes a gente pensa que sabe tudo, mas a gente não sabe, precisa aprender mais”, reflete dona Socorro. Para manter a terra produtiva e alimentar toda a família, o casal teve que pelejar um bocado, correr atrás de uma vida melhor para os filhos e filhas e nunca ceder aos “nãos” que a vida deu. “Eu não desisto das coisas fácil, eu fico teimando porque eu sou meio teimosa, eu sou persistente mesmo porque a gente não pode desistir das coisas com a primeira dificuldade”, conta a teimosa da dona Socorro. O poço profundo e a mandala foram conquistados com muito esforço. Com a água da mandala são criados mais de 500 peixes e abastecidos 22 canteiros e a experiência da mandala

foi tão gratificante para a família que já estão juntando um dinheirinho para a construção de outra. A cisterna de 16 mil litros guarda a água de beber e o poço profundo ajuda a manter a variedade do quintal, que não é pouca. Tem coco, manga, laranja, mamão, graviola, limão, acerola, caju, urucum, cajarana, seriguela, goiaba, banana, maçã, milho, feijão, mandioca, linhaça. Tem um pouquinho de couve e alface, tem cheiro-verde, pimentão, cebola, pimenta-malagueta, pimenta dedo-de-moça. Boldo, corama, malvarisco, hortelã, mastruz e tem plantação de palma para a alimentação dos bichos.

Os 12 filhos seguiram os mesmos passos da mãe e do pai. Joelma, a filha mais velha, que ajudou a mãe na criação das irmãs e irmãos, também tem o seu pé de maracujá, coqueiro, acerola, cajarana, laranjeira, mamão, cheiro-verde e a bananeira já está com quatro cachos vingados, todas as frutas são cultivadas com a água da cisterna-enxurrada, e foram plantadas depois que um dos irmãos conquistou a cisterna, daí Joelma ficou na expectativa e já foi tratando de se preparar para receber a sua. Joilma, com seus dezoito anos, é a filha mais jovem de dona Socorro e seu Tiquim e tem muito orgulho dos pais. Ela sonha em ir para a faculdade e está dividida entre ser perita criminal e engenheira agrônoma, mas acredita que a segunda opção irá contribuir mais com o trabalho dos pais. A jovem ajuda a vender o cheiro-verde cultivado pela família e, como a mãe, adora plantar.

São 12 filhos e 17 netos: o amor de Socorro e Tiquim teve a força de procriar não só a terra, plantou sonhos e colheu conquistas. E mais estão por vir porque a família é grande e o amor mais ainda.

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Realização Apoio

Dona Socorro e seu Tiquim alimentam os peixes.

Dona Socorro e as filhas.

Dona Socorro e o café da tarde.