A UNIÃO HOMOAFETIVA E SEUS ASPECTOS HISTÓRICO, RELIGIOSOS, MORAL, SOCIAL E CONSTITUCIONAL

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    A UNIO HOMOAFETIVA E SEUS ASPECTOSHISTRICO, RELIGIOSOS, MORAL, SOCIAL ECONSTITUCIONAL.

    INTRODUOA Cidadania e a Democracia so imprescindveis para a legitimidade de um governo,seu controle social e para que uma sociedade seja de fato igualitria, livre e coesa,especialmente, quando estas esto voltadas para fatos sociais que ensejam polmicase para os quais v-se a ausncia de tais pilares sociais, como se apresenta a uniohomoafetiva, uma das maiores e mais calorosas discusses da atualidade no Brasil,confrontando-se com preceitos, preconceitos e ausncia de leis que os ampare.Constituindo importante tema tanto para o estudo da Sociologia, quanto para oestudo do Direito.

    Embora para muitos ainda seja um tabu o tema unio homoafetiva, a discusso doassunto h tempos adormecida, tomou flego e agora transcende as fronteiras dojulgo moral, alcanando diversos ambientes, do acadmico a mdia, nos segmentosreligiosos e, j adentrando o Congresso Nacional.O intento do proposto trabalho apresentar o tema de maneira clara. O primeiroconsta da pesquisa terica com apresentao das conceituaes pertinentes aoassunto. Em seguida foram apresentados diversos aspectos, delineando sucintamente

    sua historicidade, desde os tempos remotos at a atualidade. Enfatizando o tema aluz da moral e da religio. E, finalmente, o tratamento sociolgico e jurdicodispensado a unio homoafetiva, onde so apresentados grandes nomes do direito,como Hans Kelsen, Miguel Reale, Paulo Nader, Dbora V. Brando, Rodrigo daCunha Pereira, que tiveram suas concepes como base para o desenvolvimento dapesquisa, alm do entendimento de estudiosos, como a Desembargadora MariaBerenice Dias. Tambm, na Sociologia, nomes como mile Durkheim, Max Weber inCristina Costa, Paulo Bonavides, Celso A. de Castro, Ana Lcia Sabadell, foram as

    bases tericas para a construo da temtica abordada. Enfocou-se a pesquisadocumentria nos art. 3 e 5 da Constituio Federal, o art. 1.723 do Cdigo Civil, oProjeto de Lei 1.151/95 da Deputada Marta Suplicy e o 66/2000 do Deputado RenatoSimes. Questionou-se, tambm, o direito da famlia e a extenso deste direito asunies entre pessoas do mesmo sexo, relatando casos concretos de reconhecimentopor jurisprudncias e pareceres favorveis ao assunto. Defendidas por juristas eprofissionais do direito brasileiro.

    O objetivo a reflexo, especialmente, do profissional do direito, a respeito do que seapresentou no passado relacionado as unies entre pessoas do mesmo sexo, do quese apresenta no Brasil, do que se conquistou at o momento. E qual a probabilidade

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    de um futuro em que a unio homoafetiva, seja reconhecida legal e legitimamente.Pois o direito no poder se omitir ao enfrentamento desta ou de outras questesinerentes na sociedade moderna, ainda que estas ensejem polmicas e dificuldades.

    CIDADANIA E DEMOCRACIA: UNIO HOMOAFETIVA E SEUS ASPECTOSSOCIAIS E JURDICOS

    A unio homoafetiva enseja um dos maiores debates atual, confrontando-se compreconceitos, tabus, preceitos morais, religiosos e constitucionais. Inicialmente, cabereferir alguns conceitos relacionados ao tema ora abordado.Conceitos:Cidadania: em Costa e Duarte (2004, p. 21), a participao ativa na luta pelocumprimento de direitos j reconhecidos, na luta pelo reconhecimento, pelos direitos

    que se tornem historicamente necessrios como tambm por seu reconhecimento epor sua implementao tendo em vista a promoo do bem comum.Democracia: Paulo Bonavides, na obra Cincia Poltica, cita Kelsen, que considera sera democracia, sobretudo um caminho: o da progresso para a liberdade.Famlia: Segundo o jurista brasileiro Clovis Bebilqua, um conjunto de pessoasligadas pelo vnculo da consangnea, cuja eficcia se estende ora mais larga, oramais restritamente, segundo vrias legislaes. Outras vezes, porm, designa-se, porfamlia, somente os cnjuges e a respectiva prognie.

    Homossexual: Pessoa que se relaciona sexualmente quer de fato quer de formafantasiosa, imaginria, com parceiros pertencentes ao mesmo sexo que o seu,mantendo-se, todavia, satisfeita com o seu biolgico.Justia: a constante e firme vontade de dar a cada um o que seu (ULPIANO apudPAULO NADER, 1999, p. 118).Fato Social: todo fato que em seu contexto exterior a vontade humana, comum atoda sociedade e exerce coercitividade sobre os indivduos (DURKHEIM apud

    CRISTINA COSTA, 2005, p.83).

    A UNIO HOMOAFETIVA E SEUS ASPECTOS HISTRICO, RELIGIOSOS,MORAL, SOCIAL E CONSTITUCIONAL.ASPECTOS HISTRICO E MORAL

    O termo homossexual origina-se do prefixo grego homos que significa o mesmo/semelhante. Sexual vem do latim sexo e significa relativo ou pertencente aosexo.A homossexualidade esteve presente nos primrdios da prpria histria, citada noslivros da antiguidade grego-romana e na prpria Bblia. Na sociedade grega, tais

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    relaes eram to presentes que chegavam a ser consideradas mais nobres do que osrelacionamentos heterossexuais.A luz da moralidade, a unio homoafetiva precede e prenuncia a decadncia moral,tal qual a poltica e a social, por figurar desrespeito e anomia diante da moral. Posto asociedade de ter valores culturais dominantes e um sistema de excluses muitasvezes baseado em preconceitos estigmatizantes, fruto da cultura e de valores

    histricos.Com a revoluo dos costumes e da mudana dos valores, dos conceitos de moral epudor, o tema homossexualidade e unio entre pessoas do mesmo sexo, deixaram deser assunto proibido sendo enfrentado no cinema, novelas, na mdia como um todoe na prpria poltica. Entretanto, nas culturas ocidentais contemporneas, somarcados pela marginalidade, aqueles que no tm preferncias sexuais dentro dedeterminados padres de estreita moralidade.

    ASPECTO RELIGIOSOSem dvida, na religio que encontramos o carter mais polmico e maiorpreconceito, em face da religio ter como base os princpios sagrados, segundo osquais a relao sexual tem como natureza, a procriao. Pondera-se no meio religioso,que se Deus quisesse e achasse conveniente a existncia de seres de um s sexo, assimo teria feito. O livro de Gneses, em seu capitulo 2, versculo 27, assim o fala: CriouDeus, pois o homem a sua imagem e semelhana, a imagem de Deus o criou: homeme mulher os criou.

    Tambm a Bblia explicita, clara e direta sobre a matria, nos textos abaixo referidosno livro de Levtico 18: 22. Com homem no te deitars, como se fosse mulher: abominao.As principais religies consideram uma aberrao, uma transgresso a ordemnatural, uma perverso. Contudo, se suas bases para no aceitao repdio asunies homoafetivas a concepo da procriao, pondera-se ento, que pessoasestreis, mulheres casadas na menopausa tambm tenham suas unies vedadas e

    repudiadas pela igreja, visto a estas a no possibilidade de procriao.

    ASPECTOS SOCIAIS E CONSTITUCIONAIS

    A palavra homossexual foi utilizada pela primeira vez, em 1869, pelo mdicohngaro Karoly Benkert. E para a psicologia, a homossexualidade consideradacomo um distrbio de identidade, no hereditrio nem de opo consciente oudeliberada.Para o psiclogo Roberto Gran, o homossexualismo fruto de um pr-determinismopsquico primitivo, originado nas relaes parentais das crianas, desde a suaconcepo at os 3 ou 4 anos de idade, quando o ncleo da identidade sexual na

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    personalidade do individuo, que determinar sua orientao sexual, se constitui.Isso posto, trata-se de um fato que no enseja qualquer reprovabilidade social oujurdica, pois algo involuntrio. Uma vez que involuntrio e que a prpriamedicina reconhece tal circunstncia, na ltima reviso, do ano de 1995, o cdigointernacional das doenas- CID deixou de constar o termo homossexualismo, cujosufixo ismo significa doena, adotando o termo homossexualidade, cujo sufixo

    dade, significa modo de ser. Portanto, no sendo possvel ao indivduo a escolhada sexualidade, figura a reprovabilidade quer social, moral, religiosa ou jurdica, umato discriminatrio.A unio homoafetiva um fato social e jurdico, gerador de efeitos jurdicos, porconfigurar uma sociedade civil, ou mesmo, uma comunho de vidas e interesses.Esteve presente em todas as sociedades desde os povos mais remotos. Constituiimportante tema para o estudo sociolgico e do direito, por representar um fato

    relevante nas sociedades, especialmente, na sociedade brasileira, que entende ahomossexualidade como uma transgresso a moral, aos costumes e a uniohomoafetiva, como uma degradao da famlia tradicional.Durkheim demonstrou que os fatos sociais tm existncia prpria e independemdaquilo que pensa e faz cada indivduo em particular (DURKHEIM apud CELSOCASTRO, 2003, p.64) e, considera um fato social como normal, quando se encontrageneralizado pela sociedade ou quando este desempenha alguma funo importantepara sua adaptao ou sua evoluo. Afirmou que a sociedade o meio onde o

    direito surge e se desenvolve, pois a idia do direito liga-se a idia de conduta,organizao e de mudana. Partindo desta concepo, a unio entre pessoas domesmo sexo figura como um fato normal, medida que se apresenta na sociedadebuscando adaptao social e jurdica.O comportamento homossexual, especialmente sua unio, embora no tenhamnenhum tipo de lei que os aprove ou lhes punam, sofrem por parte de determinadosgrupos a reao negativa de reprovao, por se comportarem de forma discordante

    em relao aos valores e princpios da moralidade. Apresentando uma conscinciacoletiva, segundo a concepo durkheimiana. Contrapondo-se, Weber vem afirmarque cada indivduo age segundo motivaes resultantes da influncia da tradio,dos interesses racionais e da emotividade (WEBER apud CRISTINA COSTA, 2005, p.98). Observou que h direitos subjetivos criado por regulamentos pblicos, onde oindivduo tem a possibilidade de recorrer a dispositivos constitucionais para garantirseus interesses.Nesse contexto, a sociologia jurdica tem como objeto de estudo a realidade dodireito, impondo ao pesquisador a necessidade de acompanhar as transformaesque sofre o sistema jurdico e a sociedade.O direito, especialmente o de Famlia, tem sofrido grandes transformaes nos

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    ltimos tempos. Tais mudanas, entretanto, no contemplaram a unio entre pessoasdo mesmo sexo. No Brasil a lei no toma conhecimento da unio homoafetiva, nolhe d aprovaes nem punies, admitindo casamento somente entre pessoas desexos opostos, ou seja, heterossexuais. Entretanto, alguns sistemas jurdicos vem anecessidade de adequar suas leis para acomodar tais situaes, como j acontece, porexemplo, nos EUA, no Estado de Nova Iorque.

    No processo histrico dos direitos, o direito social foi o ltimo dos direitos a serconquistado. Direitos sociais compreendem garantias sociais, econmicas, culturais,morais e de lazer . E para que sejam assegurados necessria a presena da justiaem todas as suas dimenses; de modo particular, a justia social.A Constituio Brasileira de 88 estabelece no art. 5 que todos so iguais perante alei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aosestrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a

    igualdade, a segurana e a propriedade.Em sntese, todos tm direitos e tambm deveres para com o semelhante garantindo aintegridade, a autonomia, a liberdade e a dignidade como pessoa humana. Todavia,no elimina conflitos no conjunto da sociedade, especialmente ao se tratar dehomossexualidade e unio estvel entre pessoas do mesmo sexo. E neste momento,em que a palavra de ordem o direito a cidadania e a incluso dos excludos,questiona-se a ausncia de leis que regulamentem a unio homoafetiva.Alguns estudiosos entendem a questo da unio homoafetiva segundo a viso

    kelseniana. Se no h lei prevista, nem norma que juridicamente a ampare, logo noh possibilidade de reconhecimento expresso as unies estveis homossexuais comoentidade familiar. Entretanto, a teoria tridimensional do direito de Miguel Realeassume relevante papel, porque explicita perfeitamente que a norma a conjugaode fatos e valores. Considerando que o valor que justifica a regulamentao de umfato relevante da anlise da finalidade normativa. Assim quando se analisa a questounio estvel e do casamento civil sobre a tica da possvel extenso destes direitos

    aos casais homoafetivos, considera-se o valor deste fato dentro da sociedade. Fato,valor e norma esto sempre presentes e correlacionados em qualquer expresso davida jurdica, seja ela estudada pelo filsofo ou socilogo do direito ou pelo jurista(Miguel Reale, 1994, p. 57).Outros profissionais do direito encontram dificuldade para assuntos da sexualidade,visto a grande polmica, muitas vezes advindas da dificuldade com apropriasexualidade. A questo da unio homoafetiva muito mais profunda e complexa e a suadiscriminao no pode ser resolvida com a simples valorizao das identidadessexuais, to pouco com a mudana da viso social frente ao assunto.Jurandir Freire, ao ponderar sobre o assunto, sbio ao dizer que nenhum

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    preconceito poder ser renunciado racionalmente apenas por mostrar a estupidez desuas crenas, sobretudo se os fundamentos desta crena permanecerem sendo levadoa srio.A arma contra o preconceito a ironia, o sarcasmo, a crtica, o descrdito, asurpresa e o desprezo por tudo aquilo que lhe d suporte, junto com a proposta depensar em experimentos morais alternativos para nossas relaes afetivas, amorosas,

    sentimentais, amigveis, etc, onde o sexo seja coadjuvante e no ator principal.Interessa aos profissionais do Direito refletir melhor o real significado de igualdade eliberdade dos indivduos acima dos conceitos estigmatizados e moralizantes queservem de instrumento de excluso da cidadania. Cidadania que est associada aoEstado, como instituio que define direitos e deveres, atribuindo sanes formais.No Brasil a democracia representativa de modo prevalente. Entretanto, nosconfrontamos, em diversas situaes com uma democracia e cidadania abstrata, a

    medida que o Estado deixa de ser legtimo, por no propiciar a legitimao elegalizao de fatos concretos, qual a unio estvel homoafetiva, marginalizada pordeterminados valores que to-somente figuram como retrocesso social, numasociedade dita moderna.Inmeros so os movimentos sociais de apoio a legalizao da unio estvel entrepessoas do mesmo sexo, tambm j tramitam no congresso projetos de lei, como oProjeto de Lei 1.151/95 da Deputada Marta Suplicy, que busca a proibio dadiscriminao por motivo de orientao sexual. O Projeto de Lei 66/2000, do

    Deputado Renato Simes, que entrou em vigor em So Paulo, no ano de 2001 e quetambm dispe sobre a prtica de discriminao por motivo de orientao sexual e doutras providncias. Tambm o substitutivo adotado pela Comisso Projeto Lei1.151/95 que disciplina a parceria civil registrada entre pessoas do mesmo sexo. Aprpria Advocacia geral da Unio - AGU se pronunciou avaliando o tratamentopreconceituoso e discriminatrio do meio social e do prprio poder pblico aoimpedir o bem-estar dos homossexuais . Tambm a procuradoria Geral da Repblica

    - PGR entende como violao de princpios constitucionais o no reconhecimento daunio estvel formada entre pessoas do mesmo sexo . H ainda grande preconceito,morosidade e descaso tanto social quanto poltico. Assim, todos os que se encontramnessa situao esto absolutamente a margem da lei e desprotegidos. bom ressaltar, que embora no exista na constituio nenhuma lei de amparo aunio homoafetiva. Existem princpios constitucionais que so basilar eessencialmente, muito mais indeterminados e elsticos do que as demais normas,produzindo ao amparo de um sistema normativo que abrange diversaspossibilidades e contemplando estes cidados.O art. 1.723 do Cdigo Civil/02 afirma que unio estvel toda unio pautada poruma convivncia Pblica, contnua e duradoura e estabelecida com o objetivo de

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    constituir famlia. O termo constituir famlia no significa ter filhos, pretenderfilhos ou mesmo poder ter filhos, pois se assim fosse entendido, casaisheteroafetivos estreis no teriam sua unio estvel reconhecida, ficando tambmmarginalizados. O real significado de constituio familiar , justamente, amanuteno de uma unio pblica, contnua e duradoura, em comunho plena devida, com todas as consequncias que esta plenitude acarreta, conforme art. 1.566,

    incs. I a III e V do Cdigo Civil que estabelece a unio estvel: fidelidade recproca,mtua assistncia, vida em comum, respeito e consideraes mtuas. E de fato, aunio homoafetiva apresenta esse carter, embora acredite-se carecer de uma emendaconstitucional para estender os mesmos direitos j conferidos as famlias e entidadesfamiliares.O tema homossexualidade e unio homoafetiva so questes de direito, visto aconstituio brasileira dispor no seu art. 5, inciso I, o princpio da igualdade e no art.

    3, inciso IV, dispor sobre a dignidade da pessoa humana. Assim, tem o homossexualenquanto cidado, seu direito garantido pela lei. E ainda que a sociedade seja ditamoderna, onde figura um Estado democrtico de direitos fundamentais e deveres,o homossexual visto pela concepo do sem vergonha, que age abominavelmenteao se envolver com outro igual. Tais posturas so fruto da cultura de valores decultura tradicionais, o que no justifica as inmeras formas de discriminao e deabusos cometidos.Dever ser considerada fundamentalmente, a dignidade da pessoa humana e a

    necessidade de regulamentao das unies estveis homossexuais, conformedefendem diversos juristas e polticos.Tambm vale de lembrar-se que a Conveno Internacional dos Direitos Civis ePolticos, a Conveno Americana de Direitos Humanos e o Pacto de San Jose, dosquais o Brasil signatrio, servem de fundamento para a ONU, que tem entendidocomo ilegtima qualquer interferncia na vida privada de homossexuais adultos, sejacomo base no princpio do respeito a dignidade humana, seja pelo princpio da

    igualdade. Assim sendo, a no discriminao e a igualdade so correlacionadas econstituem um princpio geral para assegurar o respeito e a proteo aos direitoshumanos.Contrrio a discusso da unio homoafetiva, Miguel Reale afirmou:A unio entre pessoas do mesmo sexo s pode ser discutida depois de alterada aconstituio, visto a unio estvel ser entre homem e mulher. E se h o desejo deentender esse direito aos homossexuais, que primeiramente se mudem a constituiocom 3/5 dos votos do Congresso. Depois o Cdigo Civil poder cuidar da matria. Ainda que exista uma efetividade discriminao jurdica cometida contrahomossexuais ao no se reconhecer o casamento civil e a unio estvel destes, emalguns casos, vindo do prprio Superior Tribunal de Justia, que nega este carter de

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    unio estvel. Inmeras jurisprudncias j apontam para a concretizao das unieshomoafetivas, como o caso concreto de Luis Alberto dos Santos e Unibanco AIGSeguros e Previdncia, respectivamente autor e ru, ajuizado na 3 Vara Civil do Riode Janeiro, em 28 de agosto de 2005, em que o autor pleiteia a incluso de seucompanheiro como dependente no seu plano de sade . Julgado pela ExcelentssimaJuza de Direito, Dra. Maria Cristina Barros Gutirrez Slaibi, que considerando

    jurisprudncias outrora julgadas favorveis ao reconhecimento da uniohomoafetiva. Julgou procedente o pedido, na forma do art. 269, I do CPC, paradeclarar a incluso do companheiro do autor como seu dependente, para todos osefeitos jurdicos, no plano de seguro da r. Condenando-a ao pagamento das custas ehonorrios advocatcios, os quais na forma do art.20, 4 do CPC, fixo em R$ 1.200,00(Mil e duzentos Reais).Tais jurisprudncias usadas como base pela Juza Maria Cristina Barros, como a Ao

    Civil Pblica, ajuizada pelo Ministrio Pblico Federal em face do INSS, que em 27 deoutubro de 2004, incluiu no Regulamento da Previdncia Social-RPS, no seu artigo 30que a partir daquela data, o companheiro ou a companheira homossexual desegurado inscrito no RGPS passa a integrar o rol dos dependentes e, desde quecomprovada a vida em comum e a dependncia econmica, concorrem para fins depenso por morte e de auxlio-recluso, com os dependentes preferenciais de quetrata o inciso I do art. 16 da Lei n 8213, de 1991, para bitos ocorridos a partir de 5 deabril de 1991, ou seja, mesmo tendo ocorrido anteriormente a data da deciso judicial

    proferida na Ao Civil Pblica n 2000.71.00009347-0.Ainda da deciso do Tribunal Superior Eleitoral, que por unanimidade, aplicou aunio estvel homossexual a inelegibilidade consagrada no art. 14, 7, daConstituio Federal. Em que se probe aos cnjuges de Presidente da Repblica,Governadores e Prefeitos concorrerem nas eleies ao mesmo cargo. Necessrio, oafastamento do titular at seis meses antes do pleito. Foram elucidadas pelaDesembargadora Maria Berenice Dias, do Rio Grande do Sul, Tribunal de Justia.

    As unies homoafetivas so realidade para qual no se pode fechar os olhos. Socidados do mesmo sexo que convivem em regime de unio estvel, amparados ouno pela legislao, embora em diversos pases do mundo j tenham alterado seusistema de direito positivo para incluir a possibilidade de unio estvel entre pessoasdo mesmo sexo.Assegurar direitos a unio entre pessoas do mesmo sexo, no fere em nenhummomento o princpio da unio estvel entre homens e mulheres. Dever serconsiderada a dignidade humana, o direito de se viver em um pas democrtico comigualdade de direitos. Considera-se tambm a justia, para alcanar o bem comum,tanto enfatizado no direito.Segundo a Desembargadora Maria Berenice Dias:

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    Cabe ao juiz pensar e repensar a relao entre o justo e o legal. No pode buscarsubsdios nas regras de direito posto, que no prevem as situaes novas. Precisa tercoragem de ousar na hora de decidir. Sob o fundamento de inexistir previso legal,no pode o magistrado se omitir e simplesmente negar direitos. Tal revela-se comomera tentativa de punir quem ousa viver de forma diversa do modelo convencional. a forma mais perversa de excluso, pois configura condenao invisibilidade,

    alijamento do mbito de tutela jurdica.A homossexualidade no uma escolha, assim como no opcional nascer negro,pobre, ndio, deficiente. No possvel, nem concebvel fechar os olhos para umarealidade, para este fato explcito na sociedade e querer a qualquer custo mud-lo,suprimi-lo, como se este fosse um caderno em que se escreve e quando no satisfeitocom as palavras, apaga-se e reescrevem-se outras palavras.A unio homoafetiva de fato e dever ser de direito, entendida e respeitada na

    sociedade, quer pelos cidados, quer pelo poder publico, quer pelo sistema jurdico.Caso contrrio figurar como um retrocesso social, poltico, jurdico, e prenncio dadecadncia efetiva da democracia e da cidadania, na tentativa de ocultar a essnciado ser humano, do homossexual visto como diferente, constituindo uma grandeinjustia moral e social. Indo de encontro ao que se propem os princpiosconstitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade da pessoa humana.CONCLUSOA questo da homoafetividade estudada segundo o Direito e a Sociologia, mostrou-se

    buscando incansavelmente a garantia de direitos, quer seja de igualdade entre ossexos, da liberdade, da intimidade, da pluralidade familiar, do desenvolvimento dapersonalidade e, de maneira central, da dignidade da pessoa humana. Onde essesdireitos postos na Constituio sejam considerados legais e suficientes para aconcesso de efeitos jurdicos favorveis as parcerias entre pessoas do mesmo sexo,para que estes cidados possam conviver familiarmente segundo o modelo quemelhor retrate seus anseios individuais.

    Percebe-se, contudo, que o Direito Civil, em pocas passadas, manteve-se distantedas realidades sociais de seu tempo, aprisionado em um formalismo tipicista eexcluidor. Hoje, no entanto, as relaes sociais so vistas com outro olhar, onde sebusca, a partir de princpios constitucionais, solues para questes presentes nasociedade e ainda no previstas na Constituio Federal. Buscando-se um novoDireito de famlia sem excluses, com ateno voltada aos Direitos Fundamentais eDireitos Humanos, para tutelar estes cidados que expressando sua forma de amar,outrora julgada diferente, lutam por direitos, pela justia e pelo bem comum.Sem dvida, o trabalho interdisciplinar nos serviu como fonte enriquecedora deconhecimentos, enquanto cidados e profissionais do futuro Direito da Amaznia edo Brasil. Ao considerar todas as fontes de pesquisa, quer seja dos casos concretos, as

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    teorias, pareceres e todo o estudo que o envolveu.A justia e o bem comum, incansavelmente buscados pelo Direito. As relaes sociais,seu desenvolvimento, sua importncia para a Sociologia, se fizeram presentes nestetrabalho. Entretanto, o maior conhecimento adquirido foi, especialmente, oconhecimento de que s haver justia de fato, quando efetivamente for reconhecidoque a sociedade formada de uma diversidade, que dever ser respeitada a partir da

    individualidade de cada agente social, respeitando o princpio basilar da igualdadeperante as leis, da dignidade da pessoa humana, para que se concretize a realdemocracia e cidadania, hoje ausente para aqueles que realmente delas necessitam.Garantir aqueles que tm convvio duradouro com seus parceiros, direitos como:unio legal, herana, penso, patrimnio, identidade, e porque no, adoo ver defato, a justia sendo concretizada e a plenitude da democracia e da cidadaniaestabelecidas, respeitando a identidade de cada indivduo.

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    REFERNCIAS COMPLEMENTARESAdvocacia Geral da Unio AGU. Unio estvel entre pessoas do mesmo sexo. Disponvel em:. Acesso em: 30 de out. 2009DIAS, Maria Berenice. Unio Homossexual: aspectos sociais e jurdicos. Disponvel

    em: . Acesso em:30 de out. 2009.DIAS, Maria Berenice. Uma questo de justia. Disponvel em:. Acesso em: 30 deout. 2009.Supremo Tribunal Federal. PGR pede que STF equipare unio homossexual estvel relao estvel entre homem e mulher. Disponvel em:.

    Acesso em: 30 de out. 2009.

    Texto Acadmico em parceria com os Acadmicos em Direito: Ana Luiza FariasCosta, Ana Maria Teles da Silva Rente, Anne Veloso Monteiro, Antonio RamonRodrigues Figueirdo, Denize Maria Henriques Menezes Queiroz e Evandro AugustoAzevedo da Rocha