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1 A UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSANI APARECIDA CHAVES RECCO O GRUPO NA REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA DE MULHERES EM PÓS-OPERATÓRIO DE OMBRO ITAJAÍ (SC) 2013

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A UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ROSANI APARECIDA CHAVES RECCO

O GRUPO NA REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA DE

MULHERES EM PÓS-OPERATÓRIO DE OMBRO

ITAJAÍ (SC)

2013

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ROSANI APARECIDA CHAVES RECCO

O GRUPO NA REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA DE MULHERES EM PÓS-

OPERATÓRIO DE OMBRO

Dissertação apresentada como requisito do título de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho, da Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI. Orientadora: Profª. Dra. Stella Maris Brum Lopes

ITAJAÍ (SC)

2013

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Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio incondicional, incentivo e presença

constante em minha vida.

Amo vocês .

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sempre presente em todos os momentos de minha vida,

sempre me cingiu de força e aperfeiçoou o meu caminho.

Aos meus pais, Manoel (in memoriam) e Terezinha, que me ensinaram a perseguir o meu

ideal com determinação e coragem...minha eterna gratidão.

Às minhas irmãs Lucia e Rose, por estarem sempre ao meu lado, me compreendendo,

ajudando e incentivando nas horas difíceis... vocês são muito especiais.

Ao meu marido, Guerino que sempre me incentivou e me apoiou, para que eu pudesse vencer

mais esta etapa de minha vida... companheiro incansável que muito admiro.

A minha amada filha, Giuliana, que me alegra pela sua existência em minha vida, amiga,

companheira, minha fonte de inspiração... um presente de Deus.

A meu amado filho, Guilherme (in memoriam), que embora não esteja mais entre nós, o

pouco tempo que ficou muito nos ensinou... nosso eterno amor.

A minha orientadora e mestre Dra Stella minha admiração, respeito e carinho por

compartilhar conhecimentos, contribuindo para o meu crescimento profissional.

Aos professores e colegas de mestrado, que em muito contribuíram nessa caminhada.

Ao grupo de mulheres pós-operatório de ombro, pelo acolhimento, confiança e o

aprendizado que me proporcionaram. Nada seria possível sem vocês!

A UNIMULT, especialmente a Claudia e Maria Luiza pela oportunidade de desenvolver o

Projeto de Pesquisa no Ambulatório de Fisioterapia do Hospital de Clínicas da UFPR.

Às universidades envolvidas, UNIVALI e UFPR, por oportunizarem a realização deste

trabalho e que muito acrescentaram na minha vida profissional.

5

Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.

Paulo Freire

6

RESUMO

Entendendo que a Educação em Saúde envolve tanto um processo de subjetivação como

também um processo de estabelecimento de vínculos comunitários, o grupo tem sido um

formato privilegiado pelos profissionais de saúde para uma intervenção mais humanizada.

Partindo deste pressuposto, desenvolveu-se um grupo de mulheres pós-operatório de ombro

com o objetivo de potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, oportunizando a essas

mulheres, condições para melhor lidar com suas dores e limitações funcionais, no

Ambulatório de Fisioterapia do Hospital de Clínicas da UFPR, em Curitiba(PR), por meio de

uma ação pautada na proposta de Paulo Freire e sua educação dialógica, problematizadora e

emancipatória. Para o desenvolvimento deste grupo realizou-se uma pesquisa qualitativa cuja

abordagem possibilitou o estabelecimento de um processo descritivo em relação ao fenômeno

grupal. A abordagem utilizada permitiu um contato direto e prolongado, com os sujeitos da

pesquisa através de seis oficinas que foram realizadas mensalmente, iniciadas em outubro de

2012 e finalizadas em março de 2013. O relato das mulheres apontou o grupo como um

espaço agradável, acolhedor, de descontração onde partilharam experiências de vida,

conquistaram amizades e aprenderam com o outro. Isso permitiu um repensar sobre seu

próprio comportamento, o cuidado de si e as possibilidades de mudança de atitudes. Enfim, as

oficinas propiciaram às participantes um novo olhar sobre a vida, mais crítico e menos

submisso. Concluiu-se que partindo do princípio de que se faz necessária a humanização do

atendimento com vistas a uma atenção integral, a utilização de grupos como apoio no

processo fisioterápico pode ser uma excelente estratégia para uma prática menos reducionista

e mais humanizada que reconheça a necessidade do outro.

Palavras-chave: fisioterapia; grupo; integralidade

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ABSTRACT

Based on the understanding that Health Education involves both a subjective process, and a

process of establishing community ties, the group has been a format preferred by health

professionals for a more humanized intervention.

Based on this premise, we developed a group of women who had undergone shoulder surgery,

to enhance the effects of conventional physiotherapy, providing these women with conditions

to cope with their pain and functional limitations better, at the Physiotherapy Hospital Clinical

UFPR in Curitiba (PR), trough action based on the proposal of Paulo Freire and his dialogical,

problem-solving and emancipatory education. For the development of this group, qualitative

research was carried out, which enabled the establishment of a descriptive process in relation

to the group phenomenon. The approach allowed for direct and prolonged contact with the

subjects trough six workshops that were held monthly, beginning in October 2012 and ending

in March 2013. The women's reports pointed to the group as a pleasant, welcoming, relaxed

environment where they could share life experiences, gain friendships, and learn from each

other. This led the women to rethink their own behavior, self-care, and the possibilities of

changing attitudes. In short, the workshops prompted a more critical and less submissive

perspective on life among the participants. It was concluded that based on the principle that

humanization of healthcare is needed, with a view to providing comprehensive care, the use

of support groups in the physiotherapy process can be an excellent strategy for a less

reductionist and more humanistic practice that recognizes the need for the other.

Keywords : physical therapy; group; completeness

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 09

2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................11

2.1 Educação em Saúde: Aplicação na Assistência ........................................................13

2.2 Grupos na prática da assistência .............................................................................16

2.2.1 Definição e função ....................................................................................................18

2.2.2 Estrutura e contribuição.............................................................................................18

2.2.3 Estratégias..................................................................................................................19

2.2.4 Tecnologia leve..........................................................................................................21

3 METODOLOGIA....................................................................................................22

3.1 Local da pesquisa.......................................................................................................22

3.2 Sujeitos da pesquisa...................................................................................................23

3.3 Percurso metodológico..............................................................................................24

3.4 Aspectos éticos da pesquisa......................................................................................27

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................29

4.1 Primeira oficina: identidade.....................................................................................29

4.2 Segunda oficina: família...........................................................................................32

4.3 Terceira oficina: trabalho.........................................................................................35

4.4 Quarta oficina: trabalho............................................................................................38

4.5 Quinta oficina: cuidado de si....................................................................................41

4.6 Sexta oficina: despedida......................................................................................... 45

4.7 Artigo: A contribuição do grupo na reabilitação fisioterápica.................................51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 75

REFERÊNCIAS.....................................................................................................77

ANEXOS................................................................................................................83

APÊNDICES..........................................................................................................90

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1 INTRODUÇÃO

No campo da fisioterapia, não raro se questiona como é possível contribuir para

amenizar o sofrimento das pessoas em processo de reabilitação, o que vai muito além de uma

incapacidade funcional. Percebe-se a necessidade de realizar um trabalho diferenciado para

oferecer atendimento integral às necessidades dessas pessoas, contrariando, em certa medida,

uma formação acadêmica que muitas vezes leva a uma visão mecanicista e reducionista que

segue o modelo biomédico.

Tradicionalmente, o fisioterapeuta tem uma formação direcionada para a doença e é

visto como “profissional da reabilitação”, ou seja, aquele que atua exclusivamente quando a

doença, lesão ou disfunção já foi estabelecida (Gallo, 2005). No entanto, de acordo com o

Ministério da Educação (MEC), o fisioterapeuta é um profissional generalista capacitado a

atuar em todos os níveis de atenção à saúde, não devendo ficar restrito às ações curativas e

reabilitadoras (Deliberato, 2002).

Desde a sua origem, a fisioterapia enfatiza e dirige as definições do campo profissional

para atividades recuperativas, reabilitadoras e atenuadoras de um organismo que se encontra

em más condições de saúde. Sua inserção na rede pública de saúde vem reproduzindo essa

lógica marcada pela reabilitação (RIBEIRO, 2002; REBELATTO; BOTOMÉ, 1987).

Na década de 1990, segundo Bispo Júnior (2009, p. 664), “a fisioterapia cresceu em

relação ao status profissional e ampliou suas especializações e seu campo de atuação, o que,

no entanto, ocorreu [...] no nível terciário de atenção e sob a lógica privatista da assistência”.

O autor assevera que esses fatores têm dificultado a ampliação do campo de atuação da

fisioterapia, em virtude do inadequado perfil profissional para a atuação em outros níveis.

Silva e Da Ros (2007) chamam a atenção para a limitada compreensão, por parte de

profissionais e estudantes, das possibilidades de atuação do fisioterapeuta na atenção básica.

A integralidade surge como um dos princípios do SUS e uma visão ampliada de saúde

pressupõe ações integradas e uma prática plena de possibilidades. Na opinião de Mattos

(2004, p. 1414), defender integralidade é “defender antes de tudo que as práticas em saúde no

SUS sejam intersubjetivas, nas quais profissionais de saúde se relacionem com sujeitos e não

com objetos”. O autor acrescenta:

10

Práticas intersubjetivas envolvem necessariamente uma dimensão dialógica. Isso confere às práticas de saúde um caráter de conversação, na qual nós, profissionais de saúde, utilizamos nossos conhecimentos para identificar as necessidades de ações e serviços de saúde de cada sujeito com o qual nos relacionamos, para reconhecer amplamente os conjuntos de ações que podemos pôr em prática (incluindo ações como o aconselhamento e as chamadas práticas de educação em saúde) para responder as necessidades que aprendemos (MATTOS, 2004, p. 1414).

Refletindo sobre integralidade na fisioterapia, questiona-se como inserir, no processo

de reabilitação ambulatorial, a clínica ampliada, que exige dos profissionais de saúde um

exame permanente dos próprios valores e toma como objeto de ação sujeitos singulares que

vivenciam determinado sofrimento, agravo ou doença que demanda um atendimento integral

(Cunha, 2005).

Faz-se necessário qualificar a intervenção sobre o sofrimento e a doença e valorizar o

encontro do profissional e do usuário como um espaço de produção partilhada de relações e

de intervenções no qual há um jogo entre necessidades dos usuários e modos tecnológicos do

agir em saúde (MERHY; ONOCKO, 2002).

Ao longo do trabalho no ambulatório de fisioterapia do Hospital de Clínicas da

Universidade Federal do Paraná (UFPR), observou-se que mulheres em processo de

reabilitação fisioterápica pós-operatório de ombro apresentavam dor, limitação funcional e

diminuição da autoestima, o que acabava interferindo negativamente em sua recuperação.

A pesquisa aqui relatada pretendeu desenvolver um grupo para potencializar os efeitos

da fisioterapia convencional, dando a essas mulheres condições para melhor lidar com suas

dores e limitações funcionais e ainda identificar facilidades e dificuldades em relação a

reinserção social no processo pós-cirúrgico além de favorecer a troca de experiências e busca

de soluções no próprio grupo e finalmente analisar as possibilidades de inserção do grupo na

rotina do ambulatório de fisioterapia. A formação do grupo teve como pressuposto a

humanização , tomada na perspectiva de Ayres (2004), como encontro entre subjetividades,

no sentido dado por Paulo Freire em sua filosofia de educação dialógica, problematizadora e

emancipatória.

Freire (1987), em sua obra “Pedagogia do oprimido”, propõe uma visão de mundo

orientada a partir de práticas voltadas para a educação emancipatória, pela qual haveria, com

base no respeito à subjetividade e à cultura, uma transformação social. A educação que leva à

autonomia deve se pautar em uma relação entre educando e educador norteada pela

socialização da experiência, na prática crítica de ambos, afastando dessa relação ideologias e

abordagens dogmáticas (Freire, 1987).

11

Buscou-se, através dessa ação em saúde, evitar a adoção do modelo reducionista da

prática cotidiana e propor uma intervenção mais eficaz e integral que proporcione maior

satisfação tanto ao profissional quanto ao usuário.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O Movimento da Reforma Sanitária, nascido nos anos 1970, teve como pressuposto

um modelo de atenção que privilegia a inclusão, o trabalho em equipe e a participação

popular. Essa reforma trouxe uma mudança de paradigmas quanto à concepção de saúde,

ressaltando a importância de um conceito ampliado que extrapola os limites do modelo

biologicista, que concebe a saúde como contrário de doença e doença como oposto de saúde

(CUTOLO, 2006).

A VIII Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986 trouxe a concepção de saúde

ampliada, que se refere à saúde como resultante das condições de alimentação, habitação,

educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e

posse da terra e acesso a serviços de saúde. Essa definição do que é saúde reconhece o ser

humano como integral e a saúde como qualidade de vida (BRASIL, 1986).

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) incorporou o conceito ampliado de

saúde e conferiu a ela o status de direito de todos os cidadãos e dever do Estado. Para garantir

esse direito, criou-se o Sistema Único de Saúde e em 1990 o Congresso Nacional aprovou a

Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do SUS, estabelecendo como um dos

seus princípios a integralidade (CUTOLO, 2006), que pode dar qualidade à saúde — esta

desenvolvida por meio de laços solidários do poder e de novas redes de vínculos (ALMEIDA;

FEUERWERKER; LLANOS, 1999).

Entendida como uma nova atitude em saúde, a integralidade é uma prática relatada a partir de experiências e expressa a possibilidade de se construírem caminhos para a efetivação de direitos. A integralidade como modo de agir expressa, sobretudo, a força das transformações possíveis nos espaços cotidianos de trabalho, nos serviços e nas organizações sociais (GHIZONI; ARRUDA; TESSER, 2010, p. 828).

No entendimento de Mattos (2001), a atenção integral se configura como uma

“imagem-objetivo”, o que, para Gondim et al. (2011), significa a meta a ser alcançada e que

direciona a ação, apontando o caminho para algumas transformações necessárias para o que

12

almejamos. “Apesar de fazer parte das diretrizes do SUS, a implantação da atenção integral se

depara com entraves decorrentes das heranças de um dado modelo de formação e de práticas

profissionais, assim como da estrutura da atenção à saúde” (GONDIM et al., 2011, p. 94).

Ao se refletir sobre os sentidos da integralidade, deve-se pensar na prática do cuidado,

do acolhimento e da humanização (FONTOURA; MAYER, 2006). O acolhimento consiste

em uma ferramenta que permite o acesso universal aos serviços, tornando-os humanizados,

integrais, com resolutividade e qualidade, fazendo com que os problemas de saúde dos

usuários se tornem responsabilidade dos profissionais (RIZZOTO, 2002; FONTOURA;

MAYER, 2006).

A humanização, como valor, aponta para a dimensão em que o cuidar da saúde implica

encontros entre subjetividades que, progressiva e simultaneamente, esclarecem e reconstroem

as necessidades de saúde, o que se entende por vida com qualidade e o modo moralmente

aceitável de buscá-la (AYRES, 2004).

A necessidade de humanização da relação profissional-paciente é uma prioridade. Este

processo vai além da melhoria da qualidade desta relação, envolvendo o desenvolvimento do

sentido da cidadania e da participação crítica (TRAVERSO-YÉPES; MORAIS, 2004;

FONTOURA; MAYER, 2006).

A integralidade é um valor a ser sustentado e defendido nas práticas dos profissionais

de saúde. Esse valor é expresso na forma como os profissionais respondem aos pacientes que

os procuram. Nesse sentido, a integralidade não implica deixar de lado conhecimentos sobre

as doenças, mas o uso prudente desse conhecimento sobre a doença, sobretudo guiado por

uma visão abrangente das necessidades dos sujeitos (MATTOS, 2004). Outro sentido de

integralidade referenciado pelo mesmo autor é que os serviços devem estar organizados para

realizar uma apreensão ampliada das necessidades da população à qual atende.

Ainda com relação à integralidade, “seu sentido parte de uma concepção ampliada de

saúde, com a compreensão do indivíduo biopsicossocial, que é dispositivo de oferta integrada

de serviços de promoção, proteção de saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação

da saúde”; contudo, o sentido primordial da integralidade “é o reconhecimento da necessidade

do outro” (OLIVEIRA; CUTOLO, 2012, p. 505).

Partindo desse pressuposto, o reconhecimento da necessidade do outro a partir da

integralidade desencadeia atitudes e ações humanizadas; portanto, a humanização é

consequência da aplicação do princípio da integralidade (OLIVEIRA; CUTOLO, 2012).

Humanizar é integrar, ao conhecimento técnico-científico, a responsabilidade, a sensibilidade,

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a ética e a solidariedade no cuidado tanto do paciente como de seus familiares (SILVA;

ARAÚJO; PUGGINA, 2010).

No que se refere à humanização, o tratamento fisioterapêutico é um dos que permite

maior proximidade e longo tempo despendido no convívio com o paciente. O profissional que

atua nessa área não pode deixar de se preocupar com a qualidade humanitária do seu

atendimento, já que a rotina diária e complexa que envolve os serviços de saúde faz com que,

às vezes, o toque, a conversa e o ouvir o ser humano que está sendo atendido sejam atitudes

esquecidas. Em muitos casos, quando a dinâmica de trabalho é muito intensa, o atendimento

humanizado se torna impraticável (VILA e ROSSI, 2002; SHIGUEMOTO, GIORDANI e

CHIBA, 2009; ABRÃO e TUFANIN, 2012).

Na perspectiva do atendimento humanizado, procura-se aliviar a dor e o sofrimento do

outro, tratando-o com solidariedade, respeitando sua dignidade e sua autonomia. Humanizar o

atendimento é também compreender o significado da vida e valorizar a dimensão humana do

paciente independentemente de sua patologia (SILVA, ARAÚJO e PUGGINA, 2010).

Nesse contexto, partindo do princípio de que a humanização e a integralidade estão

interligadas, faz-se necessário que os profissionais de saúde adotem atitudes humanizadas.

Mas isso somente ocorrerá a partir de uma visão ampliada da saúde e do ser humano.

Contemplam-se neste trabalho os conceitos de integralidade e humanização porque se

pretende evidenciar a relevância do modo de “ver” e “fazer” saúde na prática dos

profissionais em relação à necessidade do outro e os efeitos produzidos em seu entorno.

2.1 Educação em saúde: aplicação na assistência

Fazendo um breve percurso histórico da educação em saúde no Brasil podemos dizer

que, na primeira metade do século XX, a doença era percebida como um processo individual e

a educação sanitária ainda era a solução para a prevenção de doenças e a manutenção da

saúde (MELO, 1984).

Entre o final da década de 1950 e início dos anos 1960 houve um período de

efervescência política em que movimentos sociais ganharam força e nesse cenário se destacou

Paulo Freire, educador que propôs um novo modelo para o processo educativo: a educação

dialógica. De acordo com a teoria freireana, por meio do diálogo, educador e educando

constroem o saber. No campo da saúde se observou uma mudança do olhar, que se voltou

para o social e suas dimensões (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Segundo as autoras, a

14

adesão de vários grupos de profissionais da saúde ao método freireano propiciou o

envolvimento da população no processo educativo — prática interrompida pelo regime militar

instalado no Brasil em 1964. Cabe ressaltar que o Movimento da Reforma Sanitária, nascido

nos anos 1970, priorizava práticas educativas a partir de um processo dialógico com a

população para resolver aspectos relacionados à saúde (VASCONCELOS, 2006).

Foi na década de 1980, com a conquista da democracia política, que as práticas

isoladas de trabalho comunitário em saúde perderam importância e os movimentos sociais

passaram a lutar por mudanças mais globais nas políticas públicas, incluído as relacionadas

com saúde, e pela construção do SUS e sua implantação na Constituição de 1988.

(WENDHAUSEN; SAUPE, 2003; VASCONCELOS, 2004).

A educação em saúde adquiriu novas formas e passou a ser entendida como um

instrumento para se promover a saúde de um modo participativo, dialógico e emancipatório,

pelo qual se valoriza a autonomia da população e sua corresponsabilidade no processo saúde-

doença (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003).

Existem diferentes definições para educação em saúde. Costa e Lopez (1996) a

definem como um conjunto de práticas e saberes que orientam a prevenção de doenças e a

promoção de saúde. Entendendo a educação em saúde como elemento necessário para a

consolidação do SUS e a concretização das práticas da Estratégia de Saúde da Família (ESF),

Wendhausen e Saupe (2003) salientam que ela se refere ao compartilhamento de saberes entre

a população e profissionais de saúde que, juntos, buscam a melhora da qualidade de vida das

pessoas. Nessa perspectiva, a educação em saúde implica

um trabalho que interpreta os processos de saúde e doença a partir de múltiplos referenciais, considerando que educadores e população possuem saberes complementares, sendo parceiros na luta por melhores condições de vida. Neste sentido, busca, através da participação e do diálogo entre os diversos saberes, ajudar as pessoas na busca da compreensão das raízes de seus problemas e da busca de soluções compartilhadas para melhorar a qualidade de vida de indivíduos, grupos e populações. Para alcançar tal intento as ações devem extrapolar o setor sanitário e acentuar recursos pessoais e sociais existentes (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003, p. 20).

Alves (2005) e Vasconcelos (2006) consideram a educação em saúde mais uma prática

social, cujas ações devem focar na problematização do cotidiano das pessoas, valorizando as

experiências individuais e de grupos, bem como a leitura das diferentes realidades. Ela pode

ser considerada como um instrumento de promoção da saúde a partir do momento em que se

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dirige a grupos e comunidades, priorizando ações transformadoras no âmbito econômico e

social (TEIXEIRA, 2002).

A prática das ações de educação popular pressupõe que os indivíduos aumentem o

controle sobre suas vidas por meio da participação em grupos, com a finalidade de

transformar a realidade social e política. Assim, as ações educativas deixam de ser apenas

uma atividade a mais nos serviços de saúde para ser algo que reoriente a diversidade das

práticas realizadas (VASCONCELOS, 1999).

Ao abordar a perspectiva problematizadora da educação popular em saúde, Alvim e

Ferreira (2007) enfatizam que ela acontece em processos contínuos, na intermediação de

saberes do conhecimento científico e do construído na sabedoria popular. “É como um

movimento em espiral, em alguns momentos eles se cruzam e em outros se separam ou se

distanciam” (ALVIM; FERREIRA, 2007, p. 317).

Trata-se, segundo Stotz (2004), de um campo de teoria e prática enraizadas nas

matrizes humanista, cristã e socialista, que tem como denominador comum o pensamento de

Paulo Freire, que se contrapõe ao autoritarismo vigente na cultura sanitária, orientando-se por

modos alternativos e diferenciados de lutar pelas transformações das relações de subordinação

e opressão, em favor da autonomia, da participação das pessoas comuns e na interlocução

entre os saberes e práticas.

Em 2007 o Ministério da Saúde propôs, no “Caderno de Educação Popular e Saúde”,

que se faça uma educação baseada nos preceitos de Paulo Freire, ou seja, uma educação capaz

de transformar as tradicionais práticas de educação em saúde em práticas pedagógicas que

levem à superação das situações que limitam o viver com o máximo de qualidade de vida que

todos merecemos (BRASIL, 2007). Mas enquanto essas atividades

apenas tiverem finalidade de depositar conhecimento sobre riscos, normas, causas e efeitos, dificilmente conseguirão mobilizar e motivar as pessoas a terem atitudes e comportamentos saudáveis. Isso porque, mais uma vez o modelo tradicional será fortalecido, em detrimento do modelo alternativo, estando com isso, possivelmente fadadas ao fracasso da mobilização das pessoas para a transformação do modelo assistencial, bem como, da sua participação e responsabilização na promoção da saúde (OLIVEIRA et al., 2011, p. 18).

Há que se considerar que o SUS é construído em seu cotidiano por profissionais que

têm por atribuição serem agentes de mudança, porém, foram, e em grande parte ainda são,

formados no modelo tradicional. A falta de formação para consolidar na prática o avanço da

16

legislação evidencia a lacuna existente entre o discurso de mudança e a prática que se efetiva

nos serviços (ARIOLI, 2012).

Diante do exposto, a educação em saúde não pode ser reduzida a um simples repasse

de conhecimento. Ela vai além da questão biologicista, estimula a busca de soluções e o

desenvolvimento de uma consciência crítica. E, no que diz respeito ao campo de práticas dos

profissionais de saúde, contribui para a construção do habitus de profissionais engajados nos

movimentos sociais, comprometidos não somente com a mudança de atitudes e

comportamentos, mas, e principalmente, com a constituição de sujeitos/cidadãos portadores

de direitos sociais (PEDROSA, 2001).

Para Bourdieu (1994), o habitus representa o capital cultural sob a forma incorporada,

e portanto, recursos de poder, já que o capital cultural, assim como o econômico, é distribuído

desigualmente na sociedade. Nessa lógica, o habitus é

um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações, e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas, que permitem resolver os problemas da mesma forma, e às correções incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidos por esses resultados (BOURDIEU, 1994, p. 65).

Ao utilizar a educação em saúde como proposta dialógica baseada na metodologia de

Paulo Freire, pode-se potencializar as capacidades dos sujeitos, gerar mudanças de

comportamento, desenvolvimento da autonomia e enfrentamento de condições de sofrimento

(SANTOS et al., 2006).

Para Freire (1974), educação implica, essencialmente, a obtenção de informações

adequadas, um processo de reflexão e tomada de consciência quanto à condição atual, uma

clara formulação de mudanças desejadas e da condição a ser construída.

A metodologia de Freire busca a conscientização, a autonomia, que se apresenta como

“um processo num determinado momento e deve continuar sendo processo no momento

seguinte, durante o qual a realidade transformada mostra um novo perfil” (ANGOTTI;

BASTOS; MION, 2001, p. 190). Na medida em que o homem se integra nas condições de seu

contexto de vida, reflete sobre elas e busca respostas aos desafios que lhe apresentam, cria a

cultura (GORCZEVSKI; TAUCHEN, 2008).

2.2 Grupos na prática da assistência

17

Entendendo que a educação em saúde envolve tanto um processo de subjetivação

quanto um processo de estabelecimento de vínculos comunitários, o grupo tem sido um

formato privilegiado pelos profissionais para ações educativas.

Etimologicamente, a palavra “grupo” tem origem no termo italiano groppo ou gruppo,

que teria derivado do antigo provençal grop, com o significado de “nó”. Esse vocábulo teria

ainda outra origem, do germânico ocidental kruppa, no sentido de mesa arredondada, fazendo

menção a uma forma circular, que se relaciona às imagens dos Cavaleiros da Távola Redonda

e a da ordem religiosa dos Templários, cujo altar circular permitia que todos estivessem numa

mesma distância de Deus (ANDALÓ, 2006; FERNÁNDEZ, 2006).

A palavra comporta então esses dois significados: nó e círculo. Enquanto o primeiro

termo expressa a ideia de ligação, união e aprisionamento, referindo-se ao grau de coesão dos

grupos, o segundo traz a ideia de círculo e de um grupo entre iguais. A genealogia do termo,

portanto, traz implícita as noções de igualdade e enlace dos membros (ANDALÓ, 2006;

FERNÁNDEZ, 2006).

Como prática social profissional, os trabalhos com grupos se constituem como uma

tendência própria das formações econômicas e sociais capitalistas e têm como agentes e

usuários as camadas médias e altas da pequena burguesia urbano-industrial.

O ser humano somente existe enquanto tal na medida em que é contextualizado,

datado no tempo e no espaço e esta contextualização implica exatamente que o ser humano

não se constitui sem a presença das relações sociais e, portanto, dos inúmeros grupos que

constituem a esfera do humano. Antes mesmo de nascer, o indivíduo, ao ser esperado e

gestado, está imerso em, no mínimo, um grupo, a família (ANDALÓ, 1996).

De acordo com Zimerman e Osório (1997), a classificação geral dos grupos,

fundamentada nos critérios das suas finalidades, divide-se em dois grandes ramos: operativos

e psicoterápicos. Os primeiros cobrem os seguintes campos: ensino-aprendizagem,

institucionais, comunitários e terapêuticos.

Pichon-Rivière (apud MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2006, p.

38) define grupo operativo como

um conjunto restrito de pessoas que, ligadas por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, se propõe de forma explícita ou implícita a uma tarefa, que constitui a sua finalidade, interatuando através de complexos mecanismos de assunção e distribuição de papéis.

18

O autor afirma que “o grupo operativo é um instrumento de trabalho, um método de

investigação e cumpre, além disso, uma função terapêutica” (PICHON-RIVIÈRE apud

WEBA, 2010, p. 120).

2.2.1 Definição e função do grupo

O agrupamento se caracteriza por um conjunto de pessoas que partilha de um mesmo

espaço e tem interesses comuns, podendo vir a tornar-se um grupo (ZIMERMAN, 1997). “A

passagem de um agrupamento a um grupo propriamente dito resultaria [...] da transformação

de interesses comuns em interesses em comum; isto é, os integrantes de um grupo reúnem-se

em torno de uma tarefa e de um objetivo comum ao interesse de todos” (ZANELLA;

PEREIRA, 2001, p. 106).

Para Maximino (2001), o grupo não é um conjunto qualquer de pessoas, porque, para

fazer parte dele, elas devem apresentar características específicas que as incluam nesse

coletivo. As forças internas do grupo implicam sustentação e apoio socioemocional no

fortalecimento das interações emocionais, na comunicação aberta, no compromisso e

responsabilidade, na participação efetiva e na construção de uma individualidade crítica

(MENEGUEL et al., 2005).

Um grupo é constituído por um conjunto relativamente pequeno de pessoas que

mantêm contato face a face, ligado por algum objetivo comum que as leva a estabelecer

relação de reciprocidade (ANDALÓ, 2006). Ele promove o contato entre diferentes sujeitos e

possibilita novos movimentos e experiências a partir do encontro com o outro, configurando,

desse modo, “tanto um espaço de conjunção de singularidades, instância que remete à

diversidade de sujeitos, quanto do compartilhado, ligação da pluralidade” (ZANELLA;

PEREIRA, 2001, p. 107).

2.2.2 Estrutura e contribuição do grupo

19

A utilização de grupos requer a criação de um ambiente em que seus integrantes

possam compartilhar suas experiências e sentimentos com a certeza de serem compreendidos

pelos outros participantes. Oferecendo apoio e informações, esses grupos possibilitam a seus

componentes a percepção da situação real, por meio do conhecimento de dados mais

concretos sobre o problema e diminuição das fantasias a ele relacionadas, ajudando-os no

enfrentamento das crises vivenciadas (CAMPOS, 2000).

O grupo como espaço de discussão se torna também um espaço terapêutico, porque

permite que todos exponham seus sentimentos, aflições, temores, problemas de saúde, enfim,

tudo que faz parte das suas percepções e que estejam lhes incomodando. As pessoas que dele

participam percorrem caminhos de trocas de experiências, reflexões e tomada de consciência.

(SCHIER, 2004; ROSA, 2012). A grande contribuição do trabalho em grupo está na reflexão,

que vai além do momento grupal (ROSA, 2012), “quando cada participante, como solo fértil,

permite germinar e frutificar as novas tomadas de consciência no seu viver diário mais

saudável” (SCHIER, 2004, p. 108).

2.2.3 Estratégias utilizadas com o grupo

Uma prática assistencial em saúde mais efetiva e humana precisa entender que o

cuidado é realizado para pessoas que são seres integrados, ativos e com sentimentos. É

preciso estar comprometido com a qualidade dessas pessoas, procurando estratégias que

favoreçam um viver mais saudável. Neste contexto se inserem as práticas educativas

desenvolvidas em grupos (SILVA et al., 2005).

Os grupos de promoção de saúde são uma intervenção coletiva e interdisciplinar,

concebidos como instrumentos a serviço da autonomia e do desenvolvimento contínuo do

nível de saúde e condições de vida, fundamentado no conceito positivo de saúde. Constroem

seus objetivos com o intuito de potencializar as capacidades dos sujeitos, gerando mudanças

de comportamento, desenvolvimento da autonomia e enfrentamento de condições geradoras

de sofrimento (SANTOS et al., 2006).

Organizados conforme a lógica dos programas de saúde, a maioria dos grupos se

concentra na atenção básica e podem envolver qualquer profissional da equipe de saúde

(ABRAHÃO; FREITAS, 2009). Mas no que se refere à fisioterapia, este campo da saúde

ainda não apresenta um número expressivo de trabalhos com grupos educativos. Na literatura

pesquisada foram poucas as publicações encontradas com esse enfoque.

20

Em sua tese de doutorado, Mendes (2008) acentua que o fisioterapeuta, em seu

processo de trabalho, não utiliza o grupo como recurso educativo e sim como estratégia para

atender um maior número de pacientes, otimizando os recursos humanos e financeiros

envolvidos no atendimento. Assim, muitas vezes, observa-se que os pacientes com patologias

ou quadros clínicos semelhantes são agrupados para realizar cinesioterapia em conjunto, mas

na sala de espera não se conhecem e nem durante as atividades percebem as dificuldades

vivenciadas por cada um dos colegas. Assim, a prática clínica da fisioterapia parece estar mais

associada ao agrupamento propriamente dito (MENDES, 2008).

Barbosa, Ferreira e Furbino (2010) relatam, em seu trabalho sobre a atuação do

fisioterapeuta na Estratégia de Saúde da Família, que a formação assistencialista dificultou o

acolhimento e a organização das ações, os trabalhos em grupos operativos foram trocados por

atendimento individual, a formação clínica impediu o desenvolvimento e a flexibilidade

desses grupos, fazendo com que necessitem de mais tecnologia para trabalhar, e em todas as

equipes há prática isolada, não permitindo a atenção integral à comunidade.

É importante considerar também os trabalhos de outros profissionais de saúde que

utilizaram grupos e são unânimes em afirmar os resultados positivos obtidos, recomendando a

inclusão da tecnologia de grupo como estratégia para a assistência.

É imperativo que reflitamos, como profissionais de saúde, em que medida poderemos oferecer novas propostas de tratamento mais humanizado e sintonizado com as demandas subjetivas das pessoas. Nosso ponto de vista é que os tratamentos deveriam privilegiar os espaços grupais, onde os pacientes pudessem, por meio da valorização da palavra e do contato interpessoal, narrar suas vivências e tirar proveito da riqueza das interações estabelecidas (SCORSOLINI-COMIN; SOUZA; SANTOS, 2010, p. 475).

2.2.4 O grupo como tecnologia leve em saúde

Os profissionais exercem o processo de trabalho em saúde a partir do emprego das

tecnologias, que são consideradas como ferramentas tecnológicas que fazem sentido e são

utilizadas conforme os objetivos estabelecidos (MERHY, 2002).

Abrahão e Freitas (2009) salientam que o cuidado com o grupo se constitui a partir do

uso de dinâmicas que se valem da valise tecnológica dos coordenadores em associação aos

saberes que circulam no grupo. A formação dessa valise configura a relação de uma tríade no

agir em saúde: saberes de uma linha dura que se organiza em equipamentos, um saber leve-

duro que é conformado em estruturas classificatórias (como a clínica, a epidemiologia) e um

21

saber leve que é construído durante a produção do cuidado. A base do cuidado no grupo se

constitui sobre a tecnologia leve: um saber que está presente em todo o ato de cuidar e expõe,

a partir das várias dimensões presentes na prática em saúde, um território com muitas tensões

e naturezas distintas (MERHY, 2002; ABRAHÃO; FREITAS, 2009).

Para alcançar a integralidade e a humanização do cuidado nas práticas de saúde devem

ser priorizadas as tecnologias leves, fundamentadas no acolhimento, no diálogo, no vínculo,

na corresponsabilidade e na escuta ativa entre o profissional e o usuário do serviço de saúde

Os vínculos podem ser vistos nos laços afetivos entre os trabalhadores e usuários, na

comunicação efetiva entre eles e na resolutividade dos problemas (JORGE et al., 2011).

Os processos de escuta e acolhimento são estabelecidos por meio da qualidade dos

serviços oferecidos, pautados no diálogo, na confiança e amizade entre todos os atores

envolvidos (profissional e usuário). Portanto, as tecnologias leves em saúde constituem

espaços de relações terapêuticas, a exemplo dos grupos (JORGE et al., 2011).

De acordo com Merhy (1998), o serviço de saúde, ao adotar práticas centradas nos

usuários, deve desenvolver a capacitação dos profissionais de saúde, tornando-os aptos a

operar o cuidado, de modo a ocuparem o papel de mediador da gestão dos processos

multiprofissionais através dos atos de acolher, responsabilizar, resolver e autonomizar. Nesse

sentido, o trabalho em saúde deve incorporar mais tecnologias leves que se materializam em

práticas relacionais, a exemplo do acolhimento e do vínculo entre profissional e paciente.

“Operando a combinação do uso das tecnologias do cuidar para além do cunho

educativo, o espaço [grupo] torna-se propício para novos agenciamentos no agir em saúde que

ultrapassam a linha estruturada na doença e avançam na construção de outras linhas do

cuidado” (ABRAHÃO; FREITAS, 2009, p. 440).

Nessa lógica, partindo do princípio de que se faz necessária a humanização do

atendimento com vistas a uma atenção integral, a utilização de grupos educativos como apoio

no processo fisioterápico pode ser uma excelente estratégia para uma prática menos

reducionista e mais humanizada que reconheça a necessidade do outro.

22

3 METODOLOGIA

Este trabalho descreve a experiência da pesquisadora no desenvolvimento de um

grupo de mulheres em tratamento pós-operatório de ombro no ambulatório de fisioterapia do

Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba, por meio de

uma ação pautada na proposta atual de educação em saúde do MEC que é baseada em Paulo

Freire e sua educação dialógica, problematizadora e emancipatória.

Realizou-se pesquisa participante-ação de abordagem qualitativa que possibilitou o

estabelecimento de um processo descritivo em relação ao fenômeno grupal, de modo a

interpretá-lo para chegar à compreensão e significação do processo vivido pelos sujeitos da

pesquisa (MINAYO, 2004).

Pretendeu-se, com a formação de um grupo de mulheres, potencializar os efeitos da

fisioterapia convencional, dando condições para que elas possam melhor lidar com suas dores

e limitações funcionais, entendendo que o processo levaria as participantes a descobrir, por

meio do diálogo e da partilha de suas experiências, uma maneira de melhorar sua qualidade de

vida, construindo sua história e ressignificando suas vivências.

3.1 Local da pesquisa

A pesquisa foi realizada em uma sala do ambulatório de fisioterapia do Hospital de

Clínicas da UFPR na cidade de Curitiba, local de trabalho da pesquisadora.

De acordo com informações fornecidas pela Assessoria de Marketing do hospital, o HC da

UFPR é o terceiro maior hospital universitário do Brasil e o maior prestador de serviços do

SUS do Paraná, com 100% de atendimento realizado por esse sistema. Atende uma média de

61 mil pacientes por mês.

Possui área construída de 63 mil metros quadrados, por onde circulam diariamente

cerca de 11 mil pessoas. Para garantir assistência à comunidade, o HC conta com 510 leitos e

261 consultórios, além da força de trabalho composta por cerca de três mil funcionários que

trabalham para manter assistência 24 horas por dia o ano todo.

A fisioterapia é um dos serviços mais antigos do HC. Iniciou suas atividades no

hospital em novembro de 1961, sendo o primeiro hospital do Paraná a oferecer este

atendimento. Hoje conta com 34 fisioterapeutas que realizam aproximadamente quatro mil

23

procedimentos por mês, referentes à assistência prestada a pacientes internados e pacientes

ambulatoriais, nas mais diversas áreas.

A fisioterapia faz parte da Unidade de Atendimento Multiprofissional de Diagnóstico

e Terapêutica (Unimult), implantada no final de 2009, com a finalidade de prestar serviços de

qualidade ao usuário do Hospital de Clínicas nas áreas que agrega. Une-se às demais unidades

da assistência, de forma a atender o paciente integralmente nas necessidades de restauração da

saúde.

A Unimult é formada pelos Serviços de Reabilitação, que abrangem as áreas da

fisioterapia, fonoaudiologia, musicoterapia e educação física, e conta também com o Serviço

de Psicologia, o Serviço Social e o Serviço de Terapia Ocupacional, reunindo uma equipe de

116 profissionais qualificados que prestam atendimento a pacientes nas unidades de

internação e ambulatórios.

O ambulatório de reabilitação, onde foi realizada a pesquisa, está localizado no 7º

andar do anexo B. Conta com equipe de 12 fisioterapeutas que prestam atendimento nas áreas

de ortopedia, reumatologia, neurologia, neurocirurgia, pneumologia, hematologia,

cardiologia, e também com duas fonoaudiólogas, duas musicoterapeutas e dois educadores

físicos, distribuídos nos períodos da manhã e da tarde.

A média de pacientes atendidos mensalmente no ambulatório é de 1.300. Desse total,

uma média de 40 pessoas atendidas por dia apresenta algum problema de ombro, sendo que

10% se encontram em situação pós-operatória de ombro.

3.2 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram mulheres em tratamento pós-operatório de ombro que

realizam acompanhamento fisioterápico ambulatorial no Hospital de Clínicas da UFPR. Foi

selecionado um grupo estimado de cinco mulheres na faixa etária de 40 a 60 anos,

empregadas domésticas, trabalhadoras na produção em fábrica de chocolates e donas de casa,

a maioria afastada do trabalho, todas com escolaridade fundamental e residentes em Curitiba.

O critério para inclusão na pesquisa era estar em atendimento fisioterápico há mais de

seis meses (pós-operatório tardio) e fazer parte de um movimento no qual, por meio de

conversas paralelas, buscassem um modo de se ajudarem.

Para apresentar os sujeitos desta pesquisa e preservando a identidade das mulheres nos

relatos foram utilizados números para identificar as participantes:

24

(P1): viúva, tem filhos e netos, é aposentada e trabalhava com artesanato. Fez cirurgia há mais

de um ano e durante as oficinas sempre se mostrava reservada, bastante emotiva, triste.

Apesar de falar pouco, era, em muitas situações, a conselheira do grupo.

(P2): divorciada, tem filhas e netos, trabalhava na produção de uma fábrica de chocolate, mas

estava afastada. Realizou cirurgia há mais de um ano e durante as oficinas se mostrava

bastante participativa, sempre alegre e falante. Colocava para o grupo a sua preocupação em

relação à sua família.

(P3): ficou viúva durante a pesquisa, tem filhas e uma neta, é dona de casa. Realizou cirurgia

há mais de um ano e durante as oficinas se mostrava tímida. Sempre era a última a falar, mas

muito amorosa e tranquila, apesar da situação de perda que vivenciou.

(P4): casada, tem filhos e uma neta, trabalha como doméstica há muitos anos na casa de

senhor idoso. Realizou cirurgia há mais de um ano e durante as oficinas se mostrava muito

comunicativa, alegre e colaborativa com as demais. Exercia liderança dentro do grupo.

(P5): casada, tem filhas e netos, trabalhava como doméstica em casa de família e estava

afastada do trabalho. Realizou cirurgia há mais de um ano e durante as oficinas se mostrava

sempre queixosa de várias situações, principalmente das filhas, e centralizava a conversa, às

vezes até interrompendo as demais.

A abordagem utilizada permitiu um contato direto e prolongado com os sujeitos da

pesquisa por meio de seis oficinas com duração de aproximadamente duas horas, realizadas

uma vez por mês entre outubro de 2012 e março de 2013. É importante ressaltar que, além do

contato do grupo, o atendimento fisioterápico transcorreu normalmente durante o período da

pesquisa.

3.3 Percurso metodológico

As oficinas aconteceram em seis encontros, como mostra o esquema apresentado a

seguir. Em cinco delas foram abordados os seguintes temas: identidade, família, trabalho (em

dois encontros) e cuidado de si. A última oficina foi de despedida.

25

Ressalta-se que somente o primeiro encontro tinha tema definido; os demais surgiram

naturalmente, a partir das discussões das participantes no processo de desenvolvimento das

oficinas.

As oficinas aconteceram em uma sala reservada no ambulatório de fisioterapia,

previamente preparada com as cadeiras colocadas em forma de círculo. Esta proposta foi

baseada no método de Paulo Freire do “círculo de cultura” — “um lugar onde todos têm a

palavra, onde todos leem e escrevem o mundo [...] espaço de trabalho, pesquisa, exposição de

práticas, dinâmicas, vivências que possibilitam a construção coletiva do conhecimento”

(LINHARES, 2008, p. 10141).

O círculo de cultura – no método Paulo Freire – re-vive a vida em profundidade crítica. A consciência emerge do mundo vivido, objetiva-o, problematiza-o, compreende-o como projeto humano. Em diálogo circular, intersubjetivando-se mais e mais, vai assumindo, criticamente, o dinamismo de sua subjetividade criadora. Todos juntos, em círculo, e em colaboração, re-elaboram o mundo (FIORI, 1987, p. 12).

Um desafio para a pesquisadora no desenvolvimento das oficinas foi o de direcionar o

grupo sem interferir nas falas das participantes, considerando que, como afirma Minayo

(2007), as discussões em grupo permitem focalizar a pesquisa e formular questões mais

OFICINAS

1º Identidade

2º Família

3º Trabalho

4º Trabalho

5º Cuidado de Si

6º Despedida

26

precisas, complementar informações sobre conhecimentos peculiares a um grupo em relação a

crenças, atitudes e percepções.

Após a realização de cada oficina foi realizada a transcrição das falas e elaborado um

relatório descritivo, no qual já se buscava uma primeira interpretação para os fatos

vivenciados que eram compartilhados com a orientadora. Esse procedimento constitui-se

numa importante forma de organização do trabalho, que permitiu interação com o referencial

teórico da pesquisa.

As oficinas foram planejadas com duração de duas horas cada e ocorreram no período

vespertino, das 15 às 17 horas. Em duas oficinas (a terceira e a quinta), registrou-se a ausência

de uma das participantes, como mostra o quadro a seguir.

OFICINA NÚMERO DE

PARTICIPANTES

REALIZAÇÃO

1º Identidade 5

Outubro de 2012

2º Família 5 Novembro de 2012

3º Trabalho 4 Dezembro de 2012

4º Trabalho 5 Janeiro de 2013

5º Cuidado de si 4 Fevereiro de 2013

6º Despedida 5 Março de 2013

O uso do espaço do ambulatório contribuiu de forma positiva para o desenvolvimento

das oficinas em função de suas características: arejado, iluminado e acessível ao grupo. Por

outro lado, teve-se como uma das dificuldades, pelo menos nas primeiras oficinas, o toque do

celular que muitas vezes causava interferência nas atividades.

Inicialmente se fez o planejamento das oficinas, procurando-se a melhor forma de

otimizar o tempo na realização das etapas propostas. No entanto, durante o percurso da

pesquisa houve a necessidade de flexibilização e aconteceu, também, de não ser possível

27

realizar o que foi proposto, pois a partir das discussões das participantes os temas foram

surgindo naturalmente dentro do grupo durante os encontros.

Ao iniciar a pesquisa, o maior desafio foi desconstruir a imagem da pesquisadora

como detentora do saber e buscar a construção de vínculos de identidade entre o grupo, o que

foi acontecendo de forma gradativa a cada encontro.

À medida que as oficinas foram ocorrendo, observou-se diminuição da timidez, do

medo, do distanciamento e do isolamento. Assim, aconteceu a aproximação, as trocas, a

intimidade entre o grupo e, consequentemente, a confiança do grupo na pesquisadora.

Foram coletados depoimentos interessantes e que geraram reflexões, sobretudo por

permitirem enxergar como se ignora o paciente, como não se conhece aqueles que estão ao

seu lado no dia a dia do processo de trabalho, como não se sabe nada um do outro e como as

pessoas têm histórias de vida intensas.

O cumprimento das exigências éticas da pesquisa, a obediência ao rigor científico, do

ponto de vista do ouvir, do observar, do não impor, da aproximação entre pesquisador e

sujeitos da pesquisa, foi um desafio experimentado durante todo o processo pela

pesquisadora.

Procurou-se, logo após a realização das oficinas, e sempre que foi possível no mesmo

dia, fazer a transcrição das falas e a organização das informações na forma de relatórios

descritivos. Essas informações eram disponibilizadas à orientadora para que ela sugerisse

possíveis alterações.

3.4 Aspectos éticos da pesquisa

Em atendimento ao que determina a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de

Saúde, que estabelece diretrizes e normas de pesquisas com seres humanos, foi solicitada

autorização para realização da pesquisa à diretoria do Hospital de Clínicas da UFPR.

Também foram cumpridos os seguintes trâmites:

a) Solicitação formal de autorização para realização da pesquisa nas dependências do

ambulatório de fisioterapia do Hospital de Clínicas da UFPR.

b) Solicitação do termo de anuência da instituição coparticipante para coleta de dados de

pesquisa envolvendo seres humanos.

c) Termo de aprovação para coleta de dados de pesquisas envolvendo seres humanos.

d) Termo de aceite de orientação.

28

e) Termo de consentimento livre e esclarecido para participação na pesquisa e consentimento

de participação do sujeito.

f) Submissão do projeto de pesquisa na Plataforma Brasil.

O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale

do Itajaí como instituição participante e aprovado através do Parecer nº 115.283. Também foi

encaminhado ao Comitê de Ética do Hospital de Clínicas como instituição coparticipante e

aprovado através do Parecer nº 165.660.

O relatório final será entregue à diretoria do Hospital de Clínicas como devolutiva da

pesquisa e também será feita uma devolutiva às mulheres que participaram da pesquisa.

Embora considerada etapa obrigatória para o desenvolvimento do estudo, a tramitação

do projeto de pesquisa junto ao Comitê de Ética da Univali e do Hospital de Clínicas e sua

aprovação representaram uma importante vivência nesse processo, pois, mais do que uma

burocracia, esse foi o momento de se garantir a valorização dos sujeitos participantes.

29

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta seção apresenta os resultados das seis oficinas em ordem cronológica de

realização: Identidade, Família, Trabalho, Trabalho, Cuidado de si e Despedida. Os relatos

descrevem as estratégias, as discussões realizadas e os temas abordados.

Os dados são apresentados a partir da transcrição das oficinas que formaram seis

relatórios, um de cada oficina. Em cada relatório são apresentadas as dinâmicas realizadas, o

movimento do grupo e os temas que surgiram.

Esses relatórios expõem o conjunto de ideias, a sequência de temas geradores e redes

temáticas. Nesse processo identificaram-se os seguintes temas: gênero, trabalho e cuidado de

si. Também como resultado desta pesquisa foi elaborado um artigo com a análise do processo

grupal.

4.1 Primeira oficina: identidade

Inicialmente foi proposta uma atividade para favorecer a aproximação entre as

participantes por meio de uma dinâmica de reflexão da história de vida, chamada história do

nome. A intenção foi fazer uma apresentação de forma descontraída. Foram distribuídos

folhas em branco, lápis de cor, canetinhas e giz de cera e solicitou-se às participantes que

escrevessem seu nome e desenhassem uma imagem a elas relacionadas, utilizando sua

criatividade. Foi solicitado também para que lembrassem quem escolheu o seu nome

(MORENO,1972).

As cinco mulheres participantes do grupo receberam o termo de consentimento, com

explicações minuciosas sobre como seria realizada a pesquisa, leram com calma e depois

assinaram. Depois desse momento houve o acolhimento, quando a pesquisadora agradeceu a

presença e disponibilidade das pacientes e em seguida iniciou a dinâmica.

A proposta de formar o círculo foi feita para que todas se olhassem, se vissem e

estivessem numa relação de igualdade, na qual não há detentor do saber, mas um animador de

discussões que, de forma solidária, participa de uma atividade comum em que todos ensinam

e todos aprendem. Assim, o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários,

coletivos de pensar (BRANDÃO, 2005).

30

Nessa dinâmica percebeu-se a inibição inicial e pouco entrosamento das participantes,

que foram aos poucos se descontraindo, trocando canetas e sorrisos. Após o término da tarefa,

solicitou-se que virassem as folhas de maneira a compartilhar com as colegas o que

produziram e que alguém se disponibilizasse a iniciar a apresentação, relatando o que havia

produzido. Como não houve nenhuma voluntária, a pesquisadora se colocou à disposição e

iniciou a apresentação.

Durante as apresentações foi possível observar o quanto essa dinâmica, da mesma

forma que a escrita criativa do nome com desenhos traduzindo a identidade de cada uma,

despertou lembranças e sentimentos que extravasaram durante as falas.

As metodologias participativas que utilizam recursos lúdicos são estratégias que

possibilitam e facilitam a vivência de sentimentos e percepções sobre determinados fatos ou

informações. Refletir sobre eles, ressignificar conhecimentos e valores possibilitam ao grupo

visualizar possibilidades de mudanças a partir da construção de novas práticas e

conhecimentos. “Refletir sobre a identidade permite que os homens se percebam como tendo

um maior controle sobre suas vidas” (SILVA, 2011, p. 34).

Foi possível captar, na fala das participantes, o significado contido em seus nomes e as

características individuais que as distinguem ou o momento pelo qual estavam passando.

Em relação à prática desenvolvida, Lane (1995) afirma que uma das funções do grupo

é definir papéis e a identidade dos indivíduos de forma a garantir sua produtividade e

mudança social.

A seguir se destacam algumas características enfatizadas nas falas das participantes do

grupo:

— “Olha eu vou ser bem sincera, eu não gosto do meu nome, o meu pai foi me registrá e

mudou na hora, ele bebia muito” (P5).

–— “Eu gosto do meu nome, sou feliz com o meu nome, na minha casa são sete mulheres, o

pai colocava L nas mulher e A nos rapaz” (P4).

— “Eu não tenho nada contra o meu nome não, adoro lilás, acho tão lindo, apesar de gostar

de usar roupa vermelha, acho que fico mais nova, quem escolheu meu nome foi meu pai”

(P2).

— “Minha mãe queria outro nome, mas como o meu pai era quem sempre decidia tudo, foi

ele que escolheu, assistiu um filme e gostou do nome, a mãe concordou, naquela época os

homens decidiam tudo” (P1).

31

Os relatos apresentados mostram-se diferentes no seu contexto, porém, a similaridade

nas histórias contadas por essas mulheres está na importância que a família exerce em suas

vidas, principalmente a figura paterna, que aparece com frequência em todas as falas e o que

isso interfere no seu modo de ser.

Para Szymanski (1999), o primeiro grande obstáculo das mulheres para a adoção de

um modo de ser libertador na família encontra-se em suas casas, com seus maridos que, numa

perspectiva patriarcal de família, não querem perder sua posição no topo da hierarquia, nem

abdicar do poder. A manutenção de uma ordem autoritária não diz respeito somente aos

filhos, mas a todos na família, e uma saída possível está na criação de uma rede de

solidariedade entre as mulheres, diante da possibilidade de participar como provedoras,

trabalhando fora arduamente, e também do cuidado da casa e da família.

A solidariedade, no referencial de Paulo Freire, desvela-se como um “inédito viável”,

que emerge como resultado de postura mais crítica, quando se começa a perceber a situação-

limite não mais como condição à qual o sujeito deve submeter-se. Esse processo só é atingido

mediante um método contínuo de reflexão sobre a prática e as tentativas de mudança.

É em “Pedagogia do oprimido” que Paulo Freire desenvolve e utiliza pela primeira vez

o sintagma inédito-viável, “epistemologicamente empregado [...] para expressar, com enorme

carga afetiva, cognitiva, política, epistemológica, ética e ontológica, os projetos e os atos da

possibilidade humana” (ARAÚJO FREIRE, 2008, p. 231).

A solidariedade pode se manifestar nos momentos mais descontraídos, num simples

comentário que valoriza um gosto ou uma decisão do outro, como se percebe nas seguintes

falas:

— “[...] adoro azul, no começo quando casei minha casa era tudo azul, as paredes, a cozinha,

a geladeira, o fogão e um dia uma vizinha disse, como você é brega, aí eu mudei tudo”

(P5).

— “[...] então a tua casa era um céu...” (P4).

— “[...] eu, se encontrasse uma geladeira vermelha comprava; que nada, o que é

importante é o que a gente gosta, é chato deixa de faz o que a gente gosta só por causa dos

outro” (P3).

32

Curiosamente, em nenhum momento houve comentário a respeito da dor ou da

limitação funcional, motivo que as reuniu, reforçando a idéia de um grupo de saúde e não de

doença. Quando questionadas a respeito de como imaginavam que seria essa pesquisa,

comentaram que pensavam que era para relaxarem, mas que chegaram muito ansiosas para

saber o que aconteceria e ao mesmo tempo se sentindo importantes por participarem de uma

pesquisa.

Nesse primeiro encontro nos aproximamos do objetivo proposto, pois houve maior

entrosamento entre as participantes. Como ficou explícito que a família tem um papel

fundamental da vida dessas mulheres, sentimos a necessidade de retomarmos esse tema na

próxima oficina.

4.2 Segunda oficina: família

Nesse segundo encontro, aprofundou-se a identificação de características pessoais e a

compreensão da subjetividade dos sujeitos da pesquisa, o que significa considerar a sua

trajetória histórica, sua singularidade, a sua diversidade e a forma com que eles se expressam

e protagonizam seu espaço na sociedade (GONZÁLES-REY, 2003).

O tema da oficina anterior sobre identidade foi retomado para fazer um fechamento e a

pesquisadora colocou num mural os desenhos feitos e com eles algumas curiosidades a

respeito do significado do nome de cada participante. E seguida foi sugerido às mulheres que

observassem e se sentissem livres para fazer um comentário.

Essa atividade intencionalmente serviu para “quebrar o gelo” na chegada e foi muito

bem aceita pelo grupo, com demonstração e sinais de concordância e discordância. Todas as

participantes comentaram o significado do seu nome, demonstrando alegria e muita

descontração, como se pode perceber nas seguintes falas:

— “[...] pra mim parece perfeito, gosto de me sentir útil e necessária, disciplinada, me vejo

assim” (P1).

— “[...] eu tento luta e vence também os obstáculos, às vezes melhor que as minhas filha

que tem mais estudo que eu” '(P2).

— “[...] bate certinho, em casa é eu que tenho que resolve tudo, qualquer problema...” (P5).

33

Num segundo momento, foi proposta nova dinâmica relativa à imagem da família.

Foram distribuídas várias canetas de cores e tamanhos diferentes e solicitou-se que as

participantes utilizassem sua criatividade para montar sua família. Depois de concluída a

tarefa, cada participante descreveu sua família e P4 foi quem mais falou:

— “[...] minha família é eu e meu marido; nós convivemos bem há vinte e oito anos, dizem:

como é que durou tanto tempo o casamento de vocês? E vai dura mais... minha sogra e meu

sogro que são praticamente como meus pais, cuido deles desde que casei...” (P4).

— “[...] fui criada pela minha vó; sinto que a minha mãe não deu a criação que ela tinha que

dá pra mim” (P4).

— “[...] eu era gêmeas e me separou da minha irmã; só depois de casada nós convivemos

mais de perto uma com a outra” (P4).

Com essa dinâmica as participantes tiveram a oportunidade de interagir, discutindo

suas relações familiares:

— “E você chama tua mãe de mãe?” (P5).

— “Chamo, eu vou lá, mas o meu tempo é corrido” (P4).

— “Eu não chamo minha mãe de mãe” (P5).

Nas narrativas das participantes também ficou evidente a importância da figura

materna em seus relacionamentos e como isso afeta ou causa danos, repercutindo na sua vida,

especialmente pelo impacto emocional.

— “[...] aqui sou eu e esse é meu marido, já faz anos, não digo que não tenha uma briguinha

de vez em quando, mas a gente se dá bem, minha filha, começando a dar problema de novo,

minha outra filha, em depressão porque engordou depois que teve o filho, minha mãe não

considero porque ela deu eu pra minha vó” (P5).

— “Minha mãe era alcoólatra tive que interna ela... nunca mais bebeu uma cerveja...” (P5).

34

Por meio dessa dinâmica as participantes foram estimuladas a expressar as relações

afetivas na família, assim como o cotidiano familiar, e refletir sobre as questões de autoridade,

além de relatar a realidade sociocultural por elas vivida.

— “[...] aqui to eu esse aqui é meu marido que faleceu, minha filha mais velha e meu genro,

minha neta mais velha e minha netinha mais caçula, minha paixão. A gente mora junto no

mesmo terreno; eu cedi a casa da frente pra eles e construí pra mim nos fundos, cuido dela pra

minha filha trabalhar...” (P1).

— “[...] meu marido ta bem grudadinho aqui, minha filha mais velha, viúva e mora

comigo... e a minha neta que criei, minha caçula que vai casa, não coloquei meu genro, diz

que até o último momento pode muda...” (P3).

— “[...] sou separada, quando separei elas eram adolescente, eu tinha trinta anos, casei

cedo, aí elas começaram a me incomodar, por isso eu me considero vitoriosa, porque se eu

não fosse não tinha conseguido, pois tinha dias que eu achei que não ia dá conta...” (P2).

Na dinâmica da construção da família, pôde-se perceber que as participantes

retrataram fatos significativos de sua vida, o seu cotidiano, ilustrando as diferentes etapas

vivenciadas, os membros de sua família e seus respectivos papéis.

A família é um grupo social, bem como uma rede de relações. Funda-se na genealogia,

mas também se faz na convivência social, intensa e longa. É um dado de fato da existência

social e também constitui um valor, um ponto do sistema para o qual tudo deve tender (DA

MATA, 1987).

Todas as participantes escutaram atentamente as expressões de sentimentos relatados

sobre a família durante a oficina e fizeram as suas interferências, quando acharam necessário.

Noutros momentos, só ouviam.

Após o término dos relatos, encerramos a oficina agradecendo pela participação e pela

confiança manifestada pelas participantes, que permitiram que conhecêssemos um pouco mais

de cada e de suas vidas.

Para finalizar, solicitamos que sugerissem o tema que gostariam de abordar no

próximo encontro e prevaleceu a proposta de uma das participantes para falarmos sobre

trabalho. Ao final dessa oficina elas estavam mais descontraídas, mais soltas. Houve troca de

experiências e observou-se, durante os relatos carregados de emoção, a cumplicidade e a

solidariedade que se estabeleceram entre elas.

35

4.3 Terceira oficina: trabalho

A terceira oficina aconteceu em dezembro de 2012 e somente uma das participantes

não pôde comparecer. Foi um encontro mais descontraído. Os cumprimentos foram mais

calorosos e afetivos e houve uma comoção geral quando uma das participantes caiu em

prantos ao contar que ficou viúva — seu marido sofreu um acidente vascular cerebral (AVC)

e não sobreviveu. As demais mulheres do grupo se solidarizam com a colega, consternadas

com a triste notícia:

— “É muito triste gente, o final de ano vai ser muito triste sem ele, minha filha teve que adia

o casamento senão ela perde tudo...” (P3).

— “Mas ele tava doente?” (P4).

— “Sim, com uma dor de cabeça muito forte e o médico falou que ele teve uma suspeita de

AVC; a pressão dele baixou demais por causa do medicamento e não subiu mais; ele desmaiô

e foi pra emergência, ficou lá nove dias e mais cinco dias na UTI ...” (P3).

— “Mas isso foi tão rápido, ainda outro dia nós tava aqui junto, brincando” (P4).

— “Ele trabalhava no que?” (P1).

— “Era serralheiro, mas na verdade tava aposentado e fazia bico, mas quem olhava nele não

dizia, pois era forte, daí a pessoa sai andando pra ir pro hospital e volta assim. Deus nos

livre...” (P3).

Depois de um breve acolhimento, quando ouvimos o desabafo de nossa colega e

prestamos nossa solidariedade, retomamos a nossa oficina, relembrando que o tema escolhido

pelo grupo no último encontro foi o trabalho.

Dando continuidade, sugeriu-se às participantes que escrevessem num pequeno pedaço

de papel, previamente entregue, o que o trabalho representava na sua vida; em seguida

deveriam dobrar várias vezes até formar uma bolinha e colocar dentro de uma bexiga, enchê-

la e amarrá-la para depois, todas juntas, jogar as bexigas para o alto e, nessa brincadeira,

pegar uma bexiga de cor diferente da sua. Ao pegar a bexiga, deveriam estourá-la e abrir o

papel que estava dentro, ler o que estava escrito para então iniciarmos a nossa roda de

conversa.

36

Nessa dinâmica houve momentos de descontração, durante os quais elas se divertiram

com as dificuldades encontradas no desenvolvimento da atividade: primeiro pensar o que

escrever, depois dobrar os papéis, colocá-los dentro da bexiga, enchê-la e amarrá-la. Uma

participante tentava ajudar a outra. Houve muita colaboração e entrosamento, aproximando o

grupo. E nesse momento, a participante que chegou tão triste teve alguns minutos de leveza e

alegria ao compartilhar com as demais uma atividade lúdica.

Observaram-se, nas falas das participantes, características individuais que as

diferenciam:

— “[...] peguei um balão onde diz: durmo pensando no trabalho e o que vou faze de

almoço, se o patrão está bem, mas eu gosto muito” (P1).

— “[...] é meu, assim eu vou embora e não consigo me desligá, me preocupo com o patrão

que é velhinho, tem uma filha que mora com ele, mas não ajuda o pai dela” (P4).

— “[...] tanto é que quando fiz a cirurgia achei que ia fica louca, porque não podia faze nada e

achei que ia entra em depressão, pra estende uma roupa no varal nossa...” (P4).

É interessante como as participantes quebraram a lógica da dinâmica, motivadas pela

vontade de compartilhar, como aconteceu com P4 que interrompeu P1.

— “[...] eu vou lê o meu agora, posso? o trabalho faz parte da minha vida gosto de tudo o

que faço” (P4).

— “Assim, eu preciso tá intertida mesmo, qualque coisa, trabalhando porque eu não tenho

família aqui, tenho pouca amizade, mora só eu e as minha filha e agora ele me deixou

sozinha, tão pouco tempo aqui...” (P3).

— “Por que vocês vieram pra cá?” (P1).

— “Porque as menina não conseguia emprego, lá em São Paulo é muita gente e eles dão

prioridade pra quem tem mais estudo...” (P3).

A respeito da questão de gênero, verificou-se que se atribuem às mulheres o trabalho

dito reprodutivo, cuidar de casa e dos filhos. As atividades das mulheres, diferentemente das

dos homens, muitas vezes ficam restritas ao âmbito doméstico e não são reconhecidas como

trabalho. O fato de que o trabalho doméstico infelizmente seja considerado improdutivo por

37

não ser remunerado, do ponto de vista que não é expresso em valores monetários, faz com que

o tempo e a energia que essas mulheres despendem sejam invisíveis, esquecidos e

desvalorizados pela sociedade. Assim, a divisão sexual do trabalho está profundamente

relacionada com representações que a sociedade vincula a homens e mulheres (PAULILO,

1982).

— “No meu balão tava escrito: o trabalho dignifica o homem, é tudo de bom compartilhar

com o outro, sentir-se útil” (P3).

— “[...] ainda agora com a doença do meu marido, fiquei cuidando dele e esqueci do braço,

mais fica sem trabalha, nem pensa...” (P3).

— “E você trabalha fora?” (P4).

— “Fazia uns biquinho, ele não deixava trabalha fora, por isso ele era o meu esteio, o meu

tudo e não é bom a mulher ser tão dependente do homem, isso é ruim, a gente fica meio

perdida, mas eu quero faze alguma coisa na vida, distrai, lá perto de casa tem curso de

pintura e bordado de chinelo, eu quero podê anda saí de casa...” (P3).

A participante P4 demonstrou preocupação com a situação de P3 e a incentivou a

trabalhar fora:

— “[...] aí você pode ter um ganha pão...” (P4).

— “[...] as minha menina querem me ensina usa o computador, mas não é do meu tempo, até

celular elas me deram, mas eu só sei liga e desliga nem gosto de carrega comigo” (P3).

— “[...] se uma delas tem dor de cabeça eu levanto a noite faço chá, agora mesmo tem uma

das menina que tá sofrendo muito com a morte do pai, parece uma criança” (P3).

Novamente a participante P4 demonstrou interesse em ajudar P3 e P1 também se

beneficiou da informação:

— “[...] vai na Tiradentes numa lojinha que tem floral de bah, pra várias coisa, pra quem é

nervoso...” (P4).

— “[...] pra mim é longe, mas tem uma lá no Pinheirinho” (P3).

38

— “[...] vou compra pra minha neta que é muito nervosa e vai faze cirurgia..., é bom a gente

sabe disso...” (P1).

No momento da reflexão de uma situação codificada, observam-se as idas e vindas, do

concreto para o abstrato e do abstrato para o concreto, apresentando o movimento dialético

(FREIRE, 1971).

À medida que as participantes iam exteriorizando suas ideias e constatações, iam

percebendo como atuavam ao viverem a situação analisada — o que Freire (2008) chama de

percepção da percepção anterior.

Gênero e papéis de gênero estão profundamente enraizados na matriz cultural de cada

sociedade e são transmitidos através dos modelos de família, de geração em geração. Existe

uma hierarquia entre seus membros fundada no gênero, na idade e no parentesco, que se

expressa em relações contratuais, explícitas, como no caso do casamento, e implícitas, no caso

da coabitação. Dela resulta uma divisão de tarefas que varia de acordo com os costumes, o

gênero, a idade e o local; ela é flexível, pois é influenciada por circunstâncias novas como

nascimento, mortes, doenças, crises econômicas e oportunidades. A luta por estabelecer uma

divisão de trabalho mais equitativa é constante, deixando claro que as unidades domésticas

apresentam, ao mesmo tempo, um comportamento cooperativo e outro conflitivo

(FRIEDMAN, 1996).

Essa dinâmica oportunizou trabalhar com o grupo de mulheres dentro da metodologia

de Freire, ajudando a perceber, em termos críticos, o que caracteriza sua vida, e pensar que se

desejarem é possível fazer mudanças.

4.4 Quarta oficina: trabalho

A quarta oficina aconteceu em janeiro de 2013. Todas as participantes estavam

presentes. Ao chegarem houve uma afetividade maior nos cumprimentos e todas rodearam a

colega que ficou viúva numa atitude muito solidária.

Retomamos o tema abordado na oficina anterior por sugestão do grupo e fez-se

novamente a dinâmica das bexigas, onde individualmente foi colocada a opinião ou

sentimento a respeito do que o trabalho representava em suas vidas.

Como já havia acontecido anteriormente, a dinâmica transcorreu com muito

entrosamento e troca de sorrisos das participantes, que se divertiram muito durante a

39

atividade. Novamente observamos, através da fala das participantes, características

individuais que as diferenciam ou o momento pelo qual estão passando:

— “Bom, eu peguei o papel que diz: terapia, alegria, sentir-se útil, mas pra mim o

trabalho não é uma terapia ao contrário me dá muita canseira, sou a primeira a levanta

em casa e a última a deita, faço o serviço de casa, cozinho, limpo, arrumo e não tenho ajuda

de ninguém por isso não posso dizer que me dá alegria” (P5).

— “Mas e agora que você sofreu essa cirurgia no seu braço, as suas filha não te ajudam?”

(P4).

— “Que nada, não querem nem sabe, ninguém ta nem aí pra mim...” (P5).

— “Mas por que elas não tem ajudam, não foram ensinadas?” (P3).

— “Eu ensinei, mas elas dizem que não gostam do trabalho de casa, preferem trabalha fora,

querem estuda, uma tá fazendo auto escola pra dirigir, detestam serviço de casa e aí sobra pra

mim” (P5).

A presença de uma doença repercute na vivência familiar, laboral e social. Essas

repercussões podem ser observadas nos pacientes com esforço repetitivo, que podem

expressar sentimentos de desvalia, insegurança quanto ao futuro profissional, inconformismo

frente a algumas limitações, incerteza e medo quanto ao seu futuro, morosidade no processo

terapêutico e de reabilitação, medos, manifestações depressivas e de revolta e incorporações

de ideias de autoculpabilização (MERLO et al., 2001).

A participante P5 demonstrou interesse pela situação vivenciada por P4 ao questioná-

la sobre a sua intenção em relação ao futuro:

— “Bem o meu papel diz: tristeza, perseguição, pressão, concordo porque o meu é uma

mistura de alegria e tristeza, e entendo porque tem dias que não tenho vontade de ir...”

(P4).

— “Onde você trabalha mesmo?” (P5).

— “Cuido dum velhinho, lembra? Adoro ele e o que faço, o problema é a filha dele, eu fico lá

enquanto ele tivé , depois...” (P4).

— “Você já pensou no que vai faze depois?” (P5).

40

— “Sim, eu preciso deste trabalho, ajuda muito, depois eu penso de abri o meu próprio

negócio, nos trazemo queijo e requeijão da chacra e vendemo muito bem ...” (P4).

Foi possível perceber a demonstração de afeto da participante P1 em relação a P3,

motivando-a a procurar soluções e seguir em frente:

— “O meu papel fala que o trabalho faz parte da vida, não saberia viver sem fazer nada,

gosto de tudo o que faço concordo com tudo que tá aqui” (P3).

— “O trabalho é minha única alegria, pra fugi dos pensamento ruim, da tristeza e gosto muito

de limpa e vê a minha casa cheirosa... isso me acalma muito” (P3).

— “Lembra que a gente comentou na última reunião a respeito de você ter uma atividade com

artesanato, parece que você gostou da ideia” (P1).

— “Sim, vou procura, mas agora com os feriado de final de ano, nada funciona...” (P3).

— “Sei como você ta se sentindo, essa dor é terrível, mas tenha fé, que você vai vence” (P1).

A participante P2 expôs ao grupo a sua indignação em relação ao que sofreu no seu

trabalho:

— “Tá escrito aqui que o trabalho é um pouco de alegria e estressante ao mesmo tempo, e

entendo porque é o que eu mais sentia quando tava trabalhando” (P2).

— “É você que ta afastada, né?” (P4).

— “Sim, eu trabalhava com dor, reclamava e o patrão dizia que tava fazendo corpo mole,

não gosto nem de lembra. Antes eu trabalhava feliz, alegre, gostava do que fazia, mas, depois

que entrou uma chefe nova, virô um pesadelo” (P2),

— “Você nunca reclamou, por que não gravou ela te desacatando?” (P5),

— “Na época não tive ideia e mesmo que tivesse eu não tenho muito estudo, tinha medo de

perde o meu emprego, trabalhava e fazia de tudo que me mandavam, até que estouro meu

braço de tanto trabalha...” (P2).

A culpabilização dos trabalhadores se dá também porque a expressão de dor é

entendida pelas pessoas como fraqueza individual, desculpa para não trabalhar ou até mesmo

41

fingimento, descaracterizando o que os achados epidemiológicos apontam sobre a etiologia

ocupacional associada a fatores psíquicos, biomecânicos e organizacionais da atividade de

trabalho (SATO et al., 1993).

Foram muito interessantes e surpreendentes os relatos que surgiram espontaneamente

em torno do tema proposto:

— “[...] bem o que peguei diz que trabalho é alegria e concordo porque sempre gostei e

gosto muito do meu trabalho, trabalhei muito na minha vida, hoje sou aposentada,

trabalhava com artesanato, cuidava da casa, dos filhos, do marido e sempre com grande

satisfação...” (P1).

— “[...] então o trabalho pra mim é satisfação, e gosto de cuidar dos meus netos, ajudar eles,

preparar uma comidinha gostosa, não custa nada e dá alegria na gente” (P1).

Apareceram, durante as falas, exemplos de situações vividas por algumas

participantes, que traduziram seus sentimentos de tristeza, opressão e de culpa e também

muita dificuldade em saber lidar com esses conflitos por encontrarem dificuldade em ter uma

visão crítica da sua história pessoal. Em contrapartida, também surgiram algumas falas que

refletiram satisfação com seu trabalho dentro e fora de casa e ao sentir-se útil na vida de

alguém.

Através dessa dinâmica foi possível resgatar nas falas as concepções do grupo sobre o

que o trabalho representa para cada participante.

Essa dinâmica possibilitou às participantes refletirem sobre suas vidas, pois, ao

colocar no papel características próprias e analisá-las, puderam visualizar e identificar os

problemas e, observando as dificuldades, entenderam ser possível partir para mudanças. A

visualização das características negativas e positivas possibilitou o refazer suas vidas, através

do reconhecimento que a mudança deve partir delas e não do outro.

4.5 Quinta oficina: cuidado de si

Foucault coloca que para o homem ser livre, para que possa conduzir sua vida de forma

saudável e para ser inserido na sociedade, não deve estar preso a certos ditames. Segundo o

42

autor "[...] o cuidado de si é um privilégio-dever, um dom-obrigação que nos assegura a

liberdade obrigando-nos a tomar-nos nós próprios como objeto de toda a nossa

aplicação",(FOULCAULT,1985, p.53).

A quinta oficina foi participativa e descontraída. Aconteceu em fevereiro de 2013 e

somente uma das participantes não pôde comparecer por problemas de saúde. Tudo fluiu com

muita naturalidade. Elas chegaram alegres, conversando, e estavam muito à vontade, como se

fosse uma reunião de amigas que não se viam há muito tempo, um caloroso reencontro.

Por tudo o que foi compartilhado até esse momento, sentiu-se a necessidade de se

trabalhar com essas mulheres a autoestima e o cuidado de si. Para que realizassem uma

reflexão sobre o tema, foi proposta uma dinâmica que consistia no seguinte:

Iniciou-se com a solicitação de que as participantes fizessem um autorretrato,

trabalhando em duplas, quando foi colado na parede um papel pardo grande na altura de cada

componente do grupo. Em seguida deveriam desenhar o contorno do corpo da parceira com

giz de cera, na forma que considerassem melhor para defini-la como pessoa, e depois

preencher o contorno do seu próprio corpo utilizando canetas coloridas e pincel atômico.

Tiveram o tempo necessário para deixar fluir sua criatividade e, como era esperado,

houve bom entrosamento entre as participantes com troca de material, descontração, sorrisos e

comparações entre os desenhos. Todas se divertiram muito com essa atividade.

Depois de um bom tempo, todas tinham acabado sua “obra de arte” e é incrível como

elas se superaram e demonstraram muita satisfação ao concluir a tarefa. A seguir fizemos um

círculo e foi solicitado que comentassem o seu desenho e falassem do cuidado de si, sobre o

que elas faziam em seu próprio benefício.

Para haver uma reflexão maior sobre o cuidar de si, a atividade dessa oficina

oportunizou às participantes reproduzirem de forma lúdica o seu próprio corpo.

Inicialmente discutiram-se as justificativas para o não cuidado, diretamente ligadas à

família e à falta de tempo, e o movimento existente entre elas compartilhando suas relações.

A participante P1 relatou ter consciência de que precisa mudar sua atitude em relação

à família e dedicar mais tempo ao cuidar de si:

— “[...] tenho pensado muito nisso, porque ultimamente tem sido complicado, a gente se

preocupa muito, e preciso de ter um tempinho pra mim” (P1).

— “[...] a gente vai se envolvendo, se envolvendo e esquece da gente, mas eu sinto que

preciso faze mais por mim” (P1).

43

Nesta perspectiva, da importância do cuidar do outro, adverte Foucault: "não se deve fazer

passar o cuidado dos outros na frente do cuidado de si; o cuidado de si vem eticamente em

primeiro lugar, na medida em que a relação consigo mesmo é ontologicamente

primária"(FOUCAULT,2006,p. 271).

A participante P2, num desabafo, relatou o seu cotidiano, comentando que a maior

parte do seu tempo é dedicada à família. Foi apoiada pelo grupo, que demonstrou interesse em

buscar soluções:

— “[...] penso que eu não tiro um tempo pra mim, chega a noite eu tenho que dá banho e

faze exercício no neto, e a mãe dele bem folgada, vê se ela não podia faze, é importante pra

ele, ele tá muito agressivo” (P2).

— “Mas ela não pode tá com depressão pós-parto?” (P1).

— “Ela não trabalha, não?” (P4).

— “Ela trabalha e vai pega mais um mês e depressão, tá não...” (P2).

— “Esses dia eu disse: você não pode deixa tudo comigo...” (P2).

— “Você tem que pedi ajuda pra alguém, você não vai aguenta desse jeito” (P4).

— “Talvez ela pense que está certa no ponto de vista dela, e precisa alguém abrir o olho

dela...” (P1).

A participante P3 compartilhou com as demais a preocupação em relação ao seu

futuro, pois sempre cuidou dos outros, mas nunca teve tempo para cuidar de si:

— “[...] mas desde que casei sempre cuidando de casa, dos filho, do marido mas nunca

tirei aquele tempo pra mim, penso, se eu fica doente será que elas vão cuida de mim?” (P3).

Nessa oficina se percebeu a preocupação das participantes em relação aos seus

próprios corpos, com questões de saúde, estética, informação e o que elas fazem a respeito.

O modo pelo qual sentimos o nosso corpo tem um impacto em todo o nosso ser, e essa

abordagem sobre o corpo se destacou por propiciar um maior conhecimento sobre elas

mesmas, interferindo na maneira em que atuam em seu cotidiano. O corpo de cada ser é seu

44

bem mais precioso, requer cuidado em todos os sentidos, através da conscientização do que

ele significa e de como é visto. Com isso é possível despertar questões de atitude, de

comprometimento e estruturar possíveis objetivos que possam influenciar de maneira positiva

a qualidade de vida dessas mulheres.

Para Foucault, o mais importante dos cuidados que se deve ter consigo próprio é um

olhar atencioso sobre o corpo e a alma, para isso é preciso manter atitudes constantes sobre o

seu próprio ser: " o fim principal a ser proposto para si próprio deve ser buscado no próprio

sujeito, na relação de si para consigo" (FOUCAULT,1985,p.69).

Num segundo momento, visualizou-se a atitude em relação ao cuidar de si, o que elas

realmente têm feito a esse respeito e a reflexão que o tema gerou. A participante P4 relatou

ter-se permitido ser cuidada e como ficou satisfeita:

— “[...] esses dias eu fui no salão e fiz tudo o que tinha direito, a gente relaxa, e agora

comprei tudo e vou faze uma vez por semana em casa” (P4).

As participantes P1 e P2 compartilharam do mesmo conflito em relação ao cuidado da

família, a dificuldade em mudar e o sentimento de culpa:

— “[...] sinto que preciso deixa um pouco dos filho, dos neto, preciso ler mais, preciso sair

mais, a gente abandona tudo e fica em função de filho e isso é errado, é muita doação, mas

por outro lado a gente se sente culpada de não fazer” (P1).

— “[...] eu entendo, e se não fizé a gente se sente culpada” (P2).

— “[...] eu precisava de um dia só pra mim, não com as costas doendo, empurrando cadeira

de rodas, não que eu não goste dele, se entende...” (P2).

A participante P3 demonstrou intenção de buscar soluções para seguir a sua vida e

compartilhar com o grupo o seu desejo de mudança:

— “[...] agora eu tô costurando...” (P3).

— “E você gosta de costura?” (P2).

45

— “Eu gosto, fiz dois curso de costura, mas nunca pus em prática. Mas tem uma oficina

perto de casa e a dona vai me ensinando, tem dia que eu fico o dia todo com ela, vou aprende

a mexe com as máquina” (P3).

Essa dinâmica possibilitou um trabalho inter e intrapessoal, pois envolveu a confiança

e a cumplicidade do grupo e propiciou que as participantes visualizassem a importância do

cuidado e do permitir ser cuidada.

— “[...] vai se bom pra mim, conhece pessoas, e oficina de costura, é assim mesmo, sempre

uma conversa diferente a gente tá ouvindo” (P3).

— “[...] mês que vem eu vou faze inscrição na hidroginástica porque eu não tô podendo

fica parada dentro de casa, não quero fica pensando...” (P3).

É fato que a mulher, ao longo do tempo, adquiriu culturalmente a incumbência do

cuidar. O cuidar dos filhos, da casa, do marido, porém, ao mesmo tempo se excluiu desse

cuidado, do cuidado dela mesma e do deixar ser cuidada pelos outros.

Segundo Costa (2006, p. 6), “geralmente as mulheres são vistas e tratadas apenas

como provedoras do bem-estar da família ou como meio de bem-estar de outros, como mães e

esposas, nunca como sujeitos autônomos com demandas próprias”.

Em suas falas, as participantes relataram que nunca ou raramente se cuidaram, pois o

seu tempo é dedicado aos outros componentes da família. Acompanhando essa reflexão,

Oliveira (2003) coloca que, na lista de emprego do tempo da mulher, vem o cuidar dos filhos,

dos idosos, do companheiro, só não vem tempo para cuidar dela mesma, personagem

secundária, última coadjuvante de sua própria vida.

A descodificação e o desvelamento crítico propostos por Freire (2001) apareceram

nessa dinâmica. Nas falas das participantes ficou explícita a visualização de suas atitudes, a

percepção delas e a intenção em mudar o seu cotidiano, envolvido em alguns momentos por

sentimentos de desvalorização, falta de atenção, doação e abdicação.

4.6 Sexta oficina: despedida

46

Na sexta oficina, realizada em março de 2013, finalizamos nossos encontros e todas as

participantes estavam presentes. Chegaram no horário e estavam animadas, conversando

espontaneamente e compartilhando sentimentos.

Percebeu-se que estavam um pouco ansiosas e comentavam que já estavam

acostumadas com esse compromisso e como seria no próximo mês. Sentiriam falta, pois era

uma oportunidade de se descontrair, trocar ideias, enfim, sair da sua rotina.

Como de costume, fizemos o círculo para então iniciarmos a nossa roda de conversa e

sugeriu-se a elas a dinâmica de despedida, que seria realizada com um cartão-presente que

trocariam, relembrando tudo o que foi vivenciado e pensando, no que desejar para a colega

através de uma palavra, frase, desenho, enfim, o que achassem adequado.

Por meio dessa dinâmica buscou-se, de uma forma lúdica, ter uma visão de como as

participantes vivenciaram as oficinas e o que captaram.

A fala das participantes foi importante por revelar o comprometimento e a

transformação alcançada no grupo, e foi possível perceber o que foi realizado nas oficinas,

como a mudança de atitude, confiança, respeito e companheirismo.

A participante P4 demonstrou sensibilidade ao oferecer a P1 algo que para ela não é

relevante, mas respeitou e incentivou a colega a realizar esse desejo:

— “[...] bem, como ela diz que gosta de lê bastante, tira do estresse, então eu fiz um livro

pra ela, pra que possa realizar essa vontade e lê bastante já que é o que gosta...” (P4).

— “[...] eu particularmente não gosto de lê, tem que usa óculos e não gosto...” (P4).

— “[...] eu gosto de ler porque a gente aprende muito, é cultura e vai se atualizando...”

(P1).

A participante P1, numa atitude muito afetuosa e solidária, demonstrou seu desejo de

mudança na relação da colega com a família:

— “[...] fiz uma flor e com essa flor eu quero levá pra ela a saúde, o amor e a união, a

saúde em primeiro lugar porque você tem aquele neto com tanto problema e que Deus

abençoe, que ele melhore o mais possível, que haja amor também entre vocês e pra que haja

muita união é a minha vontade por toda a tua família” (P1).

A participante P3, de uma maneira carinhosa, relatou o quanto foi importante o

vínculo que se criou entre elas:

47

— “[...] não sei falá muito bem e nem desenha, eu fiz um vasinho com uma flor pra você

lembra de mim porque eu nunca vou esquece de você, a amizade que a gente fez durante

esse tempo aqui, e essa estrelinha pra você brilha e te traze bastante felicidade” (P3).

A participante P4, que durante o percurso do grupo sempre demonstrou liderança em

relação às demais, propôs a continuidade desses encontros de uma forma informal para

manter o vínculo que se criou e as demais participantes compartilharam a ideia:

— “Eu penso que a gente tinha que continua essa amizade tão legal, penso que a gente

podia saí uma tarde pra toma um lanche no centro, não precisa se na casa da gente porque

cada uma mora num lado da cidade” (P4).

— “[...] é porque se fosse em casa não dá certo, porque não dão sossego...” (P5).

— “Em casa você convida e acaba se cansando e não tendo tempo pra conversa e assim a

gente esquece um pouquinho de casa” (P3).

— “[...] e não precisa faze nada e em casa você tem que ficá fazendo tudo...” (P2).

— “[...] então que vocês acham da gente troca o número de telefone pra gente não

esquece...” (P4).

— “[...] que tal nós se reuni na data do nosso aniversário, acho que cada uma faz numa

data diferente da outra, eu faço em abril e vocês?” (P4).

A conscientização e a transformação ocorreram, ou pelo menos iniciou-se um

processo. Conseguiu-se alcançar as metas propostas com as oficinas. Buscou-se trabalhar com

as participantes a partir do que elas mesmas traziam de suas histórias de vida e vislumbrou-se

um repensar sobre elas mesmas. Conseguiu-se realizar a educação problematizadora que,

segundo Freire, está fundamentada na criatividade e estimula uma ação e uma reflexão

verdadeira sobre a realidade.

A participante não será mais a mesma; por menor que tenha sido sua transformação,

modificou-se. Sabe-se que algumas participantes não irão modificar sua história, seu

cotidiano, seu fazer sobre os acontecimentos, mas implicitamente aquela pessoa que iniciou

na primeira oficina conseguiu enxergar novos horizontes e se permitiu ter esse novo contato

com a realidade, um pensamento crítico. Nesse processo algo se modificou.

48

Conforme Freire (2001), o ponto de partida para a mudança deve estar sempre nos

homens, no seu aqui e agora, que constituem a situação em que se encontram. Somente

partindo dessa situação, que determina a percepção que eles têm, podem começar a atuar.

Num segundo momento solicitou-se que as participantes comentassem o que esses

encontros representaram para elas e o que levariam dessa experiência para sua vida. Elas

falaram emocionadas, manifestando sua impressão sobre as oficinas. A participante P1

demonstrou, através do seu relato, que o grupo propiciou a troca de experiências e isso a fez

refletir a respeito de sua vida:

— “[...] foi maravilhoso... às vezes a gente acha que tem problemas e de repente a gente vê

que tem problemas muito maiores que os da gente e isso faz a gente repensar” (P1).

— “[...] às vezes uma palavra é suficiente pra modifica o pensamento que a gente tem e

que às vezes não é correto..., troca ideia a respeito do nosso problema e pode dividi, deu um

alívio muito grande” (P1).

— “[...] também por estar contribuindo com essa pesquisa, me deu muito ânimo porque é

uma maneira de retribuir um pouquinho do carinho que recebemos durante o nosso tratamento

pela fisioterapeuta que nos acompanha” (P1).

A participante P2 relatou a contribuição que o grupo lhe proporcionou e o quanto foi

importante poder compartilhar seus problemas:

— “[...] foi inexplicável eu consegui fala coisas da minha vida que eu não falo pra

ninguém, me abri com vocês, então cada uma de vocês me ajudou bastante, foi muito

importante pra mim” (P2).

— “[...] foi muito importante participá dessas reunião, falo isso lá em casa porque o

cuidado que ela dedica, preocupa com o bem estar da gente, e não é só o atendimento,

ela é atenciosa, amorosa com todas as pessoas eu vejo isso...” (P2).

A participante P3 declarou que o grupo oportunizou a troca de experiências e de ajuda,

num grande aprendizado e envolvimento com o outro:

— “[...] aprendi muita coisa, a gente vai conversando, trocando ideia e se ajudando, se

consolando com a dor do outro porque faz quatro mês que meu marido faleceu e não é fácil,

49

aprendi aqui que cada um tem a sua dor, o seu problema, cada um passando por uma coisa

diferente, a gente sofre e a gente aprende junto...” (P3).

A participante P4 demonstrou o reconhecimento da força que a colega teve frente à

cirurgia e isso para ela foi uma lição, bem como a superação de colegas que sofreram perdas:

— “[...] aprendi muito, porque a colega que fez a mesma cirurgia que eu, ela teve mais

força que eu, que quase fiquei em depressão e também aprendi bastante com as colega que

passaram momentos difíceis com a perda de alguém da família, eu aprendi muito mesmo com

vocês” (P4).

A participante P5 falou sobre o reconhecimento de seu lugar no cotidiano e ressaltou a

satisfação de poder participar do grupo:

— “[...] quando ela me convidou pra participá eu andava meio desanimada porque a vida da

gente é só trabalha, trabalha...e eu me senti importante, é um compromisso você sente

como se fosse um trabalho, te anima a saí de casa e vê outras pessoa, porque só em casa

cansa” (P5).

Percebeu-se, no feedback das participantes, que as palavras que mais apareceram

foram: aprender, amizade, mudanças, ajuda.

As falas das mulheres do grupo mostraram que este possibilitou um controle maior

sobre as decisões e atitudes que afetam as suas vidas e as oportunidades reais que têm a seu

favor.

Segundo Freire (1974), processo e resultado podem ser concebidos como emergindo

de um processo de ação social, no qual os indivíduos tomam posse de suas próprias vidas pela

interação com outros indivíduos, gerando pensamento crítico em relação à realidade,

favorecendo a construção da capacidade pessoal e social e possibilitando a transformação de

relações sociais de poder. No pensamento crítico, os sujeitos passam a questionar a

redefinição de seus papéis perante os outros.

50

Nessa perspectiva, o empoderamento, como processo e resultado, pode ser concebido como emergindo de um processo de ação social no qual os indivíduos tomam posse de suas próprias vidas pela interação com outros indivíduos, gerando pensamento crítico em relação à realidade, favorecendo a construção da capacidade pessoal e social e possibilitando a transformação de relações sociais de poder (BAQUERO, 2012, p. 181).

As oficinas propiciaram às participantes um novo olhar sobre a vida, um olhar mais

crítico e menos submisso. Elas se conscientizaram de que a mudança depende da pessoa,

revendo seus valores, seus costumes, de maneira a assumir sua autonomia e se tornar ativa na

busca de soluções para os problemas enfrentados no cotidiano.

A segunda parte da apresentação dos resultados juntamente com a análise das

oficinas, através da percepção das participantes está apresentada, a seguir, no formato de

artigo científico, o qual permitiu que fosse construída uma categoria temática grupo-

entendido como espaço para reflexão, acolhimento e busca de soluções da qual emergiram

as subcategorias " cuidado de si" e ''criação de vínculos".

51

ARTIGO A contribuição do grupo na reabilitação fisioterápica The contribution of the group physical therapy rehabilitation Rosani Aparecida Chaves Recco1; Stella Maris Brum Lopes2 RESUMO

A educação em saúde envolve um processo tanto de subjetivação quanto de estabelecimento de vínculos comunitários. Nesse campo, o trabalho com grupos constitui uma estratégia privilegiada pelos profissionais de saúde para uma intervenção mais humanizada. Partindo desse pressuposto, desenvolveu-se um grupo de mulheres em tratamento pós-operatório de ombro no ambulatório de fisioterapia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, instalado na cidade de Curitiba, com o objetivo de potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, oportunizando, a essas mulheres, condições para melhor lidar com suas dores e limitações funcionais. Para o desenvolvimento desse grupo, realizou-se pesquisa qualitativa cuja abordagem possibilitou o estabelecimento de um processo descritivo em relação ao fenômeno grupal e o contato direto e prolongado com os sujeitos da pesquisa por meio de seis oficinas que foram promovidas mensalmente no período de outubro de 2012 a março de 2013. O relato das mulheres apontou o grupo como um espaço acolhedor, de descontração, onde partilharam experiências de vida, conquistaram amizades e aprenderam com o outro. Isso permitiu um repensar sobre seu próprio comportamento, o cuidado de si e as possibilidades de mudança de atitudes. Enfim, as oficinas propiciaram às participantes um novo olhar sobre a vida, mais crítico e menos submisso. Concluiu-se que, diante da necessidade de humanização do atendimento com vistas a uma atenção integral, a utilização de grupos como apoio no processo fisioterápico pode ser uma excelente estratégia para uma prática menos reducionista e mais humanizada que reconheça a necessidade do outro.

Palavras-chave: grupo; fisioterapia; integralidade.

1 Fisioterapeuta (UTP-PR), mestranda em Saúde e Gestão do Trabalho (Univali). 2 Fonoaudióloga (PUC-PR), doutora em Saúde Pública (USP), coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho (Univali), orientadora do trabalho.

52

ABSTRACT

Health education involves a process of both subjectivity and the establishment of community bonds. In this field, working with groups constitutes a privileged strategy by health professionals for a more humanized intervention. Based on this assumption, it was developed a group of women in post-operative treatment of shoulder in the ambulatory of physical therapy of the Clinical Hospital of the Federal University of Paraná (Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná), located in the city of Curitiba, in order to enhance the effects of conventional physical therapy, providing opportunities and conditions for these women to better cope with their pain and functional limitations. For the development of this group, it was held qualitative research of which approach enabled the establishment of a descriptive process in relation to the group phenomenon and direct and prolonged contact with the study subjects through six workshops that were organized monthly from October 2012 to March 2013. The report of the women indicated the group as a welcoming space for relaxation, where they shared life experiences, made friend sand learned from each other. This allowed them to rethink about their own behavior, self-care and the possibilities of changing attitudes. In short, the workshops offered a new perspective on life to the participants, a more critical and less submissive one. It was concluded that, given the need for humanization of care aiming at comprehensive care, the use of groups as support to the physical therapy process can be an excellent strategy for a less reductionist and more human practice which acknowledges the needs of others. Keywords: group; physiotherapy; integrality.

53

Introdução

No campo da fisioterapia, não raro se questiona como é possível contribuir para

amenizar o sofrimento das pessoas em processo de reabilitação, o que vai muito além de uma

incapacidade funcional. Percebe-se a necessidade de realizar um trabalho diferenciado para

oferecer atendimento integral às necessidades dessas pessoas, contrariando, em certa medida,

uma formação acadêmica que muitas vezes leva a uma visão mecanicista e reducionista que

segue o modelo biomédico.

Tradicionalmente, o fisioterapeuta tem uma formação direcionada para a doença e é

visto como “profissional da reabilitação”, ou seja, aquele que atua exclusivamente quando a

doença, lesão ou disfunção já foi estabelecida (Gallo, 2005). No entanto, de acordo com o

Ministério da Educação (MEC), o fisioterapeuta é um profissional generalista capacitado a

atuar em todos os níveis de atenção à saúde, não devendo ficar restrito às ações curativas e

reabilitadoras (Deliberato, 2002).

A integralidade é um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e, numa visão

ampliada de saúde, pressupõe ações integradas e uma prática plena de possibilidades.

Reconhecer a importância da integralidade é assumir a intersubjetividade nas práticas em

saúde, o que envolve uma relação dialógica entre os profissionais dessa área e os sujeitos por

eles atendidos no sentido de definir ações que possam ser desenvolvidas, entre elas o

aconselhamento e as práticas de educação em saúde (Mattos, 2004).

Refletindo sobre integralidade na fisioterapia, questiona-se como inserir, no processo

de reabilitação ambulatorial, a clínica ampliada, que exige dos profissionais de saúde um

exame permanente dos próprios valores e toma como objeto de ação sujeitos singulares que

vivenciam determinado sofrimento, agravo ou doença que demanda um atendimento integral

(Cunha, 2005).

54

Faz-se necessário qualificar a intervenção sobre o sofrimento e a doença e valorizar o

encontro do profissional e do usuário como um espaço de produção partilhada de relações e

de intervenções no qual há um jogo entre as necessidades dos usuários e os modos

tecnológicos do agir em saúde (MERHY; ONOCKO, 2002).

Ao longo do trabalho no ambulatório de fisioterapia do Hospital de Clínicas da

Universidade Federal do Paraná (UFPR), observou-se que mulheres em processo de

reabilitação fisioterápica pós-operatória de ombro apresentavam dor, limitação funcional e

diminuição da autoestima, o que acabava interferindo negativamente em sua recuperação.

A pesquisa aqui relatada pretendeu desenvolver um grupo para potencializar os efeitos

da fisioterapia convencional, dando a essas mulheres condições para melhor lidar com suas

dores e limitações funcionais e ainda identificar facilidades e dificuldades em relação a

reinserção social no processo pós-cirúrgico além de favorecer a troca de experiências e busca

de soluções no próprio grupo e finalmente analisar as possibilidades de inserção do grupo na

rotina do ambulatório de fisioterapia.A formação do grupo teve como pressuposto a

humanização, tomada na perspectiva de Ayres (2004), como encontro entre subjetividades, no

sentido dado por Paulo Freire em sua filosofia de educação dialógica, problematizadora e

emancipatória.

Freire (1987), em sua obra “Pedagogia do oprimido”, propõe uma visão de mundo

orientada a partir de práticas voltadas à educação emancipatória, pela qual haveria, com base

no respeito à subjetividade e à cultura, uma transformação social. A educação que leva à

autonomia deve se pautar em uma relação entre educando e educador norteada pela

socialização da experiência, na prática crítica de ambos, afastando dessa relação ideologias e

abordagens dogmáticas (Freire, 1987).

55

Buscou-se, através dessa ação em saúde, evitar a adoção do modelo reducionista da

prática cotidiana e propor uma intervenção mais eficaz e integral que proporcione maior

satisfação tanto ao profissional quanto ao usuário.

Integralidade: aplicação na assistência

A atenção integral se configura como uma “imagem- objetivo”, o que significa a meta

a ser alcançada e que direciona a ação, apontando o caminho para algumas transformações

necessárias para o que se almeja (Mattos, 2001; Gondim et al., 2011).

A integralidade é um valor a ser sustentado e defendido nas práticas dos profissionais

de saúde, expresso na forma como os profissionais respondem aos pacientes que os procuram.

Isso não implica deixar de lado conhecimentos sobre as doenças, mas envolve o uso prudente

desse conhecimento, guiado por uma visão abrangente das necessidades dos sujeitos (Mattos,

2004).

Esse princípio doutrinário do SUS parte de uma concepção ampliada de saúde, com a

compreensão do indivíduo a partir das dimensões biopsicossociais que permeiam a oferta

integrada de serviços de prevenção de doenças, de promoção, proteção, recuperação e

reabilitação da saúde. Contudo, o aspecto mais importante da integralidade é o

reconhecimento da necessidade do outro, a partir do qual se desencadeiam atitudes e ações

humanizadas; portanto, a humanização é consequência da aplicação do princípio da

integralidade (Oliveira e Cutolo, 2012).

Humanizar é integrar, ao conhecimento técnico-científico, a responsabilidade, a

sensibilidade, a ética e a solidariedade no cuidado tanto do paciente como de seus familiares

(Silva, Araújo e Puggina, 2010). A humanização, como valor, aponta para a dimensão em que

o cuidar da saúde implica encontros entre subjetividades que, progressiva e simultaneamente,

56

esclarecem e reconstroem as necessidades de saúde, o que se entende por vida com qualidade

e o modo moralmente aceitável de buscá-la (Ayres, 2004).

No que se refere à humanização, o tratamento fisioterapêutico é um dos que permitem

maior proximidade e longo tempo despendido no convívio com o paciente. O profissional que

atua nessa área não pode deixar de se preocupar com a qualidade humanitária do seu

atendimento, já que a rotina diária e complexa que envolve os serviços de saúde faz com que,

às vezes, o toque, a conversa e o ouvir o ser humano que está sendo atendido sejam atitudes

esquecidas. Em muitos casos, quando a dinâmica de trabalho é muito intensa, o atendimento

humanizado se torna impraticável (Vila e Rossi, 2002; Shiguemoto, Giordani e Chiba, 2009;

Abrão e Tufanin, 2012).

Na perspectiva do atendimento humanizado, procura-se aliviar a dor e o sofrimento do

outro, tratando-o com compaixão, respeitando sua dignidade e sua autonomia. Humanizar o

atendimento é também compreender o significado da vida e valorizar a dimensão humana do

paciente, independentemente de sua patologia (Silva, Araújo e Puggina, 2010).

Reconhecendo-se que a integralidade e a humanização estão interligadas, faz-se

necessário que os profissionais de saúde adotem atitudes humanizadas, mas isso somente

ocorrerá a partir de uma visão ampliada da saúde e do ser humano.

Grupos na prática da assistência

Etimologicamente, a palavra “grupo” tem origem no termo italiano groppo ou gruppo,

que teria derivado do antigo provençal grop, com o significado de “nó”. Esse vocábulo teria

ainda outra origem, do germânico ocidental kruppa, no sentido de mesa arredondada, fazendo

menção a uma forma circular, que se relaciona às imagens dos Cavaleiros da Távola Redonda

57

e a da ordem religiosa dos Templários, cujo altar circular permitia que todos estivessem numa

mesma distância de Deus (Andaló, 2006; Fernández, 2006).

A palavra comporta então esses dois significados: nó e círculo. Enquanto o primeiro

termo expressa a ideia de ligação, união e aprisionamento, referindo-se ao grau de coesão dos

grupos, o segundo traz a ideia de círculo e de um grupo entre iguais. A genealogia do termo,

portanto, traz implícitas as noções de igualdade e enlace dos membros (Andaló, 2006;

Fernández, 2006).

Um grupo é constituído por um conjunto relativamente pequeno de pessoas que

mantêm contato face a face, ligado por algum objetivo comum que as leva a estabelecer

relação de reciprocidade (Andaló, 2006). Ele promove o contato entre diferentes sujeitos e

possibilita novos movimentos e experiências a partir do encontro com o outro, configurando,

desse modo, “tanto um espaço de conjunção de singularidades, instância que remete à

diversidade de sujeitos, quanto do compartilhado, ligação da pluralidade” (Zanella e Pereira,

2001, p. 107).

A utilização de grupos requer a criação de um ambiente no qual seus integrantes

possam compartilhar suas experiências e sentimentos com a certeza de serem compreendidos

pelos outros participantes. Oferecendo apoio e informações, esses grupos possibilitam a seus

componentes a percepção da situação real, por meio do conhecimento de dados mais

concretos sobre o problema e da diminuição das fantasias a ele relacionadas, ajudando-os no

enfrentamento das crises vivenciadas (Campos, 2000).

Os grupos de promoção de saúde são uma intervenção coletiva e interdisciplinar,

concebidos como instrumentos a serviço da autonomia e do desenvolvimento contínuo do

nível de saúde e das condições de vida, fundamentado no conceito positivo de saúde.

Constroem seus objetivos com o intuito de potencializar as capacidades dos sujeitos, gerando

58

mudanças de comportamento, desenvolvimento da autonomia e enfrentamento de condições

geradoras de sofrimento (Santos et al., 2006).

Organizados conforme a lógica dos programas de saúde, a maioria dos grupos se

concentra na atenção básica e pode envolver qualquer profissional da equipe de saúde

(Abrahão e Freitas, 2009). Mas no que se refere à fisioterapia, este campo da saúde ainda não

apresenta um número expressivo de trabalhos com grupos educativos. Na literatura

pesquisada foram poucas as publicações encontradas com esse enfoque.

O fisioterapeuta, em seu processo de trabalho, não utiliza o grupo como recurso

educativo e sim como estratégia para atender um número maior de pacientes, otimizando os

recursos humanos e financeiros envolvidos no atendimento. Assim, a prática clínica da

fisioterapia parece estar associada ao agrupamento propriamente dito (Mendes, 2008).

Diferentemente de um simples agrupamento, as forças internas de um grupo implicam

sustentação e apoio socioemocional no fortalecimento das interações emocionais, na

comunicação aberta, no compromisso e responsabilidade, na participação efetiva e na

construção de uma individualidade crítica (Meneguel et al., 2005).

Barbosa et al. (2010) relatam, em seu trabalho sobre a atuação do fisioterapeuta na

Estratégia de Saúde da Família, que a formação assistencialista dificultou o acolhimento e a

organização das ações, os trabalhos em grupos operativos foram trocados por atendimento

individual, a formação clínica impediu o desenvolvimento e a flexibilidade desses grupos,

fazendo com que necessitem de mais tecnologia para trabalhar, e em todas as equipes há

prática isolada, não permitindo a atenção integral à comunidade.

Entende-se que os profissionais de saúde precisam refletir em que medida podem

oferecer novas propostas de tratamento mais humanizado e sintonizado com as demandas

subjetivas das pessoas. A partir desse ponto de vista, defende-se que os tratamentos devem

privilegiar os espaços grupais, nos quais os pacientes possam manter contato interpessoal,

59

narrar suas vivências e tirar proveito da riqueza das interações estabelecidas (Scorsolini-

Comin, Souza e Santos, 2010).

Os profissionais exercem o processo de trabalho em saúde a partir do emprego das

tecnologias, que são consideradas como ferramentas tecnológicas que fazem sentido e são

utilizadas conforme os objetivos estabelecidos (MERHY, 2002). Para alcançar a integralidade

e a humanização do cuidado nas práticas de saúde devem ser priorizadas as tecnologias leves,

fundamentadas no acolhimento, no diálogo, no vínculo, na corresponsabilidade e na escuta

ativa entre o profissional e o usuário do serviço de saúde. Os vínculos podem ser vistos nos

laços afetivos entre os trabalhadores e usuários, na comunicação efetiva entre eles e na

resolutividade dos problemas (Jorge et al., 2011).

Os processos de escuta e acolhimento são estabelecidos por meio da qualidade dos

serviços oferecidos, pautados no diálogo, na confiança e amizade entre todos os atores

envolvidos (profissional e usuário). Portanto, as tecnologias leves em saúde constituem

espaços de relações terapêuticas, a exemplo dos grupos (Jorge et al., 2011).

“Operando a combinação do uso das tecnologias do cuidar para além do cunho educativo, o espaço [grupo] torna-se propício para novos agenciamentos no agir em saúde que ultrapassam a linha estruturada na doença e avançam na construção de outras linhas do cuidado” (Abrahão e Freitas, 2009, p. 440).

Nessa lógica, partindo do princípio de que se faz necessária a humanização do

atendimento com vistas a uma atenção integral, a utilização de grupos como apoio no

processo fisioterápico pode ser uma estratégia para uma prática menos reducionista e mais

humanizada que reconheça a necessidade do outro.

60

Metodologia

Realizou-se pesquisa de abordagem qualitativa que possibilitou o estabelecimento de

um processo descritivo em relação ao fenômeno grupal. O cenário foi o ambulatório de

fisioterapia do Hospital de Clínicas da UFPR em Curitiba-PR. Os sujeitos da pesquisa foram

cinco mulheres em tratamento pós-operatório de ombro que realizavam acompanhamento

fisioterápico ambulatorial nesse hospital, sendo o critério de inclusão estar em atendimento

fisioterápico há mais de seis meses (pós-operatório tardio) e na faixa etária de 40 a 60 anos.

A coleta de dados foi realizada por meio de seis oficinas com duração de

aproximadamente duas horas, realizadas uma vez por mês entre outubro de 2012 e março de

2013. Durante os encontros foram abordados os seguintes temas: identidade, família, trabalho

e cuidado de si. A última oficina foi de despedida. Ressalta-se que somente o primeiro

encontro tinha tema definido; os demais surgiram a partir das discussões das participantes no

percurso de desenvolvimento das oficinas.

As oficinas aconteceram em uma sala reservada no ambulatório de fisioterapia,

previamente preparada com as cadeiras colocadas em forma de círculo. Essa proposta foi

baseada no método de Paulo Freire do “círculo de cultura” — “um lugar onde todos têm a

palavra, onde todos leem e escrevem o mundo [...] espaço de trabalho, pesquisa, exposição de

práticas, dinâmicas, vivências que possibilitam a construção coletiva do conhecimento”

(Linhares, 2008, p. 1014).

Um desafio para a pesquisadora no desenvolvimento das oficinas foi realizar uma

escuta do grupo, procurando mediá-lo sem interferir nas falas das participantes. Após a

realização de cada oficina foi realizada a transcrição das falas e elaborado um relatório

descritivo, no qual já se buscava uma primeira interpretação para os fatos vivenciados.

61

Para a análise de dados organizou-se os dados de maneira a gerar conjuntos de ideias

e sequências de temas. Nessa fase houve um contato exaustivo com o material, possibilitando

confrontar os dados coletados com o referencial teórico e as hipóteses anteriormente

levantadas. Os textos decorrentes dessa análise buscam dar visibilidade à percepção das

mulheres em relação ao processo vivido e às descobertas dele derivadas.

Quanto ao cumprimento das exigências éticas da pesquisa, foram consideradas as

diretrizes e normas de pesquisas com seres humanos, em atendimento ao que determina a

Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo o projeto aprovado pelo Parecer nº

115.283 do Comitê de Ética da Universidade do Vale do Itajaí como instituição participante e

pelo Parecer nº 165.660 do Comitê de Ética do Hospital de Clínicas como instituição

coparticipante.

Os sujeitos foram previamente informados sobre os objetivos da pesquisa, a garantia

de sigilo, liberdade para se ausentar sem prejudicar o seu atendimento fisioterápico, aceitando

a participação por meio de assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Para

preservar a identidade das participantes, elas serão referenciadas pela letra P seguida de um

número.

Resultados e discussão

Neste artigo será apresentada a análise das oficinas pertinentes a categoria grupo —

entendido como espaço para reflexão, acolhimento e busca de soluções —, da qual emergiram

as subcategorias “cuidado de si” e “criação de vínculos”.

Cuidado de si: reflexão e mudança

62

As participantes P1, P2 e P3 relataram ter “consciência” de que precisam mudar sua

atitude em relação à família e dedicar mais tempo ao “cuidar de si”:

— “[...] a gente vai se envolvendo, se envolvendo e esquece da gente, mas eu sinto que

preciso fazê mais por mim” (P1).

— “[...] penso que eu não tiro um tempo pra mim, chega a noite eu tenho que dá banho e fazê

exercício no neto, e a mãe dele bem folgada, vê se ela não podia fazê, é importante pra ele, ele

tá muito agressivo” (P2).

— “[...] desde que casei sempre cuidando de casa, dos filho, do marido, mas nunca tirei

aquele tempo pra mim, penso, se eu fica doente será que elas vão cuidá de mim?” (P3).

A mulher, ao longo do tempo, adquiriu culturalmente a incumbência do cuidar. O

cuidar dos filhos, da casa, do marido, porém, ao mesmo tempo se excluiu desse cuidado, do

cuidado dela mesma e do deixar ser cuidada pelos outros. Há que se considerar que

geralmente as mulheres são vistas e tratadas apenas como provedoras do bem-estar da família

ou como meio de bem-estar dos outros, ou seja, “como mães e esposas, nunca como sujeitos

autônomos com demandas próprias” (Costa, 2006, p. 6).

As participantes P1 e P2 compartilharam do mesmo conflito em relação ao cuidado da

família, ao desejo de mudança e, ao mesmo tempo, a dificuldade e o sentimento de culpa:

— “[...] sinto que preciso deixá um pouco dos filho, dos neto, preciso ler mais, preciso sair

mais, a gente abandona tudo e fica em função de filho e isso é errado, é muita doação, mas

por outro lado a gente se sente culpada de não fazer” (P1).

— “[...] eu entendo, e se não fizé a gente se sente culpada” (P2).

63

— “[...] eu precisava de um dia só pra mim, não com as costa doendo, empurrando cadeira de

rodas, não que eu não goste dele...” (P2).

Em suas falas, as participantes acentuaram que nunca ou raramente se cuidaram, pois

o seu tempo é dedicado aos outros componentes da família. Isso confirma a constatação de

Oliveira (2003) de que, na lista de emprego do tempo da mulher, vem o cuidar dos filhos, dos

idosos, do companheiro, só não vem tempo para cuidar dela mesma, personagem secundária,

última coadjuvante de sua própria vida.

A participante P3 demonstrou intenção de “buscar soluções” para seguir a sua vida e

compartilhou com o grupo o seu desejo de mudança:

— “[...] agora eu tô costurando...” (P3).

— “[...] vai se bom pra mim, conhece pessoas, e oficina de costura, é assim mesmo, sempre

uma conversa diferente a gente tá ouvindo” (P3).

— “[...] mês que vem eu vou fazê inscrição na hidroginástica porque eu não tô podendo ficá

parada em casa, não quero ficá pensando...” (P3).

Na fala da participante ficou explícita a visualização de suas atitudes, a intenção em

mudar o seu cotidiano, envolvido em alguns momentos por sentimentos de desvalorização,

falta de atenção, doação e abdicação. Seguindo essa reflexão, o desvelamento crítico proposto

por Freire (2001), se fez presente.

Buscou-se trabalhar com as participantes a partir do que elas mesmas traziam de suas

histórias de vida e vislumbrou-se um repensar sobre elas mesmas. Acompanhando essa

reflexão foi possível realizar a educação problematizadora que, segundo Freire, está

fundamentada na criatividade e estimula uma ação e uma reflexão verdadeira da realidade.

64

A participante não será mais a mesma. Por menor que tenha sido sua transformação,

modificou-se. Sabe-se que algumas participantes não irão mudar sua história, seu cotidiano,

seu fazer sobre os acontecimentos, mas implicitamente aquela pessoa que iniciou na primeira

oficina conseguiu enxergar novos horizontes e se permitiu ter esse novo contato com a

realidade, um pensamento crítico. Nesse processo, algo se modificou.

Criação de vínculos

À medida que as oficinas foram ocorrendo, observou-se diminuição da timidez, do

medo, do distanciamento e do isolamento. Assim, aconteceram a aproximação, as trocas, a

intimidade entre o grupo e, conseqüentemente, a confiança do grupo na pesquisadora.

A participante P1, em uma atitude afetuosa e “solidária”, demonstrou seu desejo de

mudança na relação da colega com a família:

— “[...] fiz uma flor e com essa flor eu quero levá pra ela a saúde, o amor e a união, a saúde

em primeiro lugar porque você tem aquele neto com tanto problema e que Deus abençoe, que

ele melhore o mais possível, que haja amor também entre vocês e pra que haja muita união...

por toda a tua família” (P1).

Observou-se que a participante P1 se sentiu motivada em participar do grupo e de

encontrar outras pessoas com as mesmas condições, além de ter a oportunidade da troca de

experiência de vida, reflexão e mudança de comportamento:

— “[...] pra mim foi maravilhoso, foi muito bom vê que todas as pessoas têm problemas nesta

vida, umas mais outras menos, e com isso a gente aprende bastante, tem o exemplo de outras

65

pessoas, vê como agem, como fazem, e muita coisa às vezes uma palavra é suficiente pra

modificá o pensamento que a gente tem e que às vezes não é correto, e troca de ideia a

respeito do nosso problema...” (P1).

A convivência com outras pessoas que demonstram ter as mesmas dificuldades tornam

o grupo um espaço propício para a troca de experiências, incentivando a reflexão e o

aprendizado, levando a participante a realizar o processo de reconhecimento de sua realidade,

partindo do seu aqui e agora (Freire, 2001) e das relações estabelecidas no grupo.

— “[...] bom, eu aprendi muito porque, que nem a colega que fez a mesma cirurgia que eu fiz

e ela teve mais força que eu, que quase fiquei em depressão, e também com as colega que

passaram por momentos difíceis com a perda de alguém da família, aprendi muito mesmo

com vocês” (P4).

Em um grupo, cada sujeito reconhece o outro como diferenciado de si e ao mesmo

tempo relacionado com ele (Andaló, 2006). O grupo possibilitou maior interação entre as

participantes, criando espaço de escuta, conversa e “acolhimento”. Atendeu suas necessidades

de desabafarem, com outras pessoas, os problemas vivenciados no seu cotidiano, como é caso

da participante P2:

— “[...] foi inexplicável, eu consegui falá coisas da minha vida que não falo pra ninguém, me

abri com vocês, então cada um de vocês me ajudou bastante, foi muito importante pra mim”

(P2).

Luz (2001) afirma que boa parte dos atendimentos em ambulatórios da rede pública

relaciona-se a queixas de isolamento e que as atividades ditas “de saúde” compõem um

66

espaço de sociabilidade capaz de atender a demanda dessa população. Assim, o grupo se

concretiza como uma atividade de saúde, na qual existe não só um espaço de sociabilidade,

mas também de acolhimento, cuidado, de sentimento de pertença e a formação de rede social

(Tahan-Santos e Cardoso, 2008).

Observou-se que houve conquistas como sair de casa, fazer amizades, e mudanças de

comportamento a partir da “reflexão” sobre o cotidiano, como foi referido pela participante

P5:

— “[...] quando ela me convidou pra participá, eu andava meio desanimada porque a vida da

gente é só trabalha, trabalha... e eu me senti importante, é um compromisso, você sente como

se fosse um trabalho, te anima a saí de casa e vê outras pessoas, porque só em casa cansa”

(P5).

A autoconsciência inicia o processo de libertação através da consciência crítica sobre a

realidade, como preconiza Freire (1987). A participação no grupo possibilitou fortalecimento

do “vínculo” entre as participantes e a profissional envolvida, estimulou a participação e a

construção do conhecimento de modo compartilhado, favorecendo a cumplicidade e

solidariedade, conforme relatado por P3:

— “[...] pra mim também foi muito bom, eu não esqueço e fico aguardando ela me ligá,

aprendi muita coisa, a gente vai conversando, trocando ideia e se ajudando, se consolando, um

com a dor do outro... porque faz quatro mês que meu marido faleceu e não é fácil, sabe, mas

eu aprendi aqui que cada um tem a sua dor, o seu problema, cada uma passando por uma coisa

diferente, a gente sofre e aprende junto, né...” (P3).

67

Cabe ressaltar que um grupo educativo pode ser uma alternativa para auxiliar as

pessoas a resolverem problemas relacionados a eventos traumáticos decorrentes do

acontecimento de doença de natureza aguda e em especial crônicas, aos transtornos aditivos,

às incapacitações, às situações de causas existenciais e traumas (Zimerman, 1997).

Como revelam as falas de P3, P4 e P1, o grupo oportunizou a troca de saberes, a

reflexão acerca do entorno, o cuidado de si, a “amizade” concretizada, e isso leva a

desenvolver autoconfiança, autoestima e autonomia:

— “[...] a amizade que a gente fez durante esse tempo aqui eu nunca vou esquecê, por que já é

uma amizade, né?” (P3).

— “[...] assim como ela falou, eu penso que a gente tinha que continuá essa amizade que é tão

legal, sei lá eu penso que a gente podia saí uma tarde pra tomá um lanche no centro...” (P4).

— “[...] então o que vocês acham da gente trocá o número de telefone, pra não esquecê?”

(P1).

— “[...] que tal nós se reuni na data do nosso aniversário, acho que cada uma faz numa data

diferente da outra, eu faço em abril e vocês?” (P4).

O ponto de partida para a mudança deve estar sempre nos homens, no seu aqui e

agora, que constituem a situação em que se encontram (Freire, 2001). Somente partindo dessa

situação, que determina a percepção que eles têm, podem começar a atuar.

Refletindo sobre o processo de desenvolvimento do grupo, constatou-se que houve

fortalecimento das relações entre as participantes e a profissional envolvida. A expectativa foi

positiva em relação às oficinas e pode-se dizer o mesmo da profissional que, ao perceber essa

positividade, sentiu-se contribuindo na busca de uma melhor qualidade de vida para essas

pessoas.

68

Interessa acentuar que durante os encontros não se discutiu a dor, a doença. As

participantes se apresentaram pelo que são: mulheres, filhas, mães, avós, enfim, pessoas, pois

o grupo foi estruturado com uma proposta dialógica e isso reflete a metodologia escolhida, na

qual o foco não seria a doença e sim o reforço de ações comunitárias e habilidades pessoais,

fortalecendo as participantes para enfrentar as dificuldades que possam surgir na sua vida,

inclusive as relacionadas com a doença. Como o grupo estava em sua fase de constituição,

não houve necessidade de conciliar conflitos, mesmo porque eles não existiram.

Em seu método de educação problematizadora e emancipatória, Freire (2001) defende

a conscientização, a autonomia, que se apresenta como um processo em determinado

momento e deve continuar sendo processo no momento seguinte, durante o qual a realidade

transformada mostra um novo perfil, como enfatizam Angotti, Bastos e Mion (2001).

Os grupos de promoção de saúde constroem seus objetivos com o intuito de

potencializar as capacidades dos sujeitos, gerando mudanças de comportamento,

desenvolvimento da autonomia e enfrentamento de condições geradoras de sofrimento

(Santos et al., 2006). Nesse sentido, o grupo parece ter alcançado esses objetivos, pois as

participantes, superando a inibição inicial, conseguiram relatar e compartilhar situações

vividas que traduzem seus sentimentos de tristeza, opressão e culpa, e também muita

dificuldade em saber lidar com esses problemas por não terem uma visão mais crítica de sua

realidade.

O grupo teve como pressuposto a humanização no sentido emancipatório, associada à

proposta atual de educação em saúde que é baseada em Paulo Freire e sua educação dialógica

e problematizadora. Enfim, o grupo aqui proposto se configura como um espaço de

acolhimento, reflexão e busca de soluções, procurando, numa prática humanizada, uma ação

em saúde diferenciada que se aproxime da integralidade.

69

Considerações finais

A respeito do trabalho que se realizou com o grupo de mulheres no ambulatório de

fisioterapia, verificou-se a necessidade de aprimorar mais as práticas, rever questões

relacionadas à realização dos encontros, que poderiam ser promovidos quinzenalmente, como

as participantes solicitaram, pensar na possibilidade de ser um grupo aberto a outras pessoas e

reavaliar as dinâmicas, priorizando as demandas do grupo.

Analisando-se os resultados obtidos com o grupo, considera-se que foram alcançados

os objetivos propostos: identificar dificuldades e facilidades em relação à reinserção social,

favorecer a troca de experiências e a busca de soluções no próprio grupo, fortalecendo as

participantes para enfrentar as dificuldades que possam surgir, inclusive as relacionadas com a

doença.

Constatou-se que, no trabalho com o grupo de mulheres no ambulatório do Hospital de

Clínicas da UFPR, iniciou-se um processo de mudança da qualidade do atendimento,

inclusive em relação ao atendimento fisioterápico, interferindo positivamente e contribuindo

para potencializar os efeitos da fisioterapia convencional. Esses resultados emergiram de um

processo de educação em saúde e, por que não dizer, de ação social, no qual as participantes

refletiram acerca de suas próprias vidas por meio da interação com outros sujeitos. O diálogo

e a troca de experiência em grupo gerou pensamento crítico, favorecendo a construção da

capacidade pessoal e social, possibilitando a transformação de relações sociais e o

desenvolvimento da autoestima e da autonomia.

As oficinas propiciaram às participantes um novo olhar sobre a vida, um olhar mais

crítico e menos submisso. Elas se conscientizaram de que a mudança depende da pessoa que,

revendo seus valores, seus costumes, pode assumir sua autonomia e se tornar ativa na busca

de soluções para os problemas enfrentados no cotidiano.

70

Enfim, as oficinas realizadas nesses seis meses com encontros mensais descortinaram

um novo olhar para a vida de todos os envolvidos nesta pesquisa, confirmando a teoria de

Freire (1987, p. 78) de que “o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto

educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A respeito do trabalho que se realizou com o grupo de mulheres no ambulatório de

fisioterapia, verificou-se a necessidade de aprimorar mais as práticas, rever questões

relacionadas à realização dos encontros, que poderiam ser promovidos quinzenalmente, como

as participantes solicitaram, pensar na possibilidade de ser um grupo aberto a outras pessoas e

reavaliar as dinâmicas, priorizando as demandas do grupo.

A proposta de criação do grupo se fundamentou na metodologia problematizadora de

Paulo Freire, apropriando-se do círculo de cultura como proposta dialógica, na qual o foco

não seria a doença e sim o reforço de ações comunitárias e habilidades pessoais.

A escolha do grupo como apoio no processo de reabilitação fisioterápica se pautou na

visão do grupo como proposta de uma ação humanizada, como espaço para o acolhimento, a

reflexão e a busca de novas soluções, através da troca de experiências que proporcionou às

mulheres participantes, a chance de refletir e com isso ter um controle maior sobre as decisões

e atitudes que afetam suas vidas.

Ao iniciarmos as oficinas, as participantes se apresentavam tímidas, reservadas, com

dificuldade para se expressar, mas com o passar do tempo criou-se vínculo, cumplicidade e

solidariedade entre elas e a pesquisadora e isso fez com que sentissem confiança e segurança

para compartilhar suas experiências de vida.

Analisando-se os resultados obtidos com o grupo, considera-se que foram alcançados

os objetivos propostos: identificar dificuldades e facilidades em relação à reinserção social,

favorecer a troca de experiências e a busca de soluções no próprio grupo, fortalecendo as

participantes para enfrentar as dificuldades que possam surgir, inclusive as relacionadas com a

doença.

Constatou-se que no trabalho com o grupo de mulheres no ambulatório do Hospital de

Clínicas da UFPR, iniciou-se um processo de mudança da qualidade do atendimento,

inclusive em relação ao atendimento fisioterápico, interferindo positivamente e contribuindo

para potencializar os efeitos da fisioterapia convencional. Esses resultados emergiram de um

76

processo de educação em saúde e, por que não dizer, de ação social, no qual as participantes

refletiram acerca de suas próprias vidas por meio da interação com outros sujeitos. O diálogo

e a troca de experiência em grupo gerou pensamento crítico, favorecendo a construção da

capacidade pessoal e social, possibilitando a transformação de relações sociais e o

desenvolvimento da autoestima e da autonomia.

Segundo Freire (1987), processo e resultado podem ser concebidos como emergindo

de um processo de ação social, no qual os indivíduos tomam posse de suas próprias vidas pela

interação com outros indivíduos, gerando pensamento crítico em relação à realidade,

favorecendo a construção da capacidade pessoal e social e possibilitando a transformação de

relações sociais de poder. No pensamento crítico, os sujeitos passam a questionar a

redefinição de seus papéis perante os outros.

As oficinas propiciaram às participantes um novo olhar sobre a vida, um olhar mais

crítico e menos submisso. Elas se conscientizaram de que a mudança depende da pessoa que,

revendo seus valores, seus costumes, pode assumir sua autonomia e se tornar ativa na busca

de soluções para os problemas enfrentados no cotidiano.

Enfim, as oficinas realizadas nesses seis meses com encontros mensais descortinaram

um novo olhar para a vida de todos os envolvidos nesta pesquisa, confirmando a teoria de

Freire (1987, p.78) de que "o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto

educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa".

77

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ZIMERMAN, D. E.; OSÓRIO, L. C. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

83

ANEXOS

84

ANEXO 1:

Confirmação de recebimento de original

Revista Trabalho, Educação e Saúde

Keilla Kobayashi (RevTES) <[email protected]>

DATA: 19 de setembro de 2013

Prezados autores

Informamos que o original "A CONTRIBUIÇÃO DO GRUPO NA REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA” foi recebido pela revista Trabalho, Educação e Saúde para possível

publicação.

Conforme exposto nas normas editoriais, os originais são primeiramente avaliados pelos

editores, que julgam a adequação temática do texto à revista. Entraremos em contato assim

que concluirmos esta apreciação.

Agradecemos o seu interesse em publicar em nossa revista.

Atenciosamente,

Keilla Kobayashi

Editora Executiva

Revista Trabalho, Educação e Saúde

www.revista.epsjv.fiocruz.br

tel: (21) 3865-9850

fax: (21) 2560-8279

85

ANEXO 2: Aprovação do CEP / Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)

UNIVERSIDADE DO VALE DO

ITAJAÍ-UNIVALI / SANTA CATARINA

PROJETO DE PESQUISA

Titulo: O GRUPO NA REABILITACÃO FISIOTERÁPICA DE MULHERES EM PÓS-OPERATÓRIO DE OMBRO

Área Temática:Área 9. A critério do CEP.

Versão: 2

CAAE: 06291212.0.0000.0120

Pesquisador: Stella Maris Brum Lopes

Instituição: Universidade do Vale do Itajaí

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP Número do Parecer: 115.283Data da Relatoria: 28/09/2012

Apresentação do Projeto:

Este projeto, trata de uma dissertação de mestrado,parte do pressuposto que o grupo proporcionará condições as mulheres que a ele pertençam para enfrentamento de suas limitações físicas desencadeando melhora de sua autonomia e reinserção social. A partir do exposto os pesquisadores buscam desenvolver uma ação em saúde de maneira integral de fugir do modelo reducionista da prática cotidiana para alcançar uma intervenção mais eficaz. Visa propor uma tecnologia coletiva associada a prática fisioterápica valorizando as dimensões sociais e humanas, através da integralidade e promoção da saúde, identificados como princípios do Sistema Único de Saúde (SUS); deixando para trás uma prática profissional fragmentada estimulada pelo modelo hegemônico.Será realizada uma pesquisa qualitativa nos meses de outubro de 2012 à julho de 2013, com mulheres pós-operatório de ombro em período de reabilitação fisioterápica, num hospital universitário de Curitiba-Pr. A metodologia a ser utilizada será a formação de um grupo que se reunirá mensalmente para um círculo de cultura e troca de saberes. O método a ser utilizado para o trabalho em grupo será problematizador,utilizando a metodologia de Paulo Freire, reunindo um grupo de mulheres com objetivo de repensar sobre suas limitações, dores e situações de vida e construindo uma percepção mais crítica de sua realidade. Os sujeitos da pesquisa serão mulheres empós-operatório de ombro que realizam acompanhamento fisioterápico ambulatorial

no Hospital de Cínicas da UFPR. Escolhera o um grupo estimado de 06 a 08 mulheres na faixa etária de 40 a 50 anos, pós-cirúrgico tardio de ombro em tratamento fisioterápico ambulatorial há mais de seis meses que aceite participar de nossa pesquisa. Os pesquisadores afirmam que a abordagem utilizada permitirá um contato direto e prolongado com os sujeitos da pesquisa através de cinco oficinas que serão realizadas mensalmente, com duração de aproximadamente duas horas. Após cada oficina será feito a transcrição das fitas organizando os dados de maneira que poderão gerar conjuntos de idéias, seqüências de temas geradores e redes temáticas.

Objetivo da Pesquisa:

Objetivo Primário: Desenvolver um grupo de mulheres em pós-operário de ombro para potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, dando condições para melhor lidar com suas dores e limitações funcionais. Objetivo Secundário:

86

Identificar facilidades e dificuldades em relação a reinserção social no processo pós-operatório. Favorecer a troca de experiências e busca de soluções no próprio grupo. Analisar as possibilidades de inserção do grupo na rotina do ambulatório de fisioterapia.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ-UNIVALI / SANTA CATARINA

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

Os pesquisadores ressaltam que os riscos e desconfortos poderão ser de ordem pessoal,como constrangimento e inibição ao relatar a história de sua vida, pois a pesquisa envolve a troca de experiências das participantes no processo de desenvolvimento do grupo.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Como benefícios acreditam que no tratamento fisioterapêutico associado a grupo como uma estratégia valiosa para uma intervenção mais completa e um atendimento mais humanizado.Pois a abordagem do grupo poderá potencializar os efeitos dos recursos físicos utilizados na fisioterapia acentuando a melhora do quadro clínico dos pacientes e proporcionando um conhecimento maior sobre a doença e suas limitações funcionais e como lidar com tudo isso.Esta intervenção mais integral poderá proporcionar maior satisfação tanto ao profissional quanto ao usuário.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

Os objetivos propostos estão de acordo com a metodologia descrita. A pesquisa mostra-se relevante. Os riscos estão descritos, contudo os pesquisadores não explicam quais serão os encaminhamentos diante dos riscos apresentados. Descreve o cronograma das etapas do protocolo, sendo a etapa de coleta dos dados posterior a apreciação do comitê de ética em pesquisa. Apresenta o orçamento, o qual será financiado pelos próprios pesquisadores. A folha de rosto está assinada pela coordenadora do mestrado e pelo professor orientador. Apresenta o termo de anuência da instituição onde será executada a pesquisa. Apresenta o termo de aceite da orientação, identificando que o pesquisador responsável é o professor orientador.

Apresenta o TCLE, sobre o qual tecemos os seguintes comentários: -Está na forma de convite; -Explica ao sujeito a necessidade de rubricar a via na qual não consta o local para a assinatura do sujeito; -Esclarece os objetivos da pesquisa; -Define qual é a participação do sujeito na pesquisa, no qual está previsto a participação nas oficinas; -Esclarece que os sujeitos receberão a devolutiva a término de cada oficina; -Informa os riscos, contudo não explica quais serão os encaminhamentos diante dos mesmos; -Prevê a devolutiva dos dados, entretanto não está claro como será; -Ressalta os benefícios relacionados a realização da pesquisa; -Esclarece ao sujeito que não haverá nenhum tipo de compensação financeira por aceitar a participar do estudo;

-Informa que manterá sigilo sobre os dados e anonimato dos envolvidos; -Esclarece que a participação é voluntária, que o sujeito tem o direito de sair do estudo a qualquer momento sem qualquer prejuízo e sem necessidade de exposição de motivos; -Deixa claro que o sujeito poderá indagar ou esclarecer duvidas a qualquer momento, disponibiliza o telefone celular do pesquisador responsável e Orientadora. Recomendações:

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

O protocolo está adequado aos preceitos éticos previstos na Resolução CNS 196/96.

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Situação do Parecer:

Aprovado

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ-UNIVALI / SANTA CATARINA

Necessita Apreciação da CONEP:

Não

Considerações Finais a critério do CEP:

Recomenda-se manter o CEP informado, sempre que houver mudanças no protocolo, por meio de submissão para análise da Emenda de protocolo, bem como solicita-se apresentar o Relatório final até outubro de 2013 - Conforme Resolução CNS 196/96 VII. 13 cabe ao CEP: d) acompanhar o desenvolvimento dos projetos através de relatórios anuais dos pesquisadores.

ITAJAI, 04 de Outubro de 2012

Assinado por: Michele Thiesen

(Coordenador)

Endereço: URUGUAI 402/99998

Bairro: CENTRO CEP:88.302-202 UF: SC Município:ITAJAI

Telefone: (47)3341-7738Fax: (47)3341-7744

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ANEXO 3: Aprovação do CEP / Hospital de Clínicas da UFPR

HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - HCUFPR

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Elaborado pela Instituição Coparticipante

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: O GRUPO NA REABILITACÃO FISIOTERÁPICA DE MULHERES EM PÓS- OPERATÓRIO DE OMBRO

Pesquisador: Stella Maris Brum Lopes

Área Temática: Área 9. A critério do CEP.

Versão: 2

CAAE: 06291212.0.0000.0120

Instituição Proponente: Universidade do Vale do Itajaí

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 165.660

Data da Relatoria: 28/08/2012

Apresentação do Projeto:

Projeto de Mestrado da aluna da Univali Rosani Aparecida Chaves Recco, com orientação da Prof. Stella Maris Brum Lopes, da Univali, a ser realizado no serviço de Fisioterapia do HC-UFPR

Objetivo da Pesquisa:

Promover a realização do círculo de cultura, método desenvolvido pelo educado Paulo Freire, em 8 mulheres em fisioterapia de reabilitação pós cirurgia de ombro.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

ok

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Pesquisa simples, com n pequeno para um mestrado. Serão feitas 5 oficinas para estas mulheres, conforme método por Paulo Freire.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

OK

Recomendações: É obrigatório trazer ao CEP/HC uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi aprovado, para assinatura e rubrica. Após, xerocar este TCLE em duas vias, uma ficará com o pesquisador e uma para o participante da pesquisa.

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

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Projeto considerado aprovado.

HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - HCUFPR

Situação do Parecer:

Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:

Não

Considerações Finais a critério do CEP:

Diante do exposto, o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do HC-UFPR, de acordo com

as atribuições definidas na Resolução CNS 196/96, manifesta-se pela aprovação do projeto conforme

proposto para início da Pesquisa. Solicitamos que sejam apresentados a este CEP, relatórios

semestrais sobre o andamento da pesquisa, bem como informações relativas às modificações do

protocolo, cancelamento, encerramento e destino dos conhecimentos obtidos.

É obrigatório trazer ao CEP/HC uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi

aprovado, para assinatura e rubrica. Após, xerocar este TCLE em duas vias, uma ficará com o

pesquisador e uma para o participante da pesquisa.

CURITIBA, 07 de Dezembro de 2012

Assinado por:

Renato Tambara Filho

(Coordenador)

Endereço: Rua Gal. Carneiro, 181

Bairro: Alto da Glória CEP: 80.060-900UF: PR Município:CURITIBA

Telefone: (41)3360-1041Fax: (41)3360-1041 E-mail: [email protected]

90

APÊNDICES

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APÊNDICE 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você esta sendo convidada a participar da pesquisa: "O GRUPO NA REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA DE MULHERES EM PÓS-OPERATÓRIO DE OMBRO". O objetivo desta pesquisa é desenvolver um grupo para potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, dando a essas mulheres condições para melhor lidar com suas dores e limitações funcionais.

A pesquisa será realizada através de cinco oficinas com o grupo de mulheres que se encontram em tratamento no ambulatório de fisioterapia do Hospital de Clínicas da UFPR, e que aceitem participar. As informações prestadas serão analisadas e utilizadas somente para fins científicos sem identificação das participantes. As oficinas serão realizadas no período de outubro de 2012 à julho de 2013, com a duração de duas horas aproximadamente, com o dia e o horário a serem combinados entre você e a pesquisadora, fisioterapeuta Rosani Aparecida Chaves Recco, tendo como orientadora Stella Maris Brum Lopes.

Quanto aos aspectos éticos, informamos: a) os dados pessoais serão mantidos em segredo, e garantido o seu anonimato; b) os resultados desta pesquisa poderá ser divulgado em publicações científicas; c) a pesquisa trará benefícios ao atendimento prestado as mulheres do grupo, porque além

de potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, identificará facilidades e dificuldades em relação a reinserção social no processo pós-operatório, favorecerá trocas de experiências e busca de soluções no próprio grupo, possibilitará condições para o enfrentamento dos seus problemas, aumentando a confiança pessoal, reforçando as suas habilidades, promovendo bem estar e com isso melhora da qualidade de vida e recuperação mais rápida para retomarem a sua vida, da melhor maneira possível;

d) a pesquisa não traz riscos graves, por tratar-se de grupos, os riscos e desconfortos previstos poderão ser de ordem pessoal, como constrangimento e inibição pois a pesquisa envolve a exposição da experiência de vida das participantes no processo de desenvolvimento do grupo; e caso isso ocorra a pesquisadora se disponibiliza a prestar um atendimento individualizado.

e) você não terá direito à remuneração pela sua participação, ela é voluntária; f) a sua participação poderá ser interrompida a qualquer momento, com a comunicação ou

não à pesquisadora, sendo que isso não afetará a continuidade do seu tratamento no ambulatório; g) será realizada a devolutiva dos resultados para as participantes ao final da pesquisa

através de uma última oficina e também será entregue a instituição uma carta de agradecimento acompanhada de uma cópia da dissertação.

h) durante a participação se você tiver alguma dúvida ou reclamação sobre a sua participação na pesquisa favor entrar em contato com a pesquisadora no telefone 41-3256-3943 no período da manhã de segunda à sexta-feira, ou com a orientadora Stella ás terças e quartas-feiras em horário comercial no telefone (47) 3341-7932.

Ao aceitar fazer parte da pesquisa, rubrique todas as folhas e assine no final deste documento. As folhas serão rubricadas também pela pesquisadora, e na última página deverá constar a sua assinatura.

Este documento será preenchido em duas vias. Uma via é do participante e a outra é da pesquisadora responsável.

Assinatura da pesquisadora: ___________________________________

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Rosani Aparecida Chaves Recco

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, _____________________________________________________________, RG.: ____________________________, CPF: ____________________________, abaixo assinado, concordo em participar da presente pesquisa como sujeito. Fui devidamente informada e esclarecida sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Estou ciente que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento / assistência / tratamento. Local e data: ___________________________________________________ Nome: ________________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável: ______________________________ Telefone para contato: ___________________________________________ Pesquisadora Responsável: Rosani Aparecida Chaves Recco e-mail: [email protected] Telefone para contato: 41-3256-3943 Assinatura: _____________________________________________________ Orientadora: Stella Maris Brum Lopes e-mail: [email protected] Telefone para contato: 47-3341-7932 Assinatura: _____________________________________________________

93

APÊNDICE 2 : Termo de Anuência de Instituição Coparticipante para coleta de dados de

pesquisa envolvendo seres humanos.

TERMO DE ANUÊNCIA DE INSTITUIÇÃO CO-PARTICIPANTE PARA COLETA DE DADOS DE PESQUISAS

ENVOLVENDO SERES HUMANOS.

Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares e como

esta instituição tem condições para o desenvolvimento do projeto de pesquisa O GRUPO NA

REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA DE MULHERES EM PÓS-OPERATÓRIO DE OMBRO, autorizo sua

execução pela pesquisadora ROSANI APARECIDA CHAVES RECCO.

HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UFPR.

UNIDADE MULTIPROFISSIONAL - UNIMULT

SERVIÇO DE MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO.

________________________ _______________________

Maria Luiza Vautier Teixeira Claudia Pessoa Bonfim

Gerente UNIMULT Sup. Técnica SMFR

HC/UFPR - Mat.139971 HC/UFPR - Mat.141542

Curitiba, 06 de Julho de 2012

94

APÊNDICE 3 : Tecnologia de suporte para o atendimento fisioterápico: grupo de convivência.

TECNOLOGIA DE SUPORTE PARA O ATENDIMENTO FISIOTERÁPICO: GRUPO DE CONVIVÊNCIA.

1.INTRODUÇÃO Este artigo visa apresentar uma tecnologia social conforme proposta pelo Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da UNIVALI. A ação desenvolvida foi realizada no ambulatório de fisioterapia do Hospital de Clínicas de Curitiba. Segue o modelo de formulário para registro desse tipo de tecnologia, neste formulário temos como partes constitutivas: preâmbulo, relatório descritivo, figuras e reivindicações. Assim, apresentamos a proposta de atuação em grupo em ambulatório de fisioterapia no ambiente hospitalar. Esta atuação foi proposta na dissertação de mestrado sendo parte da dissertação intitulada: O grupo na reabilitação fisioterápica de mulheres em pós-operatório de ombro. 2.PREAMBULO Historicamente a fisioterapia tem uma essência curativa e reabilitadora, surgiu no Brasil em 1929, com a criação do primeiro curso técnico na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, devido ao grande número de portadores de poliomielite com seqüelas no aparelho locomotor e aumento de acidentes de trabalho (PEREIRA, ALMEIDA, 2006). O Fisioterapeuta tem uma formação direcionada para a doença, e é visto como profissional da reabilitação, ou seja, aquele que atua exclusivamente quando a doença, lesão ou disfunção já foi estabelecida (GALLO, 2005). A inserção da fisioterapia na rede pública de saúde vem reproduzindo a lógica da profissão, pois apresenta sua origem e evolução marcadas pela reabilitação. A própria origem da fisioterapia enfatizou e dirigiu as definições do campo profissional para atividades recuperativas, reabilitadoras e atenuadoras de um organismo que se encontra em más condições de saúde (RIBEIRO, 2002; REBELATTO; BOTOMÉ, 1987). Na década de 90 a fisioterapia cresceu em relação ao status profissional e ampliou suas especializações e seu campo de atuação, o que, no entanto ocorreu no nível terciário de atenção e sob a lógica privatista da assistência. Esses fatores tem dificultado a ampliação do campo de atuação da fisioterapia, em virtude do inadequado perfil profissional para a atuação em outros níveis. Silva e Da Ros (2007) chamam a atenção para a limitada compreensão, por parte de profissionais e estudantes, das possibilidades de atuação do fisioterapeuta na atenção básica. Refletindo sobre a integralidade no atendimento clínico fisioterápico , aponta-se a clínica ampliada como uma possibilidade de atuação no processo de reabilitação. A clínica ampliada exige dos profissionais de saúde, um exame permanente dos próprios valores, o compromisso ético com o usuário deve levar o serviço a ajudá-lo a enfrentar ou perceber, estas causalidades externas e as influências no seu quadro de saúde das teias de poderes e micro poderes em que ele esta inserido. A clínica ampliada propõe que o profissional de saúde desenvolva a capacidade de ajudar as pessoas não só combater as doenças, mas a se transformarem, de forma que a doença, mesmo sendo um limite, não as impeça de viver outras coisas na vida. Uma clínica que tenha uma compreensão ampliada do processo saúde-doença e que tomem como objeto de ação sujeitos singulares que vivenciam determinado sofrimento, agravo e (ou) doença demanda um atendimento integral e, muitas vezes, a elaboração de projetos terapêuticos específicos que busquem qualificar as respostas às necessidades dos usuários (CUNHA, 2004).

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Faz-se necessário buscarmos qualificar a intervenção sobre o sofrimento e a doença e valorizar o encontro do trabalhador-usuário como um espaço de produção partilhada de relações e de intervenções e em que há um jogo entre necessidades dos usuários e ou modos tecnológicos do agir em saúde (MERHY, 2000). O protocolo proposto busca a construção de uma prática integral no ambulatório de fisioterapia de um hospital universitário de Curitiba-Pr. ,realizado com mulheres em processo de reabilitação fisioterápica pós-operatória de ombro por estas apresentarem dor, limitação funcional e diminuição da auto-estima que acabam interferindo negativamente em sua recuperação, e em nossa prática profissional notamos também entre algumas destas mulheres um movimento, conversas paralelas, trocas de experiência e sentimentos que as fortalecem e faz com que não desistam do tratamento apesar das dificuldades pessoais vivenciadas por elas. Em nossa rotina profissional acompanhamos o quanto esta situação de estarem afastadas do trabalho não podendo exercer suas habilidades profissionais e domésticas em família e a insegurança financeira e mesmo a dor e limitação dos movimentos comprometem este ser. A prática desenvolvida objetivou possibilitar a essas mulheres condições para o enfrentamento dos seus problemas, aumentando a confiança pessoal, reforçando suas habilidades, promovendo bem estar e com isso melhora da qualidade de vida e recuperação mais rápida para retomarem a sua vida, da melhor maneira possível. Segundo Merlo et al.(2001) a presença de uma doença repercute na vivência familiar, laboral e social. Relatam que essas repercussões podem ser observadas nos pacientes com esforço repetitivo os quais podem expressar sentimentos de desvalia e insegurança. Os grupos são uma intervenção coletiva e interdisciplinar concebidos como instrumentos a serviço da autonomia, autocuidado dos usuários e do desenvolvimento contínuo do nível de saúde e das condições de vida, fundamentado no conceito positivo de saúde. Constroem seus objetivos com o intuito de potencializar as capacidades dos sujeitos, gerando mudanças de comportamento desenvolvimento da autonomia e enfrentamento de condições geradoras de sofrimento (SANTOS et al.; 2006, FURLAN e CAMPOS, 2010). Barbosa et al.(2010) relatam, que a fisioterapia vem sendo estimulada a montar grupos de acordo com a demanda de cada Estratégia de Saúde da Família porém, o maior desafio é a formação assistencialista do profissional para as práticas de saúde coletiva, dificultando o acolhimento e a organização das ações, sendo os trabalhos em grupos operativos trocados por atendimento individual, não permitindo a prática integral à comunidade, e atenção a esse fator deve ser dada, mudando a visão da fisioterapia. Entende-se que os profissionais de saúde precisam refletir em que medida podem oferecer novas propostas de tratamento mais humanizado e sintonizado com as demandas subjetivas das pessoas. As intervenções em grupo têm sido utilizadas com freqüência em diversas áreas da fisioterapia (FONTES, 1996). A prática clínica da fisioterapia parece estar mais associada ao agrupamento propriamente dito. Zimerman (1997) destaca que o agrupamento caracteriza-se por um conjunto de pessoas que partilha de um mesmo espaço e tem interesses comuns, podendo vir a tornar-se grupo. A passagem de um agrupamento a um grupo, segundo o autor, resultaria da transformação de interesses comuns em interesses em comum, isto é, os integrantes de um grupo reúnem-se em torno de uma tarefa e de um objetivo comum ao interesse de todos (ZANELLA, 2001). O grupo pode estimular relações sociais por aumentar a rede social, troca e construção de novos saberes, e ainda favorecer a autoestima, a coerência e o sentido da vida e possibilitar transformações na relação do poder (ZIMERMAN, 1997). As autoras Siqueira e Queiroz (2001) fizeram o uso de dinâmicas grupais e essa abordagem possibilitou, além da recuperação física do paciente maior compreensão social do problema, que extrapolou os efeitos da clínica tradicional e se estendeu a outros aspectos da vida dessas pessoas.

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3. Relatório descritivo Objetivo do grupo: desenvolver um grupo para potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, dando a essas mulheres condições para melhor lidar com suas dores e limitações funcionais. Composição do grupo: O grupo constitui-se de uma reunião de mulheres pós-operatório de ombro que estejam em tratamento fisioterápico há mais de seis meses e que aceitem fazer parte destes encontros. Organização do grupo: Grupo de frequência mensal, realizado em uma sala do ambulatório de fisioterapia, localizado no 7º andar do anexo B, a duração aproximada é de 2 horas, com a participação de no mínimo 2 mediadores (no caso fisioterapeutas) . Um é facilitadora que faz a mediação do grupo e o segundo atua no papel de observador, auxiliando no registro dos dados. Entre um encontro e outro era feita a análise do material, e a partir desta análise e do tema elencado montava-se uma dinâmica de grupo que pudesse auxiliar na discussão do tema. Proposta: Esta proposta foi balizada no método de Paulo Freire através do "círculo de cultura " que traz o desvelamento do mundo vivido. A consciência emerge do mundo, objetiva-o, problematiza-o como projeto. Todos juntos em círculo, e em cooperação, reconstroem através do diálogo, a consciência como prática da liberdade (FREIRE,2008). Etapas do grupo: Preparação do ambiente: Oficinas em sala previamente reservada no ambulatório de fisioterapia, preparada com as cadeiras em forma de círculo. Esta proposta baseada no método de Paulo Freire "um lugar onde todos têm a palavra , onde todos lêem e escrevem o mundo [...]espaço de trabalho, pesquisa, exposição de práticas, dinâmicas, vivências que possibilitam a construção coletiva do conhecimento" (LINHARES,2008,p.1014). Entende-se que a roda facilita a expressão e vinculação entre os membros do grupo. A proposta de formar o círculo foi feita para que todas se olhassem, se vissem e estivessem numa relação de igualdade, na qual não há detentor do saber, mas um animador de discussões que, de forma solidária, participa de uma atividade comum em que todos ensinam e todos aprendem. Assim, o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos de pensar (BRANDÃO, 2005). Primeira oficina: oficina com tema definido: identidade /apresentação, para que as participantes possam se conhecer melhor e haver uma aproximação do grupo. A partir desta oficina os temas serão decididos em conjunto com o grupo. Inicialmente foi proposta uma atividade para favorecer a aproximação entre as participantes por meio de uma dinâmica de reflexão da história de vida, chamada história do nome. A intenção foi fazer uma apresentação de forma descontraída. Foram distribuídos folhas em branco, lápis de cor, canetinhas e giz de cera e solicitou-se às participantes que escrevessem seu nome e desenhassem uma imagem a elas relacionadas, utilizando sua criatividade. Foi solicitado também para que lembrassem quem escolheu o seu nome (MORENO,1972). As metodologias participativas que utilizam recursos lúdicos são estratégias que possibilitam e facilitam a vivência de sentimentos e percepções sobre determinados fatos ou informações. Refletir sobre eles, ressignificar conhecimentos e valores possibilitam ao grupo visualizar possibilidades de

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mudanças a partir da construção de novas práticas e conhecimentos. “Refletir sobre a identidade permite que os homens se percebam como tendo um maior controle sobre suas vidas” (SILVA, 2011, p. 34). Em relação à prática desenvolvida, Lane (1995) afirma que uma das funções do grupo é definir papéis e a identidade dos indivíduos de forma a garantir sua produtividade e mudança social. As oficinas acontecem em três momentos: 1º: Aquecimento/Acolhimento (boas vindas, quebra gelo, conversa informal). 2º: Grupo ( expectativas, temas, funcionamento das dinâmicas). 3º: Fechamento (avaliação de cada participante sobre o encontro, faltas, discrição, compromisso). Durante as oficinas as participantes são estimuladas ao diálogo, a discussão e a troca de experiências, de uma forma lúdica através de dinâmicas e o profissional em questão (fisioterapeuta)deve ser o mediador tomando o cuidado para não impor suas ideias pré-existentes. As dinâmicas de grupo mostraram-se eficazes para problematização dos temas, como apontado no Caderno do NASF (Brasil,2014,p 68) as dinâmicas possibilitam reflexões que “ visam trazer ao debate temas diversos, como crenças e noções dos participantes a respeito de algo, sobre a forma como o grupo se comporta ou mesmo sobre o comprometimento e as expectativas com os resultados da atividade. Esses momentos podem ser propícios para o autoconhecimento, reflexões coletivas ou difusão de informações sobre algum tema específico”. Sempre na oficina em sequência se relembrava o que foi trabalhado na oficina anterior e a partir disto iniciava-se o trabalho com o tema elencado, sempre através de uma dinâmica que auxiliava na problematização dos temas. No terceiro momento na fase de encerramento, busca-se sintetizar as discussões e promover uma avaliação das atividades do dia.