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A USUCAPIO EXTRAJUDICIAL APS A LEI 13465/2017 E A ESCRITURA DE JUSTIFICAO NOTARIAL
**Letcia Franco Maculan Assumpo
INTRODUO
Em 16 de maro de 2015 foi sancionado o novo Cdigo de Processo Civil -
CPC, que entrou em vigor aps decorrido 1 (um) ano da sua publicao oficial,
ou seja, no dia no dia 17 de maro de 2016.
O novo Cdigo deu grande realce ata notarial, ao qual dedicou uma Seo,
no Captulo XII, correspondente s provas. Alm disso, o art. 1.071 da Lei
13.105/2015, que contm o novo CPC, tambm inseriu na Lei de Registros
Pblicos (Lei 6.015/73) o art. 216-A, que trata da usucapio extrajudicial,
procedimento para o qual a ata notarial o primeiro e essencial requisito.
Na redao original do art. 216-A, da Lei de Registros Pblicos, o procedimento
da usucapio extrajudicial era excessivamente tmido e trazia algo que chegava
a gerar estranheza: gerava presuno de discordncia a falta de manifestao
do proprietrio do imvel usucapiendo ou do imvel confrontante, gerando a
mesma presuno a falta de manifestao do titular de direitos reais sobre os
referidos imveis.
No Dirio Oficial da Unio do dia 12 de julho de 2017 foi publicada a Lei n
13.465, de 11 de Julho de 2017, que trouxe soluo para diversos problemas
que j tinham sido identificados na usucapio extrajudicial, alterando a redao
de incisos e pargrafos do art. 216-A da Lei de Registros Pblicos.
Cabe aos intrpretes analisar essas alteraes e concretizar a lei, de forma que
o cidado consiga, registrar a propriedade, com todas as consequncias legais
e prticas, evitando transmisses margem do registro, garantindo a
segurana jurdica, valorizando o seu patrimnio e tendo acesso a crdito
bancrio em condies especiais.
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.465-2017?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.465-2017?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.465-2017?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.465-2017?OpenDocument
I - A ATA NOTARIAL
A Lei dos Notrios e Registradores, Lei 8.935/94, que veio regulamentar o art.
236 da Constituio da Repblica, foi a primeira lei brasileira que mencionou a
ata notarial, em seu art. 7, III, mas a referida lei no esclareceu melhor sobre
os usos desse instrumento notarial:
Art. 7 Aos tabelies de notas compete com exclusividade:
I - lavrar escrituras e procuraes, pblicas; II - lavrar testamentos pblicos e aprovar os cerrados; III - lavrar atas notariais; IV - reconhecer firmas; V - autenticar cpias. (sem grifos no original)
O Cdigo de Processo Civil - CPC, Lei n 13.105/2015, aprofundou o
tratamento legislativo dado ata notarial, dando-lhe grande realce, tendo
reservado ata uma Seo, no Captulo XII, correspondente s provas,
esclarecendo o seguinte:
Seo III - Da Ata Notarial Art. 384. A existncia e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelio. Pargrafo nico. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrnicos podero constar da ata notarial. (sem grifos no original)
Observe-se a expressa meno ao arquivo eletrnico, imagem e ao som pelo
CPC, o que leva em conta a realidade tecnolgica atual, bem como a questo
da comunicao, que vem se dando cada vez mais por meios eletrnicos.
A ata notarial o instrumento, dotado de f pblica e de fora de prova pr-
constituda, em que o tabelio, seu substituto ou escrevente, a pedido de
pessoa interessada, constata fielmente os fatos, as coisas, pessoas ou
situaes para comprovar a sua existncia ou o seu estado, definio essa
constante do art. 234 do Cdigo de Normas do Extrajudicial de Minas Gerais
(Provimento n 260 da Corregedoria-Geral de Justia de Minas Gerais) e que
est totalmente de acordo com a previso do CPC.
No referido Cdigo de Normas do Extrajudicial foram exemplificados alguns
dos objetos que as atas notariais podem ter:
Pargrafo nico. A ata notarial pode ter por objeto:
I colher declarao testemunhal para fins de prova em processo administrativo ou judicial; II fazer constar o comparecimento, na serventia, de pessoa interessada em algo que no se tenha realizado por motivo alheio sua vontade; III fazer constar a ocorrncia de fatos que o tabelio de notas ou seu escrevente, diligenciando em recinto interno ou externo da serventia, respeitados os limites da circunscrio nos termos do art. 146 deste Provimento, ou em meio eletrnico, tiver percebido ou esteja percebendo com seus prprios sentidos; IV averiguar a notoriedade de um fato.
Considerando a fora atribuda pelo CPC ata notarial, sua importncia e uso
em processos judiciais e administrativos inequvoca, j tendo sido facultado
pelos juzes a oitiva de testemunhas por meio de ata notarial, o que
extremamente til para dar celeridade ao processo, mas chega a ser essencial
no caso de pessoas que tm dificuldade de locomoo ou residem em local
distante da sede da comarca - ou mesmo em outra comarca, o que evita cartas
precatrias -, ou no caso daquelas com sade frgil e cujo depoimento poderia
ser inviabilizado no caso de demora na fixao de data para a audincia
judicial.
Na ata notarial o notrio no narra o fato conforme a vontade do requerente;
pelo contrrio, dever ele ser absolutamente imparcial na narrao, sendo fiel
ao que est presenciando, limitando-se a descrever o que captar por meio dos
seus sentidos. essencial que os tabelies atuem neste ato de forma
totalmente imparcial, porque exatamente em razo da imparcialidade que a
ata notarial tem a sua fora probante reconhecida pela lei.
Atente-se para o fato de que o requerente pode deixar de assinar a ata e que
isso no a torna invlida, porque a ata na realidade um instrumento que
contm a declarao do tabelio sobre fato que ele apreendeu com seus
sentidos. Assim, a circunstncia de o requerente, por no ter ficado satisfeito
com o resultado da ata ou por qualquer outro motivo, deixar de assin-la, no
relevante para o referido ato.
Assim, a principal distino entre a escritura pblica em sentido estrito e a ata
notarial1 est na existncia ou no de manifestao de vontade a ser captada
das partes e moldada juridicamente pelo notrio. Na escritura em sentido
estrito, o tabelio recebe a manifestao de vontade das partes e a qualifica
juridicamente, assessorando as partes, orientando-as quanto ao melhor
instrumento para alcanar o seu objetivo e redige a escritura conforme a
vontade das partes, que, assinando-a, acolhem o texto, que se torna seu. Por
isso a falta de assinatura na escritura pblica leva ao seu cancelamento, que,
em Minas Gerais, conforme o Cdigo de Normas do Extrajudicial, ocorre aps
decorrido o prazo de 7 (sete) dias teis2.
J na ata notarial no h manifestao de vontade das partes, h apenas o
requerimento de uma pessoa no sentido de que seja lavrada uma ata notarial,
na qual o tabelio to somente narrar um fato presenciado e apreendido pelos
seus sentidos, sem qualificao jurdica do fato, sem mold-lo juridicamente.
Os atos notariais e de registro devem ser cobrados anteriormente sua prtica,
para que no haja risco de ser realizado o trabalho e de no serem recebidos
os emolumentos. Assim, a cobrana deve ser feita no momento da sua
solicitao, conforme previso do art. 2, 13, da Lei Mineira n 15.424/2004, o
1 A ata notarial tambm uma escritura pblica em sentido lato, ou seja, no sentido de ser um
escrito produzido em tabelionato de notas. 2 O Provimento n 260/CGJ-MG, estabelece o seguinte quanto ao prazo para lavratura e
assinatura do instrumento pbico notarial: Art. 154. No sendo possvel a lavratura imediata do instrumento pblico notarial, o tabelio de notas, conforme acordado com o solicitante, designar dia e hora para sua leitura e assinatura, devendo os emolumentos e a TFJ ser pagos pelo interessado quando do requerimento. 1. Decorridos 7 (sete) dias teis da sua lavratura, o instrumento pblico notarial no assinado por todos ser declarado sem efeito, no sendo devida qualquer restituio de emolumentos ou de TFJ por parte do tabelio de notas, tendo em vista a regular prtica do ato no que concerne s atribuies do tabelio. sem grifos no original 2. Sendo necessrio novo instrumento pblico notarial em virtude de ter sido o anterior declarado sem efeito por falta de assinatura no prazo previsto no pargrafo primeiro deste artigo, o solicitante dever arcar com os custos para sua lavratura. 3 Art. 2 - Os emolumentos so a retribuio pecuniria por atos praticados pelo Notrio e pelo
Registrador, no mbito de suas respectivas competncias, e tm como fato gerador a prtica de atos pelo Tabelio de Notas, Tabelio de Protesto de Ttulos, Oficial de Registro de Imveis,
que salutar principalmente no caso da ata notarial, pois o resultado pode no
agradar ao requerente.
II A ATA NOTARIAL PARA FINS DE USUCAPIO JUDICIAL OU
EXTRAJUDICIAL4
A ata notarial foi reconhecida pelo CPC como instrumento, dotado de f pblica
e de fora de prova pr-constituda