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VERA DE FÁTIMA PAULA ANTUNES A UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL EXTERNA DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ÂMBITO DO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR) EM MUNICÍPIOS SUL-MATO-GROSSENSES (2007-2010) UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE - MS 2012

a utilização dos resultados da avaliação institucional

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  • VERA DE FTIMA PAULA ANTUNES

    A UTILIZAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO INSTITUCIONAL EXTERNA DA EDUCAO BSICA NO

    MBITO DO PLANO DE AES ARTICULADAS (PAR) EM MUNICPIOS SUL-MATO-GROSSENSES (2007-2010)

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE - MS

    2012

  • VERA DE FTIMA PAULA ANTUNES

    A UTILIZAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO INSTITUCIONAL EXTERNA DA EDUCAO BSICA NO

    MBITO DO PLANO DE AES ARTICULADAS (PAR) EM MUNICPIOS SUL-MATO-GROSSENSES (2007-2010)

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao Mestrado e Doutorado em Educao da Universidade Catlica Dom Bosco, como parte dos requisitos para obteno do grau de Mestre em Educao.

    rea de Concentrao: Educao

    Orientadora: Regina Tereza Cestari de Oliveira

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE - MS

    2012

  • A UTILIZAO DOS RESULTADOS DA AVALIAO

    INSTITUCIONAL EXTERNA DA EDUCAO BSICA NO MBITO DO PLANO DE AES ARTICULADAS (PAR) EM

    MUNICPIOS SUL-MATO-GROSSENSES (2007-2010)

    VERA DE FTIMA PAULA ANTUNES

    REA DE CONCENTRAO: EDUCAO

    BANCA EXAMINADORA:

    CAMPO GRANDE, 28 DE AGOSTO DE 2012.

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO UCDB PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO MESTRADO E DOUTORADO

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho minha me Maria

    Mattos de Paula e ao meu pai Porfirio

    Gonalves de Paula, in memorian, pela forma

    como me educaram, o que permitiu, nesta fase

    da minha vida, que eu conclusse este trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Obrigada Senhor Deus, porque Tu s bom e a sua misericrdia dura para sempre! minha famlia em geral, que mutuamente colaborou na conquista deste trabalho. Em especial: Minha filha Vanessa, pela presena constante, pela companhia e dilogos que

    muito me enriqueceram e permitiram que eu chegasse at aqui. ela todo o meu amor; Ao meu filho Vanderson e querida nora Ticiana, que nesta caminhada me

    ajudaram a superar obstculos e a experimentar e sentir o amor de Av, com a chegada dos amores da minha vida Thamara, Felipe e Guilherme. Obrigada meu filho, te amo muito;

    As minhas irms e amigas, pelo convvio e fortalecimento nos momentos de fraqueza, e, em especial, irm Maria Aparecida de Paula;

    Ao meu companheiro Antunes, pela presena cotidiana em minha vida, e, por compreender as minhas ausncias nos muitos finais de semana.

    Durante o curso do Programa de Mestrado em Educao, contei com a colaborao de profissionais da educao. Meus agradecimentos :

    Secretria de Estado de Educao Maria Nilene Badeca da Costa, pela confiana em mim depositada;

    Presidente do Conselho Estadual de Educao Maria Lusa Marques de Oliveira Robaldo, que me encorajou para que eu freqentasse o Mestrado;

    Eliza Emilia Cesco, que sempre me incentivou para que eu chegasse at aqui; Arlete Hodgson, pelos ensinamentos, carinho e generosidade, que sempre me

    dispensou; Maria de Lourdes da Silva Marques, pela ajuda nos conhecimentos da rea da

    informtica; Therezinha Braz, pelo estmulo e ajuda; Secretria Municipal de Educao e assessora Especial de Gabinete do Municpio

    de Campo Grande, pela colaborao clara e precisa na pesquisa; Secretria Municipal de Educao e Coordenadoras Pedaggicas do municpio de

    Coxim, pela presteza das informaes que foram fundamentais para a pesquisa, e ainda pela calorosa acolhida.

    Na organizao, elaborao e finalizao deste trabalho, pude contar com as orientaes slidas e competentes da minha professora e orientadora Regina Tereza Cestari de Oliveira, das professoras Mariluce Bittar e Maria Aparecida de Souza Perelli e do professor Jefferson Carriello do Carmo, que com exigncias e determinaes prprias de quem conhece a pesquisa, solidificaram os meus conhecimentos e foram fundamentais pela concluso desta Dissertao.

    Banca Examinadora composta pelo Professor Doutor Carlos Roberto Jamil Cury, pelo aceite em participar deste trabalho, pelos ensinamentos e conhecimentos que obtive, quando da participao em encontros do Conselho Nacional de Educao, em fruns nacionais e estadual de educao, e, principalmente, pelas valiosas contribuies a este trabalho, cuja clareza, compromisso e saber muito contriburam para a compreenso da poltica avaliativa e do regime federativo do Brasil, e Professora Doutora Mariluce Bittar, pela orientao segura e detalhada do trabalho, que foram fundamentais para a sua concluso.

    s companheiras Maria Edinalva do Nascimento, Carmem Lgia Caldas, Jassonia Paccini, Dbora Nepomuceno e Wanessa Odorico, pela convivncia e troca de conhecimentos no decurso do Mestrado em Educao da UCDB.

  • ANTUNES, Paula Vera de Ftima, A utilizao dos resultados da avaliao institucional externa da educao bsica no mbito do Plano de Aes articuladas (PAR) em municpio sul-mato-grossenses, Campo Grande 2012. 136 p. Dissertao (Mestrado) Universidade Catlica Dom Bosco.

    RESUMO

    O objetivo desta Dissertao analisar como os gestores dos municpios de Campo Grande e Coxim, localizados no Estado de Mato Grosso do Sul, utilizam os resultados da avaliao externa, de modo especfico, no mbito do Plano de Aes Articuladas (PAR). Est inserida no projeto denominado Gesto das Polticas Educacionais: o impacto do Plano de Aes Articuladas (PAR) em Municpios Sul-Mato-Grossenses, vinculado ao Grupo de Pesquisa Polticas Pblicas e Gesto da Educao e Linha de Pesquisa Polticas Educacionais, Gesto da Escola e Formao Docente, do Programa de Ps-Graduao em Educao Mestrado e Doutorado da UCDB. Os objetivos especficos so: a) verificar o processo de elaborao e execuo do PAR nos municpios de Campo Grande e Coxim, MS; b) identificar as estratgias definidas pelos municpios, na Dimenso Gesto Educacional, para a efetivao de aes articuladas, segundo as demandas apontadas pelo diagnstico do PAR; c) investigar as aes definidas pelos municpios de Campo Grande e Coxim no Plano de Aes Articuladas (PAR), para divulgao e anlise dos resultados da avaliao externa; d) verificar, em que medida, os gestores desses municpios se apropriam desses resultados para o planejamento pedaggico de suas redes de ensino. A metodologia compreende a anlise de documentos oficiais destacando-se o Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) e o PAR elaborado pelos municpios; a realizao de entrevistas de carter semiestruturado, com a Secretria Municipal de Educao e os responsveis pelo PAR desses municpios. A sistematizao e anlise dos dados evidenciaram que: o municpio de Coxim, diferente do municpio de Campo Grande, inseriu na Dimenso Educacional do PAR o Indicador relacionado Divulgao e Anlise dos resultados das avaliaes oficias do MEC; os dois municpios limitaram-se a informar os resultados da avaliao externa comunidade escolar; ambos propuseram aes voltadas para a avaliao dos resultados de desempenho dos alunos, por meio da introduo de exames simulados e preparao dos professores, segundo a metodologia da Prova Brasil, reproduzindo assim os instrumentos nacionais; e que a forma como esses resultados so divulgados, vem intensificando a perspectiva de responsabilizao dos resultados pelas escolas. Conclui-se que os resultados das avaliaes externas no tm sido utilizados pelos municpios como aprimoramento para o planejamento de aes sistematizadas e permanentes, que incentivem a melhoria da qualidade de ensino de suas redes, para alm dos resultados de desempenho dos alunos.

    Palavras-chave: Poltica Educacional. Plano de Aes Articuladas (PAR). Avaliao Externa da Educao Bsica.

  • ANTUNES, Paula Vera Fatima, the uptake of external institutional evaluation of basic education under the Action Plan articulated (PAR) in the municipality of Mato Grosso do Sul, Campo Grande 2012. 136 p. Dissertation (Master) Universidade Catlica Dom Bosco - Catholic University.

    ABSTRACT

    The goal of this dissertation is to analyze how the managers of the municipalities of Campo Grande and Cochin, located in the State of Mato Grosso do Sul, using the results of external evaluation, specifically, under the Joint Action Plan (RAP). Is inserted in the project "Management of Educational Policies: The Impact of the Joint Action Plan (RAP) in Municipalities of Mato Grosso do Sul", linked to the research group "Public Policy and Management Education" and the Research Line "Policy Education, School Management and Teacher Training ", the Graduate Program in Education - Masters and Doctorate of UCDB. The specific objectives are: 1. verify the process of elaboration and implementation of PAR in the municipalities of Campo Grande and Cochin, MS, 2 - identify the strategies set by the municipalities, the Dimension Educational Management, for the realization of joint actions, according to the demands identified by the diagnosis of PAR, 3 - investigate the actions set by the municipalities of Campo Grande and cushion the Joint Action Plan (RAP) for dissemination and analysis of results of external evaluation, and 4 - to check to what extent, the managers of these municipalities take ownership of these results for planning teaching of their school systems. The methodology includes the analysis of official documents highlighting the Education Development Plan (EDP) and PAR prepared by the municipalities, the interviews were semi structured in nature, with the Municipal Secretary of Education and those responsible for the PAR of these municipalities. The systematization and analysis of data showed that: the city of Cochin, unlike the city of Campo Grande, entered in the Educational Dimension Indicator PAR related to "Analysis and Dissemination of evaluation results of the MEC official" and the two municipalities were limited to report the results of external evaluation to the school community, both proposed actions aimed at evaluating the results of student performance through the introduction of mock exams and preparation of teachers, according to the methodology of the trial Brazil, thereby reproducing the national instruments; and how those results are released, has intensified the prospect of accountability for results by the schools. It is concluded that the results of external evaluations have been used by municipalities as an improvement to the planning of permanent and systematic actions that encourage the improvement of teaching quality of their networks, in addition to the results of student performance.

    Keywords: Educational Policy. Joint Action Plan (RAP). External Evaluation of Education.

  • LISTA DE SIGLAS

    AEE Atendimento Educacional Especializado

    ANEB Avaliao Nacional da Educao Bsica

    ANRESC Avaliao Nacional do Rendimento Escolar

    APM Associao de Pais e Mestres

    ARENA Aliana Renovadora Nacional

    BIRD Banco Mundial

    CE Conselhos Escolares

    CEB Cmara da Educao Bsica

    CEE Conselho Estadual de Educao

    CEINF Centro de Educao Infantil

    CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em Educao e Cultura e Ao

    Comunitria

    CEPAC Comit Gestor do PAC

    CESUP Centro de Ensino Superior Professor Plnio Mendes dos Santos

    CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criana e Adolescente

    CME Conselho Municipal de Educao

    CNE Conselho Nacional de Educao

    CNTE Conferncia Nacional dos Trabalhadores em Educao

    CPCX Campus de Coxim

    DAEB Diretoria de Avaliao do Ensino Bsico

    FADAFI Faculdade Dom Aquino de Filosofia, Cincia e Letras

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    FUCMT Faculdades Unidas Catlicas de Mato Grosso

    FUNDEB Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de

    Valorizao dos Profissionais da Educao

    FUNDEF Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do

    Magistrio

    FUNDESCOLA Fundo de Desenvolvimento da Escola

    GEPAC Grupo Executivo do PAC

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

  • IDER ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica da Rede Municipal de

    Ensino

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IDI ndice de Desenvolvimento Industrial

    IES Instituies de Educao Superior

    IICA Instituto Interamericano de Cooperao para Agricultura

    IFMS Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia de Mato Grosso do

    Sul

    IIPE Instituto Internacional de Planejamento da Educao

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    LSE Levantamento da Situao Educacional

    MARE Ministrio da Administrao e Reforma do Estado

    MEC Ministrio da Educao

    MDB Movimento Democrtico Brasileiro

    MT Mato Grosso

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento

    ONG Organizao no Governamental

    PAC Plano de Acelerao do Crescimento

    PAR Plano de Aes Articuladas

    PCC Plano de Cargo e Carreira do Servidor Pblico Municipal

    PCN Parmetros Curriculares Nacionais

    PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola

    PDE Plano de Desenvolvimento da Educao

    PDE/Escola Plano de Desenvolvimento da Escola

    PE Planejamento Estratgico

    PIB Produto Interno Bruto

    PL Projeto de Lei

    PISA Programa Internacional de Avaliao de Estudantes

    PME Plano Municipal de Educao

    PMFE Padres Mnimos de Funcionamento da Escola

    PNDE Programa Nacional do Livro Didtico

    PNDU Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PNE Plano Nacional de Educao

  • PP Projeto Pedaggico

    PPP Projeto Poltico Pedaggico

    PRELAC Projeto Regional de Educao para a Amrica Latina e o Caribe

    PR Conselho Programa Nacional de Capacitao de Conselheiros Municipais de

    Educao

    PROINFNCIA Programa Nacional de Reestruturao e Aquisio de Equipamentos para

    a Rede Escolar Pblica de Educao Infantil

    PROINFANTIL Programa de Formao Inicial para Professores em Exerccio na

    Educao Infantil

    PROINFO Programa Nacional de Tecnologia Educacional

    PROMOVER Programa Municipal de Avaliao de Desempenho dos alunos da Rede

    Municipal de Ensino

    PUC Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    REE Rede Estadual de Ensino

    REME Rede Municipal de Ensino

    SAEB Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica

    SNI Servio Nacional de Informaes

    SICME Sistema de Informaes dos Conselhos Municipais de Educao

    SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento Execuo e Controle do Ministrio

    SME Secretaria Municipal de Educao

    SUGEST Superintendncia de Gesto Estratgica

    SUPAE Superintendncia de Planejamento e Apoio aos Municpios

    TRI Teoria de Resposta ao Item

    UCDB Universidade Catlica Dom Bosco

    UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    UEMT Universidade Estadual de Mato Grosso

    UFGD Universidade Federal da Grande Dourados

    UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UNB Universidade de Braslia

    UNDIME Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Nmero de matrculas por etapa de ensino da Educao Bsica na Rede Municipal

    de Ensino de Campo Grande 2007 a 2010................................................................................87

    Tabela 2 Nmero de escolas por etapa de ensino de Educao Bsica na Rede Pblica de

    Campo Grande 2007 .............................................................................................................88

    Tabela 3 Resultados da Prova Brasil da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande - MS

    ...................................................................................................................................................88

    Tabela 4 IDEB na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande - MS ..............................89

    Tabela 5 Comparativo do IDER da REME 2007-2010 ....................................................... 93

    Tabela 6 Nmero de matrculas por etapa da Educao Bsica na Rede Municipal de

    Ensino de Coxim 2007 a 2010................................................................................................103

    Tabela 7 Nmero de escolas por etapa de ensino de Educao Bsica na Rede Pblica de

    Coxim- MS 2007..................................................................................................................103

    Tabela 8 Resultados da Prova Brasil da Rede Municipal de Ensino de Coxim-MS ..........104

    Tabela 9 IDEB na Rede Municipal de Ensino de Coxim MS .........................................104

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Estrutura Geral do PAR........................................................................................56

    Grfico 2 Evoluo do IDER por fases anos iniciais e finais do Ensino Fundamental........93

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Mapa de localizao do municpio de Campo Grande, MS....................................61

    Figura 2: Mapa de localizao do municpio de Coxim, MS.................................................72

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Sistema Federativo do Brasil................................................................................31

    Quadro 2: Semelhanas e diferenas da Prova Brasil e SAEB..............................................47

    Quadro 3: Conceituao dos termos do PAR .......................................................................57

    Quadro 4: Critrios de pontuao ........................................................................................58

    Quadro 5: reas e Indicadores da Dimenso 1 - Gesto educacional .................................89

  • SUMRIO

    INTRODUO.......................................................................................................................15

    CAPTULO 1 - POLTICA DE AVALIAO E GESTO DA EDUCAO BSICA

    NO BRASIL............................................................................................................................ 28

    1.1. Avaliao da educao bsica: marcos legais......................................................................28

    1.2. Avaliao da educao bsica: caractersticas...................................................................34

    1.3. Avaliao externa da educao bsica no Governo Lula...................................................46

    1.4. O Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE)............................................................50

    CAPTULO 2 - O PROCESSO DE ELABORAO E DE IMPLANTAO DO PAR

    EM MUNICPIOS SUL-MATO-GROSSENSES: CAMPO GRANDE E COXIM..........55

    2.1. A adeso dos municpios ao Plano de Metas Compromisso Todos pela

    Educao...................................................................................................................................55

    2.2. Caracterizao do municpio de Campo Grande................................................................60

    2.3. Elaborao e execuo do PAR da Rede Municipal de Ensino de Campo

    Grande.......................................................................................................................................62

    2.4. Caracterizao do municpio de Coxim.............................................................................71

    2.5.Elaborao e execuo do PAR da Rede Municipal de Ensino de

    Coxim........................................................................................................................................74

    CAPTULO 3 APROPRIAO DOS RESULTADOS DAS AVALIAES

    EXTERNAS PELAS REDES MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE E DE COXIM.....87

    3.1. Demandas/aes definidas no PAR na Rede Municipal de Ensino de Campo

    Grande.......................................................................................................................................87

    3.2 Demandas/aes definidas no PAR na Rede Municipal de Ensino de Coxim.................103

    CONSIDERAES FINAIS...............................................................................................120

    REFERNCIAS....................................................................................................................127

    ANEXOS................................................................................................................................134

  • INTRODUO

    Esta pesquisa tem como objeto de anlise a utilizao dos resultados da Avaliao

    Externa da Educao Bsica pelos gestores dos municpios sul-mato-grossenses, ou seja,

    Campo Grande e Coxim, localizados no Estado de Mato Grosso do Sul, no mbito do Plano

    de Aes Articuladas (PAR), no perodo de 2007 a 2010, correspondente ao segundo mandato

    do governo Luiz Incio Lula da Silva.

    O interesse pelo estudo das polticas pblicas de avaliao da educao bsica

    teve incio na dcada de 1980, quando ingressei por meio de concurso pblico, na Rede

    Estadual de Ensino do Estado de Mato Grosso do Sul (MS), como Supervisora de Ensino.

    Esse perodo foi marcado pelo final dos governos militares1 e pelos movimentos da sociedade

    civil organizada brasileira na busca pela democratizao da vida social e poltica do pas, com

    envolvimento dos educadores no processo, na luta em defesa de uma educao pblica de

    qualidade, que estimulava mudanas na escola referentes s prticas pedaggicas, aos

    contedos ministrados e ao conhecimento construdo em sala de aula.

    Nessa poca coordenei um grupo de professores que ministrava aulas nos anos

    iniciais do ensino de 1 grau, hoje ensino fundamental (BRASIL, 1996), em uma escola

    pblica estadual do municpio de Dourados/MS e me chamavam a ateno os ndices de

    reprovao que aconteciam nos anos iniciais do ensino fundamental, principalmente no 1

    ano, o que desencadeou um trabalho mais intensivo com os professores sobre as formas como

    vinham sendo desenvolvidas as prticas pedaggicas que envolviam metodologia, avaliao,

    contedos ministrados, e, como essas questes interferiam nos resultados e nos ndices de

    aprovao e reprovao no mbito da escola. Assim, vrias iniciativas foram tomadas no

    sentido de melhorar as aes referentes reprovao nos anos iniciais do ensino fundamental,

    bem como a evaso que acontecia nos anos posteriores, que despertaram o interesse do corpo

    docente, principalmente quanto ao aspecto da avaliao.

    Nesse sentido, a preocupao com os resultados e desempenhos escolares me

    acompanhou quando trabalhei na Secretaria de Estado de Educao de MS no exerccio da

    1 Perodo em que os militares governaram o Brasil de 1964 a 1985, caracterizado pela falta de democracia, supresso de direitos constitucionais, censura, perseguio poltica e represso aos que eram contra a ditadura militar. Disponvel em: . Acesso em: 5 mai. 2012.

    http://www.portalbrasil.net>

  • 16

    gesto, com responsabilidade de acompanhar e orientar as instituies do Sistema Estadual de

    Ensino de MS com relao aplicabilidade das normas federais e estaduais, que somados

    carreira de educadora culminou com a minha lotao no Conselho Estadual de Educao

    (CEE), [...] rgo normativo, consultivo e deliberativo da poltica estadual de educao,

    conforme Lei Estadual/MS n. 1460/93 (MATO GROSSO DO SUL, 1996).

    Dessa forma, a opo por investigar a temtica vem ao encontro de muitas

    dvidas nessa rea, haja vista a indicao pelos pares do Conselho Estadual de Educao para

    ocupar a funo de Presidente desse Conselho nos perodos de 2002/2003, 2004/2005 e

    2008/2009, considerando a responsabilidade do rgo na implantao de polticas pblicas

    educacionais, de modo especfico, as polticas de avaliao da educao bsica em

    cumprimento ao que dispe o Art. 10 da LDB Os estados incumbir-se-o de: [...] IV-

    autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das

    instituies de educao superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.

    Assim, a avaliao institucional externa, um dos critrios definidos pelo CEE na

    Deliberao n. 6363 de 10 de dezembro de 2001 para o controle da qualidade de ensino das

    instituies do sistema, nela includa, entre outros indicadores, no art. 33 A avaliao interna

    e externa, devero incidir, no mnimo, sobre os seguintes critrios: [...] IX- o desempenho dos

    alunos frente aos objetivos propostos e as competncias desenvolvidas. O resultado da

    avaliao mencionada, expresso por meio de Relatrio, concesso para um novo ato

    regulatrio (MATO GROSSO DO SUL, 2001).

    O tema avaliao vem carregado de importncia na legislao como medida de

    poltica e ganhou relevncia e atualidade nos anos 1990, com a introduo da avaliao em

    larga escala, que tem hoje dentro das polticas pblicas um papel de controle sobre a

    qualidade do ensino e, ainda, quanto s questes que tm envolvido a escola no processo de

    avaliao.

    A avaliao em larga escala no Brasil, um dos pilares das polticas educacionais,

    foi institucionalizada por meio do Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB) que

    iniciou no final dos anos 1980 e foi aplicado pela primeira vez em 1990. Trata-se de um

    programa de avaliao de longo alcance, com abrangncia nacional, que ganhou importncia

    no contexto da globalizao econmica, movida pelo incentivo de agncias financiadoras

    internacionais, justificada pelo Ministrio da Educao, de que a educao no Brasil passava

    por crise de eficincia e eficcia (PERONI, 2009).

    Com esses estudos, ingressei no Programa de Ps-Graduao em Educao -

    Mestrado e Doutorado da Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB). Assim, esta pesquisa

  • 17

    vincula-se ao projeto denominado Gesto de polticas educacionais: o impacto do Plano de

    Aes Articuladas (PAR) em municpios sul-mato-grossenses, com a participao de um

    grupo de pesquisadores de vrias Instituies de Educao Superior (IES), sob a coordenao

    da Prof Dra Regina Tereza Cestari de Oliveira (UCDB), desenvolvido no mbito do Grupo

    de Pesquisa Polticas Pblicas e Gesto da Educao, da Linha de Pesquisa Polticas

    Educacionais, Gesto da Escola e Formao Docente, do referido Programa.

    No sentido de delinear o objeto de pesquisa sobre a utilizao dos resultados da

    avaliao institucional externa da educao bsica no mbito do PAR, pelos gestores dos

    municpios de Campo Grande e Coxim, foram selecionadas algumas pesquisas, no mbito da

    ps-graduao em educao, de autores, em um primeiro conjunto, que investigaram o tema

    avaliao externa da educao bsica, a partir de 1990. A seleo realizada considerou o

    contexto das relaes mais amplas do perodo 1990 2011, com abrangncia nos planos e

    programas educacionais at os dias atuais.

    Iniciou-se o levantamento no Programa de Ps-Graduao em Educao-

    Mestrado e Doutorado na Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB). Nesse Programa

    verificou-se a Dissertao de Mestrado de Veronice Lopes de Souza Braga (2010) intitulada

    Sistema de Avaliao Nacional da Educao Bsica e os Descaminhos para uma proposta de

    Educao Escolar Indgena, que teve como objetivos:

    analisar os documentos produzidos em nvel internacional, nacional e estadual para implantao do Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB); relacionar as polticas pblicas oriundas da anlise e estudos dos resultados do SAEB nas instncias nacional e estadual e, por ltimo, descrever as possveis ambivalncias entre a legislao e a avaliao educacional e a legislao para as escolas indgenas, atentando para as relaes de poder (BRAGA, 2010, p.27).

    As questes para anlise, apresentadas por Braga (2010), referem-se s Leis,

    Resolues, Portarias e Relatrios Nacionais sobre o Sistema Nacional da Avaliao da

    Educao Bsica, no perodo de 2000 2006.

    Na pesquisa realizada, Braga (2010) conclui que o Estado, por meio da Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional/1996 (LDBEN), ocupa as funes de legislador e de

    avaliador. Na funo de avaliador o Estado impe uma exacerbada importncia de conceitos

    que envolvem funes estratgicas operacionais, criando um Sistema Nacional de Avaliao,

    que aponta para a unicidade do currculo com vistas a uniformizar o trabalho pedaggico,

    [...] caracterizando assim, o ato educativo como produto e no como produo, pois segue a

    ordem minimalista, ao propor um patamar mnimo nacional a ser atingido por todas as escolas

    do pas (BRAGA, 2010, p. 141).

  • 18

    Segundo Braga (2010) as polticas pblicas oriundas da anlise e estudos dos

    resultados do Sistema Nacional da Educao Bsica, nas instncias nacional e estadual

    valorizam os resultados em padres numricos equitativos que demonstram a existncia de

    uma cultura avaliativa importante para todos os cidados por meio do ensino. Esses resultados

    valorizam os exames nacionais, com demonstrao de evidncias sobre o currculo da lngua

    portuguesa e da matemtica das escolas. [...] Evidncias essas, que so otimizadas aos

    demais ministrios para apoiar a elaborao de polticas pblicas nacionais, em outras reas

    sociais (BRAGA, 2010, p. 146).

    Em outros termos:

    [...] a otimizao dos resultados possibilita, tambm, um parmetro nacional, para as decises oramentrias, para a soluo e (eliminao) de possveis (problemas), invisibiliza os coletivos culturais, o corolrio da invisibilidade encobre a pluralidade e prope o genrico, uma tentativa para se evitar a crise na educao. Assim, os dados estatsticos resultantes da avaliao so utilizados pelos governantes em justificativas de projetos para (correo) da (deficincia) do ensino e da aprendizagem, sustentando que a avaliao produz dado (objetivo) reveladores do trabalho pedaggico. Para determinar esse alcance, a avaliao constitui o procedimento para unificao curricular e, ao mesmo tempo, permite vigiar o currculo e a sociedade. O aparato miditico possibilita sociedade o ensejo coletivo de que a educao escolar o postulado para alcanar o ranking dos pases desenvolvidos e tornar-se um deles (BRAGA, 2010, p. 146).

    Nesse sentido, conforme a autora, com a ideia de alcanar desenvolvimento, o

    MEC prope avaliao externa para educao bsica com a finalidade de se alcanar metas

    determinadas, como se fosse um instrumento capaz de estimular a qualidade da educao

    brasileira e proporcionar, ainda, adequados controles sociais desses resultados, ou seja,

    controle social da qualidade e equidade (BRAGA, 2010).

    A pesquisa em pauta contribui para o entendimento das foras sociais que

    envolvem o modo de vida dos alunos, ou seja, os costumes e culturas da comunidade interna e

    externa da escola, as prticas pedaggicas que so ensinadas e que envolvem a avaliao,

    principalmente aquelas voltadas para mudana no currculo, controle sobre a autonomia dos

    estados e municpios e principalmente outros valores que so atribudos avaliao por

    diferentes atores da sociedade brasileira e pelos rgos governamentais.

    Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), encontrou-se a

    Dissertao de Mestrado de Ezerral Bueno de Souza (2001) sobre O Sistema Nacional da

    Educao Bsica - SAEB no Contexto das Polticas Educativas dos Anos 90 que investigou

    o SAEB, uma das principais estratgias da poltica educacional do Governo Federal Fernando

    Henrique Cardoso (1995 2002), com o objetivo de compreender o histrico da avaliao

    externa que levou o MEC a implantar esse sistema. Nesse sentido, a dissertao elegeu [...]

  • 19

    os seguintes elementos de anlise: a concepo de avaliao do SAEB, o conceito de

    qualidade de ensino defendido pelo MEC, a relao qualidade e produtividade, o papel das

    instituies nacionais e internacionais e dos atores no processo de institucionalizao do

    SAEB (SOUZA, 2001, p. 3).

    Em sua dissertao, Souza (2001) destaca que o SAEB ganhou importncia no

    contexto das polticas educacionais dos anos de 1990 e segundo o diagnstico do Ministrio

    da Educao (MEC), o sistema pblico de ensino passava por uma intensa crise de eficincia,

    eficcia e produtividade, com justificativa de que o processo de acelerao da expanso

    escolar no possibilitou o devido acompanhamento por parte do MEC, pois no dispunha de

    condies satisfatrias para acompanhar a qualidade dos servios oferecidos. Segundo esse

    entendimento governamental, o motivo da crise das instituies escolares seria o resultado do

    crescimento desordenado da educao. Trata-se, fundamentalmente, de uma crise de

    qualidade decorrente da improdutividade que caracteriza as prticas pedaggicas e a gesto

    administrativa da grande maioria dos estabelecimentos escolares (SOUZA, 2001, p. 2)

    O autor analisa que o MEC introduz a avaliao para resolver o problema de

    ineficincia das escolas, principalmente quanto a sua produtividade. Dessa forma, as

    propostas do MEC so de cunho gerencial, ou seja, preciso que esta situao seja corrigida

    por meio da avaliao, que tem o papel de controle, para medir o resultado do trabalho

    pedaggico com vistas melhoria da qualidade do ensino das escolas (SOUZA, 2001). Nesse

    sentido, informa que o MEC almeja a educao de qualidade com a finalidade de:

    [...] responder s demandas decorrentes das transformaes globais nas estruturas produtivas e do desenvolvimento. Isso significa eleger a educao para atender s necessidades do capital no que se refere produtividade. Desse modo, a escola responsabilizada pela construo do sucesso escolar, cabendo ao governo, a tarefa de aferir sua produtividade. Esse encaminhamento responsabiliza a escola pela qualidade de ensino em busca de maior eficincia e produtividade (SOUZA, 2002, p. 5).

    Souza (2001) conclui que a dcada de 1990 foi marcada pela descentralizao do

    servio pblico, ou seja, sob a influncia da crise do capital, houve uma alterao nos padres

    de gesto do MEC, que passou a assumir atividades normativas e de avaliao, influenciando

    a educao dos estados e municpios. Nesse contexto, assinala o autor que, com a implantao

    do SAEB, o MEC passa a ter como discurso a melhoria da qualidade do ensino, ganhando no

    cenrio nacional uma importncia relevante para as polticas educacionais, tornando-se, no

    contexto das reformas, uma das mais importantes do governo Fernando Henrique Cardoso,

    uma vez que por meio da avaliao ampliado o controle do Estado sobre o currculo, sobre a

    gesto e na regulao do sistema escolar, abarcando tambm os recursos a serem investidos na

    rea da educao.

  • 20

    A pesquisa de Souza (2001) contribui para o entendimento do processo histrico

    que permeia a poltica educacional a partir de 1990 e as implicaes que ocorreram nos

    movimentos polticos, sociais e econmicos do Brasil, das gestes realizadas no processo da

    implantao e implementao da avaliao como medida de poltica.

    Outro estudo, importante para a definio e delimitao do objeto de pesquisa, o

    de Vera Maria Vidal Peroni (1999), em Tese de Doutorado defendida na Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo (PUC) intitulada: A redefinio do papel do Estado e a

    poltica educacional no Brasil dos anos 90, que teve como objetivo analisar como estava

    sendo materializada a poltica educacional na redefinio do papel do Estado na dcada de

    1990. A pesquisa traz contribuies importantes para a compreenso da avaliao externa

    instituda pelo governo federal.

    Segundo Peroni (1999) a terceirizao da avaliao em larga escala, que ocorreu

    com a entrada das fundaes a partir de 1995, Fundao Carlos Chagas e Fundao

    Cesgranrio entre outras, passaram a ser responsveis pela elaborao e operacionalizao da

    poltica de avaliao, que fizeram parte de uma poltica mais ampla na qual o Estado passa

    para a sociedade as incumbncias que antigamente eram suas.

    Nesse contexto, iniciou-se o processo de avaliao por meio do SAEB, que,

    segundo Peroni (1999), era pensada na dcada de 1980 quando o MEC criou a Comisso

    Ministerial para analisar aes nessa rea, com informaes de que se avaliavam programas,

    projetos, mas no tinha se pensado em avaliao de poltica, assim, esse foi o ponto de partida

    para a consolidao do SAEB.

    Ainda, selecionou-se a Tese de Doutorado de Alice Maria Bonamino (2000),

    defendida na PUC/RJ sobre O Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica (SAEB):

    Referncias agentes e arranjos institucionais e instrumentais, que apresenta informaes

    relevantes para o entendimento da institucionalizao do SAEB, quando ocorreu o inicio dos

    acordos entre o INEP, Banco Mundial, Fundaes e Secretarias de Educao para a

    montagem do sistema. A autora divide o Sistema em dois perodos: o primeiro perodo do

    SAEB, 1988 1994, sob a responsabilidade do INEP com o apoio das Secretarias Estaduais de

    Educao e o segundo perodo a partir de 1995, quando o SAEB passou a sofrer influncia e

    foi financiado diretamente pelo Banco Mundial, ocorrendo terceirizao, com a entrada das

    Fundaes Carlos Chagas e Cesgranrio, tambm assinaladas na Tese de Doutorado de Peroni

    (1999).

    Considera ainda, que a metodologia do SAEB estava pautada na construo de

    medidas de habilidades cognitivas, no considerando os fatores que envolvem a origem e vida

  • 21

    social dos alunos, e que o processo de terceirizao implementado pelo Instituto Nacional de

    Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), a partir de 1995, provocou o

    afastamento da comunidade acadmica em torno do debate sobre avaliao externa,

    resultando em grandes prejuzos para a sua legitimao, com alcance desse processo de

    terceirizao, s Secretarias de Educao e escolas, trazendo conseqncias para o programa,

    resultando o afastamento dos principais envolvidos no processo, j que os resultados no

    seriam utilizados pelos rgos gestores das escolas.

    Encontrou-se, tambm, a Tese de Doutorado de Dirce Nei Teixeira de Freitas,

    denominada A Avaliao da Educao Bsica no Brasil: dimenso normativa, pedaggica e

    educativa, defendida na Universidade de So Paulo, em 2005 props explicitar a dimenso

    normativa, a dimenso pedaggica e a dimenso educativa da regulao estatal pela via da

    avaliao, no perodo 1988 a 2002. A autora questiona: como a avaliao em larga escala

    emergiu, firmou-se e operou enquanto ao educativa estatal, na regulao da educao bsica

    brasileira? (FREITAS, 2005, p.13).

    Nesse sentido, a pesquisa objetivou conhecer como a avaliao se constituiu em

    estratgia estatal de governo, com amparo nos textos legais para a consolidao desse

    exerccio no mbito federativo, e explicitou as influncias pedaggicas e educativas do

    gerenciamento avaliativo da Unio no mbito da educao bsica (FREITAS, 2005).

    Assim, com base em anlise documental, concluiu que:

    [...] mais do que as normas jurdico-legais e poltico- administrativas, foi fundamental para que a regulao avaliativa da educao bsica adquirisse fora normativa a interveno do Estado central na construo, ativao sistemtica, expanso do alcance, ampliao e aprimoramento do aparato de medida- avaliao informao educacional, especialmente no perodo posterior a 1994. Foi com essas medidas que o Estado brasileiro logrou legitimar a sua opo por uma regulao avaliativa centralizada, externa aos sistemas e s escolas, e conduzida segundo princpios poltico-administrativos e pedaggicos que, conforme visto, enfatizaram a administrao gerencial, a competio e a accountability, na perspectiva de uma lgica de mercado (FREITAS, 2005, p. 250).

    Das pesquisas mais atuais selecionou-se a Dissertao de Mestrado de Nataly

    Gomes Ovando, defendida no Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de

    Educao da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em 2011, intitulada A

    avaliao na poltica educacional de municpios sul-mato-grossenses que procurou [...]

    saber como e para que os municpios incorporam a avaliao educacional na sua poltica

    educacional, buscando compreender a forma de apropriao dessa ferramenta na relao com

    a poltica de melhoria da qualidade de ensino fundamental. Para tanto, utilizou uma amostra

    de dez redes de municpios sul-mato-grossenses.

  • 22

    Da mesma autora encontrou-se o artigo intitulado Iniciativas de avaliao nas

    redes escolares municipais que traz uma anlise sobre redes escolares municipais sul-mato-

    grossenses, com o objetivo de entender como ocorre a atuao dos municpios na iniciativa de

    possuir sistema de avaliao prprio e qual a relao dessas iniciativas com os resultados

    obtidos no ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) do ano de 2007.

    Prosseguindo, selecionou-se, em um segundo conjunto, pesquisas mais recentes

    que tratam do Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) e do Plano de Aes

    Articuladas (PAR), com a finalidade de propiciar suporte terico-metodolgico sobre o tema,

    e uma compreenso maior das polticas pblicas que esto sendo implementadas pelo

    Ministrio da Educao (MEC).

    No mbito dos Programas de Ps-graduao do estado de Mato Grosso do Sul,

    verificou-se a Dissertao de Mestrado de Milene Dias Amorim sobre A qualidade da

    educao Bsica no PDE: uma anlise a partir do Plano de Aes Articuladas defendida em

    2011, na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) que contempla os estudos e

    discusses sobre as polticas e programas do governo Lula, voltados para a qualidade do

    ensino da educao bsica, no contexto do Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE).

    Esse Plano tem como meta qualificar a educao brasileira por meio do ndice de

    Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) no mbito do Plano de Aes Articuladas

    (PAR).

    Desse modo, a pesquisa selecionada teve como objetivo geral [...] analisar a

    concepo de qualidade que vem se efetivando na poltica educacional recente com vistas a

    compreender as implicaes dessa poltica na concepo de qualidade dos sistemas

    municipais de educao [...] (AMORIM, 2011, p. 2). Quanto aos objetivos especficos,

    foram definidos os seguintes: verificar a concepo de qualidade nos documentos oficiais da

    poltica educacional brasileira no perodo da pesquisa 2001 a 2009; analisar o conceito de

    qualidade da educao adotado pelos dois municpios no Plano de Aes Articuladas (PAR);

    e por ltimo identificar as medidas de qualidade que esto sendo colocadas em prtica pelos

    municpios de Dourados e Ponta Por atravs do Plano de Aes Articuladas PAR

    (AMORIM, 2011, p. 2).

    De acordo com Amorim (2011, p. 141):

    [...] o Estado vem utilizando a metodologia planejamento para fazer face tanto s necessidades educacionais do pas quanto a seus interesses nesse setor. As planificaes inseridas pelo governo federal so de carter estratgico e de ordem desenvolvimentista com os preceitos gerenciais bem acentuados. Essa caracterstica tem levado as polticas da educao a se focarem estritamente nos resultados, ou seja, minimiza-se o processo de ensino e aprendizagem que constitudo de incios,

  • 23

    meios e fins. Uma prova disso o IDEB que se configura como um quantitativo e vem sendo considerado sinnimo de qualidade.

    A autora acentua que os resultados do IDEB determinam as polticas educacionais

    dos municpios, a adeso ao PAR e o compromisso com o PDE que [...] tem a difcil misso

    de elevar o ndice a 6,0 at 2022. Focando diretamente o municpio, o plano levanta questes

    sobre a efetivao do regime de colaborao, a responsabilizao e a autonomia municipal

    (AMORIM, 2011, p. 141).

    Ainda constata que o grande motivo da adeso dos municpios ao Plano a

    oportunidade de alocar recursos para a educao municipal em questes consideradas

    necessrias para o desenvolvimento do ensino local, apesar de j constarem no documento do

    PAR as dimenses, indicadores e as demandas para a rede municipal, ainda assim, os

    municpios optaram pela escolha de aes que oferecessem mais recursos do que a assistncia

    tcnica do MEC (AMORIM, 2011).

    A pesquisadora conclui que no mbito dos municpios se processaram as

    iniciativas e aes que nortearam todo o trabalho educacional, sendo assim, foram observados

    dificuldades para garantir a oferta da educao infantil e do ensino fundamental, haja vista

    que os municpios pesquisados possuem autonomia em suas condues municipais, mas

    houve problemas de gesto e insuficincia de recursos financeiros para o alcance da educao

    de qualidade. Aponta problemas dos municpios para a manuteno da oferta do ensino

    fundamental, antes como nica etapa obrigatria por lei, hoje, enfrentando maiores

    dificuldades, com a obrigatoriedade da educao infantil, sob sua responsabilidade.

    A pesquisa de Amorim (2011) permitiu conhecer como outros municpios do

    Estado de Mato Grosso do Sul elaboraram e executaram o PAR, quais os processos que

    permearam a sua elaborao e ainda compreender a importncia dada avaliao externa que

    est intimamente ligada responsabilizao das unidades federadas, no caso, os municpios

    para o aumento do IDEB.

    Outra pesquisa a de Lucia Camini (2009), que em Tese de Doutorado, defendida

    na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) denominada Gesto educacional e

    a relao entre os entes federados na poltica educacional do PDE/Plano de Metas

    Compromisso Todos pela Educao, examinou o Plano de Desenvolvimento da Educao

    (PDE) lanado oficialmente em abril de 2007, pelo Ministrio da Educao, e investigou a

    poltica educacional, por meio de anlise referente aos aspectos de sua configurao no

    espao-tempo compreendido entre o perodo de elaborao e a fase inicial de sua implantao

  • 24

    nos estados e municpios (2007-2009) (CAMINI, 2009, p. 13). No desenvolvimento do

    trabalho a autora destacou

    [...] questes relacionadas estratgia de ao adotada pelo MEC na relao com os entes federados - os municpios e os estados; o movimento de centralizao versus descentralizao da gesto presente na histria da educao brasileira e evidenciada na implantao do PDE/Plano de Metas Compromisso; os princpios, os fundamentos e a concepo de educao que constituem base de sustentao dessa poltica; a estratgia de envolvimento e participao dos sujeitos sociais na elaborao e implantao do Plano e, de modo geral, o papel e a responsabilidade assumida pelo Estado na gesto e no financiamento dos programas e das aes apresentados, atentando-se tambm para os limites, as contradies e aos avanos evidenciados no processo de implantao dessa poltica pblica em desenvolvimento (CAMINI, 2009, p. 13).

    Segundo Camini (2009), para implementao das polticas do governo Luiz Incio

    Lula da Silva propostas aos entes federados destacam-se o PDE, a Prova Brasil e o ndice de

    Desenvolvimento da Educao (IDEB). Este ltimo uma referncia de poltica de avaliao

    desenvolvida nesse governo, para servir como indicador de qualidade na educao com a

    finalidade de demonstrar as condies de ensino no Brasil, provocando mudanas na

    educao dos estados e municpios.

    A autora analisa que a avaliao externa e o processo do seu acompanhamento so

    importantes e necessrios para a qualificao de uma poltica governamental. Do ponto de

    vista da pesquisa, envolve a ideia de controle social, contribuindo para assegurar o melhor uso

    e transparncia na aplicao dos recursos educacionais. Assim, o acompanhamento e a

    avaliao so medidas para maior responsabilizao, aprendizado, ao pedaggica,

    reafirmao da poltica pblica, troca de informaes, fornecimento de orientaes e

    formao permanente das equipes (CAMINI, 2009, p. 263).

    Em sntese, as pesquisas selecionadas apontam um aparato de questes que se

    inter-relacionam de forma a possibilitar a compreenso das polticas educacionais em um

    contexto mundialmente globalizado, para que se possa entender o contexto contraditrio em

    que se assentam as polticas sociais e econmicas, especialmente as polticas educacionais;

    apreender os motivos que permearam a implantao da avaliao externa; entender a

    concepo da avaliao em larga escala dentro da poltica atual, que sustentar a compreenso

    desta pesquisa, bem como a compreenso dos planos e programas relacionados avaliao

    externa da educao bsica.

    Esse levantamento, portanto, contribuiu com a definio do objetivo da pesquisa,

    ou seja, analisar como os gestores dos municpios de Campo Grande e Coxim, MS, utilizam

    os resultados da avaliao externa, em especial, no mbito do Plano de Aes Articuladas

    (PAR). E como objetivos especficos:

  • 25

    verificar o processo de elaborao e execuo do PAR nos municpios de

    Campo Grande e Coxim, MS;

    identificar as estratgias definidas pelos municpios, na Dimenso Gesto

    Educacional, para a efetivao de aes articuladas, segundo as demandas

    apontadas pelo diagnstico do PAR;

    investigar as aes definidas pelos municpios de Campo Grande e Coxim no

    Plano de Aes Articuladas (PAR), para divulgao e anlise dos resultados da

    avaliao externa;

    verificar, em que medida, os gestores desses municpios se apropriam desses

    resultados para o planejamento pedaggico de suas Redes de Ensino.

    Parte-se do entendimento, utilizando os estudos de Sousa (2009, p. 36) que,

    Embora a avaliao de sistemas educacionais venha se apresentando como importante instrumento de gesto da educao em mbito nacional e das unidades federadas, capaz de contribuir para a promoo da qualidade de ensino, poucas informaes se tem sobre como os seus resultados vm sendo utilizados para formulao e implementao de polticas educacionais.

    A pesquisa ter como referncia de anlise o Plano de Aes Articuladas (PAR),

    como instrumento de apoio tcnico e financeiro com a finalidade de promover a melhoria do

    ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB), nos municpios de Campo Grande e

    Coxim, no perodo de 2007 2010.

    Os critrios de escolha para a pesquisa foram: um municpio com populao

    acima de 100 mil habitantes, com ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB)

    superior a 4,2 nas sries finais do Ensino Fundamental e com continuidade no governo

    municipal2, aps o perodo eleitoral, e um municpio com IDEB inferior a 4,2 e com mudana

    no governo municipal3 e populao menor que cinqenta mil habitantes. Assim, de acordo

    com esses critrios foram selecionados os municpios de Campo Grande e Coxim.

    Para concretizao dos objetivos pretendidos, foram utilizados os seguintes

    procedimentos metodolgicos: seleo e leitura de bibliografia de autores sobre a temtica de

    estudos, principalmente de teses, dissertaes e artigos relacionados ao objeto de estudo;

    levantamento e anlise de dados, para caracterizao geral e educacional dos municpios,

    principalmente nas bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e

    2 Campo Grande: Prefeito Nelson Trad Filho (PMDB), no perodo de 2004-2007 e 2008-2012. Disponvel em: . Acesso em: 5 maio 2012 3 Coxim: Prefeito Moacir Kohl (PDT), no perodo de 2004-2007 e Dinalva Garcia Lemos de Morais Mouro (PMDB), no perodo de 2008- 2012. Disponvel em:< www.coxim.ms.gov.br>. Acesso em: 5 maio 2012.

    http://www.campogrande.ms.gov.br>http://www.coxim.ms.gov.br>

  • 26

    Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP);

    levantamento, organizao e anlise de documentos oficiais relacionados ao PDE, assim como

    o PAR dos municpios selecionados para estudo; realizao de entrevistas de carter

    semiestruturado, com a Secretria Municipal de Educao dos municpios e os responsveis

    pelo PAR e sistematizao e anlise das informaes levantadas.

    A entrevista semiestruturada foi utilizada como forma de conhecer, de fato, as

    questes que envolveram o processo de elaborao do PAR, bem como ouvir dos gestores o

    que est sendo feito com os resultados do IDEB, e, ainda, de complementar as informaes

    obtidas nos documentos oficiais, permitindo o cruzamento de informaes.

    As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho, conforme indicados pelos

    Secretrios de Educao dos municpios, no perodo de abril a agosto de 2011. No municpio

    de Campo Grande as entrevistas aconteceram no dia 09-08-2011, com as responsveis pela

    elaborao e execuo do PAR, no perodo 2007 a 2010, ou seja, a Secretria Municipal de

    Educao de Campo Grande e a Assessora Especial de Gabinete da Secretaria.

    No municpio de Coxim as entrevistas aconteceram no dia 28-04-2011, com a

    Secretria Municipal de Coxim, que assumiu a gesto em 2009, e as responsveis, duas

    coordenadoras pedaggicas, a primeira, anteriormente lotada em escola, foi transferida para a

    Secretaria Municipal de Educao e acompanhou a elaborao e execuo do PAR de 2007 a

    2010. Ao longo desta dissertao ser identificada como Coordenadora A; a segunda,

    anteriormente lotada como Diretora de Escola de Educao Infantil e remanejada para a

    Secretaria de Educao a partir de 2009 ser identificada como Coordenadora B, que

    acompanhou a execuo do PAR no perodo de 2009 a 2010. Na ocasio, foram apresentados

    os objetivos da pesquisa com a concordncia das entrevistadas, com a identificao de seus

    nomes e com a divulgao dos esclarecimentos que foram prestados e, assim, assinaram o

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistadas sero identificadas ao longo

    do texto, apenas pelas funes que ocupam, no por seus nomes, respeitando os princpios

    ticos da pesquisa. As entrevistas foram gravadas e reproduzidas conforme a manifestao de

    cada entrevistada.

    As principais fontes legais utilizadas na pesquisa so: Constituio Federal de

    1988; Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN); Plano de Metas

    Compromisso Todos pela Educao (Decreto 6.094/2007); Plano de Desenvolvimento da

    Educao (PDE) e o Plano de Aes Articuladas (PAR) dos municpios em pauta.

    No desenvolvimento da pesquisa, na busca de respostas s questes foram

    definidos os seguintes eixos de anlise dos documentos e das entrevistas, como: adeso dos

  • 27

    municpios ao Compromisso; metodologia de elaborao do PAR; participao dos

    envolvidos no processo de elaborao do PAR; apoio tcnico e financeiro do MEC; benefcios

    do PAR para a SEMED e para as escolas; aes quanto ao uso dos resultados (divulgao,

    anlise e apropriao) da avaliao externa.

    Aps estudos e consideraes, esta Dissertao est organizada da seguinte forma:

    O primeiro captulo Poltica de Avaliao e Gesto da Educao Bsica no Brasil tem

    por objetivo explicitar as polticas de avaliao externa da educao bsica, a partir dos anos

    1990, com base na legislao educacional e nos documentos oficiais.

    O segundo captulo denominado O Processo de Elaborao e de Implantao

    do PAR em Municpios Sul-mato-grossenses: Campo Grande e Coxim visa discutir o

    processo de elaborao e de implantao do Plano de Aes Articuladas (PAR), disposto no

    Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao, conforme Decreto n. 6.094, de 24 de

    abril de 2007, nos municpios de Campo Grande e Coxim, MS.

    No terceiro captulo intitulado Apropriao dos Resultados das Avaliaes

    Externas pelas Redes Municipais de Ensino de Campo Grande e de Coxim busca-se

    analisar as aes definidas no PAR, pelos municpios de Campo Grande e Coxim, MS, na

    Dimenso Gesto Educacional, destacando-se o Indicador divulgao e anlise dos

    resultados das avaliaes externas e como os gestores desses municpios se apropriam desses

    resultados para decises acerca do planejamento pedaggico de suas redes de ensino.

    Por ltimo, nas consideraes finais ser apresentada a sntese dos resultados da

    pesquisa.

  • 28

    CAPTULO 1

    POLTICA DE AVALIAO E GESTO DA EDUCAO BSICA NO

    BRASIL

    Este captulo aborda a trajetria da poltica de avaliao educacional no Brasil para

    a educao bsica, a partir dos anos 1990, destacando a regulamentao da avaliao externa

    nos textos legais, a institucionalizao da avaliao externa por meio do SAEB, e ainda os

    determinantes que contriburam para a afirmao dessa poltica como um dos pontos centrais

    da poltica educacional brasileira no inicio do sculo XXI.

    1.1. Avaliao da educao bsica: marcos legais

    A Constituio Brasileira de 1988, nos termos do art. 205 garante a educao

    entre os direitos sociais de todos os cidados e dever do Estado em oferec-la, com um padro

    mnimo de qualidade, conforme art. 206, inciso VII, assim como o art. 212, 3 e o art. 214,

    inciso III (BRASIL, 1988).

    Segundo Cury (2002, pp. 170 -171), os direitos sociais expressos por meio da

    [...] participao ativa e critica do sujeito, dos grupos a que ele pertena, na definio de uma

    sociedade justa e democrtica, devem definir a responsabilidade do Estado em atender a

    educao bsica com interveno qualificada dessa oferta, sendo assim um servio pblico

    que leva o sujeito ao exerccio pleno da cidadania, reconhecido pela Constituio Federal de

    1988 como um direito social4 e dever do Estado com a educao.

    Nesse sentido,

    A Constituio fez escolha por um regime normativo e poltico, plural e descentralizado no qual se cruzam novos mecanismos de participao social com um modelo institucional cooperativo e recproco que amplia o nmero de sujeitos polticos capazes de tomar decises. Por isso mesmo a cooperao exige entendimento mtuo entre os entes federativos e a participao supe a abertura de arenas pblicas de deciso (CURY, 2002, p.172).

    Vale lembrar que a mesma Constituio integrou os municpios como entes

    federativos. Assim, conforme o art. 18, A organizao poltico-administrativa da Repblica

    Federativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios,

    todos autnomos, nos termos desta Constituio. (BRASIL, 1988).

    4De acordo com o Art. 6 da Constituio Federal de 1988 So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. (BRASIL, 1988).

  • 29

    Assim, a Constituio Federal de 1998 determina para os municpios autonomia

    poltica e fiscal, expressa por meio da elaborao da sua Lei Orgnica [...] escapando, assim,

    da tutela dos estados, que at ento eram considerados nicos componentes da federao. O

    municpio como ente federativo tem atualmente a responsabilidade de ordenar o seu

    desenvolvimento (OLIVEIRA, 2009, p.21).

    Ao longo dos anos de 1980, como mostram os estudos de Arretche (2002, p. 29)

    [...] recuperaram-se as bases do Estado federativo no Brasil. A democratizao particularmente a retomada de eleies diretas para todos os nveis de governo e a descentralizao fiscal da Constituio de 1988 alteraram profundamente as bases de autoridade dos governos locais. A autoridade poltica de governadores e prefeitos voltou a ser baseada no voto popular direto. Paralelamente, estes ltimos tambm expandiram expressivamente sua autoridade sobre recursos fiscais uma vez que se ampliou a parcela dos tributos federais que automaticamente transferida aos governos subnacionais , assim como passaram a ter autoridade tributria sobre impostos de significativa importncia.

    Ainda a Constituio Federal de 1998 determina no Art. 211 que A Unio, os

    Estados, o Distrito Federal e os Municpios organizaro em regime de colaborao seus

    sistemas de ensino. Conforme o 1,

    A Unio organizar o sistema federal de ensino e o dos Territrios, financiar as instituies de ensino pblicas federais e exercer, em matria educacional, funo redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalizao de oportunidades educacionais e padro mnimo de qualidade do ensino mediante assistncia tcnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios.

    O 2 do mesmo artigo define que Os municpios atuaro prioritariamente no

    ensino fundamental e na educao infantil. Os Estados e o Distrito Federal, segundo o 3,

    atuaro prioritariamente no ensino fundamental e ensino mdio. Ainda, conforme o 4 Na

    organizao de seus sistemas de ensino, a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os

    Municpios definiro formas de colaborao, de modo a assegurar a universalizao do ensino

    obrigatrio.5 E o 5 que "A educao bsica pblica atender prioritariamente ao ensino

    regular.6 (BRASIL, 1988).

    Como analisa Cury (2002, p. 172), ao invs de um sistema hierrquico ou

    dualista, comumente centralizado, [...] a Constituio federal montou um sistema de

    repartio de competncias e atribuies legislativas entre os integrantes do sistema

    federativo, dentro de limites expressos, reconhecendo a dignidade e a autonomia prprias

    destes como poderes pblicos.

    5Redao dos 1, 2, 3 e 4, determinada pela Emenda Constitucional n 14, de 12 de set. de 1996. 6Redao determinada pela Emenda Constitucional n 53 de 19 de dez. de 2006.

  • 30

    No sistema educacional as responsabilidades e competncias esto distribudas

    entre os entes federados e o princpio emanado dessa relao o regime de colaborao que,

    por sua vez, no foi regulamentado pelo Congresso Nacional. O autor acrescenta que a

    Constituio diferente de como o faz com outros sistemas, ou seja, o sistema financeiro

    nacional, o sistema nacional de emprego, ou o sistema nico de sade, no criou o sistema

    nacional de educao e optou por pluralizar os sistemas de ensino, ampliando esferas de

    competncias por meio de dispositivos que redistribuem servios, regulamentaes privativas,

    concorrentes e comuns aos estados e municpios no que se refere s polticas pblicas

    educacionais. O autor alerta que um dos obstculos para a realizao deste modelo federado

    [...] a desproporo existente entre os estados do Brasil seja sob o ponto de vista de

    recursos financeiros, seja do ponto de vista de presena poltica, seja do ponto de vista de

    tamanho, demografia e recursos naturais (CURY, 2002, p. 173).

    Segundo Cury (2009b) o sistema nacional de educao propiciaria de forma

    elucidativa a competncia e responsabilidade da Unio com o atendimento educao bsica

    de forma equnime, principalmente com as regies mais pobres do Brasil e, a atuao de

    outras esferas da educao, no mbito dos estados e municpios, estaria sendo

    regulamentadas.

    Ressalte-se, no entanto, como acentua Cury (2011), uma alterao considervel com a

    aprovao da Emenda Constitucional n 59, de 11 de novembro de 2009 que modifica a

    redao original do artigo 214 e faz referncia a um Sistema Nacional de Educao.

    A lei estabelecer o plano nacional de educao, de durao decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educao em regime de colaborao e definir diretrizes, objetivos, metas e estratgias de implementao para assegurar a manuteno e desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis, etapas e modalidades por meio de aes integradas dos poderes pblicos das diferentes esferas federativas [...] (BRASIL, 2009).

    De acordo com o autor [...] Saltam vista mudanas significativas: o PNE se

    completa com uma lei prpria que o regulamente, com reiterao de sua durao decenal, fora

    de uma presena em disposies transitrias e, sobretudo, dentro de um sistema nacional de

    educao (CURY, 2011).

    Oliveira e Souza (2010) tambm contribuem com essa discusso ao analisarem o

    federalismo brasileiro e sua relao com a educao. Os autores assinalam que

    Ao analisar-se a educao no Brasil percebe-se a desigualdade inter e intrarregional, decorrente da assimetria entre as condies econmicas dos entes federados e a distribuio de competncias previstas constitucionalmente, que indica o que cabe a cada um realizar no tocante ao provimento da educao para a populao, resultando em diferentes condies de oferta (OLIVEIRA; SOUSA, 2010, p.13).

  • 31

    Destacam que a situao se agrava com a Constituio de 1988, [...] ao

    incorporar o municpio como ente federativo, evidenciando-se descompasso entre os recursos

    disponibilizados a cada um e suas responsabilidades na oferta educacional, mesmo

    considerando-se os mecanismos de transferncias intergovernamentais (OLIVEIRA;

    SOUSA, p. 17).

    Ao apontarem as desigualdades existentes entre os entes federados, discutem que

    cabe a Unio o papel de atender supletivamente aos estados e municpios, como forma de

    equalizar as oportunidades de todos, principalmente em relao s polticas sociais e

    consequentemente na oferta educacional a todos os cidados (OLIVEIRA; SOUSA, 2010).

    Acrescentam que apenas em 1996 com o Fundo de Desenvolvimento do Ensino

    Fundamental e de Valorizao do Magistrio (Fundef)7 estabeleceu-se um critrio mais

    aceitvel para a diviso dos recursos vinculados, de modo a que, minimamente, se

    articulassem aportes financeiros s respectivas responsabilidades. Assim explicam, Utilizou-

    se como medida de equivalncia um valor comum de gasto por aluno em cada estado,

    instituindo-se mecanismo de redistribuio que retirava recursos de quem atendia

    relativamente menos e direcionava-os para quem atendia mais. (OLIVEIRA; SOUSA, 2010,

    p. 17).

    O pacto federativo, no que se refere a educao escolar, se organiza conforme

    quadro abaixo:

    Quadro 1 - Sistema Federativo do Brasil

    Sistemas de ensino - Regime de Colaborao

    -com unidade: art. 6 e art. 205 da CF/1988

    - com diviso de competncias e responsabilidades

    -com diversidade de campos administrativos,

    -com diversidade de nveis de educao escolar,

    Educao Escolar

    Coexistncia

    coordenada e

    descentralizada - com assinalao de recursos vinculados.

    Fonte: Cury, 2009b, p.26 Quadro elaborado para este trabalho.

    O quadro apresenta a organizao da educao nacional, com distribuio de

    competncias em diferentes etapas e nveis de ensino que ocorrem no mbito dos entes

    federados, e, participativamente, mediante o regime de colaborao da Unio, estados e

    7 O Fundef foi substitudo pelo Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao (Fundeb), regulamentado pela Lei n 11.494, de 20 de junho de 2007.

  • 32

    municpios, com nfase na descentralizao de servios e recursos. Dessa forma h um

    carter de administrao complexa devido ao nmero de espaos e poderes implicados,

    devido ao conjunto bastante intrincado da legislao [...] (CURY, 2009b, p. 26).

    Cury (2009b, p. 27) identifica ainda que

    Como estamos com 20 anos de distncia da proclamao da Constituio, como em poltica o vcuo no existe, essa lacuna vem sendo ocupada por uma guerra fiscal entre os Estados, as contnuas intromisses em torno da capacidade financeira dos entes federativos, a chegada de contribuies (que no entram nos percentuais vinculados) provisrias que se eternizam. Tudo isso acaba gerando, na prtica, mais um tipo de federalismo, um federalismo competitivo que pe em risco o pacto federativo sob a figura do modelo cooperativo e seus avanos. Essa complexidade poltico-administrativa coexiste com uma realidade scio-educacional muito desigual e da qual decorrem incertezas e escassez de recursos (CURY, 2009b, p.27).

    Na regulamentao dos dispositivos da Constituio Federal, a Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional (LDBEN n. 9.394 de 20 de dezembro 1996), no art. 8 reitera

    que A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios organizaro, em regime de

    colaborao, os respectivos sistemas de ensino. No art. 4 dispe sobre padres mnimos

    de qualidade de ensino definidos como a variedade e quantidade mnimas, por aluno, de

    insumos indispensveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem (Inciso

    IX). Com isso, responsabiliza a Unio, os estados e municpios pela qualidade da oferta da

    educao bsica.

    Ao regulamentar o sistema de avaliao, a LDBEN define o papel da Unio nos

    seguintes dispositivos: o art. 8, 1 afirma que caber Unio a coordenao da poltica

    nacional de educao, articulando os diferentes nveis e sistemas e exercendo funo

    normativa, redistributiva e supletiva em relao s demais instncias educacionais. A Unio

    dever ainda, segundo o art. 9, inciso V, coletar, analisar e disseminar informaes sobre a

    educao; e conforme o inciso VI do mesmo artigo assegurar processo nacional de

    avaliao do rendimento escolar no ensino fundamental, mdio e superior, em colaborao

    com os sistemas de ensino, objetivando a definio de prioridades e a melhoria da qualidade

    de ensino. Ainda, segundo o art. 87 das Disposies Transitrias, em seu 3, inciso IV

    integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental do seu territrio ao sistema

    nacional de avaliao do rendimento escolar. Com esses dispositivos fica estabelecido o

    compromisso da Unio em assegurar o processo nacional de avaliao do rendimento escolar,

    com a cooperao dos sistemas, objetivando a definio de prioridades e a melhoria da

    qualidade do ensino (BRASIL, 1996).

  • 33

    Com base na LDB de 1996, a avaliao de desempenho dos alunos da educao

    bsica tornou-se obrigatria e, desde ento, os municpios tem participado do sistema nacional

    de avaliao, entendida como um dos meios para se atingir a qualidade de ensino, em

    cumprimento ao art. 4, inciso IX da mencionada Lei, ou seja, padres mnimos de qualidade

    de ensino, definidos com a variedade e quantidades mnimas por aluno, de insumos

    indispensveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 1996).

    Assim, como analisa Cury (2002, p. 195), o papel da Unio em matria de

    avaliao escolar no decorre de um ato especfico de governo, mas est ancorado em um

    sistema nacional de avaliao, disposto na LDB. O autor acentua, no entanto, que se a

    avaliao de competncia prpria da Unio, ela o tambm sob regime de colaborao

    recproca.

    No entanto, pondera o autor que:

    O problema se a cooperao recproca entre os sistemas, legalmente exigida para efeito de levar adiante o eixo da avaliao, est sendo efetivada tanto na montagem do processo avaliativo quanto na sua metodologia. Caso contrrio, corre-se o risco de tornar os programas de avaliao novos paradigmas curriculares (do tipo currculo mnimo), inviabilizando a flexibilidade que a desburocratizao legal permitiu em face da autonomia dos estabelecimentos escolares e refreando a criatividade estimulada pela lei. Nesse caso, a cooperao exigida em lei pode se transformar em formas sofisticadas de polticas centralizadoras. (CURY, 2002, pp. 195-196).

    O art. 9, inciso VI da LDBEN define a colaborao entre os sistemas de ensino,

    porm, possvel afirmar que essa colaborao no observada pelo Estado, pois a definio

    de prioridades e procedimentos deveria ser com a anuncia e participao de todos os entes

    federados para a organizao dos sistemas nacionais de avaliao.

    Vale ressaltar, ainda, que em cumprimento ao constante no art. 14 da Constituio

    Federal de 1988 que determina a elaborao de um plano plurianual para a educao, foi

    aprovada a Lei n 10.172 de 10 de Janeiro de 2001, o Plano Nacional de Educao (PNE),

    com a durao de dez anos, composto de objetivos e metas para a educao bsica e

    modalidades e, tambm, para a educao superior, e determinava, entre outras aes, a

    articulao e a integrao nos nveis da educao, bem como integrao das Unidades

    Federativas do Poder Pblico, para com a qualidade da educao, com destaque ao disposto

    no art. 4 do PNE, sobre o sistema nacional de avaliao.

    Assim, no PNE, destacava-se, entre os 30 objetivos e metas para o ensino

    fundamental, a meta 26, que estabelecia a necessidade de um programa de monitoramento de

    desempenho dos alunos:

  • 34

    Assegurar a elevao progressiva do nvel de desempenho dos alunos mediante a implantao, em todos os sistemas de ensino, de um programa de monitoramento que utilize os indicadores do Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica e dos sistemas de avaliao dos estados e municpios que venham a ser desenvolvidos (BRASIL, 2001, p. 12).

    Alm disso, as metas da gesto educacional para os sistemas de ensino

    destacavam pontos relevantes para a educao dos entes federados:

    Meta 31. Estabelecer em todos os Estados, com auxlio tcnico e financeiro da Unio, programas de formao do pessoal tcnico das secretarias, para suprir, em cinco anos, pelo menos, as necessidades dos setores de informao e estatsticas educacionais, planejamento e avaliao.

    Meta 38. Consolidar e aperfeioar o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica-Saeb e o censo escolar.

    Meta 39. Estabelecer, nos Estados, em cinco anos, com a colaborao tcnica da Unio, um programa de avaliao de desempenho que atinja, pelo menos, todas as escolas de mais de 50 alunos do ensino fundamental e Mdio.

    Meta 41. Definir padres mnimos de qualidade da aprendizagem da Educao Bsica numa Conferncia Nacional de Educao, que envolva a comunidade educacional (BRASIL, 2001, p.113-114).

    As metas estabelecidas no PNE apontam a necessidade da coleta de informaes

    da avaliao externa, como uma estratgia relevante para a gesto educacional, bem como a

    descentralizao da avaliao ao estabelecer para os estados, programas de avaliao com o

    apoio tcnico e financeiro da Unio e, ainda, o estabelecimento de padres mnimos de

    qualidade da aprendizagem da educao bsica, por meio de uma Conferncia Nacional de

    Educao.

    1.2. Avaliao da educao bsica: caractersticas

    A preocupao com qualidade da Educao Bsica no Brasil ganhou mais

    importncia, na agenda dos governos, a partir da Conferncia Mundial de Educao para

    Todos realizada em Jomtien, Tailndia, de 5 a 9 de Maro de 1990, financiada pela

    Organizao das Naes Unidas (UNESCO), Fundo das Naes Unidas para a Infncia

    (UNICEF), Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Banco Mundial.

    [...] Os 155 governos que subscreveram a declarao ali aprovada comprometeram-se a

    assegurar uma educao bsica de qualidade a crianas, jovens e adultos (SHIROMA;

    MORAES; EVANGELISTA, 2002, p. 57).

    Entre as estratgias acordadas na Conferncia destaca-se: concentrar a ateno

    mais na aprendizagem de crianas, jovens e adultos, como o nmero de anos de escolarizao

    ou de certificados, assegurando que crianas, jovens e adultos pudesse efetivamente aprender,

    bem como utilizar sistemas de avaliao de resultados. Da definio dessas estratgias

  • 35

    resultaram seis metas a serem executadas durante o decnio, entre elas, melhoria dos

    resultados da aprendizagem. (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2002, p. 59-60).

    Esse evento culminou com os compromissos assumidos pelo Brasil no Governo de

    Itamar Franco (1992-1994), gesto do Ministro Murilo Hingel com a elaborao do Plano

    Decenal de Educao para Todos (BRASIL, 1993).

    O referido Plano estipulava uma srie de aes com o objetivo de melhorar a

    educao brasileira e ressaltava a importncia da avaliao para a qualidade do ensino com

    nfase no Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica (SAEB), anteriormente

    denominado Sistema de Avaliao do Ensino Pblico (SAEP), implantado por meio de

    convnio entre o Instituto Interamericano de Cooperao para Agricultura (IICA) e o

    Ministrio da Educao (MEC). A criao do SAEB simultaneamente ocorreu com as

    demandas do Banco Mundial concernentes ao sistema de avaliao do impacto do Projeto

    Nordeste, segmento educao, no mbito do VI acordo MEC/BIRD8 (WAISSELFISZ, 1994).

    A proposta ficou pronta em 1989, aps testes e correes, que somente foi aplicada

    em 1990, com a destinao de recursos para o 1 ciclo do SAEB que recebeu apoio do

    Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNDU)9 e do Instituto Interamericano

    de Cooperao para Agricultura (IICA) (WAISSELFISZ, 1994).

    O Plano Decenal de Educao para Todos definiu por meio da avaliao externa,

    do SAEB, a qualidade do ensino, no sentido de aferir a aprendizagem dos alunos e o

    desempenho das escolas de 1 Grau e prover informaes para a avaliao e reviso de planos

    e programas de qualificao educacional (BRASIL, 1993, p. 51).

    O Plano mencionado tambm tratava da implantao de ncleos de estudos em

    avaliao nas universidades e centros de pesquisa, a formao e capacitao de recursos

    humanos e a produo de pesquisa para subsidiar as polticas pblicas visando a qualidade da

    educao brasileira.

    Conforme Sousa (2009, p. 31), os sistemas nacionais de avaliao educacional

    foram [...] difundidos sociedade como mecanismos voltados a subsidiar a elaborao de

    diagnsticos sobre a realidade educacional e a orientar a formulao de polticas visando

    promoo da equidade e da melhoria da qualidade do ensino. A autora acrescenta que os

    8 BRASIL, MEC, IICA. Proposta de Avaliao do Programa de Educao Bsica para o Nordeste, VI Acordo MEC/BIRD, Braslia, 1998. 9 Relatrio Nacional do Sistema do Sistema de Avaliao do Ensino Bsico Ciclo de 1990 que recebeu apoio do PNDU e do IICA. (BRASIL, MEC, INEP, 1992).

  • 36

    governos subnacionais ao acompanharem o governo federal formularam suas propostas de

    avaliao complementares s realizadas em mbito federal. Acentua que [...] nesse

    movimento, o que se disseminou, por meio da avaliao, foi uma dada lgica de gesto de

    educao pelo Estado.

    Entre as medidas do governo federal para a avaliao externa, destacam-se o

    Sistema Nacional de Educao Bsica (SAEB), criado em 1998, por meio de um estudo piloto

    nos estados do Paran e Rio Grande do Norte tentando vislumbrar o que poderia ser feito na

    rea. Houve pouco tempo, todo mundo dizia que trs meses seria pouco tempo pra preparar o

    estudo (BRASIL, 1994, p. 54).

    Segundo discurso oficial, afirma Waisselfisz Nossa equipe era formada,

    basicamente, por trs tcnicos do Ministrio e eu, para fazer uma pesquisa nacional de grande

    porte - depois vamos ver a dimenso da pesquisa (BRASIL, 1994, p. 54). Assim, a avaliao

    institucional externa ganhou importncia a partir de 1988, por meio do SAEB, que pretendia

    conhecer e ter noo de como se encontrava a educao bsica no Brasil em suas vrias

    dimenses: a primeira, a situao do acesso, da permanncia, e da qualidade do ensino; a

    segunda, valorizao e competncia do corpo docente e a terceira, em que medida a

    estrutura, o sistema, estava efetivamente democratizando sua gesto, (BRASIL, 1994, p. 54).

    Ainda, segundo a tica oficial, Pestana (1997)10 afirma que a implantao do

    SAEB [...] contribuiu para a criao de uma cultura de avaliao no pas, consolidando um

    leque de informaes sobre a qualidade do ensino. Acrescenta que [...] o MEC estruturou

    um processo de avaliao em todo o territrio nacional estabelecendo controle dos contedos

    mnimos, e dos padres de qualidade da educao bsica previstos na Constituio Federal de

    1998. Assim o SAEB o [...] referencial de avaliao da educao bsica e os seus

    resultados devero interferir no planejamento escolar e indutores na definio de polticas

    educacionais (PESTANA, 1997, p.12).

    Desse modo a proposta original do SAEB est baseada em seis princpios

    demonstrados no documento do INEP11, (1995) que dispunha em linhas gerais sobre

    o desenvolvimento das capacidades avaliativas dos gestores das secretarias estaduais e rgos municipais de educao; regionalizao do processo avaliativo, proporcionando que a prpria gesto local possa direcionar os estmulos e as prticas de avaliao educacional; proposio de estratgias metodolgicas com vistas a

    10 Entrevista de Maria Ins Gomes de S Pestana, realizada em 15 de abril de 1997, em Braslia, Diretora de Avaliao do Ensino Bsico (DAEB/MEC), no perodo de 1995 a 2001, por Vera Peroni.

    11 Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica: objetivos, diretrizes, produtos e resultados, srie Documental, 1995.

  • 37

    articular e relacionar os trabalhos de pesquisa de avaliao j realizados; conhecimento e construo do parmetro do rendimento dos alunos, referentes aos aspectos cognitivos das propostas curriculares; discusso dessas propostas com identificao dos pontos que apresentam maiores deficincias no rendimento, formao dos professores e contedos ministrados; divulgao ampla na sociedade quanto aos parmetros de qualidade e aos resultados concretamente obtidos, com visualizao do conhecimento a ser democratizado que trata do rendimento escolar, perfil e a prtica dos professores. (INEP, 1995).

    Esse perodo, segundo Pestana (1997), tambm foi marcado pela implantao de

    um sistema de informao de dados, com a incumbncia de monitorar o processo ensino

    aprendizagem das escolas pblicas em rede aberta aos interessados e ao pblico em geral.

    O documento do MEC ainda enfatiza que o sistema de avaliao teria que avanar

    alm da avaliao de escolas, mas tornar-se nacionalmente o principal instrumento de

    avaliao do Pas, com o retrato do diagnstico das escolas brasileiras, bem como das

    secretarias e do prprio rgo do MEC (1995).

    Nesse sentido, Pestana (1997) refora que a avaliao aplicada dessa forma,

    devendo retratar com preciso as necessidades do sistema educacional brasileiro, possibilitaria

    a elaborao de polticas que fossem ao encontro das questes mais emergenciais dos estados e

    municpios, proporcionando, assim, ajuda tcnica e financeira, para o alcance da qualidade da

    educao por meio do SAEB.

    O entendimento do significado de qualidade, como assinala Silva (2009, p. 219),

    implica observar padres ou modelos exigidos. Nos termos da autora, no campo econmico,

    o conceito de qualidade [...] dispe de parmetros de utilidade, praticidade e

    comparabilidade, utilizando medidas e nveis mensurveis, padres, rankings, testes

    comparativos, hierarquizao e estandardizao prprias do mbito mercantil.

    Assim, no campo econmico, acentua a autora, as relaes humanas,

    [...] so mediadas por outros parmetros de qualidade que regulam compra, venda e troca, enfim, o valor monetrio do objeto ou produto. Alguns deles so: a) o bem-estar pessoal ou coletivo, conforto do objeto ou da coisa; b) a utilidade e a praticidade que indicam a possibilidade de melhorar as condies de vida; c) a eficcia e a economia de tempo ou um melhor aproveitamento do tempo pessoal; d) a marca do produto que expressa status social e o seu reconhecimento pelos consumidores (SILVA, 2009, p. 218-219).

    Segundo Silva (2009), nos anos 1990, acelerou-se no Brasil a transposio de

    medidas, nveis e ndices prprios das relaes mercantis para a educao, ou seja, para

    quantificar e aferir a quantidade e qualidade dos contedos curriculares de sries/anos

    escolares por meio do processo da avaliao institucional externa da educao bsica,

    especialmente o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica, com o objetivo de

  • 38

    mensurar o desempenho dos estudantes do ensino fundamental nas 3 e 4 sries, bem como

    do ensino mdio na 3 srie, por meio de testes, aplicados em nvel nacional.

    Diante disso, a autora (2009, p. 220) questiona:

    Qual a inteno implcita desse sistema? Introduzir os princpios de qualidade e competitividade entre escolas? Alterar o currculo escolar, ajustando-o aos contedos a serem cobrados nos testes de aferio de desempenho? Hierarquizar as escolas e punir aqueles que fracassam por no terem alcanado os nveis e ndices aceitveis?

    Em sua anlise, Silva (2009, p. 220), afirma que a avaliao quantitativista

    constituiu um dos instrumentos para adaptar o sistema educacional brasileiro nova ordem

    global instituda nos anos de 1990.

    Ao analisar os critrios de avaliao e a interferncia dos organismos

    internacionais, Silva (2009, p. 220-221) assinala que:

    Em consonncia com o projeto neoliberal vigente, os organismos multilaterais trataram, inicialmente, de promover novas formas de controle da produo do trabalho escolar, por meio de mecanismos de avaliao, de currculo, de formao, de financiamento e de gesto dos sistemas de ensino e das escolas. Alm disso, explicitaram claramente o papel da educao no tocante gerao de capital social para o desenvolvimento do capitalismo, uma vez que a educao poderia contribuir para a minimizao da excluso, da segregao e da marginalizao social das populaes pobres [...].

    Os aspectos que envolveram e definiram a avaliao institucional integra-se ao

    movimento denominado Reforma do Estado na dcada de 1990, momento em que foram

    propostas mudanas de cunho gerencial

    [...] voltadas a modernizao do aparato burocrtico cujo objetivo central era imprimir eficincia ao desempenho do estado. Entre as suas aes prioritrias, a descentralizao administrativa transferiria funes da burocracia central para Estados, municpios e as denominadas organizaes sociais configuradas como entidades de direito privado pblicas no estatais. Para evitar qualquer risco de enfraquecimento institucional do Estado, em face da transferncia de suas funes, adotaram-se medidas reguladoras capazes de impedir que a exacerbao da autonomia na descentralizao conflitasse com as metas governamentais. A justificativa era gara