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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edição especial, p. 23 – 28 A UTILIZAÇÃO DE UM AMBIENTE VIRTUAL NO APOIO PEDAGÓGICO BARRETO, Ana Lúcia de Oliveira 1 ANTUNES, Ernani José , 2 ARAUJO, Ivanildo da Silva , 3 Palavras-chaves: Processo ensino-aprendizagem. Ambiente colaborativo. Apoio pedagógico. Problemática A Internet, vista como mola propulsora de uma revolução na comunicação, é responsável por mudanças sociais intensas (na economia, na política, na cultura, na educação etc.), que geram profundos impactos na formação do cidadão contemporâneo. O homem se rende à comunicação virtual. A utilização, cada vez mais intensa, dos recursos da tecnologia para a produção e a circulação de informação torna necessária a reflexão sobre esse tipo de comunicação e, mais especificamente, como ela chega à escola e interfere no comportamento dos estudantes. Em que medida essa nova ordem intervém na estrutura de comunicação escolar; na organização lógica do pensamento; na capacidade de leitura, interpretação e escrita e na relação qualitativa com a informação são exemplos de questionamentos imperativos. O desafio que se impõe à comunidade escolar é a adequação a essa transformação, promovendo a discussão e a pesquisa com esse foco. A reflexão não deve buscar qualificar o modelo que se apresenta como positivo ou negativo, mas avaliar como ele pode e deve ser utilizado para enriquecer as práticas pedagógicas. Enquadramento Conceitual e Teórico A pesquisa pode ser entendida como um processo de investigação orientada por um método com o objetivo de levantar, explorar e analisar dados para criação, formalização e/ou renovação de áreas do conhecimento visando a reduzir os níveis de 1 Professora Mestre (CMRJ), [email protected] 2 Mestre, Docente da Universidade Castelo Branco/RJ, [email protected] 3 Acadêmico – Graduação - Universidade Castelo Branco/RJ. [email protected]

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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edição especial, p. 23 – 28

A UTILIZAÇÃO DE UM AMBIENTE VIRTUAL NO APOIO PEDAGÓGICO

BARRETO, Ana Lúcia de Oliveira1

ANTUNES, Ernani José

, 2

ARAUJO, Ivanildo da Silva

, 3

Palavras-chaves: Processo ensino-aprendizagem. Ambiente colaborativo. Apoio

pedagógico.

Problemática

A Internet, vista como mola propulsora de uma revolução na

comunicação, é responsável por mudanças sociais intensas (na economia, na política, na

cultura, na educação etc.), que geram profundos impactos na formação do cidadão

contemporâneo. O homem se rende à comunicação virtual. A utilização, cada vez mais

intensa, dos recursos da tecnologia para a produção e a circulação de informação torna

necessária a reflexão sobre esse tipo de comunicação e, mais especificamente, como ela

chega à escola e interfere no comportamento dos estudantes. Em que medida essa nova

ordem intervém na estrutura de comunicação escolar; na organização lógica do

pensamento; na capacidade de leitura, interpretação e escrita e na relação qualitativa

com a informação são exemplos de questionamentos imperativos. O desafio que se

impõe à comunidade escolar é a adequação a essa transformação, promovendo a

discussão e a pesquisa com esse foco. A reflexão não deve buscar qualificar o modelo

que se apresenta como positivo ou negativo, mas avaliar como ele pode e deve ser

utilizado para enriquecer as práticas pedagógicas.

Enquadramento Conceitual e Teórico

A pesquisa pode ser entendida como um processo de investigação orientada por

um método com o objetivo de levantar, explorar e analisar dados para criação,

formalização e/ou renovação de áreas do conhecimento visando a reduzir os níveis de

1 Professora Mestre (CMRJ), [email protected]

2 Mestre, Docente da Universidade Castelo Branco/RJ, [email protected]

3 Acadêmico – Graduação - Universidade Castelo Branco/RJ. [email protected]

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reprovação na disciplina Matemática para alunos do 1˚ ano do Ensino Médio. A

observação dos ambientes virtuais foi realizada pelos autores deste projeto de forma

direta intensiva-participativa.

Surge, assim, a educação a distância (EaD) decorrente da necessidade de novas

propostas de estudo, pelas quais o aluno não tem uma delimitação geográfica e nem

uma sala de aula presencial para buscar sua qualificação. O aluno estuda onde e quando

desejar, num universo escolar disperso, existindo uma separação física entre professor e

aluno. A demanda por novas estratégias didáticas, que incluam as ferramentas de

interação do processo ensino-aprendizagem, ocorre com grande ênfase no conteúdo das

mensagens trocadas entre os alunos e os docentes, havendo uma interação social

ocorrida em ambientes virtuais. A separação entre professor e aluno com uma

intermediação pedagógica múltipla centrada no processo ensino-aprendizagem

intermediada de forma colaborativa, argumentativa, dialética e investigativa pode

reduzir os níveis de reprovação e diminuir as deficiências que os alunos carregam no

tocante à aprendizagem no ensino da Matemática. Nesta intermediação pedagógica, o

aluno é motivado a tornar-se mediador pedagógico ao lado de seu professor diante de

todos os presentes.

Diante desse panorama, refletimos sobre as possibilidades de ampliação do

contato dos alunos com a Matemática, garantindo qualidade e interesse, sem

necessariamente exigir ampliação ou alteração de grade curricular.

Procedimentos Metodológicos

Quanto à natureza do estudo, a pesquisa se desenvolveu de forma qualitativa,

caracterizada segundo uma abordagem fenomenológica-hermenêutica. Para Fiorentini,

Garnica e Bicudo (2004, p.111), a pesquisa que segue essa abordagem “se movimenta,

colocando suas interrogações, buscando seus dados, construindo sua rede de

significados”. Os autores destacam ainda que essa rede “se transforma conforme a

perspectiva pela qual é olhada”. Fiorentini e Lorenzato (2009, p.65) completam esse

pensamento quando afirmam que nessa abordagem a solução dos problemas

educacionais surge através da interpretação e compreensão dos significados atribuídos

pelos sujeitos que experienciam o fenômeno.

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No tocante à fonte de dados, foi utilizada a modalidade de pesquisa de campo.

Para Santos (2004, p.27), “pesquisa de campo é aquela que recolhe os dados in natura,

como percebidos pelo pesquisador”. O estudo foi realizado em uma escola da rede

pública (Colégio Militar do Rio de Janeiro) do munícipio do Rio de Janeiro. Foi

analisado com o uso de um ambiente multimídia de caráter sociointeracionista que

proporciona uma aprendizagem significativa em turmas do 1º ano do Ensino Médio,

com um gestor tecnológico do ambiente, um coordenador de tutoria, um tutor da

disciplina de Matemática e alunos com dificuldade de aprendizagem (voluntários) na

presente disciplina, utilizando um Ambiente Virtual de Aprendizagem.

A coleta de dados foi efetuada através de quatro etapas principais. A primeira

refere-se à análise da importância dos ambientes multimídias sociointeracionistas como

objeto de aprendizagem no ensino de Matemática. Esse processo foi executado através

de uma pesquisa dos alunos com dificuldade em pré-requisitos na aprendizagem da

disciplina em estudo e índices de reprovação. Em um segundo momento, foi

caracterizado pela aplicação de um pré-teste na turma com o intuito de se analisar

qualitativamente quais são as dificuldades de aprendizagem que os alunos possuem

acerca dos principais conceitos envolvidos na disciplina, verificando principalmente se

a deficiência seria em pré-requisitos ou no conteúdo que está sendo aplicado. Esse pré-

teste foi caracterizado por questões contendo assuntos voltados em conteúdos de anos

anteriores e assuntos interdisciplinares. Uma terceira etapa foi realizada através de uma

observação participante com o intuito de investigar como o uso do objeto de

aprendizagem proposto utilizando em um ambiente virtual auxilia o docente a

proporcionar uma aprendizagem significativa a seus alunos. Thiollent (2011) afirma que

“essa etapa da pesquisa constitui um experimento de ensino”. Borba (2004) afirma que

nessa modalidade de pesquisa o professor-pesquisador pode analisar detalhadamente as

atividades pedagógicas apresentadas aos estudantes. Para Fiorentini e Lorenzato (2009),

a “observação in loco facilita a compreensão do significado” que os observados dão a

realidade.

A observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno (LÜDKE e ANDRÈ, 1986, p.26 apud FIORENTINI e LORENZATO, 2009, p.108).

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As observações previstas nesta etapa ocorreram em uma aula que foi realizada

com a utilização do objeto de aprendizagem e suas ferramentas como produto final

dessa pesquisa. Essa observação foi estruturada e obteve como registro de pesquisa o

número de participantes no ambiente virtual, bem como a inserção de

dúvidas/participação utilizando uma plataforma da Web 2.0 de modo a atender o

conhecimento. Esse mecanismo de registro era apenas para coleta de dados da pesquisa,

não sendo divulgadas as respostas dos participantes. Através da análise dos dados

coletados, foi possível estudar o ambiente multimídia sociointeracionista favorecendo a

aprendizagem significativa no apoio pedagógico.

Resultados Principais

Nesta perspectiva de inovação no processo de ensino-aprendizagem, aponta-se

que utilização de uma ferramenta voltada para internet, como o Moodle, torna-se

relevante e imprescindível para o processo de educacional.

Em meio a este processo, os educadores necessitam compreender que a Web 2.0,

como um dos recursos das TIC, é uma mídia que potencializa a abertura de novos

caminhos para o ensino-aprendizagem. Agora o ensino, apesar de ser orientado pelo

professor, sofre a interferência e a colaboração do aluno. A conexão da escola com o

mundo e o acesso à sociedade do conhecimento e da informação passam a ser uma

construção interpessoal.

Kenski (2008) nos mostra que os recursos digitais dão origem a muito mais do

que o simples consumo de novos aparelhos tecnológicos. Surgem, com esses

equipamentos, novas formas de aprender; desenvolvem-se novos estímulos perceptivos;

criam-se novas necessidades, novas áreas de atuação e novas maneiras de estar e de ser

no mundo. Ratificando a visão de Kenski (2008), sabemos, no entanto, que a mídia

informa, mas não produz conhecimento por si só. Como afirmam Belloni e Gomes,

embora o uso das TIC propicie aprendizagens novas, especialmente novos modos de aprender, ele não é suficiente, por si só, para desenvolver o espírito crítico e utilizações criativas. Para tal desenvolvimento serão sempre necessárias as mediações dos adultos e das instituições educativas [...]. (BELLONI & GOMES, 2008, p. 722).

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Sendo assim, fica nítido que cabe aos professores uma mudança de postura no

sentido de buscarem temáticas que permitam interligar as suas disciplinas ao cotidiano

da sociedade, democratizando a Educação e incentivando os alunos a trabalharem em

grupo, permitindo o letramento tecnológico e o desenvolvimento de uma cultura que

ensina em suas vidas a tecnologia de maneira produtiva e criativa.

A construção conjunta insere um elemento bastante expressivo neste processo: a

relevância da opinião do usuário. É comum se estipular determinada plataforma como amigável,

mas este conceito é bastante subjetivo e caberá ao usuário realizar esta avaliação de forma

definitiva. Muitos alunos ainda utilizam os AVAs como repositórios de textos e materiais. Após o

download do material desejado, desconectam-se e só retornam ao ambiente quando novos

materiais são divulgados. Outro aspecto interessante é a quantidade de alunos que fazem o login

no ambiente, leem todas as mensagens dos fóruns e chats, sem deixar uma só linha postada. As

suposições para este comportamento são inúmeras, mas ao utilizar uma pesquisa com elementos

etnográficos, encontram-se pistas para as causas reais do comportamento destes usuários. Do

ponto de vista pedagógico, eles estão realizando seu processo de aprendizagem, embora não

exerçam interação com os demais participantes. Outros, um pouco mais ousados, postam

depoimentos, lançam questionamentos, trocam informações, dando um movimento e um colorido

ao ambiente, promovendo um dinamismo ao ambiente virtual de aprendizagem e, por

conseguinte, acrescentando dados, colaborando com a nova realidade que se tem em mãos.

Verificou-se ainda que, em curto prazo, a mudança de práticas e culturas

escolares é uma tarefa muito mais complexa e árdua do que a mudança de padrões

tecnológicos.

A compreensão da importância da comunicação entre os atores envolvidos no

processo possibilitou a reflexão em conjunto e, a partir daí, surgiram novas propostas.

Ao longo da pesquisa, percebemos um grande laço de união e

comprometimento dos educadores para que o processo de construção do conhecimento

evoluísse, culminando na satisfação e aprendizado dos educandos. Trabalhar junto aos

educadores desenvolvendo uma proposta inovadora numa instituição conservadora

como o Colégio Militar do Rio de Janeiro trouxe uma nova e positiva experiência aos

envolvidos que ultrapassaram as barreiras ao longo da pesquisa nos momentos de

desmotivação e exiquidade do tempo.

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Referências

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distância . 5ª. Ed .Campinas. SP. Autores Associados 2008.

BELLONI, M.L. & GOMES, N. G. Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e

colaboração. Educação e Sociedade, Campinas, out. 2008, vol.29, n.104 – Especial, p.

717-746. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.

php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302008000300005&lng=en&nrm=iso> Acesso

em 11 jun 2011.

BORBA, M. C. A pesquisa qualitativa em educação matemática. Anais da 27ª

reunião anual da Anped. Caxambu: 2004.

FIORENTINI, D.; GARNICA, A. V. M.; BICUDO, M. A. V. Pesquisa Qualitativa em

Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

FIORENTINI & LORENZATO. Investigação em Educação Matemática: Percursos Teóricos e Metodológicos, 3ª Ed. Campinas, 2009. – Autores associados 2009 - Coleção Formação de Professores.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E.D.A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas.

São Paulo: EPU, 1986.

KENSKI, V. M. Educação e comunicação: interconexões e convergências. Educação e

Sociedade, Campinas, out. 2008, vol.29, n.104 – Especial, pp. 647-665.

SANTOS, A. R. D. Metodologia Científica a construção do conhecimento. Rio de

Janeiro: DP&A editora, 2004.

THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 2011.