A Valência Verbal Em Três Dicionários Brasileiros

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Artigo cientifico.

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  • Linguagem & Ensino, Vol. 8, No. 1, 2005 (73-100)

    A valncia verbal em trs dicionriosbrasileiros

    (Verbal valency in three Brazilian dictionaries)

    Herbert Andreas WELKERUniversidade de Braslia

    ABSTRACT: The concept of verb valency was used in aBrazilian dictionary for the first time in 1990. Its organizerpresented the theoretical foundations in more detail inBorba (1996a). In the present article I distinguish verysuccinctly several types of valency and then show howverbal valency is treated in the above-mentionedmonolingual verb dictionary, a general dictionary and abilingual verb dictionary (which is still being compiled).Although all three indicate valency being, therefore, moreuseful than other dictionaries for people who want to usethe verbs they do it in a different way. In my opinion,certain information in the first two is unnecessary (aboutsemantic cases and verb classes), whereas in the secondsome important information (about semantic restrictions)is lacking.

    RESUMO: O conceito de valncia verbal foi aplicado numdicionrio brasileiro pela primeira vez em 1990. Seuorganizador apresentou as bases tericas maisdetalhadamente em Borba (1996a). No presente artigo,

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    diferencio muito sucintamente diversos tipos de valnciapara, em seguida, mostrar como a valncia verbal tratadano supracitado dicionrio de verbos monolnge, numdicionrio geral e num dicionrio de verbos bilnge (aindaem elaborao). Todos os trs indicam a valncia e porisso so mais teis do que outros para aquele usurio quequer empregar os verbos mas h diferenas. Consideroque, nos dois primeiros, certas informaes sodesnecessrias (sobre casos semnticos e classes deverbos), ao passo que, no segundo, faltam informaesimportantes sobre restries semnticas.

    KEY-WORDS: verb valency, lexicography, deep cases,semantic restrictions, verb classes.

    PALAVRAS-CHAVE: valncia verbal, lexicografia, casosprofundos, restries semnticas, classes de verbos.

    Foi na Alemanha que surgiu o primeiro dicionrio devalncias monolnge (Helbig/Schenkel, 1969) assim como oprimeiro bilnge (Busse/Dubost, 1977), francs-alemo. Oalemo Busse organizou ainda um bilnge portugus-alemo(Busse, 1994) e escreveu, junto com Mrio Vilela, o primeirolivro em portugus dedicado especificamente gramtica ou teoria da valncia (Busse/Vilela, 1986)1.

    No Brasil, o conceito de valncia foi aplicado numdicionrio pela primeira vez em 1990, num dicionrio de verbos

    1 Os trs dicionrios citados e mais alguns outros foram analisadosbrevemente em Welker (2003, p.178-203).

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    (Borba, 1990, aqui abreviado DGV), e, posteriormente, numdicionrio geral (Borba, 2002). do seu organizador tambmo primeiro livro brasileiro sobre a gramtica da valncia (Borba,1996a).

    Na verdade, o conceito de valncia faz parte daGramtica da Dependncia do francs Lucien Tesnire(Tesnire, 1959), que se tornou conhecida na Alemanha atravsde diversos escritos de Helbig. Embora Tesnire, quedesenvolveu sua teoria j nos anos trinta, seja considerado opai desse conceito, no se deve esquecer que outros tiveramidias semelhantes (como o alemo Bhler em 1934 e o russoKacnelson em 1948; cf. gel, 2000, p.27-31). Alm disso,trs gramticas alems de 1959 e 1960 continham pensamentosparecidos sem que os autores conhecessem a Gramtica daDependncia, como afirma Engel em 1980 na sua introduo traduo alem de Tesnire (1959)2.

    O QUE A VALNCIA VERBAL?

    Borba (1990, p.XXI) a define como o conjunto de rela-es estabelecidas entre o verbo e seus argumentos ou cons-tituintes indispensveis. Para ser exato, preciso dizer queexiste tambm a valncia de substantivos e de adjetivos (tra-

    2 Borba (1996a) no cita nenhum trabalho brasileiro sobre a valncia ou adependncia, mas existe, por exemplo, a dissertao de Raulino BussarelloContribuio lingstica do modelo dependencial de Lucien Tesnire parao estudo do Latim em cursos de Letras (PUC-RS, 1981). Igncio (1996,1997) inclui na bibliografia sua Tese de Livre-Docncia Para uma tipologiados complementos verbais do portugus contemporneo do Brasil (UNESP,Araraquara, 1984), qual no tive acesso. Portanto, no sei se trata davalncia. Ele prprio no a menciona em Igncio (2000).

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    tada em Borba, 1996a, p.84-190), de modo que h at mesmodicionrios dedicados especificamente a ela. Porm, vamosrestringir-nos aqui valncia verbal.

    Tesnire considera o verbo o ncleo da frase. o ver-bo que determina quais elementos a frase tem que conter.Como determinado tomo precisa de um certo nmero de ou-tros tomos para formar uma molcula (o que indicado pelavalncia qumica), assim um determinado verbo ou melhor,determinada acepo exige um certo nmero de comple-mentos (ou actantes) para que a frase seja gramaticalmentecorreta. Mas a valncia verbal d mais informaes do que osimples nmero. Enquanto a regncia s informa se o verbopede um objeto (direto ou indireto), a valncia indica que, porexemplo, morar (na acepo mais comum, isto , residir) pede,alm do sujeito, um complemento de lugar. No caso de dizervai haver a informao de que, alm do sujeito, tem que ocor-rer um complemento na forma de um nome (substantivo oupronome, como asneiras ou nada) ou do discurso direto ouindireto.

    H um certo problema quanto ao termo complemen-tos. Com Tesnire, boa parte dos tericos da valncia consi-dera o sujeito nada mais do que um complemento (mesmo quedifira dos outros em vrios aspectos), sendo que alguns prefe-rem o termo actante. Porm, diversos autores entre elesBorba concedem ao sujeito um lugar especial, distinguindo,portanto, sujeito e complementos. Dessa forma, o verbo ex-plicar exigir um sujeito e dois complementos (que podem seromitidos ou apagados, como em J expliquei.). Eu prefirocontar o sujeito entre os complementos, mesmo que vriasvezes mencione o termo sujeito (como tambm os de objetodireto e de objeto indireto).

    No lugar de complemento, utiliza-se, s vezes, tambm

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    o termo argumento (como na definio de Borba supracitada).Mas, nesse caso, sempre est includo o sujeito. O termo ar-gumento foi primeiro empregado quando se falava da valncialgica.

    Valncia lgica

    Foi Heger (1966) quem chamou a ateno para o fatode que a valncia poderia ser considerada uma categoriaconceitual, no sendo restrita morfossintaxe ( forma doscomplementos do verbo). Depois, Bondzio (1971) introduziu avalncia lgica. Sobre o fato de, por exemplo, o verbo vigiarimplicar que h algum que vigia e algum/algo vigiado, ele diz(p.89):

    Essas relaes so representadas na lgica dos predicadosmediante os conceitos predicado, ou functor, lugaresvazios e argumentos do predicado. Assim, o verbo vigiarpode ser descrito como predicado (functor) com dois lugaresvazios que podem ser ocupados pelos respectivosargumentos.3

    Como predicado, o verbo costuma ser representado porP quando tem apenas um argumento, e por R quando tem maisde um argumento; os argumentos, por sua vez, so represen-tados por x, y, z. Dessa forma, nadar teria a valncia lgica P(x), onde x simboliza o nico argumento, que o sujeito; jvisitar seria representado por R (x,y), onde y simboliza o se-gundo argumento, o objeto direto.

    Ao tratar desse assunto, Borba (1996a, p.20) emprega

    3 Todas as tradues so minhas.

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    primeiro os termos valncia quantitativa, valncia lgicaou lgico-semntica, mas depois (p.46) s utiliza o termovalncia quantitativa. De fato, a valncia lgica diz respeitoapenas ao nmero de argumentos que um verbo possui devidoao seu significado.

    No existe consenso a respeito da valncia lgica detodos os verbos e acepes. Por exemplo, enquanto, paraHelbig (1992, p.175), o verbo fliegen (ir de avio) possuitrs argumentos (x = algum, y = de avio, z = a algum lugar),no h dvida de que o verbo implica, como quarto argumento,o lugar de onde o avio parte. Ickler (1985, p.374) chega concluso de que poucos autores analisam o mesmo fato damesma maneira.

    De qualquer modo, desnecessrio incluir a valncialgica nos dicionrios, pois, devido apresentao do signifi-cado do verbo, o consulente j tem uma idia a respeito donmero de argumentos; ou seja, mesmo sem saber nada a res-peito de argumentos, ele sabe que andar na acepo maiscomum implica que algum se movimenta de um lugar paraoutro. Alis, como afirma Helbig (1992, p.166), existe a possi-bilidade de certos argumentos no poderem ser realizados emdeterminada lngua. Assim, mentir tem como argumentos, ouimplica, a pessoa que mente e a pessoa a quem se mente, mas,em alemo, o equivalente lgen s admite um complemento, osujeito. Portanto, saber o nmero de argumentos no servequele usurio que queira empregar esse verbo.

    Valncia semntica

    Segundo Borba (1996a, p.49), a valncia semntica dizrespeito, em primeiro lugar, s propriedades semnticas dosverbos, ou seja, sua subcategorizao em traos (...). Toda-

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    via, a maioria dos autores entende outra coisa por valnciasemntica, a saber, algo ao que o prprio Borba se refereposteriormente (p.52), quando diz que Da aproximao entreas estruturas conceituais resultam os papis temticos.

    A idia dos papis temticos foi introduzida por Fillmore(1968), que chamou ateno para casos profundos, tambmdenominados casos semnticos, diferentes dos casos superfi-ciais como nominativo ou acusativo. Para Fillmore, a frase,na sua estrutura bsica, consiste em um verbo e um ou maissintagmas nominais, cada um associado ao verbo numa rela-o especfica de casos (p.21). O autor estabeleceu umalista provisria de seis casos (agentive, instrumental, dative,factitive, locative, objective); ele mesmo e outros autoresposteriormente listaram mais ou diferentes casos. No DGV,por exemplo, encontram-se os seguintes: agente, beneficirio,experimentador, objetivo, locativo, instrumental, causativo,meta, origem, temporal. Sendo casos profundos que de-pendem do significado do verbo eles podem ser realizadosna superfcie de diferentes maneiras, ou mesmo nem apare-cer. Assim, cortar implica algum que corta (agente), algoque cortado (objetivo) e um instrumento (instrumental), demodo que o quadro de casos (case frame) desse verbo necessariamente [A_O_I], mas com cortar na referidaacepo podem ser formadas frases como:

    Pedro cortou a rvore com o machado.Machado bom que j cortou muita rvore.4Pedro cortou a rvore.

    4 Enunciado tirado do DGV.

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    Ou seja, o instrumental pode aparecer como adjuntoadverbial, como sujeito ou ser omitido.

    Nos anos setenta, vrios autores, percebendo semelhan-as entre as idias de Fillmore e de Tesnire pois ambosviam no verbo aquele elemento que determina a estrutura b-sica da frase incluram os casos profundos na teoria davalncia, denominando essa parte de valncia semntica.

    Como acontece com a valncia lgica, no h unanimi-dade quanto ao estabelecimento dos quadros de casos dos di-versos verbos. Borba (1996a, p.31) reconhece que a identifi-cao dos casos por seus traos constituintes s vezes se tor-na sutil ou difcil.

    No que diz respeito a dicionrios, surge tambm aqui apergunta se uma informao sobre a valncia semntica necessria. A resposta parecida com aquela dada no casoda valncia lgica: o usurio que conhece a teoria dos casospode, entendendo o significado de determinada acepo doverbo, ele mesmo estabelecer o quadro de casos, pois, ao con-trrio da estrutura superficial prpria a cada lngua os ca-sos profundos independem do idioma. por isso queSchumacher (1986, p.358) e Fischer (1990, p.24) reconhecemque os casos semnticos no constituem um problema para oaprendiz de lnguas estrangeiras. Assim, os equivalentes decomprar implicam, em todas as lnguas nas quais existe esseconceito, um comprador (caso: agente), o objeto comprado(caso: objetivo) e o vendedor (caso: origem); pode-se aindaacrescentar o valor da compra, mas, como foi dito acima, noh consenso quanto ao nmero de argumentos e de casos.Por tudo isso, um dicionrio que indique os casos profundosapenas facilita as coisas (para aquele que estiver interessadonesses casos), mas no fornece nenhuma informao que ousurio no possa deduzir ele prprio do significado do verbo.

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    Por exemplo, se sei a definio dos casos agente, paciente eexperimentador, sei tambm que, nas seguintes acepes decheirar: a) tomar o cheiro de, aplicar o sentido do olfato a;b) exalar cheiro; c) pressentir, perceber, o caso do sujeito agente, paciente e experimentador, respectivamente5.

    Valncia sinttica

    Esta a valncia tradicional isto , idealizada porTesnire e a mais comum, aquela definida acima eexemplificada com os verbos morar e dizer; ou seja, a valnciasinttica indica quantos complementos (actantes) o verbo exi-ge na superfcie e qual a forma desses complementos (obje-to direto, objeto indireto com determinada preposio, adjunto ou complemento adverbial de lugar, complemento oracionaletc.).

    Enquanto podem ser levantadas dvidas quanto utili-dade de informaes sobre a valncia lgica e a semntica, obviamente a valncia sinttica que o usurio tem que conhe-cer para poder expressar-se corretamente (no necessaria-mente conforme os ditames das gramticas tradicionais, e simconforme a norma, o usual).

    O grande problema que suscitou uma discusso semfim saber quais complementos so imprescindveis. Comono caso dos dois outros tipos de valncia, aqui tampouco exis-te unanimidade.

    claro que, em primeiro lugar, devem ser distinguidasas diversas acepes dos verbos (o que, reconhecidamente, j uma tarefa difcil), pois cada uma tem sua valncia especfi-ca.

    5 Exemplos tirados do DGV.

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    Em segundo lugar, tem-se diferenciado, desde os anos sessenta, entre complementos obrigatrios e facultativos (Tesnire j havia percebido que nem todos os actantes tm que ser realizados), mas a distino entre os dois novamente no fcil, como no estabelecer um limite ntido entre os facultativos e os elementos no exigidos pelo verbo, os chamados circunstantes, ou adjuntos. Por exemplo, segundo o DGV, presentear exige, alm do sujeito, apenas um objeto direto (como em Ele presenteou todos os funcionrios). Mas em quase todas as frases inclusive nas abonaes do prprio DGV h um complemento com a preposio com, de modo que este deveria ser considerado, no mnimo, complemento facultativo. Alm disso, existe a possibilidade de ocorrerem frases como Ela sabe presentear, na qual o objeto direto, complemento obrigatrio, omitido. Pasch (1977) considera que tais complementos apagveis em situaes muito especiais so obrigatrios relativos, ao passo que a autora chama de obrigatrios absolutos aqueles que nunca podem ser omitidos.

    A valncia pragmtica

    Se as situaes especiais, no caso mencionado por Pasch, so lingsticas (pois a omisso do complemento no ltimo exemplo possibilitada pela ocorrncia do verbo saber), h ainda que levar em considerao fatores extralingsticos que podem causar variaes na valncia, de modo que Rika (1977) cunhou o termo valncia pragmtica. Gtze (1974) j havia chamado ateno para a influncia de aspectos pragmticos na valncia, aspectos bastante discutidos posteriormente. Storrer (1992) criou um complexo modelo de valncia situacional.

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    Enquanto, na maioria das vezes, tais fatores provocamuma reduo do nmero de complementos (como no exemploJ expliquei), h casos em que ocorre um aumento da valncianormal; isto , em certas situaes o verbo exige mais comple-mentos do que normalmente. Assim, Schwitalla (1985) perce-beu que, em anncios de falecimento, o verbo alemo sterben(falecer) que normalmente s tem o sujeito como actanteobrigatrio e, facultativamente, um actante que indica a causada morte acompanhado, quase obrigatoriamente, de umcomplemento informando a idade da pessoa.

    Por falta de espao e por razes econmicas osdicionrios impressos no podem fornecer todas as informa-es a respeito de todas as possibilidades de ocorrncia ouomisso de complementos. Nos dicionrios eletrnicos nofaltaria espao, porm persistem as dificuldades de elabora-o detalhada dos verbetes. Evidentemente, pode e deve ha-ver mais informaes do que nos dicionrios tradicionais.

    Valncia sinttico-semntica

    Embora seja quase impossvel mencionar todas as es-truturas que, mais ou menos freqentemente, ocorrem na ln-gua falada e escrita, h uma informao que o bom dicionriodeveria fornecer, a saber, sobre a categoria semntica qualdevem ou podem pertencer os diversos actantes, por exemplo,sobre o fato de que o objeto direto de desfavorecer , segun-do o DGV, expresso por um nome humano (pessoas ou con-juntos de pessoas, como escola, classe mdia). Trata-sede restries selecionais que foram denominadas, pelos te-ricos da valncia, informaes semntico-referenciais(Helbig, 1992, p.18), categoriais ou ontolgicas(Schumacher, 1996, p.290). Diversos autores afirmaram que

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    elas constituem a valncia semntica (Helbig/Schenkel, 1969)ou fazem parte dela (Borba, 1996a6).

    Tais informaes j foram includas, parcialmente, nosprimeiros dicionrios de valncia. Por exemplo, em Busse/Dubost (op.cit.), os complementos so geralmente simboliza-dos apenas por N, mas s vezes especifica-se que N re-fere-se a pessoas ou, ao contrrio, a coisas.

    verdade que, em muitos casos, a informao de que osujeito tem que ser uma pessoa suprflua, pois, sabendo-sedo significado de aprovar, por exemplo, claro que s sereshumanos podem aprovar algo, mas, em outros casos, isso menos evidente. Por exemplo, se no conheo o verbo desfa-lecer e ele explicado como no DGV por enfraquecer,esmorecer, desmaiar, vou supor que somente pessoas ou ani-mais podem desfalecer; como no existe tal restrio, o dici-onrio deveria indicar a possibilidade de o sujeito ser umacoisa7. Informaes semntico-referenciais so ainda mais

    6 [A valncia semntica diz] respeito s caractersticas categoriais (traosque compem cada uma das categorias: N+anim; +hum; +cont, etc.), sfunes temticas (= papis) como agente, causativo, beneficirio,experimentador, etc., e s restries selecionais que determinam quais classes/subclasses de itens [...] preenchem os argumentos [...]. (p.21) Eu prefiroreservar o termo valncia semntica para os casos profundos, que semanifestam na superfcie de vrias maneiras; j as restries selecionais que tambm so semnticas limitam a escolha dos complementos nasuperfcie; ou seja, determinado complemento (indicado pela valnciasinttica) tem que pertencer a determinada categoria. Por isso, uso o termovalncia sinttico-semntica.

    7 Expresses como o sujeito uma pessoa/coisa so abreviaes feitaspor comodidade significando no lugar do sujeito/complemento usado umlexema ou nome (substantivo, pronome ou nome prprio) que designa sereshumanos / coisas. No prprio DGV, encontram-se, s vezes, expressesabreviadas como sujeito humano (por exemplo, no verbete comer).

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    importantes no caso dos outros complementos. Por exemplo,as explicaes dos significados de estragar no DGV so in-suficientes para o usurio saber o que se pode estragar; por-tanto, as restries selecionais que, de fato, constam nessedicionrio so imprescindveis.

    OS TRS DICIONRIOS

    Ser examinada a apresentao da valncia nos dicio-nrios DGV (Borba, 1990), DUP (Borba, 2002) e DVAP (Di-cionrio de verbos alemo-portugus, de minha autoria).Este ltimo ainda no foi publicado, e sua elaborao encon-tra-se apenas em estgio inicial; porm, como ele j pode serconsultado mesmo contendo poucos verbetes considero-ono um projeto e sim um dicionrio em construo. Ele estdisponvel na internet no endereo .

    O DGV

    Em Welker (2000a), foi feita uma anlise crtica geraldesse dicionrio de verbos. Aqui, restrinjo-me a consideraessobre a valncia.

    Alm das explicaes mediante sinnimos e parfra-ses, das abonaes e de locues, o DGV oferece as seguin-tes informaes (as quais so dadas em forma de linguagemcomum, no de siglas ou abreviaturas como acontece em to-dos os dicionrios valenciais):

    a) Valncia sinttico-semnticaIndicam-se o sujeito e os outros complementos exigidos

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    pelo verbo (em cada uma de suas acepes); para esses lti-mos, informa-se ao usurio se deve ser usada alguma preposi-o ou se o complemento de um tipo especial, como, porexemplo, de modo ou orao conjuncional.

    O fato de certos complementos serem facultativos expresso pela observao apagvel. Assim, em Essa hist-ria no me cheira bem, o pronome me considerado apagvel.

    Muito freqentemente so apresentadas restriesselecionais para o sujeito e os outros complementos mediantea indicao de traos semnticos como humano, concre-to, abstrato, concreto no-animado, instituio.

    s vezes, as informaes semnticas so mais preci-sas; por exemplo, informa-se que determinado complementotem que ser um nome designativo de espao, concreto vis-vel, designativo de objeto cognitivo, designativo de produ-o lingstica, indicativo de sabor ou som, designativo depedra de jogo de xadrez ou de damas. Chamo essas restri-es de restries semnticas, em oposio s restriesselecionais (as quais tambm so semnticas, porm mais ge-rais).

    Mais raramento, fazem-se observaes em letra me-nor sobre situaes especficas; por exemplo, tendo em vis-ta que comer, em determinada acepo, significa engolir parase alimentar, explica-se que, com sujeito humano, o verbopode significar tomar uma refeio.

    b) Valncia semnticaCuriosamente, os casos semnticos ou profundos

    so informados apenas em relao ao sujeito, enquanto a Te-oria dos Casos prev a indicao para todos os argumentos.

    Segundo o Glossrio anexo introduo do DGV, sodiferenciados os casos agente, beneficirio, causativo,

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    experimentador, factitivo, inativo e paciente.Algumas vezes, sendo o sujeito um agente, h uma ob-

    servao em letra menor de que um instrumental podeocupar a posio de sujeito. H tambm esclarecimentoscomo Um locativo temporal ou espacial pode ocupar a posi-o de sujeito, que, ento, se apaga (verbete comemorar).

    Como foi explicado em 1.2, considero a indicao decasos profundos desnecessria8.

    c) Classes sinttico-semnticas dos verbosPara cada acepo, o DGV informa a classe sinttico-

    semntica do verbo. Essas classes so ao, ao-proces-so, processo e estado. Estranhamente, o autor no cita Chafe(1970, p.95-104), que introduziu tanto a classificao quantoos termos.

    As classes tm a ver com a valncia semntica na me-dida em que, por exemplo, s pode haver ao e ao-proces-so quando existe um agente.

    Como acontece com os casos profundos, a informaosobre a classe desnecessria, pois, tendo compreendido aconceituao das quatro classes, o usurio do dicionrio pode,ele prprio, atribuir as classes a partir do significado do verbo.Por exemplo, se, em uma acepo, escutar significa perce-ber e entender os sons pelo sentido da audio, ouvir, e, emoutra, prestar ateno em, ele vai saber que se trata de ver-bo de processo e de verbo de ao, respectivamente.

    claro que o fornecimento dessa informao constitui

    8 Informaes sobre os casos profundos dos argumentos podem sernecessrias em certos programas computacionais, por exemplo, na traduoautomtica; porm, aquelas dadas num dicionrio somente so teis se aconceituao (diviso e definio) dos diversos casos no dicionrio coincidecom aquela do programa.

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    uma ajuda quele que a deseja. Por exemplo, vendo a obser-vao de que, em determinada acepo, um verbo indica esta-do, o usurio, sem ter que refletir, vai saber de imediato queno poder us-lo nem na forma do imperativo nem na vozpassiva. De qualquer modo, o enorme trabalho taxionmicodos autores do DGV justifica-se na medida em que eles queri-am elaborar um dicionrio gramatical, oferecendo uma des-crio completa da estrutura e do funcionamento dos sintagmasverbais (p.VII). Entretanto, no h informaes explcitassobre as possibilidades de apassivao, pois esta atinge vri-as classes de verbos (p.XII).

    Para ter uma idia da diagramao, veja o incio do ver-bete calcinar:

    CALCINAR I. Indica ao-processo com sujeito causativoe com complemento expresso por nome concreto. Significaqueimar com violncia e muito, abrasar: O sol a pinocalcina os mandacarus (MS, 46); as labaredas calcinaramas casas. II. Indica processo, na forma pronominal ou no,com sujeito concreto paciente. Significa ficar muitoqueimado: Os velhos troncos calcinaram-se com oincndio; Os ossos calcinavam ao sol.

    Aps as diversas crticas, quero repetir uma afirmaofeita em Welker (2000a, p.200):

    (...) o DGV um excelente dicionrio de verbos, que constituium enorme passo frente e um auxlio imprescindvel paraquem precisa conhecer os significados dos verbos e asestruturas em que devem ou podem estar inseridos.

    O DUP

    Esse dicionrio foi anunciado e explicado em Borba

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    (1993, 1996b, 1997) e em Borba/Longo (1996); Igncio (1996)tratou especificamente da apresentao dos verbos9.

    No sendo um dicionrio especial de verbos, o DUP,obviamente, no pode ser to exaustivo quanto o DGV. Mes-mo assim, em consonncia com seu ttulo, oferece mais infor-maes essenciais para o uso do que outros dicionrios. Emcomparao com o DGV, a diagramao muito melhor, e ofato de as informaes no serem dadas em frases inteirascomo no DGV contribui muito para a clareza. Welker (2003,p.144), apesar de algumas crticas, chama ateno para ograndioso trabalho do autor e dos colaboradores.

    No que concerne valncia, nota-se o seguinte:a) No h informaes sobre os casos profundos. Tal-

    vez os autores tenham percebido que elas so desnecessrias.b) Continua a indicao da classe de verbo a que cada

    acepo pertence. No a considero imprescindvel (veja mi-nhas explicaes acima), mas louvvel que ela seja feita demaneira clara e breve, a saber, em negrito entre colchetes.

    c) Continuam as informaes sobre a valncia sintti-co-semntica. Felizmente, elas so dadas com muito maiorclareza do que no DGV: os termos no frases inteiras esto entre colchetes, em negrito e em itlico. A facultatividadedos complementos indicada pelo sinal , que significa queo complemento mencionado pode ocorrer ou no.

    9 Causa estranheza que no haja nenhuma bibliografia em Borba (1996b) eBorba (1997) e que nos outros trs trabalhos existam pouqussimasreferncias bibliogrficas. O leitor no informado de onde provm osconceitos tericos. Somente Igncio cita Igncio (1984) e Chafe (1970).Este ltimo ainda citado em Neves (1996), um artigo no qual o DUP mencionado apenas numa nota de p de pgina. Igncio (2000) faz refernciatanto a Tesnire quanto a Chafe.

  • A VALNCIA VERBAL

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 73-100, jan./jun. 200590

    Veja um pequeno verbete (onde V indica a categoriaverbo, e o asterisco, a diviso em classes); as abonaesforam omitidas aqui:

    Lastrear V * [Ao] [Compl: nome abstrato] 1 garantir (...)2 servir de apoio; subsidiar (...) * [Estado. Pronominal][Compl: em+nome abstrato] 3 estar fundamentado;baseado (...)

    Nesse exemplo, abstrato uma restrio seletiva; emmostra a forma do complemento; isto , trata-se de um com-plemento acompanhado da preposio em, a qual destacada,pois est sublinhada. Embora a redao do verbete j sejamuito mais sucinta do que no DGV, a repetio da palavranome nas informaes sobre os complementos poderia ter sidoevitada.

    Mais grave, entretanto, a falta de informao sobre osujeito. Se bvio, em muitos casos, que o sujeito s pode tero trao semntico humano e que, em outros, as parfrases e/ou abonaes evidenciam que o sujeito pode ser uma pessoaou uma coisa, em diversos casos isso no to evidente. As-sim, a falta de restries selecionais em relao ao sujeito uma falha importante num dicionrio que pretende prover osusurios da lngua escrita de um instrumento eficiente deagilizao do uso escrito (p.VI) e trazer informaes queesclarecem o uso da palavra (p.XI).

    Nos seguintes exemplos, as explicaes do significadoda respectiva acepo mediante sinnimos ou parfrases,mostradas aps dois pontos e as abonaes no permitemao usurio saber se o sujeito pode ter o trao humano:

    doer: causar dor ou sofrimento fsicodoer: apresentar dor fsicaelitizar: transformar em elite; diferenciar do comum

  • HERBERT WELKER

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 73-100, jan./jun. 2005 91

    enfarar: causar enjo, aborrecimento; enfastiarenfastiar: causar fastio; enjoar; aborrecerenfeixar: reunir, concentrarlastrear: garantir

    No somente em relao ao sujeito, mas tambm aosoutros complementos que o usurio precisa de esclarecimen-tos ainda mais detalhados, o que chamei de restries semn-ticas. Aquelas que constam no DGV foram omitidas, como,por exemplo no verbete carregar, a informao com com-plemento expresso por nome concreto designativo de meio detransporte. Provavelmente, os autores do DUP tendo quediminuir o tamanho dos verbetes imaginaram que a explica-o do significado (pr carga) j fosse suficiente, o que,freqentemente, verdade. (Outros exemplos so casar eempalhar, onde as informaes do DGV sobre o sujeito nome humano designativo de ministro religioso ou agente doestado de instituies e o objeto animais mortos , res-pectivamente, parecem suprfluas).

    Entretanto, h inmeros casos em que uma informaomais detalhada indispensvel para quem quer no somentecompreender as diversas acepes como tambm empreg-las.

    Novamente mostro alguns exemplos, apresentando overbo e a parfrase da acepo qual me refiro. Aqui a per-gunta : ser que no existem restries quanto escolha doslexemas que podem ser o complemento (objeto direto) do ver-bo?

    carregar: fazer funcionarcarregar: prover da munio necessriacelebrar: contrair solenemente; contratarcelebrar: efetuar; realizaremitir: confeccionar

  • A VALNCIA VERBAL

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 73-100, jan./jun. 200592

    A falta de espao, na verdade, no pode desculpar aomisso de informao to relevante, pois perde-se muito es-pao com a repetio da palavra nome e de expresses comoqualificador de nome animado no feminino, as quais poderi-am ser abreviadas.

    Concluindo, constata-se que o DUP por ser mais su-cinto de leitura muito mais agradvel do que o DGV, mas,por outro lado, foram deixadas de lado informaes importan-tes para quem quer usar os verbos. Mesmo assim, o DUP bem mais informativo do que outros dicionrios gerais brasilei-ros e, portanto, mais til na produo de textos10.

    O DVAP

    O DVAP foi projetado para ser editado em forma delivro (cf. Welker 1998, 2000b, 2003), mas est sendo divulga-do como dicionrio eletrnico, online. No que diz respeito

    10 No presente trabalho, s levado em considerao a valncia verbal. Noque concerne aos substantivos, adjetivos e advrbios, o DUP oferece oresultado de um trabalho extraordinrio de classificao. Porm, enquantoas informaes a respeito da valncia dos substantivos e adjetivos sonecessrias (pois o usurio precisa saber quando se diz metido em ou metidocom e que enaltao pode ter um complemento precedida das preposiesa ou de), pode-se duvidar da utilidade de indicaes como qualificador denome concreto no-animado para encaixvel. E, num dicionrio que objetivaajudar na produo de textos, deve ser criticado o nmero insuficiente demarcas de uso (ou informaes pragmticas). Visto que tais marcas faltam,por exemplo, em hostes, imorredouro, incola, inclume, irar, trfego, pareceque esses lexemas encontram-se no mesmo nvel estilstico (registro) que nafossa e treco (cf. Welker, 2003, p. 144). Quanto a erros, eles ocorrem noDUP como em todos os dicionrios, devendo ser eliminados em futurasedies; por exemplo, diversas vezes a valncia nas abonaes diferentedaquela indicada (comprazer, acepo 2, compreender 3, dobrar 15, 16).

  • HERBERT WELKER

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 73-100, jan./jun. 2005 93

    valncia que o enfoque deste artigo a nica diferena que, devido disponibilidade de espao, as valncias podemser indicadas tanto por meio de siglas como em forma de fra-ses.

    Tendo em vista as opinies expressas no item 1, o DVAPno apresenta informaes sobre valncia lgica, valncia se-mntica (casos profundos) e classes de verbos. Por outrolado, pretendendo oferecer dados imprescindveis para o usocorreto, indica no somente a valncia sinttico-semntica (for-ma dos actantes + restries selecionais) como tambm,detalhadamente, restries semnticas e lexicais11.

    Como em todos os dicionrios (exceto o DGV), utili-zam-se siglas. No DVAP, tanto a forma dos complementosquanto as restries selecionais so mostradas, por meio desiglas, na prpria frmula valencial.

    Restries selecionais:N (= nome, sem restrio), V (= animado, ser vivo), P (=humano, pessoa), AN (= animado no-humano, animal),A (= no-animado, algo), CO (= coletividade de pessoas,como governo, administrao, empresa, jornal).

    Exemplos da forma dos complementos:Ad = complemento (com a restrio A) no dativo; Adj =adjetivo; INF = orao infinitiva; OB = orao subordinadaintegrante introduzida por ob (se); W = orao introduzidapor um pronome/advrbio interrogativo.

    11 Alm disso, h um nmero maior de marcas de uso do que em outrosdicionrios, pois elas so essenciais para quem quer empregar os lexemas.Cf. a crtica na nota anterior.

  • A VALNCIA VERBAL

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 73-100, jan./jun. 200594

    Complementos facultativos esto entre parnteses.Uma barra transversal significa ou.

    Para destacar o verbo, ele simbolizado por um asteris-co. Desse modo, as frmulas valenciais podem ter o seguinteaspecto:

    P * A/AN Exemplo (traduzido): algum compra algo/ umanimal

    AN * (V) um animal morde (um ser vivo)N * Pd algo ou um ser vivo agrada a algumP * P INF algum pede para algum fazer algoP * P OB/W algum pergunta a algum se/quando/

    quem...

    A sigla esquerda do verbo representa o sujeito (que,em alemo, est no caso nominativo), aquela direita se nohouver indicao de caso simboliza o objeto direto (casoacusativo).

    Aps a frmula valencial, d-se o equivalente portugusda respectiva acepo do verbo, acompanhado de informa-es sobre o co-texto, isto , sobre restries semnticas elexicais com relao aos complementos: elas so semnticasquando o complemento tem que pertencer a determinada ca-tegoria semntica (por exemplo: veculo), ou lexicais, quan-do apenas determinados lexemas podem ser empregados (porexemplo, dentes em uma das acepes de escovar).

    Para evitar falhas que ocorrem em outros dicionrios,essas informaes semnticas e lexicais so subdivididas eapresentadas em trs tipos de chaves:

  • HERBERT WELKER

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 73-100, jan./jun. 2005 95

    \ \ Entre estas barras, encontram-se hipernimos(por exemplo, aeronave), s vezes seguidos dealguns de seus hipnimos.

    > < Entre estes sinais, so citados os nicos lexemasaceitveis como complemento (por exemplo,dentes)

    [ ] Quando no existe hipernimo nem a segundasituao, mostram-se se isso for consideradotil entre colchetes alguns exemplos de lexemasque podem ser o complemento.

    Na verso papel do DVAP, essas informaes seriamdadas em portugus. Veja um pequeno verbete (sem as marcasde uso e sem abonaes):

    blenden1 A * (P/AN/A) \fonte de luz ou algo que reflete a luz:sol.faris.holofote. vidro da janela\ ofusca/ encandeia (P/AN/A) {A s pode ser olhos}2 A * P [beleza.riqueza] deslumbra/encandeia P3 P * A P escurece >couro. pele de animais