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1 _______________________________________________________________________ Curso de Letras Português-Espanhol Artigo Original A VARIAÇÃO E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR THE VARIATION AND THE LANGUAGE PREJUDICE IN THE SCHOOL ENVIRONMENT Joana Darc Vieira Rodrigues¹, Mª Cláudia Gomes da Silva¹, Cíntia da Silva Pacheco² 1 Alunas do Curso de Letras Português e Espanhol 2 Professora Doutora do Curso de Letras ________________________________________________________________________ Resumo: Este artigo pretende analisar a questão da variação e do preconceito linguístico numa escola do Ensino Fun- damental do Distrito Federal a partir da metodologia dos educadores de Língua Portuguesa e da visão dos alunos acerca dessa temática. Para tanto, foram realizadas pesquisas bibliográficas, conversas informais e entrevistas. Nessa vertente, a pesquisa procura analisar como os professores de língua portuguesa abordam as variedades linguísticas, na expectativa de que, por meio desse conhecimento, haja uma convivência mais harmoniosa entre alunos de diferentes regionalidades. A partir do ensino socialmente sensível, os alunos (as) aprendem a respeitar seus demais colegas e, ao mesmo tempo, se conscientizar de que não existe uma única maneira de expressão da língua portuguesa. Palavras-Chave: Educação; Variação; Preconceito Linguístico. Abstract: This article considers examine the issue of variation and linguistic prejudice in a school of basic education in the Federal District of Brazil from the methodology of portuguese-speaking educators and student awareness about this issue. Therefore, there was bibliographical research, informal conversations and interviews. In this aspect, the research seeks to analyze how the portuguese-speaking teachers address the linguistic varieties, in the hope that, through this knowledge, there’s a more harmonious coexistence between students of different regionalities. From the socially sensitive education, students learn to respect their other colleagues and fur- thermore, they become aware that there’s not only way of expression of the portuguese language. Keywords: Education; Variation; Prejudice Language. ______________________________________________________________________ Contatos: [email protected] [email protected] INTRODUÇÃO O tema Variação e Preconceito Linguístico no Ambiente Escolar relata o quanto a linguagem humana está relacio- nada com a sociedade e, consequente- mente, com a instituição de ensino. As va- riações linguísticas, que também determi- nam esta realidade no ambiente educaci- onal, retratam como a língua portuguesa possui suas diversidades e pode ser fa- lada de várias maneiras por seus falantes, em diferentes regiões do Brasil. Esta ação não deve ser vista de maneira discrimina- tória, pois trata-se de uma variação lin- guística, de um determinado indivíduo e de sua regionalidade.

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Curso de Letras Português-Espanhol Artigo Original

A VARIAÇÃO E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR THE VARIATION AND THE LANGUAGE PREJUDICE IN THE SCHOOL ENVIRONMENT Joana Darc Vieira Rodrigues¹, Mª Cláudia Gomes da Silva¹, Cíntia da Silva Pacheco² 1 Alunas do Curso de Letras Português e Espanhol 2 Professora Doutora do Curso de Letras

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Resumo:

Este artigo pretende analisar a questão da variação e do preconceito linguístico numa escola do Ensino Fun-damental do Distrito Federal a partir da metodologia dos educadores de Língua Portuguesa e da visão dos alunos acerca dessa temática. Para tanto, foram realizadas pesquisas bibliográficas, conversas informais e entrevistas. Nessa vertente, a pesquisa procura analisar como os professores de língua portuguesa abordam as variedades linguísticas, na expectativa de que, por meio desse conhecimento, haja uma convivência mais harmoniosa entre alunos de diferentes regionalidades. A partir do ensino socialmente sensível, os alunos (as) aprendem a respeitar seus demais colegas e, ao mesmo tempo, se conscientizar de que não existe uma única maneira de expressão da língua portuguesa.

Palavras-Chave: Educação; Variação; Preconceito Linguístico.

Abstract:

This article considers examine the issue of variation and linguistic prejudice in a school of basic education in the Federal District of Brazil from the methodology of portuguese-speaking educators and student awareness about this issue. Therefore, there was bibliographical research, informal conversations and interviews. In this aspect, the research seeks to analyze how the portuguese-speaking teachers address the linguistic varieties, in the hope that, through this knowledge, there’s a more harmonious coexistence between students of different regionalities. From the socially sensitive education, students learn to respect their other colleagues and fur-thermore, they become aware that there’s not only way of expression of the portuguese language.

Keywords: Education; Variation; Prejudice Language.

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Contatos: [email protected]

[email protected] INTRODUÇÃO

O tema Variação e Preconceito Linguístico no Ambiente Escolar relata o quanto a linguagem humana está relacio-nada com a sociedade e, consequente-mente, com a instituição de ensino. As va-riações linguísticas, que também determi-nam esta realidade no ambiente educaci-onal, retratam como a língua portuguesa

possui suas diversidades e pode ser fa-lada de várias maneiras por seus falantes, em diferentes regiões do Brasil. Esta ação não deve ser vista de maneira discrimina-tória, pois trata-se de uma variação lin-guística, de um determinado indivíduo e de sua regionalidade.

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É importante mostrar para os alu-nos que não se podem ignorar essas di-versidades e conscientizá-los de que exis-tem várias maneiras de dizer a mesma coisa, dependendo da região em que se encontra e em diferentes contextos soci-ais. Isso tem de ser levado em considera-ção para que não ocorra o preconceito. Geraldi (1996, p. 64) afirma que:

Aquele que aprendeu a refletir sobre a lingua-gem é capaz de compre-ender uma gramática – que nada mais é do que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua; aquele que nunca refletiu sobre a lin-guagem pode decorar uma gramática, mas ja-mais compreenderá o seu sentido.

O aluno só poderá refletir sobre a linguagem quando souber a importância das diferentes variações que ocorrem em sua própria língua materna. O professor deve alertá-lo de que a variação ocorre em todas as línguas de todos os falantes, sendo natural a existência de diferentes comportamentos linguísticos diante de inúmeras situações sociais e regionais. Os estudos sobre a variação lin-guística e a possível presença do precon-ceito linguístico no ambiente escolar nos motivaram a realizar essa pesquisa. É no-tória a intolerância por parte da sociedade em relação ao regionalismo de determina-das localidades. Sentir na pele a ação pre-conceituosa por parte de algumas pes-soas é lamentável. Depois de ter vivenci-ado o preconceito, uma das pesquisado-ras pôde entender como a “língua” tem po-der; e como ela ainda é usada erronea-mente por aqueles (as) que não a conhe-cem e não a respeitam. Essa situação ocorreu no ambiente de trabalho, já como professora, numa escola aqui do Distrito Federal. Em uma conversa informal, a “educadora” da escola informou que, por ordem da direção daquela instituição, mi-nha variedade (nordestina) não poderia ser utilizada na escola. Recusei-me a

aceitar tal “ordem” e pedi demissão. Esse “mal” causado serviu também de estímulo para que realizássemos este trabalho. Sendo visível essa realidade, prin-cipalmente nas escolas deste país, a falta de conhecimento em relação à variabili-dade da língua, infelizmente, designa esse tipo de comportamento. Conforme Bagno, (2009, p. 28):

Se queremos construir uma sociedade tole-rante, que valorize a di-versidade, uma socie-dade em que as diferen-ças de sexo, de cor de pele, de opção religiosa, de idade, de condições físicas, de orientação se-xual não sejam usadas como fator de discrimi-nação e perseguição, te-mos que exigir também que as diferenças nos comportamentos linguís-ticos sejam respeitadas e valorizadas.

Para isso, o objetivo geral deste ar-tigo é analisar se e como alunos e profes-sores trabalham com a variação linguís-tica na escola e como se manifesta ou não o preconceito linguístico na instituição de ensino, nas séries do sexto, sétimo e oi-tavo ano, precisamente com os alunos que fazem parte do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Nível Fun-damental II. Os objetivos específicos são:

Investigar a metodologia e o perfil

dos professores de língua portu-guesa;

Distinguir quais as principais difi-culdades na aprendizagem do português quando relacionada às variações linguísticas;

Apresentar os motivos que levam o aluno a sofrer o preconceito lin-guístico em sala de aula;

Discutir a possibilidade de aceita-ção das variações da fala em meio

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ao ambiente de ensino formal da norma padrão.

Assim, esta pesquisa procura in-

vestigar como a variação linguística é abordada em sala de aula e propor como a Sociolinguística pode estar associada ao ensino da norma padrão da língua por-tuguesa, mas, ao mesmo tempo, em busca da aceitação das variedades e vari-ações linguísticas sem preconceito lin-guístico. Segundo Scherre (2005, p. 112):

A luta contra o precon-ceito linguístico, bem como a luta contra toda a espécie de preconceito, parece às vezes ser uma luta contra a maré. Mas é uma luta que precisa continuar: nós, falantes-linguistas e linguistas nem sempre muito falan-tes, não podemos nos omitir. Temos, todos nós, o dever de partici-par do debate público contra o preconceito lin-guístico.

Portanto, diante desta perspectiva, como seria a convivência dos educandos em relação às variações linguísticas e com a possível presença do preconceito linguístico no ambiente escolar?

Para analisar o tema “da variação e do preconceito linguístico no ambiente es-colar”, esta pesquisa tem como base teó-rica os autores: Geraldi (1996), que aborda a importância de refletir sobre a lin-guagem para que se compreenda a gra-mática; Bagno (2009), que acredita na construção de uma sociedade que aprenda a valorizar e aceitar a diversidade cultural de cada indivíduo independente-mente de seu comportamento linguístico; Antunes (2003), que ressalta o mito da in-variabilidade da língua, comparando-o com o da superioridade de certos falares em relação à pessoa que vive na cidade e/ou zona rural; Yonne Leite (2002), que aborda a linguagem como a identificação de uma comunidade e a inserção de um indivíduo em diferentes agrupamentos;

Scherre (2005), que relata a necessidade da existência continuada da luta contra o preconceito linguístico como dever de to-dos; Mattos e Silva (2004), que enfatiza o avanço da Sociolinguística e da concep-ção de linguagem como um sistema hete-rogêneo; Bortoni-Ricardo (2004), que aborda o papel fundamental que a escola exerce em relação à ampliação da compe-tência de comunicação entre os estudan-tes; Calvet (2002), que trata da conceitua-ção dos três tipos de variação linguística; Gorski e Coelho (2006), que ressaltam a importância de aceitar a diversidade lin-guística, considerada, portanto, uma questão de cidadania; Celso Antunes (2013), que afirma ser primordial o res-peito e aceitação das variedades.

Do ponto de vista legal e dos docu-mentos de programas governamentais, Brasil (1998); Parâmetros Curriculares Nacionais de língua Portuguesa – PCNs; Currículos em Movimento e Coordenação de Educação de Jovens e Adultos – COEJA reforçam o ensino das variedades linguísticas nas aulas de Língua Portu-guesa. 1. O Objeto de Estudo da Sociolinguís-tica A Sociolinguística surgiu na década de 60 nos Estados Unidos, graças, sobre-tudo, aos trabalhos de William Labov, que enfatizou que toda língua muda e varia, isto é, muda com o tempo e varia no es-paço, além de variar de acordo com a si-tuação do falante. (BAGNO, 2001, p. 43).

Segundo Antunes (2003, p. 91), “ao mito da invariabilidade das línguas, se junta o outro, da superioridade de certos falares: o das cidades, melhor que o das zonas rurais; [...] pessoas sem diploma”.

No entanto, toda língua natural va-ria e muda, porque a própria sociedade é heterogênea e mutável. Nesse sentido, a área linguística que estuda a variação e a mudança linguística chama-se Sociolin-guística. Sua função é realizar estudos que esclareçam a existência do fenômeno linguístico variável conhecido como fenô-

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meno social e cultural de um povo. Se-gundo afirma Yonne Leite (2002, p. 7), é na linguagem que se reflete a identificação de cada comunidade e também a inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos status social, faixa etária, gêneros, graus e escolaridades. Também há a perspectiva que tra-balha com os impactos do preconceito lin-guístico em vários ambientes e, sobre-tudo, na sala de aula, foco deste trabalho. Assim, essa vertente designa ao educador aderir uma concepção socialmente sensí-vel de língua, a transmitir o conhecimento da linguagem, atuando conforme a gramá-tica normativa, porém, dando importância às diversidades linguísticas de forma a amenizar também o preconceito linguís-tico. Antunes (2003) afirma que:

Todas as línguas variam naturalmente, de acordo com as diferentes condi-ções da comunidade e do momento em que é falada. Variam as lín-guas de comunidades desenvolvidas, e variam as línguas de comunida-des subdesenvolvidas. Sempre foi assim e sem-pre será. Admitir este princípio é o mesmo que admitir uma gramática também variável, flexí-vel, adaptada e ade-quada às circunstâncias concretas em que a atu-ação linguística acon-tece. É o mesmo que ad-mitir uma gramática cu-jas regras podem deixar de ser “as únicas regras certas”, para incorporar outras opções de se di-zer o mesmo. Um dos grandes mitos que se criou foi o de admitir uma única forma “certa” de di-zer uma coisa, de expri-mir uma idéia (p.90).

O objeto de estudo da sociolinguís-tica é a língua falada em um contexto de uso social. Os diferentes aspectos sociais interferem na fala do indivíduo, o qual se expressa de diversas maneiras. O grande

avanço da Sociolinguística se funda basi-camente na sua conceituação de língua como sistema intrinsicamente heterogê-neo, [...] ou seja, fatores sociais (como classe, sexo, idade, etnia, escolaridade, estilo) (MATTOS e SILVA, 2004, p. 299).

Há três tipos de Sociolinguística: Sociolinguística Interacional, Variacionista e a Educacional. A Interacional investiga a linguagem do indivíduo dentro de um de-terminado contexto social e como ele re-age em diversas situações interativas; a Variacionista analisa a variação linguística no meio social em que o indivíduo está in-serido, fazendo surgir a concepção de que a língua não é homogênea; e a Educacio-nal consiste em aperfeiçoar o ensino da língua materna, de uma forma que não desprestigie as classes menos favoreci-das a fim de evitar o preconceito linguís-tico. A linguagem humana é, portanto, constituída por um conjunto de regras va-riáveis e regras categóricas, utilizadas em diversos contextos desde o nível idioletal (indivíduo), socioletal (grupos sociais) até o nível dialetal (comunidade). Portanto, ja-mais é utilizada igualmente por todos.

É viável salientar a inexistência de um único padrão linguístico por conta dos parâmetros geográficos e sociais da soci-edade. As formas de comunicação são fundamentais, mas é relevante compreen-der que dependendo da situação que um determinado falante esteja poderá surgir a necessidade de mudança em sua forma de falar.

É papel da escola, por-tanto, facilitar a amplia-ção da competência co-municativa dos alunos, permitindo-lhes apropri-arem-se dos recursos comunicativos necessá-rios para se desempe-nharem bem, e com se-gurança, nas distintas ta-refas linguísticas (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 74).

Diante da definição de Calvet

(2002, p. 16), “existem três tipos de varia-

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ções linguísticas; variações diatópicas, di-afásicas e diastráticas”. A primeira está re-lacionada ao regionalismo, diante das vá-rias maneiras de falar a mesma coisa con-forme a sua localidade; a segunda está li-gada à maneira de falar em diferentes lo-cais, sendo formal ou informal; e a terceira depende do grupo social e do nível de es-colarização. Na próxima seção, será relatada a importância do convívio das variedades da língua portuguesa e, consequente-mente, como todas podem ser trabalha-das e valorizadas em sala de aula por meio da adequação e da ampliação lin-guística. Entender, sobretudo, a relação direta entre valores sociais e a própria lín-gua é entender também a ocorrência do preconceito linguístico. Portanto, é rele-vante o estudo da gramática no ensino do português, mas sem menosprezar o co-nhecimento inato dos alunos e a diversi-dade linguística inerente a todos. 2. Adequação e Ampliação Linguística no Ensino de Língua Portuguesa e os Parâmetros Curriculares Nacionais Bagno (2009, p. 50) ressalta que “Infelizmente, vigora a nossa cultura uma separação rígida e radical entre fala e es-crita, como se fossem duas línguas dife-rentes e, pior, como se uma (a escrita) fosse melhor que a outra (a fala)”. Diante dessa afirmação, é preciso entender a proximidade entre língua falada e língua escrita de forma e reconhecer que a inte-ração entre ambas é necessária no pro-cesso da aprendizagem. No entanto, é fundamental o “aluno” utilizar correta-mente as normas gramaticais; mas que a escola também priorize os falares, a cul-tura e acima de tudo a variedade linguís-tica de cada um. Para Bagno (2001, p. 80):

Entre as variedades mais prestigiadas e as variedades mais estig-matizadas há toda uma zona intermediária, onde as influências de umas sobre as outras são in-tensas e constantes.

Isso é mais do que natu-ral numa sociedade complexa como a brasi-leira contemporânea.

Trata-se não da exclusão da norma

padrão, mas da ampliação da competên-cia comunicativa dos alunos a depender do contexto e da exigência social.

Quem quiser continuar usando as formas tradi-cionais, prescritas pelas normas conservadoras, fique à vontade, faça bom uso delas e seja fe-liz! Tudo o que pedimos é que as outras formas TAMBÉM sejam consi-

deradas boas, justas e corretas (BAGNO, 2009, p. 27).

Nessa perspectiva, é primordial

que as variedades linguísticas tenham uma maior aceitação no universo escolar. Ainda segundo Bagno (2009, p. 47):

A noção de erro é apli-cada apenas a fenôme-nos individuais, pois se uma pessoa disser “da-valo,” “gavalo”, “cafalo”, “cavaro” etc, em vez de dizer “cavalo”, é um erro e tem que tratar clinica-mente de modo ade-quado. Mas se a maioria dos brasileiros dizem “o meu óculos novo” e não “os meus óculo novos”, existe a necessidade de modificar alguma regra na língua para que ela se adapte a interpretação de seus falantes.

Nesse sentido, “o conhecimento da

gramática tradicional não pode ser usado como instrumento de perseguição, discri-minação e humilhação” (Bagno 2009, p. 29). Os próprios PCNs (1997, p. 26) “tratam a Língua Portuguesa, no Brasil, como um conjunto de muitas variedades dialetais [...] valor social é muito comum se considerarem as variedades de menor

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prestígio como inferiores ou erradas”. Par-tindo desse pressuposto, a escola, junto com os professores especificamente de língua portuguesa, devem minimamente valorizar as variedades da fala no ambi-ente de ensino, desmistificando o precon-ceito linguístico na sala de aula. Segundo afirmam os Parâmetros Curriculares Naci-onais (1997, p. 26):

Para isso, e também para poder ensinar Lín-gua Portuguesa, a es-cola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar – a que se parece com a escrita – e o de que a escrita é o espelho da fala – e, sendo assim, seria pre-ciso “concertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produzi-ram uma prática de muti-lação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tra-tando sua comunidade como se fosse formada por incapazes.

Muitas vezes o aluno pode sentir-se constrangido em falar com seus dife-rentes sotaques e dialetos por chamar a atenção dos demais colegas no ambiente de ensino.

A escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasilei-ros, independentemente de sua idade, de sua ori-gem geográfica, de sua situação socioeconô-mica, de seu grau de es-colarização etc. (BAGNO 1999, p. 15).

Nas escolas brasileiras, a língua portuguesa poderia ser ensinada de uma maneira que os alunos pudessem interagir com toda a diversidade linguística, le-vando em consideração suas variações

linguísticas, a partir da bagagem sociolin-guística para desenvolver melhor a apren-dizagem. Para não discriminar ninguém, é re-levante conhecer a língua e entender por-que e como ocorrem as variedades em di-ferentes regiões e grupos sociais. Diante disso, afirma-se que não tem como uma língua ter um único padrão linguístico. Acerca da variação linguística, os Parâ-metros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa também afirmam que:

[...] o estudo da varia-ção cumpre papel fun-damental na formação da consciência linguís-tica e no desenvolvi-mento da competência discursiva do aluno, de-vendo estar sistemati-camente presente nas atividades de Língua Portuguesa. (BRASIL, 1998, p. 82).

Perante essa afirmação, acredita-se que é de grande importância, inclusive legal, que o aluno tenha contato com dife-rentes variações de sua língua desde cedo, em sala de aula, para que ele tenha consciência da existência das diferenças em sua língua e que não pratique e não seja vítima do preconceito linguístico. É dever do professor ensinar ao aluno o uso da norma padrão, mas sem desprezar as variantes linguísticas trazidas de seus la-res, sem rotulá-las de “erros de portu-guês”.

O educador tem um papel funda-mental na formação do aluno, pois cons-trói o conhecimento junto aos alunos a partir de sua prática e competência, for-nece subsídios para que seu educando compreenda e desperte o interesse em conhecer sua própria língua, juntamente com suas variações etc. “Cabe, portanto, à escola, viabilizar o acesso do aluno no universo dos textos que circulam social-mente, ensinar a produzi-los e a inter-pretá-los” (PCNs, 1997, p. 26). Por isso, a Sociolinguística tem contribuído positiva-mente neste aspecto social e linguístico

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no ambiente escolar, relacionando apli-cando seus resultados de pesquisa ao meio educacional.

Conforme afirma Bortoni-Ricardo (2006, p. 130), “faz-se necessário o de-senvolvimento de uma pedagogia sensí-vel às diferenças sociolinguísticas e cultu-rais dos alunos e isto requer mudanças de postura da escola [...] da sociedade em geral”. Conscientizar os educandos ao respeito das variações que a língua apre-senta pode ser visto como um dos princi-pais fatores em relação à questão da ame-nização do preconceito linguístico na ins-tituição de ensino. Assim, é possível conviver e apren-der com as variantes linguísticas até che-gar ao aprendizado da norma padrão, transformando os momentos da aula de língua portuguesa em uma verdadeira in-vestigação crítica e reflexiva sobre a lín-gua. Nos termos dos PCNs (1997, p. 38):

Em se tratando da área de Língua Portuguesa, o professor também terá outro papel fundamental: o de modelo. Além de ser aquele que ensina os conteúdos, é alguém que pode ensinar o valor que a língua tem, de-monstrando o valor que tem para si. Se é um usuário da escrita de fato, se tem boa e praze-rosa relação com a lei-tura, se gosta verdadei-ramente de escrever, funcionará como um ex-celente modelo para seus alunos.

Consequentemente, o modo como os indivíduos interagem em relação à di-versidade deveria ser melhor vivenciado, e os educadores poderiam orientar os educandos a reconhecerem e respeitarem as diversidades existentes em seu país, que são refletidas quase sempre na sala de aula. Para Gorski e Coelho (2006, p. 236), é preciso “reconhecer e aceitar [que] a diversidade linguística é uma questão de cidadania”. Assim, o ensino de língua por-

tuguesa deve ter como premissa o apren-dizado do aluno de uma forma mais glo-bal, independentemente de um padrão es-tipulado como correto.

A intolerância linguística por parte de alguns ambientes educacionais, muitas vezes, se dá pela falta do conhecimento no que diz respeito à variação e ao pre-conceito. Diante disso, “as noções de certo e errado só fazem reproduzir uma série de queixas e lamúrias sobre a “deca-dência da língua “que vêm sendo repeti-das incansavelmente” (BAGNO, 2009, p. 19).

Entretanto, os alunos convivem com a existência destas variedades, mas, muitas vezes, não as reconhecem, porque sempre predomina o ideário de que de-vem falar e escrever uma língua imposta como única e correta, normatizada pelas gramáticas e pela mídia. Segundo a Coor-denação de Educação de Jovens e Adul-tos (COEJA, 2002, p. 18):

É inevitável o confronto entre a língua que se usa na escola e a língua que cada um usa natural-mente. Muitas vezes, o aluno, ao longo de sua vida escolar, sente-se in-comodado por não con-seguir escrever o que foi capaz de pensar e dizer. Cabe ao professor expli-citar as causas dessa di-ficuldade, administrando o choque entre as moda-lidades da fala e escrita de modo favorável ao aluno, criando novos cri-térios de correção, valo-rizando e reconhecendo a identidade linguística de cada um, discutindo a relação de poder que im-plica o uso da norma de prestígio, repudiando qualquer manifestação de preconceito linguís-tico.

A diversidade do português falado

no Brasil deve ser destaque nas institui-ções escolares, mas o ensino da língua

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portuguesa normalmente remete-se ape-nas à norma padrão, deixando de respei-tar a variedade de cada um e, consequen-temente, as múltiplas identidades. Para Bagno (2003, p. 69):

A norma-padrão está es-treitamente ligada à es-cola, ao ensino formal, e como no Brasil o acesso à educação é mais um elemento que contribui para a nossa triste posi-ção de campeões mun-diais da desigualdade social, é fácil imaginar que a norma-padrão tra-dicional tem o poder de influência praticamente nulo sobre os falantes das variedades mais es-tigmatizadas.

Diante dessa realidade, o professor poderá induzir seus alunos a conviverem de forma pacífica com a maneira de falar de cada um, interpretando as diferentes mudanças que sucedem na língua, pelo fato da mesma estar necessariamente in-terligada à cultura e à história de um povo. Segundo Celso Antunes (2013, p. 64), é essencial o “Respeito integral ao outro e a plena aceitação de seus valores como se fossem os nossos”. Colocar em prática na escola o conhecimento da variação lin-guística não significa destituir o ensino da norma padrão, mas, ao contrário, a intera-ção dessas duas vertentes. Seria interes-sante que todos os alunos tivessem acesso a uma educação de qualidade e convivessem com as normas de ensino igualitariamente tanto no ambiente escolar quanto no convívio social.

Também é importante mostrar que podemos utilizar a língua de acordo com cada situação, lembrando que em tra-tando-se de variedade linguística não existe “certo” ou “errado” e sim adequação linguística, a qual se constrói em um con-tinuum desde o mais informal até o mais formal. O uso da fala e da escrita em ní-veis de adequação e ampliação linguística são fatores importantes em meio a convi-vência social e escolar.

Torna-se imprescindível explanar a relevância que a teoria da sociolinguística desempenha ao relacionar-se com o en-sino da língua. Este estudo teórico exerce a formação de cidadãos críticos capazes de desconsiderar qualquer ação precon-ceituosa que ocorre, principalmente, nas instituições escolares.

A questão não é falar certo ou errado, mas sa-ber qual forma de fala utilizar, considerando as características do con-texto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes si-tuações comunicativas (PCNs 1997, p. 26).

Compreender a diversificação da fala, antes de qualquer outro processo, é indispensável para o ensino de qualquer língua. Em relação a uma instituição de ensino, o conhecimento sobre estas dife-rentes variedades remete positivamente ao desenvolvimento linguístico de um fa-lante, pois o mesmo não utilizará uma única variedade ao expressar-se. “O pro-blema do preconceito disseminado na so-ciedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado na escola como parte do objetivo educacional mais amplo de edu-cação para o respeito à diferença” (PCNs, 1997, p.26).

Reconhecer esses padrões quando relacionados à linguagem deve ser funda-mental no ambiente de ensino. Ainda se-gundo os PCNs (1997, p. 27):

Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a lingua-gem oral nas diversas si-tuações comunicativas, especialmente nas mais formais: planejamento e realização de entrevis-tas, debates, seminários, diálogos com autorida-des, dramatizações, etc. Trata-se de propor situa-ções didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato, pois se-ria descabido “treinar” o uso mais formal da fala. Ocorrerá se a escola não

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tomar para si a tarefa de promovê-la.

A convivência com estas varieda-

des pode contribuir para a formação de ci-dadãos capazes de compreender e em-pregar a linguagem apropriadamente em ambientes diversificados, cooperando di-retamente para que, no mínimo, a redução do preconceito se torne um fator inferior na vivência de grande parte da comuni-dade escolar. “A questão não é de corre-ção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utiliza-ção eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pre-tendido” (PCNs 1997, p. 26). A língua, nesse sentido, é considerada acima de tudo um organismo vivo, por isso não há uma única maneira de falar o português, uma vez que dependerá do espaço/con-texto em que o falante estiver.

A sociedade e a escola juntas po-dem organizar em seu cotidiano meios es-tratégicos para serem utilizados no campo da linguagem. Esta junção deverá ser a mais importante de todas as comunica-ções, considerando que a mesma tenha como principal objetivo a contribuição para a eliminação do preconceito linguís-tico a partir do respeito e da vivência lin-guística entre os estudantes no ambiente escolar.

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Para esta pesquisa, foi utilizado o método de triangulação, combinando o quantitativo com o qualitativo, para a me-lhor obtenção de dados, iniciando-se com observações das pesquisadoras nas au-las, seguido de um questionário aplicado aos alunos e por fim de entrevistas para os dois professores de língua portuguesa, que lecionam na escola. Para Flick (2009), apud Mozzato e Grzybovski (2011):

1 Os nomes dos participantes da pesquisa não se-rão divulgados, por isso foram inventadas abrevia-turas de três letras para cada um.

A triangulação, nesse caso da visão do pesqui-sador, alunos e profes-sores, tem sido ampla-mente discutida e muito bem aceita, tanto na co-leta como na análise de dados e “supera as limi-tações de um método único, por combinar di-versos métodos e dar-lhes igual relevância” (p. 742).

Toda abordagem estará direcio-nada às variações linguísticas e ao pre-conceito, de forma a identificar como o en-sino de língua portuguesa tem trabalhado com essa temática e o que professores e alunos pensam a esse respeito. A pes-quisa foi realizada numa instituição pú-blica do Ensino Fundamental II, nas séries do sexto, sétimo e oitavo ano, com a con-tribuição dos estudantes matriculados no programa Educação Jovens e Adultos (EJA), escola localizada em Ceilândia Sul. A razão da pesquisa está direcionada para esse nível se dá por serem consideradas séries iniciais na abordagem sobre os con-teúdos de variação e preconceito linguís-tico.

Iniciamos a pesquisa no dia 15 de agosto de 2014 da seguinte maneira: as-sistimos à aula do professor SID1 na série do oitavo ano cujo tema foi os tipos de tex-tos (Anúncios do Anexo 5). Na sequência, entrevistamos o professor com um breve questionário sobre a língua portuguesa e suas variações. Em outro encontro, no dia 22 de agosto de 2014, aplicamos questio-nário aos alunos do oitavo ano sobre as variações da língua.

Dando continuidade à nossa pes-quisa, no dia 02 de setembro de 2014, ob-servamos algumas aulas de português dessa vez com o professor NEO, sobre In-terpretação de Texto (Anexo 6). Depois de observarmos as aulas, aplicamos o ques-tionário com as séries do sexto e sétimo ano, na sequência entrevistamos o profes-

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sor NEO. Todas as observações, entrevis-tas, aplicações de questionários estão do-cumentadas nos anexos. Os padrões éti-cos permearam toda a ação durante a in-vestigação, o que assegura aos partici-pantes que todos os dados obtidos estão sob total sigilo. São analisados o ambiente e os sujeitos (alunos e professores) ali in-seridos, observados em situações de en-sino-aprendizagem sem nenhum cons-trangimento para com os entrevistados naquele determinado ambiente educacio-nal. A investigação contará com a pes-quisa de campo, além das bibliografias re-feridas anteriormente relacionadas à edu-cação, à variação linguística e ao precon-ceito, com o objetivo de esclarecer incóg-nitas sobre o comportamento dos alunos e professores diante das diversidades lin-guísticas em sala de aula. 4. Análises das Entrevistas com Pro-fessores, dos Questionários com Alu-nos e das Aulas Observadas

4.1. Entrevista com os Professores

Entrevista 1

O professor SID tem dez anos de docência e quatro lecionando português. Na instituição de ensino em Ceilândia Sul, ele trabalha com o oitavo ano. Observa-mos sua aula de português no dia 15 de agosto de 2014 e, na sequência, o profes-sor nos concedeu gentilmente uma entre-vista sobre o que pensa em relação às perguntas que o fizemos. Em outro encon-tro, realizado em 22 de agosto de 2014, aplicamos o questionário com os alunos dessa série.

A princípio, ele falou sobre a impor-tância da língua portuguesa, considerou-a como língua mãe, o princípio de tudo. Ele defende que a língua deve ser ensinada levando em consideração a diversidade social e regional de cada indivíduo, mas, que em meio a esta realidade, a língua pa-drão seja compreendida e exercida. Per-guntado sobre a existência do preconceito linguístico na escola, ele acredita que existe sim, principalmente com os alunos

vindos do nordeste, e esse tipo de precon-ceito é visível no ambiente de ensino. Pes-soas que falam diferentes são excluídas na escola quando utilizam em suas falas palavras desconhecidas. Porém, pessoas que nem mesmo procuram saber o signifi-cado de tal palavra, começam a jugar e fa-zer piadas diante da fala do outro. O pro-fessor SID acredita que esse tipo de pre-conceito prejudica o desenvolvimento e o aprendizado desse estudante, segundo ele “o aluno pode tornar-se mais retraído, falará menos e, consequentemente, aprenderá menos devido a essa ação pre-conceituosa”.

O próprio professor, que também é nordestino, já sofreu o preconceito linguís-tico. Segundo ele, “Quando eu morava no nordeste lá falávamos a mesma língua, mas quando mudei para o Distrito Federal este tipo de preconceito, sofri na facul-dade, mas levei na esportiva e não me dei-xei abater”. Perguntado se existe uma ma-neira correta de falar e escrever a língua portuguesa, ele afirma que de falar não acredita que exista uma maneira correta, ou seja, cada um se comunica como de-seja. Mas, a maneira de escrever, ele acredita que existe sim e reforça a utiliza-ção da norma culta na escrita, exemplifi-cando o seu uso adequadamente: “Se você vai escrever um bilhete em casa não se tem a necessidade de utilizar a norma padrão, porém, é importante que se ad-quira o conhecimento da mesma”.

Referente à possibilidade de corri-gir a fala e a escrita dos alunos ele res-salta que quando possível corrige a es-crita, mas a fala mais raramente dentro da sala de aula. Sobre as reações adversas à fala de outra pessoa, ele explica que se for em lugar informal, em uma conversa, esse indivíduo, por falar diferente, pode sofrer uma correção em público, o que não deixa de ser preconceito. Então ele pro-cura corrigir a fala individualmente sem constranger o aluno (a). Para nós, foi uma entrevista muito esclarecedora saber que uma pessoa que já sofreu esse tipo de preconceito soube conduzir sua meta e não desistiu de seus projetos devido a sua maneira de falar. A entrevista realizada

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com o professor SID se encontra no Anexo 1.

Entrevista 2

No dia 02 de setembro de 2014, en-trevistamos mais um professor de Língua Portuguesa. As séries que ele leciona são o sexto e sétimo ano. Aplicamos o questi-onário nas duas séries e observamos as aulas de português. A princípio, o profes-sor NEO relata a importância que a língua portuguesa representa na escola, consi-derando-a “língua pátria”. Para ele, o en-sino do português tem de ser realizado gradativamente, sobretudo para alunos que passaram muito tempo afastados da escola por um determinado motivo. Por-tanto, não pode ser “cobrada” a aprendi-zagem do português como aquele aluno que frequenta a escola regularmente. Esse processo de aprendizagem, se-gundo o professor NEO, é considerado lento, porque o ideal é mostrar ao aluno que ele já sabe o português, e o educador, por meio da prática do ensino, aprimorar essa realidade dentro da sala de aula.

Com doze anos de docência, ele considera uma profissão de grande res-ponsabilidade, que, por muitas vezes, en-frenta muitos obstáculos. Referente ao en-sino das variedades estarem presentes no ensino do português, ele acredita nessa abordagem dentro da sala de aula, pois já presenciou o preconceito linguístico entre os alunos e, para ele, isso acontece pela falta de conhecimentos da diversidade lin-guística.

Segundo o professor NEO, o pre-conceito linguístico influencia na aprendi-zagem do aluno (a) sim, e essa ação gera no estudante certo receio, timidez, vergo-nha. Diante dessa situação, ele conversa com o “aluno” tentando amenizar tal ação discriminatória. Perguntado se já tinha so-frido o preconceito linguístico, respondeu que sofreu sim, há muito tempo, mas não relatou como aconteceu. Na opinião dele, há pessoas que ignoram as variedades linguísticas por não ter conhecimento so-bre tais. A respeito do ensino da norma padrão na escola, o professor acredita que

é importante mostrar para os alunos a pa-dronização da língua, mas a mesma não precisa ser usada com exclusividade, uma vez que se pode fazer uso também de ou-tras variedades. Para o professor, em uma determinada situação, é necessário utili-zar a norma padrão na escrita, e na fala com menos frequência. Segundo ele, o cuidado maior tem de ser ao escrever. A respeito de corrigir a fala e a escrita dos alunos, afirma que: “Muito pouco, no pri-meiro dia de aula eu já converso com eles que não costumo corrigi-los a não ser que seja alguma coisa relacionada à matéria que eu esteja passando”. Na opinião do professor, em relação às reações adver-sas à fala de outra pessoa, essa ação é de puro preconceito e desconhecimento das variações da língua. A entrevista pode ser vista no anexo 1.

Para a aprendizagem da língua portuguesa é necessário que se utilize a gramática. Porém, não pode essa meto-dologia se tornar uma prioridade, as pró-prias legislações no Brasil, retratam o quanto a linguagem apresenta suas diver-sificações e culturalismos.

Nas entrevistas, ficou esclarecido para ambas pesquisadoras o ponto de vista dos educadores em relação ao en-sino das variantes da língua portuguesa. Juntamente com o uso formal e informal da língua. Os professores reconheceram que ainda ocorre o preconceito linguístico, exatamente pela falta de conhecimento e respeito as variações da fala. A Sociolin-guística acredita na parceria entre escola e sociedade, no intuito de que essa intera-ção seja um aspecto favorável quando vol-tado para o idioleto/dialeto de cada indiví-duo.

4.2. Os Questionários com os Alunos

Foram aplicados 43 questionários (Anexo 2), dos quais 8 foram para o sexto ano, 19 do sétimo ano e 16 do oitavo ano, com 5 perguntas de sim ou não e uma dis-cursiva perguntando se o aluno já tinha sofrido o preconceito linguístico. No sexto ano, com faixa etária entre 15 e 43 anos,

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três já ouviram falar sobre variação lin-guística, um não acha importante para a sociedade atual o convívio com diferentes variações, mas todos acham que deve-mos respeitar a maneira de cada um co-municar- se, apenas um já teve aulas so-bre variação linguística na escola, dois não acham importante que as variações linguísticas sejam ensinadas nas escolas e dois já sofreram preconceito linguístico e um não quis responder.

No sétimo ano com faixa etária en-tre 16 e 56 anos, treze já ouviram falar so-bre variação linguística, todos acham im-portante para a sociedade atual o convívio com diferentes variações, todos acham que devemos respeitar a maneira de cada um falar, nove já tiveram aulas sobre vari-ação linguística e um não respondeu, to-dos acham que é importante o ensino das variedades linguísticas nas escolas, seis já sofreram preconceito linguístico, inclu-sive um deles racial também e dois não responderam. No oitavo ano com faixa etária en-tre 16 e 40 anos, dez já ouviram falar so-bre variação linguística, três não acham importante para a sociedade atual o con-vívio com diferentes variações, todos acham que devemos respeitar a maneira de cada um falar, quatro já tiveram aulas sobre variação linguística na escola, um não acha importante o ensino das varieda-des linguísticas, quinze nunca sofreram preconceito linguístico e um não soube responder.

Tabela 1: Se o aluno já ouviu falar em variação lin-

guística.

Total de Entrevistados: 6º ano: 08 estudantes, 7º ano: 19 estudantes, 8º ano: 16 estudantes. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Segundo os dados coletados, per-cebe-se que a maioria dos alunos (62,5%) do sexto ano não tem conhecimento sobre as variações linguísticas. Cabe aos edu-cadores saberem porque o tema não está sendo trabalhado em sala de aula como determina o Currículo em Movimento (2013, p. 76), no que se refere especifica-mente ao sexto ano do Ensino Fundamen-tal. No sétimo e oitavos anos, o conheci-mento sobre a variação linguística já se sobressai, mas, ainda assim, não ultra-passa 65%. Tabela 2: Se o convívio com as variações da fala de pessoas de diferentes regiões é um fator impor-tante para sociedade atual.

Total de Entrevistados: 6º ano: 08 estudantes, 7º ano: 19 estudantes, 8º ano: 16 estudantes. Fonte: Elaborado pelas autoras.

6°ANO

7°ANO8°ANO

6° ANO 7°ANO 8°ANO

SIM 37,50% 63,15% 62,50%

NÃO 62,50% 36,85% 37,50%

NÃORESPONDERAM

0 0 0

6°ANO 7°ANO 8°ANO

SIM 87,50% 100% 81,25%

NÃO 12,50% 0 18,75%

NÃORESPONDERAM

0 0 0

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Em relação à convivência com as variações da língua na sociedade atual-mente, a maioria dos estudantes de todas as séries acha importante essa interação.

Nessa abordagem, conhecimentos sobre a Sociolinguística têm contribuído intensamente para que os alunos reco-nheçam a importância também identitária, social, cultural da variação linguística. Tabela 3: Se a convivência em sociedade pressu-

põe o respeito aos costumes, às crenças, as tradi-ções e também à maneira de comunicar-se de cada um.

Total de Entrevistados: 6º ano: 08 estudantes, 7º ano: 19 estudantes, 8º ano: 16 estudantes. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quase todos entrevistados acredi-

tam na importância do respeito para com a forma de falar de cada um, o que mostra certa evolução quando o assunto é aceitar a diversidade linguística individual e co-munitária.

Tabela 4: Se em alguma etapa da vida escolar o

aluno teve aulas sobre variação linguística.

Total de Entrevistados: 6º ano: 08 estudan-tes, 7º ano: 19 estudantes, 8º ano: 16 es-tudantes.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Com esses resultados, infelizmente infere-se que o aluno até já ouviu falar em variação linguística e a considera impor-tante, mas em sala de aula ainda não en-tende como esse assunto se materializa. Nesse sentido, quando o aluno (a) não é exposto à variação linguística, provavel-mente em alguma etapa de sua vida pode também não compreender o que vem a ser o preconceito linguístico. Nem metade dos alunos afirma que teve aulas sobre variedades linguísticas.

Tabela 5: Se é de grande importância que seja en-

sinada na escola a norma padrão da língua portu-guesa juntamente com a explicação das outras va-riedades linguísticas.

6°ANO7°ANO

8°ANO

6°ANO 7°ANO 8°ANO

SIM 87,50% 100% 100%

NÃO 12,50% 0 0

NÃORESPONDERAM

0 0 0

6° ANO7°ANO

8°ANO

6° ANO 7°ANO 8°ANO

SIM 12,50% 47,36% 25%

NÃO 87,50% 52,64% 75%

NÃORESPONDERAM

0 0 0

6°ANO7°ANO

8°ANO

6°ANO 7°ANO 8°ANO

SIM 75% 100% 93,75%

NÃO 25% 0 6,25%

NÃORESPONDERAM

0 0 0

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Total de Entrevistados: 6º ano: 08 estudantes, 7º ano: 19 estudantes, 8º ano: 16 estudantes. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Apesar de alguns alunos não terem ouvido falar sobre variação linguística e nem sobre o preconceito linguístico, esse resultado mostra que eles (as) acham im-portante o ensino da norma padrão junta-mente com os demais temas em sala de aula, demostrando que há o interesse em estudar e respeitar a variabilidade de sua língua. Tabela 6: Se o aluno já sofreu preconceito linguís-tico.

Total de Entrevistados: 6º ano: 08 estudantes, 7º ano: 19 estudantes, 8º ano: 16 estudantes. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Nas séries observadas na escola

em questão, a maioria nunca sofreu com o preconceito linguístico. Dos alunos que sofreram esse tipo de ação, dois são do sexto ano e cinco são do sétimo ano. Um deles nasceu em São Paulo e tem 34 anos, outro é do Pará com 41 anos, um é do Goiás e tem 44 anos, um é da Bahia e tem 17 anos, uma não respondeu onde nasceu e tem 16 anos, outro do Goiás com 20 anos, outro da Bahia com 48 anos. Es-ses dados mostram que o preconceito lin-guístico pode ocorrer em qualquer região do país, mas ainda é mais recorrente em relação às pessoas de origem nordestina. Essa realidade também está presente no ambiente de ensino trazendo consigo inú-meros constrangimentos.

4.3. Observação das Aulas de Língua Portuguesa

Iniciamos a observação da aula de língua portuguesa no oitavo ano. A sala estava composta por dezesseis alu-nos(as) entre 16 e 40 anos de idade. Nesse encontro, não aplicamos questio-nário com os estudantes; apenas observa-mos a aula e, ao seu término, entrevista-mos o professor SID. O professor trabalhou com Anún-cios (Anexo 5), e conduziu a aula da se-guinte maneira: inicialmente explicou para os alunos a importância desse tipo de texto e suas demais características (bre-ves/curtos) e comentou como ele pode ser usado por vários níveis de comunicação. A Coordenação de Educação de Jovens e Adultos - COEJA (2002, p. 12) ressalta que:

Um texto, como a deci-fração de qualquer ato de comunicação, é, an-tes de tudo, uma prática social que se dá na inte-ração com o outro. Conscientizar o aluno da EJA desse processo, ta-refa da área de Língua Portuguesa, é estabele-cer a cumplicidade entre ele e a palavra.

Em uma sequência de perguntas, o educador interagiu com os educandos so-licitando dos demais respostas relaciona-das à atividade. Percebemos a colabora-ção por parte dos alunos (as) que respon-diam claramente os questionamentos fei-tos pelo o mesmo. Mas, alguns estudantes apresentaram “dificuldades” que pronta-mente foram sanadas pelo professor. Um dos aspectos mais relevantes que podemos destacar nessa aula foi a di-dática utilizada pelo o professor, seguida de diálogos e interatividade para com os seus alunos.

O segundo encontro foi realizado com os alunos do sexto e sétimo ano. No sexto ano, estavam presentes oito estu-dantes entre 15 e 43 anos de idade. Ob-

6°ANO7°ANO

8°ANO

6°ANO 7°ANO 8°ANO

SIM 25% 31,57% 0

NÃO 62,50% 57,89% 93,75%

NÃORESPONDERAM

12,50% 10,53% 10,53%

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servamos a aula e em um momento deter-minado pelo professor aplicamos o ques-tionário com os alunos (as).

A aula teve início com o professor trabalhando interpretação de texto cujo tema foi: “Prevenção correios suspenderá entregas” (Anexo 6). Em sua abordagem inicial, apresentou o texto para os alunos e pediu que eles fizessem uma leitura si-lenciosa. Na sequência, fez uma leitura oral, explicando minuciosamente cada de-talhe do texto, que tinha como umas das principais características a necessidade do uso correto da pontuação. A importân-cia de levar esse tipo de interpretação para a sala de aula é fundamental, princi-palmente em relação à pontuação, pois muitas vezes o aluno tem dificuldade em escrever corretamente. No término das explicações e da atividade realizada pelos alunos, o professor pediu que aplicásse-mos o questionário com os demais.

Nessa mesma oportunidade, ob-servamos mais uma turma, dessa vez o sétimo ano. A sala estava composta por dezenove alunos (as) entre 16 e 56 anos de idade. A mesma temática e metodolo-gia utilizadas na primeira série foram rea-lizadas nesta turma. O diferencial entre ambas se deu pela quantidade de alunos ser maior, fazendo com que o professor, além de utilizar uma abordagem dialo-gada, expositiva, valorasse com mais in-tensidade a participação dos estudantes.

Concluindo seu trabalho, o educa-dor nos concedeu um momento com a turma; nessa oportunidade os estudantes responderam o questionário. Em seguida, no horário do intervalo, o professor tam-bém nos concedeu uma breve entrevista relacionada à nossa pesquisa. Segundo o COEJA (2002, p. 16):

Na educação de jovens e adultos, é comum os alunos afirmarem que são ruins para escrever, que não conseguem en-tender como usar corre-tamente os sinais gráfi-cos e a pontuação. Mui-tas vezes, esse tipo de dificuldade com relação

aos processos de apren-dizagem da escrita é consequência de mal su-cedidas experiências an-teriores. Por isso, inves-tir na mudança de pos-tura do aluno diante de suas dificuldades, fa-zendo-o incorporar uma visão diferente da pala-vra ao associar o traba-lho de escrita com suas necessidades mais ur-gentes, seria uma pri-meira meta.

A sociolinguística nos faz entender como a variação linguística e o precon-ceito linguístico estão presentes no meio social, e, a escola é o melhor ambiente para observar esses fenômenos. Na insti-tuição de ensino, começa a “construção” dos valores mais importantes que serão implementados na sociedade. Essa ver-tente nos despertou o interesse em acom-panhar a metodologia de ensino dos edu-cadores de língua portuguesa.

Segundo o Currículo em Movi-mento da Educação Básica do GDF (Go-verno do Distrito Federal), o estudante da EJA (Educação de Jovens e Adultos) tem de ter contato com as variedades linguís-ticas desde a 5°etapa, que equivale ao sexto ano do ensino fundamental, assim como um estudante do ensino regular. Po-rém, na EJA, ao entrarmos em contato com o Currículo em movimento, é notório que o mesmo tem a necessidade de ser mais vivenciado nas instituições de en-sino.

Vamos analisar os conteúdos de dois currículos para que entendamos me-lhor as diferenças. No primeiro currículo, as variedades linguísticas, limitam-se a apenas “Variação Linguística”. Currículo em Movimento da Educação Básica, Edu-cação Fundamental Anos Finais (2013, p. 19). Percebe- se que o conteúdo de Lín-gua Portuguesa do Ensino Fundamental regular é muito limitado no que se refere ao contato com as variedades da língua.

Em relação ao segundo currículo, o mesmo é mais diversificado acerca do tema: “Língua, linguagem, identidade e re-gionalismo”, “Preconceito linguístico”,

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“Condição de heterogeneidade das lín-guas: fatores geográficos, sociológicos, técnicos e históricos que contribuem para o processo da variação linguística”. Currí-culo em Movimento da Educação Básica, Educação de Jovens e Adultos. (2013, p. 76). Fazendo uma comparação com os dados coletados na escola, com o que deve ser feito pelos os professores do GDF, a pesquisa mostra que as varieda-des linguísticas não estão sendo trabalha-das na EJA, mesmo tendo um conteúdo tão diferenciado sobre o assunto em ques-tão. Deixando claro que não presencia-mos o preconceito linguístico na escola. Porém, tivemos relatos de que ele ainda está presente no ambiente escolar e que pessoas sofrem com este mal, compro-vando-se que o preconceito linguístico tem influência não só na aprendizagem, o mesmo ainda causa “marcas” difíceis de serem esquecidas.

Deve-se, portanto, privi-legiar uma abordagem [...] preocupe em mostrar as línguas tais como são usadas, refletindo e des-crevendo as formas exis-tentes nos grupos soci-ais. Tal abordagem rompe com o absolu-tismo nesse campo de estudo e é adequada para a educação de jo-vens e adultos, pois o aluno da EJA sofre com o confronto entre as vari-antes linguísticas, já que, na prática, a escola acaba não valorizando a variedade falada pelo o aluno e por seu grupo social” Coordenação de Educação de Jovens e Adultos – COEJA (2002, p. 18).

Cada pessoa tem o direito de falar

de acordo com a sua regionalidade, cabe à sociedade juntamente com a escola en-tender e respeitar esta realidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos referencias estudados juntamente com os resultados dos dados

desse estudo, torna-se evidente o quanto as variedades não estão sendo trabalha-das como deveriam no ambiente de en-sino. É notória a falta de empenho por parte dos educadores de língua portu-guesa quando voltados para essa prática. Os currículos estão disponíveis para serem implementados no cotidiano escolar e metodologia de ensino dos edu-cadores. Que os resultados apresentados nesse estudo “não” evoluam e de fato as variações sejam trabalhadas na escola rescindido a ação do preconceito linguís-tico. A pesquisa relata, alunos (as) que de certa forma já ouviram falar sobre variação linguística; mas essa situação não ocorreu na instituição escolar. No que se refere ao preconceito linguístico, a maior parte dos estudantes felizmente não sofreram esse mal, porém uma mínima parte vivenciou o preconceito deixando claro em seus depo-imentos o quanto essa realidade é difícil de ser esquecida. É importante salientar a contribui-ção que a Sociolinguística tem feito em re-lação ao reconhecimento e valorização das variedades da Língua Portuguesa. Muitas vezes, os alunos, por não conhe-cerem essa realidade linguística, acabam acreditando que existe uma única forma de falar e que na aula de português o cor-reto é estudar somente a gramática. Infe-lizmente é essa a visão dos estudantes a respeito do estudo da língua portuguesa.

Não é nossa pretensão responsabi-lizar apenas o “professor” por essa situa-ção, haja vista que se trata de um descaso social que envolve o favorecimento das classes mais prestigiadas e, por conse-guinte, o desfavorecimento das classes mais estigmatizadas. Portanto, é uma sé-rie de fatores que não nos permite apontar apenas um “núcleo” responsável.

Acreditamos na possibilidade das variedades e da variação linguística se-rem trabalhadas com mais empenho den-tro da escola, para que estudantes não ve-nham a sofrer o preconceito linguístico que ainda prevalece nas unidades de en-sino desse país.

O ideal seria o respeito mútuo en-tre o uso heterogêneo não só na sala de

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aula como também na sociedade. Que ne-nhuma pessoa seja menosprezada por fa-zer uso de seu idioleto ou dialeto, posto que a língua vem demostrando constante-mente sua variabilidade. Acerca dessa re-alidade, a escola tem de repensar sua me-todologia diante do ensino de língua por-tuguesa.

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16. LEITE, Yonne; CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Zahar,

2002.

17. MATTOS & SILVA, Rosa Virgínia. Variação, mudança e norma. In: BAGNO, Marcos

(Org.). Linguística da norma. 2. Ed. São Paulo, Edições Loyola: 2004.

18. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: primeira parte educação fundamen-

tal: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF,1997. http://portal.mec.gov.br/seb/ar-

quivos/pdf/livro02.pdf. Acesso: 08/10/2014.

19. Proposta Curricular para Educação de Jovens e Adultos: Segundo Segmento do

ensino fundamental: 5ª a 8ª série: introdução/ Secretaria de Educação Fundamen-

tal 2002, http://portal.mecgov.br/secad/arquivos/pdf/vol2_linguaportuguesa.pdf.

Acesso:23/10/14.

20. SCHERRE, Maria Marta Pereira. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lin-

guística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2005.

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ANEXOS

ANEXO 1

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Curso: Letras Português-Espanhol 6º Semestre Entrevistas com os Professores: 15/08/2014 e 02/09/2014 Alunas: Joana Darc V. Rodrigues Maria Cláudia G. da Silva QUESTIONÁRIO DE PESQUISA - Professores 1. Para você, o que é língua portuguesa? 2. Para você, como a língua portuguesa deve ser ensinada? 3. Como você se vê na posição de professor e quanto tempo tem de docência? 4. Há espaço no ensino de língua portuguesa para a diversidade cultural e linguística exis-tente em nosso país? 5. Você acredita que há preconceito linguístico na escola? Caso afirmativo, como acontece? 6. Esse tipo de preconceito pode influenciar na aprendizagem de um aluno ou de uma turma inteira? 7. Você já sofreu preconceito linguístico quando era aluno ou em alguma etapa de sua vida? O que pensa a esse respeito? 8. Como ensinar a norma padrão na escola, respeitando e considerando as outras varieda-des linguísticas? 9. Para você existe uma maneira correta de falar e escrever o português? Você procura corrigir a fala e a escrita dos alunos sempre que possível? 10. Por que você acha que acontece ou pode acontecer essas reações adversas à fala do outro? Agradecemos por sua colaboração!

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ANEXO 2

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Curso: Letras Português-Espanhol 6º Semestre Data: ___/___/___ Alunas: Joana Darc V. Rodrigues Maria Cláudia G. da Silva Qual a sua idade: _____ Onde você nasceu: _______________________________________ Qual cidade você mora atualmente: ___________________________

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA - Alunos

1º- Em meio a uma enorme diversidade cultural existente em nosso país, você já ouviu falar sobre variação linguística? ( ) SIM ( ) NÃO 2º- O convívio com as variações da fala de pessoas de diferentes regiões é um fator impor-tante para a sociedade atual? ( ) SIM ( ) NÃO 3º- Devemos conviver em uma sociedade que respeite não somente os costumes, crenças, tradições, mas também a maneira de comunicar-se de cada um? ( ) SIM ( ) NÃO 4º- Em alguma etapa da sua vida escolar, você teve aulas a respeito de variedades linguís-ticas? ( ) SIM ( ) NÃO 5°- É de grande importância que seja ensinada na escola a norma padrão da língua portu-guesa, mas também é importante que sejam explicadas outras variedades linguísticas? ( ) SIM ( ) NÃO 6º- O preconceito linguístico muitas vezes decorre da maneira diferente de falar de outra pessoa. Você já sofreu esse tipo de preconceito? Argumente sua resposta. Agradecemos por sua colabo-ração!

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ANEXO 3 Transcrição Fonética Duração: 07:04 Escola do Ensino Fundamental do DF Entrevistado: Professor SID Em: 15 de agosto de 2014 Alunas: Joana Darc Maria Cláudia E- CLA: Boa noite professor SID... estamos aqui na escola de Ensino Fundamental do DF vamos é... entrevistar agora o professor SID somos as alunas, Maria Cláudia e Joana Darc. A nossa pesquisa é sobre A variação e o Preconceito Linguístico no Ambiente Escolar. E- CLA: Professor para você o que é a língua portuguesa? P- SID: Olha... antes de mais nada a língua portuguesa pra mim é a língua mãe, língua materna vem antes de tudo, então, princípio de tudo a língua materna. E- CLA: É... para você como a língua portuguesa deve ser ensinada? P- SID: Olha... eu acho que a língua portuguesa deve ser ensinada levando em considera-ção a diversidade do social, {inint} diversidade regional e também ela deve compreender todos os aspectos das falas... do dos do Brasil né?! Que é um país continental e portanto tem várias formas de falar porém deve caminhar sempre para a compreensão do da língua padrão. E- CLA: Como você se vê na po posição de professor e quanto tempo tem docência? P- SID: Olha me vejo... E- CLA: Quanto tempo tem de docência? [Desculpa] P- SID: Tenho já a... dez anos de docência e quatro anos na área de língua portuguesa, me vejo {inint} numa missão né?! Uma missão árdua que é missão de de ensinar por que eu acho que essa é a principal competência do professor, tem que ser a de ensinar, apren-der também, mais porém ensinar. E- CLA: Há espaço no ensino de língua portuguesa para a diversidade cultural e linguística existente em nosso país? P- SID: Olha... tem que haver esse espaço por que é... a gente vê que outras áreas como história é... essa essa diversidade ela tá, já tá sendo abrangida né?! Essa questão da di-versidade e a língua portuguesa é... na português do Brasil à sua formação deve-se muito a essa influência né?! Da da de outras culturas, de outras línguas e tem que haver espaço pra diversidade. E- CLA: Certo! Você acredita que há o preconceito linguístico na escola? P- SID: Acredito que há! Ainda há! preconceito linguístico, ahm... por que a questão do preconceito linguístico não é só com a questão da gíria hoje na nas grandes cidades. Mas, ahm como nós trabalhamos com um público que vem de várias partes do Brasil, principal-mente do nordeste eu acho que ainda há sim! Principalmente na fala... E- CLA: Como você acha que ele acontece? P- SID: Olha... na maneira mais clara que eu vejo é {inint} quando as pessoas falam mesmo... a... utiliza palavra desconhecida, as pessoas nem procura saber o significado daquela palavra e já começa já a ficar julgando e fazendo piada, essas coisas do tipo... E- JOA: Esse tipo de preconceito pode influenciar na aprendizagem de um aluno ou de uma turma inteira? P- SID: Olha... eu acho dá turma inteira um pouco mais difícil, mas do aluno que sofre esse tipo de preconceito acredito que influência sim. A medida que ele vai sofrendo esse pre preconceito, ele vai se tornando mais retraído... vai falar menos; vai perguntar menos então, vai aprender menos consequentemente. E- JOA: Você já sofreu preconceito linguístico quan quando era aluno ou em alguma etapa da sua vida? E o que pensa a esse respeito?

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P- SID: Olha... {inint} no meu tempo de escola, enfim... {inint} morava no nordeste lá nós falávamos à mesma língua vamos dizer assim (risos) E... a quando eu cheguei pra cá pra o Distrito Federal eu na faculdade eu senti é é ... eu sofri esse tipo de preconceito na fala. Mas eu levei na esportiva não me abateu, vamos dizer assim. E- JOA: Pra você existe uma maneira correta de falar e escrever o português? P- SID: Olha! De falar... não existe uma maneira, eu não acredito que há uma maneira correta. Por que cada um se comunica do seu jeito mas, a maneira de escrever ahm eu acredito que há. No caso à norma culta pra escrever, embora hoje {inint} eu acredito que tem que haver... Você saber utilizar da escrita pra cada momento, se você um exemplo: se você vai escrever um bilhete em casa, você não precisa tá usando a norma padrão, mas eu acredito que as pessoas precisam se apropriar da norma culta, tem que ter essa(e) caminho né?! E- JOA: Uhum! É... você procura corrigir a fala e a escrita dos alunos sempre que possível? P- SID: Sempre que possível eu corrijo, sempre que possível à escrita. A fala {inint} mas né...raramente enfim, mas se for dentro da sala de aula lógico que eu não vou é... reprimir o aluno por que falou de maneira diferente não é errada, mas falou diferente mas se eu tiver oportunidade eu procuro chamá-lo e indicar a maneira correta de falar também. E- JOA: É... por que você acha que acontece ou pode acontecer essas reações adversas a fala do outro? P- SID: Olha... as pessoas procuram né?! Está... num sei... Eu acho que... é uma questão de preconceito mesmo, acredito que se for num lugar informal e as pessoas estão conver-sando e e e a pessoa por falar diferente ela sofre essa correção não deixa de ser um pre-conceito. Eu. Deixa claro que que eu procuro corrigir, mas a fala só individualmente sem constranger o aluno obviamente. E- JOA: Certo, obrigada! E- CLA: Muito obrigada professor! P- SID: nada...

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ANEXO 4 Transcrição Fonética Escola do Ensino Fundamental do DF Duração: 05:36 Entrevistado: Professor NEO Em: 02 de setembro de 2014 Alunas: Joana Darc Maria Cláudia E- CLA: Boa noite professor NEO! Somos as alunas, Maria Cláudia e Joana Darc. Estamos fazendo a nossa pesquisa de campo sobre A variação e o Preconceito Linguístico no Am-biente Escolar. E- CLA: Professor para você o que é a língua portuguesa? P- NEO: língua portuguesa é é nossa língua pátria né?! É através dela que a gente se comunica e... e envolve todos os aspectos dentro de de um... uma escola por exemplo né?! Tudo tá relacionado ao nosso meio de comunicação que é a nossa língua. E- CLA: Para você como a língua portuguesa deve ser ensinada? P- NEO: Olha! Deve ser ensinada primeiramente é...de forma gradativa, não adianta a gente querer é... pegar alunos que estão a muito tempo sem estuda::r! Ou que estão des-preparados por algum motivo e... e querer que eles aprendam isso de forma muito rápida né?! Então, tem que ser um processo lento e mostrar pra eles que na verdade eles já sabem o português e a gente está só aprimorando né?! Já que eles são é... nativos de um país de língua portuguesa. E-CLA: É... como você se ver na posição de professor? E quanto tempo tem de docência? P- NEO: Bom! Eu tenho doze anos de docência é... e na pro... na profissão né?! Na minha posição como professor eu eu vejo que uma posição de muita responsabilidade né?! E muito difícil também ao mesmo tempo por que a gente esbarra com muitos obstáculos né?! No no nosso trabalho infelizmente. E- CLA: É... Há espaço no ensino de língua portuguesa para a diversidade cultural e lin-guística existente em nosso país? P- NEO: Sem dúvida! {inint}Não pode não pode deixar de ter na verdade né?! A gente tem que levar em consideração todas as variantes linguísticas. E- CLA: É... você acredita que há o preconceito linguístico na escola? Se você acredita como ele pode acontecer? P- NEO: Existe! Assim como todos os outros preconceitos né?! O linguístico também tá presente, a gente tenta mostrar aos alunos que que não deve existir mais infelizmente ocorre. Eu vejo muito ocorrendo entre eles as vezes né?! Apesar de que não é tão frequente mais as vezes um comente um erro e outro já já brinca com ele ou quer corrigir né?! Alguma coisa nesse sentido. E- CLA: Muito obrigada professor! P- NEO: Nada... E- JOA: Esse tipo de preconceito pode influenciar na aprendizagem de um aluno ou de uma turma inteira? P- NEO: Pode. Pode sim! Pode sim por que é... as vezes isso gera um receio nele pra que ele continue estudando né?! Ele fica tímido ele fica envergonhado se ele comete muitos erros {inint} Eu procuro logo no início já tentar quebrar essa barreira né?! Converso com eles, mais ocorre sim. E- JOA: Você já sofreu preconceito linguístico quando era aluno ou em alguma etapa da sua vida? O que pensa a esse a respeito? P- NEO: Já sofri sim! Eu acho que quase todo mundo já sofreu né?! Eu acho que por que as pessoas estão é, despreparadas não tem o conhecimento né?! Ignoram que existe as variantes linguísticas e que a gente tem que respeita-las.

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E- JOA: Como ensinar a norma padrão na escola, respeitando e considerando as outras variedades linguísticas? P- NEO: A gente tem que mostrar pra os alunos que a norma padrão é como o nome mesmo já diz serve apenas pra padronizar né?! A língua, não que dizer que ela deva ser usada com exclusividade. A gente pode usar as outras variantes também. E- JOA: Para você existe uma maneira correta de falar e escrever o português? P- NEO: Depende da situação né?! Principalmente com a escrita a escrita em algumas situações é necessário a gente usar um padrão né?! A fala também mais {inint} é menos frequente né?! A escrita realmente o cuidado tem que ser um pouquinho maior em algumas situações. E- JOA: E você procura corrigir a fala e a escrita dos alunos sempre que possível? P- NEO: Muito pouco! Muito pouco! Isso é, no primeiro dia de aula eu já com eles que eu não costumo corrigi-los a não ser que seja alguma coisa relacionada a matéria que eu es-teja passando né?! Eu até brinco com eles eu falo que se eu fosse ficar corrigindo que ninguém ia querer conversar comigo né?! E que eu ia ficar meio LOUCO também se eu ficasse preocupado com o que os outros tão falando né?!. E- JOA: É. Porque você acha que acontece ou pode acontecer essas reações adversas a fala do outro? P- NEO: Puro preconceito mesmo! Preconceito, desconhecimento né?! {inint} dessas vari-antes por exemplo no primeiro dia de aula eu tava conversando sobre isso e uma das alu-nas é... falou que o namorado dela estava estudando letras e que ele num deixava ela falar errado e ficava corrigindo ela o tempo todo né?! Aí eu questionei isso né?! de uma forma assim... é... delicada digamos assim né?! Sem sem entrar muito na intimidade dela mas, eu falei pra ela que não era muito bem assim que funcionava né?! E- JOA: (risos) Obrigada! (Risos) P- NEO: de nada! acho que eu falei muito né?! (risos) E- JOA: É {inint}.

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ANEXO 5

Aula: Língua Portuguesa Assunto: Anúncios Professor: SID Data: 15/08/2014

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ANEXO 6 Aula: Língua Portuguesa Assunto: Interpretação de Texto Professor: NEO Data: 02/09/2014 Texto Trabalhado com os alunos em: 02/09/14 PREVENÇÃO Correios suspenderá entrega Darse Júnior Da equipe do correio 21/07/2004 08h36 – Só no ano passado, 40 funcionários da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) foram mordidos ao tentarem entregar uma correspondência, no Distrito Federal. Nos seis primeiros meses de 2004, houve 14 ocorrências desse tipo. Começou na semana passada uma campanha de conscientização voltada aos trabalhado-res e moradores de casa onde há cães de guarda, promovida pela ECT.

A empresa suspenderá a entrega de cartas aos donos dos animais que não se ade-quarem às regras. Nesses casos, os destinatários serão obrigados as buscar as correspon-dências na agência mais próxima dos Correios. “Não queremos entrar em confronto com nosso cliente, mas certos casos exigem medidas mais energéticas”, explica Alexandre Mauro de Oliveira Couto, chefe do Departamento de saúde dos da empresa.

A primeira etapa da campanha de conscientização é interna. Um curso de dois mó-dulos com 50 minutos é ministrado para os gerentes das agências dos Correios. Eles rece-bem instruções de como evitar e reagir diante dos ataques, por meio de palestras e vídeo. Depois é doado o material educativo a ser distribuído para a população. São duas cartilhas com dicas para os donos dos animais evitarem os acidentes (leia quadro). A empresa pre-tende concluir a campanha no fim de agosto. Áreas de risco

Dos 40 casos registrados em 2003, 73 deles – o equivalente a 92,5% - aconteceram

fora do Plano Piloto. A região administrativa que lidera o ranking das ocorrências é Tagua-tinga, com dez casos. Em seguida vem Samambaia, com oito acidentes e Ceilândia, com quatro.

As ocorrências são proporcionais ao número de cães nas ruas. “Nessas áreas há muito cachorro de rua e, por isso, os ataques são mais frequentes”, explica Paulo Marcelo de Souza, representante da gerência de Recursos Humanos dos Correios no DF. Os outros três casos foram registrados no Lago Norte.

Muitas vezes é a desatenção do morador ou do caseiro que possibilita o ataque. Na sexta-feira, a carteira Marinalva Nunes, 33 anos, esperava o caseiro assinar o recibo das correspondências na QI 4, Conjunto 5, do Lago Norte, quando o portão foi aberto para o morador sair com o carro. “Ainda falaram que não tinha problema, porque o cachorro era manso. Quando eu vi o animal já estava me mordendo”. O dono da casa decidiu comprar os remédios para Marinalva. Ela se recupera em casa, mas sente forte dores no braço esquerdo, onde foi mordida. Marinalva trabalha na ECT há quatro anos e pensa em mudar de profissão por causa dos ataques. “O jeito é estudar mais para mudar de vida, porque as mordidas são inevitáveis”, lamenta.

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Trauma No caso de Solange dos Santos Nascimento, 25, foram necessários 15 dias para ela

se recuperar. O trauma, no entanto, não passou. “Toda vez que vejo um cachorro meu coração dispara”, conta Solange. No primeiro semestre deste ano, ela foi atacada por dois cachorros da mesma casa, na QL 8, Conjunto I, Lago Norte. Um pastor alemão mordeu o tornozelo esquerdo e um rotweiller pegou a perna e o braço direito da carteira. Ao contrário da colega Marinalva, Solange teve de recorrer à justiça para conseguir o ressarcimento do dinheiro gasto com remédios do dono dos cachorros. “Agora tomo muito mais cuidado. Sempre que o carro está saindo da garagem, espero para passar na rua”.

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