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A Verdade Católica em História Esta é a primeira tradução publicada neste blog. Ele foi criado com alguns objetivos: o primeiro deles é tentar tornar mais conhecido em nosso país, especialmente entre os católicos, parte da obra desse gigante do pensamento que foi Belloc. O segundo objetivo é fazer deste blog e das traduções que aqui serão publicadas uma forma de apostolado, ou seja, tentar mostrar para os católicos (principalmente para os mais acomodados) e para os não-católicos o vigor do pensamento de um dos vários grandes autores católicos que já passaram por aqui e, consequentemente, tentar chamá-los ao arrependimento e à conversão. Belloc mostra, por meio de suas obras, que a Verdade não pode ser vivida ou tomada em partes, pois já não seria mais Verdade. E ele mostra também que a Verdade está única e exclusivamente na Igreja Católica, corpo místico de Cristo. Não serão permitidos comentários aos posts, pois já constatei que grande parte das discussões levadas a cabo em blogs no Brasil não levam a lugar algum. Ademais, não tenho jeito para polemista; sendo assim, quero apenas prestar um serviço de divulgação. Gostaria de começar com um belo texto que fala de Belloc como defensor da fé, mas ainda não recebi autorização para traduzi-lo (vale a pena lembrar que toda a obra de Belloc já está em domínio público). Mesmo assim, o blog estreia com um texto que diz muito sobre a realidade do ensino de história em nosso país e no mundo. Boa parte dos manuais didáticos usados em nossas escolas – públicas e privadas – são carregados de ideologia barata e rasteira (leia-se: a marxista). Belloc mostra nesse texto que os católicos não devemos ter medo de defender a Fé e que a história verdadeira é aquela que conta a verdade sobre a trajetória da Igreja Militante, ou seja, a Igreja que vive no tempo. Boa leitura! A Verdade Católica em História Hilaire Belloc Publicado no London “Tablet” Eu quase escrevi que a história é o departamento mais importante de toda a educação. Afirmar isso sem modificação

A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

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Page 1: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

A Verdade Católica em História

Esta é a primeira tradução publicada neste blog. Ele foi criado com

alguns objetivos: o primeiro deles é tentar tornar mais conhecido em

nosso país, especialmente entre os católicos, parte da obra desse

gigante do pensamento que foi Belloc. O segundo objetivo é fazer

deste blog e das traduções que aqui serão publicadas uma forma de

apostolado, ou seja, tentar mostrar para os católicos (principalmente

para os mais acomodados) e para os não-católicos o vigor do

pensamento de um dos vários grandes autores católicos que já

passaram por aqui e, consequentemente, tentar chamá-los ao

arrependimento e à conversão. Belloc mostra, por meio de suas

obras, que a Verdade não pode ser vivida ou tomada em partes, pois

já não seria mais Verdade. E ele mostra também que a Verdade está

única e exclusivamente na Igreja Católica, corpo místico de Cristo.

Não serão permitidos comentários aos posts, pois já constatei que

grande parte das discussões levadas a cabo em blogs no Brasil não

levam a lugar algum. Ademais, não tenho jeito para polemista; sendo

assim, quero apenas prestar um serviço de divulgação.

Gostaria de começar com um belo texto que fala de Belloc como

defensor da fé, mas ainda não recebi autorização para traduzi-lo

(vale a pena lembrar que toda a obra de Belloc já está em domínio

público). Mesmo assim, o blog estreia com um texto que diz muito

sobre a realidade do ensino de história em nosso país e no mundo.

Boa parte dos manuais didáticos usados em nossas escolas – públicas

e privadas – são carregados de ideologia barata e rasteira (leia-se: a

marxista). Belloc mostra nesse texto que os católicos não devemos

ter medo de defender a Fé e que a história verdadeira é aquela que

conta a verdade sobre a trajetória da Igreja Militante, ou seja, a

Igreja que vive no tempo. Boa leitura!

A Verdade Católica em História

Hilaire Belloc

Publicado no London “Tablet”

Page 2: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

Eu quase escrevi que a história é o departamento mais importante de

toda a educação. Afirmar isso sem modificação seria, é claro, afirmá-

lo incorretamente. A parte mais importante é o ensino do dogma; em

seguida, e inextricavelmente conectado a ela, o ensino da

moralidade; em seguida, a defesa (e isto também está conectado com

o ensino do dogma e da moralidade) do contínuo costume católico.

A história vem, é claro, depois de todos esses. Qualquer pai católico

desejaria antes que seus filhos crescessem ignorantes em história do

que ignorantes na Fé ou numa moralidade sensata, ou nos costumes

e hábitos católicos. Não obstante, há um aspecto em relação ao qual

a história pode ser chamada o mais importante de todos os assuntos

ensinados. E aquele aspecto é precisamente o aspecto escolástico.

Se eu mando meu filho para uma escola na qual certas coisas lhe são

ensinadas positivamente algumas horas por dia, eu posso, em caso

de emergência, garantir que ele obtenha sua moralidade e sua

religião em casa. Mas eu não posso impedir de lhe ensinarem

história na escola, porque a história é considerada em todo lugar

como uma parte do currículo secular. No entanto, o juízo que um

homem faz da vida e da comunidade na qual passará seus dias

depende da visão da história que ele absorve em sua juventude.

A história é ao mesmo tempo a memória do Estado e lição prática de

política. É por meio da história verdadeira que os homens sabem

quem realmente são. A falsa história deve fazer com que eles se

considerem diferentes do que realmente são. Por meio da história a

continuidade do Estado é preservada, e seu caráter é determinado.

Ora, tendo a história essa suprema importância para a filosofia, <isto

é>, para que alguém tenha um completo panorama da vida, e sendo

ao mesmo tempo universalmente tratada como um assunto secular,

nela opõem-se dois pontos de debate, cujo conflito cria o grande

risco que os católicos têm de correr neste país (Inglaterra). A

história deve ter uma filosofia. Ela deve tender ao elogio ou à culpa.

Ela deve julgar. Não existe algo como a mera história externa, pois

toda história é a história da mente humana. Portanto, numa

sociedade anti-católica a história será anti-católica. Será anti-católica

nos livros escolares. Será anti-católica nos exames pelos quais a

Page 3: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

juventude católica tem de passar. Neste país nós enfrentamos a

crucial dificuldade de ter de apresentar o mais importante dos

assuntos humanos — aquele que, dentre os assuntos temporais, mais

afeta a alma — com um mecanismo projetado para a produção de um

efeito anti-católico.

Métodos anti-católicos

Em primeiro lugar, permitam-nos averiguar de que maneira o efeito

anti-católico é formado. O grande erro dos católicos que se deparam

com a corrente oposta é que eles procuram, nos livros escolares que

devem usar, frases que caluniam específicos personagens, períodos e

doutrinas católicas ou falsas afirmações relativas a eventos

específicos. Mas tais passagens são raras e não são essenciais.

As coisas essenciais da história anti-católica, as coisas que a tornam

completamente anti-católica, são, primeiramente, a seleção anti-

católica de material; em segundo lugar, aquilo que é chamado de

tom anti-católico; em terceiro lugar, a proporção anti-católica

observada da apresentação do fato histórico. Eu gostaria de me

estender, com a permissão de vocês, sobre esses três pontos, que são

capitais para o nosso assunto.

Primeiramente, quanto à seleção. A narração de qualquer história é

uma questão de seleção. Se se seleciona de modo que a verdade

procurada não seja revelada, então a seleção, apesar de todos os

fatos apresentados serem verdadeiros, é em sua essência uma

inverdade. Os fatos que escolhemos contar — e sua ordem —

determinam a descrição que apresentamos.

Agora quanto ao tom. Eu gostaria de enfatizar neste tópico sobre o

tom na história algo que uma boa quantidade de trabalho minucioso

me ensinou, mas que, penso eu, não é suficientemente estimado. É

isto: o tom ou atmosfera na história não é uma coisa vaga e

inapreensível. Ele não escapa à análise. É possível, se se lê

cuidadosamente uma passagem, observando precisamente os

advérbios e adjetivos utilizados, também o tipo de verbo, e até

mesmo, às vezes, os substantivos, é possível apontar o dedo para o

Page 4: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

que fornece o tom específico e dizer: “Esse é o modo como a mentira

foi contada.”

Em terceiro lugar, a proporção — respectiva quantidade de espaço e

peso dados às várias partes da história — é o elemento final que

determina o conjunto. Não é a mesma coisa que a seleção. Dois

homens podem selecionar a mesma dúzia de fatos e relatá-los, e

ainda arranjar uma proporção muito diferente entre eles com relação

à extensão, ênfase e peso.

Nós somos envolvidos por uma atmosfera de — e submetidos a um

mecanismo de — história anti-católica; história que produz seu efeito

anti-católico não tanto por meio da exposição errônea do fato — isso

é raro — como por meio de seleção anti-católica, tom anti-católico e

proporção anti-católica.

Como se opor a eles

Como podemos nos opor ao mal? Como podemos ensinar verdadeira

história à nossa juventude católica, isto é, história católica? Pois

cabe a nós lembrar o que num país protestante é fácil de esquecer:

que a Igreja Católica não é uma dentre muitas opiniões, mas a

verdade. Seu clero não é parte do “clero de todas as denominações”,

mas são os sacerdotes de Deus com poder sacramental. O que ele diz

definitivamente sobre qualquer assunto não é, para usar o jargão

moderno, uma verdade “subjetiva”; é uma verdade objetiva[1]. Não é

a apresentação de algo que está na mente. É a apresentação de algo

que continuaria existindo ainda que todas as mentes humanas

fossem destruídas. E a verdade sustenta a verdade do mesmo modo

que a inverdade sustenta a inverdade. A verdade católica não é algo

preso à história geral como um alfinete a uma almofada. Faz parte da

verdade universal. A mesma atitude que faz um homem negar a

moralidade do divórcio e afirmar a moralidade da propriedade

privada fará com que ele conte a verdade sobre a história — quando

vier a escrevê-la —, em tópicos aparentemente afastados da doutrina

católica.

Page 5: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

Há uma verdade católica que diz respeito à Conquista da Inglaterra,

à Guerra das Rosas ou à monarquia franca na Gália, tanto quanto há

verdade católica sobre a heresia maniqueia ou sobre a natureza da

Reforma. Com isso eu não quero dizer que nesses assuntos

temporais, dependentes da evidência positiva, não haverá diferenças

de julgamento entre as mais eruditas autoridades católicas. Mas eu

quero dizer que uma biblioteca inteira de livros diferentes e

conflitantes escritos por católicos e que lidam com a história da

Europa seriam católicos em essência e ensinariam história católica; e

que uma coleção similar de livros escritos por anti-católicos, por

mais que diferissem em grande quantidade entre si, teria uma

tendência anti-católica e produziria um efeito anti-católico no leitor,

e, na medida em que doutrinasse o leitor, doutriná-lo-ia com

mentiras.

Livros escolares antagônicos

Nossa primeira dificuldade é a carência de livros escolares. Aqui nós

podemos observar um acidente muito deplorável do passado

imediato. Desde que a história moderna, exata e detalhada começou

quase todos os livros escolares importantes foram escritos como

antagonismo direto à Fé. Nem é preciso falar da massa de trabalhos

protestantes. Todas as obras protestantes alemãs e inglesas são anti-

católicas. O homem que fez um sinal com seu braço no Museu

Britânico e disse: “Livros escritos por peritos para atacar a Igreja”

estava exagerando, mas havia algo de certo no que ele disse. Não é

nenhuma resposta a essa verdade dizer que muitos dos escritores

são aquilo que chamamos “justos” com a Igreja Católica. Você não

pode ser chamado “justo” com relação à verdade. A verdade não é

um dos dois interessantes antagonistas em torno do qual você tem de

manter um conluio. Se você não a defende você não pode evitar

atacá-la. Falar sobre ser “justo” com a Igreja Católica em história é

exatamente análogo a falar de um juiz que “não é nem parcial com

um lado nem imparcial com o outro.”

Um historiador protestante não deve ser louvado, por exemplo,

porque admite que muitos dos monastérios suprimidos por Thomas

Cromwell eram bem administrados. Antes, deve ser louvado o

Page 6: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

historiador católico que expõe inteiramente a má conduta de muitos

desses monastérios, mas que nos conta o que realmente aconteceu.

E o que realmente aconteceu foi que a instituição monástica fora

exterminada na Inglaterra não porque ela apodreceu, nem porque

ela estava desgastada, nem porque ela era impopular, mas porque

naquele momento ela ficou fora de moda no espirituoso mundo

intelectual daquela geração, porque ela era a principal defesa do

papado e da unidade da religião e, acima de tudo, porque o rei e os

homens avarentos que o rodeavam queriam as posses de outras

pessoas. Essas três coisas combinadas explicam aquele desastre

capital da história da Inglaterra: a revolução fiscal e territorial de

1539. E se você não as põe em evidência como as três grandes

causas do evento, está escrevendo história de má qualidade.

Seria difícil dizer por que todos os grandes livros escolares, desde

que se iniciou a história moderna, com exceção de Lingard, têm sido

anti-católicos; mas até mesmo o grande Lingard[2] foi influenciado

pela sociedade protestante na qual viveu e para a qual escreveu. Eu

só posso relacionar fenômeno tão singular à história geral da

pesquisa acadêmica católica. A Igreja ficou, por assim dizer,

“perplexa” com o assalto furioso do ceticismo no século dezoito. O

sistema político francês, a monarquia que foi a principal defesa da

Igreja, entrou em decadência, e quando a tempestade dez declinar

aquela essa instituição, o disperso e derrotado exército católico da

Europa levou algum tempo para se reagrupar. Ele não se reagrupou

de fato até nossa época. Há também, provavelmente, um grande

elemento de acaso no assunto. São poucos os grandes historiadores,

assim como são poucos os grandes poetas.

De qualquer forma, qualquer que seja a causa, aí está ela. Qualquer

nome que você mencionar — Montesquieu, Mommsen, Michelet,

Freeman, Stubbs, Treitschke, e um bando de outros menores —

conta a história da Europa e de seu próprio país contra a Igreja. Os

populares historiadores retóricos fazem a mesma coisa. O mesmo é

verdade com relação aos livros escolares estúpidos e supostamente

corretos. Green, que escreveu para vender, deixa a juventude

inocente sobre a qual se impôs com a impressão de que toda a

história conduziu ao clímax divino — a sociedade protestante da sua

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sala de professores. E pode haver — eu não os li — outros livros

escolares posteriores que dão continuidade à mesma tradição. Os

grandes compêndios, como a “Oxford History”, ou os muito

superiores Rambaud e Lavisse, estão no mesmo barco.

[1] Belloc refere-se obviamente ao depósito da Fé guardado pela

Igreja Católica, que foi revelado por Deus, por meio de Jesus Cristo,

aos Apóstolos, e não a um assunto corriqueiro que possa tratado por

um sacerdote católico [N. do. T.].

[2] Belloc provavelmente se refere ao sacerdote e historiador

católico John Lingard. Lindgard nasceu na Inglaterra em 1771 e

morreu em 1851. Ele escreveu várias obras sobre história da

Inglaterra e da Igreja Católica. Alguns de seus trabalhos publicados

incluem: História da Igreja Anglo-Saxônica e História da Inglaterra

até a ascensão de William e Maria.

A História Anti-Católica

O texto abaixo foi publicado como uma espécie de complemento ao

texto de Belloc postado anteriormente. Ambos foram publicados num

opúsculo intitulado História Católica e Anti-Católica. Infelizmente,

não consegui localizar a data de publicação do opúsculo.

Page 8: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

A História Anti-Católica

G. K. Chesterton

As teses seguintes foram propostas para discussão por Mr.

Chesterton no recente Congresso Católico em Birmingham,

Inglaterra. Cada tese é acompanhada de um exemplo

ilustrativo:

(1) A história anti-católica é falsa não apenas à luz de nossa Fé, mas

à luz da ciência histórica à qual apelou aquela história.

Exemplo: Nós não pretendemos provar que os Evangelhos são

inspirados, mas a tentativa de provar que eles são falsificações

tardias ou ficções foi abandonada.

(2) A história anti-católica é mais falsa e perigosa quando não é

declaradamente anti-católica.

Exemplo: Panfletos protestantes são cada vez menos lidos, mas

jornais e obras populares de referência são provavelmente mais

lidos; e eles perpetuam a má história de cinquenta anos atrás.

(3) A história anti-católica falha porque a história é uma estória; e

neste ponto ela nunca pode fornecer o começo de uma estória.

Exemplo: Ela tem de começar com a Inquisição Espanhola em sua

existência e abusos; ela não pode contar como ela apareceu por lá

sem contar uma estória heróica do esforço Europeu contra o Islã ou

contra o pessimismo oriental. Quase todas as nossas tradições, boas

ou más, nasceram católicas, e a verdade sobre seu nascimento é

ocultada.

(4) A história anti-católica geralmente é superficial; ela depende de

certos lemas, casos e nomes específicos, enquanto a história católica

pode tratar toda a textura da verdade.

Page 9: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

Exemplo: Qualquer um que tenha escutado a palavra “Galileu” pode

pronunciar “Galileu”, ainda que o faça incorretamente. Mas

nenhuma pessoa que tenha lido qualquer massa ordinária e mediana

de detalhes sobre a Idade Média ou sobre a Renascença pode

continuar a crer que a Igreja impedia a ciência.

(5) A história anti-católica é também largamente auxiliada pela

lenda, que pode ser natural e até mesmo saudável, mas não é

científica.

Exemplo: É uma lenda falar da Era Elizabetana como o único triunfo

da Inglaterra emancipada, da força de um romance real de

navegação ainda mais característico da Espanha Católica, e de um

poeta supremo que quase com certeza foi um católico.

(6) A história anti-católica professa constantemente um velho erro ao

lançar um novo.

Exemplo: 50 anos atrás, um homem como Mr. George Moore negaria

que houvesse qualquer indício de um Jesus histórico, e o chamaria de

mito ou de Deus-Sol. No momento em que um cético pensa numa

outra maneira de se esquivar da Ressurreição — uma maneira que

lhe permite tratar Jesus como um personagem histórico —, ele passa

a tratá-lo instantaneamente como um personagem histórico.

(7) A história anti-católica é limitada e pouco criativa, porque ela

sempre concebe todos os homens como se estivessem aguardando

com interesse o que aconteceu, em lugar das centenas de coisas que

podem ter acontecido ou das que muitos deles desejavam que

acontecesse.

Exemplo: Qualquer um que tenha discordado de qualquer Papa sobre

qualquer coisa (São Francisco, por exemplo) é transformado numa

estrela matutina da Reforma; embora em verdade os Fraticelli, que

foram além de São Francisco, estavam indo obviamente cada vez

mais longe da Reforma.

Page 10: A Verdade Católica e A História Anti-Católica - Hilaire Belloc e G.K. Chesterton

(8) A história anti-católica está cheia de observações muito fortuitas,

tão falsas que só podem ser contestadas por meio de longas e

complicadas afirmações.

Exemplo: A “Enciclopédia” Chambers fala do “Rosário, aquela

devoção algo mecânica, que foi usada por São Domingos entre

Albigenses.” Um católico pode escrever <várias> páginas sobre isso;

mas ele teria ao menos de dizer que (a) O Rosário, como a Oração do

Senhor, só será mecânico na medida em que você torná-lo mecânico;

(b) se usado com intensidade, é mais livre que a Oração do Senhor,

constituindo-se de meditações individuais sobre infinitos mistérios;

(c) ninguém seria tão tolo a ponto de usar uma coisa meramente

mecânica para converter os Albigenses.

(9) A história anti-católica, na medida em que é protestante, foi uma

má compreensão provinciana da alta cultura e até mesmo da

liberdade intelectual do catolicismo.

Exemplo: Os protestantes execraram os jesuítas por — duzentos anos

atrás — terem tentado fazer de maneira ordenada o que agora estão

fazendo de forma anárquica as novelas e peças-problema

protestantes; para mostrar alguma compaixão em casos difíceis.

(10) A história anti-católica, na medida em que é ateia ou agnóstica,

tem sido uma série de amplas e muito deprimentes teorias científicas

ou generalizações, cada uma delas aplicada rigorosamente a tudo, e

cada uma abruptamente abandonada em favor da próxima.

Exemplo: Entre essas estavam as teorias comerciais e utilitárias de

Bentham ou de Buckle, teorias que atribuíam tudo à raça,

especialmente ao triunfo de uma raça Teutônica; a teoria econômica

de Marx e de outros materialistas. Há provavelmente outra entrando

em moda agora.

(11) A história anti-católica, depois de produzir e soltar milhares de

acusações, depois de se contradizer milhares de vezes no tópico

relativo à Igreja Católica, até o momento jamais adivinhou o fato

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mais simples sobre a Igreja: que ela defende toda a verdade contra

todo tipo de erro.

Exemplo: A Igreja é sempre tratada como sendo necessariamente o

grupo ascético ou ritualístico em qualquer disputa, embora ela tenha

condenado incontáveis formas de ritual e excessos de ascetismo.

(12) A história anti-católica é obscurantista; ela tem medo da

verdade.

Exemplo: Nós podemos verificar essa afirmação facilmente

desafiando qualquer jornal para uma livre discussão em torno de

qualquer uma destas teses.