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ATENAS A verdade sobre a democracia Por Bettany HUGHES Atenas foi um lugar extraordinariamente radical. Lá nasceu demos Kratie, a democracia. Pela primeira vez nos registros da história, o povo, a plebe, agiu como um agente político. Na Assembleia ateniense padeiros sentavam-se com os nobres, sapateiros com generais, e todos eles votam em como gerir suas vidas. Atenas é um lugar que vemos como a primeira sociedade de livres e iguais, uma base sólida para a nossa história da democracia. Mas sob o ideal de uma idade de ouro há uma cidade que constantemente votou para ir à guerra e impiedosamente criou império para se enriquecer. Uma cidade que defendia a liberdade de expressão, mas não tolerava críticas internas. No século VI a.C. Atenas foi dominada pela Acrópole, uma fortaleza de rocha áspera de calcário pré-histórico com edifícios de pedra simples onde se ofereciam sacrifícios ao deuses. Sob sua sombra estava a Ágora, o centro da cidade, onde os atenienses iam comprar e vender, falar e discutir. Era o coração da vida ateniense um dos lugares mais movimentados e barulhentos do mundo grego. Por todo o mundo grego antigo, ditadores militares populistas, tiranos apoiados pelo exército dos cidadãos tomaram o poder de elites tradicionais. Ironicamente, em Atenas o caminho para a democracia foi construído pela tirania. Tyranno é uma palavra do Oriente Médio, que originalmente se referia a governantes relativamente benevolentes, que às vezes mesmo defendiam pessoas comuns. Mas ao longo do tempo os tiranos gregos começaram a ser conhecidos pelo nome como o conhecemos, do século V a.C. até hoje, tirano se tornou sinônimo de abuso de poder.Ao final do século VI, Atenas não podia mais tolerar o regime vingativo dos tiranos. Eles foram expelidos por grupos de aristocratas que começaram a guerrear uns com os outros. Foi conflito que ajudou a dar início à democracia. De um lago estava Iságoras, apoiado pelo rival de Atenas, Esparta. Do outro, estava Clístenes, desesperadamente precisando de uma tática para cancelar o poderio militar de seus inimigos. Clístenes criou um plano chocante. Dirigiu-se o povo, para o hoi polloi, como chamavam os gregos. O historiador Heródoto diz que Clístenes acolheu em seu grupo as pessoas comuns. O povo provou do poder e, embora o poder seja relativamente fácil de dar, é praticamente é quase impossível de tirar. Quando aristocratas tentaram impor a sua autoridade, o povo se rebelou e se dirigiram numa enxurrada à Acrópole, derrubou seus governantes e sem consciência ou planejamento nasceu a democracia. Eles não substituíram um conjunto de governantes por outro, como ocorrera por milhares de anos no Oriente. Eles disseram, por que não

A Verdade Da Democracia Ateniense

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ATENASA verdade sobre a democracia

Por Bettany HUGHES

Atenas foi um lugar extraordinariamente radical. Lá nasceu demos Kratie, a democracia. Pela primeira vez nos registros da história, o povo, a plebe, agiu como um agente político. Na Assembleia ateniense padeiros sentavam-se com os nobres, sapateiros com generais, e todos eles votam em como gerir suas vidas.

Atenas é um lugar que vemos como a primeira sociedade de livres e iguais, uma base sólida para a nossa história da democracia. Mas sob o ideal de uma idade de ouro há uma cidade que constantemente votou para ir à guerra e impiedosamente criou império para se enriquecer. Uma cidade que defendia a liberdade de expressão, mas não tolerava críticas internas.

No século VI a.C. Atenas foi dominada pela Acrópole, uma fortaleza de rocha áspera de calcário pré-histórico com edifícios de pedra simples onde se ofereciam sacrifícios ao deuses. Sob sua sombra estava a Ágora, o centro da cidade, onde os atenienses iam comprar e vender, falar e discutir. Era o coração da vida ateniense um dos lugares mais movimentados e barulhentos do mundo grego.

Por todo o mundo grego antigo, ditadores militares populistas, tiranos apoiados pelo exército dos cidadãos tomaram o poder de elites tradicionais. Ironicamente, em Atenas o caminho para a democracia foi construído pela tirania. Tyranno é uma palavra do Oriente Médio, que originalmente se referia a governantes relativamente benevolentes, que às vezes mesmo defendiam pessoas comuns. Mas ao longo do tempo os tiranos gregos começaram a ser conhecidos pelo nome como o conhecemos, do século V a.C. até hoje, tirano se tornou sinônimo de abuso de poder.Ao final do século VI, Atenas não podia mais tolerar o regime vingativo dos tiranos. Eles foram expelidos por grupos de aristocratas que começaram a guerrear uns com os outros. Foi conflito que ajudou a dar início à democracia.

De um lago estava Iságoras, apoiado pelo rival de Atenas, Esparta. Do outro, estava Clístenes, desesperadamente precisando de uma tática para cancelar o poderio militar de seus inimigos. Clístenes criou um plano chocante. Dirigiu-se o povo, para o hoi polloi, como chamavam os gregos. O historiador Heródoto diz que Clístenes acolheu em seu grupo as pessoas comuns.

O povo provou do poder e, embora o poder seja relativamente fácil de dar, é praticamente é quase impossível de tirar. Quando aristocratas tentaram impor a sua autoridade, o povo se rebelou e se dirigiram numa enxurrada à Acrópole, derrubou seus governantes e sem consciência ou planejamento nasceu a democracia. Eles não substituíram um conjunto de governantes por outro, como ocorrera por milhares de anos no Oriente. Eles disseram, por que não tentamos algo diferente? Podemos nos governar.

Em um mundo governado por reis e facções, os atenienses criaram quase acidentalmente um experimento notável: governo popular direto. E eles transformaram sua cidade especialmente para acomodar o novo sistema. Do lado oposto à Acrópole, as pessoas se reunião na Colina dos Pniks. Todo cidadão era autorizado a participar e o voto da Assembleia era lei. Assembleia não eram presididas por políticos de carreira, mas por cidadãos comuns, sorteados para um mandato de um mês. Se seguíssemos o exemplo ateniense, poderíamos um mês ser escolhido por um sorteio e cada um de nós teria a sua vez no parlamento. Eles não elegiam pessoas para tomarem decisões por eles. Eles governavam e eram governados em turnos.

Numa escavação que muitos acreditam ser um antigo tribunal, arqueólogos desenterraram provas da busca ateniense por igualdade. Eles encontraram uma urna ateniense. Foram encontrados pequenos discos de bronze. Sobre eles há a inscrição: votação pública. Os jurados nos tribunais recebiam dois discos, um com o eixo vazio e outro com o eixo cheio. Um disco representa o voto para "culpado" e o outro para "não culpado". Você os

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seguraria de modo que as pessoas não pudessem ver seu voto e o jogaria na urna. Sim, eles queriam ter certeza de que o júri não se sentiria coagido de nenhuma forma.Tinha que ser uma votação secreta. Tribunais eram extremamente importantes para o funcionamento da democracia.

Para ter certeza de que os jurados seriam escolhidos de forma justa, foi inventada uma tecnologia engenhosa. Isto é chamado kleroterion. É uma máquina de escolha aleatória. Os nomes dos cidadãos eram impresso sobre placas de metal que eram inseridas nas ranhuras. No lado tinha uma calha de madeira onde bolas de mármore preto e branco eram jogadas. Se o nome ficasse alinhado com uma bola preta ou branca significaria que você havia sido ou não selecionado naquele dia.Uma vez que este processo era realizado todos os dias em que havia assuntos democráticos a serem decididos, era impossível subornar um júri ou garantir que você seria sempre escolhido. Isso comprova a importância da igualdade e justiça na origem da democracia. Em teoria, você poderia ser o magistrado que propõe a lei, poderia sentar-se na Assembleia e votar a lei, e quatro meses mais tarde, poderia fazer parte do júri que tomou decisões como a lei deveria ser interpretada ou efetivada. Você poderia ocupar qualquer cargo no governo.

Certo prédio foi identificado por arqueólogos como as ruínas de uma torre de vigilância. O entorno da torre não era ocupado por cidadãos, mas por escravos. Os atenienses, obviamente, queriam manter escravos sob vigilância 24 horas. Sua preocupação é compreensível. Falamos de números extraordinários. Uma em cada três pessoas que vivia em Atenas era escrava.

— Atenienses puderam ser democratas fervorosos porque eles tinham alguém para fazer seu trabalho sujo— diz Bettany.

Os cidadãos atenienses sentiam que sua liberdade poderia ser perdida assim como muitos proprietários haviam perdido a sua. Não muito longe daquela torre encontrada houve um mercado de escravos, no centro de Atenas. A maioria dos escravos nasceram livres, mas foram forçados a uma vida de trabalho braçal quando se tornaram prisioneiros de guerra. Eles foram comprados e vendidos, separados de suas famílias e esterilizados para não se reproduzirem.

Não só escravos, nove décimos da população foram proibidos de votar. Havia restrição de idade. Não bastava ser ateniense; seu pai e sua mãe também deveriam ser. E do restante dos atenienses livres metade estava automaticamente desqualificado. Mulheres não eram apenas consideradas desiguais. Acreditava-se que fossem demoníacas, possuídas por demônios, espíritos. Elas precisavam ser controladas, visivelmente restritas.

Os atenienses levavam tão a sério a participação na democracia que chamavam as pessoas que não participavam de 'idiotes' de onde deriva a nossa palavra idiota. Os atenienses tinham uma palavra para políticos: orador, pessoas que eram especialmente habilidosas em discursar para a multidão. Um orador poderia ficar frente a frente e deste modo as pessoas poderiam escolher. É importante sempre ter mais de uma voz. A deusa Peithô, persuasão, era adorada. Fizeram-lhe grandes honras na esperança de que ela lhe daria em troca o dom de uma boa voz, doces palavras e talento para o discurso.

Em 483 a.C. a Assembleia teve que tomar uma decisão difícil: o que fazer com a enxurrada de prata que fluiu das minas? Um homem chamado Temístocles apresentou um plano ousado e de longo alcance. Temístocles não veio de uma das velhas família aristocráticas. Ele foi um dos que se beneficiou diretamente das oportunidades que ofereceu a democracia. Na visão de Temístocles, Atenas deveria dominar os mares já que as forças persas ameaçavam sua sobrevivência. Temístocles sabia que já havia terras gregas invadidas.

Para surpresa de todos, os atenienses derrotaram um enorme exército O desenvolvimento da frota teve consequências políticas extraordinárias.Os aristocratas de Atenas eram hostis ao desenvolvimento da frota. Com uma frota, o poder de Atenas repousava sobre os ombros das pessoas pobres da sociedade.

A mensagem foi considerada clara. Democracias ocidentais podem e devem superar a tirania orientais.A cisma entre Oriente e Ocidente agora ele estava escrita em pedra.

Após a decisiva vitória sobre a tirania, a Atenas democrática centrou-se na construção de um Império. Eles

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perceberam que se eles não perseguissem os persas, eles voltariam. Os Estados gregos na costa do Mar Egeu formaram uma grande confederação com Atenas para se protegerem dos persas. Os historiadores a chamam de Liga de Delos, a ilhota em que os Aliados tinham seu quartel-general. Delos era um lugar sagrado, o lendário local de nascimento de Apolo e Ártemis.

Inicialmente, a Liga foi um grande sucesso. Com o tempo tornou-se claro que Atenas, com sua grande marinha, era claramente a líder da aliança. Muitos países menores não puderam manter uma frota por todo o ano. Portanto, para ambos os lados era adequado Atenas oferecer proteção e receber dinheiro dos aliados pelo serviço. Para celebrar a fundação da Liga construiu-se um templo a Apolo e nele um vasto tesouro coletado por toda a Liga podia ser armazenamento.Mas apenas 20 anos depois a Liga suspendeu a construção porque o tesouro dela foi deslocado de um território neutro para Atenas.

Aliados que já haviam tentado deixar a coalizão viram-se forçados pelos atenienses a retornar.O que antes era um pacto de defesa, agora se assemelhava a um império.O que está por trás dessa avidez de Atenas pelo poder imperial? Grãos! Grãos foram o petróleo do mundo antigo, quem quer que controlasse o seu fornecimento tinha o poder em suas mãos. Cevada e trigo eram os alimentos básicos na Grécia. Quando eles escasseavam, as pessoas morriam de fome.

Novas evidências de que a oferta de cereais motivou a ambição por um império vem do historiador de Oxford, Alfonso Moreno. Ele encontrou uma série de fortes atenienses na farta e fértil ilha de Eubeia. Atenas conquistou Eubeia forçando sua população a servi-la.Eles foram tão longe que evacuaram toda a população desta parte da ilha, que foi forçada a se retirar. Estima-se que 50 mil pessoas. Em seu lugar, colocaram 1000-2000 atenienses.

A dominação de Eubeia e o projeto de imperialismo agressivo foram a política do mais poderoso aristocrata ateniense, Péricles.Ele era um dos favoritos do povo. De acordo com o historiador antigo Tucídides, sob sua liderança, Atenas era uma democracia apenas em nome, pois era governada somente por um homem.

A democrática Atenas tinha mais dinheiro do que poderia gastar.Péricles usou o excedente de um ousado novo modo. Ele criou para o povo um símbolo da própria glória imperial. Em 447 a.C., começou o trabalho no símbolo definidor da antiga Grécia, o Pártenon.

Por 15 anos, cidadãos, escravos e estrangeiros trabalharam lado a lado para construir um dos mais celebrados edifícios da história. Longe de ser um símbolo do puro, branco, helenismo, ele é um símbolo de como Atenas adquiriu poder sobre a multidão de estados menores e o usou para se glorificar. Mas o projeto adorado por Péricles enfrentava problemas. Grupos na cidade estavam irritadas porque democratas poderiam roubar recursos do fundo de defesa para subornar pessoas. Eles expressaram suas queixas a Péricles na Assembleia: “Os aliados devem estar revoltados. Eles devem considerar isso um ato descarado de tirania quando veem que estamos usando suas contribuições, arrancadas para a guerra contra os persas, estão sendo usadas para organizar e embelezar nossa cidade”. Aqueles que resistiram foram punidos, homens, mulheres e crianças, massacrados. Em nome da democracia, eles adotaram uma política externa agressiva que criou conflitos com as cidades-estado rivais.

Em 432 a.C. os atenienses enfrentaram um inimigo que não poderiam superar, a força militar mais formidável do mundo antigo: Esparta. É uma ironia digna de uma tragédia grega que Esparta, estado praticamente totalitário, agora se autoproclama libertador Grécia da tirania ateniense, a primeira democracia do mundo.

Péricles levou Atenas a uma guerra desastrosa. Mas ele parecia ser brilhante em convencer seus cidadãos a morrer por uma causa maior. Na cerimônia fúnebre anual aos cidadãos mortos na guerra, ele fez um último e apaixonado discurso em defesa da democracia e de Atenas.

Mas havia muitos que não compartilhavam esta visão de Péricles.Naquela época, opiniões discordantes circulavam na cidade e eram vistas como muito perigosas. Uma corrente de artistas, arquitetos e filósofos fluiu para a cidade, trazendo novas experiências, novas ideias.

Ninguém personifica melhor o avanço pensamento do que Sócrates, o filósofo mais influente no Mundo

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Ocidental.Filho de uma parteira e de um pedreiro, Sócrates era em muitos aspectos um cidadão ateniense comum. Ele

serviu na infantaria e teve sua vez de ocupar posições no serviço municipal. Ela não escreveu grandes obras ou abriu uma escola filosófica, mas ganhou influência entre os aristocratas cujos filhos competiam para fazer parte de seu círculo.

Muitas das ideias de Sócrates atingiram em cheio o coração de uma Atenas confiante, ousada e democrática.Questões irritantes como: a riqueza realmente nos torna felizes? Em uma sociedade aberta, porque precisamos de muros em volta da cidade? Muito do que Sócrates Tinha a dizer simplesmente não era o que muitos atenienses queriam ouvir. Ele deve ter sido uma figura estranha. Numa cidade que cultuava a beleza, era notoriamente feio, raramente se banhava ou usava sapatos, era facilmente reconhecível por seu roupão surrado, cercado por homens jovens e brilhantes, ansiosos para ouvir suas novas ideias. Para a maioria das pessoas que lhe procuravam, ele fazia perguntas que lhes faziam se sentir humilhados, ignorante e desconfortáveis. Ele fundou nossa crença de que todas as coisas podem ser questionadas. Por isso, tanto fez amigos como inimigos. As questões sem resposta de Sócrates trouxeram problemas não apenas para os cidadãos, mas a própria democracia ateniense.

Mas o racionalismo competiu com uma visão de mundo mais antiga, dominada por deuses que os atenienses aprendiam quando crianças, das epopeias e mitos. Todos os gregos conheciam as histórias e eles começaram a construir templos de pedra monumentais, palácios terrenos para a tribo divina. Naquela época, mesmo as pessoas ricas viviam em edifício de tijolos modestos.

Enquanto isso os alguns pensadores especulavam sobre a origem do universo. Estas teorias foram incrivelmente perigosas.Em 414 a.C., Diágoras, o Ateu de Melos, amigo de Sócrates, foi acusado de desprezar a religião. A democracia pôs sua cabeça a prêmio e solicitou que ele fosse assassinado sem julgamento, certamente porque ele se atreveu a escrever algo assim. Diágoras fugiu da cidade. Pensadores como Diágoras tornaram-se alvo de suspeita e perseguição devido à sua capacidade para “desencaminhar” as pessoas. Intelectuais e aristocratas se reuniam a portas fechadas e discutiam ideias discordantes em simpósios infames. Uma coisa muito peculiar à democracia ateniense era a suspeita de qualquer grupo de pessoas reunido, pois elas poderiam ser antidemocráticas.

Foi em simpósios que Sócrates confraternizou e inspirou os mais poderosos aristocratas. Sócrates revelou aos convidados os mistérios do amor numa clara adaptação dos Mistérios de Elêusis. Sua linguagem mistura religião e ciência. As ideias pareciam radicais que pareciam para alguns que estavam zombando dos mistérios de Elêusis.

Em Atenas, a cada esquina, havia uma estátua de Hermes, o deus mensageiro. Numa manhã em que os atenienses decidiram zarpar para invadir a Sicília encontraram centenas de estátuas mutiladas com seus narizes e falos cortados. Foi lançada uma investigação, e testemunhas começaram a informar sobre comportamento noturno impróprio de grupos de jovens aristocratas, saindo de jantares em que se zombava dos deuses.

Como o ambiente em Atenas já estava muito ruim, começaram as deportações. Claro, eles primeiro prenderam as pessoas que vandalizaram as estátuas e, então, as pessoas que haviam parodiado os mistérios de Elêusis. Os atenienses revogaram a proibição de cidadãos serem torturados e muitas pessoas foram torturadas e executadas. Foi um momento terrível na cidade. As coisas estavam ruins para Sócrates. Muitos de seus colegas intelectuais foram levados ao tribunal.

Estava definido o cenário para o trágico drama de Sócrates. A última década do século V a.C. testemunhou o final da Idade de Ouro de Atenas. Em apenas 15 anos, a própria democracia desmoronaria e o homem que seria considerado o primeiro agente do esclarecimento será executado.

Em 413 a.C., Atenas estava em guerra há quase 20 anos com Esparta. Os inimigos se aproximaram e os atenienses foram destruídos. Os poucos sobreviventes começaram a voltar para Atenas. Suas histórias eram tão horríveis que o pânico se espalhou pela cidade. Houve uma turbulência política na cidade. Os cidadãos

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procuraram por culpados, processando líderes talentosos e pensadores que tinham sido a força da democracia. Esquadrões da morte percorriam as ruas. E neste clima de medo os atenienses voltaram-se contra Sócrates.

Sócrates foi levado ao Tribunal por duas acusações. Por zombar dos deuses em que a cidade acreditava e por corromper a juventude. Vários ex-alunos de Sócrates acabaram por se transformarem em traidores e antidemocráticos. E eles culparam Sócrates por isso. As acusações foram feitas na Ágora, onde ele foi chamado a se manifestar na frente do juiz.

O julgamento de Sócrates foi um evento extraordinário. Sócrates era totalmente intransigente. Ele disse que não deixaria de filosofar, desistir de falar com as pessoas e questionar suas crenças. Platão relata que Sócrates ridicularizava seus promotores. Ele se recusou totalmente a respeitar a tribunal. Pediu para sugerir uma punição quando o júri aceitaria o exílio.Ele respondeu: “comida gratuita pela vida, os prêmios tradicionais para os atletas vencedores”. No final, mais jurados votaram "Sim, ele deve ser executado" do que "Sim, ele é culpado". Alguns mudaram de opinião. Platão diz que Sócrates se certificou de ter a última palavra:

“A hora de partir chegou e nós dois vamos por nossos próprios caminhos, eu morrerei e você viverá. Quem é

melhor? Somente Deus sabe.”

No dia previsto, ele bebeu cicuta de um pequeno copo. Ele andou até as pernas ficarem pesadas, e depois deitou-se na cama. A morte por cicuta foi agonizante. Quase imediatamente, os atenienses se arrependeram do que fizeram.

Eles votaram pela construção de uma estátua de Sócrates do lado externo das muralhas da cidade. E seu aluno Platão o registrou na história como o primeiro mártir ideológico. Mártir da liberdade e liberdade de expressão.

Sócrates questionou a sabedoria do governo das massas. Ele se aliou aos aristocratas conservadores. Ele era, em muitos aspectos, antidemocrático. Sócrates foi visto com o educador de tiranos. Sócrates certamente criou alguns dos homens mais perigosos da Atenas dos séculos IV e V a.C. e não devemos esquecer que seu mais importante discípulo, Platão, um teórico no qual Hitler se apoiou para justificar seu estado totalitário.

Mas, ao mesmo tempo, suas perguntas liberaram a humanidade. Ele foi um pioneiro no movimento que começou a ir além da religião e fazer perguntas sobre como o mundo foi criado e que papel dos seres humanos nesse mundo. A democracia pode tolerar muitas coisas, mas não um desafio direto à própria democracia. Ao questionar os deuses, Sócrates minou o sistema comum de valores dos quais a Demokratia dependia. Paradoxalmente, essas ideias se desenvolveram precisamente porque a democracia ateniense permitia a liberdade de expressão. Mais se contradisse ao punir e perseguir mutos intelectuais como Sócrates.

A democracia direta ateniense durou apenas 150 anos. Apesar de ser considerada um dos pilares da nossa civilização, o Ocidente passou a maior parte da sua história rejeitando-a rejeitando-a como um modelo político. A história de Atenas é parte do caminho para explicar o porquê. Democracia é trabalhosa, falha e volátil. Se você empodera as pessoas, está aceitando uma vida cheia de incertezas e mudanças.

Fonte: Texto baseado no documentário inglês  Athens: The Truth About Democracy.

http://www.bettanyhughes.co.uk/athens-the-truth-about-democracy