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8 CONTRAPONTO A VIDA NA TERRA ' 2001, RAE - Revista de Administraçªo de Empresas/FGV/EAESP, Sªo Paulo, Brasil. RAE Light v. 8 n. 2 p. 8-12 Abr./Jun. 2001 Maria José Tonelli INTRODU˙ˆO Paleolítico? Neolítico? Como podemos chamar este período em que vivemos? Vivemos na Época das perplexidades (RenØ Dreifuss, 1996)? Em Sociedades transbordan- tes (Jeudy, 1995)? Na Sociedade pós-capitalista (Peter Drucker, 1995)? Na Sociedade pós-industri- al (Domenico de Masi, 1999)? Em plena Crise do capitalismo (George Soros, 1998)? Na Condiçªo pós-mo- derna (David Harvey, 1993)? Na Sociedade informÆtica ? (Adam Schaff, 1995)? Na Sociedade em rede (Manuel Castells, 1999)? Esta- mos na Pós-modernidade, como a nomeiam Jean François Lyotard (1989) e Zygmunt Bauman (1998)? Somos modernos ou Jamais fomos modernos , como propıe Bruno Latour (1994)? Estamos na Moder- nidade reflexiva , como a intitula Ulrich Beck (1999)? Ou na Moder- nidade tardia, como propıe o guru de Tony Blair, Anthony Giddens (1997)? A sociedade em que vivemos tem sido descrita por inœmeras de- nominaçıes, que se apresentam como tentativas de compreender uma Øpoca marcada por uma ace- lerada transformaçªo. É um perío- do em que se verificam profundas alteraçıes no modo de vida, em que padrıes de conduta sªo ques- tionados e novos hÆbitos se desen- volvem. Este momento tem sido descrito tambØm pela palavra glo- balizaçªo, que aparece no cotidia- no da mídia, como um clichŒ ex- plicativo. Globalizaçªo Ø hoje a palavra da moda e, como qualquer palavra inœmeras vezes repetida, Globalizaçªo Ø hoje a palavra da moda e, como qualquer palavra inœmeras vezes repetida, perde seu sentido.

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CONTRAPONTO

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RAE Light � v. 8 � n. 2 � p. 8-12 � Abr./Jun. 2001

Maria José Tonelli

INTRODUÇÃO

Paleolítico? Neolítico? Comopodemos chamar este período emque vivemos? Vivemos na Épocadas perplexidades (René Dreifuss,

1996)? Em Sociedades transbordan-tes (Jeudy, 1995)? Na Sociedadepós-capitalista (Peter Drucker,1995)? Na Sociedade pós-industri-al (Domenico de Masi, 1999)? Emplena Crise do capitalismo (George

Soros, 1998)? Na Condição pós-mo-derna (David Harvey, 1993)? NaSociedade informática? (AdamSchaff, 1995)? Na Sociedade emrede (Manuel Castells, 1999)? Esta-mos na Pós-modernidade, como a

nomeiam Jean François Lyotard(1989) e Zygmunt Bauman (1998)?Somos modernos ou Jamais fomosmodernos , como propõe BrunoLatour (1994)? Estamos na Moder-nidade reflexiva, como a intitula

Ulrich Beck (1999)? Ou na Moder-nidade tardia, como propõe o gurude Tony Blair, Anthony Giddens(1997)?

A sociedade em que vivemostem sido descrita por inúmeras de-nominações, que se apresentamcomo tentativas de compreenderuma época marcada por uma ace-lerada transformação. É um perío-do em que se verificam profundasalterações no modo de vida, emque padrões de conduta são ques-tionados e novos hábitos se desen-volvem. Este momento tem sidodescrito também pela palavra glo-balização, que aparece no cotidia-no da mídia, como um clichê ex-plicativo. Globalização é hoje apalavra da moda e, como qualquerpalavra inúmeras vezes repetida,

Globalização é hoje a palavra da modae, como qualquer palavra inúmerasvezes repetida, perde seu sentido.

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perde seu sentido. Sofremos todossua influência, mas percebemosrealmente tudo o que fenômenoencerra e suas múltiplas significa-ções? Que outras luzes podem serlançadas para se entender o seudomínio?

UMA ERA PLANETÁRIA?

Durante milhares de anos, ospovos que constituíam a humani-dade, na Pré-História, desenvolve-

ram-se em relativo isolamento,com linguagens, crenças, rituais ecostumes absolutamente diferentese estranhos uns aos outros.

A conexão entre os povos, en-tretanto, não é um fenômeno re-cente e encontra-se em fermenta-ção desde as grandes navegações.A circulação de mercadorias temuma longa tradição, desde o con-sumo de especiarias do Oriente, docultivo da batata na Europa e inú-meras outras importações, incluin-do alimentos, animais e até doen-ças. Com a conquista da América ea disseminação das idéias e técni-cas dos europeus, começa um pro-cesso de ocidentalização do mun-do, que corre lentamente do sécu-lo XV até o século XX.

Ao final do século XX, esse pro-cesso acelera-se. Mas globalizaçãoda economia não é o mesmo queconsciência planetária. Podemosdizer, como Morin (s/d, p. 53), que�a humanidade comunicante conti-nua a ser uma humanidade em re-talhos�. Aumentamos o intercâm-bio de mercadorias e a velocidadedas trocas, mas não o contato entreas pessoas e as alianças entre os

povos. Na visão desse autor, os pro-blemas mais evidentes desse modelode mundialização crescente incluema desregulação econômica mundial,em que a economia mundial pareceoscilar entre crise e não-crise, o des-regramento demográfico mundial,que comporta sempre uma imprevi-sibilidade, e a crise ecológica.

Vivemos uma multiplicidade decrises, em que vários problemascomplexos interagem e se alimen-tam mutuamente; entre eles, des-

taca-se a ambigüidade do desen-volvimento não controlado da�tecnociência� por um pensamen-to técnico-científico predominan-te, que se vê capaz de conduzir ahumanidade infinitamente na dire-ção do desenvolvimento. Pensa-mento esse que ataca como irraci-onal qualquer crítica que coloqueem dúvida a sua �racionalidade�.

De um lado, o progresso técni-co-científico torna possível, como uso dos novos meios de comuni-cação, a construção de uma opi-nião pública planetária. Assim,este momento é favorável para serepensar o conceito de desenvol-vimento e as necessidades indivi-duais e coletivas. De outro lado, oprogresso técnico-científico colo-ca-nos diante de uma crise de fu-turo, já que este se apresenta comoum carro acelerado que não se sabemais para onde vai e que ninguémgoverna.

Nesse cenário de riscos e incer-teza, mudam as nossas concepçõesde tempo e de espaço: ainda que odia-a-dia seja vivido intensamen-te, temos sempre a sensação de queo tempo nos escapa e foge.

GLOBALIZAÇÃO?PARA QUEM?

Ainda que aparentemente uni-formizados pelo processo de glo-balização da comunicação, o espa-ço e o tempo não se apresentamiguais para todos. Essa diferençadecorre de como os processos deexclusão social se configuram atu-almente.

De fato, hoje o mundo está di-vidido entre aqueles que são locaise aqueles que são globais. Isso sig-nifica que algumas pessoas podemusufruir a mobilidade e a veloci-dade da comunicação e do trans-porte, enquanto outros estão pre-sos ao seu lugar e não se deslocampelo mundo, impossibilitados departicipar de toda essa intensa mo-vimentação.

Ser local nos dias de hoje é umsinal evidente de privação social,já que a distância e a velocidadepara ultrapassá-la dependem docusto envolvido nesse deslocamen-to. Ser excluído da sociedade sig-nifica não poder participar do es-paço global.

A anulação da distância tem,paradoxalmente, distanciado aindamais as pessoas, já que somente aalguns é permitida a independên-cia em relação ao tempo e ao es-paço: para esses, a liberdade de mo-vimentação; para os outros, o con-finamento no tempo e no espaço ea exclusão social.

Mas, mesmo para aqueles quepartilham do espaço global, exis-tem novas formas de isolamento,já que o fato de as sociedades se-rem velozmente interligadas nãosignifica que elas sejam coesasou intimamente vinculadas, �vín-culo� aqui entendido no sentidopsicológico. Ao contrário, o pre-ço da velocidade e da flexibilida-de pode ser dado pelo esquecimen-to (Bauman, 1999, p. 23). Deve-mos viver como se fôssemos umfilme em que é possível gravar,

Aumentamos o intercâmbio de mercadoriase a velocidade das trocas, mas não o contatoentre as pessoas e as alianças entre os povos.

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repetidamente, diferentes histó-rias.

Estamos diante de um processode desenraizamento, no qual a mo-vimentação é possível, mas não osentimento de pertencimento. Tudoé descartável: os objetos, as rela-ções amorosas e o trabalho, tudo éefêmero, passageiro, volátil, feitopara não durar! Hoje, cada vezmais, os espaços têm proteção cer-rada e admissão controlada, paraafastar os indesejáveis. Não se tra-ta de ódio, mas de indiferença econtrole.

Conforme argumenta Bauman(1999), a figura que representa hojeo modelo do homem ideal é a doturista: alguém que está sempre depassagem, sem vínculos com o lu-gar. Não há mais fronteiras, não hámais limites, trata-se de manter odesejo permanentemente atentopara o consumo. O turista está sem-pre em mutação, é consumidor enunca está satisfeito. O turista estáao mesmo tempo dentro e fora dolugar. Ele habita o não-lugar, os ae-roportos, os hotéis. Ele está perma-nentemente em movimento e, quan-do chega em casa, experimenta umcerto estranhamento, já que a casanão tem mais o sentido de lar(Augé, 1994).

Ainda segundo Bauman (1999),o sentido de globalização inclui�esta nova e desconfortável per-cepção das coisas fugindo do con-trole�, num mundo em que nin-guém mais parece saber com cla-reza o que significa ter o controle.

O sentido da palavra globalizaçãofoi esvaziado; o conceito não éesclarecedor nem carrega algumaesperança. A globalização provocaefeitos, mas não traz consigo, aocontrário do conceito de universa-lidade, ideais a serem alcançados.

No mundo globalizado, como oespaço já não é uma barreira, otempo também se transforma; paraaqueles que são globais, o tempoestá absolutamente preenchido.Essas pessoas estão sempre semtempo, o seu tempo é o presente.Para aqueles que são locais, o tem-

po é abundante, mas nada de ex-traordinário acontece, e o tempo évazio. Para Bauman (1998), os glo-bais vivem no tempo e os locais,presos no espaço.

No bojo dessas mudanças,Bauman (1998) afirma que há umprocesso de erosão da dominaçãoda cultura ocidental sobre as de-mais culturas do mundo. Assim, elanão mais estabelece padrões uni-versais de verdade, moralidade egosto.

A dominação tem-se dado pordois mecanismos complementares:a sedução e a repressão. A sedu-ção é apontada por Bauman (1998,p. 222) como o mecanismo de in-tegração e de reprodução da domi-nação, na sociedade de consumo,já que o mercado teve sucesso emfazer com que as pessoas ficassemdependentes dele.

A geração da dependência daspessoas ao mercado foi possíveldevido à destruição de habilidades

pessoais, técnicas, sociais, psico-lógicas e existenciais que foramsendo substituídas por mercadori-as. As pessoas são obrigadas a sesubmeter a sua lógica, já que set ransformaram, antes de maisnada, em consumidores. Por outrolado, a repressão tem o papel desubordinar as pessoas que não es-tão submetidas ao mercado, ouseja, os não-consumidores.

Como não há mais projeto cole-tivo, o insucesso ou a incapacida-de de ser como os globais e de cor-responder à imagem idealizada doconsumidor seduzido é atribuído aoindivíduo. Não se deve estranhar,portanto, que a criminalidade cres-ça. Os excluídos são aqueles quenão conseguem, apesar de seduzi-dos, corresponder à sedução. Nãosó esse grupo não participa do jogo,como é culpabilizado por estar nes-sa condição. Conforme aponta oautor: �os �excluídos do jogo� (osconsumidores falhos � os consumi-dores insatisfatórios, aqueles cu-jos meios não estão à altura dosdesejos, e aqueles que recusarama oportunidade de vencer enquan-to participavam do jogo de acordocom as regras oficiais) são exata-mente a encarnação dos �demôniosinteriores� peculiares à vida do con-sumidor� (Bauman, 1998, p. 57).

Como o desenvolvimento eco-nômico já não significa aumento naoferta de empregos, encontramos,de um lado, aqueles que estão ab-solutamente excluídos desse novomodo de funcionar (da sedução, doconsumo, do tempo e do espaçoglobal) e, de outro, aqueles que par-ticipam do jogo, mas que estão co-locados em permanente risco epressionados pelo sucesso.

ASSIM CAMINHA AHUMANIDADE...

E, neste mundo repleto de cri-ses, como vivem as pessoas? Se-gundo as idéias de Morin (s/d, p.

Ainda que aparentemente uniformizados peloprocesso de globalização da comunicação, o espaçoe o tempo não se apresentam iguais para todos.Essa diferença decorre de como os processosde exclusão social se configuram atualmente.

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Tudo é descartável: os objetos, as relaçõesamorosas e o trabalho, tudo é efêmero,passageiro, volátil, feito para não durar!

69): �Os indivíduos vivem o dia-a-dia, consomem o presente, dei-xam-se fascinar por mil futilida-des, palram sem nunca se compre-enderem na torre de Bugigangas[...] Avança-se em qualidade de

vida, mas avança-se também nadegradação das relações pessoais,na solidão...�

São inúmeros os eventos quedemonstram a fragilidade das pes-soas e das relações nesse momen-to: o uso de drogas, a busca por�filosofias� vulgarizadas que rein-tegrem o sagrado, as crises e astransformações da vida amorosa(ver, por exemplo, Giddens, 1993;Beck e Beck, 1995).

O modo de funcionar ideal daspessoas hoje comporta algumas ca-racterísticas: ser flexível, global,auto-suficiente, consumidor e se-dutor. Mas as pessoas estão perma-nentemente sob a ameaça e a in-certeza, porque, a qualquer mo-mento, podem perder essa condi-ção. Não se tem jamais a garantiade sucesso e, além disso, as regrasdo jogo estão mudando no meio dojogo. Isso leva, na concepção deBauman (1998), a uma estratégiade �jogos curtos�, em outras pala-vras, à impossibilidade de desen-volvimento de qualquer compro-misso de longo prazo. Essa é a es-tratégia de organização das pesso-as nas organizações pós-modernas:não há mais memória, e a mudan-ça é constante. Conforme assinalao autor: a dificuldade já não é des-cobrir, inventar, construir, convo-car (ou mesmo comprar) uma iden-tidade, mas como impedi-la de serdemasiadamente firme e de aderir

depressa demais ao corpo. �O eixoda estratégia de vida pós-moder-na não é fazer a identidade deter-se � mas evi tar que se f ixe�(Bauman, 1998, p. 114, itálico doautor).

Hoje, vivemos cada vez maisnuma situação de risco e incerte-zas, por isso Bauman (1998, p.112) pergunta: �Como pode al-guém investir numa realização devida inteira, se hoje os valores sãoobrigados a se desvalorizar e, ama-nhã, a se dilatar?�

A IDENTIDADE DOSGESTORES PÓS-MODERNOS

Como o mercado de trabalhotem atualmente uma situação deempregos flutuante e uma estrutu-ra mais flexível e instável, isso nosleva a manter uma conduta que os-cila entre o sucesso e a ansiedade.A flexibilização do mercado detrabalho impôs algumas dificulda-des a mais na construção das car-reiras e, para obter o sucesso, aspessoas são obrigadas a mudarmais velozmente, a adotar postu-ras inovadoras diante da concor-rência, o que as leva a se tornaremdependentes do sucesso e, portan-to, do trabalho.

Essas exigências têm levado amudanças de comportamento. Al-gumas pessoas �criam para si mes-mas um eu falso [..] e se tornamautômatos bem adaptados� (Pahl,1997, p. 33). Conforme já discu-tiu McDougall (1995), os compor-tamentos das pessoas são tão in-crivelmente normais, que ela osdescreve como �normopatias�.

Isso significa que as pessoaspassam a adotar, sem críticas, asnovas tecnologias de gerenciamen-to do corpo, da mente e das ativi-dade profissionais, desde que es-tejam em consonância com os es-paços organizacionais. Elas preci-sam adotar esses novos modelos deconduta, na tentativa de se notabi-lizarem e destacarem num mundoque culpabiliza os que fracassarame não são mais globais.

De acordo com Du Gay,Salaman e Rees (1996), essas no-vas competências exigidas dos exe-cutivos desempenham um papelcentral no mecanismo de regulaçãoe controle entre a estrutura orga-nizacional e as pessoas. Esses au-tores dizem que os gestores estãosendo construídos por meio de umaficção, isto é, um make-up e, deacordo com a moda, adotam hábi-tos que permitem a sobrevivênciano grupo.

O que está em questão, portan-to, é que os gestores assumem cer-tos padrões de comportamentosque lhes dão um tipo de identida-de valorizada no meio em que cir-culam, onde eles podem ser vistose reconhecidos como integrantesdo grupo dos �gestores excelen-tes�.

Transportada para o espaço or-ganizacional, essa mudança inces-sante já foi interpretada como de-fesa, ou seja, o homem das organi-zações pós-modernas muda convul-sivamente por medo, assim como ocamaleão muda de cor para se de-fender e enfrentar um meio ambi-ente hostil. As organizações, assimcomo as pessoas, são compelidas aprocurar uma aparência �moder-na�, ou seja, o visual da moda, nãocomo resultado de uma reflexão,mas como um comportamento de-fensivo perante um ambiente adver-so e beligerante (Caldas e Tonelli,2000). O homem-camaleão é umaversão do gestor �moderno�, quenos ajuda a entender o fenômeno

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dos modismos gerenciais tão pre-sente no ambiente organizacional.A questão que permanece, entre-tanto, é: as pessoas mudam real-mente ou apenas fazem um make-up?

Essas novas configurações doself do gestor combinam com ascaracterísticas ideais que Bauman(1998) descreve como modelo ide-al para as pessoas: ser flexível,global, auto-suficiente, consumi-dor e sedutor. Ser excluído, hoje,significa estar fora do mundo glo-

bal ou, em outras palavras, �serlocal�. Os gestores da modernida-de tardia não querem correr esserisco.

Assim, podemos dizer que a pa-lavra globalização não significa

universalidade ou consciência pla-netária. A globalização dos nossosdias pode significar comunicaçãomais intensa e mais rápida entre aspessoas e os objetos no mundo,mas isso não quer dizer que os vín-culos entre as pessoas seja maior.A globalização também comporta

A geração da dependência das pessoas aomercado foi possível devido à destruiçãode habilidades pessoais, técnicas, sociais,psicológicas e existenciais que foramsendo substituídas por mercadorias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

novas formas de exclusão social:os locais, que não podem partilhardo tempo e do espaço globais. Aglobalização inclui a sensação dascoisas fugindo do controle, quetem levado as pessoas a construí-rem novas formas de atuação tan-to nas relações pessoais como notrabalho. Em que mundo vive-mos? Queremos viver desta ma-neira? Manter nossa sobrevivên-cia biopsicossocial e, ao mesmotempo, preservar uma vida plane-tária mais amena continua a serum desafio. m

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Maria José Tonelli éProfessora do Departamento de

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E-mail: [email protected]

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