A Vida Quotidiana Em Julgamento_Devassas Em Minas Gerais

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  • 7/31/2019 A Vida Quotidiana Em Julgamento_Devassas Em Minas Gerais

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    A VIDA QUOTIDIANA EM JULGAMENTO: DEVASSAS EM MINAS GERAIS.

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    Francisco Vidal LunaIraci del Nero da Costa

    Ao tempo do Brasil Colnia recebemos vrias "Visitaes do Santo Ofcio da Inquisio" -- instrumento utilizado para identificar e castigar os inimigos da F. Paralelamente, noplano das dioceses, realizavam-se as "visitaes ordinrias" ou devassas, enquadradasna esfera de responsabilidade episcopal, pois cabia aos bispos manter a unidadeespiritual do rebanho colocado sob seu bculo.

    A nosso ver, a anlise dos testemunhos das pessoas chamadas a depor e o estudo daspenas arbitradas pelo visitador, aliados caracterizao dos depoentes e dos indivduos

    considerados culpados, abrem perspectivas as mais amplas para o entendimentocircunstanciado da sociedade colonial brasileira. Hbitos, costumes, idiossincrasias,crenas, medos, supersties, preconceitos, atos escusos, pequenas vilezas, grandescrimes, o lar, as ruas, o comrcio, o cemitrio, o adro da Igreja, a felonia, o quintal, aalcova, as paixes insofreveis, a usura, a autoridade; enfim, a vida em todas as suasmanifestaes -- do pensamento recndito vivncia em sociedade --, eis o materialinscrito nos livros das devassas.

    Neste artigo cingir-nos-emos a algumas consideraes gerais e a exemplos Suficientespara que se evidencie a riqueza dos documentos em questo.

    Dos livros manuscritos com os quais estamos a trabalhar, pertencentes ao acervo daCria Metropolitana de Mariana e referentes a grande parte das devassas levadas a cabonas Gerais, selecionamos, a ttulo ilustrativo, os concernentes a devassas efetuadas naprimeira metade do sculo XVIII. Tais fontes primrias podem ser agrupadas em quatrocategorias distintas: edital e "interrogatrios da visita", depoimentos, pronunciaes elavratura de termos dos culpados da visita.

    Nos "interrogatrios da visita" discriminam-se quarenta quesitos aos quais deveriamoferecer respostas as pessoas chamadas a depor (testemunhas). As perguntasabrangiam campos os mais variados, de sorte a cobrir, alm da vida espiritual, aspectosda vivncia material.

    Os crimes e/ou pecados previstos nos "interrogatrios" podem ser reunidos em seisgrandes grupos.

    Crimes contra a Santa S ou contra a Doutrina da Igreja: heresia, apostasia, blasfmia,dio entre pessoas, evocao ou pacto com o demnio, adivinhao ou cura por meio depalavras ou bnos, feitiaria ou curandeirismo, deixar de confessar ou comungar naquaresma, trabalhar em dias Santos, comer carne em dias proibidos, deixar de ouvir amissa de forma costumeira, no jejuar em dias de preceito, andar excomungado por um

    1LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da. A vida quotidiana emjulgamento: devassas em Minas Gerais. In: LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iracidel Nero da. Minas Colonial: Economia e Sociedade, So Paulo, FIPE/PIONEIRA, p.57-77, 1982 (Estudos Econmicos FIPE-PIONEIRA

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    ano sem pedir o benefcio da absolvio, simonia, possuir ou emprestar bens da Igrejasem a devida solenidade, no pagar os dzimos, usar de violncia contra clrigos oureligiosos, cometer sacrilgio na Igreja ou em seu adro, jurar em falso, deixar de mandardizer missa ou cumprir outras disposies testamentrias, ter ou ler livros no autorizadospela Santa S.

    Crimes cometidos por clrigos ou religiosos: proco negligente ou remisso naadministrao dos sacramentos ou em ir encomendar os defuntos ou que no o fizesse

    sem antes receber algo, proco que no rezasse s horas cannicas, sacerdote relapsono ensino da doutrina ou que injuriasse os fregueses e os tratasse mal, clrigo que fossetratante, rendeiro, negociador, revoltoso, taful, freqentador de tabernas, usasse armasna cidade ou vila, andasse em hbito leigo ou no trouxesse a tonsura e o hbitodecentes, sacerdote que tentasse aproveitar-se da mulher no ato da confisso, clrigoque se servisse de mulher suspeita, tivesse filho depois de tornar-se padre ou estivessecasado.

    Crimes de carter econmico: pessoa que fosse usurria dando dinheiro, po, vinho,azeite ou outras coisas semelhantes emprestadas para receber mais do que o principal,ou vendesse mercadorias fiadas por mais do que valessem com o dinheiro na mo,

    indivduo que exigisse preo rigoroso por razo da espera ou comprasse mercadoria pormenos do que o nfimo por dar dinheiro de antemo, pessoa que alugasse animais com acondio ou pacto de que se morressem nem por isso deixariam de receber o aluguel.

    Crimes contra a instituio da famlia: incesto, bigamia, concubinato, sodomia,bestialidade, noivos que coabitassem antes do casamento, casamento em grau proibidosem legtima dispensa, pais ou maridos que consentissem que suas filhas ou mulheres"fizessem mal de si", casais que vivessem apartados sem causa justa, marido que dessem vida mulher.

    Crimes contra os costumes: prtica de lenocnio, alcoviteirice, jogos de azar.

    Crimes relativos prpria devassa: intimidar testemunhas ou maltrat-las depois dehaverem testemunhado delitos ou erros cometidos por oficiais da justia eclesistica,provisor, vigrio geral, visitador, vigrio da vara, promotor, meirinho, escrives, notrios,solicitadores e porteiro, por levarem mais do que se lhes devesse ou tomassem peitas oudescobrissem o segredo da justia ou cometessemirregularidades.

    As denncias das testemunhas notificadas pelo visitador consubstanciam farto materialinformativo, pois refletem a vida material e espiritual da comunidade. A partir delas pode-se chegar ao ntimo das pessoas e delinear o quadro social no qual elas semovimentavam. As pronunciaes correspondem s penas impostas pelo visitador aosjulgados culpados em face dos depoimentos das testemunhas. Reproduzimos, abaixo,algumas declaraes e pronncias.

    "Pedro Alves Dias casado roceiro natural da freguesia de So Pedro de ReimondeArcebispado de Braga morador nesta freguesia testemunha notificada a quem oReverendo Senhor Doutor visitador deu juramento dos Santos Evangelhos em que pssua mo direita e prometeu dizer a verdade ao que lhe fosse perguntado de idade quedisse ser de trinta e trs anos. E perguntado ele testemunha pelos interrogatrios davisita que lhe foram lidos ao... dcimo sexto disse que Joo da Costa Caldas solteiromorador na Piraguipeva desta freguesia anda h tempos amancebado com Vitria preta a

    qual tem na sua companhia e dele pariu, e outrossim tambm teve trato ilcito com umamulata filha desta chamada Florncia a qual tambm dele pariu e a mandou h tempospara a Vila do Ouro Preto que to pblico que no h pessoa naquele contorno que notenha notcia deste incesto to escandaloso e ele testemunha viu as ditas negra e mulata

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    com as crianas aos peitos tidas e havidas por filhos do dito Joo da Costa Caldas pormele testemunha no sabe com qual delas teve o primeiro trato..." Estas trs pessoas fo-ram condenadas, por incesto, s seguintes penas: "Joo da Costa Caldas solteiro as-sistente na Piraiopeba desta freguesia pelo trato ilcito que tem tido com Vitria preta suacativa e Florncia mulata filha desta andando concubinado com ambas tendo delas filhosseja preso e livre-se perante o Reverendo Doutor Vigrio da Vara da Comarca para ondese remeta a culpa e a dita Vitria faa primeiro termo em forma e a dita Florncia mulatasua filha faa primeiro termo em forma" (Freguesia de N. Sa. da Boa Viagem do Curral

    d'EI Rei - 1738).

    No mesmo ano e freguesia condenou-se Manoel Arajo Braga a fazer "termo de famacessanda" vista de denncias como as de Domingos da Costa Ribeiro que "perguntadopelos interrogatrios... disse que Manoel de Arajo Braga solteiro sem ofcio moradorneste Arraial d dinheiro de emprstimo com usuras levando de lucro, e avano por anooito por cento sem correr o dinheiro que empresta risco algum de mar mas sim sendopara a terra o qual emprstimo tem feito a vrias pessoas o que ele testemunha sabe porlho dizer Cipriano Gomes Ferreira deste mesmo Arraial...".

    Ainda na mesma freguesia e ano, Francisco Custdio de Almeida, respondendo aos

    quesitos, "disse que Justa de Sampaio negra forra na Piraguipeva desta freguesia pblica consentidora das desonestaes de suas escravas admitindo em sua casa vrioshomens que com elas pecam sendo pblica e conhecida de Alcouce especialmente notempo em que assistia no dito Arraial um Domingos Delgado, e de presente um LuisTeixeira Coelho Marchante tendo trato ilcito com Tereza uma das ditas escravas, e assimtodas as mais pessoas que nesta matria querem pecar chegando alguns a castigar-lhesas mesmas negras como foi o dito Delgado o que ele testemunha sabe pelo ver epresenciar alm de ser pblico no mesmo Arraial...". Assim pronunciou-se o visitador:"Por dar Casa de Alcouce sendo consentidora de suas escravas... Justa de Sampaionegra forra, assistente na Praiopeba desta freguesia seja presa e livre-se perante oReverendo Doutor Vigrio da Vara da Comarca para onde se remeta a culpa".

    No mesmo ano de 1738 dava-se, na Freguesia de N. Sa. de Nazar da Cachoeira,evento sui generis. Trata-se da condenao de trs religiosos, motivada por denncias doseguinte teor: "Matias da Costa Rodrigues... disse que andando um carro enramalhadonas festas que se fizeram do Esprito Santo neste Arraial nele andava o Padre FreiLoureno Ribeiro de So Domingos, o Padre Frei Pedro Antonio religioso do Carmotocando viola publicamente de dia com outros seculares onde andava tambm o Cnegode Angola o Padre Manoel de Bastos e traziam entre si no mesmo carro uma Vicnciacrioula forra do Ouro Preto vestida de homem cantando o Arromba e outras modas daterra causando em tudo notrio escndalo o que ele testemunha sabe pelo ver e ouvir...".

    No mesmo ano denunciava-se o Ouvidor Geral da Comarca do Sabar: "Dona Isabel daEncarnao solteira... de idade que disse ser de trinta anos... e perguntada elatestemunha pelo dito referimento que lhe foi lido disse que o Doutor Ouvidor Geral destaComarca Jos Telles da Silva muitas vezes tem solicitado a ela testemunha para pecarpersuadindo-a que v a sua casa ou lhe d licena para ele vir dela, e a mandouconvidar trs vezes para que fosse assistir a uma comdia que na sua casa fazia de noitesendo de tudo alcoviteira uma Antonia negra forra casada com um negro que se achapreso na Cadeia a qual assiste na rua detrs da Igreja grande desta vila e a nenhuma dasditas persuases ela testemunha deferiu, por cuja causa, pela mesma negra, tentou omesmo Ministro conseguir o tratar ilicitamente a ela testemunha por Lourena da Silva

    sua madrinha para que esta entregasse a ela testemunha no que no consentiu e maisno disse do dito referimento..." (Freguesia de N. Sa. da Conceio da Vila do Sabar1738).

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    Da Freguesia de N. Sa. do Pilar de Ouro Preto selecionamos dois casos, ambos extradosdo livro de devassa referente a 1734. No primeiro denuncia-se um senhor de escravos"mpio", no outro acusa-se o amor e cime de um senhor apaixonado.

    "Antonio de Meireles Ribeiro... disse que Antonio da Costa Cintra alfaiate costumado atrabalhar domingos e dias Santos sem causa e no deixa ir os seus escravos missa eos faz trabalhar todo o dia Santo...".

    "Antnio da Cmera Quental... disse que Antonio Vaz infamado de ter trato ilcito comuma preta sua escrava, que trata com estimao e manda vigiar por um escravo quandovai missa e que sabe, pelo ouvir dizer, e ver que quando vem missa vem com umnegro seu vigiado..." Na Freguesia de N. Sa. da Conceio de Antnio Dias, em 1731,deu-se caso semelhante: "Domingos de Almeida Porto... disse que sabe pelo ver queJoo Barbosa anda concubinato com uma preta cujo nome no sabe a qual tem deportas adentro e deu ouro para a dita preta se forrar...".

    Se a vida extramatrimonial estava sob constante controle, vivncia conjugal dedicava-se igual tento: "Jos Rodrigues de S. Tiago, que j deps nesta devassa a folhas vinte equatro verso. Disse mais que por se lembrar tornava a depor debaixo do mesmo

    juramento dos Santos Evangelhos, que Alexandre Lus, morador no Brumado noEngenho de Manoel Mendes da Silva sendo casado d muito m vida a sua mulher,sendo ela honrada tratando-a com pancadas, e embebedando-se em forma, que quasetodos os dias, revoltoso, e escandaloso..." (Freguesia de N. Sa. do Pilar da Vila dePitangui - 1748).

    Mais dramaticamente abateram-se os fados sobre Jacinto Borges, admoestado "porpalavras malsoantes". Consideremos dois testemunhos, ambos de 1731 e tomados naFreguesia de N. Sa. da Conceio de Antnio Dias.

    "Manoel Dias da Costa... disse que sabe pelo ouvir dizer que Jacinto Borges indo-se-lhe

    fazer uma execuo pelo fisco Real dissera como desesperado que a lei dos Cristos noera boa lei mas que ele testemunha no sabe se o dizia pela nossa Santa Lei se o diziapelas Leis da Justia...

    "Manuel lvares Ferreira... disse que sabe pelo ver que Jacinto Borges vendo-seperseguido e avexado da Justia entrou em desesperao e se quis enforcar e no o fezpor lhe impedirem seus vizinhos e desse tempo at o presente ficou por modo dealienado dos sentidos e algumas vezes no ouve missa e pouco devoto...".

    Problemtica muito distinta compe o testemunho de Antonio Pinto de Miranda, solteiro,lisboeta, boticrio e com vinte e quatro anos: "... sabe pelo ouvir dizer a Manoel deFigueiredo que Florncia do Bonsucesso usa de feitiarias para provocar alguns homensa usarem mal dela e que para este efeito tem uma criana mirrada em casa da qual tiracarne seca e reduz a p para com ele fazer suas feitiarias e assim mais ouviu dizer aodito Figueiredo que a dita cmplice o convidara para ir com ele a certas encruzilhadas decaminhos desertos a fazer nelas os feitios de que usa: mas que o dito Figueiredo nofora por ter medo, e declarou mais que a dita cmplice levava s encruzilhadas carves einvocava o demnio lanando os carves pelo caminho e que deste fato resultava vir ohomem que ela queria logo de manh bater-lhe porta e dar-lhe o dito o que ela lhepedia como tambm desonestar-se com ela, e assim mais declarou ele testemunhavagamente que desaparecendo uma pedra do Adro da Igreja do Ouro Preto a dita

    cmplice a tinha furtado per si ou por pessoa sua confidente para se valer dela para seusmalefcios..." (Freguesia de N. Sa. do Pilar do Ouro Preto - 1731).

    Este painel ficaria incompleto se no aprecissemos os documentos relativos lavratura

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    de termos dos culpados da visita. Nesses livros registravam-se, para a maior parte doscasos, os efeitos finais de cada visitao. Vejamos, pois, alguns exemplos.

    "1 termo em forma que fez Domingas preta Angola escrava culpada com David FerreiraBraga seu Senhor. Aos vinte e um dias do ms de janeiro de 1734 anos nesta freguesiade N. Sa. da Conceio de Antonio Dias, aonde estava pousado o muito ReverendoSenhor Doutor Manoel da Roza Coutinho visitador da dita freguesia apareceu presenteDomingas preta Angola solteira notificada a sua ordem para satisfao da culpa que lhe

    resultou na devassa da visita desta freguesia; a qual o dito Sr. admoestou em primeirolapso de Concubinato na forma do Sagrado Conclio Tridentino; que de todo se aparte dailcita comunicao, que tem com David Ferreira Braga seu Senhor, e no converse, outrate mais com ele em pblico, ou secreto, nem entre em casa dele, nem o consinta nasua, nem lhe mande ddivas presentes ou recados e faa de todo cessar o escndalo doseu pecado, considerando as gravssimas ofensas que na continuao dele faz a DeusNosso Senhor, e o manifesto perigo a que expe a sua salvao perseverando em tomiservel estado, com cominao de ser com maior rigor castigada e censurada, e porela foi dito que fazia a culpa judicial, aceitava a admoestao e prometia a emenda. Foicondenada em trs mil ris para a Bula, Meirinho, S, ou despesas da justia de que tudose fez este termo que assinou com o muito Reverendo Doutor Visitador eu o Padre

    Roque Nunes Secretrio da Visita que o escrevi".

    O senhor desta escrava sofreu igual reprimenda: "2 Termo em forma que fez DavidFerreira Braga culpado com Domingas preta Angola sua escrava. Aos dezoito dias doms de janeiro de 1734... apareceu presente David Ferreira Braga solteiro notificado asua ordem... ao qual o dito Sr. admoestou em segundo lapso de concubinato.. que detodo se aparte da ilcita comunicao que tem com Domingas preta Angola sua escrava eno converse, ou trate mais com ela em pblico, ou secreto, nem entre em casa dela,nem a consinta na sua, nem lhe mande ddivas presentes, ou recados e faa de todocessar o escndalo do seu pecado...".

    Contemplemos, para finalizar, o "Livramento Sumrio de Cristina preta Angola forraculpada por consentidora de sua filha Leandra parda forra". Patenteia-se nele acomplacncia do visitador: "Aos dois dias do ms de maro de mil setecentos e trinta equatro anos, nesta freguesia de Nossa Senhora do Pilar da Vila Rica do Ouro Preto...apareceu presente Cristina preta Angola forra presa na Cadeia desta vila a sua ordem,pelo crime de entregar sua filha Leandra parda forra para com ela se desonestarem, epelo dito senhor foi asperamente repreendida, e que de todo se abstenha de entregar ealcovitar a dita sua filha considerando as gravssimas ofensas que na continuao do ditopecado se faz a Deus Nosso Senhor com manifesto perigo a que expe sua salvao eda dita sua filha, e a dos homens que com ela ofendem a Deus, com cominao de sercom maior rigor castigada, e censurada, e por ela foi dito que fazia a culpa judicial,aceitava a admoestao, e prometia emenda, e requeria ao dito Senhor Doutor Visitadorque atendendo a que era preta pobre, e velha a sentenciasse sumariamente, atendendoaos muitos dias que na Cadeia estava presa, sustentando-se de esmolas, de tal sorte queno tinha com que pagar aos oficiais a diligncia de sua priso nem ao carcereiro acarceragem, o que sendo ouvido pelo dito Senhor Doutor Visitador e informado dosobredito, e atendendo ao tempo da priso a absolveu das mais penas...".

    Os exemplos aqui relacionados revelam as potencialidades das fontes primriasrepresentadas pelos livros de devassas e propiciam a anteviso dos significativosresultados que nos proporcionar o estudo sistemtico de to rico repositrio de

    informaes sobre a vida social e espiritual como se apresentava, em Minas Gerais, noperodo colonial.