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A VIOLÊNCIA ENTRE AS TORCIDAS DA DUPLA GRE-NAL: O QUE GERA E COMO CONTER A VIOLÊNCIA ENTRE AS DUAS MAIORES TORCIDAS DO ESTADO1
Thiago Trindade Amaral
RESUMO: O presente trabalho procede a um estudo sobre o comportamento violento de alguns torcedores de clubes de futebol, com destaque para os torcedores da dupla Gre-nal, e sobre as medidas adotadas pelas autoridades brasileiras e estrangeiras para combater este tipo de violência. Para tanto, o mesmo inicia-se tratando do sentimento que une um torcedor ao seu clube do coração e que o leva a cometer atos de violência, e com um apanhado histórico a respeito da fundação de Grêmio e Internacional, e do início da rivalidade entre estes clubes. Após este momento inicial, passou-se para uma análise de como a imprensa está tratando o tema e, principalmente, um estudo sobre quais medidas as autoridades brasileiras e gaúchas estão adotando no combate a este tipo de violência. E, por fim, foram estudadas as ações adotadas pelas autoridades britânicas, argentinas, portuguesas e espanholas para prevenir e reprimir a violência dos torcedores, buscando analisar quais poderiam ser copiadas no Brasil.
INTRODUÇÃO A escolha do presente tema baseia-se na importância que a atual relação
violenta entre as torcidas de Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club
Internacional possui para a convivência pacífica da população de Porto Alegre.
Pretende-se, através deste trabalho, efetivar-se um estudo do comportamento
criminoso relacionado às torcidas de futebol, analisando os fatores que levam alguns
torcedores cometer atos violentos, as medidas adotadas pelas autoridades brasileiras e
gaúchas para prevenir e reprimir este tipo de violência, bem como algumas medidas
adotadas em países que também enfrentam problemas devido a torcedores violentos.
Para tal, o trabalho inicia-se buscando entender o que une um torcedor ao seu
clube de coração e a importância da escolha de um time para se torcer na vida do
torcedor. Em seguida, entendeu-se adequado relatar brevemente a fundação de
Grêmio e Internacional, e como nasceu a rivalidade dos dois maiores clubes do estado.
Posteriormente, realiza-se uma comparação entre as novas torcidas de ambos os
1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso orientado pelo professor Rodrigo Ghiringhelli de
Azevedo e apresentado à Banca examinadora composta pelas professoras Lígia Mori Madeira e Clarice Beatriz da Costa Söhngen.
times, as torcidas organizadas brasileiras e os hooligans europeus, além de buscar-se
compreender quais são as motivações do torcedor para o cometimento de atos
violentos contra torcedores rivais.
Em um segundo momento, o trabalho busca analisar como se dá a cobertura da
imprensa aos atos violentos dos torcedores, bem como o reflexo destas noticias
vinculadas nos meios de comunicação junto aos torcedores. É neste momento que o
trabalho passa a ponderar, também, sobre as medida adotadas pelas autoridades
brasileiras e, principalmente, gaúchas, assim como passa a efetuar considerações a
respeito das leis e decretos já existentes na legislação nacional e estadual sobre o
tema.
Por fim, o trabalho descreve as medidas adotadas em outros países no sentido
de melhorar a segurança dos torcedores nos estádios, bem como expõem as leis
destes países sobre o tema para, ao final, apresentar quais medidas poderiam,
também, serem implantadas no Brasil.
O propósito da presente monografia é trazer a tona, além dos aspectos
relacionados à paixão do torcedor pelo seu clube, as medidas adotadas pelas
autoridades locais para combater o problema social que envolve os torcedores de
futebol, além de buscar alternativas no exterior para a diminuir os atos violentos nos
estádios.
1 A VIOLÊNCIA ENTRE AS TORCIDAS DE CLUBES RIVAIS
Desprezados por alguns, o futebol exerce grande influência na vida dos
torcedores, da cidade, do estado e do país. Carlos Amadeu Botelho Byington afirma:
Para certo tipo de intelectual, o futebol não passa de um poderoso instrumento de alienação. Na verdade, o futebol é um grande ritual pedagógico da alma coletiva. Através dos jogadores, da bola, da vitória e, mais ainda, da derrota, cada torcedor vivencia de forma simbólica e altamente emocional uma maneira criativa de cultivar, educar e guiar suas emoções.2
2 BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. O Arquétipo da Alteridade e a Riqueza Simbólica do Futebol – Uma Contribuição da Psicologia Simbólica Junguiana. São Paulo: [1982]. Disponível em: <http://www.carlosbyington.com.br/downloads/artigos/pt/o_futebol_e_a_arte_do_corpo.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2008.
Neste capítulo nos dedicaremos a explicar como funciona a paixão entre os
torcedores e seus clubes do coração, focando-nos principalmente em Grêmio e
Internacional.
1.1. O que une um clube de futebol e sua torcida
O momento da escolha de um time de futebol para se torcer deve constituir uma
marca, via de regra, única na vida do torcedor. Por influência de familiares ou amigos,
do local onde se vive, por uma fase consistente de vitórias e títulos, ou ainda por
alguma convicção pessoal, a escolha do time do coração diz muito sobre a
personalidade de uma pessoa, sobre como ela enxerga o mundo e não deveria haver
possibilidade para arrependimento. Para o torcedor que se envolve com o futebol,
fanático, não há como compreender que um torcedor abandone seu time, troque-o por
outro, descarte-o. O time é como uma segunda família, o estádio é uma segunda casa,
e a história do clube é sagrada e única.
Neste sentido, Sílvio Ricardo da Silva esclarece:
Escolhe-se um time para a vida toda. Nessa escolha não entra a lógica do descartável, marca do mundo moderno. Não é à toa que o sujeito que muda de time é chamado de vira-casaca não só porque muda a camisa do time, mas porque, com isso, muda de pele, vira outra pessoa. Manter-se fiel a um time pela vida toda é manter seu caráter, suas idiossincrasias, é ter um rosto definido.3
O que leva o torcedor a escolher este ou aquele como o clube do coração é o
que Márcio Pereira Morato, com razão observa:
Torcer é uma construção cultural, e baseia-se principalmente em nossas relações, em nossas experiências. Desde meninos somos influenciados por familiares e amigos. Ganhamos bolas de futebol e o uniforme do clube preferido por um de nossos pais. [...] São as influências de familiares, de amigos, a identificação com a história e/ou origem do clube, a proximidade com o mesmo ou a vivência de momentos de sucessos ou fracassos da equipe, além do fato de ir ao estádio com os pais ou parentes, amigos ou vizinhos, que orientam a escolha do time e o estabelecimento de vínculo afetivo com ele. Por isso, a relação com equipes de outros esportes não é tão fiel quanto a relação de um
3 SILVA, Sílvio Ricardo da. A Construção Social da Paixão no Futebol – O caso do Vasco da Gama.
In: DAOLIO, Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 48
torcedor com seu time de futebol. Essa escolha não é aleatória. Ela tem um sentido, segue uma lógica de significados.4
Escolhido o clube do coração, o torcedor passa a ter uma válvula de escape para
suas mais fortes emoções. Dentro do estádio sua única preocupação é com a vitória, é
com o resultado, é com o gol. Sobre as emoções vividas pelo torcedor durante uma
partida, o médico psiquiatra Carlos Amadeu Botelho Byington nos ensina: “O gol é o
símbolo maior do futebol. Ele representa a morte simbólica do adversário [...] A vivência
de sofrer o gol e de fazer o gol se complementam e formam um todo emocional. Alegria
e tristeza, euforia e depressão, realização e frustração são vivenciadas como pólos
inseparáveis do processo existencial”.5
Com o passar do tempo, com as vitórias e as derrotas do seu time, com as idas
ao estádio, o torcedor passa a acreditar que realmente faz parte do clube, e que suas
atitudes podem fazer a diferença entre a vitória e a derrota. ”O que parece é que o
torcedor vai ao jogo buscando, muitas vezes, a alegria, a realização ou o sucesso que
não conseguiu ter naquele dia ou nos últimos tempos em sua vida. O seu time, assim,
pode representar uma parte da vida que dá certo”.6
Realizamos, ao longo desta pesquisa, entrevistas com torcedores que são
engajados dentro das torcidas Geral do Grêmio e Guarda Popular Colorada. Por não
haver quadro de associados em ambas as torcidas, não se pode dizer que os dois
torcedores são “integrantes” das mesmas, apesar de tanto um, quanto o outro,
possuírem, reconhecidamente, posição de destaque dentro de suas torcidas. Para
preservar suas identidades, passaremos a tratá-los por nomes fictícios: o gremista será
Augusto e o colorado será Henrique.7
Para Augusto, a presença do torcedor no estádio é fundamental:
E a importância do torcedor no estádio eu acho que é toda né. Eu acho que se não tem torcedor não tem porque ter estádio, não tem porque ter jogo, não tem
4 MORATO, Márcio Pereira. A Dinâmica da Rivalidade entre Pontepretanos e Bugrinos. In: DAOLIO,
Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 76 5 BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. O Arquétipo da Alteridade e a Riqueza Simbólica do Futebol – Uma Contribuição da Psicologia Simbólica Junguiana. São Paulo: [1982]. Disponível em: <http://www.carlosbyington.com.br/downloads/artigos/pt/o_futebol_e_a_arte_do_corpo.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2008.
6 SILVA, Sílvio Ricardo da. A Construção Social da Paixão no Futebol – O caso do Vasco da Gama. In: DAOLIO, Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 25
7 Os nomes fictícios Augusto e Henrique foram escolhidos para homenagear os fundadores do Grêmio, Augusto Koch, e do Internacional, Henrique Poppe.
porque ter nada. E o torcedor que, não só o cara que tem, ah, tem seis milhões de gremistas, o torcedor que é importante não é este. O torcedor que é importante é os vinte, trinta mil que tão lá todo jogo, este cara é o que importa, o resto não importa nada. [...] Tu vê a diferença de uma torcida que nem a do Grêmio, que vai no estádio, que faz a diferença, pra uma torcida que nem, sei lá, a do São Paulo, que fica o jogo inteiro parada dentro do estádio. É outra coisa, a diferença entre um estádio morto e um estádio vivo.8
Esta também é a opinião de Henrique:
[...] eu tenho certeza que o torcedor é a alma de um clube de futebol. Eu já fui em estádios que eram completamente gelados, como o estádio do Libertad do Paraguai. E já presenciei também estádios como o do Boca Juniors, e tenho certeza que a força de um clube também se dá de acordo com o torcedor que o clube tem.9
1.2. A fundação de Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional e o
início da rivalidade
Fundado no dia 15 de setembro de 1903, seis anos antes do futuro rival, o
Grêmio de Foot-Ball Porto-Alegrense nasceu por obra de trinta e dois jovens, em
maioria filhos de imigrantes alemães e açorianos. Tricolor desde sua fundação, as cores
do clube, inicialmente, eram o azul, o branco, e havana, uma tonalidade marrom. Só em
1904, após não encontrarem tecido de cor havana no comércio, é que o Grêmio passou
a adotar as cores que o tornaram famoso mundo afora: azul, branco e preto.
Já o Sport Club Internacional foi fundado em 04 de abril de 1909, por iniciativa de
três irmãos imigrantes paulistas, Henrique, José e Luís Poppe, que encontraram
dificuldades de se associar aos clubes já existentes em Porto Alegre, devido ao
argumento de serem pessoas estranhas à sociedade da capital. Adotou-se a cor
vermelha por voto dos integrantes do grupo de carnaval Venezianos, maioria dos
presentes no ato de fundação do clube, e que adotavam a mesma cor.
O primeiro confronto entre os dois clubes foi também à primeira partida disputada
pelo Internacional. O jogo realizou-se no dia 18 de julho de 1909 e terminou com o
placar de dez a zero em favor do Grêmio.10 No segundo confronto, com nova vitória
8 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 01 de setembro de 2008 junto a torcedor do Grêmio. 9 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 31 de agosto de 2008, junto a torcedor do
Internacional. 10 COIMBRA, David; NORONHA, Nico; SOUZA, Mário Marcos de. A História dos Grenais – 2ª Ed. Porto
Alegre: Artes e Ofícios, 2004. p. 245
tricolor, houve a primeira briga entre integrantes dos dois clubes, como nos relatam os
jornalistas David Coimbra, Nico Noronha e Mário Marcos de Souza:
Booth foi o pivô da primeira briga em Grenais. Depois de apanhar a bola no meio e aplicar dribles em toda a defesa colorada, ele acabou barrado por um violento pontapé do irritado zagueiro Volksmann, que não agüentava mais aquela falta de respeito. Fechou o tempo. Jogadores das duas equipes trocaram tapas e por pouco o jogo não foi encerrado ali mesmo.11
Entre os anos de 1909 e 1918 foram disputados onze jogos entre Grêmio e
Internacional, com sete vitórias tricolores e quatro vitórias coloradas. O Grêmio marcou
43 gols, o Internacional marcou 21. Nos 50 anos seguintes Grêmio e Internacional
conquistaram a hegemonia do futebol no Rio Grande do Sul, conquistaram títulos
municipais e estaduais e formaram grandes ídolos do futebol, como o gremista Eurico
Lara, imortalizado na letra do hino do clube, e o colorado Carlitos, o maior artilheiro da
história do clássico com 42 gols. Um dos aspectos mais curiosos desta rivalidade é que
não se pode definir com certeza qual a maior torcida de Porto Alegre, como comprova
pesquisa realizada pelo instituto Datafolha entre os dias 26 e 29 de novembro de 2007:
No Estado do Rio Grande do Sul o Grêmio é líder isolado, com 48%; o Internacional conta com 36% das preferências. Em Porto Alegre, o tricolor gaúcho atinge 48%, apenas cinco pontos percentuais a mais do que o rival colorado, que obtém 43%, e ocorre um empate, em razão da margem de erro, de exatamente cinco pontos, para mais ou para menos.12
1.3. A comparação entre as novas torcidas de Grêmio e Internacional, as torcidas
organizadas e os hooligans europeus
Existem diferentes tipos de torcedores, diferentes formas de expressar o seu
amor pelo clube do coração e diferentes intensidades de como este sentimento atinge o
torcedor. É importante diferenciar as figuras “torcedor” e “torcida”, como bem elucida
Carlos Alberto Máximo Pimenta:
Há uma distinção importante a ser feita entre torcedores e torcida, o que pressupõe constituições e formas diferenciadas. A gênese da figura do
11 COIMBRA, David; NORONHA, Nico; SOUZA, Mário Marcos de. Op. Cit. p. 22 – 23 12 FLAMENGO e Corinthians seguem no topo de ranking de torcidas. Instituto Datafolha, São Paulo, 14
jan. 2008. Disponível em: <http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=538>. Acesso em: 21 jun. 2008.
torcedor, pessoa que declara ato de fidelidade eterna para um determinado time de futebol, está diretamente associada às disputas, aos campeonatos e às competições, caracterizadas pela relação de identificação torcedor-time: [...] Já a torcida é o agrupamento de torcedores que se associam a um determinado grupo, descaracterizado pela identificação torcedor-time, mas vinculado à relação institucional torcedor-torcida-time, gerando comportamentos performáticos e espetacularizados nas arquibancadas dos estádios.13
Últimas torcidas de seus respectivos clubes a surgirem, tanto a pioneira Geral do
Grêmio, quanto a Guarda Popular Colorada, mudaram a maneira de se torcer dentro
dos estádios de futebol no Brasil. Inspiradas na maneira platina de se torcer, já
consagradas pelas torcidas conhecidas por “Barras Bravas”, como por exemplo “La
Banda del Parque”, do Nacional do Uruguai, “La 12”, do Boca Juniors, “Los Borrachos
del Tablón”, do River Plate, e “La Guardia Imperial”, do Racing Club, estas últimas todas
da Argentina, apóiam seus times durante todo o jogo, cantam sem parar e
protagonizam um espetáculo a parte dentro do estádio.
Carlos Alberto Máximo Pimenta define torcida organizada nos seguintes termos:
Podemos definir torcida organizada como um grupamento de pessoas simpatizantes de um clube de futebol, sem fins lucrativos, estruturado de forma relativamente burocrática, com o objetivo de incentivar o time durante os jogos e defender a integridade do grupo nos momentos de confrontos físicos ou verbais com os adversários. Essas pessoas, na maioria jovens rapazes, são denominadas sócios da organização, e promovem eleições periódicas para eleger o quadro administrativo, composto por: presidente, conselheiros e diretores. Interações e reuniões sociais costumam acontecer na sede das agremiações. A estrutura administrativa das torcidas organizadas assume aspectos militaristas, contemplando estratégias de confronto aliadas a táticas de ataque e de defesa.14
Com suas bandeiras, seus uniformes, suas faixas e seus símbolos, as torcidas
organizadas são facilmente identificadas dentro de um estádio de futebol, bem como a
identidade de seus integrantes e dirigentes, devido à estrutura burocrática de sua
organização, em que é possível ter acesso, por exemplo, ao seu quadro de associados.
Já os hooligans europeus, como explica Pimenta, se organizam de maneira
completamente diferente:
Um grupo de hooligans compõe a “firma”: agrupamento de torcedores em torno de um chefe ou de um comandante, que é a pessoa mais respeitada dentro do
13 PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Brutalidade Uniformizada no Brasil. In: PINSKY, Jaime; PINSKY,
Carla Bassanezi. Faces do Fanatismo. São Paulo: Contexto, 2004. p. 273 14 PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Op. Cit. p. 264
grupo. Tal respeito deve-se à capacidade individual de aglutinar em torno de si, pessoas afins. Aos poucos, essas pessoas estabelecem valores e estilos próprios, como cantos, “gritos de guerra”, comportamentos, modo de vestir determinado cortes de cabelo etc. No início, encontram-se ligadas por fortes laçoes formados na vizinhança em que habitam, nos locais de trabalho, de estudo ou de jogos. [...] No grupo, a confiança é adquirida à medida que o novo membro demonstra identificação com os valores dos companheiros e corresponde às expectativas destes. Por serem grupos fechados, estes só incorporam pessoas indicadas por membros do próprio grupo. [...] Entretanto, o que diferencia o hooliganismo dos demais mvimentos de “torcedores organizados”, é a afinidade político-ideológica de extrema direita e a quase ausência de burocracia na organização. Por exemplo, não possuem uma estrutura com quadro associativo e registro formal em cartório, como as torcidas organizadas brasileiras. Além disso, não aceitam candidatos com posturas e estilo de comportamento diferente dos adotados pelo grupo.15
Ao contrário das torcidas organizadas brasileiras, é difícil de se identificar os
grupos de hooligans dentro dos estádios, pois os mesmos não utilizam símbolos
relacionados às suas “firmas”, buscando um relativo anonimato da identidade de seus
integrantes bem como da autoria de suas ações. Quanto ao comportamento, os
hooligans não podem ser facilmente identificados à primeira vista: “No cotidiano, na
maioria dos casos, agem como pessoas comuns, que tem família e trabalham, mas,
‘aos sábados’, quando tradicionalmente são disputados os jogos dos campeonatos na
Inglaterra, por exemplo, transformam-se em ‘incendiários’ e ‘arruaceiros’.”16
Dentro deste contexto, surge a dificuldade de qualificarmos as torcidas Geral do
Grêmio e Guarda Popular Colorada como torcidas organizadas ou firma de hooligans.
Ambas as torcidas possuem bandeiras e faixas exaltando seus nomes, e colocam-se
sempre na mesma área do estádio, todas estas características de torcidas organizadas.
Por outro lado, ambas não possuem quadro de associados e buscam o anonimato de
seus integrantes, características dos hooligans europeus. Ambas não possuem
uniformes próprios, característica das torcidas organizadas, utilizando-se apenas das
camisas do próprio clube, bem seus integrantes não seguem uma linha político-
ideológica de extrema direita, característica dos hooligans europeus. Em seu site oficial,
a Guarda Popular Colorada afirma que “não é uma torcida organizada”.17
Carlos Alberto Máximo Pimenta, novamente, distingue as espécies de torcida
com clareza:
15 PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Barbárie e Futebol. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi.
Faces do Fanatismo. São Paulo: Contexto, 2004. p. 254 – 255 16 PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Op. Cit. p. 256 17 GUARDA Popular Colorada. História. Disponível em:
<http://www.guardapopularcolorada.com/index_sobre.php>. Acesso em: 29 ago. 2008.
A distinção básica consiste em que os “barras bravas” da América Latina não têm organização burocrática semelhante à das torcidas organizadas. Entretanto, assim como estas, não são simpatizantes de partidos políticos de extrema direita nazifascista como os hooligans. Os hooligans assumem projetos político-ideológicos nacionalistas e xenofóbicos, se vinculam afetivamente com um clube e não tem estrutura burocrática. Embora os barras bravas e os hooligans sejam grupos de visibilidade social significativa, as torcidas organizadas, com sua estrutura burocrática estabelecida, não buscam o anonimato nas ações, como fazem os barras bravas e os hooligans, e constituem um conjuntos de símbolos – nome da torcida registrado em cartório, camisetas, filiação com pagamento de mensalidade, bonés etc. – que vinculam explicitamente o torcedor à torcida.18
Consideramos, portanto, que tanto a Geral do Grêmio, quanto a Guarda Popular
Colorada, encaixam-se no perfil de barra bravas, aproximando-se mais do perfil das
torcidas uruguaias, argentinas e chilenas, do que das torcidas organizadas brasileiras,
ou dos hooligans europeus.
1.4. O que leva o torcedor a cometer atos de violência contra o clube e a torcida rival
Nem todo torcedor que freqüenta o estádio do seu time do coração tem a
intenção, a coragem, ou a estupidez, de cometer atos de violência contra o clube ou a
torcida rival. Mas mesmo o mais sensato torcedor pode, em um momento de
descontrole, tomar uma atitude contrária à sua índole. Em dias de jogo, quando desde
cedo uma multidão toma conta das imediações dos estádios, são as ocasiões em que
mesmo um torcedor comum acaba comportando-se de maneira irracional. A justificativa
para isto, segundo Sigmund Freud, é: “Nada há que pareça impossível ao indivíduo,
quando este está inserido na multidão [...]. Quando uma pessoa está misturada à
multidão, o seu comportamento é, via de regra, irracional”.19
Entretanto, grande parcela dos torcedores que vivem o dia-a-dia de seus clubes
acredita que sua participação na arquibancada influi diretamente no resultado final
obtido pelos jogadores em campo. “O empenho é pela vitória do seu time. Os
torcedores acreditam que, para vencer, não basta somente incentivar seu time, também
18 PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Brutalidade Uniformizada no Brasil. In: PINSKY, Jaime; PINSKY,
Carla Bassanezi. Faces do Fanatismo. São Paulo: Contexto, 2004. p. 274 – 275 19 FREUD, Sigmund apud MURAD, Maurício. A Violência e o Futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de Janeiro: FGV, 2007. p. 65
é preciso desestruturar a tríade fundamental adversária e sua intervenção se faz
importante para deixá-los mais distantes da vitória”.20
A convicção de que a intimidação dos jogadores do time adversário por parte dos
torcedores pode influir para que o time alcance a vitória existe, e pode ser verificada
tanto no depoimento de Augusto, como no depoimento de Henrique:
[...] mais de uma vez, sempre que eu achei que era a favor do Grêmio, que era pra ajudar o Grêmio, eu já toquei foguete em hotel de clube adversário, apedrejei ônibus de time adversário [...].Então eu faço tudo que eu posso, tudo que ta na minha mão pra ajudar o meu time cara. E eu acho que essa dedicação aí que eu tenho pro meu time, muita gente tem, justifica às vezes atos injustificáveis.21
E teve uma vez que a LDU veio jogar no Beira Rio, no mata-mata da Libertadores de 2006, e o ônibus do time tava entrando no estádio e o pessoal cercou o ônibus e rolou umas garrafadas no vidro dos caras assim. E a motivação é a intimidação mesmo. Eu acho que tem um momento que vale tudo, a gente tem que ajudar o clube, independente do que acontecer e intimidar o adversário é uma arma que a gente tem.22
Podemos concluir, portanto, que a motivação do torcedor para cometer atos de
violência contra a torcida, os jogadores, e o patrimônio de um clube adversário, e em
especial ao do maior rival, vai além de uma explicação racional e ponderada. Pode ser
uma atitude consciente, como pode ser também por impulso, ou por influência da
multidão em que se encontra. O que não se pode negar é que o torcedor toma essas
atitudes acreditando sempre que esta fazendo o melhor para o seu clube. Seja para
amedrontar os jogadores rivais, para provar quem tem a torcida mais forte ou por um
destempero momentâneo.
Tanto Augusto, como Henrique, em seus depoimentos, afirmam que a violência
que ocorre entre as torcidas são apenas reflexos da sociedade brasileira. Para ambos,
em um país onde os criminosos estão à solta, onde as leis não são respeitadas e a
insegurança pública atinge a todos, existiriam vários problemas que deveriam ser
resolvidos antes de as autoridades se preocuparem com a violência entre os torcedores
de futebol.
20 MORATO, Márcio Pereira. A Dinâmica da Rivalidade entre Pontepretanos e Bugrinos. In: DAOLIO,
Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 98 21 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 01 de setembro de 2008 junto a torcedor do Grêmio. 22 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 31 de agosto de 2008, junto a torcedor do
Internacional.
2 COMO AS VIOLÊNCIAS REAL E RACIONAL SÃO COMBATIDAS ATUALMENTE
PELOS ÓRGÃOS PÚBLICOS E POR GRÊMIO E INTERNACIONAL, E COMO OS
ATOS VIOLENTOS SÃO RETRATADOS PELA IMPRENSA
Neste capítulo buscamos analisar como a questão dos atos de violência
cometidos entre as torcidas de Grêmio e Internacional está sendo tratada pelos órgãos
públicos, pelas diretorias da dupla Gre-nal e que medidas estão sendo tomadas. Iremos
analisar também como se dá a cobertura da imprensa sobre estes atos de violência, e
qual a influência que o sensacionalismo da mesma sobre os torcedores.
2.1. A maneira sensacionalista que a imprensa trata a violência entre as torcidas
Nada gera mais debates no Brasil do que o futebol. Isto é visto com naturalidade
pelos brasileiros, afinal de contas, somos o país do futebol, temos os melhores
jogadores do mundo e o campeonato mais disputado do planeta, segundo nós mesmo.
Dentro deste contexto de obsessão nacional pelo futebol, existe no Brasil um
grande espaço dedicado ao jornalismo esportivo. Existem emissoras de televisão
especializadas em esporte, como a “ESPN” e a “SporTV”, diários, como o “Lance!”, e
revistas, como a respeitadíssima “Placar”. Mesmo os grandes jornais possuem suas
editorias de esporte, as quais, diariamente, noticiam todas as facetas que envolvem os
grandes clubes de futebol brasileiros, entre elas, os casos de violência que
eventualmente envolvem as torcidas de times adversários. “Temos a impressão de que
a violência no esporte é um tema contemporâneo. Essa sensação é gerada também
pela insistência da mídia em repetir matérias de manifestações violentas de uma forma
que chega a ser sensacionalista”.23
Em artigo publicado no ano de 1969, o sociólogo francês Georges Magnane
advertia sobre os esforços que os meios de comunicação têm de realizar para
satisfazer a sede por notícias do público:
23 REIS, Heloisa Helena Baldy dos. Espetáculo Futebolístico e Violência – Uma Complexa Relação.
In: DAOLIO, Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 106
[...] reclamando cada vez mais prodígios, o público incita os jornalistas especializados a inventar sem cessar novos acontecimentos. Estas invenções, por seu lado, suscitam novas necessidades.24
No mesmo sentido, José Maurício Capinussú afirma:
A imprensa escrita, falada e televisada, em sua maior parte, é representada por empresas comerciais que precisam usufruir lucros, exatamente como qualquer outro empreendimento capitalista, em que predomina a lei do custo-benefício. Neste contexto, a violência é um dos ingredientes indispensáveis ao aumento das tiragens, da audiência ao rádio e à televisão. Pergunta-se, então, até que ponto esta exploração não fabrica mais violência? E que papel os meios de comunicação de massa desempenham em relação à violência e ao seu fomento? [...] A informação esportiva integra-se a esse grande movimento gerador de violência que invade a sociedade de classes de um extremo a outro. Não gera violência, mas se encarrega de retransmiti-la, veiculá-la e prepará-la, incluindo-se num sistema cultural que procura garantir a reprodução do poder. Depreende-se, assim, que a imprensa esportiva, devido à sua capacidade de transmitir o acontecimento, tem maior responsabilidade em relação à violência.25
A maior reclamação que se ouve dos integrantes das torcidas da dupla Gre-nal é
a de que a imprensa esportiva gaúcha, em especial a porto alegrense, limita-se a
publicar o lado negativo das torcidas, ignorando as atitudes positivas e construtivas
tomadas por ambas torcidas, como campanhas sociais.
Os depoimentos de Augusto e Henrique convergem de forma esclarecedora
neste sentido:
A imprensa é a coisa que mais me da nojo. [...] A gente gasta dinheiro, gasta trabalho, gasta empenho bolando os negócios, as vezes a torcida faz uma puta festa [...] um negócio que tu passa a semana inteira bolando, e fica do caralho e a imprensa não põe uma linha, ta ligado. Daí da uma briguinha lá e os caras põe meia página. Então, tipo, o que os caras querem? [...] Não da pro cara noticiar um coisa bacana, construtiva, uma coisa que agrega o Grêmio, ta ligado. Não vão noticiar os caras que, quando a Geral começou uma campanha de sócios o Grêmio tinha três mil sócios e hoje em dia tem quarenta e quatro mil. [...] Adianta noticiar que teve uma briga, que quebraram um ônibus, e coisa e tal. Então os caras tem um pensamento de espírito de porco, cara. Os caras querem ver só as coisas negativas. [...] A gente ia atrás e falava pra olhar o lado bom das coisas, a gente faz campanha social afu, arrecada alimento, arrecada agasalho, ajuda instituição social que precisa e os caras só querem ver o lado ruim né meu. Então eles que se fodam. Enchemos os saco deles.26
24 MAGNANE, Georges apud CAPINUSSÚ, José Maurício. Comunicação e Transgressão no Esporte.
São Paulo: IBRASA, 1997. p. 76 – 77 25 CAPINUSSÚ, José Maurício. Op Cit. p. 77 26 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 01 de setembro de 2008 junto a torcedor do Grêmio.
A imprensa quer vender jornal, isso todo mundo sabe. Então eles pegam um fato e destorcem da maneira que fica melhor, mais polêmica, pra poder vender jornal. Então, no caso das torcidas, a gente vê que essa parte das brigas, do vandalismo, sempre causa muita revolta e o pessoal não costuma ver a parte bonita que as torcidas fazem. Eu já participei de diversas ações que o objetivo era doar alimentos para entidades carentes, lar de pessoas idosas abandonadas, e isso eu nunca vi a imprensa cobrir. Agora no momento da parte ruim, que acontecem brigas, acontecem fatos de violência [...] a imprensa ta sempre aí. Então quando a gente faz coisa ruim os caras vêm e quando a gente faz coisa legal os caras não vêm. Então eu acho que a imprensa, no final, só quer vender jornal, só quer o deles [...].27
Podemos afirmar, com razão, que a imprensa não cobre tais ações sociais,
dando maior ênfase aos atos de violência cometidos. Entretanto, por mais que se
questione a ética desta ênfase dada aos atos negativos, não podemos dizer que a
mesma seja ilícita. De fato, há um maior interesse do público pelas brigas entre as
torcidas do que por suas campanhas sociais, assim como as tragédias geram maior
ibope do que as boas notícias.
Na tentativa de racionalizar a relação entre os meios de comunicação esportivos
e as torcidas, neste caso as da dupla Gre-nal, é elucidativo a maneira como Márcio
Pereira Morato disserta acerca do tema:
Existe um certo maniqueísmo em relação às torcidas organizadas, com uma valorização daquilo que ela oferece de bom (cantos, instrumentos, coreografias etc.) e uma recriminação do seu lado ruim (de sua violência), por parte daqueles que não fazem parte destas organizações. No primeiro acontecimento envolvendo torcidas organizadas, a imprensa logo as coloca na berlinda, julgando e recriminando-as. Mas numa chamada de televisão ou numa foto em revista relacionada ao futebol, a imagem que se tem é de uma coreografia de torcida organizada. Nessa visão maniqueísta, somente a “parte boa” das torcidas organizadas é importante para o espetáculo, mas não há como fazer essa separação. Seus comportamentos são estruturados por meio da dinâmica cultural que vivenciam no estádio e, diferentemente do cotidiano, em tal ambiente há um certo nível de violência que é aceito e satisfatório, mas que pode desencadear uma forma de violência inaceitável [...].28
2.2. Como os órgãos públicos e os clubes estão combatendo a violência entre as
torcidas da dupla Gre-nal
27 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 31 de agosto de 2008, junto a torcedor do
Internacional. 28 MORATO, Márcio Pereira. A Dinâmica da Rivalidade entre Pontepretanos e Bugrinos. In: DAOLIO,
Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 91 – 92
Apesar da importância destacada do futebol no contexto da sociedade brasileira,
a legislação referente aos espetáculos esportivos vigente é muito pobre, sendo
inúmeros os aspectos deixados sob obscuridade. Dentro da legislação brasileira, no
que tange aos aspectos que envolvem os espetáculos esportivos e os seus
espectadores, devemos ressaltar duas leis: a lei n.º 9.615/98, conhecida como Lei Pelé,
e a lei n.º 10.671/03, conhecida como Estatuto do Torcedor. Ambas prevêem, a primeira
em seu artigo nº 42, e a segunda em seu artigo nº 40, a equiparação dos espectadores
de futebol ao consumidor de um modo geral.
É esclarecedora a crítica de Heloisa Helena Baldy dos Reis quanto às omissões
da legislação brasileira que regulamenta e promove o esporte como espetáculo no
país:
O Estatuto do Torcedor (Lei n. 10.671/03) é um instrumento legal fundamental para os trabalhos de prevenção da violência relacionada aos espetáculos esportivos, porém é bastante limitado. [...] Por ser o espetáculo esportivo um evento que congrega um número muito grande de espectadores em um recinto fechado, em sua maioria torcedores de uma das equipes esportivas que disputam a partida, é necessário estabelecer leis claras que disponham sobre a segurança do público, as condições de infra-estrutura dos equipamentos esportivos (no caso do futebol, os estádios), as responsabilidades civis e criminais e as punições em caso de desobediência e/ou transgressão. Todos estes itens são muito pouco elaborados ou inexistentes na Lei n. 10.671/03.29
Entretanto, quanto à punição aos torcedores que comentem crimes dentro dos
estádios, ou no seu entorno, a lei n.º 10.671/03 não é omissa. Ao prever penas para as
ações cometidas no ambiente dos eventos esportivos, o Estatuto do Torcedor oferece
aos Juízes e Promotores de Justiça que atuem nestes casos um farol para guiar-se no
momento de julgá-los. Versa ela, em seu art. 39, nos seguintes termos:
Art. 39. O torcedor que promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores ficará impedido de comparecer às proximidades, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de três meses a um ano, de acordo com a gravidade da conduta, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. § 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de cinco mil metros ao redor do local de realização do evento esportivo. § 2o A verificação do mau torcedor deverá ser feita pela sua conduta no evento esportivo ou por Boletins de Ocorrências Policiais lavrados.
29 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Futebol e Violência. Campinas: Armazém do Ipê (Autores
Associados), 2006. p. 98 – 99
§ 3o A apenação se dará por sentença dos juizados especiais criminais e deverá ser provocada pelo Ministério Público, pela polícia judiciária, por qualquer autoridade, pelo mando do evento esportivo ou por qualquer torcedor partícipe, mediante representação.30
No Rio Grande do Sul o poder Legislativo também resolveu agir para combater
os atos de violência entre as torcidas de futebol. Proposta pelo deputado estadual Miki
Breier em 2007, e aprovada no ano seguinte, a Lei n.º 12.916/08 busca, através da
proibição do comércio de bebidas alcoólicas no interior dos estádios, prevenir que os
torcedores tomem atitudes violentas por estarem sob o efeito do álcool:
Art. 1º - Ficam proibidos, nos dias de jogos, a comercialização e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol e nos ginásios de esportes do Estado do Rio Grande do Sul. Parágrafo único – O disposto no “caput” aplica-se somente à área interna dos estádios e dos ginásios de esportes, quando da realização de partidas de futebol profissional válidas em competições oficiais.31
A preocupação em prevenir o consumo excessivo de álcool entre os torcedores
para combater atos de violência tem fundamento. É pacifico entre os autores do tema
que o álcool funciona como um estimulador da violência entre os torcedores.
Levantamentos procedidos em países europeus constataram que a violência no esporte, hoje muito presente dentro e fora dos locais de competição, se localiza mais entre uma juventude frustrada, predominantemente homens e operários, estimulados pela ingestão desenfreada de bebidas alcoólicas e tóxicos.32
A proibição da venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios de futebol
brasileiros atingiu a totalidade do território nacional em abril de 2008, quando a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), responsável pela organização e direção do
futebol no Brasil, publicou a Resolução da Presidência n.º 01/2008, que regula:
30 BRASIL. Lei n.º 10.671, de 15 de maio de 2003. Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 mai. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.671.htm>. Acesso em: 17 set. 2008.
31 RIO GRANDE DO SUL. Lei n.º 12.916, de 1º de abril de 2008. Proíbe a comercialização e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol e nos ginásios de esportes do Estado do Rio Grande do Sul. Diário Oficial [do] Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 02 abr. 2008. Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/infancia/legislacao/id3837.htm>. Acesso em: 17 set. 2008.
32 CAPINUSSÚ, José Maurício. Comunicação e Transgressão no Esporte. São Paulo: IBRASA, 1997. p. 68
1 – Proibir a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios que sediem partidas de futebol integrantes de competições coordenadas pela CBF, cujas partidas são organizadas pelas Federações e pelas entidades de prática desportiva detentoras do mando de jogo(Clubes).33
Tanto a criação, quanto à publicação desta resolução foram motivadas pelos
esforços conjuntos que a CBF e o Conselho Nacional de Procuradores Gerais do
Ministério Público dos Estados e da União (CNPG) vem adotando para combater a
violência nos estádios. Ambas as entidades, inclusive, assinaram um Protocolo de
Intenções, apontando medidas a serem tomadas por ambas para lograrem êxito. Entre
estás medidas podemos destacar as previstas na cláusula sétima, qual seja, o esforço
para criação de Juizados Especiais Criminais (JECrim) nos estádios de futebol, na
cláusula décima primeira, que rege sobre a entrada das torcidas organizadas por
portões específicos para uma revista mais apurada e posterior saída do estádio
somente vinte minutos após o termino do jogo, e na cláusula décima quinta, que
recomenda a instalação de câmeras de filmagens nos estádios para vigiar os
torcedores.34
A ciência de que poderão ser encaminhados a presença de um Juiz, quase que
instantaneamente, e responder na esfera judicial por alguma atitude delituosa serviria
para frear o ímpeto agressivo dos torcedores. Para termos uma concepção correta dos
crimes cuja competência para processar e julgar é dos Juizados Especiais Criminais
iremos nos valer da doutrina de Cezar Roberto Bitencourt:
Os crimes tipificados no Código Penal ou em leis extravagantes cuja pena máxima cominada não seja superior a dois anos passam a ser considerados infrações de menor potencial ofensivo, e a competência será dos Juizados Especiais Criminais. Será indiferente sua natureza dolosa ou culposa, sua forma qualificada, simples ou privilegiada; será suficiente que a pena cominada não seja superior a dois anos.35
No caso da violência entre os torcedores há um esforço tanto do Juiz, quanto
do Promotor do Ministério Público para que haja entendimento com aqueles que
33 CONFEDERAÇÃO Brasileira de Futebol. Resolução da Presidência nº 01/2008. Rio de Janeiro, 29 abr.
2008. Disponível em <http://listas.cev.org.br/pipermail/cevleis/2008-June/034024.html>. Acesso em 17 set. 2008.
34 CONSELHO Nacional de Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e da União. Protocolo de Intenções entre CNPG e CBF. Rio de Janeiro, 31 ago. 2007. Disponível em: <http://www.cnpg.org.br/arquivos/ProtocoloIntencoes_CBF_Assinado.pdf>. Acesso em: 17 set. 2008.
35 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, volume 1. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 636
delinqüiram na área entorno do estádio, ou dentro do mesmo, chegando-se a um
acordo que suspenda o processo. Acerca do rito processual nos Juizados Especiais
Criminais, o professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo observa:
De acordo com o que estabeleceu o legislador no art. 62 da Lei 9.099/95, o processo perante os Juizados Especiais Criminais deve ser orientado pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação da pena não privativa de liberdade.36
A partir desta afirmação de Azevedo, podemos concluir que os Juizados
Especiais Criminais, ao invés de aplicarem aos seus réus uma pena privativa de
liberdade, tendem a aplicar penas alternativas, ou também a suspensão condicional do
processo. A implantação dos Juizados Especiais Criminais, tanto no Estádio Olímpico
Monumental, do Grêmio, quanto no Estádio Beira-Rio, do Internacional, foi efetuada em
abril de 2008. Desde que entraram em funcionamento até o dia 13 de setembro de
2008, quando foi realizada a partida entre o Grêmio e Goiás Esporte Clube, válida pela
vigésima quinta rodada da primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, juntos
os Juizados registraram 93 atendimentos, sendo 47 no Estádio Olímpico e 46 no
Estádio Beira-Rio.37 Neste dia, por exemplo, foram três atendimentos do Juizado
Especial Criminal do estádio gremista: um por vandalismo, no caso o arremesso de um
rádio em direção ao campo, um por posse de drogas, maconha, e um por ato obsceno,
urinar em via pública.38 Tanto o Grêmio, quanto o Internacional, por recomendação do
Ministério Público Estadual, e antecipando a orientação do protocolo de intenções
firmado entre a CBF e a CNPG, instalaram câmeras de segurança em seus respectivos
estádios39, buscando coibir, assim, atos de violência ou vandalismo dentro de seus
domínios.
36 AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de. Informalização da Justiça e Controle Social. Porto Alegre:
IBCCRIM, 2000. p. 125 37 AREND, Adriana. Torcedor que atirou rádio em direção ao campo é multado e proibido de assistir a
jogos em Porto Alegre. Notícias – Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 13 set. 2008. Disponível em: <http://www.tj.rs.gov.br/site_php/noticias/mostranoticia.php?assunto=1&categoria=1&item=71155&voltar=S>. Acesso em: 15 set. 2008.
38 Ibidem 39 DAMIANI, Flávio. Guerra de torcidas: MP e CBF fecham o cerco. Imprensa - Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 04 set. 2007 Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/imprensa/noticias/id11944.htm>. Acesso em: 17 nov. 2007.
Outra aresta relevante a ser debatida nesta seara é quanto à atuação dos
órgãos policiais na prevenção e repressão aos torcedores que praticam atos
delinqüentes. Com razão, Heloisa Helena Baldy dos Reis tece o seguinte comentário:
Em espetáculos de multidão, a intervenção policial deve ser feita no momento em que se avalia que a violência simbólica está chegando ao limiar da transformação em violência física. O melhor momento de agir não é após o desencadeamento da violência física, quando as manifestações agressivas já são incontroláveis. Neste sentido, as imagens do circuito fechado de câmeras são importantíssimas para subsidiar uma eficaz e mais segura intervenção.40
Baseando-nos no que Reis menciona, há a necessidade de a polícia agir,
preferencialmente como agente preventor da violência entre os torcedores, evitando,
assim, a necessidade de reprimir os mesmos. Tal medida, conseqüentemente, evita
que a polícia acabe atuando como órgão gerador de violência entre os torcedores, o
que ocorre quando não há preparo técnico e psicológico, nem experiência por parte dos
policiais para atuar neste tipo de evento.41
Entre os torcedores entrevistados as opiniões divergem perpendicularmente.
Mesmo afirmando sentir-se seguro no estádio rival graças a seus companheiros de
torcida, e não a ações policiais,42 Augusto acredita que a polícia gaúcha, em especial o
Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (BOE), cumpre o seu papel na
prevenção da violência:
Hoje, no Brasil inteiro, a polícia é muito mais preparada pra enfrentar o problema das torcidas. O que eles fazem? Eles fazem um negócio que eles deveriam ter feito a vida inteira que é tentar evitar os problemas, e isto ta certo. Obviamente a polícia, e até eu não tiro muito a razão, é muito truculenta, mas também, nesse ambiente de estádio de futebol, se tu for pedir por favor não tem jeito, às vezes tem mais é que sentar o cacete mesmo. [...] agora tem o pessoal do Batalhão de Operações Especiais que cuida do, os caras nos chamou pra reuniões, a gente faz reuniões periódicas, antes de todos os jogos no Olímpico a gente faz reuniões com os caras pra saber o que que entra, o que não entra de material. Daí se da uma porrada na saída lá, com alguma torcida adversária, ou enfim, alguma bobagem, eles cortam um pouco aqui, daí conseguem que a galera fique mais calminha um tempo e daí eles liberam um pouco ali, entendeu. Então é um jogo de troca e a polícia faz bem isso ai. [...] Às vezes os caras pecam porque querem dar umas cacetadas nuns em vezes de fazer alguma coisa mais inteligente, mas a polícia até cumpre um papel bem feito, dentro do que se espera da polícia.43
40 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Futebol e Violência. Campinas: Armazém do Ipê (Autores
Associados), 2006. p. 109 41 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Op. Cit. p. 108 42 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 01 de setembro de 2008 junto a torcedor do Grêmio.
43 Ibidem
Já a opinião de Henrique é contrária, considerando os policiais despreparados
para o combate à violência entre torcedores, bem como se sentindo inseguro quando
comparece a um clássico no estádio tricolor:
Eu já vi policial levar uma ruim porque tentou ser bonzinho, já vi policial também tentar bater em gente a troco de nada assim. Policial, na verdade, eles são muito despreparados. [...] São pessoas que não são instruídas, assim como a maioria dos torcedores. E naquele clima tenso acaba tendo confusão porque a torcida do Inter quer criar confusão com a torcida do Grêmio, a torcida do Grêmio quer criar confusão com a torcida do Inter e a polícia não quer deixar esta confusão. Então se não tem confusão entre as duas torcidas acaba tendo confusão com a polícia, isso que acaba acontecendo, é inevitável. Torcedor mais exaltado ta ali e quer a confusão. Se tem alguém pra não deixar ter confusão tu arruma confusão com esta pessoa. E seguro no estádio rival a gente não se sente né, porque policial, assim como a gente, ele quer livrar o dele. Então no momento que o bixo pega o policial só que livrar o lado dele e também vai embora e não vai acabar protegendo ninguém.44
Atualmente, em dias de clássico Gre-nal, a torcida visitante é cercada e
escoltada desde seu estádio até o estádio rival, cumprindo este trajeto a pé, não tendo
contato com os torcedores adversários. Para o último clássico de 2008, realizado no dia
28 de setembro, o Comando de Policiamento da Capital (CPC) mobilizou um efetivo de
600 a 700 homens45, sendo destacados o 1º Batalhão de Polícia Militar, o 9º BPM, o
BOE, o 4º Regimento de Cavalaria Montada, o Batalhão Reserva (formado por
brigadianos que atuam na área administrativa), além do apoio de outras unidades.46
Por fim, necessária se faz observação de que tanto o Grêmio, no capítulo V, arts.
42 a 53, de seu Código de Ética47, quanto o Internacional, no art. 9º de seu Estatuto48,
prevêem penalidades aplicáveis a integrantes dos seus Quadros Sociais que estejam
envolvidos em casos de briga de torcedores ou de vandalismos. Dependendo da
gravidade do ato cometido pelo sócio ele poderá vir a sofrer penalidades que vão desde
advertências, orais ou escritas, até a exclusão do respectivo quadro social.
44 Dados da Entrevista (questionário) realizada em 31 de agosto de 2008, junto a torcedor do
Internacional. 45 GRE-NAL com forte policiamento. Correio do Povo, Porto Alegre, 28, setembro, 2008. Esportes, p.22. 46 Ibidem 47 GRÊMIO Foot-Ball Porto Alegrense. Código de Ética do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Disponível
em: <http://www.gremio.net/upload/page/File/codigo_de_etica(1).doc>. Acesso em: 27 jun. 2008. 48 SPORT Club Internacional. Estatuto e Regimento Interno do Conselho Deliberativo Sport Club
Internacional. Disponível em: <http://www.internacional.com.br/pagina.php?modulo=1&setor=6&secao=21>. Acesso em: 27 jun. 2008.
3 AS MEDIDAS PREVENTIVAS E DE CONTROLE DA VIOLÊNCIA DOS
TORCEDORES ADOTADAS FORA DO BRASIL E A POSSIBILIDADE DE APLICÁ-
LAS NO RIO GRANDE DO SUL
Neste capítulo nos dedicaremos a apontar como é combatida a violência entre os
torcedores pelo mundo, relatando casos ocorridos e quais medidas foram adotadas
pelas autoridades locais.
3.1. Como a Inglaterra controlou e minimizou os casos de hooliganismo em seu
território
A preocupação do governo da Inglaterra com os atos violentos cometidos pelos
hooligans não é recente, nos remetendo, na verdade, aos meados dos anos 1980. Ao
assumir poder, em 1979, o governo liderado por Margaret Thatcher passou a adotar
medidas concretas para controle do comportamento coletivo nos estádios. Após a
ocorrência de duas tragédias envolvendo torcedores do Liverpool, tradicional clube
inglês, a primeira em Heysel, na Bélgica, onde houveram 39 mortos e 450 feridos, e em
Hillsborough, em território inglês, com saldo de 96 mortos e mais de 700 feridos, as
autoridades inglesas adotaram medidas mais severas de segurança nos estádios.
Após os acontecimentos em Hillborough foi elaborado por Sir Peter Taylor um
relatório que apontava as causas da tragédia e sugeria medidas a serem adotadas,
conhecido como Relatório Taylor. Este documento continha 43 recomendações a serem
adotadas por clubes e entidades desportivas que deveria ser implementadas já na
temporada seguinte, 1989/90. Dentre as recomendações, destacaremos:
Revisão da capacidade de público de todos os estádios; instalação de assentos numerados em todos os setores dos estádios; novas provisões a respeito de primeiros socorros e serviços de emergência em todos os campos de futebol; estabelecimento de grupos locais encarregados de fornecer conselhos sobre a segurança nos estádios; retirada dos alambrados e monitoramento do público na arena desportiva.49
49 LIMA, Luiz César Cunha. O Relatório Taylor. Clubjus, Brasília-DF: 10 nov. 2007. Disponível em:
<http://www.clubjus.com.br/?artigos&ver=2.11535>. Acesso em: 27 set. 2008.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Bryan Drew, diretor da Unidade de
Policiamento de Futebol no Reino Unido afirma que uma das medidas mais importantes
tomadas pelas autoridades britânicas foi a centralização do trabalho de combate a
violência em estádios.50 Drew explica que existem 43 unidades policiais, espalhadas
pela Inglaterra e País de Gales, especializadas em combater a violência dos
torcedores, trocando informações e auxiliando na elaboração de um quadro nacional do
problema naquele país.51
É notório o sucesso das medidas adotadas pelas autoridades de combate à
violência nos estádios, mas isto não significa que ela foi erradicada do território
britânico, como demonstra afirmação retirada de reportagem da rede pública de notícias
daquele país: “Segundo o NCIS, a violência dentro dos estádios ingleses e galeses -
onde há assentos para todos os torcedores - é hoje praticamente inexistente. Mas o
problema transferiu-se para outras áreas, como estações de trem, pubs e regiões
centrais das cidades”.52
3.2. Na Argentina, legislação prevê penas a torcedores, dirigentes e funcionários dos
clubes
Na Argentina a violência nos espetáculos esportivos, especialmente o futebol, é
motivo de constante preocupação para as autoridades legislativas, sobre tudo nos
últimos quinze anos.53
Para o autor argentino Pablo Barbieri, essa violência no âmbito esportivo apenas
reflete a situação social do país:
La violencia imperante en el país en general; el fútbol no puede aislarse del contexto general del país, em los que son moneda diaria de los asaltos, secuestros com toma de rehenes, enfrentamientos de delincuentes com autoridades, etc. La cultura de la violencia nos invade y el fútbol es outra de sus manifestaciones.54
50 SEIXAS, Fábio. Clubes devem bancar polícia, defende xerife anti-hooligan. Folha de São Paulo, São
Paulo, 31 out. 2005. Disponível em: <http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=228946>. Acesso em: 27 set. 2008.
51 Ibidem 52 VIOLÊNCIA dos hooligans aumenta na Grã-Bretanha. BBC Brasil, 15 ago. 2001. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010815_hooligan.shtml>. Acesso em: 27 set. 2008. 53 BARBIERI, Pablo C. Fútbol y Derecho. Buenos Aires: Editora Universidad, 2005. p. 52 54 BARBIERI, Pablo C. Op. Cit. p. 52 – 53
Dentro da legislação argentina, merece destaque o capítulo incorporado à
Lei nº 20.655/74, conhecida como Ley Del Deporte, pelas leis nº 23.184 e nº 24.192,
que sanciona e reprime determinados delitos cometidos dentro de eventos esportivos,
como o exemplo a seguir:
ARTICULO 3º.- Será reprimido con prisión de uno a seis años, si no resultare un delito más severamente penado, el que introdujere, tuviere en su poder, guardare o portare armas de fuego o artefactos explosivos en las circunstancias del artículo 1º. En todos los casos se procederá al decomiso de las armas o artefactos. ARTICULO 4º.- Serán reprimidos con prisión de un mes a tres años siempre que no correspondiere pena mayor, los dirigentes, miembros de comisiones directivas o subcomisiones, los empleados o demás dependientes de las entidades deportivas o contratados por cualquier título por estas últimas, los concesionarios y sus dependientes, que consintieren que se guarde en el estadio de concurrencia pública o en sus dependencias armas de fuego o artefactos explosivos. En todos los casos se procederá al decomiso de las armas o artefactos.55
Segundo a interpretação de Pablo Barbieri, o artigo 4º do capítulo supra referido
trata de reprimir as pessoas que facilitem a guarda, ou custódia, de elementos
geradores de violência ou danos às pessoas que freqüentam os estádios.56 Concluímos
então que, por orientação deste dispositivo normativo, não apenas o torcedor que
pratica o delito é punido pela autoridade judiciária, mas também aqueles que permitem
tais delitos dentro dos estádios.
Há, ainda, previsto na legislação argentina, mais especificamente no Decreto n.º
1.466/97, medidas a serem tomadas pelos clubes proprietários de estádios com
capacidade superior a vinte e cinco mil pessoas. Vejamos o que diz o artigo 13 do
decreto mencionado acima:
Art. 13.— Las entidades deportivas comprendidas en el régimen del presente decreto deberán disponer, en condiciones operativas, de: a) Circuito cerrado de televisión con cámara fija. b) Sistema de audio propio, con capacidad de alcance suficiente para el exterior e interior del recinto. c) Comunicaciones con la policía local y los organismos de emergencia médica y protección civil.
55 ARGENTINA. Lei n.º 20.655, de 21 de março de 1974. Lei de Deporte de Argentina. Diário Oficial [da] República Argentina, Buenos Aires, 08 abr. 1974. Disponível em: <http://www.deportes.gov.ar/Paginas/LeyDeporte.php?SolapaPagina=Estructura>. Acesso em: 26 set. 2008.
56 BARBIERI, Pablo C. Fútbol y Derecho. Buenos Aires: Editora Universidad, 2005. p. 53
d) Adecuada señalización e iluminación en todos los sectores de acuerdo a las indicaciones que formule la autoridad de aplicación al presente decreto, cuando los espectáculos deportivos se realicen en horarios nocturnos.57
Nos estádios argentinos com capacidade superior a vinte e cinco mil pessoas
devem, também, ser adotadas medidas para separar adequadamente os grupos de
torcedores adversários, artigo 15, bem como devem possuir sistemas de ingresso do
público através de cartões magnéticos, artigo 18, ambos do decreto n.º 1.466/97.58 Aos
clubes cabe, também, obrigação de designar um responsável pela segurança interna do
estádio, que deverá supervisionar o cumprimento da legislação de segurança interna
nos estádios, bem como o ingresso do público no mesmo, artigo 14 do já referido
decreto.59
3.3. As medidas adotadas por Portugal para sediar a Eurocopa de 2004
A violência entre as torcidas portuguesas não chega a ser um problema
preocupante para as autoridades lusitanas. Maurício Murad afirma: “A avaliação quase
unânime é de que é relativamente fácil trabalhar com as torcidas em Portugal, embora
sempre possa haver algum tipo de violência a pessoas ou ao patrimônio”.60
A realização do Campeonato Europeu de Seleções, conhecida como Eurocopa,
no ano de 2004 pode ser indicado como um divisor de águas do futebol português.
Além de sair-se muito bem dentro das quatro linhas, a seleção portuguesa conquistou o
vice-campeonato, o planejamento, a organização, os planos de obras e de segurança
do evento foram classificados pela UEFA, associação que rege o futebol europeu, como
exemplos históricos para o continente europeu.61 Dentre as medidas adotadas por
Portugal, duas merecem destaque especial: as embaixadas de fãs, e a atuação dos
stewards.
57 ARGENTINA. Decreto nº 1.466, de 1997. Regime de segurança no futebol. Órgãos e âmbito de
aplicação. Diário Oficial [da] República Argentina, Buenos Aires, 06 jan. 1998. Disponível em: <http://www2.jus.gov.ar/sssef/legales_decreto.asp>. Acesso em 26. set. 2008.
58 Ibidem 59 Ibidem 60 MURAD, Maurício. A Violência e o Futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de
Janeiro: FGV, 2007. p. 60 61 MURAD, Maurício. Op. Cit. p. 54
As embaixadas de fãs consistem em “pontos de encontro dos torcedores de cada
um dos países participantes, com informações, orientações e apoios”,62 auxiliando aos
que foram torcer por suas seleções durante o campeonato e reunindo-os em um
mesmo lugar, evitando assim brigas nas ruas das cidades-sede entre torcedores de
nacionalidades diferentes.
Os stewards, ou treinadores de adeptos, são civis recrutados entre as torcidas de
cada país participante e treinados para ajudar seus conterrâneos. Vejamos o conceito
de steward para o professor Murad:
Steward é uma pessoa, homem ou mulher (há muito mais homens, mas há mulheres também), devidamente preparada e formada por um clube de futebol, pela federação do país, ou até mesmo pela UEFA, para ajudar os espectadores das partidas a entrar, se localizar, e sair dos estádios em segurança. São treinados para apoiar os torcedores e para ajudar as forças de segurança a evacuar os estádios e as ruas vizinhas, principalmente em situações de pânico e conflito. Quase sempre são pessoas com experiência em claques e servem como ponte entre os torcedores e as autoridades da ordem pública. A maioria tem idade entre 25 e 45 anos e ensino médio concluído. Atuam na esfera preventiva, para evitar os conflitos e proteger as pessoas. Têm aulas e explicações sobre os limites de sua atividade. Não têm autoridade policial, sua estratégia é educativa, é diferente das forças de segurança, mas há uma complementação de papéis. Não agem na área repreensiva, como a polícia, as empresas promotoras e os agentes particulares contratados pelos clubes. Conhecem bem os integrantes das organizadas e são reconhecidos por eles, inclusive como antigos participantes.63
Houve ainda, durante a realização da Eurocopa de 2004, a intervenção das
autoridades policiais portuguesas em lugares geralmente correlacionados à
marginalidade e ao narcotráfico, treinamento de policiais para agir entre os torcedores e
campanhas educativas e de valorização da cultura do futebol.64 Como referido
anteriormente, o evento foi considerado um grande sucesso tanto de organização
quanto à segurança.
3.4. A falta de identidade nacional no futebol espanhol e as medidas anti-violência
Mesmo sendo um dos países mais apaixonados por futebol e tendo um dos
campeonatos mais disputados do mundo, “o espanhol não tem no futebol um símbolo
62 MURAD, Maurício. Op. Cit. p. 62 63 MURAD, Maurício. Op. Cit. p. 62 64 MURAD, Maurício. Op. Cit. p. 54
de identidade nacional”.65 Tendo seu território dividido por diversas regiões com origens
culturais diferentes, “as identidades são construídas com as comunidades autônomas e
não com o país”.66
A professora Heloisa Helena Baldy dos Reis faz a seguinte constatação à
respeito do problema da violência de torcedores espanhóis:
Na Espanha, os incidentes de violência relacionados a jogos de futebol e seus espectadores foram menos violentos que em outros países, porém a aparição e reincidência desses foi um alarme de que poderiam vir a ser um problema maior, como ainda é hoje o hooliganismo na Inglaterra e na Alemanha.67
A Lei do Esporte, nº 10/1990, é o principal texto normativo espanhol, e prevê em
seu art. 60 a criação da Comissão Nacional contra a Violência nos Espetáculos
Esportivos, órgão que rege as medidas de segurança a serem adotadas dentro da
Espanha.68 Entre as funções atribuídas para a Comissão Nacional contra a Violência
nos Espetáculos Esportivos está o controle anual de dados de pesquisa sobre a
violência nos estádios, promover ações de prevenção à violência, fazer com que clubes
e federações incluam códigos disciplinares em seus estatutos, promover medidas de
controle do nível de álcool ingerido pelos espectadores e promover campanhas de
divulgação das normas de prevenção deste tipo de violência.69
Devemos destacar que, quanto a medidas preventivas de violência, dentro dos
estádios espanhóis é proibida a venda de bebidas alcoólicas70, bem como é obrigatória
a fixação na entrada dos estádios, em forma de cartaz, do “croqui do estádio e uma lista
de objetos proibidos de ingressar no estádio com os espectadores, ficando a cargo dos
clubes o cumprimento dessa norma”,71 sendo dos clubes, também, a responsabilidade
de revistar os torcedores. A Lei do Esporte espanhola prevê também a obrigatoriedade
de instalação de uma Unidade de Controle Organizativo (UCO), de onde os
65 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Futebol e Violência. Campinas: Armazém do Ipê (Autores
Associados), 2006. p. 33 66 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Op. Cit. p. 33 67 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Op. Cit. p. 51 68 ESPANHA. Lei nº 10, de 15 de outubro de 1990. Diário Oficial [do] Reino da Espanha, Madrid, 17
out. 1990. Disponível em: <http://217.116.15.226/xml/disposiciones/csd/disposicion.xml?id_disposicion=32576&desde=csd>. Acesso em: 26 set. 2008.
69 Ibidem 70 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Futebol e Violência. Campinas: Armazém do Ipê (Autores
Associados), 2006. p. 79 71 REIS, Heloísa Helena Baldy dos. Op. Cit. p. 80
coordenadores de segurança suas funções.72 Para ocupar o cargo de coordenador de
segurança, a pessoa indicada deverá, necessariamente, estar enquadrada na
organização policial, como prevê o artigo 65 da mesma lei.73
CONCLUSÃO
Os torcedores, ao cometerem atos de violência contra os torcedores rivais, ou de
vandalismo contra o patrimônio do clube adversário, estão agindo sob influência de
forte emoção. Muitos acreditam, ao encontrarem dificuldades na vida pessoal ou
profissional, que o time pode ser a parte de sua vida que dá certo, sendo o estádio do
seu clube um local onde ricos e pobres, homens de sucesso e fracassados, são iguais
e possuem a mesma ambição pela vitória.
Nesta seara, nota-se claramente a maior proximidade de características das
novas torcidas da dupla Gre-nal, Geral do Grêmio e Guarda Popular Colorada, com os
barra bravas encontrados nos países de América Latina, pois não possuem quadro de
associados ou uniformização, como as torcidas organizadas brasileiras, nem possuem
identificação política de extrema direita, como os hooligans europeus.
A imprensa relata os atos cometidos pelos torcedores de maneira
sensacionalista, ignorando as boas ações praticadas pelas torcidas, sendo pacífica
entre os autores a opinião de que somente os atos ruins chamam a atenção do público
consumidor.
As autoridades brasileiras, após anos de omissão, passaram a legislar sobre o
tema, tendo inclusive publicado as leis nº 9.615/98 e nº 10.671/03, além do decreto nº
4.960/04, as quais, entre outras disposições, regem sobre a política brasileira de
combate a violência entre os torcedores. A Confederação Brasileira de Futebol e o
Conselho Nacional de Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e da
União assinaram, também, um protocolo de intenções, que contem medidas a serem
tomadas por ambas as entidades, e sugerindo ações a serem adotadas pelos clubes
em seus estádios. Entre as medidas aplicáveis aos estádios previstas no decreto e nas
72 ESPANHA. Lei nº 10, de 15 de outubro de 1990. Diário Oficial [do] Reino da Espanha, Madrid, 17
out. 1990. Disponível em: <http://217.116.15.226/xml/disposiciones/csd/disposicion.xml?id_disposicion=32576&desde=csd>. Acesso em: 26 set. 2008.
73 Ibidem
leis supracitados, bem como no protocolo de intenções previamente referido estão: a
instalação de Juizados Especiais Criminais, a proibição da venda de bebidas alcoólicas,
a instalação de circuitos internos de câmeras e a organização da entrada e saída de
torcidas visitantes.
No Rio Grande do Sul também foi publicada também uma lei no sentido de
proibir a venda de bebidas alcoólicas nos estádios gaúchos. Tanto Grêmio, quanto
Internacional, atualmente possuem em seus estádios circuitos internos de câmeras,
bem como Juizados Especiais Criminais. As autoridades policiais gaúchas também
estão engajadas no sentido de prevenir os casos de violência entre os torcedores,
merecendo destaque as reuniões sistemáticas realizadas entre polícia e chefes de
torcidas, assim como a escolta efetuada pela Brigada Militar para que os torcedores
visitantes, em dia de Gre-nal, percorram a pé o trajeto entre o seu estádio e o do
adversário.
Em busca de alternativas ainda não adotadas pelas autoridades brasileiras e
gaúchas, apontaremos quais as medidas adotadas por outros países poderiam ser
implantadas no nosso estado. Sugeriremos, ainda, uma medida simples que também
deve ser implantada urgentemente.
Entre as medidas adotadas pelas autoridades britânicas, acreditamos que a
instalação de assentos numerados em todos os setores dos estádios deveria também
ser implantada nos estádios brasileiros. Em que pese uma suposta alegação de parcela
dos torcedores de que tal medida dificultaria a execução das coreografias exibidas
pelas torcidas, além de provocar a elitização dos estádios, havendo a instalação de tais
assentos, e sendo executado um rígido controle para que os torcedores respeitassem o
número do assento expresso em seu ingresso, o trabalho dos órgãos policiais seria em
muito ajudado. Através do número do assento adquirido os órgãos policiais teriam muito
mais facilidade para a identificação de qualquer pessoa dentro do estádio, auxiliada
também por um bem estruturado circuito interno de câmeras.
Mesmo já havendo no Brasil recomendações no sentido de os clubes instalarem
estes circuitos internos de câmeras em seus estádios, cremos que o modelo a ser
seguido deveria ser o das UCOs espanholas. Tal modelo se faz adequado pois, além
de monitorar toda a área do complexo esportivo dos clubes, controlando assim o fluxo
de chegada e saída dos espectadores e também o interior do estádio, serve como base
de operações de um coordenador de segurança específico para aquele estádio,
necessariamente vinculado aos órgãos policiais.
Estes coordenadores de segurança, indicados através de acordo entre os clubes
e os órgãos policiais, deveriam estar subordinados a um Diretor-Geral dos
coordenadores de segurança, responsável pela centralização das informações obtidas
por seus subalternos e pela fiscalização de que os clubes implantassem todas as
medidas que fossem recomendadas pelas autoridades responsáveis. Através da troca
de informações entre os coordenadores de segurança de todo o país, seria possível
que, finalmente, pudéssemos visualizar o real quadro da violência entre os torcedores
no Brasil, e não apenas individualmente nos estados. Esta troca de informações seria
útil também quando as torcidas viajassem para fora de sua cidade, pois haveria um
prévio conhecimento por parte do coordenador de segurança dos torcedores visitantes
que desembarcarão em sua jurisdição, assim como no modelo britânico.
Outra medida que entendemos benéfica seria a criação de lei que previsse a
aplicação de penas aos diretores de clube que fossem coniventes com os atos de
violência de seus torcedores, inspirada do modelo argentino. Com a possibilidade de
serem responsabilizados pelos atos dos torcedores, acreditamos que os diretores dos
clubes passariam a se empenhar mais nas campanhas de conscientização dos
mesmos, bem como aplicariam punições mais firmes com relação aos torcedores que
integram seus quadros sociais e viessem a delinqüir.
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