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A VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES AMOROSAS ENTRE ADOLESCENTES: sob a complexidade de Edgar Morin. Ana Beatriz Campeiz¹, Ana Flávia Campeiz, Maria das Graças Carvalho Ferriani 1. [email protected] Resumo Neste trabalho, na fase em andamento, pretende-se discutir a violência nas relações amorosas entre adolescentes e investigar o papel da educação de gênero como inibidor da violência nas relações amorosas de adolescentes e a importância da formação escolar na vida desses fundamentando-se no referencial teórico da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Os adolescentes, participantes da pesquisa, serão 40 adolescentes, de ambos os sexos, compreendendo idades entre 15 e 18 anos, que frequentam o ensino médio de uma escola pública em um município no interior do estado de São Paulo. A pesquisa foi delineada em uma abordagem qualitativa e para obtenção dos dados utiliza-se: i) o mapa da contextualização; ii) levantamento bibliográfico e revisão literária iii) questionário para perfil sócio-demográfico; iv) a realização de grupos focais; e v) a realização de entrevistas semi-estruturadas.O paradigma da complexidade, enquanto referencial teórico, não concede certezas absolutas. Contudo, o mesmo propicia ampliar o conhecimento e alternativas sobre a violência e suas vítimas, indicando caminhos provisórios e dinâmicos para a ressignificação de possibilidades e informações absorvidas. Palavras-chaves: Violência. Adolescentes. Educação. Complexidade. Abstract In this paper, the phase in progress, we intend to discuss violence in dating relationships between adolescents and investigate the role of gender education as an inhibitor of violence in romantic relationships of adolescents and the importance of school education in the lives of those taking account of the reference theorist theory of Edgar Morin Complexity. Teenagers, research participants, will be 40 adolescents of both gender, comprising between 15 and 18, who attend high school at a public school in a country city in the state of São Paulo. The research was outlined in a qualitative approach and to obtain the data is used: i) the map of contextualization; ii) literature and literary review iii) questionnaire for socio-demographic

A VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES AMOROSAS ENTRE …

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A VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES AMOROSAS ENTRE

ADOLESCENTES: sob a complexidade de Edgar Morin.

Ana Beatriz Campeiz¹, Ana Flávia Campeiz, Maria das Graças Carvalho Ferriani

1. [email protected]

Resumo

Neste trabalho, na fase em andamento, pretende-se discutir a violência nas relações amorosas

entre adolescentes e investigar o papel da educação de gênero como inibidor da violência nas

relações amorosas de adolescentes e a importância da formação escolar na vida desses

fundamentando-se no referencial teórico da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Os

adolescentes, participantes da pesquisa, serão 40 adolescentes, de ambos os sexos,

compreendendo idades entre 15 e 18 anos, que frequentam o ensino médio de uma escola

pública em um município no interior do estado de São Paulo. A pesquisa foi delineada em uma

abordagem qualitativa e para obtenção dos dados utiliza-se: i) o mapa da contextualização; ii)

levantamento bibliográfico e revisão literária iii) questionário para perfil sócio-demográfico;

iv) a realização de grupos focais; e v) a realização de entrevistas semi-estruturadas.O paradigma

da complexidade, enquanto referencial teórico, não concede certezas absolutas. Contudo, o

mesmo propicia ampliar o conhecimento e alternativas sobre a violência e suas vítimas,

indicando caminhos provisórios e dinâmicos para a ressignificação de possibilidades e

informações absorvidas.

Palavras-chaves: Violência. Adolescentes. Educação. Complexidade.

Abstract

In this paper, the phase in progress, we intend to discuss violence in dating relationships

between adolescents and investigate the role of gender education as an inhibitor of violence in

romantic relationships of adolescents and the importance of school education in the lives of

those taking account of the reference theorist theory of Edgar Morin Complexity. Teenagers,

research participants, will be 40 adolescents of both gender, comprising between 15 and 18,

who attend high school at a public school in a country city in the state of São Paulo. The research

was outlined in a qualitative approach and to obtain the data is used: i) the map of

contextualization; ii) literature and literary review iii) questionnaire for socio-demographic

profile; iv) conducting focus groups; v) carrying out semi-structured interviews. The paradigm

of complexity, while theoretical, does not give absolute certainty. However, it provides increase

knowledge and alternatives on violence and its victims, indicating provisional and dynamic

ways to reframe possibilities and absorbed information.

Keywords: Violence. Adolescents. Education. Complexity.

Introdução

A violência contra a mulher ainda se posiciona entre os problemas menos reconhecidos e

expostos no Brasil, mesmo com todos os avanços obtidos com as estratégias do governo e Lei

11.340/6 ou Lei Maria da Penha, em 2006, e a Lei 13.104 ou Lei do Feminicídio, de 9 de Março

de 2015, como garantia do direito e proteção da mulher.

A violência nas relações amorosas entre jovens e adolescentes enquanto problema social

constitui-se assim, como digna de atenção. No entanto, se comparada com a violência conjugal,

apresenta-se com pouca consideração por parte dos pesquisadores e comunidade cientifica,

tendo pouca presença nas expressões e manifestações educativas e sociais.

Muitos autores, ao tratar a violência entre adolescentes utilizam de definições que não envolvem

seus contextos familiares, sociais, institucionais, entre outros, o que implica um sério risco de

simplificação do fenômeno (FERRIANI e MARTINS, 2008). Por isto, neste trabalho, na fase

em andamento, pretende discutir a violência nas relações amorosas entre adolescentes. Para

isso, consideramos a violência contra a mulher como um fenômeno complexo envolvendo

múltiplos fatores de ordem econômica, politica, cultural, social e individual e fundamentando

no referencial teórico da Teoria da Complexidade de Edgar Morin.

Minayo (et al 2011) afirma que a violência vivenciada no namoro e em outros perfis de

relacionamentos amorosos, está profundamente atravessada pelas relações de gênero nas quais

se obtém marcas e estereótipos específicos papeis para o homem e para a mulher. Dessa forma,

conceitua-se a violência vivida em um relacionamento de namoro, como um ato pontual ou

contínuo, com o objetivo de controlar, regular, dominar, comandar e ter mais poder do que o

outro comprometido no relacionamento, sendo cometido por um dos parceiros ou por ambos

(CAMPEIZ, 2014).

Averigua-se na literatura (MINAYO, ASSIS e NJANIE, 2011; STRAUS, 2004) preocupações

sobre violência nos relacionamentos de namoro. Uma pesquisa realizada em Portugal pela

União de Mulheres: Alternativa e Resposta (UMAR), em 2013, em escolas das cidades de Porto

e de Braga, constatou que 885 alunos, com idades dos 11 aos 18 anos, consideram legítimos

comportamentos abusivos com as namoradas ou namorados. Mais de metade dos garotos e das

garotas responderam que é normal proibir a namorada/o de sair com específicos amigos/as e de

vestir determinadas roupas. Entre os garotos, 5% considera que agredir a namorada ao ponto de

deixar marcas não é ser violento. No que concerne à humilhações, 25% dos garotos e 13,3%

das garotas entendem que humilhar a/o namorada/o é legítimo. E no que diz respeito à ameaças,

15,65% dos garotos consideram que ameaçar sua companheira é algo normal, as garotas

corresponderam a 5% (COELHO, 2013).

Neste ínterim, Minayo, Assis e Njaine (2011), organizaram um estudo no Brasil sobre a

violência no namoro, com 3.200 adolescentes oriundos de várias regiões. Segunda as autoras,

diversos adolescentes ressaltaram a violência psicológica, abarcada nas agressões verbais, nas

tentativas do parceiro controlar a vida, nas chantagens emocionais e nas pressões que sofrem

para realizar certos atos ou adotar determinadas condutas como mais nociva e com efeitos muito

mais duradouros e graves do que violência física e sexuais já sofridas durante o namoro.

Esses dados são reforçados por pesquisas como as de Forsheeet al (2013) , que em um estudo

longitudinal ao examinar os efeitos da violência do namoro na vida dos adolescentes,

constataram um predomínio de vitimização de 38,3% para a violência psicológica comparado

a 19,9% para a violência física; e de Aldrighi (2004), que em um estudo com uma amostra de

455 jovens universitários de São Paulo encontrou uma dominância de 21,1% de agressões,

tendo como as mais frequentes a psicológica e a coerção sexual.

Essas investigações destacam níveis alarmantes de violência nos relacionamentos de namoro e

a existência de pelo menos um aspecto de violência nas relações amorosas dos jovens e

adolescentes brasileiros, sendo comumente apontada como corrente e corriqueira, como algo

pertencente e natural à relação amorosa (ALDRIGHI 2004; MINAYO, ASSIS e NJAINE

2011). Contudo, ressaltamos essa violência como produto de uma cultura que faz parecer

natural o sentimento de posse para os homens e que romantiza o amor para as mulheres,

características estas encontradas nas relações de gênero.

A violência no namoro, assim como na violência conjugal, pode-se resultar em um considerável

e significativo impacto para a vítima, abrangendo danos diversos, a curto e a longo prazo.

Muitos estudos divergem quanto a existência da simetria nessas situações de violência nas

relações de namoro, mas no que concerne aos danos, sejam eles de ordem psicológica, física,

emocional e até financeira, há consenso entre os pesquisadores e todos consideram que os

prejuízos causados são mais significativos para as mulheres do que para os homens

(HICKMAN, JAYCOX e ARONOFF, 2004; MATOS et al, 2006; MINAYO, ASSIS &

NJANIE, 2011; STRAUS, 2004).

Na tentativa de uma compreensão sobre a violência entre namorados, estudiosos (MATOS et

al, 2006 ; KERMAN e POWERS, 2006; STRAUS, 2004) levantam debate sobre os fatores de

risco no relacionamento afetivo e amoroso. Dentre estes fatores podem ser ressaltados: I)

Duração do relacionamento; II)Idade; III) Vivência de namoros violentos durante a

adolescência; IV) Fatores psicológicos; V) Violência intrafamiliar; VI) Stalking ; VII)

Dificuldade em reconhecer uma condição de vítima VIII) Abuso de álcool e drogas.

Nestas condições, a violência no namoro é um significativo fator prenunciador da violência

conjugal, pois com o prolongamento da relação de namoro, a violência propende a aumentar,

tanto na frequência quanto na gravidade, resultando, consequentemente, na violência conjugal.

Um estudo realizado na Espanha com mulheres vítimas da violência revelou que em 18,2% dos

casos as agressões se iniciaram antes de existir coabitação (GÓMEZ et al, 2002). Neste

contexto, salienta-se a importância da prevenção em fases iniciais dos relacionamentos,

principalmente nas relações de namoro.

Portanto, este estudo objetiva analisar o papel da educação de gênerocomo inibidor da violência

nas relações amorosas de adolescentes e a importância da formação escolar na vida desses sob

o olhar da Teoria da Complexidade. Assim, pretende investigar a violência no relacionamento

afetivo - amoroso de adolescentes, através da compreensão dos sentidos que os permeiam,

considerando variáveis como a relação afetivo/amorosa estabelecida, experiência em

relacionamentos anteriores, violência intrafamiliar precedentes, aspectos sociais e psicológicos,

fatores de proteção ao estabelecimento de uma relação amorosa em caso de violência e o suporte

para lidarem com as situações de violência física, verbal e psicológicas vivenciadas.

Destarte, esta pesquisa é sustentada com a visão do adolescente como ser potencialmente ativo,

de convicções, crenças e reflexões críticas de seu contexto histórico, social e cultural,

imbricados ainda, no território em que se inserem e na complexa particularidade de sua

singularidade.

Diante de tais considerações, pondera-se que a educação é o instrumento de prevenção contra

a violência mais importante, e, na medida que os estudiosos especulam os motivos multifários

da violência contra a mulher, disponibiliza-se uma quantidade cada vez maior de informação,

para que os esforços da prevenção da violência resultem em grandes resultados. Por meio de

uma abordagem complexa, a educação, assim, pode expor as causas diretas e subjacentes à

violência contra a mulher, pode ajudar á compreensão de seu impacto e consequências,

promovendo alternativas, modos de vida não violentos e conscientização por parte de quem as

sofre.

Objetiva-se investigar o papel da educação de gênero como inibidor da violência nas relações

amorosas de adolescentes e a importância da formação escolar na vida desses sob o referencial

da Teoria da Complexidade. Os objetivos específicos se constituem na construção um perfil

sóciodemográfico de adolescentes em situação de violência no relacionamento amoroso de uma

escola estadual em um município do interior do estado de São Paulo. E, por fim, investigar qual

o significado da violência e o modo como as diferentes dimensões da violência se materializam

nessas relações amorosas.

Referencial Teórico

Depreende-se assim que o paradigma da Complexidade dialoga diretamente com a concepção

do fenômeno violência.O paradigma emergiu especialmente para buscar uma compreensão dos

fenômenos complexos, segundo Morin (2007), os distintos elementos deste fenômeno,

convivem com a incerteza e a mudança, permanecem em constante interação, sendo as partes

interconectadas mantendo vínculos, da qual podem surgir propriedades desconhecidas,

informações adicionais.

Na busca de ultrapassar o paradigma vigente e contrário ao reducionismo, o pensamento

complexo, considera as contradições e viabiliza a abordagem multidimensional,

transdisciplinar, dinâmica e contextual da realidade. O pensamento complexo faculta acessar,

articular e organizar os elementos e informações da realidade de modo a perceber e inter-

relacionar o local, o global e as múltiplas relações entre partes-todo-contexto (CARLOS, 2014).

O caminho teórico-metodológico desta pesquisa é baseado em Morin (2002) que propõe a

construção de um novo método, um novo modo de pensar, sinalizando-o. No paradigma da

complexidade, o Método se refere à atividade pensante e consciente do sujeito, é uma estratégia

que requer uma visão poliocular e multidimensional do real.

Fundamentando-se no referencial teórico, utiliza-se neste trabalho o Mapa da Contextualização

como estratégia-chave, pois esta busca a compreensão do fenômeno sob uma visão global, em

contexto, destacando relações significativas entre os diferentes aspectos, articulando suas

múltiplas dimensões, e não mais isolado dele.

Cabe ainda destacar, os princípios da complexidade primordiais que fundamentam nossa

pesquisa: dialógico, recursão organizacional e o hologramático.Estes serão utilizados como

apoio para a elaboração do mapa da contextualização, a obtenção de dados e análise por meio

da Teoria da Complexidade.

Metodologia

Esta pesquisa foi delineada em uma abordagem qualitativa que visa compreender os sujeitos

em seus próprios contextos dos fenômenos sociais e aos aspectos subjetivos da ação social. O

caminho teórico-metodológico para esta construção aqui proposta é baseada em Morin (2002)

que propõe a construção de uma nova ciência, um novo método, um novo modo de pensar,

sinalizando. No paradigma da complexidade, o Método se refere à atividade pensante e

consciente do sujeito e o reconhecimento da presença e participação do sujeito em todo o

processo de conhecer "(...) comporta técnicas e estratégias, iniciativa, invenção, arte, para que

se possa estabelecer uma relação aberta com as teorias, gerá-las e regenerá-las" (PÁDUA, 2008,

p.31). Ou seja, o método é uma estratégia que requer uma visão poliocular e multidimensional

do real.

No que se refere aos adolescentes, participantes da pesquisa, serão adolescentes de ambos os

sexos, compreendendo idades entre 15 e 18 anos, que frequentam o ensino médio de uma escola

pública em um município no interior do estado de São Paulo. Na pesquisa, abarcaram duas salas

do segundo ano do ensino médio e duas salas do terceiro ano do ensino médio, totalizando 40

adolescentes. Utiliza-se como parâmetro os limites cronológicos da adolescência definidos pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) que compreendem as idades entre 10 e 19 anos. Assim,

tem-se como participantes deste trabalho adolescentes,

No percurso de obtenção dos dados utiliza-se: i) o mapa da contextualização; ii) levantamento

bibliográfico e revisão literária iii) questionário para perfil sócio-demográfico; iv) a realização

de grupos focais; e v) a realização de entrevistas semi-estruturadas.

Fundamentando-se no referencial teórico, utiliza-se neste trabalho o Mapa da Contextualização

como estratégia-chave, pois esta busca a compreensão do fenômeno em contexto e não mais

isolado dele. A articulação das dimensões múltiplas que compõem o fenômeno estudado

possibilita maior grau de compreensão e conhecimento, que possa vislumbrar sua complexidade

(Carlos, 2014).

Ao realizarmos um mapa de contextualização nosso propósito é identificar, representar e

apontar perspectivas e aspectos que poderiam constituir um todo, de modo que se tenha uma

visão global e articulada das partes que o compõem, com a finalidade de compreender o seu

contexto (PÁDUA, 2014). Desse modo, enquanto estratégia metodológica multidimensional

propicia interligar os fios, identificar a textura, “evidenciar relações significativas entre os

diferentes aspectos e possibilidades de abordagem de um tema, ao mesmo tempo em que as

integra, distingue, diferencia, a partir da própria visualização do contexto“ (PÁDUA 2014

p..42). Assim possibilitará identificar os principais aspectos e dimensões da violência que

transpassa essas relações amorosas, contextualizados e articulando os vários fatores que

compõem a totalidade do fenômeno violência nessa relação.

Essa estratégia precede o levantamento bibliográfico e a revisão da literatura, mas também

comporta revisões e inclusões subsequentes, conforme se progrida no processo, que se percorra

a outras fases da pesquisa. Todavia, Pádua (2014) acrescenta que, por ser uma referência,

durante o processo, sempre retornamos ao mapa, posto que os principais aspectos já estão

relacionados entre si, em uma totalidade que é significativa para se compreender o problema.

Realizar-se-á um aprofundamento teórico conceitual acerca do debate sobre a categoria gênero,

violência e paradigma da complexidade. Para este fim, utiliza-se de levantamentos

bibliográficos, que, segundo contribuições de Minayo (2007), consiste na concessão e

distribuição do conhecimento em designada área, proporcionando que o pesquisador explore as

teorias fornecidas e contribua para a compreensão e explicação do objeto de investigação.

Assim como, de uma revisão da literatura que, baseando-se no referencial teórico e

metodológico da complexidade,é um procedimento metodológico que permite a constituição

de redes de conhecimento que colaboram para a contextualização do problema, em suas

possíveis relações e conexões com outras áreas do conhecimento (PÁDUA, 2014).

O questionário contemplará questões relativas a idade, sexo, ano escolar, percepção de gênero,

experiências amorosas positivas e negativas, qual local de acesso a informações e ajuda,

visando a construção do perfil desses sujeitos.

Outra estratégia de obtenção de dados para a pesquisa será o desenvolvimento de grupos focais,

também chamados de grupos de diálogo. Essa técnica parte do reconhecimento de que é

necessário construir espaços que propiciem a fala/escuta qualificada (Oliveira, 2011), assim,

possibilita o processo de falta/escuta qualificada e o registro pormenorizado das percepções de

adolescentes sobre a violência no relacionamento afetivo-amoroso, o papel da educação de

gênero como inibidor da violência nas relações amorosas de adolescentes e a importância da

formação escolar, investigar qual o significado da violência e o modo como as diferentes

dimensões da violência se materializam nessas relações amorosas.

Por fim, a entrevista semi-estruturada permitira identificar questões relativas ao que os

adolescentes compreendem por violência e se se enxergam em tal situação e em que nível, por

meio de questões como: i) O que você entende por violência? ii)Você já viveu alguma situação

de violência em seu namoro? iii)Como você reagiu ao acontecido? iv)O que isto significou

para você?

Ressalta-se ainda, alguns princípios da complexidade essenciais que fundamentam nossa

pesquisa e que será utilizado como apoio para obtenção de dados e análise por meio da Teoria

da Complexidade. Esses se constituem nos princípios dialógico, recursão organizacional e o

hologramático.

O princípio dialógico, segundo Morin (2005,2007) reivindica a conjugação e associação de

elementos contraditórios na análise de um determinado fenômeno, conserva a tensão entre a

ordem e a desordem, relacionando-as ao mesmo tempo como complementares e antagônicas,

produzindo reorganização e complexidade.

O outro princípio é a recursão organizacional que atua diferentemente da relação causa/efeito,

salientando que “os produtos e os efeitos são, ao mesmo tempo, causas e produtores daquilo

que os produziu” (Morin, 1994, p.89). Esse princípio propicia a interconexão que dá

características a um fenômeno.

E o último, consiste no hologramático, que ao estudar um fenômeno, proporciona a distinção

entre as partes e a constatação do todo, incorporando essas partes, sem que estas se dissolvam

e percam suas diferenças. Segundo Morin (2005,2007) cada ponto de um holograma contém

quase a totalidade da informação sobre o objeto representado, no modo que não apenas a parte

está num todo, mas o todo está constante, de certa maneira, na parte.

Considerações Finais

Essa pesquisa está em andamento, na aplicação do questionário para fim de um perfil sócio-

demográfico para contemplação tanto do referencial teórico quanto do método proposto, e na

elaboração do mapa da contextualização.

Considera-se a educação, articulada e integrada a outras esferas como a saúde, segurança e

justiça, como principal fator protetor e inibidor da violência, é por meio dela que se conseguirá

um nível de relações mais justas. Torna-se essencial ponderarmos sobre as ações de reeducação

em gênero e concretiza-lo em um trabalho a ser desenvolvido. Para isto, faz-se necessário um

programa educacional e pedagógico que tenha como objetivo a desconstrução e reconstrução

dos papéis feminino e masculino, que informe e denuncie as desigualdades existentes, e que

facilite um processo de reflexão sobre as consequências dessas desigualdades, que evidencie o

imaginário social, no âmbito privado e público.

O paradigma da complexidade, enquanto referencial teórico, não concede certezas absolutas.

Contudo, o mesmo propicia ampliar o conhecimento e alternativas sobre a violência e suas

vítimas, indicando caminhos provisórios e dinâmicos para a ressignificação de possibilidades e

informações absorvidas.

Referências

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