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Elizabeth Cavalcanti Bezerra A VISÃO CLÍNICA NA ORGANIZAÇÃO Monografia apresentada a Universidade Católica de Pernambuco/Libertas Clínica Escola pela aluna Elizabeth Cavalcanti Bezerra, como requisito para obtenção do certificado de Pós-Graduação em Análise Bioenergética, sob a orientação da Professora Grace Wanderley de Barros Correia. Recife, 2004.

A visão clínica na organização - Libertas · Lowen em seu livro “Narcisismo” (1983) faz uma análise da cultura atual enfatizando o consumismo e os valores narcísicos, onde

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Elizabeth Cavalcanti Bezerra

A VISÃO CLÍNICA NA

ORGANIZAÇÃO

Monografia apresentada a Universidade Católica de Pernambuco/Libertas Clínica Escola pela aluna Elizabeth Cavalcanti Bezerra, como requisito para obtenção do certificado de Pós-Graduação em Análise Bioenergética, sob a orientação da Professora Grace Wanderley de Barros Correia.

Recife, 2004.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS por ter me dado força, coragem e persistência

para mergulhar na dolorosa aventura da auto-descoberta, numa volta ao passado,

na busca de abrir meu coração para a VIDA e o AMOR.

Agradeço a minha mãe e a meus filhos pela compreensão e paciência nos

momentos de minha ausência na família.

Ao meu amigo Wilson pelo apoio e valiosa contribuição na construção e conclusão

deste trabalho, disponibilizando seu precioso tempo inclusive em finais de semana.

À TELEMAR pela liberação dos dias em que precisei me ausentar e por tornar

financeiramente viável a realização deste projeto.

Por fim agradeço aos mestres e a todos os colegas de curso que tanto contribuíram

com suas experiências, emprestando suas histórias e também, escutando e

compreendendo as minhas histórias, facilitando a compreensão de mim mesma e

ajudando no meu crescimento pessoal e profissional.

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Nada podes ensinar a um homem. Podes

somente ajudá-lo a descobrir as coisas

dentro de si mesmo.

Galileu

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RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica e evidência de um caso, com a intenção de mostrar como uma visão clínica baseada na teoria da Análise Bioenergética pode contribuir na saúde de uma organização. As organizações se preocupam com o desenvolvimento técnico de seus colaboradores e as vezes esquecem de desenvolver o autoconhecimento dos mesmos. Um dos fatores conflitantes entre colaborador/empresa, são as relações interpessoais por causa das diversidades e diferenças individuais. As pessoas não sabem ou tem medo de expressar suas emoções e sentimentos e isto causa conflitos. A Análise Bioenergética é uma abordagem terapêutica originalmente clinica que pode ser utilizada em outros seguimentos, inclusive na organização. Sua meta é desenvolver a habilidade de auto-expressão através de exercícios específicos que ajudam as pessoas a resolverem problemas emocionais e criar um ambiente mais harmônico na organização.

Palavras chave: emoção, sentimento, comunicação, relacionamento.

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SUMÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................06

OBJETIVOS...............................................................................................................08

1. VISÃO CLÍNICA SEGUNDO A BIOENERGÉTICA ...............................................09

2. COMPREENDENDO O SER HUMANO.................................................................13

3. A ORGANIZAÇÃO .................................................................................................23

4. A CLíNICA NA ORGANIZAÇÃO ...........................................................................25

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................30

REFERÊNCIAS ........................................................................................................34

ANEXO......................................................................................................................35

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INTRODUÇÃO

Toda a organização independente do tamanho que ela tem um elemento principal

que é o ser humano, e munido deste referencial este trabalho pretende mostrar o

quanto este elemento é primordial para o sucesso de qualquer empreendimento.

Nas relações indivíduo-organização é necessário que se estabeleça uma linguagem

adequada na comunicação daquilo que se espera dos colaboradores e das

condições e ferramentas para atingir um desempenho; esta situação pode ser obtida

mediante a busca de um comportamento ético que garanta um ambiente sadio de

trabalho.

A melhor forma de estimular um comportamento ético é incorporar, em todos os

níveis hierárquicos, atitudes de respeito à individualidade e a preocupação pelo

ambiente de trabalho. O comportamento ético é um ganho que as organizações

adquirem quando os colaboradores percebem que a organização preocupa-se com

o seu bem-estar. Em retribuição, eles direcionam suas competências para atingir um

bom desempenho naquilo que a organização espera deles.

Ambiente de trabalho poluído por focos de insatisfação permitem que a frustração,

competitividade e direcionamentos individuais tomem conta do desempenho e da

motivação dos colaboradores. Porém, uma gestão de desenvolvimento de talentos,

que leve em consideração o comportamento humano e organizacional, pode reverter

essa situação.

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A organização pode ter os mais bem desenhados processos e os mais sofisticados

sistemas, mas se o relacionamento interno não for saudável, nada irá funcionar. Isso

significa que é necessário conhecer bem as pessoas. Estar engajado com cada

membro da equipe, um a um, com contato direto.

Para que haja um bom relacionamento entre as pessoas, é preciso que, em primeiro

lugar, elas se conheçam a si próprias. Quanto mais as pessoas se conhecem,

melhor saberão reagir em diversas situações aumentando assim o autocontrole.

Num relacionamento, é preciso que a pessoa seja verdadeira. O artificialismo não

traz nada de produtivo e só pode causar mais problemas a relação. Quanto mais

aberto um relacionamento, mais confiança deposita-se na pessoa. Quanto mais

acredita-se na pessoa, mais assuntos revela-se a ela. Quanto mais claros formos

com os outros mais claros eles serão conosco.

A Análise Bioenergética é uma abordagem psicoterápica que enfatiza o corpo no

tratamento de ajuda, analisando o processo analítico e energético do indivíduo

objetivando sua unidade.

Os exercícios bioenergéticos promovem o autoconhecimento, portanto, facilitam o

relacionamento interpessoal e contribuem de modo significativo com as

organizações na direção da integração das equipes e da canalização da energia

criativa na produtividade e saúde.

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OBJETIVO

Evidenciar como a visão da Análise Bioenergética pode contribuir na

compreensão do funcionamento das organizações atuando na gestão de

pessoas e equipes.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Mostrar como a não expressão dos sentimentos, interferem nas relações

interpessoais;

Mostrar como ter consciência e controle das emoções pode influenciar

positivamente na produtividade dos colaboradores de uma organização;

Mostrar como os exercícios da Bioenergética podem facilitar a expressão das

emoções, possibilitar o autoconhecimento e influenciar na saúde das

organizações.

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1. VISÃO CLÍNICA SEGUNDO DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Para o estudo e a compreensão da Análise Bioenergética temos que entender

antes a Psicanálise de Freud, e a Terapia Corporal de Reich.

Freud (1856-1939) foi o começo de tudo. No esforço de compreender melhor seus

pacientes, ele iniciou um difícil processo de auto-análise. Freud trabalhou com

introspecção e interpretação de seus próprios sonhos. Em 1896, utilizou pela

primeira vez o termo Psicanálise.

Freud acreditava que histeria era uma forma de manifestação da neurose, na qual

emoções reprimidas levariam aos sintomas da histeria. Estes sintomas poderiam

desaparecer se o paciente conseguisse expressar as emoções reprimidas que lhe

impediam de lidar com uma vida normal. Com isso, Freud trabalhou no

desenvolvimento de forma que atingissem essas emoções reprimidas.

Freud desenvolveu a livre associação; uma técnica psicanalítica onde o paciente fala

tudo que lhe vem à mente e ao falar surge sentimentos e memórias reprimidas. A

livre associação é considerada uma das formas de se penetrar no inconsciente,

podendo assim trabalhar essas experiências e entender a causa da neurose.

Wilhelm Reich (1897-1957), desenvolveu a Psicologia Corporal, ciência que estuda

o homem em seu aspecto psicodinâmico, onde o corpo e a mente são trabalhados

em seu conjunto e em sua relação funcional.

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Reich abandonou a técnica da psicanálise quando descobriu que o corpo contém a

história de cada indivíduo e é por meio dele que se deve resgatar as emoções mais

profundas.

Assim, Reich criou sua própria escola de pensamento e técnicas específicas, cuja

prática está voltada tanto ao trabalho do corpo, como da mente, cuja base se dá na

atuação direta sobre o sistema neurovegetativo. A essa técnica, Reich denominou

de Vegetoterapia.

Na continuidade de seus trabalhos, Reich também descobriu que a energia que

circula dentro do corpo humano é a mesma que no cosmos, à qual chamou de

energia orgônio.

Então, sua técnica de trabalho passou a ser denominada Orgonoterapia, porque

passou a integrar em um único trabalho as questões psicológicas, corporais e a

dinâmica energética do paciente. Assim, consolidou-se a ciência que Reich chamou

de Orgonomia.

Tomando por base os trabalhos iniciais de Reich, o médico americano Alexander

Lowen complementou, acrescentou e modificou as técnicas iniciais, até encontrar

seu jeito próprio de trabalhar. Construiu suas próprias teorias e práticas e denominou

sua escola de Análise Bioenergética, criada em 1956.

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A Análise Bioenergética também se baseia na teoria da Psicanálise no que diz

respeito à história analítica e à dinâmica familiar que, inscritas no corpo, influenciam

a estrutura corporal e o comportamento do indivíduo.

Lowen ao estruturar, desenvolver e aprofundar a descrição do funcionamento dos

tipos caracterológicos descritos por Wilhelm Reich, introduziu a leitura corporal onde

é possível ao psicoterapeuta diagnosticar à dinâmica energética dos bloqueios

ligada à compreensão da história da pessoa.

A Análise Bioenergética é uma abordagem terapêutica que compreende a pessoa e

seus problemas emocionais nos termos da dinâmica energética de seu corpo, pois o

corpo não mente, têm a história do indivíduo gravada, ao contrário da palavra que

muitas vezes vem recheada dos mecanismos de defesa egóicos.

A meta da Análise Bioenergética é desenvolver no individuo a habilidade de

expressar-se plenamente. Esta habilidade depende da autopossessão, ou seja,

poder tomar posse de seus verdadeiros sentimentos.

Para desenvolver um senso de si mais forte, aumentar o sentimento corporal e

promover a identificação com sua natureza sexual, aumentamos a carga energética

do corpo ajudando a pessoa a sentir-se mais conectada com o chão (Grounding),

com seu corpo e com a sua sexualidade.

Lowen desenvolveu os conceitos básicos de “Grounding”, “Respiração” e

“Sexualidade” e estendeu o conceito da análise do caráter para o físico mostrando

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como os tipos caracterológicos são estruturados no corpo, compreendendo assim a

personalidade da pessoa a partir da experiência vivida no contexto familiar.

Lowen em seu livro “Narcisismo” (1983) faz uma análise da cultura atual enfatizando

o consumismo e os valores narcísicos, onde o ter e o fazer se tornam mais

valorizados do que o ser e o sentir.

A Análise Bioenergética trabalha no sentido de resgatar a auto-regulação do

organismo e a integração dos aspectos físicos, emocionais e espirituais do ser

humano.

É um movimento de mergulhar para o interno, de se apossar do próprio potencial e

então com esta retomada poder estabelecer vínculos de uma forma mais equilibrada

energeticamente, sem tantas defesas e impedimentos.

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2. COMPREENDENDO O SER HUMANO

Para Damásio (1996), a emoção e o sentimento são na verdade indispensáveis para

a racionalidade. Os sentimentos encaminham-nos na direção correta, levam-nos

para o lugar apropriado do espaço de tomada de decisão, onde podemos tirar

partido dos instrumentos da lógica.

Se não fosse a possibilidade de sentir os estados do corpo, que estão inerentemente

destinados a ser dolorosos ou prazerosos, não haveria sofrimento ou felicidade,

desejo ou misericórdia, tragédia ou glória na condição humana.

A emoção colore ou adultera as idéias, obnubila ou exalta a vontade, fixa ou

dispersa a atenção, faz sonhar – às vezes, ter pesadelos – e interpenetra a

personalidade (ou identidade) e o temperamento.

Dentre os vários autores que sistematizaram o estudo das emoções, Reich trouxe

várias contribuições e estabeleceu muitas idéias que nortearam a quase totalidade

das terapias baseadas na abordagem corporal e inovaram a educação e a política

social.

Segundo Reich (1989) se avalia a capacidade de sentir de um organismo pela sua

resposta aos estímulos. Sabemos que um organismo sentiu uma excitação quando

ele responde por um movimento.

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A base das funções físicas dos organismos vivos é a expansão e a contração. Reich

supõe que não existe emoção sem expansão e contração. A emoção depende da

existência e do movimento de um ser vivo e apresenta uma função somática. Por

exemplo, a tristeza corresponde a um encolhimento do sistema nervoso autônomo.

Assim, a energia biológica governa tanto o psíquico como o somático, fazendo

prevalecer uma unidade funcional.

O conceito de unidade funcional é fundamental em Reich. Segundo esse conceito, o

indivíduo é sempre considerado como um todo, um complexo que não distingue

mente e corpo, isto é, o que ocorre na mente é o que está ocorrendo no corpo e

vice-versa. Este todo é o conjunto de órgãos, músculos e ossos, bem como o corpo

do desejo que sente e se emociona na interação com outros no ambiente social.

Outro conceito fundamental em Reich é o conceito de energia que, de forma

resumida, pode ser considerada como o conceito físico estabelecido por Einstein. A

energia está presente em todas as coisas vivas, em todos os processos da vida, nos

movimentos, nos sentimentos e pensamentos.

Contração e expansão, pulsação e fluxo, tensão/carga/descarga/relaxamento, são

aspectos que designam o funcionamento do organismo. Então, podemos afirmar que

o ritmo energético fundamental da vida é representado, por exemplo, pela

respiração, com a contração e expansão dos pulmões, pela digestão, com os

movimentos peristálticos do estômago e intestinos. Esse ritmo energético pode ser

encontrado tanto nos organismos unicelulares primitivos, quanto nos seres humanos

em toda sua complexidade.

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É importante associar as sensações, sentimentos e emoções, a ondas em

movimento interno de um corpo líquido, uma vez que o corpo é formado por água.

Os nervos medeiam tais percepções e coordenam as reações, mas os impulsos e

movimentos subjacentes, são inerentes à carga energética do corpo, ao seu fluxo e

pulsação naturais. Estes movimentos internos representam a mobilidade do corpo,

distinguindo-se dos movimentos voluntários que estão sujeitos a controle consciente.

Um último conceito fundamental de Reich trata-se da tensão muscular/couraça e o

seu relaxamento através do aprofundamento da respiração. A respiração como

processo resolutivo, estabelece as bases por onde se alicerçaram todas as terapias

corporais que visam um efeito psíquico. Para Reich, a tensão muscular deve ser

entendida como contração ou espaticidade muscular crônica, representando a forma

como todos os conflitos emocionais estão presentes no corpo. As frustrações e

emoções contidas e bloqueadas que se acumulam no corpo, distorcem-no e

transformam-no num retrato desses conflitos. Assim, revela-se nele, a maneira como

o indivíduo está situado no mundo e com que intensidade vive.

Estas contrações estão nos grandes músculos externos voluntários e também nos

pequenos músculos internos involuntários da traquéia e dos brônquios, do canal

intestinal e do sistema vascular. Lembremo-nos que não existe tensão nervosa que

não esteja relacionada a contrações e espaticidades muscular crônicas. Muitas

pessoas chamam-na de tensão nervosa porque não estão em contato com o estado

de tensão muscular de seus próprios corpos. Elas não sentem a constrição que pode

desenvolver-se na garganta, o enrijecimento da nuca e cintura escapular, a

espaticidade do diafragma, ou os “nós” nos músculos das pernas. Não tendo essas

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percepções, não podem liberar a tensão muscular e procuram fazê-lo usando

medicação para reduzir seu estado de ansiedade. É muito melhor, embora não seja

mais fácil, trabalhar diretamente com a tensão muscular para conseguir o estado de

relaxamento e de mudanças profundas em seu comportamento, uma vez que estas

tensões bloqueiam a busca da pessoa em direção ao prazer existente fora de si.

A respiração está diretamente relacionada ao estado de excitação do corpo. Quando

estamos calmos e relaxados, a nossa respiração é lenta e suave. Em estado de

elevada emoção, ela se torna mais rápida e intensa. Quando estamos com medo,

inspiramos rapidamente e seguramos o fôlego. Se estivermos tensos, a respiração

se torna pouco profunda. O inverso também é verdadeiro: respirar fundo ajuda a

relaxar o corpo.

Nesses processos, considera-se a energia que é produzida através da respiração e

do metabolismo, carga e descarga de energia nos movimentos realizados. Estas são

as funções básicas da vida. A quantidade de energia que temos e como a usamos,

determina a forma como estamos na vida.

Os processos energéticos do corpo estão relacionados ao seu estado de vitalidade.

Quanto mais vigorosos, mais energias têm. Rigidez e tensão crônica diminuem a

vitalidade e rebaixam sua energia.

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Quando busca-se o autoconhecimento através da linguagem expressiva do

organismo, dificilmente traduzível em palavras, caminha-se em direção à

espontaneidade e à descarga energética emocional.

Um conceito fundamental na teoria de Lowen é o conceito de grounding

(enraizamento): significa entrar em contato com o chão. Estar em contato com o

chão é oposto a ter uma obsessão, a estar no ar.

O enraizamento implica em conseguir, “deixar acontecer”, fazendo o centro de

gravidade recair mais embaixo. Implica em sentir-se mais perto da terra. Ele é

composto por quatro funções de contato: com o corpo, com a terra, com o psiquismo

e com a própria sexualidade.

O contato com o corpo requer a liberdade de movimento deste em todas as

modalidades de expressão. Quando se tem os pés no chão, caminha-se

graciosamente e pode-se expressar a agressão e o amor com movimentos

apropriados. O contato com o corpo também requer que haja consciência das

tensões musculares, dos bloqueios que impedem a expressão mais natural, levando

a uma expressão estereotipada.

O contato com a terra significa deixar a energia fluir para a terra. É também receber

a energia da terra. Há uma coerência entre o fato de se receber a energia da terra e

o de deixar fluir a energia para a terra, com o conceito de energia que se move para

cima e para baixo dentro do corpo como uma onda pulsante. Se a pessoa estiver em

contato com a terra então terá os pés no chão, sabe-se onde estar. Se sabe onde

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estar, sabe-se onde pisa-se e qual sua posição no mundo e na vida. Sabe-se quem

é. Conseqüentemente, durante o movimento, há uma percepção de ter e de

interromper o contato com a terra.

O contato com o psiquismo significa ter contato com o corpo e com a terra, é poder

se conhecer. É essencial adquirir um conhecimento emocional daquilo que o corpo

está expressando, tanto físico quanto psiquicamente, e também compreender o

significado de quem somos e porque nos tornamos dessa maneira.

Alexander Lowen define a Análise Bioenergética como “uma aventura de

autodescoberta que busca entender o ser humano, através da compreensão dos

processos energéticos do corpo e de como esses atuam na mente”. (Lowen, 1982)

E finalmente, o contato com a sexualidade é o último elemento que envolve a

expressão total da personalidade, através da sexualidade e do pleno funcionamento

genital. Quando a função genital não é livre (pélvis bloqueada), não consegue-se

ficar completamente firme no chão.

Além dessas quatro funções de contato, Lowen lembra ainda, que ninguém pode

estar grounded (enraizado) sem estar respirando corretamente, sem contato com os

olhos, sem pleno domínio da voz, etc.

Estar grounded então, representa o nosso contato com as realidades básicas de

nossa existência. É estarmos firmemente plantados na terra, identificados com o

nosso corpo, ciente da nossa sexualidade e orientados para o prazer.

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A partir desse conceito de grounding, Lowen abordou a questão das emoções. A

palavra emoção descreve movimento para, em direção de... Uma emoção é o

movimento de resposta a um estado de excitação de prazer ou de desprazer.

Existem as emoções simples como raiva e medo, que levam a uma resposta direta.

Duas ou mais emoções produzem respostas mais complicadas. No ressentimento,

por exemplo, há raiva e medo encoberto por hostilidade. Quando as emoções são

misturadas com juízo de valor, o resultado é emoção conceitual ou sentimento.

Culpa, vergonha e vaidade estão nessa categoria de emoção.

A partir dos princípios reichianos, em que os movimentos estão ligados à quantidade

de carga energética do corpo, seu fluxo e pulsação, Lowen descreveu de uma forma

didática, os aspectos da raiva e do amor e suas polaridades, o medo e o ódio:

A- Raiva

Lowen aponta como suas tonalidades, o aborrecimento, a irritação, a raiva

propriamente dita, a ira e a fúria.

Num quadro de aborrecimento, o estresse e o movimento são brandos. Já na

situação de irritação, a excitação está se construindo no sistema muscular, mas

ainda não existe uma resposta agressiva. Pode-se concluir, portanto, que a irritação

é um acumulo de aborrecimento.

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A raiva, por sua vez, é uma resposta à dor e não é destrutiva. A excitação no

sistema muscular atinge um ponto de ebulição. A resposta é involuntária, mas tem o

controle do ego.

A ira, já é uma reação a uma dor mais severa e tem uma qualidade destrutiva. O ego

participa na expressão dessa emoção, mas, pouco. Diferente da fúria, que é como

um turbilhão onde não há discriminação nem controle do ego.

Por outro lado, tanto o medo quanto à raiva são emoções de emergência que

mobilizam a musculatura do corpo. Quando se está com raiva, a energia se move

dos pés para o topo da cabeça. Quando há medo a energia vai para baixo. A cabeça

vai para trás e os ombros se encolhem. A relação entre as duas emoções é tal, que

se a direção dos movimentos for invertida uma se torna a outra. Isto é, se uma

pessoa que está com medo ataca, ela vai ficar com raiva e sem medo. Se no ataque

a pessoa se retrai, ela vai sentir medo e desiste do ataque. Ver-se então que

energeticamente essas emoções são polares.

B- Medo

Lowen distinguiu as seguintes nuances: apreensão, ansiedade, medo, pânico e

terror.

A apreensão é uma situação que promete prazer, mas também contém a

possibilidade de dor. Já, na situação de ansiedade, a ameaça de dor é

aproximadamente igual à promessa de prazer.

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Quanto ao medo, a situação pode se configurar como dor ou ameaça produzindo

desejo de escapar ou recuar. Há controle do ego. No caso de pânico, o medo é o

dominador e há o impulso de fugir. Puxa-se o ar como emergência. O ar fica preso

porque a garganta fecha e o peito fica rígido. Não consegue-se respirar. Quanto ao

terror, mais severo que o pânico, a musculatura se paralisa tornando a fuga

impossível. O terror se desenvolve em situações de dor ou de perigo insuportáveis.

É o que se chama estado de choque. Há uma fuga para o interior do organismo.

Pode-se desmaiar como forma de proteção ao ataque.

Esse foi um exemplo de duas emoções polares e seus aspectos. Pode-se , entender

o conceito de emoção como onda, correntes que fluem no organismo. Sua

intensidade sinaliza o tom da emoção.

C- Amor

O amor é um desejo forte de estar ao lado de alguém e que promete maior prazer

(alto nível de prazer quando o sexo é expressão do amor). Se não conseguimos

sentir prazer, é também limitada a nossa capacidade de amar. Se tivermos medo do

prazer temos também medo de amar. Sem prazer, nos privamos das experiências

que dão sentido à vida. O amor é uma reação expansiva, uma busca pelo outro e

pelo mundo. Pessoas afetivas são extrovertidas, calorosas, relaxadas e doces.

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D- Ódio

A falta de prazer torna as pessoas amargas, frias, isoladas e tensas. O amor se

torna frio quando não há mais prazer na relação. Experiências dolorosas muito

prematuras desenvolvem sentimentos de hostilidade. Quando a decepção é muito

grande, o ódio se instala. Ele é o oposto do amor. O ódio é o amor que não pode ser

expresso. É o amor congelado. A forma de expressão do ódio é a fúria. Não

expresso, ele se manifesta na rigidez do corpo e no olhar frio, sem expressão.

“Aceitar toda a gama de sentimentos, expressá-los e conquistar o autodomínio são

os sinais ao longo da estrada que se percorre na viagem de autodescoberta”

(Lowen, 1995).

Relacionamentos adultos saudáveis, baseiam-se em liberdade e igualdade. Liberdade denota o direito de expressar livremente os próprios desejos e necessidades. Igualdade significa que estamos nos relacionamentos por nós mesmos, e não para servir o outro. Se não conseguimos falar abertamente, não somos livres. Se tivermos de servir a outro, não é nosso igual. (Lowen 1990).

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3. A ORGANIZAÇÃO

Apesar do avanço da tecnologia e da ênfase no processo de globalização, algumas

organizações são por excelência o palco da opressão e da desqualificação da

afetividade, uma vez que há dois séculos são projetadas e administradas sob um

modelo mecanicista e reducionista. Com a regulamentação da psicologia no Brasil

em Agosto de 1962, os estudiosos dessa área deram início a importantes pesquisas

para a construção de uma ciência que vislumbre um modelo de organização mais

humanística. Essa concepção restritiva que ainda predomina na maioria dos

ambientes de trabalho, explica a padronização da emocionalidade, a apatia, a

desmotivação, o descuido e a falta de dignidade encontrados em muitas empresas.

Na luta pelo sucesso tão valorizado nos dias de hoje, quando os fins justificam os

meios e a busca da excelência parece ter se tornado uma obsessão; perde-se a

conexão com o corpo. Estas exigências aliadas aos medos de desemprego e perda

de espaço no universo profissional tende a robotizar as pessoas e

conseqüentemente as pessoas adoecem cada vez mais e mais cedo. Em

conseqüência disso ocorre negligencia, boicote, desperdiço de bens, instalações e

materiais nas empresas.

O modelo mecanicista leva à despersonalização das relações interpessoais, a ponto

dos colaboradores serem vistos como recursos e tratados em manuais

administrativos. Há cegueira para os dados intrínsecos do homem e tabu frente aos

comportamentos emocionais nos ambientes de trabalho. Todavia, os problemas

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vividos hoje nas organizações mostram a urgência e a importância de compreender

as emoções, assunto muitas vezes tradicionalmente proibido e desqualificado.

Pesquisas atuais na psicologia mostram a importância da integração das emoções

para o equilíbrio intra e interpessoal. Essas pesquisas podem contribuir para mudar

práticas gerenciais e relações de poder nas organizações. A energia emocional é

propulsora da vida e como tal, deve ser levada a sério para que as organizações não

se transformem em fábricas de pessoas doentes, infelizes e estressadas. Ver-se

hoje em algumas organizações, o temor de chefes autocratas, tensão resultante de

conflitos, pressões e angustias, ansiedade e insegurança frente às incertezas,

frustrações decorrentes de vivências negativas sucessivas, mau humor e ironia

frente a incoerências, baixa auto-estima etc. Quando ignoramos esses problemas,

eles tendem a aumentar, resultando em perdas de produtividade e em desgastes na

saúde e qualidade de vida dos colaboradores.

O atual modelo administrativo e gerencial reflete uma incompreensão da natureza

humana e do fenômeno organizacional e, portanto, precisa ser modificado. A

dimensão subjetiva não deve ser ignorada, pois é cada vez mais perceptível que ela

dirige, canaliza e influencia a ação das organizações, tanto ou mais do que as

estratégias elaboradas de forma intencional e racional.

A empresa sadia, de sucesso é aquela que promove o desenvolvimento não só da habilitação técnica, mas principalmente, da capacitação interpessoal. Esta característica ou competência precisa ser desenvolvida em todas as pessoas, não somente no líder. Ela é a base do relacionamento humano. (MOSCOVICI, 1997,33)

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4. A CLINICA NA ORGANIZAÇÃO

Na relação indivíduo – organização existem elementos conflitantes que produzem

inadequações na organização funcional do trabalho e, conseqüentemente, criam

ambientes desfavoráveis para o desempenho.

Um dos principais fatores conflitantes na relação indivíduo-organização são as

expressões emocionais resultantes do sentimento de frustração. Esse sentimento

pode ter varias origens, mas, no ambiente organizacional, ele se produz no

relacionamento interpessoal e nas dificuldades das pessoas em atingirem os seus

objetivos pessoais e profissionais.

Em uma situação de conflitos interpessoais, a diversidade e as diferenças individuais

fazem com que o ambiente de trabalho torne-se um foco de insatisfação. Nesse

contexto, as relações interpessoais poderiam apresentar manifestações

comportamentais nocivas para a organização, como: inveja, distorções na

comunicação, medo, boicote, e assim por diante.

O papel do psicólogo clínico é conscientizar para desmobilizar ações ou atitudes

desumanas nas organizações e integrar emoções humanas positivas nas relações

interpessoais. Precisa-se substituir o uso do medo pela vivência da alegria, que

tornam as pessoas criativas, eficazes e saudáveis. O sucesso das organizações, em

uma economia globalizada e competitiva, dependerá do aproveitamento máximo dos

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potenciais energéticos internos, estimulando e caracterizando as emoções positivas

de seus membros em projetos desafiadores e significativos.

A partir deste pressuposto, o psicólogo clínico utiliza-se dos exercícios da

Bioenergética como forma de desbloquear as tensões corporais. Estes exercícios

combinam o trabalho com o corpo e com a mente para ajudar as pessoas a

resolverem seus problemas emocionais e melhor perceberem o seu potencial para o

prazer e para alegria de viver.

Bem como, possibilitar trabalhar no corpo as dificuldades de relações, as lutas pelo

poder, conflitos e, posteriormente, a construção da confiança e de um clima mais

harmônico e afetivo, transformando um ambiente competitivo em cooperativo.

“A empresa que desenvolver melhor emocionalmente os seus empregados terá uma

posição mais avançada” ( Moscovici, 1997,46).

Logo abaixo será citado um caso de resolução de conflitos, na abordagem da

Análise Bioenergética, vivido por um grupo de 10 pessoas de uma empresa.

O RH desta Empresa estava passando por uma fase difícil. Havia muita competição,

luta por poder, intrigas, inveja, auto-estima baixa. As pessoas já não se falavam

mais. A distribuição das mesas e cadeiras refletia o que estava ocorrendo naquele

ambiente, todos sentavam de costas, uns para os outros, inclusive para os clientes

internos que procuravam aquela unidade para resolver algum problema. O clima era

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insuportável, chegando ao ponto de algumas pessoas adoecerem e outras não

sentirem mais prazer em ir trabalhar.

Contratou-se uma consultoria com bastante experiência em trabalhos com grupos

dentro da visão da Analise Bioenergética.

Foram 12 horas de trabalho com exercícios e vivencias que permitem a expressão

pelo corpo de sentimentos reprimidos como raiva, inveja, ciúme, baixa auto-estima.

Estes exercícios ajudam na resolução de conflitos interpessoais a partir do momento

que os sentimentos são entendidos e expressos, respeitando os princípios básicos

de não se machucarem e respeitar os limites de cada pessoa.

Estes exercícios e vivencias ajudam as pessoas a refletirem de que forma estão se

colocando na vida, de como estão nos relacionamentos. Muitas vezes coloca-se a

culpa dos erros dos relacionamentos nos outros e não se percebe.

Ao término do segundo dia, todos saíram com a consciência de sua parcela de

responsabilidade na relação com o outro.

Houve uma mudança no comportamento das pessoas, houve também uma maior

consciência de si e aceitação do outro. A equipe passou a se relacionar de forma

mais harmônica. A primeira providência da equipe ao retornar ao trabalho, foi

modificar a posição de suas mesas e cadeiras na sala.

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É necessário que haja continuidade do trabalho até que a equipe atinja maturidade

suficiente para administrar melhor seus conflitos e faça uso desta prática no seu dia-

a-dia, para que o tempo e o corre-corre das atividades diárias não recaiam sobre os

mesmos erros. Este tipo de trabalho pode e deve ser mantido e desenvolvido

inclusive em equipes que não apresentem este nível de conflito, pois, quanto mais o

ser humano se conhece mais fácil ele se relaciona.

Atividades desenvolvidas na referida integração:

Apresentação – O nome, a origem e quem colocou – relação com a

construção da identidade;

Exercícios Bioenergéticos – grounding, respiração e desbloqueio das energias

nos seguimentos corporais – iniciando pelos pés e terminando na cabeça;

Saia – Não saio – quando há muita competição no grupo;

Esmurrar no ar – ainda competição;

Larga do meu pé – trabalha o sentimento de raiva;

Costa com costa – faz refletir sobre a qualidade das relações na vida;

Cócoras em dupla – exercício de confiança;

Reflexão do EU – refletir que aspectos do comportamento facilitam e

dificultam a convivência e o trabalho em equipe;

Dar e receber feedback – baseado no exercício de reflexão do EU.

Após cada atividade, se abria espaço para as pessoas falarem dos sentimentos que

emergiam.

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Queremos enfatizar, inicialmente, que estes exercícios não são substitutos da terapia. Eles não resolverão problemas emocionais profundos, os quais, geralmente, requerem uma competente ajuda profissional. Muito freqüentemente, pessoas que não estão em terapia e fazem esses exercícios decidem que precisam de tal ajuda para trabalhar os problemas que alcançaram sua consciência durante o curso dos exercícios. Mas, esteja você ou não em terapia, a execução regular desses exercícios, o ajudará significativamente a aumentar sua vitalidade e sua capacidade para o prazer. Estes exercícios podem ajuda-lo a ganhar mais autoconhecimento com tudo que este termo implica. Eles farão isso através do (1) aumento do estado vibratório do seu corpo, (2) grouding das pernas e do corpo, (3) aprofundamento da respiração, (4) agudização da auto consciência, e (5) ampliação da auto-expressão... (LOWEN, 1977,13 e 14).

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CONSIDERAÇÔES FINAIS

Uma visão clínica na mediação de situações de conflito pode minimizar as

conseqüências da frustração no ambiente das organizações. A frustração trás

desarmonia que recai sobre os relacionamentos e a comunicação. O ruído na

comunicação entre as pessoas nas organizações é responsável por grande parte

dos conflitos. O desafio esta em saber lidar com as causas que geram insatisfações,

no momento em que se apresentam divergências entre colaboradores ou entre eles

e a organização.

É comum ter-se receio de expressar sentimentos negativos. Quando crianças,

provavelmente reprimidas, recriminadas e rotuladas, hoje tornam-se adultos que não

se sentem com direito de expressão, pois podem ser julgados e abandonados.

Todavia, enquanto os sentimentos negativos não forem descarregados, não

conseguem sentir-se livres e iguais. Contidos, serão levados para os

relacionamentos adultos.

No início, os relacionamentos estão cheios de sentimentos positivos, mas com o

tempo, eles não se sustentam e o ressentimento aparece, pois, sem o sentimento de

sermos livres e iguais, nos sentimos aprisionados e insatisfeitos. Nesse momento, a

raiva reprimida é atuada e a falência da relação é inevitável.

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Isso acontece tanto nos relacionamentos pessoais quanto nos relacionamentos

profissionais. Na organização, essa raiva vai ser traduzida em boicotes, fofocas,

queda da produtividade, conflitos, agendas escondidas.

A expressão de sentimentos negativos de uma maneira adequada vai depender da

percepção consciente deles e do autoconhecimento. Para expressar raiva

verdadeiramente o som deve ser apropriado à situação. Berrar e gritar, geralmente

expressa ira e frustração, em vez de raiva. A raiva não é usada legitimamente para

controlar os outros, mas para salvaguardar a própria integridade e bem estar.

Adultos, geralmente não precisam gritar, berrar ou socar alguém para expressar a

raiva. Dependendo da auto-estima e do quanto se sente forte, podem fazer isso com

tranqüilidade. Em geral, tem-se muita dificuldade de colocar limites e de dizer não.

De escolher o que realmente se quer... Colocar limites pode significar ficar só ou não

ser amado.

Nas organizações, pode-se ser ferido emocionalmente de diversas maneiras: por

rejeição, humilhação, negação, ataques verbais ou físicos.

A dor emocional nas organizações, leva à queda da produtividade, porque

enfraquece a auto-estima e a capacidade de atuar e se relacionar favorecendo a

passividade e a submissão. A omissão frente a essa realidade, através da

desvalorização da dor, é prática comum na vida organizacional.

A vivência plena das emoções e a sabedoria de lidar com elas leva bem estar aos

indivíduos e onde eles estão presentes. Nas organizações, o que é importante não

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está somente nos relatórios e resultados observáveis, mas deve também ser inferido

através de outros pressupostos que estruturam e direcionam o pensar e o agir

organizacional. O mesmo pensar e agir que tenta rejeitar todos os aspectos não

racionais do trabalho.

É a aceitação das emoções como um componente importante do comportamento

humano e organizacional que torna as ações e decisões nas empresas mais

racionais e equilibradas. É sua negação que provoca conflitos e transtornos

imensos, criando ambientes em que impera a incerteza, a impulsividade, a

agressividade e a opressão.

Dar importância às emoções, também pode ser um meio de prevenção a muitos

problemas e conflitos como demissões injustas, por exemplo. Cuidar das pessoas e

das relações na organização abre espaço para a expressão dos conteúdos

emocionais que servirão para decisões mais justas, estabelecimento de prioridades

legítimas, ganho de tempo, relações de trabalho mais produtivas, ambientes mais

alegres e saudáveis.

Daí a importância do papel do profissional em psicologia clinica nas organizações,

para possibilitar a compreensão e expressão dos sentimentos e emoções humanas,

fazendo com que as tensões sejam desbloqueadas nas áreas corporais e grupais.

A dimensão afetiva do ser humano é fonte de manifestação e interferência no

contexto organizacional, e como tal, pode contribuir para a transformação das

organizações em busca de mais direitos sociais, ética, justiça, poder democrático e

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dignidade humana. Para assim também buscarmos uma sociedade como um lugar

que mereça realmente ser vivido.

O caminho para a saúde das organizações está em levar em conta o indivíduo total,

integral, o homem como ele é, levando em conta a capacidade intelectual, física,

mental, afetiva, controle emocional, competência interpessoal e os processos

subjetivos do ser humano. Observar e conhecer a sua totalidade, para que ocorra a

tão sonhada integração. Integrar é abrir canais afetivos que comunicam o que se

sente. No entanto, costuma-se bloquear este tesouro das relações humanas.

Afinal, as pessoas são o coração da empresa. E como tal o combustível pulsante da mesma. Portanto uma visão clinica das organizações pode trazer a naturalidade de um organismo vivo, que contrai e expande, como o próprio ritmo da natureza. O cuidado deve residir na possibilidade da organização não ficar tempos prolongados no movimento da contração. Porque sabemos daí advém a doença. (PANERAI, Jornal do Comércio, 2004).

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REFERÊNCIAS

ALVES, J. P. & CORREIA, G. W. de B. O Corpo nos Grupos. Recife: Libertas, 2004.

DAMASIO, A. R. O Erro de Descartes: Emoções, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

LOWEN, A. Amor, Sexo e seu Coração. São Paulo: Editora Summus, 1990.

___________. Bioenergética. São Paulo: Editora Summus,1982

___________ & LOWEN, L . Exercícios de Bioenergética: O Caminho para uma Saúde Vibrante. São Paulo: Editora Agora, 1985. MOSCOVICI, F. Razão & Emoção: A Inteligência Emocional em Questão. Salvador: Casa da Qualidade, 1997 REICH, W. Análise do Caráter, São Paulo: Martins Fontes, 1989. FADMAN, J. & FRAGER, R. Teorias da Personalidade, São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1979

Balerine, C. Relacionamentos dificeis no trabalho, www.catho.com.br, 2003

Francisco, A. L. A Ética e a Sociedade do Espetáculo, www.libertas.com.br, 2004

Gaudêncio, P. O Divã vai as Empresas, www.rh.com.br, 2003

Canizares, J. C. L. Desenvolvendo talentos humanos: O individuo e a

organizacao, www.rh.com.br, 2003

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ANEXOS

Exercícios de Bioenergética

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EXERCÍCIOS DE BIOENERGÉTICA

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