A_2015_Produção Científica Nos Cursos de Graduação

ARTIGOS

Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 67 (1): 20-3620

Produo cientfica em Psicologia nos cursos de graduao de psiclogosi

Joyce CostaI

Oswaldo Hajime YamamotoII

Produo cientfica em Psicologia nos cursos de graduao de psiclogos

Resumo

Esta pesquisa objetivou analisar a presena da produo cientfica nacional em Psi-cologia na formao graduada de psiclogos do Rio Grande do Norte. Focalizaram-se referncias bibliogrficas (bsicas e complementares) em planos de ensino de disciplinas do Ncleo Comum da formao, ministradas em 2011, em trs cursos do Estado. Analisaram-se aspectos bibliogrficos e contextuais da produo, como nacionalidade, vinculao dos autores a Programas de Ps-Graduao (PPGs), eixo estruturante da disciplina qual pertence, entre outros. Os resultados revelaram que a produo cientfica brasileira de Psicologia est presente na graduao algo positivo, visto sua importncia para o desenvolvimento da rea. Porm, tal insero menos expressiva que o crescimento da produo nos PPGs. A prevalncia de publi-caes estrangeiras na maioria dos eixos estruturantes indica lacunas da produo nacional em alguns domnios investigativos da Psicologia e descompasso entre o que investigado nos PPGs e o que visto na graduao da rea.

Palavras-chave: Comunicao cientfica; Ps-Graduao; Ensino de psicologia.

Papers of College students of Psychology under investigation

AbstRAct

This research aims to analyze the presence of scientific production in psycholo-gists undergraduate in Rio Grande do Norte. It focuses on the bibliography sug-gested on the subject plans of the basic undergraduate curriculum in Psychology, held in 2011, in three courses. The analysis refers to bibliographic and contex-tual aspects of the production, such as nationality and professional bonds of the authors from Postgraduate Programs. The results revealed that Brazilian scientific production in Psychology can be found on the undergraduate curriculum. Never-theless, the inclusion of Brazilian scientific production on the psychologists under-graduate courses is not as expressive as its growth in Postgraduate Programs, which indicates gaps on some researching domains on the national Psychology

Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 67 (1): 20-36 21

Costa J., Yamamoto O. H.

and a discrepancy between what is investigated in Postgraduate Programs and what is studied during the undergraduate courses.

Keywords: Scientific production; Postgraduate; Teaching Psychology

Produccin cientfica en psicologa en la formacin de grado de psiclogos

Resumen

Esta investigacin objetiva analizar la presencia de la produccin cientfica brasilea en la formacin de grado de psiclogos de Rio Grande do Norte. Se apunt hacia las referencias bibliogrficas recomendadas en las asignaturas del Ncleo Comn curricular, profesadas en 2011, en tres cursos. El anlisis fue acerca de aspectos bibliogrficos y contextuales de la produccin, como la nacionalidad, vinculacin de los autores a los Programas de Posgrado, eje estructural de la asignatura. Los resul-tados han revelado que la produccin cientfica brasilea de Psicologa est presente en el currculo, algo positivo, dada su importancia para el desarrollo de la zona. Sin embargo, dicha insercin en la formacin de psiclogos ocurre de modo menos expre-sivo que su crecimiento en los Programas de Posgrado. La prevalencia de publicacio-nes extranjeras en la mayora de los ejes estructurales indica huecos en el desarrollo de algunos dominios investigativos de la Psicologa nacional y el descompaso entre lo que es investigado en los cursos de Posgrado y lo que es estudiado en el grado.

Palabras clave: Comunicacin Cientfica; Posgrado; Enseanza de Psicologa

Introduo

Conforme apontam alguns ndices nacionais e internacionais, o Brasil cresceu em nmero de produes cientficas nos ltimos anos e aproxima-se de naes centrais no cenrio da cincia mundial historicamente representadas por pases da Europa, da Amrica do Norte e da sia (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior [CAPES], 2010; Nature, 2012; Organizao das Naes Unidas para a Educa-o, a Cincia e a Cultura [UNESCO], 2010; SCImago, 2007). Embora tais ndices no retratem com exatido o crescimento da produo nacional as classificaes empre-endidas por reconhecidas bases de dados (como Scopus ou Web of Science) consi-deram apenas a produo em formato de artigos veiculada em peridicos indexados pelas mesmas , tal expanso reflete o desenvolvimento cientfico do pas, produto de polticas governamentais empreendidas nesse mbito. Dentre estas, destacam-se as voltadas para o desenvolvimento das universidades pblicas e de seus programas de ps-graduao, considerados os centros da atividade cientfica brasileira.

Acompanhando tal desenvolvimento, a Psicologia no destoa desse cenrio: entre 1996 e 2008, a quantidade de cursos de graduao na rea cresceu 150%. Atual-mente, apresenta-se como a segunda maior rea em Cincias Humanas em nmero de programas e cursos de ps-graduao (n = 77) (CAPES, 2014). Outrossim, observa-se crescimento quantitativo de suas publicaes: basta verificar que, no tri-nio 2010-2012, os PPGs de Psicologia produziram 11.764 publicaes (7.373 artigos e 4.391 livros e captulos de livros), contra 8.034 do trinio anterior (Bastos, Andery, & Trindade, 2013).

22


Esse crescimento no tem passado despercebido internacionalmente: em levanta-mento empreendido por Garca-Martnez, Guerrero-Bote e Moya-Anegn (2012) sobre a produo cientfica de Psicologia publicada no perodo 2003-2008 e indexada na base Scopus, as publicaes brasileiras na rea destacaram-se pelo aumento num-rico. Contudo, as mesmas se mantiveram distantes do topo da lista desse levanta-mento, ocupado pelos EUA, Reino Unido, Canad, Alemanha, ustria e Holanda, que, juntos, concentraram 70% da produo do perodo.

O aumento do nmero de peridicos, de programas de ps-graduao com douto-rado, das facilidades para publicao de livros, dentre outros fatores, sugerem que as produes em Psicologia ainda tendem ao crescimento nos prximos anos. Esse fenmeno suscita diversas questes, que envolvem desde a qualidade do que se publica at a destinao dessa produo. Tomando essa ltima inquietao, ques-tiona-se: tal produo tem subsidiado o desenvolvimento da rea, ultrapassando os muros dos programas de ps-graduao (PPGs)? Alm da preocupao atual com a insero social dos PPGs, tal ultrapassagem tambm pode ocorrer, basicamente, de duas formas: pela insero das publicaes cientficas no mbito da graduao ou por sua utilizao na prtica profissional, sendo a primeira a que interessa diretamente presente pesquisa.

Essa interrogao reveste-se de relevncia na medida em que se reconhece que o Sistema Nacional de Ps-Graduao (SNPG) pode oferecer contribuies para diver-sos mbitos, especialmente para o campo educacional. Nesse sentido, a cooperao com a graduao defendida por diversos autores, sobretudo com vistas qualifi-cao do ensino graduado. Tal qualificao pode ser alcanada, dentre outras for-mas, pela atualizao do conhecimento transmitido, com a incluso de saberes mais recentes e contextualizados, propiciando uma aproximao com a realidade, que , em si, multifacetada (Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Psicolo-gia [ANPEPP], 2012; Fres-Carneiro, Bastos, Feitosa, Seidl-de-Moura, & Yamamoto, 2010; Yamamoto, 2006).

Assim, o crescimento da ps-graduao da rea e de suas publicaes cientficas tem o potencial de sanar ou atenuar algumas defasagens historicamente observadas na formao graduada de psiclogos. Esses problemas envolvem, dentre outros fatores, a utilizao excessiva e acrtica de contedos estrangeiros e pouca proximidade dos conhecimentos disseminados com a realidade nacional (Botom, 1979; Lo Bianco, Bastos, Nunes, & Silva, 1994; Mello, 1975; Zanelli, 1995). Na contramo desse pro-cesso, alguns estudos apontam mudanas nos ltimos anos, com crescente utilizao de publicaes brasileiras na graduao, maior criticidade no uso de trabalhos estran-geiros material esse no desprovido de relevncia, principalmente considerando-se as obras clssicas (Ferreira Neto, 2010; Hutz, Gomes, & McCarthy, 2006; Souza & Souza Filho, 2009).

Tal como em mbito nacional, a formao em Psicologia no Rio Grande do Norte no escapa de crticas: de modo geral, tanto pesquisadores quanto os prprios profissionais problematizam a capacitao profissional na rea, assinalando tradicionalismo terico-metodolgico, com forte vis clnico. Consequentemente, tal formao ava-liada como insuficiente, sobretudo frente aos novos campos de insero do psiclogo (Ribeiro, 2010; Seixas & Yamamoto, 2012; Yamamoto & Cunha, 1998; Yamamoto, Siqueira, & Oliveira, 1997).

Diante do exposto, o estudo ora apresentado objetivou analisar a presena da pro-duo cientfica nacional em Psicologia na formao graduada de psiclogos no Rio Grande do Norte. Embora os resultados e anlises refiram-se realidade dos cursos desse Estado, acredita-se que os mesmos possam servir para pensar a relao entre a produo dos PPGs e a graduao em mbito nacional, visto que os cursos possuem caractersticas muito semelhantes quelas apresentadas em outras regies (como



poder ser observado mais adiante), alm do fato de responderem s mesmas dire-trizes norteadoras da formao na rea.

mtodo

A investigao aqui apresentada tratou de uma pesquisa documental, com carter descritivo-exploratrio. Teve como alvo as referncias bibliogrficas mencionadas em planos de ensino de disciplinas ligadas ao Ncleo Comum dos cursos de Psicologia do RN. Atualmente, os cursos de graduao em Psicologia no Brasil devem planejar e organizar sua grade de disciplinas em dois blocos: o Ncleo Comum, que visa con-ferir uniformidade nacional formao na rea, e nfases Curriculares, que subs-tituem os estgios por rea e permitem ao aluno aprofundar-se em algum campo especfico da Psicologia, sem, contudo, implicar em especializao em alguma rea (Resoluo n 5/2011). A fim de retratar o cenrio mais atual, optou-se por coligir os planos de ensino das disciplinas ministradas em 2011 (ano em que foi realizada a coleta).

A anlise desse material constitui-se em via legtima de investigao, uma vez que permite verificar em que medida os conhecimentos produzidos em mbito institucio-nal, nacional e internacional esto presentes nos cursos de Psicologia. Cabe notar que a delimitao da pesquisa em disciplinas do Ncleo Comum desses cursos justi-fica-se na medida em que esse bloco da formao objetiva conferir homogeneidade preparao bsica do psiclogo em todo o territrio nacional.

Atualmente, cinco instituies de ensino superior (IES) ofertam cursos de Psicolo-gia no Estado, e todas esto localizadas na cidade de Natal/RN. Assim como ocorre em mbito nacional, h predomnio da rede privada de ensino. Juntas, as institui-es ofertam aproximadamente 665 vagas para graduao em Psicologia ao ano (Tabela 1). Quanto ao desenvolvimento de pesquisas, apenas uma delas possui pro-grama de ps-graduao na rea, com conceito cinco, conforme a ltima avaliao empreendida pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES, 2014).

Tabela 1: Dados gerais sobre Instituies de Ensino Superior do Rio Grande do Norte que possuem cursos de graduao em Psicologia

Ano de incio do curso

Organizaoacadmica

Natureza administrativa Vagas ofertadas

Conceito ENADE 2009b

IES 1 1977 Universidade Pblica 45 5

IES 2 1999 Universidade Privada 300 2

IES 3 2004 Faculdade Privada 100 4

IES 4 2005 Faculdade Privada 100 -

IES 5 2012 Faculdade Privada 120 -a Fonte: emec.mec.gov.brb Conceito do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes: trata-se de um processo avaliativo empreendido pelo Ministrio da Educao e rgos vinculados, com o propsito de medir o desempenho dos alunos de graduao em relao a contedos programticos, suas habilidades e competncias. Os dados apresentados correspondem ltima avaliao dos cursos de Psicologia publicada na poca da pesquisa, obtida de http://portal.inep.gov.br/planilhas-enade, em 23 de setembro de 2012.

24


Procedimentos de coleta e anlise dos dadosA coleta dos planos de ensino ocorreu entre o segundo semestre de 2011 e o primeiro de 2012, tendo sido solicitados s coordenaes dos cursos. A anlise incidiu sobre 121 documentos de trs cursos do Estado, sendo um pblico e dois privados. Jun-tos, esses planos mencionaram 811 publicaes distintas. Cabe esclarecer que esse montante de documentos no corresponde totalidade dos cursos existentes (n = 5) nem das disciplinas ofertadas pelos cursos, devido a alguns obstculos: um dos cur-sos passou a funcionar apenas em 2012, e uma das instituies no disponibilizou os documentos, de modo que esses dois cursos no participaram da pesquisa. Das demais IES, o material foi obtido parcialmente, correspondendo a 51%, 70% e 96% dos planos de ensino de cada curso.

As informaes buscadas sobre as referncias bibliogrficas mencionadas nos docu-mentos referiram-se a aspectos bibliomtricos das produes cientficas. preciso fazer a ressalva de que h um campo especfico da Cincia da Informao que se detm sobre esse tipo de informao: trata-se da Bibliometria, rea voltada para o estudo quantitativo da elaborao, disseminao e circulao de publicaes cientficos, bem como seus autores e usurios. Busca identificar, dentre outras coisas, padres de distribuio da literatura nas regies, contribuio realizada por instituies de pesquisa, variaes da produo de reas do conhecimento e produtividade dos autores (Macias-Chapula, 1998; Santos & Kobashi, 2009; Silva, Hayashi & Hayashi, 2011). Assim como os trabalhos dessa rea, compreende-se que a anlise de aspectos bibliogrficos oferecem indicadores para caracterizao e avaliao dos padres de publicaes citadas nos documentos (Silva, Hayashi, & Hayashi, 2011; Vanz & Stumpf, 2010), auxiliando a presente pesquisa a responder a questo inicial.

Quando um dado estava ausente nos planos de ensino (por exemplo, ano da publi-cao), recorreu-se a fontes de informao complementares, a saber: Currculo Lat-tes, sites pessoais dos pesquisadores ou as prprias publicaes citadas nos planos. As informaes coligidas foram organizadas em banco informatizado de anlise de dados. Para anlise, recorreu-se estatstica descritiva simples frequncias e per-centuais. Os dados foram analisados em dois blocos: a) De onde vem essa produ-o?, que diz respeito origem de toda produo recomendada nos planos de ensino e compreende nacionalidade, se presente em programa de ps-graduao e qual a sua rea essas duas ltimas informaes tomam como referncia o ano da primeira edio da publicao; e b) Que produo dos PPGs de Psicologia sugerida?, que buscou analisar mais detalhadamente os materiais dos referidos programas quanto a outros aspectos, a saber: ano da publicao, autoria (primeiro autor), distribui-o geogrfica e institucional (baseada na vinculao do autor no ano da primeira edio da publicao), tipo de produo citada, se trata de obra organizada no caso de livros e distribuio do material pelos eixos estruturantes nos quais as discipli-nas localizam-se (Fundamentos epistemolgicos e histricos, Fundamentos terico-metodolgicos, Procedimentos para a investigao cientfica e a prtica profissional, Fenmenos e processos psicolgicos, Interfaces com campos afins do conhecimento e Prticas profissionais), sendo possvel a categorizao em mais de um eixo (Reso-luo n 5/2011).

Uma sntese do percurso da anlise realizada pode ser visualizada na Figura 1.

Nos dois blocos explicitados realizou-se anlise por instituio, buscando caracte-rizar a produo sugerida nos cursos e captar possveis especificidades que cada um poderia apresentar, dadas as diferenas quanto organizao acadmica, natureza jurdica, programa de ps-graduao e tempo de existncia. Essa discri-minao por IES s no foi feita na anlise por eixo estruturante. Tal anlise, por sua vez, foi contemplada no segundo bloco de informaes e justifica-se uma vez que permite a apreciao conjunta do material recomendado, alm de fornecer



indicativos sobre o contedo do mesmo. Diante disso, classificaram-se as discipli-nas dos cursos potiguares quanto aos eixos aos quais pertencem, tomando-se por base a estratgia e a definio de eixos propostos por Seixas, Coelho-Lima, Silva e Yamamoto (2013).

Alm disso, as disciplinas foram classificadas quanto a sua insero na rea (Exclu-sivamente em Psicologia, Em Psicologia e outra rea, Eminentemente em outra rea), o que serviu para que na anlise de cada eixo estruturante fossem consideradas apenas as disciplinas ligadas Psicologia (predominantemente ou parcialmente) , com exceo do eixo Interface com campos afins do conhecimento, que compre-ende contedos de outros campos do conhecimento.

Resultados e discusso

Caracterizao geral da produoPara evitar a identificao dos cursos aos quais pertencem os planos de ensino ana-lisados, eles foram denominados, neste escrito, por Curso A, B e C. Ressalte-se tambm que, de modo geral, os dados correspondem s bibliografias bsicas e com-plementares juntas os casos em que houve anlise desse material separadamente encontram-se sinalizados ao longo do texto.

No tocante ao nmero de produes sugeridas em cada curso analisado, observa-se a predominncia do Curso C: Curso A (n = 165), Curso B (n = 280) e o Curso C (n = 438). Isso pode ser reflexo do fato de que a IES do referido curso possui programa de ps-graduao na rea, o que favorece uma maior aproximao com a produo cientfica existente. Ademais, indica que a mesma possui um acervo biblio-grfico mais extenso, fato corroborado pelo maior tempo de existncia do Curso C em relao aos demais.

Figura 1: Plano de anlise

26


No total, os cursos recomendaram, juntos, 811 obras distintas, distribudas entre 615 autores. Dessas, 745 referncias apareceram exclusivamente em um dos cur-sos, e apenas seis foram mencionadas em todos eles, a saber: A construo social da realidade (Berger & Luckmann, 1966), Freud e o inconsciente (Garcia-Roza, 1984), Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evoluo (Baum, 1994), Convite filosofia (Chau, 1994), Novas veredas da psicologia social (Lane & Sawaia, 1995) e As artimanhas da excluso: anlise psicossocial e tica da desigualdade social (Sawaia, 1999).

O alto ndice de trabalhos no repetidos entre os cursos manifesta a diversidade que marca a construo do conhecimento em Psicologia, reconhecida pela variedade de abordagens tericas, metodolgicas e objetos de estudo adotados. Essa diversidade no se apresenta apenas em termos de quantidade de obras distintas mencionadas, mas se confirma pelo grande nmero de autores identificados, havendo pouco mais de um trabalho por autor. Depreende-se tambm que os cursos podem proporcionar formaes distintas, de modo que foi possvel estruturar trs cursos de Psicologia cujas referncias quase no se repetem. Esse trao, a princpio, pode distanciar os cursos da homogeneidade nacional para formao de psiclogos no Brasil, conforme proposta pelas DCNs, que prope que haja um Ncleo Comum presente na estrutu-rao dos currculos nas IES.

Note-se que, dentre as seis nicas referncias que se repetiram nos trs cursos, trs podem ser relacionadas Psicologia Social crtica: A construo social da reali-dade, Novas veredas da psicologia social e As artimanhas da excluso: an-lise psicossocial e tica da desigualdade social.

Em relao aos autores que se repetem nas trs IES, percebe-se que h mais autores nacionais do que estrangeiros, conforme mostra a Tabela 2.

Tabela 2: Autores que se repetiram nos trs cursos analisadosAutores nacionais Brasil Ana Mercs Bahia Bock

Antnio Carlos Gil

Bader Burihan Sawaia

Conselho Federal de Psicologia

Lus Cludio Figueiredo

Luiz Alfredo Garcia-Roza

Maria Ceclia de Souza Minayo

Maria da Graa Corra Jacques

Marilena Chau

Marina de Andrade Marconi

Mary Jane Paris Spink

Pedro Demo

Silvia Tatiana Maurer Lane

Autores estrangeiros Burrhus Frederic Skinner

Edgar Morin

Peter L. Berger

Sigmund Freud

William M. Baum



A maior presena de autores nacionais, como sinalizado anteriormente, indica que os mesmos so considerados autores basilares para a Psicologia no Brasil, sendo indis-pensvel o conhecimento de suas obras na formao.

Assim, verifica-se que entre cursos de Psicologia do RN h uma tendncia modificao da bibliografia sugerida, especialmente no tocante origem dessa produo e s perspectivas tericas.

De onde vem essa produo?Para a leitura dos dados apresentados nessa e na prxima subseo, no se deve tomar por base o total de 811 obras, tendo em vista que houve repetio de obras entre dois ou trs cursos; diante disso, a soma dos valores apresentados nos cursos superar esse total em alguns casos.

Inicialmente, dentre as 791 obras das quais se identificou a origem, verifica-se a prevalncia de obras de autores com vinculao nacional nos trs cursos Curso A (75,3%; n = 122), Curso B (64,6%; n = 177) e Curso C (61%; n = 257) , trao esse que permanece mesmo quando se consideram apenas as referncias bsicas Curso A (71%; n = 71), Curso B (63,6%; n = 68) e Curso C (60%; n = 225). Diante do exposto, observa-se, mais uma vez, que os cursos de Psicologia do RN distanciam-se do cenrio apresentado em anlises anteriores quanto s referncias bibliogrficas que embasam os cursos (Botom, 1979; Lo Bianco et al., 1994; Mello, 1975; Zanelli, 1995). Esse processo vai em direo a uma maior insero de publicaes nacionais, conforme foi identificado em pargrafos anteriores. Tal insero reflete, em parte, o crescimento da produo nacional como um todo, bem como da Psicologia em parti-cular, assim como os debates sobre a formao do psiclogo. Essa propenso j vem sendo apontada por alguns autores (e.g., Ferreira Neto, 2010; Souza & Souza Filho, 2009) e mostra-se positiva frente nfase em manter os estudantes lendo (e no estudando) os autores e autoridades de outros pases e de outros tempos (Botom, 1979, p. 188), sinalizada em dcadas anteriores (Lo Bianco et al., 1994; Mello, 1975; Zanelli, 1995). Em ltima instncia, a maior presena das publicaes nacionais pode refletir a tentativa dos cursos de proporcionar uma preparao profissional mais ade-quada realidade brasileira.

Analisando-se exclusivamente a produo estrangeira, identificam-se obras prove-nientes de 22 pases, com maior diversidade apresentada pelo Curso C (20 pa-ses). Observa-se que as produes estrangeiras so originrias, majoritariamente, da Europa e da Amrica do Norte, com destaque para os Estados Unidos, que detm o maior nmero de obras estrangeiras citadas nos cursos Curso A (35%); Curso B (49%); Curso C (33%). Escritos da Amrica Latina tambm foram sugeridos, espe-cialmente da Argentina (n = 6), aparecendo nos trs cursos analisados. Esses ndices no surpreendem, tendo em vista que a produo cientfica mundial dominada, historicamente, pelo grupo dos pases centrais, no sendo diferente no caso da Psi-cologia. A prpria constituio da Psicologia como cincia e profisso no Brasil, que contou com a colaborao de diversos pesquisadores estrangeiros, um fato que ilustra a influncia desses pases no desenvolvimento do conhecimento aqui produ-zido. E, embora atualmente as naes centrais estejam perdendo espao para pases emergentes, como o Brasil, no se pode negligenciar a predominncia das primeiras no conjunto do saber existente (Nature, 2012; UNESCO, 2010; SCImago, 2007).

Focalizando a produo nacional, buscou-se identificar se os autores pertenciam a PPGs no ano de publicao das obras. Quanto a esse dado, no foi possvel encontrar tal informao para 16,7% das obras, tendo em vista a ausncia de Currculos Lattes de alguns autores ou devido no identificao do primeiro ano de publicao de alguns livros, usado como base para a coleta do dado. Entre as produes sobre as quais se obteve a informao almejada, verifica-se que, nos trs cursos, a maioria dos autores estavam ligados a PPGs na poca da publicao original, representando

28


76,6% (n = 72) dessas produes do Curso A, 70,9% (n = 78) do Curso B e 79% (n = 158) do Curso C.

O reconhecimento de que os programas de ps-graduao so o locus da produo cientfica no Brasil certamente est por trs da predominncia identificada acima. Isso no difere da produo cientfica em Psicologia realizada no exterior, conforme aponta Garca-Martnez, Guerrero-Bote e Moya-Anegn (2012) e Hutz, Rocha, Spink e Menandro (2010). Refletindo tal organizao, entre as bibliografias analisadas per-cebe-se que a maioria das obras oriunda de programas de Psicologia (Tabela 3).

Ainda que as obras de PPGs de Psicologia prevaleam, no se pode negligenciar o fato de que no Curso A elas aparecem em menor quantidade do que nos demais, chegando a pouco mais da metade do percentual apresentado nos cursos B e C. Por trs desse dado convergem diversos fatores: ele demonstra, por um lado, que o Curso A promove mais dilogo com outras reas, o que benfico diante da heterogeneidade de obje-tos estudados pela Psicologia. Por outro, pode indicar que os docentes possuem um conhecimento limitado sobre a produo nacional da rea. Pode, ainda, ser reflexo de um acervo restrito sobre assuntos da rea, ao se considerar que h exigncia de que a instituio disponibilize em sua biblioteca o material mencionado nos planos de ensino.

Nota-se tambm que, em seguida, h presena de referncias de outras reas das Cincias Humanas e das Cincias da Sade. Embora com menor expressividade, isso reflete a histrica ligao da Psicologia com disciplinas desses campos: basta lembrar que o desenvolvimento inicial da disciplina no Brasil esteve submetido Educao e Medicina (Antunes, 2004; Soares, 1979).

Diante do exposto at aqui, a presena da produo dos programas de Psicologia um fato identificado nesta pesquisa, mas que precisa ser relativizado: como identifi-cado acima, a mesma predomina quando se consideram apenas os ttulos nacionais; porm, essa prevalncia no se mantm quando se tomam por base todas as obras citadas em cada curso, representando apenas 15,5% das produes sugeridas no Curso A, 15,7% no Curso B e 20,9% no Curso C. De todo modo, os dados apresenta-dos nessa seo revelam que as publicaes da ps-graduao em Psicologia no se restringem apenas aos PPGs; as mesmas comeam a inserir-se na graduao, tendo sua qualidade indiretamente atestada na medida em que so recomendadas.

Que produo essa?Resta saber que caractersticas possuem as publicaes recomendadas quando oriun-das dos PPGs de Psicologia. A esse respeito, percebe-se que as mesmas so prove-nientes, em sua maioria, de programas do eixo Sul-Sudeste, demonstrando que a histrica concentrao da produo cientfica no Brasil ainda se perpetua e se reflete no conjunto de obras de Psicologia sugerido nos cursos sobretudo considerando-se que, no caso da Psicologia, aproximadamente 45% dos PPGs localizam-se no Sudeste

Tabela 3: Distribuio da produo dos programas de ps-graduao por grandes reas do conhecimento, nos cursos de Psicologia

Curso A Curso B Curso CGrandes reas n % n % n %Cincias Humanas

Psicologia 26 36,1 42 54,3 91 57,6Outras reas 19 26,4 21 26,9 28 17,7Cincias da Sade 15 20,8 9 11,1 21 13,3Outros 12 15,3 5 6,4 14 8,8No informado 1 1,4 1 1,3 3 1,9



(CAPES, 2014; A. L. F. Costa, Amorim, & J. P. Costa, 2010; Hutz et al., 2010). No estudo em questo, tal concentrao evidencia-se quando se analisa a origem institu-cional das produes dos programas de Psicologia nesse ponto, preciso ressaltar que, mesmo considerando-se obras com contribuies de diferentes instituies, como no caso de coletneas, razovel supor que o primeiro autor dessas produes (base para a coleta sobre vinculao a PPG) possivelmente detm importante responsabili-dade pelas mesmas, o que justifica a no excluso das coletneas desta anlise.

Ao todo, foram identificadas 30 instituies de origem dessas publicaes. Entretanto, verifica-se, em cada curso, a existncia de concentrao em um pequeno nmero delas, com destaque para a PUC-SP e a USP, que aparecem nos trs cursos analisados (Tabela 4).

Como se pode observar, mais de 50% das publicaes de PPGs de Psicologia recomen-dadas no Curso A e no Curso B so provenientes de trs IES. O Curso C o que apre-senta menor concentrao, com cinco instituies, que detm pouco mais da metade das obras citadas. Isso pode estar relacionado, mais uma vez, com o fato de que, alm de ser um curso consolidado no Estado, o mesmo possui programa de ps-graduao na rea, o que possibilita circulao dos pesquisadores entre a produo cientfica nacional.

A recorrncia da PUC-SP e da USP em todos os cursos sugere que as mesmas seriam IES centrais para a Psicologia brasileira. Reforando isso, as duas instituies pos-suem outras caractersticas que as aproximam desse grupo de IES centrais (Meneghel, Theis, Robl, & Wassem, 2007): so localizadas no Sudeste, regio ainda favorecida em termos de base cientfica e recursos financeiros (Cavalcante, 2011), e possuem programas recomendados pela avaliao da CAPES (conceitos cinco e sete), pressu-pondo assim boa infraestrutura, maior acesso a financiamentos a USP, por exemplo, possui 41 pesquisadores bolsistas de produtividade pelo Conselho Nacional de Desen-volvimento Cientfico e Tecnolgico [CNPq] e produtividade (CAPES, 2012).

No se pode desprezar, ainda, o aparecimento de publicaes da UFRN, que desponta entre as IES que mais possuem publicaes recomendadas no Curso C (Tabela 4), sendo tambm mencionada em outros cursos Curso A (n = 1) e Curso B (n = 4). Tal ocorrncia, somada a outros indicativos, revela que a mesma se configura como uma instituio emergente no cenrio da produo cientfica nacional em Psicologia: apresenta dois programas na rea com boa avaliao (conceitos cinco e seis) pela CAPES e 13 pesquisadores bolsistas de produtividade (CAPES, 2014; CNPq, 2014). Por outro lado, a UFRN contribui com a formao de docentes para o ensino superior

Tabela 4: Instituies que mais tiveram obras de PPGs de Psicologia citadas e que, juntas, totalizam mais de 50% dessas produes em cada curso

IES n %Curso A PUC/SP 9 34,6

USP 3 11,5UFRGS 3 11,5

Curso B PUC/SP 10 22,7USP 7 15,9

PUC/CAMPINAS 7 15,9Curso C PUC/SP 15 16,5

UFRN 10 11USP 9 9,9

UFRGS 9 9,9UnB 6 6,6

30


local, de modo que os professores das outras IES acabam conhecendo sua produo, tendo assim mais chances de recomend-la.

Quanto ao ano de publicao, observa-se que em todos os cursos a produo dos PPGs de Psicologia sugerida foi publicada entre as dcadas de 1980 e 2010, perten-cendo predominantemente ao ltimo decnio (2000-2010): Curso A (61,5%), Curso B (54,5%) e Curso C (79,1%). Assim, as referncias mencionadas nos planos de ensino so, preferencialmente, recentes, reverberando o desenvolvimento da produ-o cientfica na rea: apesar do primeiro PPG em Psicologia ter sido criado em 1966, at o decnio de 1980 os programas passavam por um processo de consolidao (Matos, 1988), como j comentando em sees anteriores. O maior estmulo cin-cia no Brasil verificado nos ltimos anos tambm alcana a Psicologia, que apresenta progressivo crescimento de sua base cientfica e, consequentemente, de produes na rea (Bastos, et al., 2013).

Ainda, o Curso C destaca-se como o que mais recomenda publicaes de PPGs de Psicologia da ltima dcada. Mais uma vez, acredita-se que a presena de programa de ps-graduao na instituio relaciona-se com esse dado, sendo um fator que contribui para que os docentes, em grande parte pesquisadores, tenham maior con-tato com aquilo que produzido nacionalmente na rea.

Quanto ao tipo de produo dos PPGs de Psicologia sugerida nos cursos, a maio-ria composta por livros e captulos de livros: representam, no Curso A, 96,2% desses materiais, 73,9% no Curso B e 67% no Curso C. Tais ndices mostram, de modo geral, que os livros ainda so as publicaes preferenciais para transmisso do conhecimento nos cursos de graduao em Psicologia, aspecto que tambm foi constatado em outras pesquisas na rea (e.g., Polydoro & Azzi, 2011; Souza & Souza Filho, 2009). Apesar de existirem diferenas quanto ao tipo de publicao preferen-cial de cada rea do conhecimento ou subrea da Psicologia e da tendncia geral em privilegiar publicao em formato de artigo (Menandro, Yamamoto, Tourinho, & Bastos, 2011), a predominncia de livros nos planos de ensino pode atender a outros fatores: seriam produes mais estveis, que, no sofrendo as mesmas restries que os artigos (como limitao do nmero de pginas), servem para transmisso de contedos de modo mais pormenorizado e aprofundado; alm disso, cabe lembrar que a recomendao de livros algo delimitado pelo Ministrio da Educao [MEC], sendo recomendado o mnimo de trs livros na bibliografia bsica, que devem constar na biblioteca da instituio (MEC, 2010). Conquanto a leitura de livros tenha impor-tncia inquestionvel, a restrio a esse tipo de material demonstrada no Curso A preocupante, tendo em vista que o tipo de publicao carrega em si possibilidades e limitaes na divulgao do conhecimento. No se pode desprezar a recomendao de peridicos cientficos, por exemplo, que so os veculos que congregam os conhe-cimentos mais atualizados, evitando que os cursos se tornem anacrnicos, como alertado por Yamamoto (2006).

Quanto distribuio das referncias dos PPGs de Psicologia pelos eixos estruturan-tes, as produes so superadas pelas publicaes estrangeiras em quatro dos seis eixos (Tabela 5).

Isso revela que, embora em expanso, a insero da produo dos PPGs de Psicologia na graduao no to abrangente quanto deveria ser, especialmente no caso do eixo Fen-menos e processos psicolgicos, que se dedica a discutir os objetos de interesse para a Psicologia. Conforme constatado pela ANPPEP (2012), h uma desvalorizao do ensino e, consequentemente, da produo cientfica sobre Processos Bsicos um dos temas contemplados pelo eixo em questo , o que certamente contribui para o ndice acima.

Por sua vez, a prevalncia de publicaes estrangeiras na maioria dos eixos indica que os temas estudados nacionalmente podem no corresponder aos temas mais



abordados durante a graduao. Alm disso, pela tica da formao, tal predominn-cia tambm pode ser reflexo de certo distanciamento dos docentes em relao ao que produzido nacionalmente sobre os tpicos contemplados pelo eixo, o que, por sua vez, remete questo da visibilidade dessa produo. Contudo, reconhece-se que a escolha pelas publicaes para embasamento das aulas atende a outros deter-minantes que no se restringem origem da produo.

Conforme apontam os dados, a maior contribuio dada pela rea em relao aos procedimentos de pesquisa e atuao profissional e s prticas profissionais, que so os nicos em que a recomendao de obras de PPGs de Psicologia superior s publi-caes estrangeiras. Isso algo positivo, tendo em vista que se trata de eixos relati-vos ao exerccio profissional e que, portanto, requerem maior apropriao de prticas e aproximao com a realidade em que o psiclogo se insere. Alm disso, revelam uma aproximao entre academia e a prtica profissional, algo desejado para a rea.

Concluses e consideraes finais

Respondendo questo inicial a produo nacional de Psicologia tem subsidiado o desenvolvimento da rea, para alm dos PPGs? , no caso da formao do RN, os dados expostos permitem afirmar que sim, essa produo tem ultrapassado os muros da ps-graduao, alcanando a formao graduada, contribuindo para a atualizao de saberes e a aproximao com a realidade nacional, algo almejado para o ensino da rea. Uma segunda concluso do estudo a de que tais publicaes no predominam entre a bibliografia recomendada nos cursos do Estado. Essa insero tem se dado de forma gradual e est presente lado a lado com produes de programas de outras reas, bem como com obras de outras naes notadamente, pases centrais, que possuem condi-es muito mais favorveis de produo cientfica, como sugere o mapa da cincia atual.

Ainda que em muitos casos tal produo fique aqum das publicaes estrangeiras, constata-se que a mesma tem contribudo com os diversos domnios de conhecimento, refletindo sua diversidade, tal como evidenciado pelos dados sobre a distribuio pelos eixos estruturantes. Em alguma medida, esse dado impe algumas questes: essa produo no encontra espao na graduao por desconhecimento dos docen-tes? Pela falta de visibilidade? Por no se configurarem em materiais adequados para serem trabalhados em sala de aula? Tais indagaes exigem outras investigaes mais aprofundadas, mas merecem registro para reflexo por parte da comunidade cientfica sobre o que se tem produzido para o campo. Se h preocupao sobre a pertinncia dos conhecimentos engendrados e, consequentemente, sobre seu con-sumo, justo que haja, minimamente, ateno sobre a qualidade e visibilidade des-sas produes. Isso se torna particularmente especial ao se considerar que alunos de graduao so um dos principais alvos de disseminao daquilo que h de mais recente e importante no campo.

Tabela 5: Distribuies das referncias pelos Eixos Estruturantes das Diretrizes Curriculares Nacionais

Disciplinas RefernciasProduo Nacional

ProduoEstrangeira

PPG Psicologia

Fundamentos epistemolgicos e histricos 37 279 189 76 71Fundamentos terico-metodolgicos 64 471 314 146 94Procedimentos para a investigao cientfica e a prtica profissional

28 144 105 35 37

Fenmenos e processos psicolgicos 24 168 103 63 33Interfaces com campos afins do conhecimento

27 259 146 109 17

Prticas profissionais 39 12 36 2 12

32


A preferncia por livro, que predominou em relao a outros formatos (artigos, por exemplo) nos cursos expressa a relevncia desse material para a formao de psic-logos (Menandro et al., 2011), bem como ressalta a importncia da avaliao dessas publicaes conduzida pela Comisso de Avaliao da rea da Psicologia na CAPES. Ainda que essa avaliao no se constitua em um produto autnomo, mas vincu-lada avaliao dos programas de ps-graduao, a mesma oferece indicador da qualidade de tais produes. Assim, espera-se que essas constataes estimulem a manuteno e a busca por aprimoramento da referida avaliao.

Ademais, no se verificaram grandes discrepncias nas caractersticas das obras cita-das quando analisadas por curso. Mas merece registro a influncia que um programa de ps-graduao parece exercer no conhecimento tratado na graduao, conforme indicado em dados do Curso C. Tal presena favorece de modo significativo a forma-o graduada, na medida em que oferece maior diversidade de obras, maior atuali-zao e contextualizao dos saberes disseminados nesse espao.

Ainda que tenha permitido responder questo inicial, o presente estudo no esca-pou de algumas limitaes. Dentre os principais desafios, pode-se apontar a falta de padronizao das referncias bibliogrficas citadas, com erros ou mesmo a ausncia de informaes mnimas em algumas referncias, alm da falta de organizao e da dificuldade de acesso ao conjunto desses planos de ensino por parte de algumas ins-tituies, impondo dificuldades ao andamento da pesquisa.

Os resultados obtidos oportunizam uma visualizao geral sobre a presena da produo cientfica dos PPGs em Psicologia nos cursos de graduao do RN, mas certamente sus-citam outras questes, que figuram como sugestes para estudos posteriores, enrique-cendo as constataes aqui apresentadas e contribuindo para uma viso mais completa da realidade abordada. Nesse sentido, uma recomendao de estudo seria em relao ao contedo das obras mencionas nos planos de ensino (e.g., qual abordagem terica predominante entre as obras, principais temas tratados). Ou, ainda, poder-se-ia investi-gar a presena das produes nacionais nas disciplinas ligadas s nfases Curriculares, tendo em vista que tais disciplinas no foram includas na presente pesquisa.

Referncias

Antunes, M. A. M. (2004). A Psicologia no Brasil no Sculo XX: desenvolvimento cientfico e profissional. In M. Massimi & M. C. Guedes (Org.), Histria da Psicologia no Brasil: novos estudos (pp. 109-152). So Paulo: Educ/Cortez Editora.

Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Psicologia (ANPEPP). (2012). Relatrio da Diretoria da ANPEPP- Gesto 2010-2012. Rio de Janeiro: Autor.

Bastos, A. V. B., Andery, M. A. P.A., & Trindade, Z. A. (2013). Relatrio de avaliao 2010-2012 avaliao trienal 2013. Disponvel em http://avaliacaotrienal2013.capes.gov.br/documento-de-area-e-comissao. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Baum, W. M. (1994). Compreender Behaviorismo: comportamento, cultura e evoluo. Porto Alegre: Artmed.

Berger, P., & Luckmann, T. (1966). A construo social da realidade. Petrpolis: Vozes.

Botom, S. P. (1979). A quem ns, psiclogos, servimos de fato? Psicologia, 5(1), 1-15.



Cavalcante, L. R. (2011). Desigualdades regionais em cincia, tecnologia e inovao (CT&I) no Brasil: uma anlise de sua evoluo recente. Rio de Janeiro: IPEA. Disponvel em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=7093. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). (2014). Bolsas em curso. Disponvel em http://plsql1.cnpq.br/divulg/RESULTADO_PQ_102003.curso Acesso em 23 de agosto de 2014.

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). (2010). Pases com maior nmero de artigos publicados em peridicos cientficos indexados pela Thomson/ISI, 2009. Disponvel em http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/2078/Producao_cientifica.html. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). (2012). GeoCapes Dados Estatsticos. Disponvel em http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Chau, M. S. (1994). Convite filosofia. So Paulo: tica.

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). (2014). Cursos recomendados e reconhecidos. Disponvel em http://www.capes.gov.br/avaliacao/cursos-recomendados-e-reconhecidos. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Costa, A. L. F., Amorim, K. M. O., & Costa, J. P. (2010). Profisso de psiclogo no Brasil: anlise da produo cientfica em artigos. In O. H. Yamamoto & A. L. F. Costa (Orgs.), Escritos sobre a profisso de psiclogo no Brasil (pp. 31-58). Natal: EDUFRN.

Fres-Carneiro, T., Bastos, A. V., Feitosa, M. A. G., Seidl-de-Moura, M. L., & Yamamoto, O. H. (2010). Lacunas, metas e condies para a expanso da ps-graduao em psicologia no pas. Psicologia: Reflexo e Crtica, 23, 11-24. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/prc/v23s1/v23s1a03.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Ferreira Neto, J. L. (2010). Uma genealogia da formao do psiclogo brasileiro. Memorandum, 18, 130-142. Disponvel em http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a18/ferreiraneto01.pdf Acesso em 23 de agosto de 2014.

Garca-Martnez, A. T., Guerrero-Bote, V., & Moya-Anegn, F. (2012). World Scientific Production in Psychology. Universitas Psychologica, 11(3), 700-720.

Garcia-Roza, L. A. (1984). Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar

Hutz, C. S., Gomes, W., & McCarthy, S. (2006). Teaching of psychology in Brazil. International Journal Of Psychology, 41(1), 10-16. Disponvel em http://www.ufrgs.br/museupsi/lafec/14.pdf Acesso em 23 de agosto de 2014.

Hutz, C. S., Rocha, M. L., Spink, M. J. P., & Menandro, P. R. M. (2010). Perfil, Avaliao e Metas de Produo Intelectual dos Programas de Ps-Graduao em Psicologia. Psicologia: Reflexo e Crtica, 23, 25-34. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/prc/v23s1/v23s1a04.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Lane, S., & Sawaia, B. (1995). Novas veredas da psicologia social. So Paulo: Brasiliense

Lo Bianco, A. C., Bastos, A. V., Nunes, M. L., & Silva, R. C. (1994). Concepes e atividades emergentes na psicologia clnica: implicaes para a formao. In

34


Conselho Federal de Psicologia (Org.), Psiclogo brasileiro: Prticas emergentes e desafios para a formao (pp. 7-79). So Paulo: Casa do psiclogo.

Macias-Chapula, C. A. (1998). O papel da informetria e cienciometria e sua perspectiva nacional e internacional. Cincia da Informao, 7(2), 134-170. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/ci/v27n2/macias.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Matos, M. A. (1988). Produo e formao cientfica em Psicologia. In Conselho Federal de Psicologia (Org.), Quem o psiclogo brasileiro? (pp. 100-122). So Paulo: Edicon.

Mello, S. L. (1975). Psicologia: caractersticas da profisso. Boletim de Psicologia, 25(69), 41-50.

Menandro, P. R. M., Yamamoto, O. H., Tourinho, E. Z., & Bastos, A. V. B. (2011). Livros mo cheia: O livro como veculo de produo acadmica. Psicologia USP, 22, 367-386. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/pusp/v22n2/v22n2a05.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Meneghel, S. M., Theis, I. M., Robl, F., & Wassem, J. (2007). Produo de conhecimento no contexto brasileiro: perspectivas de instituies emergentes. Atos de pesquisa em educao, 2(3), 444-460. Disponvel em http://proxy.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/756/632. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Ministrio da Educao (MEC). (2010). Instrumento de Avaliao para Renovao de Reconhecimento de Cursos de Graduao. Braslia, DF: Autor. Disponvel em http://download.inep.gov.br/download/superior/condicoesdeensino/2010/instrumento_renovacao_reconhecimento_cursos2.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Nature. (2012). The New Map of Science. [Edio Especial 17 de Outubro de 2012].

Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO). (2010). Relatrio UNESCO sobre Cincia (D. S. Aires Jnior, Trad.) Disponvel em http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001898/189883por.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Polydoro, S. A., & Azzi, R. G. (2011). O processo de ensinar em cursos de psicologia na perspectiva dos estudantes. Avaliao Psicolgica, 10(3), 365-386. Disponvel em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712011000300008&lng=pt&tlng=pt. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Resoluo n 5. (2011,15 de maro). Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduao em Psicologia, estabelecendo normas para o projeto pedaggico complementar para a Formao de Professores de Psicologia. Disponvel em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12991. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Ribeiro, A. B. (2010). O psiclogo na proteo social especial: Atuao junto s vtimas de violao de direitos no CREAS. Dissertao de mestrado no-publicada, Programa de Ps-graduao em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 175pp. Disponvel em http://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/1/8626/1/AdrianaBR_DISSERT.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.



Santos, R. N. M., & Kobashi, N. Y. (2009). Bibliometria, Cientometria, Infometria: conceitos e aplicaes. Tendncias da Pesquisa brasileira em Cincia da Informao, 2(1), 155-172.

Sawaia, B. (Org). (1999). As artimanhas da excluso: anlise psicossocial e tica da desigualdade social. Petrpolis: Vozes.

SCImago. (2007). SJR SCImago Journal & Country Rank. Disponvel em http://www.scimagojr.com. Acesso em 22 de janeiro de 2013.

Seixas, P. S., Coelho-Lima, F., Silva, S. G. L., & Yamamoto, O. H. (2013). Projeto pedaggico de curso e formao do psiclogo: uma proposta de anlise. Psicologia Escolar e Educacional, 17, 113-122. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/pee/v17n1/a12v17n1.pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Seixas, P. S., & Yamamoto, O. H. (2012). Insero e atuao profissional do psiclogo no campo das polticas sociais no Rio Grande do Norte. Psicologia Argumento, 30(70), 477-489. Disponvel em http://www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=6135&dd99=pdf. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Silva, M. R., Hayashi, C. R. M., & Hayashi, M. C. P. I. (2011). Anlise bibliomtrica e cientmtrica: desafios para especialistas que atuam no campo. InCID: Revista de Cincia da Informao e Documentao, 2(1), 110-129.

Soares, A. R. (1979). A psicologia no Brasil. Psicologia: cincia e profisso, [Edio especial], 09-59.

Souza, L. C. G., & Souza Filho, E. A. (2009). O lugar da Psicologia Social na formao dos psiclogos. Psicologia & Sociedade, 21(3), 383-390. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n3/a12v21n3. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Vanz, S. A. S., & Stumpf, I. R. C. (2010). Procedimentos e ferramentas aplicados aos estudos bibliomtricos. Informao & Sociedade: Estudos, 20(2), 67-75. Disponvel em http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/view/4817. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Yamamoto, O. H. (2006). Graduao e ps-graduao em Psicologia: relaes possveis. Revista Brasileira de Ps-Graduao, 3(6), 270-281. Disponvel em http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/article/view/110. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Yamamoto, O. H., & Cunha, I. M. F. F. O. (1998). O psiclogo em hospitais de Natal: Uma caracterizao preliminar. Psicologia: Reflexo e Crtica, 11, 345-362. Disponvel em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79721998000200012&script=sci_arttext. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Yamamoto, O. H., Siqueira, G. S., & Oliveira, S. C. C. (1997). A Psicologia no Rio Grande do Norte: caracterizao geral da formao acadmica e do exerccio profissional. Estudos de Psicologia, 2(1), 42-67. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/epsic/v2n1/a04v2n1. Acesso em 23 de agosto de 2014.

Zanelli, J. C. (1995). Formao e atuao do psiclogo organizacional: uma reviso da literatura. Temas em Psicologia, 3(1), 95-107.

36


Submetido em: 01/03/2015 Revisto em: 14/04/2015 Aceito em: 19/04/2015

Endereos para correspondncia

Joyce Costa [email protected]

Oswaldo Hajime Yamamoto [email protected]

I. Mestre em Psicologia. Programa de Ps-Graduao de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal. Estado do Rio Grande do Norte. Brasil.

II. Docente. Programa de Ps-Graduao de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal. Estado do Rio Grande do Norte. Brasil.

i Apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES).

Documents

A_2015_Produção Científica Nos Cursos de Graduação