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O término do tráfico negreiro africano foi o primeiro abalo sofrido pelo escravismo, devido ao fato de ter gerado falta de condições internas para a reposição da força de trabalho. Depois de 1850, a mão-de-obra tornou-se rara e cara e os alicerces da escravidão começaram a se desmoronar. A partir de 1870, começaram a surgir uma série de sintomas de crise no Segundo Reinado, dentre eles o início do movimento republicano e os atritos do Governo Imperial com o Exército e a Igreja. O encaminhamento do problema da escravidão provocou desgastes nas relações entre o Estado e as suas bases sociais de apoio. Tiveram peso também as transformações sócio-econômicas que deram origem a novos grupos sociais que levaram ao aumento da receptividade às idéias de reformas. Após 1870, amplos setores da sociedade brasileira começaram a contestar a escravidão, considerando que ela era a responsável pelo atraso do país frente às demais nações civilizadas. O aumento da resistência negra mostrava a necessidade de se buscar uma solução para a questão. As idéias provenientes da Europa, exaltando o progresso como meta a ser atingida pelo homem, com a valorização do trabalho livre influenciava: escritores, jornalistas, muitos políticos, professores e militares. Mas no Brasil as aspirações pela implementação de reformas para a modernização da sociedade assumiram uma forma conservadora, em virtude da convivência com uma estrutura escravista secular. Mas as dificuldades não puderam impedir, que a partir de 1870, a campanha abolicionista tomasse conta de setores urbanos que defendiam a extinção da escravidão no Brasil e o fim da Guerra do Paraguai, que contou com a intensa participação de escravos nas fileiras do Exército, ajudou a reforçar o abolicionismo. O movimento antiescravista cresceu a partir de 1880, quando um grupo de propagandistas tendo como figura de destaque Joaquim Nabuco, criou a "Sociedade Brasileira contra a Escravidão", de forma similar à Sociedade inglesa. Joaquim Aurélio

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Otrmino do trfico negreiro africano foi o primeiro abalo sofrido pelo escravismo, devido ao fato de ter gerado falta de condies internas para a reposio da fora de trabalho. Depois de 1850, a mo-de-obra tornou-se rara e cara e os alicerces da escravido comearam a se desmoronar.Apartir de 1870, comearam a surgir uma srie de sintomas de crise no Segundo Reinado, dentre eles o incio do movimento republicano e os atritos do Governo Imperial com o Exrcito e a Igreja. O encaminhamento do problema da escravido provocou desgastes nas relaes entre o Estado e as suas bases sociais de apoio. Tiveram peso tambm as transformaes scio-econmicas que deram origem a novos grupos sociais que levaram ao aumento da receptividade s idias de reformas.Aps 1870, amplos setores da sociedade brasileira comearam a contestar a escravido, considerando que ela era a responsvel pelo atraso do pas frente s demais naes civilizadas. O aumento da resistncia negra mostrava a necessidade de se buscar uma soluo para a questo. As idias provenientes da Europa, exaltando o progresso como meta a ser atingida pelo homem, com a valorizao do trabalho livre influenciava: escritores, jornalistas, muitos polticos, professores e militares. Mas no Brasil as aspiraes pela implementao de reformas para a modernizao da sociedade assumiram uma forma conservadora, em virtude da convivncia com uma estrutura escravista secular.Mas as dificuldades no puderam impedir, que a partir de 1870, a campanha abolicionista tomasse conta de setores urbanos que defendiam a extino da escravido no Brasil e o fim da Guerra do Paraguai, que contou com a intensa participao de escravos nas fileiras do Exrcito, ajudou a reforar o abolicionismo.Omovimento antiescravista cresceu a partir de 1880, quando um grupo de propagandistas tendo como figura de destaque Joaquim Nabuco, criou a "Sociedade Brasileira contra a Escravido", de forma similar Sociedade inglesa.Joaquim Aurlio Barreto Nabuco de Arajo se tornou ento o maior porta-voz do abolicionismo legalista e parlamentar.Nabuco era Deputado do Partido Liberal, eleito em 1878 por Pernambuco. De formao conservadora, filho de uma das mais tradicionais famlias do pas, ligada economia aucareira nordestina e poltica imperial, o monarquista Nabuco, apresentou em 1880, minucioso projeto de lei propondo a abolio da escravatura em 1890 e a indenizao de seus proprietrios O projeto se chocava com a proposta dos militantes radicais, que queriam a abolio imediata e sem indenizao.Em virtude deste fato, Nabuco no conseguiu reeleger-se em 1881 e ento viajou para Londres, como correspondente doJornal do Commrcio. Em Londres escreveu uma das mais densas e belas obras de combate publicadas em portugus:O Abolicionismo, onde ele, livre das manobras polticas da Corte, defendeua abolio imediata e sem indenizao, mas legalista.Em 1883, aConfederao Abolicionista, liderada por Joo Clapp e Jos do Patrocnio, congregou diversas associaes. Os debates se intensificaram na Cmara.Joaquim Nabuco, que voltou ao Brasil, em 1884 e foi reeleito, junto com Jernimo Sodr e outros parlamentares, discursavam constantemente tentando mostrar a inviabilidade da preservao da escravido. Mas como continuou monarquista e legalista encontrou resistncia na ala mais radical do movimento. medida que o escravismo agonizava e aumentava a campanha abolicionista, intensificava-se a resistncia. A formao dequilombos representava um avano na luta dos cativos contra os senhores.Os abolicionistas viam com preocupao o aumento da resistncia dos escravos e se pautavam na manuteno da ordem e da lei, apesar de alguns militantes promoverem fugas de escravos, fato que acabou por acelerar o processo de extino legal da escravido no Brasil.Aimprensa abolicionista desempenhou um papel importante no fim do escravismo. Atravs das denncias de violncias e da divulgao de festas beneficentes que angariavam recursos para a compra de cartas de alforria, ela mobilizou os grupos urbanos na contestao ordem escravista.Os jornais ao mesmo tempo em que exaltavam os senhores a alforriarem os escravos, noticiavam as revoltas de cativos, criticando de forma violenta os proprietrios por suas crueldades, oscilando entre um comportamento de cautela e de agressividade. Indiscutivelmente exerceu um papel informativo e esclarecedor da populao contribuindo para a extino de uma instituio que s podia envergonhar o Brasil.Apartir de 1880, a figura do escravo ocupava vrios espaos na imprensa, contribuindo, direta ou indiretamente, para abalar o cativeiro. Joaquim Nabuco considerava os peridicos como os documentos mais importantes para retratar a escravido. Nesta poca a opinio pblica j havia se tornado mais sensvel aos sofrimentos do escravo, fato que levou ao aumento da mobilizao contra o cativeiro. A campanha antiescravista ganhou ento as ruas com os jornais distribudos por vendedores ambulantes.Entre os jornais que se destacavam na luta contra a escravido, no Rio de Janeiro sobressaam: aGazeta de Notcias, que foi fundado em 1876, por Ferreira de Arajo, foi o primeiro a franquear suas pginas para a campanha abolicionista; os jornais de Jos do Patrocnio: aGazeta da Tardee oCidade do Rio, que foram os baluartes da luta contra a escravido;O Abolicionistacriado pela "Sociedade Brasileira contra a Escravido", em 1880 e mais os jornais republicanos:A RepblicaeO Pase tambm os jornais de menor penetrao como:O CarbonrioeO Combate.Atom satrico das charges tambm serviam como arma para os propagandistas, destacando-se neste sentido as gravuras de ngelo Agostini, um imigrante italiano radicado no Rio de Janeiro que usava suas charges, publicadas naRevista Ilustradapara desmoralizar os defensores da escravido.Os abolicionistas no poupavam esforos para denunciar as mazelas da escravido. A imprensa, como j foi visto, teve uma atuao bastante efetiva, a tribuna parlamentar foi palco de acalorados debates, mas outras instituies e personalidades diversas tambm tiveram uma decisiva atuao.Os alunos e professores daEscola Politcnica do Largo de So Francisco, liderados por Andr Rebouas tentavam persuadir os senhores a libertarem os seus escravos agindo nas vias pblicas. Muitas pessoas atuavam incentivando as fugas dos cativos, mas esta atitude era criticada pela maioria dos propagandistas devido questo da manuteno da lei e da ordem.Em janeiro de 1880 ocorreu no Rio de Janeiro uma reao popular contra uma taxa criada pelo Governo, que incidia sobre o transporte urbano que foi repassado ao usurio, esta reao ficou conhecida coma Revolta do Vintm e teve como conseqncia a destruio de bondes no centro da cidade e uma represso policial que resultou em mortos e feridos. Com esta revolta, as discusses polticas restritas ao Parlamento ganharam as ruas, tornando-se um reflexo da insatisfao da populao em geral. A revolta teve o apoio de Jos do Patrocnio, o "Tigre do Abolicionismo" e outros lderes como Lopes Trovo e Ferreira de Menezes, todos jornalistas expressivos.Em maio de 1883, Jos do Patrocnio e Andr Rebouas criaram um clube de abolicionistas. Os principais abolicionistas eram alvo dos senhores de escravos, s vezes respaldados pela omisso das autoridades governamentais. Em 1884, Joaquim Nabuco e Jos do Patrocnio foram acusados de anarquistas por jornais conservadores. Em 1886, Patrocnio foi ameaado de processo pela Polcia da Corte por proteger escravos fugidos.No Rio de Janeiro as manifestaes populares se tornaram assduas s vsperas da abolio, a presso dos setores urbanos associada resistncia negra fizeram com que o comportamento do Estado fosse alterado e ele se viu compelido a tomar uma atitude mais efetiva.Em 28 de setembro de 1871, numa jogada poltica sagaz, o Gabinete conservador, chefiado pelo Visconde do Rio Branco conseguiu aprovar a chamada Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, segundo a qual seria livre qualquer filho de escrava nascido no Brasil. Alm de arrancar a bandeira abolicionista das mos dos liberais, teve o efeito de bloquear por anos a ao dos abolicionistas mais radicais, garantindo assim que a libertao dos escravos fosse um processo gradativo.Na prtica a lei seria burlada desde o incio, com a alterao da data de nascimento de inmeros escravos. Muitos proprietrios arrancavam os filhos recm-nascidos de suas mes e os mandavam para instituies de caridade, onde as crianas eram vendidas por enfermeiras que faziam parte do esquema armado para burlar a Lei Rio Branco.Golpeada pela Lei do Ventre Livre, a campanha abolicionista s recomearia em 1884. Um ano mais tarde, o Parlamento jogou outra cartada em sua luta para retardar a abolio:em 28 de setembro de 1885 foi aprovada a Lei Saraiva-Cotegipe, ou Lei dos Sexagenrios. Proposta pelo Gabinete liberal do Conselheiro Jos Antnio Saraiva e aprovada no Senado, comandada pelo Presidente do Conselho de Ministros, o Baro de Cotegipe,a lei concedia liberdade aos cativos maiores de 60 anos e estabelecia normas para a libertao gradual de todos os escravos, mediante indenizao. Mas esta lei tambm beneficiava os senhores de escravos, permitindo que se livrassem de escravos velhos que j no podiam mais trabalhar.No incio de 1888, a impopularidade do chefe de polcia do Rio de Janeiro, Coelho Bastos fez cair o Ministrio de Cotegipe, que abertamente afrontava a Princesa Isabel. Os conservadores permaneceram no poder, com Joo Alfredo como Presidente do Ministrio. Em abril de 1888, Alfredo chegou a pensar em propor a abolio imediata da escravatura, porm, obrigando os libertos a ficar por dois anos junto a seus senhores, trabalhando mediante mdica retribuio.No ms seguinte, j no foi mais possvel retardar o processo abolicionista, agora liderado pela prpria Princesa Isabel, que em 13 de maio de 1888 aboliu definitivamente a escravido no Brasil, assinando aLei urea. Depois que a Regente assinou a Lei, Cotegipe estava entre os que forma cumpriment-la e lhe teria dito que ela acabava de redimir uma raa, mas acabava de perder o trono.Depois da assinatura da Lei urea foi criada uma mitificao que contribuiu para que os atores annimos fossem ignorados. As manifestaes de jbilo pela aprovao da abolio aconteceram em vrios locais do pas, no Rio de Janeiro, uma multido aglomerou-se no Pao Imperial e seu arredores, comemorando a assinatura da Lei pela Princesa Isabel.Ofim da escravido no acarretou a desarticulao do processo produtivo porque os setores mais dinmicos da economia j utilizavam a mo-de-obra livre. Os escravos se tornaram livres, mas continuaram expostos a novas formas de subordinao.Depois da Abolio, os negros libertos , quase 800 mil, foram jogados na mais terrvel misria. O Brasil Imperial e logo a seguir o jovem Brasil Republicano, negaram-lhes a posse da qualquer pedao de terra para viver ou cultivar, de escolas, de assistncia social, de hospitais. Aos libertos s foram dadas: a discriminao e a represso.Grande parte dos libertos depois de perambular por estradas e baldios, dirigiu-se s grandes cidades: Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo, onde foram erguidos os bairros africanos, origem das favelas atuais. Trocaram senzala pelos casebres. Apesar da impossibilidade de plantar, acharam ali um meio social menos hostil, mesmo que ainda miservel.OImprio brasileiro no pagou indenizao alguma aos senhores de escravos, mas pagou um preo por isto. Teria sido para evitar que qualquer indenizao fosse cobrada pelos escravocratas que Rui Barbosa, Ministro das Finanas do primeiro Governo republicano, assinou o despacho de 14 de dezembro de 1890, determinando que todos os livros e documentos referentes escravido existentes no Ministrio das Finanas fossem recolhidos e queimados na sala das caldeiras de Alfndega do Rio de Janeiro. Em 1891, Rui Barbosa deixou de ser Ministro, mas a destruio dos documentos prosseguiu.Ainexistncia de reformas mais amplas permitiu a explorao do ex-escravo. A coao e a violncia no eram mais aplicadas pelo chicote, mas sim atravs de normas que objetivavam atacar o "cio" e a "vadiagem". Alguns fazendeiros empregavam o antigo cativo pagando salrios nfimos.ORio de Janeiro, capital do Imprio, exerceu o papel de plo de atrao para muitos libertos. Mas seu mercado de trabalho era insipiente e no possua condies de absorver essa mo-de-obra, causando o surgimento de grande contingente de desempregados e subempregados, proliferando grupos que vagavam pelas ruas vivendo de forma considerada escusa, como por exemplo os capoeiras, que no tinham condies de viver plenamente a situao de cidadania.