Abordagem jurídica e ecocrítica dos agrotóxicos no Brasil

Fernanda Menna Pinto Peres

17 de setembro de 2018

- BRASIL: Há 10 anos na liderança do ranking

(maior consumidor de agrotóxicos do mundo)

- 7,3 lit/hab por ano

- 2017: 11 intoxicações por dia

164 mortes

157 incapacidades para o trabalho

inumeras doenças crônicas

- Faturamento: US$12,2 BILHões em 2014, sendo US$9,6

bilhões só no Brasil (fora os 20% do contrabando), com

80% do mercado na mão de 6 grandes empresas:

- Dupont

- Dowagrosciens

- Basf

- Syngenta

- Montanto

- Bayer

(que realizaram 3 grandes fusões recentes:

Dupont/Dowagrosciens; Syngenta/ChemChina;

Montanto/Bayer)

- Universidade Michigan (EUA) sistemas de

produção orgânica: rendimentos físicos iguais

ou superiores aos dos sistemas que usam

agroquímicos

- CULTURAS QUE MAIS USAM AGROTÓXICOS NO

BRASIL:

- 1º) SOJA (40% do total de uso de herbicidas,

inseticidas, fungicidas, acaricidas etc.)

Finalidade: 80% ração para gado

- 2º) MILHO (15% uso)

- 3º) CANA E ALGODÃO (10% do uso)

PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS

• 27% usam agrotóxicos

• Fornecem 70% alimentos do brasileiro

GRANDES PROPRIEDADES RURAIS (+100ha; geralmente monoculturas)

• 80% usam agrotóxicos (em 2015)

UNIÃO EUROPÉIA

•Permite até 0,1 mg/lit de glifosato* na água potável

•(*glifosato é o herbicida mais vendido no mundo)

BRASIL

•Limite mínimo 5 MIL VEZES MAIOR

NOTA TÉCNICA 4ª CCR n.º 1/2018:

O PL não tem qualquer consideração

sobre efeitos nocivos sobre a saúde e o

meio ambiente

- Viola pelo menos 6 artigos da CF (23,

24, 170 VI, 196, 220 §4º e 225 §1º V e

§3º)

Agrotóxicos matam 5 vezes mais

campesinos que conflitos

agrários

A FPA-Frente Parlamentar da

Agropecuária = 40% do Congresso

Nacional (maior interessados na

aprovação do PL 6299/2002)

REGULAÇÃO ATUAL DOS AGROTÓXICOS NO BRASIL

LEI 7802/89

DEC 4074/02

DEC 5981/06

+

Vasto arcabouço normas

adm (INs, Res, Port)

+

Leis EST e MUN (podendo

ser mais restritivas – como

a Lei 7747/82/RS – obj

ADPF 221 - DEM – inclusão

em pauta determinada em

10/09/2018 – rel Dias

Toffoli)

Campanha contra o “preconceito” aos agrotóxicos pelo MAPA - 2015

KÁTIA ABREU (FOTO: ANTÔNIO

CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL)

Em 2015, a então ministra da Agricultura, Kátia

Abreu defendeu o uso de agroquímicos nas

lavouras e disse que o Brasil tem uma das leis

mais rigorosas do mundo para o registro desses

defensivos.

"Temos uma lei que proíbe o registro de qualquer

produto com características carcinogênicas",

afirmou durante evento de apresentação de novos

laboratórios da Bayer CropScience, em Paulínia

(SP).

Maio de 2016

A senadora Kátia Abreu, ex-titular do Mapa,

desejou ao seu sucessor uma :

“gestão competente e que proporcione

mais resultados positivos PARA O

AGRONEGÓCIO e para o país”.

Maio de 2016, O REI DA SOJA (maior produtor

individual de soja do mundo), eleito pela Revista

Forbes como uma das pessoas mais influentes do

mundo, assume o MAPA

Autor do PL do Veneno (PL 6299/02)

Em 2005, O diário inglês The Independent

dedica a sua manchete ao assunto: "O estupro

da floresta tropical...e este é o homem por

trás disso".

2005 – O então governador do MT recebeu o

prêmio “Motosserra de ouro”do GreenPeace

(prêmio recebido pela Katia Abreu em 2010)

PL do Veneno e as alterações na lei de agrotóxicos

A definição de gestão dos riscos como o “(...)processo,

decorrente da avaliação dos riscos, que consiste em ponderar

fatores políticos, econômicos, sociais e regulatórios bem como

os efeitos sobre a saúde humana e meio ambiente(...)” (art. 2º,

VI, “c”) estabelece, de forma clara, a inversão das prioridades

constitucionais estabelecidas no presente PL: a submissão do

Direito à Saúde, ao Meio Ambiente e à defesa do consumidor à

Ordem Econômica, especificamente à Política Agrícola.

NOTA TÉCNICA 4ª CCR n.º 1/2018 do MPF sobre o PL 6299/02

PL do Veneno e as alterações na lei de agrotóxicos (PL 6299/02 e 29 apensos)

1.NOME :“DEFENSIVOS FITOSSANITÁRIOS E PRODUTOS DE CONTROLE AMBIENTAL”

2.AGROTÓXICOS NAS CIDADES : Lei valerá só aos meios rurais (cidades Lei da

Vigilância Sanitária)

3.AVALIAÇÃO SOBRE NOVOS AGROTÓXICOS : CRIAÇÃO DA CTNFito – poder

consultivo, deliberativo e normativo (Ibama, Anvisa e Mapa terão assento sem

poder de veto)

4.RISCOS À SAÚDE HUMANA :agrotóxicos com característivas teratogênicas,

carcinogênicas, mutagênicas, que provoquem distúrbios hormonais e danos ao

aparelho reprodutor (proibição aos “riscos inaceitáveis”).

5. REGRAS E FISCALIZAÇÃO: centralização do poder da União.

Diminuição do poder do Estados e Municípios, impedidos de criarem

regras próprias sobre distribuição, comercialiaação e uso. (viola 23

e 24 da CF)

6. AVALIAÇÃO DE AGROTÓXICOS E PRAZOS: 180 para análise pela

CTNFito e 90 dias para expedição do registro pelo MAPA.

7. PROPAGANDA SOBRE AGROTÓXICO: sem regra específica (ficará

apenas a Lei 9294/96).

8. OBRIGATORIEDADE DE RECEITA PRA USO DOS AGROTÓXICOS: mero

regulamento poderá autorizar utilização de agrotóxicos sem

expedição de receituário por engenheiro agrônomo

9. AGROTÓXICOS GENÉRICOS E EQUIVALENTES: a avaliação dos registros

de agrotóxicos genéricos e equivalentes fica a encargo exclusivo do

MAPA, conforme diretrizes da CTNFito (antes, pelo Dec 5981/06 havia

procedimento específico e passava pelo crivo tríplice dos órgãos de

saúde, meio ambiente e agricutura)

10. AGROTÓXICOS E DIFERENTES CULTURAS: assoc. agricultores,

entidades de pesquisa/extensão e empresas poderão requerer a revisão

da vinculação de agrotóxicos já registados a outras culturas (esses

pedidos deverão ser analisados pela CTNFito em 30 dias, o que

impossibilitará estudos prévios, consultas públicas e induzirá novos

usos).

11. EXPORTAÇÃO DE AGROTÓXICOS: dispensa estudos agronômicos,

toxicológicos e ambientais para a produção de agrotóxicos para fins

exclusivos de exportação (considerando que, sg, Sindiveg, 20% usados

hoje no Br são contrabandeados, quem garantirá que não serão usados?)

RACHEL CARSON

1962

• Preço do conhecimento químico

• Envenenamento

• Eliminação de polinizadores

• Reflexão sobre solidariedade intergeracional

• AGRICULTURA DA MORTE

ANA MARIA PRIMAVESI por

Virgínia Mendonça Knabben

SAMANTA SCHWEBLIN

Herdeira do realismo fantástico

da América Latina

“Sempre penso no pior. Agora mesmo estou

calculando quanto demoraria para sair

correndo do carro e chegar até Nina, se ela

corresse de repente para a piscina e se

atirasse. A isso dou o nome de ‘distância

de resgate’, que é como chamo a distância

variável que me separa de minha filha, e

passo a metade do dia fazendo esse

cálculo, embora sempre arrisque mais do

que deveria.” Herdeira do realismo

fantástico latino-americano

SAMANTA SCHWEBLIN

Área rural da argentina

Acontecimentos estranhos:

- Efeitos pesticidas na água

- Características sobrenaturais

Personagens femininas : AMANDA e sua filha

NINA de 4 anos, CARLA e seu filho DAVID

Seriam os agrotóxicos, uma epidemia ou uma

praga naquele lugar? E quando as coisas

começarem a dar errado para Amanda e sua

filha naquele lugar?

Calvino (seg profa. Adriana: a reflexão trazida

pela literatura prescinde das formas

fotográficas, reais…)

Herdeira do realismo

fantástico latino-americano