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ABREU, Luis Alberto de & NICOLETE, Adélia - Processo Colaborativo
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PROCESSO COLABORATIVO
Luis Alberto de Abreu e Adélia Nicolete
Processo contemporâneo de criação teatral, com raízes na criação
coletiva, teve também clara influência da chamada “década dos encenadores”
no Brasil (anos 1980) bem como do desenvolvimento da dramaturgia no
mesmo período, e do aperfeiçoamento do conceito de ator-criador. Surge da
necessidade de um novo contrato entre os criadores na busca da
horizontalidade nas relações criativas, prescindindo de qualquer hierarquia pré-
estabelecida, seja de texto, de direção, de interpretação ou qualquer outra.
Todos os criadores envolvidos colocam experiência, conhecimento e talento a
serviço da construção do espetáculo, de tal forma que se tornam imprecisos os
limites e o alcance da atuação de cada um deles, estando a relação criativa
baseada em múltiplas interferências.
O texto dramático não existe a priori, vai sendo construído
juntamente com a cena, requerendo, com isso, a presença de um dramaturgo
responsável, numa periodicidade a ser definida pela equipe.
Todo material criativo (idéias, imagens, sensações, conceitos)
devem ter expressão na forma de cena – escrita ou improvisada/representada.
Sendo assim, a cena, como unidade concreta do espetáculo, ganha
importância fundamental no processo colaborativo.
Não existe um modelo único de processo colaborativo. Em linhas
gerais ele se organiza a partir da escolha de um tema e do acesso irrestrito de
todos os membros a todo material de pesquisa da equipe. Após esse período
investigativo, idéias começam a tomar forma, propostas de cena são feitas por
quaisquer participantes, e a dramaturgia pode propor uma estruturação básica
de ações e personagens, com o objetivo de nortear as etapas seguintes.
Damos a essa estruturação o nome de canovaccio, termo que, na Commedia
Dell’Arte italiana, indicava o roteiro de ações do espetáculo, além de indicações
de entrada e saída de atores, jogos de cena, etc.
Embora o canovaccio seja responsabilidade da dramaturgia ele não
deve se constituir em mera “costura” das propostas do coletivo, tampouco em
uma visão particular do dramaturgo a ser cumprida à risca pela equipe. O
processo colaborativo é dialógico, por definição. Isso significa que a
confrontação e o surgimento de novas idéias, sugestões e críticas não só
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fazem parte de seu modus operandi como são os motores de seu
desenvolvimento.
A partir da estruturação dramatúrgica, ou simultaneamente a ela,
ocorre a seleção do material elaborado em sala de ensaio, de modo que muitos
elementos são descartados e outro tanto permanece para ser modificado,
aprofundado ou sintetizado no decorrer do trabalho. Cenografia, figurino,
iluminação, sonoplastia e outros componentes podem ser pesquisados e
elaborados concomitantemente à construção do espetáculo, estando os
responsáveis abertos tanto a dar quanto a receber os comentários e sugestões
da equipe. O responsável pela elaboração do texto dramatúrgico acompanha
igualmente os ensaios, até que se chegue a um ponto satisfatório quanto a
essa área. Embora o processo colaborativo solicite integração de seus
participantes na construção de uma obra única e comum, isso não significa a
dissolução das identidades criadoras, ao contrário, propugna pela autonomia e
pelo aprofundamento dessas identidades.
Um outro princípio norteador do processo colaborativo é o conceito
de que teatro é uma arte efêmera, que se estabelece na relação do espetáculo
com o público, considerando este último igualmente um criador. Dessa forma,
próximo à conclusão do período de ensaios, podem ocorrer, antes da estréia
oficial, apresentações abertas com o objetivo de colher impressões, críticas e
sugestões dos espectadores. O material levantado retorna para a reflexão do
grupo e elaboração final do espetáculo – o que não impede que haja
modificações no decorrer das temporadas, inclusive por conta da relação
público-cena.
O que chamamos hoje de processo colaborativo começou a se
aprofundar no começo dos anos 1990 com o Teatro da Vertigem, de São
Paulo, dirigido por Antonio Araújo. A pesquisa aprofundou-se na medida em
que fora criados seus três primeiros espetáculos ao longo de 10 anos: Paraíso
perdido, O livro de Jó e Apocalipse 1, 11. Muitos outros grupos, amadores ou
profissionais, dentre os quais a Companhia do Latão, de São Paulo e o Grupo
Galpão, de Belo Horizonte adotam, sistematicamente ou não, o processo
colaborativo na elaboração de seus trabalhos. A Escola Livre de Teatro de
Santo André (SP), o Galpão Cine Horto (MG) são também referências na busca
da horizontalidade de relações artísticas entre seus integrantes.
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