38
1 Abril de 2015 nº 3 União Europeia

Abril de 2015 nº 3 - Home page | UNICEF · Agradecimentos: União Europeia; Agencia Brasileira de Cooperação (ABC); Secretaria de Direitos Humanos ... Ela milita no Centro de Defesa

Embed Size (px)

Citation preview

1

Abril de 2015nº 3

União Europeia

2

Ficha Técnica

Realização

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

Gary StahlRepresentante do UNICEF no Brasil

Esperanza VivesRepresentante adjunta do UNICEF no Brasil

Mário VolpiCoordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes

Gabriela Goulart MoraOficial do Programa Cidadania dos Adolescentes

Noemí PerezConsultora do Programa Cidadania dos Adolescentes

Daniel GrazianiAssistente do Programa Cidadania dos Adolescentes

Michelle BarronCoordenadora do Programa de Cooperação Sul-Sul

Niklas StephanOficial do Programa de Cooperação Sul-Sul

Adriana MaiaAssistente do Programa de Cooperação Sul-Sul Escritório do Representante do UNICEF no BrasilSEPN 510, Bloco A, 2º andarBrasília/DF - [email protected]

Produção Editorial

Edição: Gabriela Mora e Noemí Pérez VásquezTextos e reportagem: Ana Vilela e Viviane MarquesFotos: Rayssa CoeProjeto gráfico e diagramação: Virgínia Soares

Agradecimentos: União Europeia; Agencia Brasileira de Cooperação (ABC); Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR); Plan Internacional; Instituto Internacional de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC); Superintendência de Políticas para Mulheres de Salvador e Fundo Municipal para o Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação (SMED) da Prefeitura de Salvador; deputado federal Eduardo Barbosa (PSDB/MG); subsecretário geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho e secretário Mario Gustavo Mottin, da Coordenação Geral de Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores, Grupo de Trabalho Interministerial para a Agenda Pós-2015; Girls Rock Camp Brasil.

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

Abril de 2015

3

PERFIL DAS MENINAS PARTICIPANTES

Todas as meninas de 13 a 19 anos do Brasil, Equador, Guatemala, Jamaica e México

que participaram do II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas são lideranças e ativistas em suas comunidades.

No Brasil, são integrantes da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (RENAJOC), Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE), Rede de Juventude Indígena (REJUIND), Educação do Campo, Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV-Aids (RNAJVHA), Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA), Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE), e atuantes no Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia, da Bahia.

Outras estão engajadas com as atividades e programas do UNICEF como os Núcleos

de Cidadania dos Adolescentes (NUCAs) na Plataforma no semiárido brasileiro e as Plataformas dos Centros Urbanos (PCU), e participam nos projetos das instituições parceiras do UNICEF como a Plan Internacional, Instituto Internacional de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC), Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), e Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM).

As participantes dos países convidados estão vinculadas aos seguintes projetos: Fundación de Indígenas Unidos por una Comunidad Mejor – FIUCM-AC (México), Parlamento Guatemalteco para la Niñez y Adolescencia (Guatemala), Paz Joven (Guatemala), Escuela de Formación Política para Adolescentes Mujeres Afro ecuatorianas “Mi Abuelita me Decía” (Equador) e Eve for Life (Jamaica).

4

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Alessa Sumie Nunes Noguchi Sumizono,CONANDA – Fortaleza (CE)

Filha de mãe brasileira, Alessa nasceu no Japão, há 16 anos. Há quatro está no Brasil,

em Fortaleza (CE). No II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas representou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), vinculado à Secretaria dos Direitos Humanos, com sede em Brasília, o qual integra desde 2014. Também faz parte do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA).

Morar no Brasil representou um enorme choque cultural. A adolescente conta que essa articulação por direitos não é comum no país onde nasceu. “Eu nunca tinha ouvido falar em protagonismo juvenil, em mulheres na política. Tem sido muito bacana o que tenho vivido, a maneira como vejo as mulheres alcançando o seu espaço.”

Antes do CONANDA, Alessa atuava num movimento de sua igreja contra a exploração sexual infantil, que em Fortaleza é muito grande. Os pais a apoiam e tem na mãe, em sua opinião, a chefe da família, um exemplo. “Ela me inspira a continuar nesses movimentos.” Para o futuro? Quer cursar Direito ou Relações Internacionais, porque gosta muito de se envolver com questões políticas e conhecer a realidade de pessoas de outros estados e países.

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Alessandra de Souza,Educação do Campo – Lapa (PR)

Nascida em Inácio Martins (PR), Alessandra tem 17 anos, dez deles

vivendo com seus pais e quatro irmãos mais novos no Assentamento Contestado, município de Lapa, também no Paraná. Ela faz parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e cursa a 3a série do ensino médio. Diariamente, além de estudar, ajuda nas tarefas domésticas.

“Não foi uma batalha fácil. Tivemos que viver em acampamento, com barracos de lona preta, por dois anos. Às vezes passamos necessidades. Contudo, foi um sofrimento que valeu a pena, pois hoje estamos em um lugar decente para morar, onde podemos viver tranquilos sem passar nenhuma dificuldade, tudo graças ao MST”, declara.

Ela conta que sua comunidade busca a produção agroecológica, em que a agricultura orgânica sustenta e norteia a vida do grupo de camponeses respeitando o meio ambiente e a sustentabilidade. Ela e sua família trabalham na produção de hortaliças, frutas, grãos e laticínios diversos, vendidos para a cooperativa dos assentados. Nas horas livres, Alessandra gosta de ler, pois por meio da leitura obtém o conhecimento que busca passar adiante. “A cada erro tento melhorar e procuro, de maneira saudável, conciliar obrigações e lazeres.”

5

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Aline Czezacki Kravutschke,Ponta Grossa (PR)

Aos 20 anos, estuda Jornalismo na cidade onde nasceu, Ponta Grossa (PR). Sua

atuação em prol do empoderamento feminino começou ainda na adolescência, no Colégio Sepam, onde estudava. Ali, participou do Projeto Menarca, no qual adolescentes ajudavam outras da mesma idade esclarecendo dúvidas sobre prevenção da gravidez, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis e corpo humano feminino. “Eu ensinava e aprendia, e amava!”, conta Aline.

Além disso, deu aulas de espanhol para crianças de escolas públicas e ainda fez parte da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE), apoiada pelo UNICEF. Cursa o 3º ano de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), na qual participa de atividades com comunicação comunitária e pesquisa de gênero.

Como estagiária voluntária de comunicação no Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) no Brasil, morou por quatro meses em Brasília, em 2014. Sua meta é a comunicação mais justa e igualitária. “Eu me vejo engajada com movimentos sociais e lutando por um lugar mais justo no mundo para as mulheres. Acredito nisso.”

Amanda Fernandes, RNAJVHA – Manaus (AM)

Aos 16 anos, Amanda mora em Manaus, sua cidade natal, onde participa da Rede

Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA). Soropositiva, reforça a necessidade de estar sempre de cabeça erguida para enfrentar o preconceito, que é intenso. “Eu tenho o apoio da minha família, que sabe da minha realidade. Sempre estive envolvida com essa temática”, conta ela, que faz parte da RNAJVHA há três anos.

Sua mãe, também engajada nos movimentos em defesa das pessoas soropositivas, a incentiva. Para a adolescente, o mais difícil mesmo é lidar com o preconceito, o fato de ser mulher e portadora do vírus. “Eu enfrento (tudo isso) com a cabeça erguida”, diz. Os grupos de discussão sobre o tema lhe ensinam muitas coisas, principalmente a se empoderar e saber dos seus direitos. “Está sendo ótimo para mim. Tenho mais confiança em mim mesma”, afirma Amanda, que mora com a mãe e mais quatro irmãos. “Minha mãe é meu espelho, meu orgulho”, conta ela, que planeja cursar Veterinária, trabalhar e ajudar a mãe e os irmãos.

6

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Andréia de Deus Bueno Fragoso,Educação do Campo - Veranópolis (RS)

Moradora de um assentamento do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST), pelo qual milita, a adolescente de 16 anos nasceu em Mafra (SC). Para ela, morar em um acampamento é apenas uma questão de saber que ali não há luxo. “A gente tem os problemas de quem mora no campo.” A jovem não se considera engrandecida ou melhor que ninguém por pertencer ao MST. “Só muda o meu modo de ver as coisas, a ter consciência de que as mulheres são discriminadas”, diz.

Andréia faz parte do Coletivo Juventude Sem Terra do Estado de Santa Catarina e estuda na escola do movimento, no município de Veranópolis (RS). Em busca de empoderamento, Andréia conta que o machismo, inclusive entre jovens e mulheres, é um dos desafios enfrentados nos acampamentos. Para combater essa cultura, ela acha que as mulheres deviam participar de cursos de empoderamento e ser mais ativas, principalmente em casa. “Na minha comunidade, existem algumas organizações, mulheres se unindo para fazer horta comunitária. Tem uma união feminina”, relata a jovem, cujo tempo livre é dedicado à leitura e ainda não decidiu uma profissão a seguir, no futuro.

Ariane Alves dos Santos ,Projeto Teia Adolescente – Salvador (BA)

Em 2013, levada por sua mãe, Ariane começou a participar do Projeto Teia

Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia. Mora com ela, o pai e mais dois irmãos. “Se não fosse minha mãe, não estaria aqui hoje. Ela quer que eu tenha um futuro totalmente diferente do dela”, conta.

A jovem de 16 anos, que cursa o segundo ano do ensino médio, nasceu e vive em São Caetano, periferia de Salvador (BA). A partir do Projeto Teia Adolescente, estabeleceu contato com pessoas de outros projetos, inclusive com o projeto Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP) do Visão Mundial, grupo do qual também participou.

Empolgada com a experiência, não pretende parar tão cedo de atuar em prol das mudanças sociais e do empoderamento feminino. No Projeto Teia Adolescente, trabalha para mobilizar a comunidade quanto aos problemas locais e buscar soluções. “O projeto mudou muita coisa na minha vida, porque eu não tinha experiência nenhuma, nunca imaginei que estaria aqui (em Brasília, no seminário), fazendo novas amizades, conhecendo culturas diferentes. Estou gostando bastante”, afirma a adolescente, que planeja cursar a faculdade de Nutrição quando concluir o ensino médio.

7

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Beatriz Costa da Silva,PJM – Junqueiro (AL)

Integra o Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM), o qual representou no seminário.

Dentro do PJM, seu mandato trata de temas como inclusão educativa, gênero, participação cidadã, integração regional, jovens e os direitos humanos em meio a parâmetros educacionais.

Beatriz é natural de Arapiraca, mas mora em Junqueiro, ambas cidades do estado de Alagoas. No Parlamento desde junho de 2014, a jovem de 16 anos passou a se envolver em grupos de iniciação científica, grêmios estudantis e movimentos feministas. “Tem sido uma experiência maravilhosa, que me inseriu no mundo das políticas públicas, uma coisa que sempre me interessou”, afirma. A partir do Parlamento, Beatriz pôde criar um grupo de iniciação científica que busca, através de pesquisas sociais, ver o que está funcionando na comunidade e o que precisa ser melhorado, levando os dados às autoridades.

A jovem tem o apoio dos pais. Sua mãe, uma professora que começou a faculdade aos 40 anos, é um espelho para ela. “Viemos de uma família muito simples. Era complicado ingressar na faculdade, e ela conseguiu.” Beatriz pretende cursar Jornalismo e, nas horas vagas, gosta de ler e assistir a filmes.

Beatriz Ribeiro Ayres,JUVA & CONANDA – Palmas (TO)

“Estou na militância pelos direitos femininos porque acredito e defendo a igualdade

de todas as formas. Eu me inspiro em grandes mulheres ao meu redor, como minha mãe, professoras e parceiras de movimento”, afirma a adolescente de 15 anos, nascida em Brasília (DF), que cresceu em Palmas, capital do Tocantins e passou um breve período no interior do Maranhão.

Ela milita no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA) desde os 9 anos e participa da União da Juventude Socialista (UJS) Feminista, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e da Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA). A defesa dos direitos sexuais de meninas e mulheres é a sua principal bandeira.

Estudante do segundo ano do ensino médio, ainda não decidiu que faculdade cursar. “Mas farei algo que me permita militar pela infância, nos movimentos feministas e pela igualdade. Já pensei em, futuramente, me candidatar a um cargo político, mas minha mãe não gosta”, conta Beatriz, que aprecia viajar, ouvir música e andar de skate.

Para ela, é motivo de orgulho ter conquistado um espaço importante na militância e poder ser ouvida em um espaço no qual as mulheres são respeitadas. “As mulheres têm força e devemos estar unidas, sempre”, conclui.

8

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Bianca Oliveira Cruz,Projeto Teia Adolescente – Salvador (BA)

Aos 16 anos, Bianca nasceu e mora em Salvador, capital da Bahia. Participa, há

dois anos e meio, do Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia, no bairro São Caetano. “Eu me motivei a participar porque a comunidade não era muito unida e tinha muitos problemas em relação às mulheres”, conta ela. Antes, já atuava, na associação de moradores, em atividades para os jovens, a exemplo da capoeira. “Pelo fato de a comunidade ter mais mulheres, elas resolveram tomar a frente para resolver os problemas e criar projetos para engajar os jovens”, explica.

Para Bianca, o grupo foi a base que a tornou quem é hoje. “Eu comecei a me envolver mais com políticas públicas”, diz a jovem, que mora com a mãe, o padrasto e os irmãos. Sua rotina inclui escola, cursos e, nos momentos de lazer, comer pizza, dançar e passear no shopping.

No início de seu engajamento social, a mãe de Bianca reclamava das frequentes reuniões e atividades. Mas ao perceber a promoção de mudanças na comunidade, começou a apoiá-la. Bianca sonha fazer faculdade de Medicina e criar uma ONG que leve conhecimento aos jovens da periferia.

Camila Ferreira,PCU & JUVA – Belém (PA)

Natural de Belém do Pará, a jovem de 17 anos participa da rede Juventude Unida pela Vida na

Amazônia (JUVA) e da Plataforma de Centros Urbanos (PCU). Aos 11 anos, já atuava no Movimento República de Emaús, frequentava palestras e gradativamente se interessou por assuntos ligados aos direitos da juventude. Moradora do bairro Jurunas, periferia da capital paraense, vivencia problemas típicos de uma região dominada pelo tráfico de drogas e pela violência. “Via amigos e colegas sendo assassinados, usando drogas. Eu me perguntava o por que de estar acontecendo essas coisas. Participar desses projetos me mudou muito”, afirma.

A jovem conta que, ao conversar com as amigas, tenta ajudá-las, buscando não julgar. Procura também orientar os jovens de seu bairro. “Na minha comunidade, ainda tem muito machismo e esse foi também um dos objetivos de eu estar aqui participando e lutando pelas meninas. As mulheres do meu bairro não são respeitadas. Eu quero lutar por elas, para melhorar isso.”

Camila tem o apoio da mãe, que inclusive a ajuda nas conversas com meninos que estão fora da escola. Os irmãos começaram, recentemente, a participar da PCU. Nas horas livres, ela gosta de ler, enquanto decide se cursa Direito, como deseja, ou segue o conselho da mãe, que acha que a jovem deve seguir uma carreira ligada à área social.

9

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Camilla Celeste Mendes Velasques, FONAJUNE – Belém (PA)

A paraense de 18 anos mora em Belém e participa do Fórum Nacional da Juventude

Negra (FONAJUNE). Antes, fazia trabalhos voluntários na comunidade Terra Firme, onde fica o terreiro de candomblé que frequenta. Ali, promovia atividades lúdicas para as crianças e ajudava a arrecadar cestas de alimentos para as famílias. “A Terra Firme é uma comunidade muito pobre, com pessoas muito humildes. Eu me sinto muito satisfeita em ajudar, porque vejo que as pessoas retribuem esse carinho. Isso me traz muita felicidade”, afirma.

A participação nos projetos a ajudou, inclusive, a construir sua identidade como menina negra. Por temer o preconceito, não assumia a cabeleira crespa até pouco tempo atrás. “É a coisa mais linda, eu vim me descobrindo. E participar do fórum tem me ajudado muito nisso”, revela. Para Camilla, estar no seminário foi uma oportunidade única, que lhe abriu muitas portas, principalmente de conhecimento. Por isso, pretende continuar participando até onde e quando puder. Mas agora que está terminando o ensino médio, quer se dedicar mais ao vestibular. Pretende cursar Engenharia Petrolífera, profissão na qual, mais uma vez, terá de lidar com o preconceito e o machismo. “Vou continuar lutando. Graças a Deus, eu me descobri e amo minha cor, minha raiz, minha religião e tudo isso que está acontecendo.”

Carolina Nunes Diniz,CONANDA – Betim (MG)

Carolina não teve dúvida na hora de escolher a profissão: Ciências Sociais. A jovem de

18 anos, nascida em Belo Horizonte e criada em Betim, aprendeu com movimentos sociais a entender o processo de opressão da sociedade, o que lhe valeu o resgate da autoestima e a defesa intransigente dos direitos humanos. “Quando a gente não consegue entender, não consegue identificar esse processo. E quando o identifica na vida pessoal e na sociedade, o combate vem com mais facilidade e eficiência”, assegura. No seminário, ela representou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA).

Aos 18 anos, acaba de ser aprovada para ingressar na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi mais uma vitória da menina que sempre foi discriminada por sua cor e hoje é militante do Enegrecer - Coletivo Nacional de Juventude Negra. “No Enegrecer, defende-se o empoderamento do jovem negro e da jovem negra. Lá, passei a discutir e entender a dinâmica opressora como um todo, a combater o racismo, o machismo, a homofobia”, conta.

A jovem também participa do Coletivo Kizomba, movimento estudantil de articulação e formação política feminista, anticapitalista e antirracista. “Um movimento que insere na pauta o combate a opressões dentro da escola e na universidade”, explica.

10

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Caterine Soffiati,PCU & REJUPE – Osasco (SP)

Paulista de Osasco, esta jovem de 17 anos não se importa de trocar diversões

típicas da idade pelas atividades sociais. Participa da Plataforma de Centros Urbanos (PCU), iniciativa do UNICEF implementada em parceria com a organização Viração, e da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE). Na Viração, aprende sobre direitos e deveres e participa de audiências públicas. Trabalha pela manhã, faz um curso de Sociologia à tarde e frequenta o ensino médio à noite. “Lazer é bem raro”, admite.

Questionar a realidade foi o que a levou a participar dessas redes. “A gente vê que tem coisas que não convêm e a forma de a gente tentar melhorar alguma coisa é se juntando a grupos”, comenta a jovem, que passou a compreender como o sistema funciona. “Vou me sentindo mais parte do mundo quando estou relacionada a grupos.”

Provável futura universitária de Ciências Sociais, Caterine acha fundamental haver espaços nos quais se aborde o empoderamento feminino, como no seminário. “A escola e a família muitas vezes nos colocam como incapazes de falar, a mídia quer nos modelar e, para mim, o foco é questionar. Assim surgirão pautas de igualdade”, opina.

Charlynne Fonseca dos Santos,Plan Internacional – Paço do Lumiar (MA)

Tornar-se pediatra e dar orgulho à mãe está nos planos dessa menina de 15

anos que mora no município de Paço do Lumiar, região metropolitana de São Luís, Maranhão. Em seu bairro, Pedrinhas, Charlynne reúne meninos e meninas para conversar, brincar e dialogar, mostrando de maneira lúdica seus direitos e deveres. Ela integra um projeto da Plan Internacional – do qual sua irmã, de 11 anos, também faz parte – e começará no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do governo do estado.

Para ela, o projeto foi muito útil ao unir as meninas de seu bairro. “Todo o mundo se conheceu, a gente conversa sobre problemas que têm na família, sobre gênero, sexualidade, aborto legal, estupro, gravidez na adolescência. Essa união entre as mulheres é importante”, assinala.

Estar envolvida nos projetos mudou a sua visão para o futuro. “Eu sempre tive certeza que ia chegar lá, mas o projeto me ajudou muito, até mesmo no diálogo com minha mãe e irmãos, em casa.” A mãe, aliás, é seu exemplo e inspiração. “É ela que me dá força. Quer que eu me forme, é guerreira, já passou muita dificuldade. Eu quero dar o meu melhor para ela.”

11

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Cinthia Elise Camilo,RNAJVHA – Alagoa Nova (PB)

Natural do interior de São Paulo, Cinthia teve que se mudar para a Paraíba,

após a sua mãe adoecer por causa do HIV. Atualmente, mora com ela na cidade de Alagoa Nova. Cinthia faz parte da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA), e sua sorologia se deu através da transmissão vertical (de mãe para filha). “Vi mil motivos para desistir nestes meus 21 anos de vida, mas sei que sou mais forte. Sou apaixonada pela vida.”

A jovem diz que seu sorriso é a sua arma, apesar de, às vezes, usá-lo para esconder a dor. Ama ler, estar com os amigos e procura sempre alguma forma de alimentar e aliviar a mente. No momento, está fazendo curso técnico em Enfermagem, no intuito de ajudar as pessoas. “Passei muitos anos trabalhando em prol do ativismo e vejo que, a cada dia, é crescente o número de casos de adolescentes e jovens se infectando com o HIV. Posso levar a informação sobre os métodos de prevenção. Esse é um trabalho de todos nós”, assevera.

Clécia Karen Fonseca da Silva,PJM – Rio Branco (AC)

Acreana de Rio Branco, Clécia é uma das representantes brasileiras no

Parlamento Juvenil do Mercosul. Ela afirma que nasceu para cuidar dos outros e revela que o foco de sua atuação é a inclusão social. Suas escolhas para o vestibular demonstram isso. Até dezembro, a adolescente de 17 anos vai decidir se cursará Direito ou Psicologia: “Eu me identifico muito com política e gostaria de cursar Direito. Ao mesmo tempo, gostaria de cursar Psicologia porque tenho vocação, gosto de ouvir, dar conselhos”.

Clécia criou o projeto Aficionados por Leitura, no qual incentiva alunos do ensino médio a ler e a interpretar textos. Na escola pública em que estuda, apresenta os projetos e programas que desenvolvem o protagonismo juvenil no ambiente escolar. Integra também o Papo Jovem, projeto da secretaria municipal de Educação e Esporte; ajuda crianças com deficiência, no Coral de Libras; participa do coletivo Quilombo, que executa projetos direcionados à educação e à participação juvenil. “É preciso fazer com que o jovem tenha vez e voz”, diz ela, que sabe como ninguém a importância do empoderamento juvenil e da luta pela igualdade de gênero.

12

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Ellen Karine da Cunha Silva ,Plan Internacional – São Luís (MA)

Equidade, direitos, igualdade de gênero, aborto, mortalidade infantil, dança de rua

e apresentações de hip hop estão entre as atividades de que Hellen participa no Projeto Por Ser Menina, da Plan Internacional, no Maranhão. Moradora de São Luís, onde nasceu há 14 anos, diz que integrar o projeto lhe deu maturidade e coragem, o que inclui coisas simples como se impor na hora de jogar futebol. “Várias vezes eu cheguei no campo para jogar bola e os meninos não queriam aceitar, simplesmente pelo fato de sermos meninas. Contestei e eles acabaram deixando a gente jogar”, conta.

Ela entende que todas as meninas têm o mesmo direito de conviver na sociedade sem sofrer qualquer tipo de desigualdade ou preconceito. Na escola, suas disciplinas favoritas são Matemática e Português, mas ela ainda não sabe se vai seguir carreira em Engenharia Civil, Medicina ou Veterinária. Outro apoio que o projeto proporcionou a Ellen foi o acolhimento, que ajuda a atenuar a saudade da mãe, que vive em São Paulo há três anos. Por conta disso, mora com a irmã mais velha, depois de um período com o pai. “O projeto me acolheu de uma forma muito criativa, porque ao mesmo tempo em que a gente está lá trabalhando assuntos difíceis, temos atividades como a dança.”

Emily Rozendo de Jesus,Prefeitura de Salvador (BA)

A partir do grupo Uniarte, projeto organizado por sua mãe no Calafate, em Salvador

(BA), Emily participou, em 2012, do Encontro da Rede de Mulheres e, em 2014, do II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas. O Uniarte apoia as mulheres da comunidade a se tornarem independentes financeiramente, promovendo feiras de artesanato e seminários. Emily, por sua vez, organiza as ações para crianças e adolescentes. “Tenho um orgulho enorme de ajudar essas pessoas.”

A jovem acredita na força de vontade para obter conquistas. Em termos profissionais, planeja se formar em Engenharia de Petróleo e Gás, mesmo esta sendo uma profissão muito dominada pelos homens e, consequentemente, com forte influência machista. No seminário, buscou aprender coisas novas e conhecimento para tentar superar situações difíceis existentes em sua casa, na comunidade, na escola e também para aprender a liderar. “Temos que saber lidar com o preconceito, pois muitos homens não acreditam em nossa capacidade, ainda mais nós, meninas negras, da periferia.” Conhecer a Disney é um sonho que um dia pretende realizar.

13

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Erica Camila da Silva OliveiraREJUPE – Natal (RN)

Acompanhar a vida da mãe, assistente social, despertou em Erica, de 18 anos, o

gosto por projetos sociais. Nascida e criada em Natal (RN), atua em defesa da garantia de direito a todo cidadão e, desde 2012, participa da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE).

Com facilidade para se comunicar – quer se formar em Jornalismo, Publicidade e Radialismo, gosta da interação com crianças e diz que o projeto fez dela uma pessoa melhor. “Sou mais humilde hoje, porque você chega numa comunidade e vê uma realidade devastadora. E vê que as pessoas tentam crescer e as oportunidades são mínimas. Então você traz uma luzinha no fim do túnel para cada uma daquelas pessoas e isso faz bem. Pelo esporte, a gente chega com mais facilidade nas crianças e adolescentes”, conta, entusiasmada.

Ao mostrar que para exercer o direito ao esporte é preciso ter assegurados outros direitos, como a educação e a saúde, a jovem declara: “A partir do momento que você defende uma causa e se envolve com um projeto de voluntariado, cria ambições, conquistas, metas. A gente quer sempre mais para o outro”.

Érica da Silva Oliveira,FONAJUNE – Manaus (AM)

Desde criança, essa amazonense de 16 anos participa de atividades relacionadas

à equidade de gênero no Movimento Feminista Maria Sem Vergonha. Sempre foi direcionada por sua mãe, que faz parte do movimento há mais de 15 anos, e a manteve, assim como seus irmãos, trilhando caminhos para adquirir conhecimentos sobre o que o sistema impõe sobre as pessoas desde muito cedo. Seu pai também contribui muito para seu desenvolvimento nesses saberes.

Érica participa ainda do Fórum Nacional da Juventude Negra (FONAJUNE) no Amazonas, criado em 2014, para o qual foi levada por uma amiga, a mesma que a indicou para o II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas. “Agradeço muito a oportunidade que me foi dada.” O objetivo de Érica durante o seminário foi aproveitar ao máximo tudo o que foi colocado em debate, para adquirir conhecimento e ajudar a desenvolver projetos na comunidade onde vive, em Manaus.

14

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Flaviane da Silva Oliveira da Penha, RENAJOC – Niterói (RJ)

Integrante da Rede Nacional de Jovens Comunicadores (RENAJOC) há mais de

dois anos, essa jovem de 17 anos mostra que crianças e adolescentes também podem produzir comunicação. “Muitos acham que só o adulto pode se comunicar e ter direitos, e isso não é verdade, porque o adolescente e a criança também podem se comunicar. No projeto, usamos mais a internet, mas também temos jornal mural, temos intervenções da escola, na rua”, relata. Nos comunicados, aborda os direitos da criança, do adolescente, das meninas e dos negros. “São os assuntos que estão mais no cotidiano, as dificuldades que enfrentamos.”

A atuação na Rede a ajudou a perder a vergonha de ser negra. “Falavam que meu cabelo era duro, eu cheguei a alisá-lo. Eu tinha muita vergonha. A mulher é desvalorizada e, por ser negra e morar em comunidade, é ainda pior. Sofria muito preconceito. Aí, quando eu vim para a RENAJOC, comecei a conhecer os meus direitos. Eu não tinha que ter vergonha de ser negra. Consegui me valorizar”, comemora a niteroiense de 17 anos que pretende ser jornalista. Nas horas livres, ela joga rugby, pratica vela e remo e ainda compõe raps, além de tocar flauta e violoncelo na Orquestra de Cordas da Grota, comunidade da cidade fluminense de Niterói, onde Flaviane vive.

Gabrielly Gusmão,PJM – Brasília (DF)

“Eu vivo numa realidade em que os jovens buscam o melhor, mas muitos perdem

a vontade de estudar e acabam deixando a escola para trabalhar, por estarem grávidas ou por usarem drogas e se envolverem no crime. É uma realidade dura que a gente vive todo dia. No projeto, estamos atuando e tentando mudar essa realidade”, resume a jovem de 17 anos, moradora do Recanto das Emas, no Distrito Federal.

Para enfrentar essa realidade, Gabrielly atua no Parlamento Juvenil do Mercosul. “Estou em contato com pessoas e realidades novas, é uma forma de poder mostrar lá fora como está o ensino no DF e no Brasil”, diz.

Ela conta que o próprio projeto é uma novidade em sua comunidade. “Minha escola nunca teve isso. Participar tem sido ótimo, estou aprendendo coisas que eu nunca pensei que fosse capaz. O Parlamento e as pessoas envolvidas estão me mostrando que realmente consigo alcançar aquilo que quero e posso ser”, afirma, referindo-se ao desejo de estudar Psicologia para trabalhar com crianças e adolescentes – seu eixo de atuação no projeto é a inclusão educativa.

15

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Gessiele Azevedo de Souza,Projeto Teia Adolescente – Salvador (BA)

Aos 17 anos, Gessiele participou do II Seminário Internacional de

Empoderamento de Meninas representando o Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia e a prefeitura de Salvador. Ela atua na Associação de Moradores de São Caetano, bairro da capital baiana que sedia a iniciativa. “O projeto ensina a gente a ser líder das nossas próprias vidas. Participar me dá mais segurança e confiança. Eu acho que eu já me desenvolvi muito, tanto na vida profissional quanto pessoal”, afirma a jovem.

Gessiele vive com os pais, seus grandes incentivadores. A mãe, diarista, apoia a filha para que ela tenha estudo, formação e, no futuro, um bom emprego. A jovem aproveita a oportunidade para adquirir experiências e se sente realizada por poder conviver com pessoas que a estimulam e têm perfil de liderança. Na dúvida entre as carreiras de arquiteta ou psicóloga, vivencia a atuação política e social como uma oportunidade também para evoluir profissionalmente. “Estou fazendo a minha parte, atuando no meu bairro, participando de seminários”, conclui.

Iana Mallmann,INESC – Brasília (DF)

A atuação dessa cearense criada em Brasília começou aos 15 anos, como ativista

do movimento LGBTTTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Teoria de Queer e Intersexuais). Passou pelo Conselho Escolar e o Grêmio Estudantil, que pavimentaram seu caminho no movimento estudantil. Atualmente, faz parte do Adolescente em Movimento pelos Direitos (Onda), um projeto do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC).

Em 2013, Iana ajudou a formar, em sua escola, o grupo Feministas no Poder, pois a questão de gênero afetava muito as meninas. Iana batalha também pela melhoria do ensino médio no Brasil. No fim de 2014, ela contribuiu para a elaboração do Relatório de Sistematização dos Cenários Transformadores para a Educação Básica no Brasil, promovido pelo Instituto REOS, em São Paulo. Hoje, ela também atua na campanha Fora da Escola Não Pode!, que busca promover a inclusão de crianças e adolescentes na escola. A iniciativa do UNICEF é apoiada pelo INESC.

Sobre o seminário, afirma: “Que no final de todo o aprendizado coletivo possamos, juntas, combater com mais força a desigualdade de gênero”.

16

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Isabela Sousa Silva,Plan Internacional – Codó (MA)

Nascida em Itapecerica da Serra (SP), mora atualmente em Codó, interior do Maranhão.

Conheceu o Projeto Por Ser Menina, da Plan Internacional, em sua escola. Para ela, foi uma oportunidade para ser ouvida e se orgulhar de ser menina. “Há dois anos eu não sabia o que significava a Plan. Foi um ponto marcante na minha história, me fez conhecer mais os meus direitos, a ter respeito, saber o que eu posso ou não fazer. Também aprendi a me relacionar melhor com os meus pais, que são separados.”

Prestes a completar 15 anos, ela participa das oficinas temáticas sobre igualdade de gênero e identidade, faz teatro e participa do Projeto Futebol Feminino, também da Plan. Não abre mão de sua liberdade de vestir e pensar. Pensa em cursar Engenharia ou Astronomia, porque é seu sonho, mas também no intuito quebrar um paradigma por serem profissões consideradas masculinas. Estar no projeto a faz se sentir diferente das meninas que não fazem parte dele. “Para elas, menina não pode usar azul, só rosa. E só menino pode pilotar avião, entre outros pensamentos machistas”, lamenta Isabela, que gosta de estudar inglês e de sair com os amigos.

Jiovanna Maria Oliveira Tito,NUCA – Teresina (PI)

O encontro de jovens na igreja de sua cidade foi o ponto de partida do envolvimento de

Jiovanna, de 18 anos, com o empoderamento de crianças e adolescentes. Primeiro, ensinando-os sobre religião e, depois, buscando esclarecê-los em relação a temas típicos da idade. “Sonho com um mundo melhor. Eu vejo jovens na minha cidade engravidando cedo, no mundo das drogas. Então, pensei: preciso fazer alguma coisa, enquanto posso e sou jovem”, conta ela, que nasceu em Madeiro e hoje vive em Teresina, onde participa do Núcleo da Cidadania e do Adolescente (NUCA), ação estratégica do Selo UNICEF Município Aprovado.

Preparando-se para o vestibular para Nutrição, ela gostaria de sair de cidade em cidade no Piauí para empoderar meninas, pois acredita que o machismo ainda ocupa muito espaço. Praticamente todo o seu trabalho é desenvolvido em Madeiro, onde há índices altíssimos de jovens mulheres grávidas. “Nosso grupo faz vídeos. Produzimos um filme sobre gravidez na adolescência que teve grande repercussão. Procuramos passar de uma forma clara, porque se formos lá e só falarmos eles não vão entender”, resume a jovem, para quem a igreja cumpre um papel fundamental na vida dos jovens ao ajudar no convívio familiar e social.

17

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Joyce Cristina Moraes Almeida,PJM – Coaraci (PA)

Com 16 anos, Joyce cursa o terceiro ano do ensino médio e é representante do

Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM). Em 2014, ela participou da seleção estadual para o PJM, foi classificada para a etapa nacional, e posteriormente foi selecionada para representar o Brasil nesse fórum de discussões – juntamente com outros 26 adolescentes e jovens, um de cada unidade federativa. A iniciativa foi promovida pelo Ministério da Educação com estudantes do ensino médio de escolas públicas de todo o país.

“Foi o primeiro projeto social do qual participei. Depois da seleção nacional, em Gramado (RS), tivemos um curso de formação em Brasília, organizado pelo Ministério da Educação e UNICEF. De lá, já comecei a atuar e percebo um desenvolvimento pessoal muito grande”, diz a paraense, que no ensino fundamental já demonstrava vocação para a liderança. Atuou no conselho estudantil e, depois, no grêmio da escola.

Atualmente, está tendo a experiência de conhecer a realidade de outros países, especialmente a educacional. Ela conta que esteve no Uruguai e foi uma “oportunidade de conhecer a realidade dos países do Mercosul e ver que não é só o Brasil que tem carência educacional”. Em Coaraci, onde vive, visita escolas, conversa com diretores, discute o que pode ser melhorado. Tudo pelo bem da juventude.

Juliana da Silva Lima,JUVA – Boa Vista (RR)

A participação cidadã tem expandido os horizontes dessa adolescente de 15 anos

nascida na capital de Roraima. Inspirada pelo avô, que lhe ensinou a valorizar as particularidades da região, ainda muito isolada do restante do país, ela se animou a participar de projetos e se envolver com a comunidade, como ele. “Meu avô sempre me ajudou a enxergar que a gente tem que entender as especificidades de cada lugar e não pode generalizar, pois o Brasil é um país muito diverso.”

A Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA), criada pelos próprios adolescentes, mudou sua vida e visão de mundo. “Se não fosse pela participação cidadã, eu não teria metade da personalidade que eu tenho.” O engajamento de Juliana, que pretende cursar a faculdade de Relações Internacionais, é para mudar a visão que muita gente tem dos adolescentes. “Muita gente diz que adolescente não sabe de nada, que são aborrecentes, e não vão contribuir para que a sociedade seja melhor. A gente pode provar que isso não é verdade”, alega.

18

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Karina Silva da Silva,Plan Internacional – Timbiras (MA)

Fã de esportes, participa há um ano do Projeto Futebol Feminino, da Plan. Moradora de

Timbiras, cidade vizinha a Codó, no Maranhão, ensina outras meninas as manhas e macetes do esporte bretão. Apesar de também praticar futsal, ainda precisa encarar o preconceito enraizado, de que futebol é para homens – mas agora sabe que não é bem assim.

Mais do que esporte, cidadania e direitos foram conceitos que Karina adquiriu ao ingressar na Plan. Aprendeu que os deveres têm de ser cumpridos e existe a hora certa de expressar a sua opinião. “A minha gestora me ensinou que a gente não deve temer falar sobre os direitos da gente e devemos saber reivindicar. Aprendemos muito sobre violência, direitos da criança e do adolescente e também sobre igualdade de gênero”, descreve.

Filha de mãe adolescente, Karina foi criada pelos avós – a mãe trabalha longe e contribui financeiramente para a sua educação, assim como o pai. Aos 18 anos, acaba de concluir o curso técnico em Enfermagem, e sonha com a faculdade de Medicina, para ajudar as pessoas mais necessitadas.

Lara Quézia Santos de Araújo,FONAJUNE – Salvador (BA)

Aos 18 anos, Lara mora em Salvador, cidade onde nasceu e vive com os pais na

comunidade de Cajazeiras. Representou o Fórum Nacional da Juventude Negra (FONAJUNE), pela Bahia, durante o II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas. Faz parte, há quatro anos, da organização internacional Visão Mundial, cujo trabalho visa localizar crianças em situação de vulnerabilidade, como tráfico de drogas e violência. “A gente monta as atividades da organização para tirar as crianças dessa condição, ajudando as famílias.”

A vontade de querer mudar algo no mundo a levou a atuar socialmente. No dia-a-dia, dá aulas de dança como voluntária na Visão Mundial e faz parte do grupo Jovens Desenvolvendo a Comunidade (JDC), que busca a melhoria dos serviços públicos. Considera o trabalho social quase um lazer. Ainda não sabe qual faculdade vai cursar, mas tem certeza que será algo que a permita seguir atuando na área social. De origem muito humilde, tem na mãe uma incentivadora. “Minha mãe não teve oportunidades de conhecer pessoas, culturas diferentes. Ela me motiva a ser um exemplo para meus irmãos pequenos.”

19

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Larissa Lory Miranda Ramos,FONAJUNE – Macapá (AP)

Única representante do estado do Amapá no II Seminário Internacional de

Empoderamento de Meninas, a adolescente de 15 anos nasceu e vive em um quilombo, o Curiaú, a cerca de dez quilômetros da capital, Macapá. Integrante do Fórum Nacional da Juventude Negra (FONAJUNE), também faz parte da Associação Mulheres Mãe Venina do Quilombo do Curiaú, cuja presidente é a sua mãe. Tem uma vida muito diferente da maioria das meninas de sua idade: sem celular, nem acesso à internet. “Gosto de morar lá, é um lugar tranquilo, com muito contato com a natureza. Na comunidade quilombola, conheço todo o mundo, tenho lazer e pratico esportes”, relata.

Órfã de pai, que faleceu quando ela tinha 12 anos, Larissa se espelha na mãe e no irmão, ambos socialmente engajados. Foi o irmão, por sinal, quem a indicou para o seminário. “Eles são o meu olhar, o meu orgulho”, afirma a jovem, que tem a intenção de se formar em História e lecionar. Por enquanto, coleta relatos dos antigos moradores para uma pesquisa de campo da Universidade Federal do Amapá, visando resgatar as origens do Curiaú.

Letícia Catellan Silva,PJM & IIDAC – Campo Grande (MS)

A estudante de Direito, moradora da capital do Mato Grosso do Sul, acaba de concluir

seu mandato de dois anos no Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM). Aos 18 anos, participa dos projetos do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC), mas considera que a base de sua formação foi construída no Parlamento. A consciência política, no entanto, encontra inspiração familiar. “Domingo, no café da manhã, o assunto era a conjuntura política do país”, conta.

O engajamento em atividades políticas e sociais, propriamente dito, começou aos 14 anos, quando Letícia teve a oportunidade de participar de um projeto em seu estado que ensina aos jovens como funciona o Poder Legislativo. “Isso me ajudou até a perder um pouco a timidez para falar em público. Amo o que faço”, diz a jovem, que se diz encantada com a chance que teve de, por meio do PJM, poder ajudar a melhorar a educação não só no Brasil, como também no Mercosul.

20

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Lorraine Monzilar Siqueira Gomes,REJUIND – Barra do Bugres (MT)

A questão da demarcação de terras, o fortalecimento da cultura indígena e os

conflitos de terra são temas que Lorraine, de 16 anos, discute como integrante da Rede de Jovens Indígenas (REJUIND). Ela mora e estuda na Aldeia Umutina, no município de Barra do Bugres, interior do Mato Grosso. Conta que lá a participação das mulheres nas atividades é paritária à dos homens. Em 2010, por exemplo, uma mulher tornou-se cacique.

Lorraine reporta que sua aldeia não enfrenta problemas típicos de outras comunidades indígenas, como conflitos com fazendeiros. Na cidade, muitos moradores sequer têm conhecimento da existência da Umutina. “Muitos dizem que não pareço indígena e isso mexe muito comigo, porque quero parecer mais”, afirma Lorraine. Ela deseja cursar a faculdade de Veterinária e recebe total apoio de sua mãe em tudo o que faz: “Se depender dela, participo de todos os eventos”.

Nas horas vagas, gosta de ler e de jogar bola. Sobre o fato de viver entre a aldeia e a cidade, ressalta o quanto aprende podendo participar das duas culturas. “Os conhecimentos culturais diferentes são muito importantes para aprender a respeitar cada povo.”

Luana Fernandes Uchôa Guimarães,RNAJVHA – Rio de Janeiro (RJ)

Os longos períodos de internação na infância despertaram na carioca Luana o

desejo de se tornar médica infectologista. Aos 18 anos, participa há seis da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA). “Sempre gostei de falar de saúde, fazia campanhas de prevenção. A rede me ajuda a enfrentar minha realidade”, relata ela, que está concluindo o ensino médio.

O preconceito ainda existe – menos do que há alguns anos, segundo Luana. E quando passa por algum tipo de situação desagradável, é na RNAJVHA que ela encontra apoio e acolhimento. “A rede te ensina a ser madura o suficiente para lidar com o preconceito e a entender que nem todo o mundo tem informação. A gente tenta explicar, para ajudar a mudar a cabeça da pessoa, e na maioria das vezes, consegue”, comenta a jovem, que vê nessas situações, inicialmente desagradáveis, oportunidades de aprendizado.

21

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Mairã Soares Sales,JUVA – Bujarú / Belém (PA)

A determinação de Mairã fez com que ela estudasse muito e prestasse vestibular

desde o primeiro ano do ensino médio, “para não ficar nervosa na hora”. A jovem de 19 anos, nascida em Bujarú, a 85 km de Belém, tem lutado para realizar seu sonho. Cursa hoje, na capital paraense, o quarto semestre de Direito e quer atuar na área pública.

Vinda de um pequeno município onde a luz chegou há pouco e a “mulher não precisa estudar”, Mairã deu a volta por cima. Quando ingressou na faculdade, conheceu o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA) - Emaús, que atua, entre outros, em casos de crianças e adolescentes vítimas de violência, muitos em situação de rua. Começou aí o gosto por projetos sociais.

Participar dessa frente de trabalho fortaleceu a jovem e hoje ela tem importante atuação política. Trabalha em projetos da Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA) e integra um grupo de estudos com meninos e meninas da periferia de Belém e do interior, de onde saem encaminhamentos para melhorar comunidades. Um exemplo foi a conquista da acessibilidade em escolas. Além disso, adolescentes e jovens das comunidades onde atua têm voz nos conselhos municipais de saúde e educação e começam a conquistar seus direitos.

Maria Thainá Monteiro Netto,PCU – Rio de Janeiro (RJ)

Comunicativa e pronta a fazer novas amizades, essa carioca – tijucana do Morro

do Borel, com orgulho – tem 19 anos e terminou o último ano do ensino médio em 2014. “Amo o lugar onde eu moro e não tenho vergonha de declarar esse amor”, afirma, entusiasmada, a jovem, que participa da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU), iniciativa do UNICEF, que no Rio de Janeiro é implementado em parceria com o projeto RAP da Saúde (Rede de Adolescentes e Jovens Promotores da Saúde).

Há alguns anos, perdeu a mãe, fato que a marcou profundamente e a fez amadurecer. “Isso me ensinou a ver o mundo com outros olhos”, diz Maria Thainá, que participa de vários eventos culturais em sua comunidade relacionados à questão de gênero.

A ausência materna a fez encontrar no RAP da Saúde uma nova família. Voltada a incentivar participação cidadã de adolescentes e jovens, a rede trata de diversos assuntos na área da saúde das comunidades, o que inclui a questão do gênero. “Nosso objetivo é alcançar outros jovens do Brasil que não têm essa oportunidade que nós temos e, assim, ampliar nossas visões sobre o gênero”, afirma.

22

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Marina Costa Bandeira Saldanha,REJUPE – Fortaleza (CE)

Apesar de não se identificar diretamente com as práticas desportivas, Marina aderiu

há dois anos à Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE). Isso porque sempre teve afinidade com a temática dos direitos. A participação na rede fez a jovem, hoje com 18 anos, apaixonar-se pelo direito ao esporte. “É importante você ter sua participação como cidadão. O esporte é um direito ao qual eu sempre tive acesso, enquanto estudava em uma escola privada, mas e o direito das outras pessoas?”, questiona ela, que morou em São Paulo por nove anos antes de mudar-se para Fortaleza.

No início de seu engajamento, os pais se opuseram, por temer que os estudos fossem prejudicados. Mas ela os convenceu, mostrando que seria um grande aprendizado que ela não obteria em nenhum outro lugar. E hoje se considera uma cidadã mais consciente. “Tento mostrar às pessoas ao meu redor de que para tudo tem uma solução, a gente precisa se unir e lutar”, afirma Marina, que optou por estudar Gastronomia e conciliar sua futura profissão com o trabalho social. “Na minha área profissional posso também fazer muita coisa para ajudar as pessoas.”

Maryule Damas Fazolo,NUCA - Colatina (ES)

Nascida em Resplendor (MG), há 16 anos, Maryule vive em Colatina (ES) e participa

ativamente, desde 2014, do Núcleo de Cidadania do Adolescente (NUCA). Sua militância, entretanto, vem de muito antes.

Deficiente visual – tem 10% de visão em apenas um olho –, já esteve em várias conferências e semanas de luta da pessoa com deficiência. No II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas, inclusive, representou o NUCA e a Associação para Pessoas com Deficiência Visual em Colatina. “Abraço a causa desde pequena. É preciso mostrar que a pessoa com deficiência também é capaz”, diz.

Uma das reivindicações que gostaria de ver atendidas é a áudio-descrição em teatros e outros ambientes. Utilizando a mesma aparelhagem da tradução simultânea, o deficiente visual pode, pelo fone de ouvido, acompanhar os diálogos dos atores.

Como vice-presidente do Conselho Municipal da Juventude, Maryule participará da X Conferência da Criança e do Adolescente. “É preciso dar mais liberdade de expressão ao adolescente, mais voz na sociedade. As pessoas acham que adolescente não pode opinar, não tem opinião formada. Tentamos acabar com essa ideia”, comenta.

23

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Mayra Kelner,RENAJOC - Recife (PE)

No blog Juventude Conectada aos Direitos, com duas primas e um amigo, essa

pernambucana de 18 anos realiza sua militância social. Ligada à Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (RENAJOC), por meio da organização Auçuba – Comunicação e Educação, de Recife, Mayra mora na capital de Pernambuco com a mãe e o irmão mais novo.

No ar desde 2010, o blog publica resenhas de seminários, fóruns e atividades dos quais os quatro jovens participam. Sua militância, no entanto, começou na comunidade onde vive: Alto da Bondade. “Fazia cursos, um deles de Direitos Humanos. Como jovem protagonista, comecei a ir em comunidades e dar oficinas para crianças e adolescentes. Em 2010, no curso de comunicação da Auçuba, veio a ideia do blog”, recorda ela.

Em dúvida entre as faculdades de Jornalismo e Direito, nas horas livres, Mayra frequenta a Igreja Metodista, namora e passeia com os amigos. Trabalha como auxiliar de creche e, de noite, cursa o ensino médio por módulos. Na rede, adquiriu autoconfiança e conhecimento. “Antes eu não conhecia meus direitos, não sabia o que era certo e errado. A rede me abriu os olhos, percebi que posso entrar numa faculdade, ter um emprego, mesmo que as pessoas digam outra coisa”.

Nathalia Cristina Ferreira Rodrigues,REJUPE – São Bernardo (SP)

Natural de Sertãozinho, interior de São Paulo, Nathalia tem 16 anos e sempre morou na

capital paulista. Desde março de 2014, participa da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE) e, antes, já colaborava de forma voluntária com a Agência Jovem de Notícias – um projeto que proporciona cursos e discussões sobre política, juventude, direitos humanos e atua com jornalismo e comunicação. “O trabalho me ajuda a aprender a ouvir as pessoas, a respeitar o que é diverso”, resume Nathalia, que cogita ser professora de História ou cursar Ciências Sociais.

Sua mãe, que a criou sozinha, é seu grande exemplo. “Ela me mostrou que a gente pode fazer as coisas sem depender de alguém. É sempre bom ter um apoio, mas quando não tem, a mulher também vai se virar. Minha mãe trabalhou e estudou, nunca desistiu. Tentou dar o melhor para mim e sempre me incentivou em projetos sociais, de cultura”.

Na escola, ela luta contra o machismo. Por exemplo, se o professor passa futebol e deixa as meninas de lado, reivindica que elas também participem. “A gente tenta mostrar isso para outras garotas, mas às vezes é difícil, porque (o machismo) é uma cultura enraizada”.

24

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Nieves Rodrigues Lopes da Silva,Educação do Campo – Marabá (PA)

Nascida, criada e moradora de um assentamento (antes acampamento) do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Marabá, no Pará, Nieves participa de todas as atividades do movimento. Integra o coletivo estadual de juventude, fica na secretaria e também auxilia na organização de encontros de mulheres, das crianças do MST (os sem terrinha) e da juventude. “Com as crianças, a gente tenta conscientizar, desde pequenas, que todos temos os mesmos direitos, e que temos diferenças e particularidades”.

Ela reconhece que, para a mulher, nem sempre é tranquila a militância no campo. “O machismo é uma cultura do Brasil, mesmo, e acabar com ele é muito difícil.”

Aos 17 anos, vive entre a cidade e o assentamento, tentando sempre se equilibrar e entender as diferenças entre habitantes de dois mundos tão distintos. Cursando o ensino médio, em 2013 ingressou na Educação do Campo, na Universidade do Pará. Embora goste de ouvir música e encontrar os amigos, usa a maior parte do tempo em que não está na escola para se dedicar ao MST. “Meio que respiro esse movimento”.

Rafaela Simões Oh,CONANDA – Atibaia (SP)

Aos 16 anos, a paulistana Rafaela participa há dois anos do Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e também faz parte do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (CEDECA), em São Paulo. Sua motivação para atuar política e socialmente foram suas próprias dificuldades pessoais. Não tem contato com o pai, a mãe faleceu há dois anos e tem um irmão dependente químico. Vive com duas irmãs, uma gêmea e outra mais velha, que sofre de esquizofrenia – mas com um quadro controlado da doença. Também já viveu em abrigo. Daí quis conhecer seus direitos e saber quem era, enquanto cidadã. “É muito importante ter voz, porque sem participação não se tem consciência do que reivindicar”, assinala.

Seu envolvimento social a fez se interessar por políticas públicas e a ajudou a amadurecer, inclusive em relação ao irmão. Ela avalia que, em um universo de convívio mais feminino, cria-se maior consciência das leis e dos direitos. Atualmente, Rafaela faz o curso técnico em eventos e estuda no ensino médio. Para o futuro, sonha com a faculdade de Medicina.

25

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Raíssa Rodrigues Mendes,PJM – São Paulo (SP)

Autoconfiança foi uma das conquistas pessoais adquiridas por Raíssa, de 15 anos,

por meio de sua participação no Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM). Antes, buscava atuar em projetos de voluntariado nos quais não precisasse falar ou se expor em público. Seu interesse em ajudar as pessoas, diz, está ligado à sorte de ter tido uma vida feliz e confortável em família. “Decidi levar um pouco da minha felicidade. Já que não posso dar dinheiro, por que não ajudar fazendo outras tarefas?”

A principal mudança em sua vida, após a atuação nos movimentos, se refere à habilidade de comunicação. “Antes, via as coisas erradas e ficava em silêncio”, lembra Raíssa, que cursa o ensino médio. Ela cogita tentar a faculdade de Relações Internacionais, pois pretende levar em frente suas descobertas, a solidariedade e realizar um trabalho político. Para a jovem, o parlamento é um facilitador, porque antes não colocava em prática o que planejava por temer críticas. “Eu tinha ideias, mas não tinha iniciativa, confiança em mim mesma. Tinha medo de alguém falar: ‘Não, sua ideia é péssima!’”.

Ravanna Amorim Santos,PJM – Salvador (BA)

Ravanna tem na questão do gênero seu eixo temático favorito no Parlamento Juvenil do

Mercosul (PJM), o qual integra desde junho de 2014. E é sobre o tema que desenvolve trabalhos de conscientização nas escolas de Salvador (BA), cidade onde nasceu, 16 anos atrás. Atualmente vive no bairro de São Cristóvão.“Eu recebia convites e dava palestra, pois sempre estudei e gostei desse tema. Mas projeto e voluntariado nunca tinha feito”, conta a estudante do segundo ano do ensino médio. Ravanna mora com os pais e o irmão de 5 anos. Acha importante o apoio que recebe da família. “Eles sabem a importância que o Parlamento tem para mim”, diz a jovem, que pretende cursar Relações Internacionais.

Apesar de Salvador ser, proporcionalmente, a capital com maior população negra no país, isso não quer dizer que ela sofra menos preconceito. “Nos bairros pobres só há negros, e nos ricos, brancos. É uma luta constante, você não pode baixar a cabeça”, assinala. Ravanna é bastante religiosa e credita a Deus sua força e à mãe, o discurso pró-igualdade. “Ela sempre me disse que tenho os mesmos direitos que todas as pessoas. Perante Deus todos são iguais.”

26

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Rayanna Vinente (Hannah),PCU & REJUPE – Manaus (AM)

Prefere ser chamada pelo seu apelido, Hannah, pelo qual é mais conhecida essa

jovem de 16 anos nascida na capital do estado do Amazonas, Manaus. Na sua cidade, atua como ponto focal da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE), integrando o grupo que incentiva a presença feminina no esporte. Fã de handebol – seu favorito – e de futebol, participa ainda da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU), iniciativa do UNICEF, e do Comitê Juvenil Contra Exploração Sexual de Jovens e Adolescentes no estado, entre outros movimentos.

Estudante do segundo ano do ensino médio, Hannah mora com a mãe e a irmã no bairro Eldorado, cuja única quadra de esportes fica fechada para um projeto específico, impedindo os moradores de praticar esportes. Na escola, a situação não melhora. “Os professores não são muito bem treinados para ensinar os benefícios dos esportes para o nosso desenvolvimento físico e motor. Geralmente, deixam uma bola com os meninos, enquanto as meninas ficam conversando”, relata. Essa falta de participação feminina nos esportes foi o que a motivou a engajar-se na REJUPE e, daí, nos demais movimentos nos quais atua – além dos já citados, marca presença ainda no Coletivo Jovem pelo Meio Ambiente de Manaus. “É fascinante trabalhar com a inclusão social e a garantia de direitos”, afirma.

Rhaiza Moreira,REJUPE – Brasília (DF)

Praticante de corrida, integra a Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao

Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE) desde 2012. Na ocasião, foi convidada a representar o Instituto Joaquim Cruz, que atua com inserção social por meio do esporte. Rhaiza mora no Riacho Fundo II, no Distrito Federal. Trabalha de manhã e cursa pré-vestibular, à noite, na intenção de ingressar na faculdade de Serviço Social. “Quero sempre estar em projetos, ajudando as pessoas”, afirma.

Por enquanto, se divide entre as casas do pai e da mãe, que lhe dão todo o apoio em suas atividades. Só lamenta a falta de tempo, pois participa de outros projetos e ainda cumpre obrigações domésticas. Ela revela que só se deu conta das diferenças raciais quando ingressou em movimentos sociais. “Na escola pública onde estudei havia diversidade. Também nunca havia me atentado à questão de gênero, mas agora comecei a reparar e a entender isso.” Para ela, é necessário empoderar todas as pessoas, independentemente da cor da pele.

27

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Rita de Cássia dos Santos,REJUIND – Baía da Traição (PB)

Rita é uma indígena potiguara de 19 anos, que vive na Aldeia de Caieira, no interior

da Paraíba. Participa da Rede de Juventude Indígena (REJUIND) e da Organização de Jovens Indígenas Potiguaras do Estado da Paraíba (OJIPE), que visa atender às necessidades dos cerca de 21 mil índios das 33 aldeias potiguaras distribuídas em três municípios da região.

Para ela, ser mulher e indígena na sociedade atual é uma forma de quebrar paradigmas, como o preconceito e o machismo. “Não é porque uso pena na cabeça ou tenho cabelo encaracolado que devo ser excluída. Eu me vejo como uma pessoa revolucionária, porque não vou renunciar às minhas raízes para seguir o padrão que a sociedade impõe.”

Seu dia-a-dia é basicamente dentro da aldeia, mas também frequenta as cidades próximas. Faz faculdade de Pedagogia e ainda pretende cursar Farmácia, para orientar seu povo sobre plantas que curam, evitando o uso de remédios e voltando às origens. A jovem preza a sua essência e se preocupa com as próximas gerações. “Penso na tecnologia, em seu mau uso, no excesso, porque hoje a juventude está muito ligada em redes sociais e não em se descobrir. Eu acredito que você precisa saber de onde é, de onde veio, porque é isso o que te faz.”

Sirlene Jagniri Néris,REJUIND – Chapecó (SC)

Sirlene tem 17 anos e mora com os pais e cerca de sete mil indígenas na comunidade

Kaingang, situada na reserva Chapecozinho, município de Ipuaçu, em Santa Catarina. Desde 2014, participa, por indicação de um tio, da Rede de Juventude Indígena (REJUIND). Conta que é a única jovem de sua aldeia no movimento. “Busco saber mais sobre os direitos dos indígenas, levar conhecimento para a reserva e atrair a juventude”, resume.

Estudante de Ciências Sociais em uma universidade da cidade de Chapecó, ela está pesquisando pinturas e vestimentas indígenas para apresentar às crianças da reserva, a fim de que conheçam suas tradições e incorporem seus costumes. Um dos seus motivos de orgulho é ter aprendido a valorizar sua cultura e as lutas de seu povo. Lamenta, no entanto, que a demarcação de terras seja questionada pelos moradores da cidade. “A reserva é maior que o município e quando vamos à cidade somos alvo de preconceito. Muitas vezes conversei com essas pessoas para saber o motivo (da hostilidade), pergunto se já foram à reserva e descubro que muitos agem por imitação, porque é do senso comum ser contra índios”, lamenta Sirlene, que sonha estudar Antropologia e Direito, sempre com o objetivo de lutar por seu povo.

28

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Suyanne Maroyse da Cruz,NUCA – Parelhas (RN)

Desde bem nova, Suyanne frequenta palestras e grupos de valorização da

cultura negra, levada pelos pais. Contribuiu consideravelmente o fato de serem quilombolas na cidade de Parelhas, no Rio Grande do Norte, região Nordeste do país. “Minha comunidade não era bem vista nem valorizada”, revela a adolescente de 16 anos, que se orgulha do incentivo que sempre recebeu da família para expressar sua opinião. “Isso me fortalece como mulher e negra”.

Entre os grupos dos quais já participou estão o Pérolas Negras, de dança afro, e o Negros de Rosário, além do Afro-Guerreiros, de percussão. Atualmente, integra o Núcleo de Cidadania do Adolescente (NUCA), onde trabalha a questão do preconceito racial.

Suyanne terminou o ensino médio e estuda para fazer faculdade de Educação Física e, depois, Medicina. Considera-se uma lutadora em prol da cultura negra. E questiona a versão de que a consciência negra é trabalhada nas escolas. “Pelo menos na minha cidade não é. O negro tem que lutar pelos seus valores, mostrar quem realmente é. Não pode baixar a cabeça para ninguém, tem que persistir.”

Tabita Abe Assunção,SNJ – Cuiabá (MT)

Negra com sobrenome japonês herdado do bisavô, Tabita se identifica mais fortemente

com suas raízes africanas. E é nessa causa que a jovem de 19 anos se engaja. Moradora de Cuiabá, capital do Mato Grosso, sempre se interessou por Direito, motivo pelo qual se inscreveu no curso de Promotora Legal Popular, que aborda os direitos humanos da mulher. Ao final de um ano, formou-se e tornou-se promotora legal em seu estado.

Simultaneamente ao término do curso, em março de 2014, ela iniciou sua trajetória na Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), ligada à Presidência da República. Ali, até dezembro passado, Tabita fez parte do Programa de Jovens Líderes, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com a ONU Mulheres.

Atualmente cursando o terceiro semestre de Direito, a jovem afirma que os projetos a ajudaram na busca de sua identidade. “Eles me ajudaram a me reconhecer como mulher e negra. Isso foi muito importante para mim. Conquistei mais confiança, mais empoderamento”, relata Tabita, que foi criada pela avó, a qual a apoia com ressalvas, por ser muito conservadora. “Tenho que enfrentar esse desafio.”

29

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Taissa Remia dos Santos Damasceno,Plan Internacional – Timbiras (MA)

Jogar bola foi, literalmente, o pontapé inicial de Taissa para o ativismo social. Ela integra

dois projetos da Plan em Timbiras, interior do Maranhão, onde vive: Futebol Feminino e Adolescente Saudável. Com 15 anos, ela adora o esporte, seu lazer favorito, e conheceu o projeto a partir da participação no grupo de teatro do Instituto Carlos Gusmão (ICG), da sua própria cidade. Foi na Plan que aprendeu sobre gênero, direitos e como lidar com a discriminação contra as mulheres.

Já no Adolescente Saudável ela começou quando o projeto aportou em sua escola. “Foi muito bom ter entrado, os jovens dão depoimentos incríveis, se tornam conscientes de seu corpo”, elogia Taissa, que mora com os pais, o avô e o irmão. Para ela, estar nos projetos foi um momento muito importante de crescimento pessoal. Biologia e História são as disciplinas favoritas da adolescente, que sonha cursar Medicina para ajudar as pessoas mais necessitadas. Além disso, pretende continuar envolvida nos projetos comunitários. “O que eu aprendi na Plan e no meu grupo de trabalho eu quero repassar, compartilhar meu conhecimento. Porque se eu aprendi isso e me ajudou, posso ajudar muitos outros jovens.”

Tássia Alves Pacheco , PCU & JUVA – Belém (PA)

Na biblioteca comunitária da Expedição Vagalume, projeto de incentivo à leitura na região

amazônica, a jovem paraense começou a atuar como voluntária, com apenas 10 anos de idade. Dali seguiu para o Movimento de Emaús, entidade filantrópica de apoio a crianças em situação de vulnerabilidade e, hoje, aos 18, Tássia é representante juvenil da Escola de Conselhos do Pará – Universidade Federal do Pará (UFPA), na qual atua como educadora juvenil na formação de conselheiros tutelares e de Direito. Também é articuladora de Plataforma de Centros Urbanos (PCU) e participa da Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA).

Ela acaba de ingressar na faculdade de Pedagogia, na UFPA, e pretende se tornar educadora. Em 2014, conciliou pré-vestibular, trabalho e a militância social para conquistar a vaga. “Nasci em um bairro violento, por isso meus pais sempre me incentivaram a estudar. Eles não têm curso superior e a faculdade é motivo de muito orgulho para eles”, conta.

Tássia revela que o seminário foi o primeiro evento relacionado ao empoderamento feminino de que participou. “Abriu minha cabeça sobre como a mulher é vista e tratada, sobre os direitos sexuais e o que podemos fazer pela igualdade de gênero”, exemplifica a jovem, que sonha, futuramente, em trabalhar com crianças e adolescentes.

30

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Vanessa Oliveira,JUVA – Jaci-Paraná (RO)

Chegar a um pequeno município de Rondônia, para onde a construção de uma usina

hidrelétrica arrastou muita gente em busca de prosperidade, não foi fácil para Vanessa Oliveira. Há três anos, quando o pai saiu de Montenegro para melhorar de vida, a jovem de 18 anos teve um choque de realidade ao pisar em Jaci-Paraná. Era dia de pagamento dos operários e, ao passar pelo chamado “centro de Hollywood”, deparou-se com uma multidão de homens, brasileiros e bolivianos, que a assediaram de uma forma acintosa.

Depois dessa recepção, ela buscou conhecer projetos sociais e começou a participar da Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA), que surgiu da necessidade de abordar a alta taxa de homicídios de jovens na região e propor políticas públicas para enfrentar esse desafio. “O índice de homicídios em Jaci-Paraná era muito alto, assim como o abuso de crianças e adolescentes. A cada festa, multiplicavam-se as ocorrências”, diz.

A menina assustada ficou longe e, hoje, Vanessa participa ativamente da JUVA e do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDCA). Vanessa frequenta também reuniões onde crianças e adolescentes aprendem a combater a violência, o machismo e as drogas, projetando um futuro melhor para toda a comunidade.

Vânia Sabina, Educação do Campo - Rio Bonito do Iguaçu (PR)

Estudar em um colégio com foco na Educação do Campo foi a fagulha que acendeu em

Vânia a vontade de lutar pela terra, além, é claro, o fato de viver em um assentamento do Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no interior do Paraná. Aos 16 anos, ela conta que sua escola é estadual e focaliza-se na cultura do campo. “O estudo é diferente. Tem até um acampamento do pessoal que está lutando por terra. A gente prima por isso. Em muitos colégios tradicionais você fica alienado, não olha para o lado, para a sua realidade.”

Como o objetivo é comum a todos – a terra – ela revela que meninos e meninas atuam juntos, sem diferenças. “Todos lutamos pela causa do campo.” Para passar o tempo, gosta de ler bastante e escreve no blog do colégio. Seus pais são agricultores e ela os ajuda na ordenha das vacas que a família mantém. Sua mãe sempre a aconselha a estudar e aprender mais. Vânia pretende ser engenheira civil e continuar lutando pela causa. “Com certeza, não vou parar. Eu vou ajudar no que puder”, assinala.

31

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

Winny Moreira ,NUCA – Taiobeiras (MG)

O engajamento social e a participação em grupos de teatro são formas que Winny,

de 16 anos, encontra para se ocupar na pequena Taiobeiras, região do Alto Rio Pardo, em Minas Gerais. Ela participa do Núcleo de Cidadania dos Adolescentes (NUCA) e o Interact Clube, um grupo de trabalho social da cidade.

Para ela, nada melhor do que os adolescentes terem voz e falarem o que querem. “Estudo em uma escola de ensino médio em que muitos adolescentes saem para trabalhar, porque a sociedade não vê o estudo como uma profissão. As pessoas perguntam: ‘O que você faz?’, e você responde: ‘Estudo’. Aí, perguntam: ‘E o que mais?’. É uma cobrança.”

Nos projetos, decidiu falar e aprendeu a ouvir. Para ela, fazer serviço social é se sentir humano. “No Interact a gente fazia visitas às casas. Sabe quando você sente que é alguma coisa, que está fazendo a diferença? O NUCA também me ajuda muito nisso.” Seus pais a apoiam muito e ela conversa frequentemente com os avós. Ela pensa em cursar Jornalismo, mas também gosta de teatro. “Já estou trazendo outro grupo, porque quem mora numa cidade pequena não tem tanta coisa assim para fazer. Então, ter algum objetivo é muito bom”.

Yhandra Larice da Silva,Plan Internacional – Codó (MA)

No Projeto Por Ser Menina, essa maranhense de 14 anos descobriu o que significam a

igualdade de gênero e o direito de expressão de todas as meninas. Ela é de Codó, interior do estado, onde vive com a mãe, os irmãos e a avó. Tudo o que aprende Yhandra passa para a mãe. “Ela me ensina e eu ensino a ela”, diz.

Para ela, faz parte do aprendizado adquirido a descoberta de que é preciso saber ouvir também. “A opinião das pessoas é importante. Quanto mais eu souber, mais eu cresço”, analisa a jovem. Na escola, Matemática e História são suas disciplinas favoritas. Também gosta de praticar esportes: futsal, handebol e vôlei. Para o futuro profissional, está em dúvida entre os cursos superiores de Comunicação Social (Publicidade e Jornalismo) e, ainda, Direito e Tecnologia da Informação. Independentemente da escolha, Yhandra quer continuar engajada e atuante nas redes. “Tudo o que eu aprendo quero repassar a outras meninas e mulheres que não sabem os direitos que têm”.

Participantes internacionais

32

Pa

rt

iciP

an

te

s i

nt

er

na

cio

na

is

Nataly Leticia Landázuri Caicedo,Fundación Azúcar – San Lorenzo,

Equador

Nataly tem 20 anos e é de Quito, no Equador. Estuda Recursos Humanos e, aos 15 anos,

ingressou na Fundación Azúcar, que entre suas atividades tem uma escola de música e dança. Sua atuação permitiu conviver com vários adolescentes e jovens de seu país. Ela pertence e coordena o coletivo de adolescentes e jovens afro-equatorianos, uma iniciativa que começou pela inquietude gerada da necessidade dos/das jovens terem voz e levarem adiante os seus anseios.

“Temos trabalhado para levar à frente o projeto apoiado pelo UNICEF, que é a escola de formação política e liderança voltada para adolescentes e jovens afro-equatorianos. O objetivo dessa escola é criar um processo sustentado de formação política, fortalecendo a sua participação nos processos econômico, político, cultural, social e de liderança.”

Nataly coordena o projeto dos adolescentes e jovens das províncias do Equador nas quais vivem, majoritariamente, pessoas de origem afro-equatoriana. “Ser líder é uma grande responsabilidade e também é necessário saber conduzir”, conclui.

Omayra Piedad Nazareno Lastra,Escuela de Formación Política para

Adolescentes Mujeres Afroecuatorianas “Mi Abuelita me Decía”– San Lorenzo, Equador

De San Lorenzo, província de Esmeraldas, no Equador, a jovem de 18 anos iniciou seu

engajamento aos 15. Sua inspiração foi sua mãe, uma líder afro-equatoriana do norte da província de Esmeraldas, que atua principalmente com o Movimento de Mujeres Negras Esmeraldas (MONUME).

O incentivo começou quando sua mãe passou a levá-la às reuniões, depois aos encontros de jovens. “Foi onde nasceu em mim o amor pelo processo dos afro-equatorianos. Comecei como ouvinte e, logo depois, já atuava como líder juvenil na Casa de la Juventud .”

Omayra já tomou parte em encontros de jovens de distintas nacionalidades, aprendendo cada vez mais sobre a sua própria etnia. “Graças a Deus e ao apoio de minha mãe, hoje conheço muito do povo afro-equatoriano”. Durante dois anos, ela frequentou o Centro de Formación de Líderes Martin Luther King, segundo ela, conduzido por professores excelentes. Recentemente, voltou a integrar a Escuela de Formación Política para Adolescentes Mujeres Afroecuatorianas “Mi Abuelita me Decía”, como porta-voz na região de San Lorenzo, onde se encontra novamente, transmitindo e recebendo conhecimento.

33

Pa

rt

iciP

an

te

s i

nt

er

na

cio

na

is

Birgit Thale Sop García,Paz Joven – Suchitepéquez, Guatemala

Birgit é da Guatemala, do município Santo Tomas la Union, localizado no departamento

de Suchitepéquez. Tem 16 anos e participa há sete da organização Paz Joven Guatemala. Seu principal trabalho é contribuir para a prevenção da gravidez na adolescência. Ela conta que essa situação é um tanto comum em sua cidade, muitas vezes em consequência das adolescentes serem abusadas sexualmente. Por meio de cursos e palestras, o projeto tenta conscientizar adolescentes de ambos os sexos sobre o problema, apresenta métodos contraceptivos e como se proteger.

“Nos sentimos comprometidos a ajudar os demais jovens, ensinando sobre quais seriam as consequências em ter relações sexuais sem estar preparado e sem proteção, de forma impensada. Por meio da educação, chegamos às escolas”, conta.

Birgit começou seu trabalho com a organização quando tinha somente 9 anos, trabalhando com teatro. Depois, em 2012, tiveram início outros projetos, nos quais gosta muito de trabalhar, por causa da conscientização dos problemas, direitos e consequências. O objetivo agora, para a jovem guatemalteca, é ingressar na universidade. Ela quer ser professora, atuando com educação primária.

Gilda Menchú Tzun,Parlamento Guatemalteco para la

Niñez y Adolescencia – Totonicapán, Guatemala

Gilda é uma indígena guatemalteca da cultura Maya K’ich’e que tem se destacado em sua

comunidade por sua participação em espaços públicos e contato com as autoridades locais. Ela nasceu no ano 2000, em Chiyax, Totonicapán, Guatemala. Vive com os pais e irmãos, frequenta o segundo ano do ensino médio e trabalha com a família durante as férias. Integra o Parlamento Guatemalteco para la Niñez y Adolescencia, no qual atua ativamente desde os 11 anos. Como suas ações comunitárias influenciam os adolescentes e jovens, ela se esforça para levar mensagens educativas e de formação sobre os direitos da criança e do adolescente, por meio de programas de rádio e de televisão chamados de Encontros de Expressões.

Gilda considera ter muita sorte, pois recebe todo o apoio de seus pais para estudar e participar de processos de formação. Nem sempre foi assim. No começo, eles não aceitaram muito que ela frequentasse oficinas e programas, mas depois ela conseguiu mostrar para eles que podia mudar muito sua própria vida e a de outros meninos e meninas em sua comunidade. Para ela, a grande importância de sua atuação foi perder o medo de falar e de se expressar. “Minha vida mudou, agora desejo continuar estudando e sendo líder na minha comunidade, representando meninas e meninos para que tenham a oportunidade de estudar e ser o que quiserem.”

34

Pa

rt

iciP

an

te

s i

nt

er

na

cio

na

is

Danielle Finnegan,Eve for Live – Ocho Rios, Jamaica

Danielle tem 18 anos, vive em Mansfield Heights, Ocho Rios, Jamaica, e integra

o programa Eve for Life, desde 2012, quando voltou a estudar. Aos 15 anos, ela ficou grávida e acabou deixando a escola, e considera que esse foi um tempo duro em sua vida. Depois, começou a participar das atividades do Centro das Mulheres da Fundação Jamaica (WCJF), que recebe jovens mães. Após o nascimento do bebê, regressou para a escola.

E o que mudou em sua vida depois que passou a participar dessas redes de apoio? “Eu não era uma mulher corajosa, adquiri mais confiança. Agora, gosto de tentar coisas novas. Antes do Eve for Live eu era insegura, não sabia o que queria, agora sei o que quero.”

Para o futuro, deseja continuar no projeto, dividindo o tempo com seu trabalho de soldadora. Também aprendeu a costurar. Ela conta que seu menino é lindo, educado, amável, come muito e está sempre jogando. “É um presente em minha vida.” Ela acredita que, sem o WCJF e o Eve for Life, tudo teria sido muito mais complicado, pois dificilmente regressaria à escola.

Nickeisha Black,Eve for Life – Middlesex, Jamaica

N ickeisha tem 18 anos e é jamaicana da Paróquia de Saint Ann, localizada

no condado de Middlesex. Ela gosta de atividades ao ar livre, de canto, da dança e tem paixão pela advocacia.

Após ser mãe, aos 15 anos, frequentou a instituição Heart NTA, onde estudou preparo de alimentos. Mesmo querendo seguir uma carreira na culinária, este não era seu objetivo final. Sua experiência a levou a trabalhar como voluntária em prol de meninas na mesma condição, buscando reintegrá-las à sociedade, porque em seu país há muito preconceito contra as jovens mães que, antes de mais nada, são expulsas da escola.

Atualmente, Nickeisha é mentora na instituição Eve for Life, na qual trabalha com mães adolescentes de sua paróquia. Também é voluntária na Associação de Planejamento Familiar da Jamaica. “Hoje, acredito em meu futuro. Quero alcançar muito mais e ser uma orientadora contra situações de abuso. Estou em busca de tudo na minha vida e creio nela”, diz.

35

Pa

rt

iciP

an

te

s i

nt

er

na

cio

na

is

Oliva Reyes,FIUCM-AC – Oaxaca, México

Nascida em Sierra Mije, Oaxaca, México, Oliva participa, desde 2013, da Fundación

de Indígenas Unidos por una Comunidad Mejor (FIUCM-AC). Tem 15 anos e sua língua-mãe é o mije. Começou na fundação em um evento contra a discriminação de jovens e adolescentes indígenas, no qual houve a participação do governo do estado, autoridades e do UNICEF.

Nas oficinas e cursos, ao tomar a palavra, descobriu a sua capacidade de fala e liderança. “Fiquei muito nervosa ao falar para tanta gente.” No final, foi convidada pela representante do UNICEF para um evento em Nova York sobre exclusão escolar. Recebeu todo o apoio de sua mãe, que a ajudou a organizar os papéis. “Éramos vários representando o México e foi muito bonito estar lá.”

Para ela, muita coisa mudou em sua vida depois de Nova Iorque, porque nunca tinha participado de algo assim. Recebeu muitas informações nas áreas de direito e discriminação, algo que sofreu intensamente quando saiu de sua comunidade para estudar na cidade. “Eu me sentia mal, queria sair da escola.” Tudo começou a mudar quando ingressou na fundação, quando pôde ter sua voz ouvida. Nas horas vagas, gosta de ajudar seus companheiros a compreender temas que lhes são difíceis e dar cursos e oficinas por meio da FIUCM-AC. Oliva quer estudar Psicologia e também Direito para ajudar algumas meninas.

Tania Cuevas López,FIUCM-AC – Oaxaca, México

Aos 15 anos, nasceu e vive em Mirador, Tlaxiaco, estado de Oaxaca, México, onde

cursa o terceiro ano do nível secundário. Tania adora os bailes folclóricos de seu país. Há mais de três anos, ela participa da Fundación de Indígenas Unidos por una Comunidad Mejor (FIUCM-AC), presente em diversas comunidades indígenas de seu estado.

Ela ingressou no projeto para enfrentar, principalmente, a discriminação contra quem vem de outros lugares, o que acaba fazendo com que os adolescentes muitas vezes deixem a escola. Tania frequenta oficinas, campanhas em escolas e comunidades em seu estado. “Queremos educação e uma vida de qualidade”, diz.

Em campanhas, tem trabalhado temas como: direito de meninos, meninas e adolescentes; educação de qualidade; não à violência de gênero; e saúde sexual e reprodutiva. Em setembro de 2014, participou em Nova Iorque, com o UNICEF México, do evento Promoção do direito à participação das/dos adolescentes em uma escola inclusiva e de qualidade. E o que ela gostaria para o futuro? “Venho me perguntando o que quero ser. Gosto muito de ajudar as pessoas e lutar pelos direitos. Cheguei à conclusão que quero cursar Direito Internacional, mas tenho que estudar muito, além de praticar português e inglês.”

36

Mais sobre as Redes de Adolescentes e Jovens

As meninas que compareceram ao II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas são lideranças e ativistas em

suas comunidades, integrantes dos seguintes grupos e redes de participação de adolescentes:

No Brasil:

• Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (RENAJOC), • Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE), • Rede de Juventude Indígena (REJUIND), • Educação do Campo, • Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA),• Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA), • Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE),• Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia, da Bahia,• Núcleos de Cidadania dos Adolescentes (NUCAs) na Plataforma do UNICEF no semiárido brasileiro,• Plataformas dos Centros Urbanos do UNICEF,• Projetos da Plan International, • Projetos apoiados pelo Instituto Internacional de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC),• Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), • Projetos apoiados pela Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), • Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM),• Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC).

Nos países convidados:

São meninas lideranças em projetos sociais e ativistas que participam de programas apoiados pelo UNICEF no México, Guatemala, Equador e Jamaica, incluindo a Fundación de Indígenas Unidos por una Comunidade Mejor – FIUCM-AC (México); Parlamento Guatelmalteco para la Niñez y Adolescencia (Guatemala), Paz Joven (Guatemala), Escuela de Formación Política para Adolescentes Mujeres Afroecuatorianas "Mi Abuelita me Decía" (Equador) e Eve for Life (Jamaica).

37

CONANDA: adolescentes participando nas conferências do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, um órgão colegiado permanente de caráter deliberativo e composição paritária, com representantes do governo e da sociedade civil, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Educação do campo: tem como desafio a formação política de adolescentes e jovens da zona rural que fazem parte de histórias de luta e de consciência social.

FONAJUNE: o Fórum Nacional da Juventude Negra tem o objetivo de contribuir para o empoderamento de adolescentes e jovens afrodescendentes e apoiá-los na defesa de suas demandas e no enfrentamento ao racismo.

INESC: o Instituto de Estudos Socioeconômicos é uma organização não governamental que tem por missão contribuir para o aprimoramento dos processos democráticos visando à garantia dos direitos humanos.

JUVA: a Juventude Unida pela Vida na Amazônia nasceu da necessidade de abordar a alta taxa de homicídios de jovens na região amazônica e propor políticas públicas para enfrentar este desafio.

PCU: a Plataforma dos Centros Urbanos (PCU), do UNICEF, busca um modelo de desenvolvimento inclusivo nas grandes cidades, reduzindo as desigualdades intraurbanas e garantindo maior e melhor acesso a direitos.

PJM: o Parlamento Juvenil do Mercosul é um projeto do Ministério da Educação nos seguintes países: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. O projeto envolve estudantes para que contribuam com a construção de um ensino médio de qualidade.

Plan Internacional: programas com o objetivo de capacitar e empoderar crianças, adolescentes e suas comunidades, para que

adquiram competências e habilidades que os ajudem a transformar a sua realidade.

Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia: meninas participando de projetos de desenvolvimento apoiados pelo Fundo Municipal para o Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação da Prefeitura de Salvador.

REJUIND: a Rede de Juventude Indígena discute regionalmente e nacionalmente uma agenda inclusiva, com temas como fatores culturais e os casos alarmantes de suicídio juvenil.

REJUPE: a Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo tem presença em 12 cidades que foram sede da Copa do Mundo de 2014 e São Luís do Maranhão. A REJUPE tem como objetivo incidir politicamente pelo direito ao esporte.

RENAJOC: a Rede Nacional de Jovens Comunicadores está presente em 22 Estados produzindo ferramentas de comunicação para expressar sua opinião, mobilizar os seus pares e debater seus direitos em toda a mídia.

RNAJVHA: a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids atua na inclusão social, na participação e na promoção do fortalecimento biopsicossocial de jovens e adolescentes com sorologia positiva para o HIV.

Semiárido: os Núcleos de Cidadania dos Adolescentes (NUCAs) estão presentes nos municípios inscritos no Selo UNICEF Município Aprovado no Semiárido, onde mobilizam seus pares para melhorar a vida de crianças e adolescentes no Semiárido. SNJ: meninas integrando programas de participação social e liderança apoiados pela Secretaria Nacional da Juventude.

Redes de Adolescentes e Jovens no Brasil

38

Pa

rt

iciP

an

te

s n

ac

ion

ais

União Europeia

União Europeia