4
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA T R I B U N A L D E J U S T I Ç A R S JMS Nº 70040213043 2010/CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. FISCALIZAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E COSMÉTICOS. PERMISSÃO PARA COMERCIALIZAÇÃO (CHÁ AMARELO). REGISTRO NO ANVISA. DENEGAÇÃO DO MANDAMUS. Denegação do mandamus que se impõe, em face da legalidade do ato impetrado oriundo da Coordenadoria Regional de Vigilância em Saúde de Santo Ângelo ao notificar o impetrante para cancelar a fabricação de “chá amarelo” acondicionado em cápsulas, em face da necessidade de registro junto a ANVISA. Ausência de direito líquido e certo. Ausência de prejuízo. Sentença recorrida que se mantém. APELO DESPROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL Nº 70040213043 COMARCA DE SANTO ÂNGELO LABORATÓRIO TIARAJU ALIMENTOS E COSMÉTICOS ME APELANTE ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. IRINEU MARIANI (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI. Porto Alegre, 28 de setembro de 2011. DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS, Relator. RELATÓRIO DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS (RELATOR) LABORATÓRIO TIARAJÚ ALIMENTOS E COSMÉTICOS ME impetrou Mandado de Segurança contra ato do Técnico da Divisão de Vigilância Sanitária , Sr. João Alberto Kowalski, e da Delegada da 12ª Coordenadoria Regional de Saúde de Santo Ângelo, Srª Nara Damião Makvitz, que suspendeu a fabricação e comercialização do produto chá amarelo mediante a notificação de n°002/2009. 1

Ac tj produto_sem_registro_defesa_na_anvisa

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Ac tj produto_sem_registro_defesa_na_anvisa

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA T

RI B

U N A L D E J U S T I ÇA

R S

JMSNº 700402130432010/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. FISCALIZAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. LABORATÓRIO DE ALIMENTOS E COSMÉTICOS. PERMISSÃO PARA COMERCIALIZAÇÃO (CHÁ AMARELO). REGISTRO NO ANVISA. DENEGAÇÃO DO MANDAMUS.Denegação do mandamus que se impõe, em face da legalidade do ato impetrado oriundo da Coordenadoria Regional de Vigilância em Saúde de Santo Ângelo ao notificar o impetrante para cancelar a fabricação de “chá amarelo” acondicionado em cápsulas, em face da necessidade de registro junto a ANVISA. Ausência de direito líquido e certo. Ausência de prejuízo.Sentença recorrida que se mantém.APELO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70040213043 COMARCA DE SANTO ÂNGELO

LABORATÓRIO TIARAJU ALIMENTOS E COSMÉTICOS ME

APELANTE

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELADO

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo.Custas na forma da lei.Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. IRINEU MARIANI (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI.Porto Alegre, 28 de setembro de 2011.

DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS, Relator.

R E LA T Ó R I ODES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS (RELATOR)LABORATÓRIO TIARAJÚ ALIMENTOS E COSMÉTICOS ME impetrou Mandado de Segurança contra ato do Técnico da Divisão de Vigilância Sanitária , Sr. João Alberto Kowalski, e da Delegada da 12ª Coordenadoria Regional de Saúde de Santo Ângelo, Srª Nara Damião Makvitz, que suspendeu a fabricação e comercialização do produto chá amarelo mediante a notificação de n°002/2009.

1

Page 2: Ac tj produto_sem_registro_defesa_na_anvisa

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA T

RI B

U N A L D E J U S T I ÇA

R S

JMSNº 700402130432010/CÍVEL

O pedido liminar deixou para ser analisado quando da prolação da sentença (fl. 75), as informações foram prestadas (80-83), e o Ministério Público opinou pelo indeferimento da liminar e pela denegação da segurança, nos termos do parecer de fls. 86-90.O Juízo da 2ª Vara Cível de Santo Ângelo, denegou a ordem, impondo o pagamento das custas ao impetrante (fls. 93-100).Argumentou o Julgador que a impetrante ao encapsular o produto deixou de atender os regramentos normativos da ANVISA, sendo que a forma de comercialização (em cápsulas) está enquadrada dentro da modalidade de “novos alimentos”, estando a exigir o registro nos termos da Resolução 16/1999.Em razões recursais, alegou a impetrante que teve restringido o exercício da sua atividade empresarial em virtude da atuação da 12ª Coordenadoria Regional de Saúde de Santo Ângelo, extrapolando os lindes da legalidade. Fez referência à situação similar envolvendo a produção, comercialização do “chá verde”, mas na Seção Judiciária do Distrito Federal em que foi concedida a segurança pelo reconhecimento da ilegalidade do ato, ressaltando a impetrante que foi violado o direito de comercialização dos seus produtos alimentícios classificados como chás a base de “camellia sinensis”, regulamentada como espécie vegetal usada para o preparo de chás desde que usados as folhas ou os talos. Asseverou que vem sofrendo danos pela impossibilidade de produção e comercialização do produto alimentar “chá amarelo”, em cápsulas, fazendo menção a Resolução – RDC n° 278, de 22/09/2005, da ANVISA, estabelecendo que os chás são alimentos dispensados da obrigatoriedade de registro, sendo a única obrigação a comunicação do início da fabricação. Pediu a reforma da sentença, concedendo a segurança pleiteada, declarando nula a notificação n° 002/09, com consequente permissão para a comercialização do chá amarelo como produto de livre comércio (fls. 103-113).O recurso foi recebido no duplo efeito (fl.116), havendo contrarrazões pelo Estado (fls. 118-120).A Procuradora de Justiça atuante no feito, em seu parecer, opinou pelo desprovimento do apelo (fls. 123-124).É o relatório.

V O T O SDES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS (RELATOR)A parte impetrante, Laboratório Tiarajú Alimentos e Cosméticos ME, objetiva a continuação da produção, comercialização e distribuição do produto “chá amarelo” sob a forma de cápsulas de clorofila, além da declaração de ilegalidade da atuação do técnico do setor de alimentos da Secretaria da Saúde que procedeu a notificação para o cancelamento.A Constituição Federal, ao enumerar os Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, diz:Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

2

Page 3: Ac tj produto_sem_registro_defesa_na_anvisa

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA T

RI B

U N A L D E J U S T I ÇA

R S

JMSNº 700402130432010/CÍVEL

...LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

Dispõe o artigo 1º da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009: Art. 1º - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

Estou em desprover o apelo.Não se reconhece direito líquido e certo a ser protegido nesta via mandamental. Com efeito, inexiste ilegalidade no ato impetrado de “cancelar a fabricação do produto Camellia Sinensis L (chá amarelo) e sua comercialização”, mediante a Notificação N°002/2009 procedida por João Alberto Kowalski, Técnico do Setor de Alimentos, da 12ª Coordenadoria Regional da Saúde – Santo Ângelo-RS, Divisão de Vigilância Sanitária.Como está bem descrito na notificação de fl. 66, o indeferimento teve como justificativa “o fato de que os produtos em forma de apresentação não convencional de alimento, tais como cápsulas, comprimidos, tabletes e outros, devem ser enquadrados na categoria de “novos alimentos” e necessitam de registro prévio à sua comercialização. Portanto o produto se enquadra na categoria como Novo Alimento e ou Novos Ingredientes, regulamentado pela Resolução n° 16, de 30 de abril de 1999, sendo o mesmo de registro obrigatório.”Como se verifica, nas circunstâncias do caso concreto, o produto fabricado na forma de cápsulas, necessita do registro junto ao ANVISA.Como bem argumentou o Promotor de Justiça, Dr, Flávio Eduardo de Lima Passos (fls. 89-90):“(...) paira a presunção de regularidade do ato administrativo sobremodo pela proteção maior à população que o devido registro na ANVISA tende a proporcionar.Ademais, não vislumbra no pedido de registro do chá, encapsulado, inviabilidade da atividade comercial porque o laboratório exerce atividade lucrativa na fabricação de produtos outros, que não o chá. Além disso, não está a ANVISA a proibir a fabricação do chá, na forma de cápsulas, apenas condiciona essa fabricação ao registro no Órgão para análise de todo e qualquer produto apresentado na forma não convencional e que, portanto, demanda maior atenção da Vigilância Sanitária pelos riscos que a desnaturação do produto pode trazer.”

Por fim, não houve violação ao princípio da livre iniciativa ao trabalho, cabendo lembrar que o direito à exploração de atividades econômicas não deve se sobrepor ao direito à saúde, daí a necessidade de se aplicar o princípio da proporcionalidade.Incensurável, portanto, a sentença denegatória do mandamus de fls. 93-100.

3

Page 4: Ac tj produto_sem_registro_defesa_na_anvisa

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA T

RI B

U N A L D E J U S T I ÇA

R S

JMSNº 700402130432010/CÍVEL

Diante do exposto, nego provimento ao apelo.

DES. IRINEU MARIANI (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. IRINEU MARIANI - Presidente - Apelação Cível nº 70040213043, Comarca de Santo Ângelo: "À UNANIMIDADE, DESPROVERAM."

Julgador(a) de 1º Grau: LUIS CARLOS ROSA

4