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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO PROCESSO: 0094400-34.2009.5.14.0403 CLASSE: RECURSO ORDINÁRIO (00944.2009.403.14.00-9) ÓRGÃO JULGADOR:1ª TURMA ORIGEM: 3ª VARA DO TRABALHO DE RIO BRANCO - AC 1º RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO PROCURADORES: EVERSON CARLOS ROSSI E OUTROS 2ª RECORRENTE: COOPERATIVA DOS TRABALHADORES EM SAÚDE DE RIO BRANCO/AC LTDA. - COOPERSAÚDE ADVOGADAS: EDESÔNIA CRISTINA TEIXEIRA E OUTRA 1ª RECORRIDA: COOPERATIVA DOS TRABALHADORES EM SAÚDE DE RIO BRANCO/AC LTDA. - COOPERSAÚDE ADVOGADAS: EDESÔNIA CRISTINA TEIXEIRA E OUTRA 2º RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO PROCURADORES: EVERSON CARLOS ROSSI E OUTROS 3º RECORRIDO: ZENILDO VIEIRA DA SILVA ADVOGADAS: FABIULA ALBUQUERQUE RODRIGUES E OUTRA RELATOR: DESEMBARGADOR VULMAR DE ARAÚJO COÊLHO JUNIOR REVISORA: DESEMBARGADORA ELANA CARDOSO COOPERATIVA. DISSOLUÇÃO. OBJETO ILÍTICO. DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA RETRIBUIÇÃO PESSOAL DIFERENCIADA E DUPLA QUALIDADE. MULTIFUNCIONALIDADE DA COOPERATIVA. A Coopersaúde foi criada em 1999 pelos integrantes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde do Ministério da Saúde do Estado do Acre com o fim de que a classe tivesse seus direitos/interesses protegidos. Entretanto, as provas constantes aos presentes autos informam que, aproximadamente 1 (um) ano após a sua criação, desviou suas finalidades, travestindo-se de uma verdadeira fornecedora de mão-de-obra para a Administração Pública, tornando-se uma cooperativa multifuncional, uma vez que fornecia mão-de-obra destinada aos serviços de limpeza e vigilância, o que é um legítimo desvirtuamento das finalidades relativas ao cooperativismo. De par com isso, não se pode esquecer que, para que a cooperativa atenda aos seus fins, é necessária a comprovação de dois princípios, quais sejam: a) retribuição pessoal diferenciada e b) dupla qualidade. O princípio da retribuição pessoal diferenciada enuncia que a retribuição pessoal de cada cooperado deve ser superior aquela alcançada caso atuando isoladamente. Ocorre que, além do Presidente da Coopersaúde ter remuneração muito superior aos demais cooperados, há diversas declarações afirmando que, caso empregados em outro local, obteriam remuneração superior, logo, não restou observado o princípio acima. Quanto G709

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PROCESSO: 0094400-34.2009.5.14.0403CLASSE: RECURSO ORDINÁRIO (00944.2009.403.14.00-9)ÓRGÃO JULGADOR:1ª TURMA ORIGEM: 3ª VARA DO TRABALHO DE RIO BRANCO - AC1º RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO –

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO

PROCURADORES: EVERSON CARLOS ROSSI E OUTROS2ª RECORRENTE: COOPERATIVA DOS TRABALHADORES EM SAÚDE DE

RIO BRANCO/AC LTDA. - COOPERSAÚDEADVOGADAS: EDESÔNIA CRISTINA TEIXEIRA E OUTRA1ª RECORRIDA: COOPERATIVA DOS TRABALHADORES EM SAÚDE DE

RIO BRANCO/AC LTDA. - COOPERSAÚDEADVOGADAS: EDESÔNIA CRISTINA TEIXEIRA E OUTRA2º RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO –

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO

PROCURADORES: EVERSON CARLOS ROSSI E OUTROS3º RECORRIDO: ZENILDO VIEIRA DA SILVAADVOGADAS: FABIULA ALBUQUERQUE RODRIGUES E OUTRARELATOR: DESEMBARGADOR VULMAR DE ARAÚJO COÊLHO

JUNIORREVISORA: DESEMBARGADORA ELANA CARDOSO

COOPERATIVA. DISSOLUÇÃO. OBJETO ILÍTICO. DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA RETRIBUIÇÃO PESSOAL DIFERENCIADA E DUPLA QUALIDADE. MULTIFUNCIONALIDADE DA COOPERATIVA. A Coopersaúde foi criada em 1999 pelos integrantes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde do Ministério da Saúde do Estado do Acre com o fim de que a classe tivesse seus direitos/interesses protegidos. Entretanto, as provas constantes aos presentes autos informam que, aproximadamente 1 (um) ano após a sua criação, desviou suas finalidades, travestindo-se de uma verdadeira fornecedora de mão-de-obra para a Administração Pública, tornando-se uma cooperativa multifuncional, uma vez que fornecia mão-de-obra destinada aos serviços de limpeza e vigilância, o que é um legítimo desvirtuamento das finalidades relativas ao cooperativismo. De par com isso, não se pode esquecer que, para que a cooperativa atenda aos seus fins, é necessária a comprovação de dois princípios, quais sejam: a) retribuição pessoal diferenciada e b) dupla qualidade. O princípio da retribuição pessoal diferenciada enuncia que a retribuição pessoal de cada cooperado deve ser superior aquela alcançada caso atuando isoladamente. Ocorre que, além do Presidente da Coopersaúde ter remuneração muito superior aos demais cooperados, há diversas declarações afirmando que, caso empregados em outro local, obteriam remuneração superior, logo, não restou observado o princípio acima. Quanto

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ao princípio da dupla qualidade, significa que as cooperativas são criadas para a prestação de serviços aos associados, sendo todos os lucros e também as perdas divididos entre os cooperados. Como a Coopersaúde, em verdade, funciona como uma verdadeira empresa fornecedora de mão-de-obra terceirizada à Administração Pública e também ao setor privado, resta inegável que o princípio da dupla qualidade também não resta observado. É que diante da quantidade de demandas que passaram por esta Corte, sabe-se, hoje, que a Coopersaúde atua para mascarar reais relações de emprego sob as vestes de uma “pseudocooperativa”. Assim, em face da ilicitude do objeto, cabe à Justiça do Trabalho dissolver a Cooperativa dos Trabalhadores em Saúde de Rio Branco/AC – Coopersaúde.

1 RELATÓRIO

Trata-se de recursos ordinários interpostos pela Procuradoria Regional

do Trabalho da 14ª Região, ora primeira recorrente, e pela Cooperativa dos

trabalhadores em saúde de Rio Branco/AC Ltda. - Coopersaúde, ora segunda

recorrente, respectivamente às fls. 1202/1226 e 1232/1238, contra a sentença

de fls. 1186/1193, em que a magistrada de primeira instância julgou

parcialmente procedentes os pedidos contidos na ação civil pública de fls. 2/42.

Em suas razões o “parquet” postula (fls. 1225/1226):a) Declarar a revelia dos recorridos, com seus regulares efeitos, inclusive a confissão quanto a matéria fática;

b) Reconhecer a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar a matéria relativa à dissolução compulsória da 1ª recorrida, a Coopersaúde;

c) que seja declarada a dissolução da 1ª recorrida, a Cooperativa de Trabalhadores de Saúde de Rio Branco (Coopersaúde);

d) que o 2º recorrido, Sr. Zenildo Vieira da Silva seja condenado a pagar indenização por dano moral coletivo decorrente de suas condutas ilícitas, na quantia de R$200.000,00 (duzentos mil reais), valor este reversível ao FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, ou em benefício à sociedade acriana;

Por sua vez, a Coopersaúde pede a concessão de efeito suspensivo ao

recurso ordinário e, no mérito, a reforma da decisão singular quanto à

declaração de ilegalidade do fornecimento de mão-de-obra ao Estado do Acre

e aos Municípios do referido ente público.

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Contrarrazões apresentadas pelo demandante, às fls. 1278/1283, pelo

não conhecimento do apelo de fls. 1232/1238 por intempestividade e deserção;

no mérito, pelo improvimento.

A primeira demandada, em resposta ao recurso ordinário de fls.

1202/1223, pugna pelo não acolhimento da pretensão exposta no apelo

adverso, segundo petição de fls. 1261/1273 .

2 FUNDAMENTOS

2.1 DO CONHECIMENTO

2.1.1 DO RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO

PÚBLICO DO TRABALHO

O recurso ordinário de fls. 1202/1226 merece ser conhecido, pois é

tempestivo (fls. 1200 e 1202) e a representação processual encontra-se

regular.

As contrarrazões de fls. 1261/1273 também são tempestivas.

Portanto, conheço do recurso ordinário interposto pelo Ministério

Público do Trabalho, ora primeiro recorrente, e das respectivas contrarrazões,

eis que preenchidos os requisitos para tanto.

2.1.2 DO NÃO CONHECIMENTO, SUSCITADO DE OFÍCIO, DO

RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELA COOPERSAÚDE, POR

DESERÇÃO

Considerando o teor da certidão à fl. 1285-verso e da correção

realizada à fl. 1259, entendo que o apelo de fls. 1232/1238 é tempestivo.

Entretanto, apesar de condenada em custas processuais no importe de

R$200,00, sendo que foi arbitrado o valor de R$10.000,00 para efeito de

condenação, a Coopersaúde procedeu à garantia do juízo na guia relativa ao

depósito judicial trabalhista, conforme se vê da fl. 1228, fato que, por si só,

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demonstra a deserção do apelo de fls. 1232/1238.

Repita-se, a segunda recorrente realizou o depósito recursal no valor

correspondente às custas processuais, não havendo comprovação nos autos

de adimplemento via guia DARF, procedimento que fere o disposto no art. 789,

§1º, da CLT, e na Instrução Normativa n. 20/2002 do c. TST.

Portanto, de acordo com os argumentos acima, não conheço do

recurso ordinário interposto pela Coopersaúde por deserção.

2.2 DO MÉRITO

2.2.1 DA (IN)TEMPESTIVIDADE DA DEFESA APRESENTADA PELOS

RECORRIDOS - REVELIA

A recorrente alega que os recorridos apresentaram defesa em face da

presente ação civil pública fora do prazo legal, pelo que, entende ser o caso de

revelia dos demandados.

Pois bem.

Segundo documentos de fls. 405/406, observo que o Sr. Zenildo Vieira

da Silva foi citado no dia 12.12.2009 e a Coopersaúde em 16.12.2009. Todavia,

apresentaram suas defesas apenas na data de 18.1.2010.

Diante desse quadro, todavia, a juíza singular, à fl. 1188, afastou o

reconhecimento da revelia dos réus, fundamentando sua decisão no art. 241,

III, do CPC, o qual conta com a seguinte redação:Art. 241. Começa a correr o prazo:I - (…);II - (…);III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido;

Como se vê, a regra processual comum disciplina que, em caso de

existência de vários réus, os prazos começam a correr da data de juntada aos

autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido.

Aplicando-se o art. 241, III, do CPC, resta indiscutível a tempestividade

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das defesas apresentadas nos autos.

Mas a questão é se o referido dispositivo processual é aplicável ao

direito processual do trabalho, uma vez que a CLT contém regra acerca do

assunto, senão vejamos o art. 774 da norma em destaque:Art. 774 - Salvo disposição em contrário, os prazos previstos neste Título contam-se, conforme o caso, a partir da data em que for feita pessoalmente, ou recebida a notificação, daquela em que for publicado o edital no jornal oficial ou no que publicar o expediente da Justiça do Trabalho, ou, ainda, daquela em que for afixado o edital na sede da Junta, Juízo ou Tribunal.

Parágrafo único - Tratando-se de notificação postal, no caso de não ser encontrado o destinatário ou no de recusa de recebimento, o Correio ficará obrigado, sob pena de responsabilidade do servidor, a devolvê-la, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Tribunal de origem.

Diante desse quadro, em que pese o respeito ao posicionamento da

magistrada de primeiro grau, entendo restar claro não haver omissão da CLT

quanto ao tema contagem de prazos, pelo que, não há falar em aplicabilidade

do art. 241 do CPC, uma vez que a regra prevista no art. 774 da CLT é clara.

Ocorre que para a aplicação das regras do CPC ao direito processual

do trabalho é necessário que a CLT seja omissa e haja compatibilidade com os

princípios desta justiça especializada.

No presente caso, a CLT não é omissa. Por oportuno, veja-se acórdão

do c. TST quanto à matéria.RECLAMAÇÃO CORREICIONAL. PRAZO PARA PROPOSITURA. CONTAGEM DO PRAZO. INTEMPESTIVIDADE. O artigo 15 do Regimento Interno da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho prevê expressamente que o prazo para apresentar reclamação correicional é de 5 dias, contados da publicação do ato ou despacho no órgão oficial, ou da ciência inequívoca pela parte dos fatos relativos à impugnação [destaque da Relatoria], considerado em dobro se a requerente for a Fazenda Pública. No tocante à contagem do prazo no processo trabalhista, ela tem início na data em que é feita pessoalmente a notificação do ato e não na data da juntada aos autos do mandado cumprido, conforme dispõe o art. 774 da CLT, o que afasta a aplicação subsidiária do art. 241, II, do CPC. Agravo regimental a que se nega provimento (Proc. TST-AGRC nº 80068.2003.000.00.00; TP; Rel. Min. Ronaldo José Lopes Leal; DJU de 28/11/2003).

Da mesma forma, nos idos de 2003, sob a relatoria do Juiz Federal do

Trabalho Lafite Mariano e revisão pelo Juiz Federal do Trabalho Shikou

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Sadahiro, ambos convocados, este Egrégio TRT da 14ª Região entendeu, à

unanimidade, pela inaplicabilidade do art. 241 do CPC ao processo

trabalhistas, pois veja-se:(...)Ao contrário do que sustenta a agravante, há óbice que impede o seguimento do agravo de petição, tendo em vista que para a contagem do prazo na Justiça do Trabalho, não se aplicam as disposições do art. 241 do CPC, mas sim, a previsão do art. 774 da CLT, o qual dispôe que a contagem inicia-se exatamente na data da notificação das partes. E, considerando que o agravante tomou ciência do despacho no dia 05 de julho de 2002 (sexta-feira) teria até o dia 15.07.2002 (para interpor o agravo de petição, mas somente interpôs o questionado recurso no dia 16 de julho desse mesmo ano, restando manifestadamente intempestivo o agravo de petição eis que protocolado fora do octídio legal.(...) (Processo AIAP n. 0011/2002. Publicado no DOJT14 nº 036, de 11-6-2003.)

De toda sorte, mesmo entendendo inaplicável o disposto no art. 241 do

CPC, observo que no interregno de 18.12.2009 a 6.1.2010 houve feriado

forense com a suspensão dos prazos processuais.

Assim, considerando a data em que a Coopersaúde foi citada

(16.12.2009), o prazo processual teve início em 17.12.2009, restando suspenso

no dia 20.12.2009, isto, quando já transcorridos 3 (três) dias, ocorrendo a

restituição do prazo restante (12 dias) a partir de 7.1.2010, observo que a

prática do ato processual em 18.1.2010 obedeceu ao prazo legal para a defesa

(15 dias), isso, considerando o prazo de suspensão do prazo processual.

Portanto, em que pese entender inaplicável ao processo trabalhista o

art. 241 do CPC, neste ponto, nego provimento ao recurso ordinário de fls.

1202/1226, uma vez que a apresentação de defesa dentro do prazo legal

afasta a caracterização de revelia.

2.2.2 DO PEDIDO DE DISSOLUÇÃO DA COOPERSAÚDE –

ABSTENÇÃO DE CONTRATAÇÃO COM TERCEIROS

Insurge-se o Ministério Público do Trabalho – Procuradoria Regional do

Trabalho da 14ª Região em face do indeferimento pela juíza singular dos

pedidos, entabulados na ação civil pública de fls. 2/42, de dissolução da

Coopersaúde e abstenção de contratação com terceiros, dizendo que “a

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proibição de contratar com a Administração Pública não eliminaria totalmente

as irregularidades ora perpetradas, muito pelo contrário, abriu uma brecha para

que elas continuassem a existir” (“ipsis litteris” – fl. 1210).

Assevera que “elas exercem atividade, tão somente, para mascarar a

relação de emprego verdadeiras a fim de favorecer apenas um grupo restrito

de pessoas que as dirigem. Essas cooperativas de mão-de-obra não oferecem

nenhuma contribuição pessoal aos seus associados, ou seja, em nada

contribuem para melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores. A oferta

de melhores postos de trabalho e remuneração fica somente na promessa, pois

a razão de sua criação é a obtenção de lucro fácil que somente é auferido a

custa da precarização do trabalho humano” (“ipsis litteris” – fl. 1211).

Afirma que “mesmo que a Coopersaúde deixasse de contratar com a

Administração Pública e passasse a contratar somente com as empresas

privadas, por certo a ilegalidade da sua atividade desenvolvida vai se perpetrar,

porque o sentimento de insatisfação em relação a Coopersaúde, e a

consciência de que a situação desses trabalhadores é inferior àquela usufruída

pelos empregados com CTPS anotada continuariam a existir, haja vista que o

que esses trabalhadores almejam é terem os direitos trabalhistas assegurados

pela Constituição da República e pela CLT efetivados” (“ipsis litteris” – fl. 1214).

Aduz que “um fato que merece ser destacado e que caracteriza a

ausência de affectio societatis da Coopersaúde é a sua multiprofissionalidade,

ou seja, a referida cooperativa não possui especialidade, pois oferece uma

variada gama de serviços abrangendo profissionais de diversas áreas” (“ipsis

litteris” – fl. 1214).

Sustenta que o “quadro fático comprovado nos autos demonstra que os

trabalhadores vinculados a Coopersaúde estão, inequivocamente, ligados a ela

por uma relação de emprego” (“ipsis litteris” – fl. 1216).

Pelo exposto, pede, além da abstenção da possibilidade de

contratação com particulares pela Coopersaúde, o seguinte (fls. 1225/1226):a) (...)b) Reconhecer a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar a matéria relativa à dissolução compulsória da 1ª recorrida, a Coopersaúde;

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c) que seja declarada a dissolução da 1ª recorrida, a Cooperativa de Trabalhadores de Saúde de Rio Branco (Coopersaúde);(...)

Visto, passo à análise.

Quanto à competência da Justiça do Trabalho para julgar o presente

ponto, entendo que o art. 114 da CRFB/88 abarca a hipótese, principalmente

pela previsão contida no inciso IX do aludido dispositivo constitucional.

Ademais, nos termos da Lei Complementar nº 75/93, em seu, artigo 83

inciso IV, conferiu-se à Justiça do Trabalho competência para o julgamento de

ação civil pública objetivando a defesa pelo Ministério Público de interesses

coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais garantidos na Constituição

Federal, o que é exatamente a discussão dos presentes autos.

Destaque-se que, no julgamento do recurso ordinário nos autos de nº

00532.2003.401.14.00-0, esta Egrégia Corte decretou a dissolução da

Cooperacre, logo, houve reconhecimento judicial de competência material para

tanto.

Visto isso, tem-se a dizer que a Lei nº 5.764/71, que define a política

nacional de cooperativismo, instituindo o regime jurídico das sociedades

cooperativas e dando outras providências, não autoriza a criação de

cooperativas que tenham por objeto o fornecimento de mão-de-obra a

terceiros, destinada ao atendimento de serviços habituais do empreendimento,

seja urbano ou rural, mesmo porque se contivesse tal previsão, estaria a

mesma revogada pela Constituição Federal de 1988, que elenca dentre os

seus princípios programáticos, a busca do pleno emprego e a redução das

desigualdades regionais e sociais (artigo 170 incisos VII e VIII), tendo

assegurado a todos os brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, o

direito de não serem compelidos a se associarem ou permanecerem

associados (artigo 5º, inciso XX).

Assim, qualquer norma infraconstitucional que restrinja a liberdade de

acesso a empregos, compelindo o trabalhador, de forma direta ou indireta, a se

associar, para obter trabalho, não se coaduna com a norma fundamental

insculpida no artigo 5º inciso XX da Constituição Federal, relevando notar que a

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busca do pleno emprego e o direito à liberdade de não se associar restariam

seriamente comprometidos, para não dizer extintos.

Caso houvesse permissibilidade legal para a formação de cooperativas

de trabalho com a finalidade de fornecer mão-de-obra destinada ao

atendimento de atividades não eventuais do empreendimento rural ou urbano,

pois bastaria ao empreendedor optar pela terceirização de toda a mão-de-obra

necessária à consecução de seus fins sociais, através de cooperativas, para

compelir os trabalhadores a se associarem e manterem-se associados, porque,

como se sabe, a vontade do indivíduo no aspecto ora analisado sempre se

curvará diante das necessidades da vida, sendo evidente que os empregos

desapareceriam.

Obviamente não é este o tipo de cooperativismo incentivado pelo

legislador no parágrafo 2º do artigo 174 da Constituição Federal, cujas

disposições devem ser interpretadas em sintonia com as disposições contidas

nos artigos 5º inciso XX e 170 inciso VIII, não oferecendo qualquer respaldo à

situação jurídica das demandadas o disposto no artigo 5º inciso II e parágrafo

único do artigo 170 da Magna Carta, tendo em vista que a autonomia da

vontade e a liberdade negocial encontram limites nos direitos fundamentais do

indivíduo e em princípios programáticos de nosso Estado Democrático de

Direito, não sendo permitido compelir o trabalhador a associar-se ou a

permanecer associado, tampouco impedir à concretização da busca do pleno

emprego.

Ressalte-se que o cooperativismo na esfera da prestação de serviços

autônomos não afronta o disposto no artigo 5º inciso XX da Constituição

Federal. Isto porque o trabalhador autônomo independe de estrutura

organizacional de outrem para desenvolver o seu ofício, como por exemplo

médicos, advogados, engenheiros, pedreiros, etc., eis que prestam serviços

eventuais a uma clientela indeterminada, e quando se associam em

cooperativas é efetivamente com o desejo de reunir esforços para o exercício

de uma atividade econômica, de proveito comum, tal como preconiza o artigo

3º da Lei n. 5.764/71, pois veja-se:Art. 3º Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de

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proveito comum, sem objetivo de lucro.

Diante do exposto, cumpre fazer a distinção entre o trabalho eventual e

o contínuo, eis que das razões supra expostas percebe-se que somente o

trabalho eventual autoriza a criação de cooperativas de trabalho, objetivando o

fornecimento de mão-de-obra dos associados a terceiros; caso contrário

tipificar-se-á afronta ao artigo 5º inciso XX e 170 inciso VIII da Constituição

Federal, conforme abordado em linhas atrás nesta decisão.

Nesse passo, destaco que o trabalho eventual é aquele destinado a

atender um evento, ou seja, um acontecimento imprevisível, como por exemplo

o trabalho de um médico, de um pedreiro ou de um dentista em relação ao

cliente pessoa física, que embora tenha sua preferência pelo profissional não

sabe quando irá necessitar de seus serviços, da mesma forma que o médico

ou o pedreiro após prestar o serviço e receber seus honorários ou o preço

ajustado pela empreitada, não sabe quando o fará novamente ao mesmo

cliente, não dependendo tais profissionais da doença ou do sinistro na casa

desse cliente para prosseguir normalmente o exercício de sua profissão, razão

pela qual o vínculo empregatício não se estabelece entre tais profissionais e o

tomador de seus serviços, exceto quando se inserem de forma fixa em

estrutura organizacional de terceiros na condição de empregados.

O trabalho contínuo, por seu turno, que caracteriza a relação de

emprego, é aquele presidido pela habitualidade dos serviços, tanto para o

prestador como para o tomador, como ocorre nas atividades sazonais

agrícolas, durante as quais o empreendedor rural sabe de antemão que

necessitará de determinado contingente de trabalhadores para realizar a

colheita, não se havendo confundir atividade sazonal com serviço eventual, a

primeira previsível e habitual, a segunda imprevisível e esporádica, podendo

ser afirmado com segurança que o trabalho do safrista não é autônomo, pois

além de contínuo, subordinado e assalariado, finda a safra, ele não detém

autonomia para prosseguir trabalhando, dependendo de novo emprego no

meio rural, para prover a própria subsistência e de sua família. Se autônomas

fossem as suas atividades profissionais, não se subordinariam à sazonalidade

da atividade no empreendimento agrícola.

No presente caso, é farta a produção probatória que comprova a

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subordinação jurídica dos “pseudocooperados” à Coopersaúde, pelo que, face

ao não conhecimento do apelo da cooperativa, resta manter intocável as

digressões contidas na sentença quanto a tal aspecto.

Observo dos autos que a Coopersaúde foi criada no ano de 1999 pelos

integrantes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde do Ministério da

Saúde, a fim de que a classe tivesse seus direitos/interesses protegidos, mas

sem perder de vistas a formação por trabalhadores em saúde, situação esta,

inclusive, cravada em seu nome.

Entretanto, é incontroverso nos autos, inclusive confessado, que a

Coopersaúde, aproximadamente 1 (um) anos após a sua criação, desviou suas

finalidades, travestindo-se de uma verdadeira fornecedora de mão-de-obra

para a Administração Pública.

Ora, iniciar as atividades na área de saúde para depois fornecer mão-

de-obra destinada aos serviços de limpeza e vigilância traduz, a meu ver, uma

total incompatibilidade, melhor dizendo, um legítimo desvirtuamento das

finalidades relativas ao cooperativismo.

De par com isso, não se pode esquecer que, para que a cooperativa

atenda aos seus fins, é necessária a comprovação de dois princípios, quais

sejam: a) retribuição pessoal diferenciada e b) dupla qualidade.

O princípio da retribuição pessoal diferenciada enuncia, nas palavras

do Ministro do c. TST Maurício Godinho Delgado, que “a cooperativa permite

que o cooperado obtenha uma retribuição pessoal, em virtude de sua atividade

autônoma, superior àquilo que obteria caso não estivesse associado. A

retribuição pessoal de cada cooperado é necessariamente (ainda que em

potencial), superior aquele alcançado caso atuando isoladamente”.

No caso em exame, todavia, há diversas declarações de cooperados

afirmando que, caso empregados em outro local, obteriam remuneração

superior, logo, não restou observado o princípio acima.

Quanto ao princípio da dupla qualidade, significa que as cooperativas

são criadas para a prestação de serviços aos associados, sendo todos os

lucros e também as perdas divididos entre os cooperados.

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Como a Coopersaúde, em verdade, funciona com uma verdadeira

empresa fornecedora de mão-de-obra terceirizada à Administração Pública e

também ao setor privado, resta inegável que o princípio da dupla qualidade

também não resta observado.

Diante da quantidade de demandas que passaram por esta Corte,

sabe-se, hoje, que a Coopersaúde atua para mascarar reais relações de

emprego sob as vestes de uma “pseudocooperativa”.

Outro fato que chama a atenção é a situação do Sr. Zenildo Vieira da

Silva, apesar de cooperado como todos os demais trabalhadores, recebia

valores bem superiores do que os outros, havendo, inclusive, “denúncias” de

que o patrimônio pessoal dele sofre um aumento considerável no período de

Presidência da Coopersaúde.

De frente com toda a digressão acima, entendo que a Coopersaúde

tem objeto ilícito.

Portanto, neste ponto, dou provimento ao recurso ordinário de fls.

1202/1226, a fim de decretar a dissolução da Coopersaúde, com a rescisão de

todos os contratos firmados com outras sociedades empresariais e a

Administração Pública, devendo ocorrer, em ato anterior, a comprovação de

todos os débitos trabalhistas e previdenciários pendentes. Posteriormente,

expeçam-se ofícios aos orgãos de registro para a formalização da dissolução

da Coopersaúde.

2.2.2 DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS

Insurge-se o primeiro recorrente em face do indeferimento do pedido

de condenação do Sr. Zenildo Vieira da Silva em indenização por dano moral

coletivo, dizendo que “todas as irregularidades perpetradas pela Coopersaúde

decorreram das condutas ilícitas do recorrido Zenildo Vieira da Silva, sendo

este, unicamente, responsável pelo dano moral à coletividade de empregados

e à sociedade, o que reclama reparação em dimensão difusa e coletiva, com

indenização revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, ou em

benefício à sociedade local” (“ipsis litteris” – fl. 1222).

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Afirma que “em face da gestão fraudulenta, é válido destacar que

alguns cooperados, como a Sra Maria da Glória Vieira e o Sr. Elias Lima de

Souza, sofreram coações morais pelo antigo gestor da Coopersaúde, Sr.

Zenildo Vieira da Silva, os quais, por não terem mentido sobre a veracidade

dos fatos na ocasião de seus depoimentos prestados a este parquet

trabalhista, foram afastados de suas funções” (“ipsis litteris” – fl. 1222).

Pelo exposto, o primeiro recorrente pede “que o 2º recorrido, Sr.

Zenildo Vieira da Silva seja condenado a pagar indenização por dano moral

coletivo decorrente de suas condutas ilícitas, na quantia de R$200.000,00

(duzentos mil reais), valor este reversível ao FAT – Fundo de Amparo ao

Trabalhador, ou em benefício à sociedade acriana” (“ipsis litteris” – fl. 1226).

Examino.

Em que pese a corrente contrária, penso que o sentimento de dor e

sofrimento tem caráter individual, o que faz com que seja incompatível com a

noção de transindividualidade que emerge do dano moral coletivo, pressuposto

esse também sem o qual não há que se falar em responsabilização civil, por

ausência do dano em questão.

Assim, apesar de já demonstrada a conduta ilícita do Sr. Zenildo Vieira

da Silva em linhas pretéritas, entendo contudo pela inexistência, no presente

caso, de outro pressuposto indispensável para a configuração do dever de

indenizar, qual seja, o prejuízo, em razão de que, como tenho me manifestado

em outro ocasiões, não consigo admitir a existência da espécie dano moral

coletivo.

Com efeito, já vinha dizendo em outras oportunidades, que alimentava

sérias dúvidas quanto a existência da espécie dano moral coletivo. Algum

alento angariei ao tomar conhecimento de decisão do Superior Tribunal de

Justiça, no julgamento do recurso especial nº 598.281 – MG (2003/0178629-9),

da lavra do Ministro Teori Albino Zavascki, cujas razões peço vênia para

reproduzir:

RECURSO ESPECIAL Nº 598.281 - MG (2003/0178629-9)RELATOR: MINISTRO LUIZ FUXR. P/ACÓRDÃO: MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKIRECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

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MINAS GERAISRECORRIDO: MUNICÍPIO DE UBERLÂNCIAADVOGADO: ELLEN ROSANA DE MACEDO BORGES E OUTROSRECORRIDO: EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS CANAÃ LTDAADVOGADO: ALICE RIBEIRO DE SOUSAEMENTAPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. DANO MORAL COLETIVO. NECESSÁRIA VINCULAÇÃO DO DANO MORAL À NOÇÃO DE DOR, DE SOFRIMENTO PSÍQUICO, DE CARÁTER INDIVIDUAL. INCOMPATIBILIDADE COM A NOÇÃO DE TRANSINDIVIDUALIDADE (INDETERMINABILIDADE DO SUJEITO PASSIVO E INDIVISIBILIDADE DA OFENSA E DA REPARAÇÃO). RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Relator e José Delgado (voto-vista), negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto-vista do Sr. Ministro Teori Albino Zavascki. Votaram com o Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (voto-vista) os Srs. Ministros Denise Arruda (voto-vista) e Francisco Falcão (voto-vista). Ausente, justificadamente, nesta assentada, o Sr. Ministro Luiz Fux, Relator.Brasília, 02 de maio de 2006.MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKIRelatorDocumento: 2391006 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJ: 01/06/2006 Página 1 de 1Dentre as funções do Ministério Público está a promoção de inquérito civil e ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, CF).Neste hemisfério de atuação considero que o dano moral que por sua natureza está intrinsecamente vinculado à noção de dor, de sofrimento psíquico, e como tal tem caráter exclusivamente individual.Recorro as lições de Rui Stoco, em seu Tratado de Responsabilidade Civil, 6ª ed.,São Paulo: RT, ao afirmar: A ofensa moral sempre se dirige à pessoa enquanto portadora de individualidade própria; de um vultus singular e único.Os danos morais são ofensas aos direitos da personalidade, assim como o direito à imagem constitui um direito de personalidade, ou seja, àqueles direitos da pessoa sobre ela mesma.(...)A Constituição Federal, ao consagrar o direito de reparação por dano moral, não deixou margem à dúvida, mostrando-se escorreita sob o aspecto técnico-jurídico, ao deixar evidente

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que esse dever de reparar surge quando descumprido o preceito que assegura o direito de resposta nos casos de calúnia, injúria ou difamação ou quando o sujeito viola a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, incisos V e X), todos estes atributos da personalidade.Ressuma claro que o dano moral é personalíssimo e somente visualiza a pessoa, enquanto detentora de características e atributos próprios e invioláveis.Os danos morais dizem respeito ao foro íntimo do lesado, pois os bens morais são inerentes à pessoa, incapazes, por isso, de subsistir sozinhos. Seu patrimônio ideal é marcadamente individual, e seu campo de incidência, o mundo interior de cada um de nós, de modo que desaparece com o próprio indivíduo.(in José Rubens Morato Leite, Dano Ambiental: do individual ao extrapatrimonial , 1ª ed., São Paulo: RT, 2000, p. 300, apud Rui Stoco, op. cit., p. 854).

Nesse prisma, por entender pela inexistência da figura jurídica de

danos morais coletivos, julgo o recurso improcedente no tópico.

De toda sorte, mesmo que fosse o caso de se aceitar a figura do dano

moral coletivo, observo que as lesões foram individuais e assim devem ser

reparadas.

Portanto, de acordo com os argumentos acima, neste ponto, nego

provimento ao recurso ordinário de fls. 1202/1226.

No entanto, quanto a inexistência da figura jurídica de danos morais

coletivos, fui vencido pelos meus pares, os quais acolheram a fundamentação

da Revisora, a qual peço vênia para transcrever, “in verbis”:

2.2.2 DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS

O E. Desembargador Relator rejeita o pedido de condenação em danos morais coletivos formulado em face do Sr. Zenildo Vieira da Silva, ao argumento de que o sentimento de dor e sofrimento possui caráter individual, não se coadunando com o definição de transindividualidade.

Esta magistrada, entretanto, diverge do mencionado entendimento pelas seguintes razões:

A possibilidade de indenização por danos morais coletivos, em que pese respeitável entendimento em contrário, encontra previsão legal no art. 1º, da Lei n. 7.347/1985, que dispõe:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

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l - ao meio-ambiente;

ll - ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

V - por infração da ordem econômica e da economia popular;

VI - à ordem urbanística.

No Código de Defesa do Consumidor também há semelhante previsão legal no art. 6º, VI e VII, “in verbis”:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

A jurisprudência, por sua vez, tem oscilado quanto à sua admissibilidade, mas há leve inclinação no sentido de admiti-lo. No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, há recentes julgados nesse sentido:

ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE - IDOSOS - DANO MORAL COLETIVO - DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA DOR E DE SOFRIMENTO - APLICAÇÃO EXCLUSIVA AO DANO MORAL INDIVIDUAL - CADASTRAMENTO DE IDOSOS PARA USUFRUTO DE DIREITO - ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA PELA EMPRESA DE TRANSPORTE - ART. 39, § 1º DO ESTATUTO DO IDOSO - LEI 10741/2003 VIAÇÃO NÃO PREQUESTIONADO.

1. O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica ou não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto síntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma relação jurídica-base.

2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e coletivos.

3. Na espécie, o dano coletivo apontado foi a submissão dos idosos a procedimento de cadastramento para o gozo do benefício do passe livre, cujo deslocamento foi custeado pelos interessados, quando o Estatuto do Idoso, art. 39, § 1º exige apenas a apresentação de documento de identidade.

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4. Conduta da empresa de viação injurídica se considerado o sistema normativo.

5. Afastada a sanção pecuniária pelo Tribunal que considerou as circunstancias fáticas e probatória e restando sem prequestionamento o Estatuto do Idoso, mantém-se a decisão.

5. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1057274/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe 26/02/2010)

É bem verdade que, no âmbito da 1ª Turma daquela Corte, ainda prevalece o entendimento expressado pelo o Relator dos presentes autos, conforme se observa do Resp 598.281/MG, referente a questão ambiental, prolatado pelo Ministro Teori Albinio Zavascki e publicado em 1º-6-2006. Entretanto, mesmo lá, há divergência relevante dos Ministros Luiz Fux e José Delgado, ressaltando-se que a referida Turma é composta por 05 (cinco) ministros.

No âmbito do Tribunal Superior do Trabalho, há precedentes admitindo a possibilidade jurídica de responsabilização por danos morais coletivos, conforme arestos seguintes:

RECURSO DE REVISTA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO ATENTATÓRIO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. DANO MORAL COLETIVO. REPARAÇÃO. POSSIBILIDADE. Resta delineado nos autos que a ação visa apreciar a postura da empresa, em face de submissão de candidatos ao emprego a investigação, em face dos princípios da intimidade e da vida privada, com o fim de prevenir lesão eventual a direitos indisponíveis dos trabalhadores, individuais homogêneos, que afetaria toda a coletividade, em face da ofensa à intimidade dos empregados, a denotar a legitimidade do parquet para o ajuização da ação civil pública. Recurso de revista não conhecido. JULGAMENTO EXTRA PETITA. Ao verificar o juiz que as perguntas relativas ao documento apresentado pelo parquet guardam correspondência com aquelas dispostas no documento apresentado em contestação, não se está julgando a mais que o pedido (ultra) e nem por fundamento diverso (extra), mas sim condenando-se exatamente como pretendido pela parte. Tal situação não afronta a lei, ao contrário, se amolda aos artigos 128 e 264 do CPC. Recurso de revista não conhecido. LESÃO A DIREITOS INDISPONÍVEIS. CONDENAÇÃO EM REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS. INVESTIGAÇÃO DE VIDA DE CANDIDATO A EMPREGO DE VIGILANTE. RAZOABILIDADE. LEGISLAÇÃO PREVENDO REQUISITOS PARA ADMISSÃO DE EMPREGADOS QUE PORTEM ARMA DE FOGO. DANO MORAL COLETIVO NÃO DEMONSTRADO. INTIMIDADE E PRIVACIDADE X SEGURANÇA DOS CIDADÃOS. Para exercer o serviço de vigilância, o profissional está sujeito a uma série de exigências, tais como, não pode ter antecedentes criminais registrados, deve ter sido aprovado em exame de saúde física, mental e psicotécnico e em curso de formação de

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vigilante realizado em estabelecimento com funcionamento autorizado, o que importa dizer que o serviço de vigilância requer preparação adequada (art. 2º da Lei 7.102/83). In casu, o que se constata, no procedimento de investigação para admissão de empregados dessa categoria profissional, é a busca de proteção de outro direito indisponível dos cidadãos, a segurança, diante do amparo constitucional e legal em que se colocam, empresa que contratam empregados visando a proteção de terceiros, e dos riscos próprios a que são submetidos vigilantes, quando não portarem a qualificação profissional adequada para o exercício da função, que envolve manuseio de arma de fogo. A ofensa à sociedade apenas ocorreria se a medida investigativa da vida do candidato à função não tivesse previsão legal, contrariamente ao caso exposto. Recurso de revista conhecido e provido, para restabelecer a r. sentença que julgou improcedente a ação civil pública, excluindo da condenação o pagamento da reparação por danos morais coletivos no valor de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais), bem como a determinação de cancelamento das perguntas das alíneas `c-, `e- e `f- da ficha de investigação social da reclamada- (RR-155700-07.2004.5.05.0020, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma,DEJT 15/5/2009)

RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL COLETIVO E -ASTREINTES-. POSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO DO ENTE PÚBLICO. O Tribunal Regional reconheceu a fraude praticada pelo réu, concernente à contratação de estagiários, sem a observância dos limites e dos requisitos previstos na legislação pertinente. Registrou que a conduta do ente público revelou seu desprezo para com a legislação trabalhista e permitiu a exploração da mão-de-obra de estudantes - menores de idade, em sua maioria -, por meio de contrato fraudulento. Também consignou que, ao agir assim, o réu violou os princípios da legalidade e da moralidade. Nesse contexto, condenou o ente público às obrigações de fazer e de não fazer, insertas nas alíneas -a-, -b-, -c-, -d-, -e- do item 1 do rol de pedidos da petição inicial. Todavia, rejeitou o pedido concernente à fixação de indenização para a reparação dos danos morais coletivos, decorrentes da conduta do réu, bem como indeferiu a pretensão relativa à fixação de multa diária (-astreintes-), para assegurar o cumprimento daquelas obrigações. Nesses pontos, fundamentou a decisão na impossibilidade de se condenar uma pessoa jurídica de direito público interno a pagar indenização e multa em favor de outra entidade de caráter público - o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Insustentável a tese regional. Com efeito, o Fundo de Amparo ao Trabalhador é órgão federal, ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, que tem a finalidade específica de custear o seguro-desemprego e o abono salarial, bem como a de financiar programas de desenvolvimento econômico. Não se confunde, portanto, com a pessoa do réu. Assim, constatada a ocorrência do dano moral coletivo, como se verifica na hipótese dos autos, é plenamente cabível a condenação do ente público responsável, ao pagamento da indenização pertinente, conforme prevê o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. O mesmo se diga em relação às -astreintes-. Ora, a multa diária prevista no artigo 461, § 4º, do

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CPC constitui meio eficiente, para garantir o cumprimento das obrigações de fazer e de não fazer, como as que foram impostas ao réu. Novamente, não prospera a tese da Corte -a quo-, no sentido de que não seria lógico condenar um ente público a pagar multa em favor de outra entidade de caráter público. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. ( RR - 94500-35.2004.5.05.0008 , Relator Ministro: Pedro Paulo Manus, Data de Julgamento: 14/09/2010, 7ª Turma, Data de Publicação: 24/09/2010)

Por fim, neste Regional, em mais de uma oportunidade, a 2ª Turma já se pronunciou no sentido de admitir referida condenação, desde que observado o caso em concreto. Veja:

[…] DANOS MORAIS COLETIVOS. RELAÇÃO DE EMPREGO. DESCUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA. O descumprimento da legislação trabalhista, pelo empregador, não gera, por si só, dano moral coletivo indenizável. Somente da análise do caso concreto é que o juiz poderá eventualmente concluir pela existência desse dano, devendo, para tanto, ponderar sobre a gravidade do ato ilícito, o universo de pessoas atingidas, sua repercussão na coletividade, a reiteração do ato, a má-fé da empresa, o desrespeito às determinações das autoridades fiscalizadoras e judiciais. (RO – 00814.2007.001.14.00-9, Relator: Juiz Convocado Shikou Sadahiro, Data de Julgamento: 28-8-2008, 2ª Turma, Data de Publicação: 2-9-2008)

No mesmo sentido: RO 01161.2006.003.14.00-7, também da 2ª Turma, julgado em 2-5-2007 e publicado em 10-5-2007, com voto da lavra do Juiz Convocado Shikou Sadahiro.

No âmbito da 1ª Turma, esta magistrada, por mais de uma vez, manifestou-se positivamente quanto à existência jurídica dos danos morais coletivos, sendo voto vencido no RO 00434.2008.001.14.00-5, quando esta Turma era composta pelo Desembargador Relator e pela Desembargadora Vania Maria da Rocha Abensur.

Sendo assim, na esteira das decisões acima transcritas, esta magistrada entende possível a pretendida condenação por danos morais coletivos, razão pela qual passa a analisar os fatos.

No caso em comento, observa-se que o desvirtuamento das atividades desempenhadas pelo cooperados da COOPERSAÚDE não pode ser atribuído unicamente ao Sr. Zenildo Vieira da Silva, embora induvidosamente sua atuação tenha sido especialmente relevante para tanto. Porém, há outras pessoas envolvidas nesse processo, inclusive pessoas jurídicas de direito público, a exemplo do Estado do Acre e do Município de Rio Branco. Veja que, na jurisprudência trabalhista, tem-se verificado o entendimento no sentido de inibir a prática de terceirização ilícita, condenando a empresa que assim age ao pagamento de indenização por dano moral coletivo quando evidente o dano à coletividade, conforme se infere da ementa abaixo transcrita:

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JUSTIÇA DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADE-FIM. ILICITUDE. A terceirização de mão-de-obra, em que as empresas reduzem os custos alcançando maior eficiência e competitividade, tem sua aplicação reduzida, justamente porque restringe o princípio constitucional que persegue o pleno emprego (art. 170, inciso VIII, da CR), comprometendo a existência digna do trabalhador. A contratação de trabalhador por empresa interposta é perfeitamente legal nos casos de trabalhador temporário e de vigilância , nos termos da Lei 6.019/74 e Lei 7.102/83 e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. Entretanto, se os contratantes extrapolarem esses ditames, mediante fraude ou não, formar-se-á o contrato diretamente com o tomador dos serviços (Súmula 331/TST). A restrição da terceirização à atividade-meio da empresa se explica pela tentativa de se evitar os seus efeitos maléficos ao trabalhador, quais sejam, salários inferiores aos pagos pela tomadora de serviços, precariedade de emprego e suas condições, limitação de vantagens e garantias trabalhistas e, por fim, empresas sem condições de arcar com os débitos trabalhistas da mão-de-obra terceirizada. Transparece que a consecução dos objetivos da Ré, na venda de produtos farmacêuticos no varejo, não poderia prescindir da entrega dos produtos ao consumidor, o que aponta para a necessidade de tal serviço para atingir os seus fins, caracterizando assim atividade fim da empresa Ré. Merece destaque que, ainda que houvesse flexibilização no enquadramento da atividade dos prestadores de serviço com relação ao objetivo social da empresa; ainda que se entendesse que a terceirização é permitida nas atividades-fim da empresa quando evidenciada a especialidade no serviço prestado, com o fito de alcançar maior e melhor produtividade, ainda assim não teria êxito a sua tese, diante da insustentável condição com que os entregadores/motoqueiros trabalhavam, acrescido ao fato de que o capital social da prestadora de serviço é de R$ 10.000,00 (dez mil reais), o que aponta para a fragilidade de sua condição econômica, especialmente se considerada as inúmeras irregularidades que foram verificadas em relação ao empregados que lá trabalham. Dessarte, o desrespeito aos parâmetros mencionados acima tipifica a fraude à lei, impõe a aplicação do artigo 9º da CLT, razão pela qual não merece qualquer reparo a sentença de origem que condenou a Ré a abster-se de utilizar-se de trabalho terceirizado para a entrega de mercadorias, devendo proceder, no prazo de 20 dias, a contratação direta de pessoal para a realização desta tarefa. DANO MORAL COLETIVO. Restou demonstrado nos autos que houve violação a preceito constitucional, em razão da desvalorização da pessoa humana praticada pelo Recorrente contra os trabalhadores que lhe prestaram serviços, sobre os quais lhe sobejaram benefícios, portanto, mostra-se presente a culpa e o dolo nesta atitude, bem como o nexo de causalidade em face do dano, razão pela qual não merece qualquer reparo a sentença de origem que condenou a Ré ao pagamento da indenização no importe de R$ 100.000,00, pois a razão da indenização do dano moral

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reside no próprio ato ilícito. Recurso ao qual se nega provimento. (TRT 23ª Região – Proc. RO 00316.2005.006.23.00-7 – 2ª Turma - Relator Juiz Convocado Bruno Weiler – Publicado em 16.08.2006)

No entanto, em relação às referidas pessoas jurídicas, inexiste pretensão formulada.

A prática de transformar a cooperativa em mera empresa fornecedora de mão-de-obra barata, em desprestígio aos mínimos direitos trabalhistas assegurados pela Constituição Federal e demais normas legais, caracteriza ato que deve ser repugnado a todo custo.

No entanto, se por um lado, os “cooperados” que trabalhavam sem a percepção de direitos trabalhistas mínimos foram prejudicados; por outro, há também prejuízo à coletividade, especialmente porque centenas de cargos ou empregos públicos deixaram de ser preenchidos mediante o regular processo de seleção. Nesse ponto, porém, a responsabilidade mostra-se maior em relação aos administradores públicos e menor quanto ao Sr. Zenildo, de sorte que seria demasiado exagerado atribuir-lhe total responsabilidade por tais fatos.

Assim, os atos ilícitos perpetrados pelo Sr. Zenildo, no entender dessa magistrada, restringem-se mais à esfera jurídica individual dos “cooperados” do que em relação à toda coletividade, a ensejar a devida reparação via demanda individualizada.

Por tais razões, após assentar a divergência quanto aos fundamentos expostos pelo relator, esta magistrada o acompanha para negar provimento ao pedido de condenação do Sr. Zenildo pelos danos morais coletivos.

2.3 CONCLUSÃO

Dessa forma, conheço do recurso ordinário interposto pelo Ministério

Público do Trabalho. Não conheço do apelo interposto pela Coopersaúde, eis

que deserto. No mérito, dou parcial provimento ao apelo de fls. 1202/1226, a

fim de decretar a dissolução da Coopersaúde, com a rescisão de todos os

contratos firmados com outras sociedades empresariais e a Administração

Pública, devendo ocorrer, em ato anterior, a comprovação de todos os débitos

trabalhistas e previdenciários pendentes. Mediante o trânsito em julgado,

expeçam-se ofícios aos órgãos de registro para a formalização da dissolução

da Coopersaúde.

No mais, mantenho inalterada a decisão recorrida.

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3 DECISÃO

ACORDAM os Magistrados integrantes da 1ª Turma do Tribunal

Regional do Trabalho da 14ª Região, à unanimidade, conhecer do recurso

ordinário de fls. 1202/1226. Por maioria, não conhecer do interposto às fls.

1232/1238 por deserção, vencida a Desembargadora Elana Cardoso Lopes. No

mérito, à unanimidade, dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do

Relator, o qual restou vencido em parte quanto as razões relativas ao

indeferimento do pedido de danos morais coletivos. Sessão de julgamento

realizada no dia 10 de novembro de 2010.

Rio Branco (AC), 10 de novembro de 2010.

VULMAR DE ARAÚJO COÊLHO JUNIORDESEMBARGADOR RELATOR