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Promotoria de Justiça do Consumidor Av. Joana Angélica, 1312, Nazaré Bloco Anexo, Sala 302-A, 3.º andar Salvador/Bahia – CEP 40050-001 Tel.: (71) 3103-6801 – Fax: (71) 3103-6812 EXMO.(A) SR.(A) DR.(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA ESPECIALIZADA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA COMARCA DE SALVADOR - BAHIA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por intermédio de um de seus Promotores de Justiça, vem, perante V. Exa., com fulcro no artigo 129, III, da Constituição Federal, artigo 25, IV, da Lei 8.625/93, artigos 5 o , I, da Lei 7.347/85, artigos 6 o , VI e VII, e 82, I, do CDC, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de antecipação de tutela, contra o CENTRO BAIANO DE ENSINO SUPERIOR LTDA. , pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 02.250.176/0001-27, sediado em Salvador, Capital do Estado da Bahia, na Av. Santiago de Compostela, nº 216, Iguatemi, mantenedor 1

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de antecipação de tutela, · Promotoria de Justiça do Consumidor ... os do fiador), o aluno é ... 13%. Uma mensalidade do curso de Engenharia

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Tel.: (71) 3103-6801 – Fax: (71) 3103-6812

EXMO.(A) SR.(A) DR.(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA

ESPECIALIZADA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA COMARCA

DE SALVADOR - BAHIA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA,

por intermédio de um de seus Promotores de Justiça, vem, perante V.

Exa., com fulcro no artigo 129, III, da Constituição Federal, artigo 25,

IV, da Lei 8.625/93, artigos 5o, I, da Lei 7.347/85, artigos 6o, VI e VII,

e 82, I, do CDC, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICA,

com pedido de antecipação de tutela,

contra o CENTRO BAIANO DE ENSINO SUPERIOR LTDA., pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº

02.250.176/0001-27, sediado em Salvador, Capital do Estado da

Bahia, na Av. Santiago de Compostela, nº 216, Iguatemi, mantenedor

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da ÁREA 1 – FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, em razão

dos argumentos fáticos e jurídicos expostos a seguir:

1. DOS FATOS

O Réu, por meio da Área 1 – Faculdade de Ciência e

Tecnologia, ministra cursos de ensino superior, auferindo, em

contrapartida, remuneração paga pelos seus alunos. Tal atividade se

enquadra no conceito consumerista de prestação de serviço,

configurando, portanto, relação de consumo regida pela lei nº

8.078/90.

No contrato de prestação de serviços educacionais

elaborado pelo acionado e apresentado na 4ª Promotoria de Justiça

do Consumidor (fl. 13) constam algumas cláusulas de evidente

abusividade.

As primeiras são as que impõem a exigência, para a

formação do contrato principal, de efetivação de pacto acessório de

fiança, sendo o aluno compelido a apresentar fiador já no momento

da contratação (cláusulas sexta e sétima do mencionado instrumento

contratual).

Caso no ato da contratação não sejam apresentados

todos os documentos exigidos (dentre eles, os do fiador), o aluno é

instado a assinar um termo de compromisso elaborado pelo Réu (fl.

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14/15), que reitera a exigência de garantia fidejussória e prevê que a

falta de qualquer documento “obrigatório” enseja a retenção do

contrato firmado entre a instituição e o estudante e do comprovante

de matrícula do semestre em curso, bem como a recusa de renovação

da matrícula no semestre letivo seguinte.

Em audiência, o preposto do acionado, Sr. Luis Rogério

Seixas Guimarães, admitiu a realização da prática ora narrada

(fls.24/25):

“que realmente a Faculdade Área 1 exige dos consumidores a apresentação de fiador ; que, em verdade, são dois os sistemas adotados pela Instituição: ou o contratante emite cheques pré-datados representativos das parcelas da semestralidade ou, não emitindo tais cheques, apresentam fiador, que assinará o contrato como garante da sua obrigação; que preferencialmente a Faculdade solicita dos seus contratantes (consumidores) a apresentação de fiador, oferecendo como alternativa a apresentação de cheques pré-datados ”. [grifou-se]

Outra cláusula abusiva é a que determina a aplicação

de um suposto desconto de 11,7845% às mensalidades quitadas até o

quinto dia de cada mês (§ 2º da cláusula terceira). Essa estipulação

diferencia os valores dos preços das mensalidades: até o quinto dia,

incide o mencionado “desconto”, definido pelo Réu como mera

liberalidade por ele concedida; depois desse período, o valor da

mensalidade é acrescido do dito percentual e sobre esta nova quantia

ainda é aplicada outra multa de mora, agora de 2%.

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Dessa maneira, caso haja inadimplência, a título de

penalidade , incidirão simultaneamente sobre o valor da mensalidade

dois percentuais diferentes, que somados totalizam índice maior que

13%. Uma mensalidade do curso de Engenharia Ambiental, ministrado

no turno noturno, no primeiro semestre de 2007, por exemplo, até o

quinto dia do mês corresponde a R$ 524,00 (quinhentos e vinte e

quatro reais); após esse dia, todavia, o aluno terá que pagar a

quantia de R$ 605,88 (seiscentos e cinco reais e oitenta e oito

centavos).

A terceira, a sua vez, é a cláusula quarta do

instrumento contratual elaborado pelo Réu, que possibilita o reajuste

do valor da contraprestação pelos serviços educacionais em prazo

inferior a um ano. A mencionada disposição condiciona o reajuste, tão

somente, à existência de fatores causadores de alterações no

equilíbrio econômico-financeiro do Réu, possibilitando, portanto, o

repasse imediato de eventuais alterações nos custos do serviço ou

nas receitas da instituição de ensino às mensalidades vincendas.

A quarta disposição contratual a ser questionada na

presente ação é a cláusula décima, que versa sobre a restituição do

valor pago a título de taxa de matrícula, em caso de desistência antes

do início do semestre letivo. A dita cláusula obriga o Réu ao

reembolso de apenas 80% do valor pago, possibilitando a retenção de

todo o percentual restante (20%), para custeio das despesas

administrativas decorrentes da inclusão do aluno no planejamento da

Faculdade.4

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2. DO DIREITO

2.1 DA ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA DE

APRESENTAÇÃO DE FIADOR.

A exigência de apresentação de fiador para a assinatura

de contrato de prestação de serviços educacionais é prática que

desrespeita o preceito constitucional abaixo transcrito:

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” [grifou-se]

O mencionado dispositivo garante o direito à educação à

todos os cidadãos brasileiros, sem prever qualquer restrição. Desse

modo, patente está que o mencionado direito constitucional não deve

ser limitado pela legislação infraconstitucional , cabendo a esta

proceder, tão somente, a uma simples regulação que confira

efetividade a tal garantia fundamental. Observe-se que aqui se

pretende resguardar o mencionado direito em todos os níveis em que

se apresenta, seja ele referente ao ensino pré-escolar, fundamental,

médio, profissionalizante ou superior.

O condicionamento da contratação de prestação de

serviços de ensino superior à apresentação de fiador configura

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obstáculo ao exercício do direito constitucionalmente assegurado, pois

aquele que não conceder tal garantia pessoal à Faculdade, apesar de

aprovado em vestibular ou qualquer outro exame de admissão e

disposto a quitar o valor exigido no ato da matrícula, não terá acesso

à educação.

Ainda analisando preceitos constitucionais, nota-se que

a Carta Política confere à iniciativa privada a possibilidade de prestar

serviços educacionais, mas por sua relevância e natureza, determina

que esta prestação se dará de modo diferenciado em relação aos

demais serviços postos no mercado de consumo. Uma vez que a

educação consiste em uma garantia constitucional, a sua prestação

não pode ser regida tão somente pelas leis mercadológicas, sendo

possível a aplicação destas apenas quando não confrontem com

regras ou princípios constitucionais.

Não é o que ocorre no caso em tela. Ao impor a fiança

ao estudante, o fornecedor de serviços educacionais objetiva aplicar

normas privadas de garantia de crédito que são inservíveis para o tipo

de serviço contratado, pois tal exigência conflita frontalmente com o

pretendido pela Carta Magna brasileira, qual seja a proteção do

direito à educação.

Além de malferir a Constituição Federal, a conduta

perpetrada pelo Réu também está em desacordo com a lei nº

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9.870/99, que trata da remuneração devida em razão da prestação de

serviços educacionais.

O mencionado diploma legal, em seu artigo 1º, §5º,

confere expressamente aos estudantes de estabelecimentos de ensino

privado a possibilidade de dividir, em seis ou doze parcelas, o valor

devido em razão da prestação de serviços educacionais. Não há,

deste modo, a previsão de uma mera liberalidade a ser atendida ou

não pelos fornecedores, mas uma norma que resguarda o direito do

consumidor de adimplir sua obrigação em parcelas. Observe-se o teor

do dispositivo em comento:

“Art. 1º O valor das anuidades ou das semestralidades escolares do ensino pré-escolar, fundamental, médio e superior, será contratado, nos termos desta Lei, no ato da matrícula ou da sua renovação, entre o estabelecimento de ensino e o aluno, o pai do aluno ou o responsável.

§ 5º O valor total, anual ou semestral, apurado na forma dos parágrafos precedentes terá vigência por um ano e será dividido em doze ou seis parcelas mensais iguais , facultada a apresentação de planos de pagamento alternativos, desde que não excedam ao valor total anual ou semestral apurado na forma dos parágrafos anteriores.” [grifou-se]

A exigência de fiador para a contratação do dito serviço,

entretanto, conflita com a aludida disposição legal, pois configura

injustificável condição imposta ao parcelamento das mensalidades

escolares, evidenciando-se, portanto, como óbice ao exercício de

direito legalmente conferido ao consumidor.

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Com a conduta ora analisada, termina o Réu por

compelir o contratante ao pagamento integral do montante devido,

isso porque, para realizar o parcelamento, terá o estudante que

apresentar fiador que garanta a obrigação por ele assumida,

providência difícil e incômoda.

Nesse diapasão, a exigência de fiador pelo prestador de

serviços educacionais termina por inviabilizar o espírito da lei nº

9.870/99, com a qual o Estado expressamente tencionou assumir a

responsabilidade – e dividi-la com as instituições autorizadas – acerca

do acesso do estudante ao ensino, ainda que carente ou com poucos

recursos, ainda que sem fiador.

Há que se notar que a prestação de serviço educacional

encontra-se abrangida pelo Código de Defesa do Consumidor, sendo

objeto de relação de consumo. Perfeitamente aplicáveis, pois, as

nulidades previstas no art. 51 do CDC para as cláusulas que

“estabeleçam obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o

consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com

a boa-fé ou a eqüidade” (inciso IV), assim como daquelas que

“estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor”

(inciso XV).

A cláusula contratual que prevê a necessidade de

apresentação de fiador estabelece prestações exageradamente

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desproporcionais para os contratantes, impondo injustificável gravame

justamente ao sujeito vulnerável da relação de consumo.

Para competir em melhores condições na hoje tão

acirrada disputa por postos de trabalho, o indivíduo deve qualificar-se

da melhor maneira possível, sendo a graduação em ensino superior

um requisito indispensável na batalha pelo emprego. Tendo em vista

tal exigência do mercado, o contratante, desesperadamente e sem

outra opção, aceita se submeter a quaisquer obrigações que a

instituição de ensino superior imponha, ainda que absurdas e

abusivas, tal como a exigência de garantia fidejussória.

A prática que exige a apresentação de fiador como

condição para que se firme o contrato de prestação de serviços de

ensino acaba por lesar o estudante que não tem outra escolha: ou ele

se submete à tamanha abusividade imposta pela Faculdade ou, caso

contrário, não terá acesso ao curso superior.

Por sua vez, o fornecedor, pólo mais fortalecido dessa

relação jurídica, recebe uma vantagem exagerada consubstanciada

em uma proteção desnecessária. Evidente está, pois, que a cláusula

contratual em comento está em dissonância com o princípio da boa-

fé, da equidade e com as finalidades precípuas do sistema de

proteção ao consumidor

Confira-se, a respeito, irretorquíveis decisões:

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. ENSINO PRIVADO. Dadas as dificuldades que os estudantes enfrentariam se, para efetuar a matrícula, fosse necessário apresentar fiador, não obstante considerando que é grande o número de alunos inadimplentes o que gera reais transtornos para a administração da Universidade, não se mostra conveniente a exigência feita pela agravada. Dispensa da prestação de fiança, sem prejuízo de buscar outra forma de garantia do adimplemento das obrigações. AGRAVO PROVIDO. (Processo nº 70005924626/2003, Tribunal de Justiça-RS / 26.06.2003)

APELAÇÃO CÍVEL. ENSINO PRIVADO. AÇÃO CAUTELAR INOMINADA E AÇÃO ORDINÁRIA. EXIGÊNCIA DE FIANÇA PARA REALIZAÇÃO DA MATRÍCULA DOS ALUNOS APROVADOS NO VESTIBULAR. DESCABIMENTO. A ré, ao exigir garantia fidejussória para efetivar a matrícula, restringe o acesso dos alunos ao ensino superior, mormente considerando as dificuldades a serem enfrentadas pelos estudantes para conseguir pessoas dispostas a prestar tal garantia. O contrato firmado pelo aluno é título executivo extrajudicial, mostrando-se de todo descabida a exigência de fiador. Declarada a ilegalidade da exigência de prestação de fiança, retrotraindo seus efeitos à garantia já prestadas. APELO PROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL. (Processo nº 70009382797, Tribunal de Justiça-RS / 07.04.2005)” [grifos nossos]

Consoante depreende-se dos julgados acima transcritos,

é despicienda a garantia fidejussória que o Réu pretende obter.

O contrato de prestação de serviços já se apresenta

como título executivo extrajudicial, facilitando, em muito, a cobrança

de eventuais dívidas de alunos inadimplentes. O fornecedor, portanto,

dispõe de meios judiciais eficientes e corretos para efetuar a cobrança

de eventuais dividas, não necessitando proteger seu crédito com mais

garantias, como a fiança.

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Ademais, a lei nº 9.870/99 concede outros instrumentos

de proteção ao patrimônio e aos créditos do fornecedor. Um deles é a

faculdade de recusar a renovação da matrícula do aluno inadimplente.

Não tem o fornecedor que suportar seguidos prejuízos ocasionados

por inadimplência, podendo, com o escopo de garantir a remuneração

pelo serviço prestado, recusar ao final do semestre ou ano letivo a

renovação da matrícula daquele que não quitou seus débitos. Mais

que suficientes, portanto, as garantias e proteções legalmente

conferidas ao fornecedor, sendo de todo desnecessária qualquer outra

garantia que queira impor aos consumidores.

Observe-se que aqui, o legislador, ciente de sua

responsabilidade, compatibiliza um aparente conflito entre os direitos

à educação e à livre iniciativa, entendendo que o estabelecimento de

ensino privado, apesar de desempenhar função originariamente

estatal e de relevante cunho social, deve ter preservado seu objetivo

como entidade privada, qual seja o lucro. Patente está, portanto, que

a legislação específica não é extremamente gravosa para as

instituições de ensino privado, objetivando, tão somente, proteger o

pólo vulnerável da relação jurídica consumerista.

2.2 DA ILEGALIDADE DO SUPOSTO DESCONTO DE

11,7845%.

No instrumento contratual do Réu consta a seguinte

cláusula:

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“Cláusula 3ª – Como contraprestação pelos serviços educacionais a serem prestados, no período estabelecido na cláusula 1ª, o Contratante pagará à Faculdade a semestralidade de R$ 3.564,00 (três mil quinhentos e sessenta e quatro reais).

Parágrafo 2º – Fica estabelecido o desconto de 11,7845% nas parcelas mensais correspondentes a R$ 70,00 (cem reais) [ sic ] para o Contratante que efetuar o pagamento até o quinto dia de cada mês, conforme o boleto de pagamento, por mera liberalidade da Faculdade e podendo ser cancelado a qualquer momento, sem aviso prévio. Não sendo o pagamento efetuado na data acima assinalada, fica sem efeito o referido desconto, permanecendo o valor do pagamento aquele contratado, ou seja, R$ 594,00.”[grifos nossos]

Depreende-se da disposição contratual transcrita que o

Réu estipula duas penalidades para aqueles estudantes que estejam

inadimplentes. Primeiro, esses alunos perderão o direito de abater de

suas mensalidades o percentual correspondente ao suposto desconto,

devendo, portanto, quitar seu débito com o enorme acréscimo de

11,7845%. Como se esse aumento desarrazoado já não fosse

bastante, ainda incidirá sobre o valor devido pelo aluno a multa de

mora “oficial”, correspondente a 2%, prevista na cláusula sexta do

instrumento contratual do Réu.

Observe-se que a supressão do fictício desconto já é,

em si mesma, uma penalidade imposta ao consumidor, que objetiva

compelir ao pagamento pontual da mensalidade. Essa é,

indiscutivelmente, característica da multa de mora, não sendo outra,

portanto, a real natureza do suposto desconto.

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O que se observa no caso sob análise é que o

“desconto” de 11,7845% oferecido pelo Réu, constitui, em verdade,

uma multa moratória dissimulada, exigida, cumulativamente, em caso

de inadimplência, com aqueloutra de 2%. Percebe-se, portanto, que

o Réu vem aplicando duas penalidades para inibir a mesma conduta,

qual seja a inadimplência.

O tão só fato de um instrumento contratual prever duas

sanções para a mesma hipótese já seria motivo suficiente para

questionar a validade do mencionado acordo de vontades, todavia, o

que se observa é que a intenção do Réu foi exatamente o de burlar o

cumprimento de lei impositiva, precisamente o § 1º do artigo 52 do

Código de Defesa do Consumidor, com a redação introduzida pela lei

nº 9.298/96.

Com efeito, estabelece o dispositivo referido que as

multas de mora não poderão ser superiores a 2%, limitação legal

completamente ignorada pelo Réu, que previu, no contrato

combatido, uma multa assumidamente de mora, no percentual de

2%, e outra de 11,7845%, esta mascarada sob o nome de desconto,

mas ambas, iniludivelmente, com a mesma natureza, as quais

totalizam mais de 13%.

O que ocorreu, em verdade, foi uma tentativa astuta

de fraudar a lei, dissimulando, sob o nome de desconto, uma multa

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de percentual muito superior ao permitido, manobra já conhecida

desde o avoengo Código Civil de 1916 e hoje reprimida pelo artigo

166, VI, do vigente Código Civil, que inquina de absolutamente nula a

cláusula contratual assim concebida.

Ademais, com a incidência de tais “descontos” nas

mensalidades escolares, o Réu ainda viola a lei nº 9.870/99, em seu

artigo 1º, §§ 5º e 6º, que determina que o reajuste das parcelas a

serem pagas pelos alunos só pode ser feito, justificadamente, no ano

letivo seguinte àquele em que surgiu o fator do aumento.

O Réu, ao prever para si a faculdade de estipular

desconto incidente sobre a mensalidade, em verdade, possibilita a

majoração, a qualquer tempo, dos valores pagos a título de

contraprestação por seus serviços. Como o desconto é tratado como

mera liberalidade concedida pelo Réu, reserva-se ele o direito de

suprimi-lo “a qualquer momento sem aviso prévio”, conforme consta

no parágrafo segundo da cláusula terceira, o que consiste num

reajuste da mensalidade durante o período letivo, não admitido por

lei.

Há que se observar ainda que, ao “facultar” o

pagamento das mensalidades com a incidência de suposto desconto,

o Réu evidencia que o valor reduzido, em verdade, é o valor real

devido pela prestação do mencionado serviço.

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Com efeito, o Réu, instituição privada que é, ao

disponibilizar a “opção” de pagar um valor menor pelo serviço que

presta, já deve ter incluído nesse montante todos os seus custos e

também uma certa margem de lucro para a atividade que exerce. Não

se pode imaginar que, caso todos os estudantes façam jus à

incidência do desconto, o Réu tenha previsto, por mera liberalidade,

como ele próprio ressalta, uma situação em que não terá qualquer

lucro com o serviço, ou ainda, uma situação que lhe traga prejuízo.

Desse modo, não é possível outro raciocínio que não

supor que o preço real pela prestação do serviço educacional

realizada pelo Réu é o montante pago após a incidência do percentual

que astutamente chama de desconto, pois esse valor é suficiente para

compensar os custos e ainda lhe conferir certa margem de lucro.

Tal comportamento leva à conclusão de que o artifício

acima descrito significa não apenas mais uma forma de pressão

direcionada para a pontualidade dos contratantes, mas também um

usurário método para obtenção de enriquecimento ilícito, às custas do

injustificado sacrifício econômico dos consumidores.

Por fim, cumpre ressaltar que um prejuízo ainda maior

se abaterá sobre o aluno do Réu que for admitido em programa

governamental de obtenção de crédito educativo.

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Para calcular o montante do crédito, a instituição ré

pode considerar apenas o valor “cheio” contratado – sem o

“desconto” e, portanto, preço fictício -, obrigando a instituição

financeira oficial a arcar com quantia superior à real. O prejuízo

primeiramente suportado pelo Estado, posteriormente, será repassado

ao consumidor beneficiado, que terá que devolver ao financiador

oficial montante muito superior ao que realmente condiz com o

serviço por ele usufruído.

2.3 DA ILEGALIDADE DA PREVISÃO DE REAJUSTE

DE MENSALIDADE ESCOLAR EM PRAZO INFERIOR

A UM ANO.

A cláusula quarta do instrumento contratual do Réu

assim dispõe:

“Cláusula 4ª – Os valores previstos na Cláusula anterior poderão ser modificados caso alguma alteração legislativa ou normativa, emanada dos Poderes Públicos, ou ainda de norma advinda de Convenção ou Dissídio Coletivo de Trabalho, estabelecidos na data base dos professores e pessoal administrativo da Faculdade, implique em comprovada variação de custos ou de receitas da mesma, ficando estabelecido que nesses casos, os valores das parcelas em aberto serão revistos de modo a manter o equilíbrio econômico-financeiro do presente contrato. ”

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A disposição contratual transcrita prevê a possibilidade

de efetuar, a qualquer tempo, reajuste nos valores das mensalidades

escolares, bastando para isso que haja comprovada variação nos

custos ou receitas da instituição de ensino.

O Réu, com a cláusula em comento, cria para o

consumidor uma situação de completa insegurança, pois não sabe ele

se, ao longo do período letivo, será realizado um reajuste na

mensalidade que a aumente desmesuradamente e termine por

inviabilizar o prosseguimento dos seus estudos.

Tal estipulação, contudo, contraria o seguinte

dispositivo da lei nº 9.870/99, que veda o reajuste de parcelas

escolares realizado em prazo inferior a um ano, exatamente para

garantir certa estabilidade nos preços cobrados por um serviço tão

essencial como a educação:

“Art. 1o O valor das anuidades ou das semestralidades escolares do ensino pré-escolar, fundamental, médio e superior, será contratado, nos termos desta Lei, no ato da matrícula ou da sua renovação, entre o estabelecimento de ensino e o aluno, o pai do aluno ou o responsável.

§5o O valor total, anual ou semestral, apurado na forma dos parágrafos precedentes terá vigência por um ano e será dividido em doze ou seis parcelas mensais iguais, facultada a apresentação de planos de pagamento alternativos, desde que não excedam ao valor total anual ou semestral apurado na forma dos parágrafos anteriores. (Renumerado pela Medida Provisória nº 2.173-24, 23.8.2001)

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§6o Será nula, não produzindo qualquer efeito, cláusula contratual de revisão ou reajustamento do valor das parcelas da anuidade ou semestralidade escolar em prazo inferior a um ano a contar da data de sua fixação, salvo quando expressamente prevista em lei. (Renumerado pela Medida Provisória nº 2.173-24, 23.8.2001)”[grifos nossos]

Destarte, mais que evidente está a ilegalidade da

disposição contratual ora analisada, uma vez que a lei não confere o

direito ao fornecedor de repassar imediatamente às mensalidades

escolares eventual desequilíbrio econômico sofrido.

2.4 DA FALTA DE RAZOABILIDADE NA

ESTIPULAÇÃO DO PERCENTUAL DA TAXA DE

MATRÍCULA A SER REEMBOLSADO.

O conceito de cláusulas abusivas é elástico e

abrangente, englobando toda e qualquer previsão que afete o

equilíbrio da relação contratual, acarretando vantagens desmedidas

para um contratante, em detrimento do outro.

A cláusula décima do instrumento contratual do Réu

assim dispõe:

“Cláusula 10ª - Em caso de desistência da matrícula, antes do início do semestre letivo, o Contratante será reembolsado em 80% (oitenta por cento) do(s) valor(es) pago(s) até a data da referida desistência . O valor retido pela Faculdade corresponde às despesas

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administrativas feitas a partir da inclusão do aluno no planejamento da Faculdade.

Parágrafo único – O requerimento de desistência da matrícula deverá ser protocolizado na secretaria da faculdade até dois dias úteis antes do início do período letivo.”

Ao estipular que, na hipótese de desistência da

prestação do serviço antes do início das aulas, será devolvido apenas

o percentual de 80% do valor pago como primeira mensalidade, o

Réu estabelece uma multa exacerbada, sobretudo diante de um

serviço que o consumidor não irá usufruir. Essa disposição contratual

mostra-se, portanto, excessivamente onerosa para o consumidor, haja

vista que o fornecedor recebe remuneração por um serviço não

prestado, representando para si, novamente, um enriquecimento sem

causa.

Uma vez que inexiste dispositivo legal específico acerca

do percentual a ser cobrado a título de multa penitencial, no caso de

desistência da matrícula por parte do aluno, faz-se necessário

encontrar parâmetro que, em sintonia com os princípios da lei

8.078/90, expresse o justo valor a ser retido pelo fornecedor. Daí

surge o subsídio fornecido pelo Decreto nº 22.626/33, cujo artigo 9o

determina:

“Art. 9º. Não é valida a cláusula penal superior à importância de 10% do valor da dívida .” [grifos nossos]

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Vale advertir que se fala aqui de desistência antes

mesmo do início das aulas, ou seja, nenhum serviço educacional foi

prestado ainda, logo, apresenta-se razoável a retenção de 10% do

montante da matrícula, a fim de custear possíveis gastos ou

transtornos administrativos sofridos pela instituição de ensino com a

desistência do contratante.

Impende ainda ressaltar que o Réu não terá grandes

prejuízos financeiros com a desistência efetuada antes de iniciado o

curso, pois tem sempre a possibilidade de, por meio de quantas listas

forem necessárias, convocar os candidatos aprovados no vestibular,

mas classificados em posições inferiores à do desistente, não ficando

ociosa a vaga daquele contratante que rescindiu o pacto.

2.5 DA PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA A

CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

No caso sub judice, impõe-se a expedição de ordem

liminar, inaudita altera parte, com base no art. 84, parágrafo 3º, da

lei nº 8.078/90, uma vez que se encontram plenamente

caracterizados os seus pressupostos jurídicos, quais sejam, o fumus

boni juris e o periculum in mora.

O fato de o acionado fazer constar no instrumento

contratual ofertado ao público as cláusulas abusivas acima

combatidas evidencia, inexoravelmente, ofensa a direitos legítimos

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assegurados em sede constitucional, na lei nº 9.870/99 e na

legislação consumerista, aliás, como já exaustivamente demonstrado

no bojo desta ação. Patente, portanto, o fumus boni juris.

Na presente ação existe, sem dúvida, o fundado receio

de ineficácia de um provimento final favorável, já que a demora em

receber a tutela judicial poderá acarretar danos irreparáveis ou de

difícil reparação aos consumidores, exatamente o pólo vulnerável da

relação jurídica consumerista.

Caso não seja impedido por uma ordem judicial, o Réu

prosseguirá prevendo em seus instrumentos contratuais as cláusulas

abusivas ora guerreadas e continuará a pautar-se de acordo com elas.

Desse modo, alunos continuarão sendo impedidos de

iniciar ou de levar adiante seus estudos, caso não apresentem fiador

e mais consumidores, desmedidamente onerados, se verão privados,

injustificadamente, de recursos dos quais, via de regra, não podem

dispor senão em prejuízo da satisfação de suas necessidades.

Presente, pois, o periculum in mora.

Necessária, então, a fim de evitar maiores danos, a

imediata cessação das práticas abusivas que decorrem das cláusulas

aqui guerreadas, como única forma de impedir, até o julgamento final

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da presente Ação Civil Pública, que os consumidores dos serviços do

Réu sofram maiores prejuízos.

O consumidor possui direitos básicos, dentre os quais o

da efetiva prevenção de danos,1 como no caso em apreço, onde se

deve resguardar o seu patrimônio até o desate final da causa.

Sobretudo, é preciso estar atento para os novos ventos que bafejam o

direito, consoante anota Ronaldo A. Sharp Junior:

“Se o judiciário prosseguir adotando a mesma técnica de antes do advento do Código de Defesa do Consumidor, nada terá mudado para o consumidor, que se verá na mesma situação de aguardar a natural demora do processo, com sacrifícios, ônus, desânimo e descrença na Justiça, circunstâncias que conduzem ao fenômeno da infelicidade social, como bem ressaltado por Mauro Capelletti.”2

Por fim, insta salientar que ambas as Varas Especializadas

de Defesa do Consumidor da Comarca de Salvador já concederam

medidas liminares similares às ora pleiteadas, especificamente nos autos

das ações civis públicas registradas sob os números 1364350-4/2007 (2ª

Vara Especializada) e 1641844-9/2007 (1ª Vara Especializada). Espera-se

que a presente ação siga o mesmo caminho das aqui mencionadas.

1 Artigo 6.º, VI, do CDC.2 Antecipação de Tutela nas Lides de Consumo, matéria publicada in COAD/ADV, Seleções Jurídicas, 07/97.

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3. DOS PEDIDOS

3.1 DO PEDIDO LIMINAR

Respaldado no disposto no art. 84, § 3º, do CDC,

requer a V. Ex.ª a expedição de ordem liminar inaudita altera parte,

uma vez configurados o fumus boni iuris e o periculum in mora, para

determinar que o Réu , no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a

contar da intimação da decisão concessiva da liminar, sob pena de

pagamento de multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil

reais), a serem recolhidos ao Fundo previsto no art. 13 da Lei nº

7.347/85:

1) abstenha-se de exigir dos seus consumidores a

apresentação de fiador como condição para celebrar contrato

de prestação de serviços educacionais ou para renovar as

suas matrículas nos semestres seguintes;

2) reduza o valor cobrado aos alunos a título de

semestralidades (ou anuidade) para o ano de 2008 e, por

conseguinte, reduza o valor de cada parcela mensal deste ano

em 11,7845%, ou seja, o percentual do falso desconto;

3) considere, para efeito de estipulação das

semestralidades (ou anuidades) e mensalidades escolares

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para os anos seguintes, até o julgamento desta ação, em

conformidade com o art. 1 o da Lei 9.870/99, o valor obtido

mediante a redução referida no item anterior;

4) abstenha-se de aplicar outra penalidade por

atraso no pagamento das mensalidades escolares, além da

multa moratória no percentual máximo de 2% do valor da

prestação, mesmo que denominada de “desconto” ou

qualquer outro nome que lhe seja atribuído;

5) abstenha-se de efetuar qualquer reajuste em

suas mensalidades escolares em período inferior a um ano,

contado da data de sua fixação;

6) abstenha-se de exigir multa superior a 10% do

valor da primeira mensalidade para o caso de desistência do

curso antes de iniciadas as aulas do período letivo.

3.2 DOS PEDIDOS FINAIS

Por todo o exposto, o Ministério Público requer:

1) Sejam declaradas nulas as seguintes disposições do

contrato de prestação de serviços educacionais utilizado pelo Réu:

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§ 2º da cláusula terceira

cláusula quarta;

§ 1º da cláusula sexta (no que se refere à inclusão

do nome do fiador em cadastro de proteção ao

crédito, em caso de inadimplência do devedor

principal);

§ 2º da cláusula sexta (no que se refere à

possibilidade de emissão de duplicata em nome do

fiador);

cláusula sétima;

cláusula décima;

2) Sejam julgados procedentes os pedidos a seguir

formulados, determinando que o Réu , sob pena do pagamento de

multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), sujeitos a

atualização monetária, para serem recolhidas ao Fundo previsto no

artigo 13 da Lei nº 7.347/85:

2.1 abstenha-se de exigir dos seus consumidores a

apresentação de fiador como condição para celebrar

contrato de prestação de serviços educacionais ou para

renovar as suas matrículas nos semestres seguintes;

2.2 abstenha-se de inserir, nos contratos de prestação de

serviços educacionais que no futuro vier a celebrar,

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cláusula que exija a apresentação de fiador como

condição para a realização do mencionado negócio

jurídico;

2.3 abstenha-se de inserir, nos contratos de prestação de

serviços educacionais que no futuro vier a celebrar,

cláusula que faça qualquer referência à participação de

fiador na formação do tipo de negócio jurídico

mencionado;

2.4 reduza o valor cobrado aos alunos a título de

semestralidades (ou anuidade) para o ano de 2008 e, por

conseguinte, reduza o valor de cada parcela mensal deste

ano em 11,7845%;

2.5 considere, para efeito de estipulação das

semestralidades (ou anuidades) e mensalidades escolares

para os anos seguintes, até o julgamento desta ação, em

conformidade com o art. 1o da Lei 9.870/99, o valor

obtido mediante a redução referida no item anterior;

2.6 abstenha-se de aplicar outra penalidade por atraso no

pagamento das mensalidades escolares, além da multa

moratória no percentual máximo de 2% do valor da

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prestação, mesmo que denominada de “desconto” ou

qualquer outro nome que lhe seja atribuído;

2.7 abstenha-se de efetuar qualquer reajuste em suas

mensalidades escolares em período inferior a um ano,

contado da data de sua fixação;

2.8 abstenha-se de inserir, nos contratos de prestação de

serviços educacionais que no futuro vier a celebrar,

cláusula com conteúdo seja idêntico ao previsto no § 2º

da cláusula terceira e na cláusula quarta do seu

instrumento contratual;

2.9 abstenha-se de exigir multa superior a 10% do valor

da primeira mensalidade, em caso de desistência do curso

antes de iniciadas as aulas do período letivo;

2.10 abstenha-se de inserir, nos contratos de prestação

de serviços educacionais que no futuro vier a celebrar,

cláusula que preveja multa superior a 10% do valor da

primeira mensalidade, nos casos de desistência do curso

antes de iniciadas as aulas do período letivo;

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2.11 abstenha-se de praticar qualquer das condutas

descritas nas cláusulas cuja nulidade tenha sido declarada

por este Juízo;

3) Seja o Réu condenado a devolver, em dobro, a cada

consumidor, a importância paga a título de multa moratória

dissimulada pelo Réu de “desconto”, no valor de 11,7845%, para

pagamento antecipado da mensalidade;

4) Seja o Réu condenado a devolver, em dobro, a cada

consumidor, a importância que exceda a 10% do valor da primeira

mensalidade, paga a título de multa penitencial abusiva, nos casos de

desistência do curso antes de iniciadas as aulas do período letivo;

5) Seja o Réu condenado a indenizar por danos morais

todos os consumidores prejudicados em razão das cláusulas e práticas

abusivas por ele implementadas, especificamente os danos causados

em decorrência da exigência de apresentação de fiador como

condição para a formalização do contrato de prestação de serviços

educacionais e para prosseguimento dos estudos universitários.

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4. DOS REQUERIMENTOS

Finalmente, requer:

1) Seja determinada a citação do Réu, na pessoa do seu

representante legal, a fim de que, advertido da sujeição aos efeitos

da revelia, a teor do artigo 285, última parte, do Código de Processo

Civil, apresente, querendo, contestação, no prazo de 15 (quinze) dias;

2) A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e

outros encargos, desde logo, em face do previsto no artigo 18 da Lei

nº 7.347/85 e do art. 87 da Lei nº 8.078/90;

3) Sejam as intimações do Autor feitas pessoalmente,

mediante entrega dos autos com vista ao 4º Promotor de Justiça do

Consumidor da Capital, na Avenida Joana Angélica, nº 1312, Bloco

Anexo, 3º andar, Nazaré, nesta Capital, em face do disposto no art.

236, § 2º, do Código de Processo Civil e no art. 199, inciso XVIII, da

Lei Complementar Estadual nº 11/96 (Lei Orgânica do Ministério

Público do Estado da Bahia);

4) A inversão do ônus da prova, conforme previsto no

art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor;

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5) A publicação do edital previsto no artigo 94 da Lei nº

8.078/90, para conhecimento dos interessados e eventual habilitação

no feito como litisconsortes;

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova

admitidos em direito, especialmente pela produção de prova

testemunhal e, caso necessário, pela juntada de documentos, e por

todos os demais instrumentos indispensáveis à cabal demonstração

dos fatos articulados na presente inicial;

Atribui-se à causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos

mil reais).

Pede deferimento.

Salvador, 11 de fevereiro de 2008

AURISVALDO MELO SAMPAIO

4º Promotor de Justiça do Consumidor da Capital

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