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SBN, quadra 1, lotes 20/21/22/23, Asa Norte - Brasília/DF, CEP 70.040-010 - Telefone (61) 3329-7900 EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL PAJ n° 2014/001-04225 A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do titular do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva no Distrito Federal, e nos termos dos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Constituição Federal, do artigo 4º, inciso VII, da Lei Complementar n° 80/94 e do artigo 5º, inciso II, da Lei n° 7.347/85, vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação dos efeitos da tutela em face da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT, pessoa jurídica de Direito Privado, com sede no SBN, Quadra 1, Bloco A, Asa Norte – Brasília/DF, CEP 70.002-900, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos, com o objetivo de assegurar aos moradores do Setor DVO, em Planaltina/DF, o regular funcionamento da Caixa Postal Comunitária (CPC) instalada no local.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Defensoria Pública da União · Seguindo esse preceito, o próprio estatuto social da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, aprovado por meio

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SBN, quadra 1, lotes 20/21/22/23, Asa Norte - Brasília/DF, CEP 70.040-010 - Telefone (61) 3329-7900

EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

PAJ n° 2014/001-04225

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do titular

do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva no Distrito Federal, e nos

termos dos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Constituição Federal, do artigo 4º,

inciso VII, da Lei Complementar n° 80/94 e do artigo 5º, inciso II, da Lei n°

7.347/85, vem perante Vossa Excelência propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de antecipação dos efeitos da tutela

em face da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT,

pessoa jurídica de Direito Privado, com sede no SBN, Quadra 1, Bloco A, Asa

Norte – Brasília/DF, CEP 70.002-900, pelos fatos e fundamentos a seguir

expostos, com o objetivo de assegurar aos moradores do Setor DVO, em

Planaltina/DF, o regular funcionamento da Caixa Postal Comunitária (CPC)

instalada no local.

I – DOS FATOS

Em setembro de 2014, foi instaurado Processo de

Assistência Jurídica (PAJ) neste Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva

em razão de reclamação apresentada à Defensoria Pública da União pelo sr.

ADALBERTO ALBINO DE QUEIROZ JUNIOR, na qual solicitava providências do

Órgão junto à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT para

normalização do serviço de Caixa Postal Comunitária (CPC) instalada na

localidade em que reside, qual seja, o Setor DVO, situado na cidade-satélite de

Planaltina/DF.

Em entrevista realizada com o assistido (doc. 1), o mesmo

informou que o Setor DVO constitui área rural habitada por mais de 400

pessoas, mas ainda pendente de regularização junto ao Governo do Distrito

Federal. Por se encontrar nessa situação, ainda não dispõe de serviço de

entrega de correspondências domiciliar pelos Correios.

Como solução para a pendência, e nos termos da Portaria

n° 141, de 27/04/1998, do Ministério das Comunicações (doc. 2), a ECT instalou

na localidade uma Caixa Postal Comunitária, cadastrada no Código de

Endereçamento Postal (CEP) sob o n° 73.307-993 (doc. 3).

Contudo, há anos a comunidade local vem sofrendo com o

mau funcionamento do serviço de CPC, sem qualquer perspectiva de resolução

pela parte ré.

Em síntese, o problema se centra na irregular entrega das

correspondências na CPC, sendo que muitas acabam permanecendo no Centro

de Distribuição Domiciliária de Planaltina (CDD-Planaltina) ou em agências dos

Correios daquela cidade-satélite aguardando comparecimento pessoal do

destinatário, sem qualquer tipo de aviso.

O resultado dessa falha de serviço é a indevida devolução

ao remetente de diversos objetos postais, inclusive aqueles dotados de Aviso de

Recebimento (ARs), como notificações oficiais e até intimações judiciais, o que

vem gerando diversos incômodos e prejuízos aos moradores do Setor DVO.

O atual presidente da Associação Comunitária dos

Moradores do DVO (ACMD), sr. JOSÉ ANTÔNIO MARCELINO, ouvido em

março de 2015 pela DPU (doc. 4), confirmou as reclamações apresentadas pelo

sr. ADALBERTO.

Afirmou que, desde que assumiu tal incumbência no ano de

2011, vem lidando com reiteradas reclamações sobre as deficiências da CPC.

Todavia, apesar das diversas reuniões realizadas ao longo dos anos com os

gerentes que se sucederam na administração do CDD-Planaltina, o quadro não

se alterou, o que vem obrigando os moradores a se utilizarem de endereços

diversos (de parentes, trabalho etc.) como forma de assegurarem o recebimento

de suas correspondências pessoais.

A questão também chamou a atenção da imprensa no ano

passado (doc. 5), que detalhou os problemas e incômodos sofridos pelos

habitantes do local com a falha do serviço prestado pela ré.

Buscando promover a solução extrajudicial da questão, nos

termos do art. 4°, II, da Lei Complementar n° 80/94, este Órgão realizou reunião

com a Diretoria Regional dos Correios de Brasília em outubro de 2014 (doc. 6).

Na ocasião, os representantes da ré informaram que o

CDD-Planaltina já estava realizando levantamento das correspondências não

entregues na localidade, para apurar as razões. Todavia, externaram a firme

convicção de que o problema nas entregas se dava por endereçamento incorreto

dos objetos postais, e se comprometeram a encaminhar aos usuários da CPC do

Setor DVO cartilhas informativas sobre o assunto.

Posteriormente à reunião, a referida Diretoria Regional

encaminhou à DPU o resultado do levantamento realizado pelo CDD-Planaltina

(doc. 7), que indica que, no período de um mês, 26/09/2014 a 26/10/2014, 73

(setenta e três) objetos postais não foram entregues na CPC do Setor DVO,

sendo encaminhadas à agência dos Correios mais próxima. A justificativa para

todas essas falhas, segundo informado no documento, seria “a insuficiência de

endereço”.

No mesmo ofício, a ECT apresentou o modelo de cartilha

que seria entregue aos moradores do Setor DVO (doc. 8), onde há indicação do

correto endereçamento das correspondências, o que, no entender dos

representantes da ré, resolveria a questão.

Encaminhamos tal modelo em dezembro de 2014 ao sr.

ADALBERTO, para rápida divulgação aos demais usuários da CPC, e este

Órgão permaneceu aguardando o resultado da solução apresentada pelos

Correios.

Infelizmente, já em janeiro de 2015, o assistido trouxe à

DPU correspondências em que, apesar do endereçamento realizado nos termos

da cartilha, não foram entregues na Caixa Postal Comunitária (doc. 9).

Da mesma forma, o presidente da ACMD informou que a

orientação de endereçamento contida na cartilha já vinha sendo adotada desde

a formalização do último termo de cessão da Caixa Postal Comunitária em 2011

(doc. 3, item 5), sem qualquer melhoria no serviço.

Diante do informado, esta Defensoria Pública tentou

articular audiência pública no próprio Setor DVO, com presença dos

representantes dos Correios, de forma a melhor apurar as causas e possíveis

soluções consensuais para funcionamento adequado da CPC local. Contudo,

apesar dos contatos realizados com a gerência responsável, não obtivemos mais

retornos da empresa pública, restando frustrada a diligência (doc. 10).

Assim, por entender esgotadas as tentativas de resolução

extrajudicial da demanda, recorre a Defensoria Pública da União ao Judiciário

para ver assegurado o direito dos moradores do Setor DVO, em Planaltina/DF,

ao adequado funcionamento da Caixa Postal Comunitária instalada no local pela

parte ré.

II – DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

A ampla legitimidade ativa da Defensoria Pública para

ações de cunho coletivo em prol dos necessitados é questão remansosa na

legislação, reconhecida primeiramente no art. 5°, II, da Lei da Ação Civil Pública,

e depois incluída dentre suas funções institucionais, no art. 4°, VII, da Lei

Complementar n° 80/94.

Finalmente, a Emenda Constitucional n° 80/2014 espancou

qualquer dúvida acerca da atribuição deste Órgão na seara coletiva, ao lhe

incumbir “a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos

individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados” (art. 134,

caput, da CF/88, grifo nosso).

Frise-se, por fim, que a presente ação civil pública guarda

íntima relação com as funções institucionais mais típicas da Defensoria Pública,

porquanto se destina a garantir aos moradores de área rural do DF, de notória

hipossuficiência jurídica, direito absolutamente comezinho a qualquer cidadão,

que é o acesso regular ao serviço postal, garantido pelo art. 4° da Lei n°

6.538/78.

Patente, portanto, a pertinência temática entre a

pretensão dos assistidos pela DPU nesta ação civil pública e o exercício das

funções típicas da Instituição, qual seja a defesa de hipossuficientes (art. 5º,

LXXIV, CF).

III – DOS FUNDAMENTOS

Excelência, como já ressaltado no item anterior, o art. 4° da

Lei n° 6.538/78 afirma que “é reconhecido a todos o direito de haver a prestação

do serviço postal e do serviço de telegrama, observadas as disposições legais e

regulamentares”.

Seguindo esse preceito, o próprio estatuto social da

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, aprovado por meio do

Decreto n° 8.016/13, coloca como objetivo social da ré a obrigação de

“assegurar a continuidade dos serviços postais e telegráficos, observados os

índices de confiabilidade, qualidade, eficiência e outros requisitos fixados pelo

Ministério das Comunicações” (art. 4°, § 3°) (grifos nossos).

A reforçar tais previsões normativas, a Lei n° 8.078/90

estabelece como direito do consumidor “a adequada e eficaz prestação dos

serviços públicos em geral” (art. 6°, X), no qual se inclui o serviço postal, cuja

manutenção é competência constitucional da União (art. 21, X, da CF/88).

O mesmo código consumerista traz, ainda, que “os órgãos

públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob

qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços

adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos” (art. 22)

(grifos nossos).

No caso, o serviço postal em questão foi criado pela

Portaria n° 141, de 27/04/1998, do Ministério das Comunicações, assim

caracterizado no art. 2° do aludido diploma:

Art. 2º O Serviço de Caixa Postal Comunitária - CPC caracteriza-se como uma modalidade de distribuição de mensagens telemáticas e objetos de correspondência, realizada pelo depósito em Caixas Postais Comunitárias instaladas pela ECT em comunidades previamente definidas, a partir de critérios técnicos regulados nesta Portaria e nas normas técnicas próprias.

Trata-se de modalidade criada para contornar problemas

encontrados na realização de serviços postais em domicílios situados em áreas

rurais ou de difícil acesso (doc. 11), situação em que foi enquadrado o Setor

DVO, tendo em vista sua localização eminentemente rural e sem devida

regularização de endereços pela autoridade distrital.

Na implementação do serviço de CPC, a Associação

Comunitária dos Moradores do DVO – ACMD, atendendo aos termos do art. 6°

da Portaria n°141/1998, providenciou o espaço físico necessário à instalação do

módulo, com proteção contra as intempéries, como evidenciado nas fotos

anexadas à notícia jornalística (doc. 5). Ao cabo dessas providências,

formalizou-se o termo de cessão da Caixa Postal Comunitária (doc. 3).

Portanto, seja sob o enfoque consumerista, seja sob as

obrigações assumidas pelo Estado brasileiro em sua legislação, a comunidade

do Setor DVO possui direito líquido e certo à adequada prestação do serviço de

CPC, não havendo qualquer dúvida nesse tocante.

Contudo, e como visto no item I desta petição, o serviço

não está sendo prestado de forma minimamente satisfatória, sendo recorrente a

não entrega das correspondências na CPC.

Ressalta-se que o problema não atinge apenas a entrega

de correspondências comuns. Os objetos postais registrados, como SEDEX e

com ARs, por questões de segurança não são diretamente entregues na CPC,

mas encaminhados à agência mais próxima para retirada. Contudo, os titulares

de CPC devem ser informados da chegada do objeto por aviso específico (doc.

12), estes sim depositados nas Caixas Postais Comunitárias.

Infelizmente, o serviço de “aviso de chegada” também

segue a falha generalizada observada na CPC, e nesse caso o dano aos

moradores é ainda maior, pois é sabido que a Justiça se utiliza de cartas

registradas para intimações de atos judiciais, que acabam não alcançando os

usuários do Setor DVO (doc. 13)

A gravidade desse problema pode ser facilmente

constatada no levantamento realizado pelos Correios entre os dias 26/09/2015 e

26/10/2014 (doc. 7), realizado a reboque da notícia divulgada no jornal Correio

Braziliense (doc. 5).

Como se vê no documento encaminhado à DPU, no espaço

de um só mês, 73 (setenta e três) objetos foram reencaminhados à agência

mais próxima e apenas 13 (treze) foram entregues no Módulo de Caixa Postal

Comunitária – MCPC.

Ou seja, o percentual de sucesso na entrega na CPC é

pouco maior que 15% (quinze por cento), muito inferior à meta de qualidade

estipulada na Portaria n° 566, de 29/12/2011, do Ministério das Comunicações

(doc. 14), que estabelece o percentual de 90% a 95% de entregas para o

quadriênio 2012-2015.

Não bastante, ainda no mesmo documento produzido pela

parte ré (doc. 7), consta que apenas 1 (um) aviso de chegada foi entregue no

Setor DVO, ao longo de todo o mês apurado. Talvez isso explique porque

apenas “uma a duas pessoas” compareceram à agência mais próxima para

retirada de correspondências no período.

Em sua defesa, a ECT buscou transferir a responsabilidade

aos próprios usuários, aduzindo falhas no endereçamento ou no CEP informado.

No entanto, levantamento feito informalmente pelo sr.

ADALBERTO ALBINO DE QUEIROZ JUNIOR (doc. 15) mostra que, apesar de

existir erros no endereçamento, isso não impede os Correios de efetuar entregas

nos escaninhos dos moradores do local. Por outro lado, mesmo objetos

corretamente endereçados sofrem desvios (doc. 9).

Enfim, é evidente a absoluta desorganização do serviço

prestado pela ré aos moradores do Setor DVO, o que leva a Defensoria

Pública da União a pleitear ao Judiciário a condenação da Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafos às seguintes obrigações:

III.I – DA OBRIGAÇÃO DE FAZER

Como pedido primordial, por óbvio, pretende a DPU que a

ECT seja condenada à obrigação de regularizar o serviço postal prestado na

Caixa Postal Comunitária instalada no Setor DVO em Planaltina/DF, no

prazo máximo de 90 (noventa) dias, atendendo às determinações contidas na

Lei dos Serviços Postais (art. 3°, Lei n° 6.538/78), em seu próprio Estatuto Social

(art. 4°, § 3°, anexo do Decreto n° 8.016/13) e, principalmente, no Código de

Defesa do Consumidor (art. 22, Lei n° 8.078/90).

Nos termos do referido dispositivo estatutário, a

regularização deve se pautar por critérios de qualidade estabelecidos pelo

Ministério das Comunicações, que em sua Portaria n° 566/2011 (doc. 14), fixou

as metas de eficiência entre 90 e 95% de entregas.

Portanto, a obrigação aqui visada somente será

adequadamente cumprida quando o serviço de CPC lograr efetuar a entrega de

pelo menos 90% das correspondências destinadas a moradores do Setor DVO,

aí incluído o encaminhamento de avisos de chegada para objetos registrados

(SEDEX, ARs etc.), o que deverá ser comprovado mediante relatório mensal

elaborado pelo setor competente da ECT durante o prazo de cumprimento da

obrigação, a ser juntado aos autos do processo para análise e eventual

contraditório pela autora.

Por fim, e com o objetivo de assegurar o cumprimento da

obrigação de fazer, requer seja também fixada multa cominatória, após o

referido prazo de 90 (noventa) dias, para o caso de prosseguir a falha no serviço

postal em referência, que deverá ser estipulada em valor não inferior a R$

10.000,00 (dez mil reais) por mês em que não se alcance a meta de eficiência

estipulada na Portaria n° 566/2011 do Ministério das Comunicações.

III.II – DA OBRIGAÇÃO INDENIZATÓRIA

Independentemente do adequado cumprimento da

obrigação de fazer descrita no item anterior, entendemos que a falha imputada à

ECT já gerou expressivos danos à coletividade e, por isso, é imperiosa a

recomposição financeira pelos prejuízos causados.

Nesse intuito, lembramos que um dos escopos principais

da ação civil pública é justamente a responsabilização por danos morais e

patrimoniais causados ao consumidor e a outros interesses coletivos (art. 1°, II e

IV, da Lei n° 7.347/85), dos quais, por certo se inclui o adequado funcionamento

do serviço postal aos cidadãos.

Quanto à possibilidade de pedidos múltiplos nesta via, a

jurisprudência já decidiu “pela possibilidade da cumulação das obrigações de

fazer, não fazer e pagar em sede de ação civil pública” (STJ – AGEDAG

1156486. 1ª Turma. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima. DJe 27/04/2011)

Não o bastante, o Código de Defesa do Consumidor

estatui, no parágrafo único de seu art. 22, que as pessoas jurídicas de direito

público, no caso de descumprimento de sua obrigação de oferecer serviços

eficientes e contínuos, deverão ser compelidas a reparar os danos causados.

Ora, como visto ao longo dessa exordial, o mau

funcionamento da Caixa Postal Comunitária instalada no Setor DVO gerou

diversos prejuízos os moradores da localidade, que se viram privados do acesso

regular a um dos mais elementares serviços públicos.

Por força da intermitência do serviço postal, usuários

tiveram correspondências indevidamente devolvidas ao remetente, inclusive de

cunho judicial, o que os obrigou a recorrerem a endereços postais de terceiros

para se assegurarem do recebimento de seus objetos postais.

Também restou evidenciado que tal falha não passou ao

largo do conhecimento da ré, muito pelo contrário: pelo menos há quatro anos, a

Associação Comunitária dos Moradores do DVO vem continuamente trazendo a

questão à gerência do Centro de Distribuição Domiciliária (CDD) de Planaltina,

sem qualquer alteração no quadro de violação aos seus direitos.

Da mesma forma, as tentativas de composição extrajudicial

conduzidas por esta Defensoria Pública da União, além de envolver uma

tentativa pífia de responsabilizar os próprios usuários pelos problemas

noticiados, não redundou em qualquer proposta ou conduta séria para resolução

do problema.

Portanto, Excelência, entende a DPU que a parte ré deve

não só ser condenada a normalizar o serviço da CPC do Setor DVO, mas

também a indenizar a coletividade pelos danos causados nesses longos anos de

ineficiência e descaso com seu mister societário (art. 4°, § 3°, de seu Estatuto

Social) e legal (art. 4° da Lei n° 6.538/78).

Nesse intuito, tendo em vista, de um lado, a longa duração

e a profundidade dos danos causados à coletividade pela conduta omissiva

imputada e, de outro, a capacidade econômica da ré e o caráter didático da

recomposição financeira, requer seja fixada contra a Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafos a condenação por danos materiais e morais coletivos em

montante não inferior a R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser revertido ao fundo

mencionado no art. 13 da Lei n° 7.347/85, sem prejuízo à eventual e posterior

fixação de indenizações individuais àqueles que demonstrarem concretamente

os danos diretamente sofridos.

IV – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

O art. 12 da Lei n° 7.347/85 prevê a possibilidade de

concessão de medida liminar em ação civil pública, condicionada, conforme art.

273 do Código de Processo Civil, ao atendimento dos requisitos de

verossimilhança das alegações e fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação.

No caso, entendemos presentes os dois requisitos, a

justificar a imediata intervenção do Judiciário no caso para tutelar parcialmente

os objetos da demanda.

Afinal, restou demonstrado no item “III – DOS

FUNDAMENTOS” a mau funcionamento da Caixa Posta Comunitária instalada

no Setor DVO de Planaltina/DF, que encontra prova cristalina no relatório

produzido pela própria ECT (doc. 7), onde consta índice de eficiência na entrega

de correspondências inferior a 16%, muito abaixo do padrão imposto pelo

Ministério das Comunicações (doc. 14)

Também ficou evidente, até mesmo pela matéria jornalística

produzida sobre a questão (doc. 5), os efeitos deletérios dessa falha na vida civil

dos moradores da localidade, que se veem privados do acesso a importantes

correspondências, inclusive de natureza judicial.

Excelência, como se vê, o quadro de danos àquela

coletividade está por demais demonstrada, e o pedido de normalização do

serviço de entrega de correspondências é de natureza tão elementar que

dispensaria qualquer outra argumentação jurídica, recaindo mesmo na

novíssima tutela de evidência estabelecida no novo CPC (art. 311), ainda em

período de vacatio legis.

Logo, cumpre antecipar parcialmente a tutela, de forma a

assegurar que os moradores do Setor DVO possam desde já contar com o

adequado funcionamento da Caixa Postal Comunitária da localidade durante o

desenrolar do processo, tendo em vista o direito assegurado na Lei dos Serviços

Postais (art. 3°, Lei n° 6.538/78) e no Código de Defesa do Consumidor (art. 22,

Lei n° 8.078/90).

Sendo assim, presentes o fumus boni iuris e o periculum in

mora, requer o deferimento de tutela liminar para obrigar desde já a Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT a normalizar, no prazo de 90

(noventa) dias, o funcionamento da Caixa Postal Comunitária instalada no

Setor DVO, em Planaltina/DF, CEP n° 73.307-993, de maneira que todos seus

usuários tenham garantida a entrega de, pelo menos, 90% de suas

correspondências e avisos de chegada, conforme critérios de eficiência

estabelecidos na Portaria n° 566/2011, do Ministério das Comunicações, sob

pena de multa mensal não inferior a R$ 10.000,00 após o término prazo em

questão.

O cumprimento da obrigação o que deverá ser comprovado

mediante relatório mensal elaborado pelo setor competente da ECT durante o

prazo de cumprimento da obrigação, a ser juntado aos autos do processo para

análise e eventual contraditório pela autora.

V – DOS PEDIDOS

Ante o todo exposto, requer a autora:

a) a concessão inaudita altera pars do pedido de

antecipação da tutela, para obrigar a Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafos a normalizar, no prazo de 90 (noventa) dias, o funcionamento da

Caixa Postal Comunitária instalada no Setor DVO, em Planaltina/DF, CEP n°

73.307-993, de maneira que todos seus usuários tenham garantida a entrega de,

pelo menos, 90% de suas correspondências e avisos de chegada, conforme

critérios de eficiência estabelecidos na Portaria n° 566/2011, do Ministério das

Comunicações, comprovado por relatório mensal a ser elaborado pelo setor

competente da ré e anexado aos autos para análise da parte autora, sob pena

de multa mensal não inferior a R$ 10.000,00 após o término prazo em questão;

b) a citação da ré para que, querendo, ofereça resposta no

prazo legal;

c) a oitiva do Ministério Público Federal, nos termos do art.

5°, §1°, da Lei n° 7.347/85;

d) seja, ao final, a presente ação civil pública julgada

procedente, nos seguintes termos:

d.1) para condenar a ECT à obrigação de fazer

deduzida na alínea “a” deste item, confirmando-se a

tutela liminar pleiteada; e

d.2) para condenar a ré, ainda, à obrigação de

indenizar os danos materiais e morais coletivos

decorrentes da falha de serviço postal noticiada nesta

ação, em montante não inferior a R$ 100.000,00 (cem

mil reais), a ser revertido ao fundo mencionado no art.

13 da Lei n° 7.347/85, sem prejuízo à eventual e

posterior fixação de indenizações individuais àqueles

que demonstrarem concretamente os danos

diretamente sofridos.

Requer, ainda, a observância da intimação pessoal e da

contagem em dobro dos prazos processuais, conforme art. 44, I, da Lei

Complementar n° 80/94.

Por fim, protesta provar o alegado pelos documentos já

anexados a esta inicial e por todos os meios de prova em Direito admitidos.

Confere-se à causa o valor de R$ 100.000,00.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília/DF, 30 de março de 2015.

EDUARDO NUNES DE QUEIROZ

Defensor Público Federal