Ação da eletricidade no corpo humano

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  • 7/23/2019 Ao da eletricidade no corpo humano

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    Artigos

    135Exacta, So Paulo, v. 5, n. 1, p. 135-143, jan./jun. 2007.

    Srgio Ricardo LourenoCoordenador de curso UninoveSo Caetano do Sul SP [Brasil]

    [email protected]

    Thadeu Alfredo Farias SilvaProfessor de Ensino Superior Uni nove

    So Bernardo do Campo SP [Brasil][email protected]

    Silvrio Catureba da Silva FilhoProfessor de Ensino Superior Uni nove

    So Paulo SP [Brasil][email protected]

    Um estudo sobre os efeitos da eletricidadeno corpo humano sob a gide da sade

    e segurana do trabalho

    A proposta, neste trabalho, apresentar os principais efeitosfisiolgicos da corrente eltrica no corpo humano: choqueeltrico. Inicia-se com a apresentao de conceitos bsicos daenergia eltrica, necessrios, como base terica, ao desenvol-vimento do tema. Na seqncia, apresentamos uma exposioda fisiologia dos principais efeitos causados ao corpo humano,do ponto de vista mdico, quanto tetanizao, fibrilaoventricular, parada cardiorrespiratria e a queimaduras.Abordam-se tambm as variveis fisiolgicas nas zonas docorpo humano, as conseqncias dos efeitos e, finalmente, asegurana do trabalho nos servios com eletricidade, envol-vendo os riscos acidentais, protees coletivas e individuais.Conclui-se que, em razo dos vrios e graves efeitos da correnteeltrica aplicada ao corpo humano, o atendimento s normasde instalao, proteo e segurana operacional imperativo eobrigatrio para garantir a integridade dos usurios.

    Palavras-chave:Choque eltrico. Efeitos.Segurana operacional.

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    1 Introduo

    impossvel imaginar o mundo hoje sem a

    energia eltrica, que se tornou um insumo essen-

    cial para a execuo de quase todas as atividadesmodernas. Diferente de alguns outros segmentos,

    esse requer cuidado especial, porque os perigos

    no atingem apenas os profissionais eletricitrios

    ou eletricistas, mas quaisquer pessoas que tenham

    contato com a eletricidade. Todos os usurios es-

    to sujeitos a acidentes que podem ser fatais.

    Nos trabalhos diretos com eletricidade e nos

    demais setores da vida moderna, os riscos de aci-

    dentes podem ocorrer porque os sentidos huma-nos no percebem a presena de eletricidade, na

    maioria dos casos, at o momento da aproxima-

    o ou exposio por contato.

    A pesquisa buscou, na fisiologia, efeitos do

    choque eltrico, e na fisiologia do corpo humano,

    a gravidade dos riscos inerentes exposio dos

    colaboradores desse setor, mesmo que respeitadas

    as Normas Regulamentadoras (NR) de Segurana

    e Sade do Trabalho, do Ministrio do Trabalhoe Emprego, normas da Associao Brasileira de

    Normas Tcnicas (ABNT 2004; ABNT, 1981) e

    outras relevantes.

    Prope-se, neste trabalho, justificar, por meio

    da demonstrao dos efeitos da corrente eltrica

    na fisiologia humana, a obrigatoriedade de os co-

    laboradores do setor utilizarem os equipamentos

    de proteo coletiva e individual no trabalho, de

    serem dotados de maior capacitao e de cumpri-

    rem a legislao vigente.

    2 Efeitos da corrente eltrica

    A corrente eltrica produz os seguintes efei-

    tos: Joule, eletromagntico, eletroqumico, lumi-

    noso e fisiolgico:

    Efeito Joule a circulao do fluxo de cor-

    rente eltrica em um condutor apresenta um

    fenmeno de produo de calor, resultado

    das violentas colises dos eltrons livres com

    os tomos dos condutores. Essa velocidadede deslocamento dos eltrons livres aumen-

    ta o impacto com os tomos e, adicionada

    velocidade prpria de translao em torno do

    ncleo, gera o efeito de agitao entre eles,

    produzindo efeito trmico denominado de

    Efeito Joule (RAMALHO JUNIOR, 1999).

    Efeito eletromagntico em torno dos con-

    dutores em que circula um fluxo de corrente,

    cria-se um campo magntico perpendicu-

    lar ao sentido de conduo. Esse fenmeno,

    proveniente da criao do campo magnti-

    co, pode ser demonstrado por vrios efeitos,

    como o deslocamento de ims em torno de

    condutores (CAMINHA, 1977).

    Efeito eletroqumico o fluxo eltrico pode

    produzir ao qumica ao circular em solues

    eletrolticas. Esse fenmeno verificado no

    recobrimento de metais por deposio de ma-

    terial, como galvanoplastia e cromao, e nacarga e descarga dos acumuladores eltricos,

    as baterias (RAMALHO JUNIOR, 1999).

    Efeito luminoso o fluxo eltrico circulando

    em meio gasoso, como em lmpadas de vapor

    de mercrio, sdio, neon, argnio ou outros ga-

    ses similares, produz luz (CAMINHA, 1977).

    Efeito fisiolgico resulta da passagem do

    fluxo eltrico por organismos vivos, podendo

    agir diretamente no sistema nervoso muscu-lar e cardaco (GUYTON; HALL, 2002).

    3 Efeitos fisiolgicosdo choque eltrico

    O choque eltrico o efeito patofisiol-

    gico resultante da passagem de uma corrente

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    eltrica atravs do corpo de uma pessoa ou

    de um animal que, dependendo do tempo e

    da intensidade da exposio, poder ser fatal

    (KILDERMANN, 1995).

    Os choques eltricos possuem trs elementosfundamentais:

    Parte viva: todo condutor ou parte con-

    dutora a ser energizada em condies de

    uso normal, incluindo o condutor neutro

    (COTRIM, 2003);

    Massa: parte condutora exposta que po-

    der ser tocada e que normalmente no

    viva, mas pode vir a s-lo em condies de

    falha de isolamento; um invlucro de um

    equipamento o exemplo tpico de massa

    (COTRIM, 2003);

    Elemento condutivo: no faz parte da ins-

    talao eltrica, mas nela pode introduzir

    um potencial, geralmente o da terra. o

    caso dos elementos metlicos usados na

    construo de edificaes metlicas de gs,

    gua, ar-condicionado, aquecimento etc.,

    bem como de pisos e paredes no-isolantes(COTRIM, 2003).

    Segundo Cotrim (2003), deve-se considerar

    dois tipos de contatos de exposio:

    Direto: existe contato direto com a parte viva

    de uma instalao eltrica;

    Indireto: no existe contato direto com a par-

    te viva; o contato das pessoas com a massasob tenso causado por falha de isolamento

    ou aterramento.

    Os principais efeitos fisiolgicos que uma

    corrente eltrica (externa) produz no corpo

    humano so tetanizao, fibrilao ventricu-

    lar, parada cardiorrespiratria e queimadura

    (CAMINHA, 1977).

    3.1 Efeito fisiolgico da tetanizaoAs contraes musculares com foras dife-

    rentes a soma de contraes individuais que,

    juntas, aumentam a intensidade da contrao to-

    tal podem ocorrer de duas formas. A primeira o aumento das unidades motoras que se contraem

    ao mesmo tempo, permitindo a distribuio ou a

    requisio de msculos a partir de sua necessida-

    de. A segunda o aumento da freqncia de con-

    trao, que ocorre individualmente e com baixa

    freqncia. Na prtica, pode levar a perodos de

    repetio estreitos, provocando a tetanizao dos

    msculos (GUYTON; HALL, 2002).

    A tetanizao o resultado da contrao

    muscular na sua capacidade mxima, de modo

    que qualquer aumento adicional na freqncia de

    estimulao no exera novos efeitos (GUYTON;

    HALL, 2002).

    No choque eltrico, a corrente fisiolgica in-

    terna do corpo humano soma-se corrente externa

    desconhecida e de intensidade comparativamente

    muito maior, levando hipocalcemia com concen-

    traes plasmticas de ons de clcio cerca de 50%

    abaixo do normal (GUYTON; HALL, 2002).A intensidade da corrente eltrica impos-

    ta ao corpo humano mantido em contato direto

    com materiais condutores poder produzir a te-

    tanizao das mos, que somente ser interrom-

    pida no caso de desligamento da fonte geradora

    (CAMINHA, 1977).

    3.2 Efeito fisiolgico da fibrilao

    ventricularA fibrilao ventricular o tipo de arritmiacardaca que, se no for interrompida no perodo

    de um a trs minutos, se torna irreversvel, levan-

    do morte. Ela decorrente de uma seqncia de

    impulsos cardacos desordenados, iniciando-se

    pelo msculo ventricular, que se repetem conti-

    nuamente no mesmo msculo (GARCIA, 2002).

    Dessa forma, no ocorrer contrao coordenada

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    do msculo ventricular a um s tempo, o que

    necessrio para o correto funcionamento do cora-

    o. Apesar de no encerrar o movimento estimu-

    lante, essa forma desordenada, por toda parte dos

    ventrculos, no gera volume de sangue suficientepara o bombeamento, levando inicialmente in-

    conscincia, de quatro a cinco segundos, falta

    de fluxo sangneo para o crebro e, finalmente,

    falncia irrecupervel dos tecidos e do corpo, em

    minutos (CARNEIRO, 1998).

    Os fatores que apresentam maior probabili-

    dade de causar a fibrilao ventricular so os cho-

    ques eltricos sbitos no corao, a isquemia do

    msculo cardaco ou ambos. Segundo Guyton e

    Hall (2002), quando aplicado um estmulo el-

    trico de sessenta hertz no corao, o primeiro

    ciclo desse estmulo causa uma onda de despo-

    larizao que se propaga em todas as direes,

    deixando todo o msculo abaixo desse estado.

    Depois de um quarto de segundo, parte desse ms-

    culo comea a sair do estado refratrio. A Figura

    1 ilustra o incio da fibrilao no corao, quando

    esto presentes os focos da musculatura refratria

    (COTRIM, 2003).A Figura 1 tambm mostra o eletrocardiogra-

    ma do corao em fibrilao ventricular. Pode-se

    observar que o fenmeno desordenado de contra-

    es demonstra a falta de padronizao, o que eli-

    mina qualquer possibilidade de reverso do qua-

    dro estabelecido. A amplitude da tenso no estado

    inicial de aproximadamente meio milivolt, e no

    intervalo de vinte a trinta segundos cair para 0,2

    a 0,3 milivolts; isso permanece at que a amplitu-de seja zerada.

    A fibrilao um efeito do choque provenien-

    te da descarga de corrente alternada. No entanto,

    essa corrente, de forma controlada em alta tenso,

    poder ser aplicada simultaneamente nos ventr-

    culos e torn-los refratrios novamente. Este o

    princpio do desfibrilador: um eletrochoque apli-

    cado nos dois lados do corao, com intensidade

    instantnea. Essa condio poder ser repetida al-

    gumas vezes, pois comum o retorno fibrilao

    (GUYTON; HALL, 2002).

    3.3 Efeito fisiolgico da parada

    cardiorrespiratriaOs surtos de corrente que passam pelo corpo

    humano com elevada intensidade em curtos pero-

    dos podem provocar parada cardaca ou, simples-

    mente, o corao pra de bombear. Cessam-se

    todos os sinais eltricos de controle no corao,

    desenvolvendo-se hipoxia intensa devido res-

    pirao inadequada (GUYTON; HALL, 2002;

    KILDERMANN, 1995).

    A hipoxia impedir as fibras muscularese as fibras de conduo cardacas de manterem

    os potenciais normais de concentrao dos ele-

    trlitos atravs da sua membrana. Assim, desa-

    parece o ritmo normal de funcionamento. As

    reabilitaes dos efeitos das paradas cardacas

    podem ser revertidas com sucesso por tcnicas

    de ressurreio aplicadas imediatamente, porm

    as conseqncias provocadas pela reduo de

    Figura 1: Princpio da desfibrilao e focos damusculatura refratria/eletrocardiograma noincio da fibrilao.

    Fonte: Os autores.

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    circulao sangnea no crebro sero impreci-

    sas (KILDERMANN, 1995).

    O maior desafio na parada circulatria

    impedir a ocorrncia de efeitos prejudiciais ao

    crebro. So necessrios de cinco a oito minu-tos para que, na reverso da parada circulat-

    ria, no haja danos cerebrais permanentes. A

    morte sempre foi atribuda hipoxia ou queda

    de oxigenao, porm a medicina comprovou

    a formao de cogulos de sangue no crebro,

    decorrente da reduo da circulao sangnea

    ou pelo fato de esse sangue no ter como ex-

    pandir-se. Assim, a falncia cerebral iniciada

    (KILDERMANN, 1995).

    3.4 Efeito fisiolgico das

    queimaduras

    A circulao da corrente eltrica no corpo

    humano acompanhada do Efeito Joule, fenme-

    no de produo de calor; portanto, h probabili-

    dade de queimaduras (CAMINHA, 1977).

    As queimaduras so classificadas quanto ao

    agente causador, profundidade ou grau, exten-

    so ou gravidade, localizao e perodo evolu-

    tivo. No que se refere ao agente causador, neste

    trabalho de pesquisa, limita-se a analisar o efei-

    to da eletricidade que passa pelo corpo humano

    (KILDERMANN, 1995).

    A evoluo dos efeitos da queimadura leva

    aos estgios do choque circulatrio e se modi-

    fica segundo os diferentes graus de gravidade,

    dividindo-se em:

    Estgio no progressivo, no qual os mecanis-

    mos compensatrios da circulao normal

    podero causar a recuperao completa, sem

    a terapia de ajuda;

    Estgio progressivo, no qual, sem terapia, o

    choque torna-se progressiva e continuamente

    pior, levando at a morte;

    Estgio irreversvel, no qual o choque progre-

    diu a tal grau que qualquer forma de terapia

    conhecida inadequada para salvar a pes-

    soa, mesmo que ainda esteja viva (BRASIL,

    2006).

    4 Variveis fisiolgicas naszonas do corpo humano

    Segundo Cotrim (2003) e Creder (2002), as

    principais variveis que influenciam no valor da

    impedncia do corpo humano so:

    Estado da pele: a maior resistncia est na

    pele, diminuindo com a sudorese ou feridas

    no corpo;

    Local do contato: depende do trajeto da cor-

    rente que passa pelo corpo humano de mo

    para mo, de mo para p, de dedo para dedo

    e outros;

    rea de contato: o aumento da rea desenvol-

    ve tambm a resistncia, porm, dependendo

    da intensidade, poder aumentar a rea da

    leso;

    Presso de contato: quanto maior a tenso de

    contato, maior a resistncia;

    Durao de contato: quanto maior o tempo

    de contato, menor a resistncia; no entan-

    to, com o Efeito Joule haver queimadura

    da pele, levando reao imediatamente in-

    versa, ou seja, a resistncia atinge os valores

    mais baixos;

    Natureza da corrente: ocorrem alteraes em

    razo da freqncia aplicada;

    Taxa de lcool: no caso de ingesto de quan-

    tidades altas de lcool, a resistncia eltrica

    do corpo diminui;

    Tenso eltrica do choque: a resistncia do

    corpo diminui com o aumento do choque,

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    ocorrendo maiores variaes nos nveis mais

    baixos.

    Deve-se considerar que essas reaes mudam

    de pessoa para pessoa, pois, alm das diferenasantropomtricas, existem as condies biolgicas.

    5 Segurana do trabalhona rea eltrica

    Os riscos laborais a que esto sujeitos os

    profissionais da rea de eletricidade so elevados,

    podendo ocasionar desde leses at a fatalidade.O critrio do Ministrio do Trabalho e Emprego

    (MTE) (BRASIL, 2004) define esses riscos em:

    Riscos de choque eltrico: principal causador

    de acidentes no setor. Geralmente, origina-

    do por contato do trabalhador com partes

    energizadas. Seus efeitos so as contraes

    musculares, tetania, queimaduras, parada

    cardiorrespiratria, degenerao parcial te-

    cidular, quedas e impactos. Sua gravidade

    depende da intensidade da corrente e do tem-

    po de exposio. Praticamente todas as ati-

    vidades executadas com eletricidade estaro

    sujeitas a esse tipo de risco, entre as quais

    manuteno, reparos, inspeo, medio e

    poda de rvores;

    Riscos de arco voltaico: causados pelo fluxo

    de corrente eltrica atravs do meio isolante,

    como o ar, produzido na desconexo e co-

    nexo de chaves ou dispositivos eltricos, ou

    ainda, em caso de curto-circuito. O arco vol-

    taico produz calor e luminosidade capazes de

    causar queimaduras aos trabalhadores, des-

    de que no sejam respeitadas a distncia e as

    sinalizaes recomendadas ou normalizadas

    para a execuo desses servios;

    Riscos de campo eletromagntico: gerados

    pela passagem da corrente eltrica nos con-

    dutores, sendo mais presentes nos servios de

    transmisso e distribuio de energia eltri-

    ca em alta tenso, que empregam potenciaiselevados. No h comprovao mdico-cien-

    tfica dos danos desse tipo de radiao aos

    trabalhadores (ABNT, 2004);

    Riscos de queda: muito freqentes no setor

    eltrico, ocorrem em conseqncia de cho-

    ques eltricos aplicados aos trabalhadores,

    que se desequilibram e caem. As causas so

    atribudas negligncia ou impercia dos

    colaboradores no uso dos equipamentos de

    proteo individual (EPI) e falta de treina-

    mentos adequados (ABNT, 1981; BRASIL,

    2001);

    Riscos de transporte: envolvem o transporte

    de trabalhadores e a utilizao de veculos ou

    plataformas elevadoras. A improvisao de

    veculos ou a falta de manuteno nos siste-

    mas elevatrios de plataformas pem em ris-

    co os colaboradores;

    Riscos de ataques de insetos: causados porataques de abelhas, marimbondos e vespas,

    que ocorrem na execuo de servios em tor-

    res, postes, subestaes, leitura de medido-

    res, servios de poda de rvores e outros;

    Riscos de ataques de animais: provocados

    por ataques de animais peonhentos da re-

    gio, como cobras e aranhas;

    Riscos em ambientes confinados: trabalhar

    em espaos confinados, como caixas subter-rneas e estaes de transformao de distri-

    buio, fechadas, expe os colaboradores ao

    risco de falta de oxigenao ou exposio

    a agentes contaminadores, tais como gases

    orgnicos asfixiantes (GUYTON; HALL,

    2002);

    Riscos ergonmicos: causados por diversos

    fatores, como posturas no adequadas inte-

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    Artigos

    141Exacta, So Paulo, v. 5, n. 1, p. 135-143, jan./jun. 2007.

    rao entre o meio ambiente laboral e o tra-

    balhador, nas diversas atividades;

    Riscos fsicos: o calor excessivo causado por

    atividades em espaos fechados e confinados

    ou em subestaes, em razo da proximidadedos transformadores, geradores e capacitores

    (GONALVES, 2003);

    Riscos fsicos: a radiao no-ionizante

    causada pela exposio ao sol, podendo ocor-

    rer queimaduras, leses nos olhos, cncer de

    pele e outras doenas provocadas pelos raios

    infravermelho e ultravioleta (GONALVES,

    2003).

    6 Resultados e discusso

    Os estudos relativos aos efeitos da energia

    eltrica no corpo humano e, por extenso, do cho-

    que eltrico padecem de maior rigor e uniformida-

    de em razo da dificuldade em executar experin-

    cias comprobatrias dos limites e variantes, pois o

    perigo dos ensaios imprevisvel, e as variveis de

    controle, extensas.Dessa forma, os esforos devem ser dire-

    cionados anlise das diversas ocorrncias com

    grande profundidade, para que as fatalidades for-

    neam informaes sobre a relao nexo-causal

    dos acidentes.

    A aplicao de tcnicas de preveno deve ser

    pautada pelo maior risco da eletricidade: se invis-

    vel, no h distino entre um condutor energiza-

    do e um desenergizado, a olho nu. Somente como uso de equipamentos apropriados ser possvel

    determinar a condio dos sistemas condutores

    de eletricidade. Portanto, a condio favorvel ao

    contato humano com os circuitos eltricos deve

    ser feita por profissional capacitado, e as normas e

    polticas de segurana, cumpridas.

    A NR-10, que dispe sobre Segurana em

    Instalaes e Servios em Eletricidade (BRASIL,

    2004), preconiza rigorosas e precisas orientaes

    sobre proteo dos trabalhadores. O cumprimen-

    to dessa norma culminar na preveno de poten-

    ciais acidentes na prtica laboral.

    A partir de dados coletados pela FundaoCoge, com base no levantamento de informa-

    es do Instituto Nacional de Seguridade Social

    (INSS), apresentado na Tabela 1 o indicador

    porcentual do panorama nacional de bitos no

    trabalho pelo total de trabalhadores registrados.

    Na Tabela 2, esse mesmo indicador porcentual

    mostrado, de forma restrita, aos trabalhadores

    do setor eltrico.

    Finalmente, a Tabela 3 apresenta o resultado

    da comparao de bitos do setor eltrico com o

    panorama nacional de bitos. Verifica-se que, en-

    tre 2000 e 2003, houve um aumento contnuo de

    at sete vezes a mdia nacional.

    Tabela 1: Panorama nacional de bitosno trabalho

    AnoMassa

    trabalhadoraregistrada

    bitos Acidentesno Trabalho

    % bitosx MassaTrabalho

    2000 20 milhes 3,091 0,015

    2001 20 milhes 2,753 0,014

    2002 19 milhes 2,823 0,015

    2003 19 milhes 2,582 0,013

    2004 20 milhes 2,801 0,014

    Fonte: Com base nos levantamentos de informaes INSS pela

    Fundao Coge (ORSOLON, 2006).

    Tabela 2: Panorama nacional de bitos notrabalho trabalhadores do setor eltrico

    AnoMassa

    trabalhadoraregistrada

    bitos Acidentesno Trabalho

    % bitosx MassaTrabalho

    2000 101 mil 64 0,063

    2001 97 mil 77 0,079

    2002 96 mil 78 0,081

    2003 97 mil 80 0,082

    2004 96 mil 61 0,063

    Fonte: Com base nos levantamentos de informaes do INSS pelaFundao Coge (ORSOLON, 2006).

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    Embora a NR-10 tenha sido publicada oficial-

    mente em dezembro de 2004, a queda dos indica-

    dores de bitos deste ano caiu para quatro vezes

    e meia em relao mdia nacional. Os agentes

    do setor atribuem essa queda influncia da im-

    plantao da norma NR-10, que criou grupos de

    estudos capazes de desenvolver e, imediatamente,

    implementar os novos procedimentos.

    Em razo da exigncia da sua aplicabilidade

    imediata, ficou garantido o menor tempo de di-

    vulgao dessa norma junto s empresas do setor

    eltrico, alm de terem sido estabelecidos prazos

    limites para que se adequassem s novas regras.

    A presena de pessoas habilitadas a prestarsocorro imediato tambm extremamente desej-

    vel, posto que o tempo de atendimento primor-

    dial para a manuteno da vida humana em caso

    de choque eltrico.

    7 Consideraes finais

    Por meio da investigao, foi possvel depreen-der que, ao circular pelo organismo humano, a

    corrente eltrica provoca diversos efeitos e conse-

    qncias desde um susto at o bito. Como o

    controle no instante de contato do ser humano

    difcil e arriscado, torna-se imperativo que as nor-

    mas e procedimentos, luz da legislao vigente,

    sejam atendidos e cumpridos com afinco. A NR-

    10 e outras que se faam necessrias devero ser

    atendidas para garantir a integridade fsica dos

    trabalhadores do setor eltrico.

    Ainda se pressupe que mesmo os profissio-

    nais capacitados para efetuar servios com energia

    eltrica estaro sujeitos a acidentes no exerccio desuas atividades, com o cumprimento ou no das

    normas de segurana.

    Referncias

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMASTCNICAS. NBR 5410. Instalaes eltricas de baixatenso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMASTCNICAS. NBR 6533. Estabelecimento de seguranaaos efeitos da corrente eltrica percorrendo o corpo

    humano. Rio de Janeiro: ABNT, 1981.

    Tabela 3: Comparao de bitos no setoreltrico x panorama nacional

    Comparaode bitos

    no setor eltrico x panoramanacional

    2000 4,2 vezes maior

    2001 5,7 vezes maior

    2002 5,9 vezes maior

    2003 7 vezes maior

    2004 4,5 vezes maior

    Fonte: Com base nos levantamentos de informaes do INSS pelaFundao Coge (ORSOLON, 2006).

    A study about the electricityeffects in the human

    body regarding healthand security at work

    The proposal in this work is to present the mainphysiological effect of the electric chain passingin the human body: electric shock. It is initiatedwith the presentation of basic concepts of theelectric energy, necessary as theoretical basis inthe development of the subject. In the sequencewe present an exposition of the physiology ofthe main effect caused to the human body underthe medical optics regarding tetanus, ventricularfibrillation, cardiorespiratory stops and burns.We approach the physiological of the variablesin the human body and the consequences of the

    effect. Finally, the focus is on the security mea-sures in services dealt with electricity, involvingthe accidental risks, collective protections andindividual protections. One concludes that dueto the several and serious effect of the appliedelectric chain to the human body, the atten-dance of the installation norms, protection andoperational security is imperative to guaranteethe integrity of the users.

    Key words:Accidental risks. Electrical shock.Installation of norms and safety.

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    Artigos

    143Exacta, So Paulo, v. 5, n. 1, p. 135-143, jan./jun. 2007.

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    BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. NormaRegulamentadora n. 10.Braslia, DF: Portaria Dsst-SIT-MTE, 2004.

    BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. Manual dosetor eltrico e telefonia.Disponvel em: . Acesso em: 21 jul. 2006.

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    CARNEIRO, E. F. O eletrocardiograma.2. ed. Rio deJaneiro: Edio do autor, 1998.

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    ORSOLON, M. Implementao da NR-10. RevistaPotncia, So Paulo, ano III, n. 19, p. 24-40, set. 2006.

    Recebido em 21 jun. 2007 / aprovado em 28 ago. 2007

    Para referenciar este texto

    LOURENO, S. R.; SILVA, T. A. F.; SILVA FILHO,S. C. da. Um estudo sobre os efeitos da eletricidadeno corpo humano sob a gide da sade e seguranado trabalho. Exacta, So Paulo, v. 5, n. 1, p. 135-143,jan./jun. 2007.

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