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Processo no 17696.2012.610.0025
Ação de Investigação Judicial Eleitoral
Investigante : Lourinaldo Batista da Silva
Investigado : Rafael Mesquita Brasil, Raimundo Nonato Mendes Cardoso e Francisco Evandro
Freitas Costa Mourão
S E N T E N Ç A
Relatório
Trata-se de Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE proposta por
Lourinaldo Batista da Silva em face de Rafael Mesquita Brasil, Raimundo Nonato
Mendes Cardoso e Francisco Evandro Freitas Costa Mourão, todos qualificados na
exordial.
Em síntese o investigante aduz:
a) durante a campanha eleitoral, os requeridos praticaram condutas desconformes com a
legislação eleitoral consistente em captação ilícita de sufrágio;
b) que o anterior Prefeito usou e abusou do poder de sua autoridade ao destinar
indevidamente bens públicos para a campanha de seu genro, hoje prefeito da cidade;
c) afirma que os investigados entregaram diversos materiais e/ou outras vantagens aos
eleitores da cidade (materiais de construção – cimento; exames médicos; uso indevido
de ônibus escolar)
d) Alegou ainda, às fls.18 a divulgação de pesquisa sem o devido registro, no sentido de
induzir o eleitor da segura vitória dos Investigados.
Assim, alegando estarem caracterizados atos de abuso de poder
econômico, político ou de autoridade, pede que seja julgada procedente a presente
representação para que sejam impostas as penalidades legais por suas condutas.
Pede, ainda, a sua diplomação e a do vice que com ele concorreu.
Junta documentos de fls.20 a 88.
2
Devidamente notificados os representados apresentaram defesa nos
seguintes termos (f. ):
Inicialmente alegam inépcia da petição inicial, pois esta não descreve, de
forma específica, nenhum fato específico. Pede a extinção do processo sem o
conhecimento do mérito, com base no art. 295, I, do CPC.
Dizem que o autor não apresentou o rol de testemunhas na petição
inicial, e que não seja oportunizada a juntada posterior do rol de testemunhas.
No mérito, alegam que os “depoimentos” juntos à inicial devem ser
vistos com reservas pois “...os subscritores podem muito bem terem sido ludibriados ou induzidos a
assina-las... e passa a desconstituir os “depoimentos” apresentados.
Às fls. 132, apresenta incidente de falsidade documental dos documentos
de fls. 62 e 63.
Afirmam que a pesquisa eleitoral foi devidamente registrada no TSE e
que já foi apresentada representação 16045.2012.610.0025, pela Coligação na qual
concorreu o representante, tendo a referida demanda sido julgada improcedente, com
trânsito em julgado.
Pedem, às fls. 136, que sejam desentranhadas as fotos do investigado
Rafael Mesquita, por não guardarem relação com a demanda e alega que as demais
fotografias nada provam.
Informa que os ônibus de placa LAU-0074, muito embora não houvesse
nenhuma ilegalidade, pois o referido ônibus havia trabalhado no passado para a
prefeitura de Caxias, ficou parado, a pedido do Promotor de Justiça, até que a carreata
fosse realizada, pois constava ainda, na sua lataria, a expressão “ESCOLAR”, isso no
intuito de evitar “...erro de interpretação dessa circunstância..” (fls.140)
Quando aos veículos de placas NJJ8142 e AEK8605, alegam que o
Autor age de má-fé, pois os veículos não foram utilizados, estavam apenas abastecendo.
Após colacionar diversos julgados, pede que seja acolhida a preliminar
de inépcia da inicial, que não seja aceita a apresentação de rol de testemunhas pelo
Autor, que sejam ouvidas as testemunhas arroladas pelos Investigados e a
improcedência da ação.
Junta documentos de fls.171 a 185.
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Realizada audiência no dia 19 de dezembro de 2012, frente à alegação
dos Investigados de que as peças da inicial apresentadas pelo Autor para acompanhar as
intimações eram diferentes da peça principal que foi autuada, o que, no dizer dos
Investigados, configuraria grave fraude processual, a MMa. Juíza entendeu de suspender
a audiência e abrir prazo para manifestação da parte Autora, seguindo-se de vista ao
Ministério Público.
Às fls.221, o Autor alega que “... se equívoco ouve, por certo não tem o
condão de tumultuar o processo, não devendo ser configurada má-fé processual, ou algo
afim pois, pelo que consta nos autos, não há qualquer prejuízo para a defesa dos
Representados, devendo ser desconsiderada tal assertiva, a qual não passa de filigrana.
Pede o regular prosseguimento do feito.
O Ministério Público, às fls. 223, entende que o incidente nada mais foi
que um mero erro, que não houve prejuízo para a defesa e que, caso este juízo entenda
precluso o direito de autor de produzir a prova testemunhal, pede , como fiscal da lei,
que se sejam ouvidas as testemunhas de fls. 10, 13, 14, 16, 17 e 19.
Marcada nova audiência para o dia 27 de junho de 2013, este foi adiada,
conforme decisão de fls.242, e remarcada para o dia 07 de agosto de 2013.
Em pedido de fls.248, o Investigado Rafael Mesquita pede que a
audiência seja adiada por motivos de saúde.
Às fls. 250, o investigado Francisco Evandro também pede o adiamento
da audiência alegando que não foi intimado.
Conforme decisão de fls. 251, o pedido de adiamento por suposta
ausência de intimação foi indeferido, nas o pedido de adiamento por motivo de doença
do investigado Rafael Mesquita Brasil foi acolhido e, mais uma vez, a audiência foi
remarcada para o dia 06 de setembro de 2013.
Em audiência os Investigados apresentaram agravo retido, contra a
decisão, também proferida em audiência, que indeferiu o pedido de reconhecimento de
inépcia da inicial e acatou o rol de testemunhas apresentado pelo Ministério Público.
Às fls. 316, os Investigados apresentam requerimento onde pedem: “...
que seja apreciada a contradita em relação a Gilberto Carlos de Sousa (fls. 277 e 283) e
que sejam juntados neste feito, a resposta a esse Juízo Eleitoral, do Banco do Brasil,
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agência de Buriti-MA, em relação à movimentação nas contas da Prefeitura de Buriti nos
dias 05/10/2012, sexta-feira, véspera das eleições de 2012”.
Considerando que, em contestação, os Investigados apresentaram
pedido de incidente de falsidade relativo aos documentos de fls. 62/63, cujos originais
constam às fls.275/276, foi determinada perícia relativa a estes documentos, cujo laudo
consta às fls.364 a 373.
Às fls. 376, consta substabelecimento, com reserva de iguais poderes, ao
Dr. Eduardo Aires Castro, OAB/MA- 5378.
Alegações finais do Investigante às fls.379, dos Investigados, às fls.392 e
parecer do Ministério Público Eleitoral às fls.478.
Novo substabelecimento, com reserva de poderes, às fls. 490, para o Dr.
Ormanne Fortes Menezes Caldas, OAB/MA 11287.
É o relatório.
Fundamentação
Passo a analisar as questões preliminares e prejudiciais alegadas.
A preliminar de inépcia da inicial alegada pelos Investigados já foi
resolvida às f. 258. Logo, não há o que se decidir.
Os investigados alegaram preclusão quanto à ausência da juntada do rol
de testemunha em tempo oportuno. Quanto a essa impugnação diga-se que da mesma
forma já houve pronunciamento às f. 258, e aqui não exerço a possibilidade de
retratação, diante do recurso de agravo retido impetrado, no que faço mantendo a
decisão pelos seus próprios fundamentos.
Entendo ainda por resolvida a questão levantada pelos investigados
quanto a divergência encontrada na inicial e as cópias da própria contidas nos autos. Ás
f. 258 já houve pronunciamento sobre esse tema, o que de toda forma, resta superada
pelo rol apresentado pelo Ministério Público. Mesmo por que é sabido que toda
alegação de nulidade deve necessariamente estar presente à comprovação do prejuízo -
O princípio pas de nullité sans grief (não há nulidade sem prejuízo).
Na contestação os investigados interpuseram incidente de falsidade
documental dos bilhetes juntados às f. 62/63 e realização de uma perícia técnica nos
mesmos.
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Realizadas as juntadas dos originais e remetidos à Polícia Federal, foi
produzido o laudo pericial de f. 364/373. Nesse foi constatado que a assinatura e a
rubrica são autenticas, ou seja, o bilhete de (f. 275) foi assinado por Francisco Evandro
Freitas da Costa Mourão e o outro (f. 276) foi rubricado por Ivonilce Faria Mourão. No
entanto, o laudo acrescenta que os textos neles inseridos não foram subscritos por quem
os assinou e rubricou, respectivamente.
Preambularmente, faz-se necessário tecer alguns comentários acerca do
incidente de falsidade documental, em especial, quanto ao cabimento deste incidente
processual, sendo oportuno colacionar para tanto os sempre pertinentes ensinamentos
de Nelson Nery Junior1 que seguem:
Falsidade ideológica e material. Colocação do problema. A falsidade ideológica, assim entendida aquela que respeita aos vícios do consentimento ou sociais do ato jurídico, não autoriza a instauração do incidente, mas a anulação do ato jurídico na forma do CC 171 II (CC/1916 147 II). A doutrina não é pacífica a respeito do tema. Nosso entendimento é no sentido de que o incidente de falsidade documental, para ser admitido, tem que ser relativo a vício do documento, não a vício do consentimento ou social.
Ainda, no que tange a falsidade documental, cabe aqui trazer à baila,
ainda, as lições de Humberto Theodoro Júnior2:
“O documento escrito compõe-se do contexto, que enuncia a declaração
de vontade ou de conhecimento do fato, e da assinatura que lhe dá autenticidade.
O documento é idôneo quando a declaração é verdadeira e a assinatura é
autêntica. Em regra, estabelecida a autenticidade do documento, presume-se verdadeira
a declaração nele contida.
Note-se que o incidente de falsidade documental é cabível apenas
quando a parte objetiva comprovar vício material no documento, não sendo admissível
a sua utilização para atacar vício de consentimento.”
No caso em exame o incidente em questão objetiva o reconhecimento
da falsidade da declaração de fls. 275/276, em função de Francisco Evandro Freitas
Costa Mourão e Ivonilce Farias Mourão alegarem não reconhecer suas assinatura e
1 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante. 10ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 634. 2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 47º ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 513.
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rubrica em tais documentos ou mesmo as declarações nele prestadas. Tendo as partes se
manifestados sobre o laudo nas alegações derradeiras.
Entendo não prosperar a impugnação a falsidade dos documentos
(bilhetes) de f. 275/276, já que o laudo pericial não indicou indícios de falsidade material
nos documentos periciados. Pelo contrário, a assinatura do bilhete de f. 275 foi
realmente subscrita por Francisco Evandro Freitas Costa Mourão, assim como a rubrica
do bilhete de f. 276 é do punho da senhora Ivonilce Farias Mourão. Os documentos são
autênticos do ponto de vista da formatação e conteúdo, o que de fato não se sabe é se as
afirmações ali descritas realmente se concretizaram e o seu fim. Logo, não ficou
demonstrado que houve confecção de um documento novo ou adulteração de um
documento já existente.
Assim, dessa forma, entendo pela improcedência do incidente de
falsidade dos documentos de f. 275/276.
Adiante, analisarei os ditos bilhetes dentro do contexto do ilícito
eleitoral.
Passo ao Mérito
Resolvidas as preliminares e prejudiciais, e sendo elas rejeitadas, passo a
análise do mérito. Alega o requerente à prática de captação de sufrágio vedada por lei,
além de abuso de o poder político e econômico pelos requeridos, através de compra de
votos oferecendo dinheiro e bens aos eleitores e ainda utilizando de bens públicos na
campanha.
A ação teve trâmite normal, com a produção de provas e o respeito aos
princípios do contraditório e da ampla defesa.
No entanto, encerrada a instrução processual, a prova dos autos não
demonstra de maneira firme e clara que houve realmente as ilicitudes trazidas no bojo
da inicial.
Como demonstrarei adiante, muitos foram às falhas desde a impetração
da inicial e na produção de provas, que impossibilitaram a comprovação das afirmações
do autor.
Sabe-se que consoante a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, a
captação ilícita de sufrágio pode ser comprovada mediante prova exclusivamente
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testemunhal, desde que demonstrada, de forma inconteste, a ocorrência de uma das
condutas previstas no art. 41-A da Lei nº 9.504/97.
No entanto a condenação pela prática de captação ilícita de sufrágio ou
de abuso do poder econômico e político requer provas robustas e convincentes, não
podendo se fundar em meras presunções ou provas soltas e isoladas. A prova
convincente do fato é fator decisivo para aplicação da sanção, devendo ser
incontroversa e segura.
Conforme se infere das provas careadas aos autos o conjunto probatório
é frágil, a começar pela economia na narrativa dos fatos e ausência de demonstração do
nexo causal. Os depoimentos colhidos em Juízo encontram-se eivados de contradições,
como adiante passo a expor, e as outras declarações prestadas não passaram pelo crivo
da idoneidade, vez que não acompanhados de provas outras que venham a demonstrar
o FATO ILÍCITO ELEITORAL E O NEXO CAUSAL.
[ ... ] 1. A procedência da representação por captação ilícita de sufrágio exige prova robusta. Ainda que se admita, na espécie, prova exclusivamente testemunhal, deve-se considerar o conjunto e a consistência dos depoimentos. 2. No caso vertente, o acervo probatório mostra-se frágil e insuficiente para ensejar as severas penalidades previstas no art. 41-A da Lei n° 9.504197. [ ... ] (REspe 346-1011VIG, redator designado Mm. Dias Toifoli, DJe de 14.5.2014) (sem destaque no original). “(...) Sufrágio. Captação ilícita. Art. 41-A da Lei no 9.504/97. Prova. Incumbe ao autor da representação a prova do cometimento eleitoral ilícito, não cabendo concluir pela procedência quando os depoimentos são contraditórios. Captação ilícita. Prova. Depoimento único. Depoimento isolado quanto à promessa de benefício em troca de voto, sem guardar sintonia com outro elemento ao menos indiciário, não respalda conclusão sobre a prática glosada pelo art. 41-A da Lei no 9.504/97.” (Ac. de 2.5.2006 no Ag. no 6.385, rel. Min. Marco Aurélio.)
Das Alegações da Defesa Do financiamento de um exame de ressonância magnética em troca de voto
O fato que teria havido captação ilícita do sufrágio em virtude da
afirmação de o exame de ressonância magnética do crânio realizado na pessoa de
Alexandra Carvalho Sousa, a qual é filha de Silvaneide Carvalho Sousa ter sido pago pela
esposa do prefeito a época para que a eleitora Silvaneide votasse no candidato Rafael
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Mesquita Brasil é ao mesmo tempo objeto de outro processo, nº 17.514.2012.610.0025,
e ali está sendo analisado e julgado. Logo, deixo de me reportar à referida demanda.
Da mesma forma os fatos relacionados pela testemunha Gilberto Carlos
Sousa no depoimento, em que já foram analisados e julgados nas ações (AIME n 2013 e
AIJE 338-2013).
Registre-se ainda que a inicial traz, e diga-se desde logo, mais uma vez
afirmação, e não fato jurídico delimitado no tempo e espaço, sobre o ilícito de
divulgação de pesquisa sem o devido registro. Note-se que o autor sequer se deu ao
trabalho de dizer o número da pesquisa, imagine-se descrever detalhes como: Quem
contratou? Qual a empresa contratada? Foi realizada obedecendo aos critérios legais?
Houve divulgação? Quando? Houve registro?
Pontue-se ainda que foram acostado aos autos duas cópias de um
formulário realizado pela empresa INOP – Instituto Nacional de Opinião Pública, onde
não há comprovação alguma da sua irregularidade, e a mesma alegação já foi analisada e
julgada na representação de número 16045-2012.610.0025.
Assim, não merece acolhimento a presente pretensão.
Dos bilhetes de f. 275 e 276.
Nas referidas folhas foram anexados dois documentos - bilhetes. O
primeiro com o seguinte dizer:
“Senhor Nena. Favor entregar ao nosso amigo Rafael Mesquita 60 bolos de arames farpados e 5 mil telhas canal p/ o povoado cabeceiras.
No outro bilhete encontra-se escrito:
“ Sr. Solange Favor entregar ao portador 360,00 (trezentos e sessenta reais) em mercadorias, grata.”
Tendo a perícia de f. 364/373 concluído que a assinatura colocada no
primeiro bilhete foi posta por Francisco Evandro Freitas da Costa Moura e que a
rubrica do segundo é da sra. Ivonilce Farias Mourão. No entanto, o laudo pericial
concluiu que os textos presentes nos bilhetes não foram produzidos pelas pessoas que
os assinaram ou rubricaram.
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Analisando os ditos bilhetes e o laudo pericial tem-se que eles não
comprovam a captação ilícita de sufrágio, primeiro que o conteúdo do texto não foi
produzido pelas mesmas pessoas que os assinaram. Segundo, que eles estão soltos nos
autos. O autor não demonstra a sua ligação a algum fato determinado – delimitando-o
no tempo e espaço. Terceiro, não se sabe se houve a entrega dos bens (mercadorias,
arames e telhas), e por último não consta o nome de qualquer eleitor beneficiado em
troca ou promessa de voto.
Das fotografias, vídeos e documentos juntados
Ás f. 64 a 75 juntaram-se fotografias onde mostram manilhas em cima de
um caminhão, depositadas ao lado de muros e em frente de algumas casas. Elas ainda
mostram pessoas e telhas.
Tais fotografias se prestam a mostram o que são – imagens. No jeito que
foram “jogadas” nos autos não tem o condão de demonstrar ilícito eleitoral algum.
Não há uma vírgula nos autos ligando às fotografias a captação ilícita de
sufrágio realizada pelos investigados - no sentido de comprovar o nexo causal.
De quem são os bens (manilhas e telhas) mostrados nas imagens? Qual o
endereço onde foram tiradas? Quando foram clicadas? Quem doou? Quem recebeu?
Foram adquiridas como doação ou promessa de votar no candidato X – seja, teve cunho
eleitoral?
Logo, o autor não se incumbiu de responder de forma precisa a tais
perguntas no sentido de atribuir aos investigados as questões acima.
Da utilização irregular de bens públicos (ônibus)
A inicial afirma em dois momentos, supostos ilícitos eleitorais praticados
pelos investigados na utilização de ônibus escolares do município de Buriti/MA.
Como se ver a exordial se resume a dizer que ouve utilização de ônibus
escolares pelos investigados (f. 08) e (f. 15) “ao fazer uso de ônibus escolar para levar
eleitores a percorrer carreatas e entregar cimentos”. Sem narrar o fato determinado.
E para isso, juntou vídeos e fotos de os ônibus placas LAU – 0074, NJJ
– 8142 e AEK - 8605 participando de carreatas da coligação dos investigados.
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Verificando as fotográficas e vídeos (dvd f. 83), não se conclui a
afirmação do investigante (e não fato, já que o autor se limitou a afirmar sem descrever a
conduta) de que os referidos bens foram utilizados pelos investigados de forma ilícita.
Analisando os vídeos, infere-se o seguinte: quanto ao primeiro, o ônibus
de placa LAU – 0074 não há provas nos autos que ele pertença ao ente municipal, além
do fato de que não se encontra propaganda eleitoral alguma e no momento que foi
realizada a gravação, ele está na direção contrária ao da carreata e próximo a um posto
de combustível.
Quanto aos veículos de placas NJJ – 8142 e AEK - 8605 percebe-se que
eles estão vazios, sem propaganda alguma eleitoral e ainda com uma tarja que
demonstram estarem a disposição da Justiça Eleitoral, quando foram filmados eles
estavam na direção de um posto de combustível (diga-se que a gravação foi realizada na
véspera das eleições, e que essa justiça Especializada naquela época naquele dia já tinha
cadastrados e liberados os carros que iriam fazer o transporte de eleitores com a
gerência do próprio eleitoral.
Da prova testemunhal
“Ninguém pode obter mandato eletivo mediante troca ou promessa de favorecimento. O eleitor que exige contrapartida para escolher seu representante é indigente politicamente falando, ainda quando abastado do ponto de vista financeiro. Mandato obtido mediante troca de bens ou oferta de emprego equivale à usurpação da representação popular. Constatado o fato, de forma incontroversa, não mediante simples indícios inconsistentes, deve ser o infrator excluído da disputa pelo poder.” (Pinto, Djalma. Direito Eleitoral – Improbidade Administrativa e Responsabilidade Fiscal, 2ª Edição. Editora Atlas. São Paulo, 2005.)”
1400-67.2010.601.0000 RO - Recurso Ordinário nº 140067 - rio branco/AC Acórdão de 13/03/2014 Relator(a) Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 61, Data 31/3/2014, Ementa: RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÕES 2010. REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. DEPUTADO ESTADUAL. TRANSPORTE GRATUITO DE ELEITORES. FRAGILIDADE DAS PROVAS. ANUÊNCIA NÃO COMPROVADA. DOAÇÃO. FINALIDADE ELEITORAL. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO. DESPROVIMENTO.
924-40.2012.620.0029 AgR-REspe - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 92440 - ipanguaçu/RN Acórdão de 02/10/2014
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Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 198, Data 21/10/2014, Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. VEREADOR. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO. DESPROVIMENTO. 1. Consoante a atual jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, a licitude da prova colhida mediante interceptação ou gravação ambiental pressupõe a existência de prévia autorização judicial e sua utilização como prova em processo penal. 2. A prova testemunhal também é inviável para a condenação no caso dos autos, tendo em vista que as testemunhas foram cooptadas pelos adversários políticos dos agravados para prestarem depoimentos desfavoráveis. 3. As fotografias de fachadas das residências colacionadas aos autos constituem documentos que, isoladamente, são somente indiciários e não possuem a robustez necessária para comprovar os ilícitos. 4. A condenação pela prática de captação ilícita de sufrágio ou de abuso do poder econômico requer provas robustas e incontestes, não podendo se fundar em meras presunções. Precedentes. 5. Agravo regimental desprovido. 661-73.2012.627.0009 AgR-REspe - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 66173 - palmeiras do tocantins/TO Acórdão de 01/07/2014 Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 04/08/2014 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. AUSÊNCIA DE PROVAS ROBUSTAS. DESPROVIMENTO. 1. Consoante a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, a captação ilícita de sufrágio pode ser comprovada mediante prova exclusivamente testemunhal, desde que demonstrada, de forma inconteste, a ocorrência de uma das condutas previstas no art. 41-A da Lei 9.504/97. 2. No caso dos autos, porém, os depoimentos colhidos em juízo revelam-se frágeis, tendo a Corte Regional assentado não somente a existência de contradições, como também que nenhuma das testemunhas presenciou o agravado Evandro Pereira de Sousa oferecendo dinheiro a Jacivan Alves Damaceno em troca de seu voto. 3. Agravo regimental desprovido.
Das contradições encontradas nas declarações da testemunha Marilda Lopes de
Andrade.
12
Registre-se que a testemunha Marilda Lopes de Andrade prestou
depoimento em Juízo e ainda há um depoimento seu escrito (f. 40), com firma
reconhecida.
Em Juízo a dona Marilda disse que recebeu do requerido Rafael
Mesquita Brasil a quantia de R$ 500,00 (quinhentos reais), uns pares de chuteiras e uma
“equipagem” para votar nele. Já no depoimento escrito descreve fato diverso e não se
reporta a recebimento algum por parte de Rafael. Nesse diz que recebeu a quantia de R$
100,00 (cem reais) no dia da eleição das mãos do senhor Rosim para votar no 10.
Acrescentou ainda que Rosim portava mais de 20 títulos. Já em Juízo disse que ninguém
tinha pego o seu o título, e que desconhecia a pessoa de nome Batista Fernandes, como
havia dito antes.
Além das contradições acima, o que deixa dúvidas quando o que
realmente teria ocorrido. Não há prova alguma dos fatos narrados pela testemunha em
Juízo há concluir pela ocorrência das afirmações do investigante.
Das contradições encontradas nas declarações da testemunha Francilene dos
Anjos Lopes.
Assim, como as outras testemunhas que forma ouvidas em Juízo, a
testemunha Francilene fez um depoimento por escrito (f. 17), e neste também se
contradisse quando narra que na manhã do dia da eleição chegou o Rosim e deu a
depoente o montante de R$ 100 (cem) reais para votar no 10, já em Juízo declara que
recebeu o valor de R$ 100,00 (cem reais) do “compadre Batista”.
Mais adiante, admite que foi a senhora Vera que redigiu o seu
depoimento de f. 17. Sabe-se que a senhora Vera a época trabalhava diretamente par o
candidato a prefeito Lourinaldo Batista da Silva.
Das contradições encontradas nas declarações da testemunha Tomas Conceição
dos Santos.
O Sr. Tomas Conceição dos Santos declara o recebimento de 2.000
telhas provenientes do então prefeito “Nenem Mourão” (então apoiador do prefeito
eleito). No entanto, quando inquirido sobre como foi redigido e sobre a assinatura
aposta no documento de f. 32 – depoimento escrito narrando irregularidades, o Sr.
13
Tomas não mantém a mesma segurança nas suas colocações, e inclusive, inicialmente,
não reconhece a assinatura ali posta (f. 32 -áudio 16min.). Adiante, inquirido como foi
redigido o depoimento, diz que ele foi feito junto com uma pessoa chamada Vera.
Das declarações da testemunha Francisca Cássia Oliveira de Jesus.
A testemunha Francisca Cássia Oliveira de Jesus declara que recebeu das
mãos do então prefeito Sr. “Nenem Mourão” o valor de R$ 100,00 (cem) reais para
votar no candidato Rafael. Disse ainda que não sabe dizer se alguém testemunhou o
recebimento da quantia. Acrescentou ainda que a senhora Vera lhe informou a data da
audiência. E ao final do seu depoimento em Juízo declarou que dona Vera tinha
interesse em beneficiar o candidato Naldo (áudio 14:35).
As afirmações entabuladas na inicial são de extrema gravidade,
entretanto, não teve a investigante o condão de descrever os fatos jurídicos afirmados, e
demonstrar o nexo causal com provas contundentes, incontroversas.
As testemunhas ouvidas em Juízo deram versões contraditórias com os
seus próprios depoimentos escritos. Não se tem uma única prova que os fatos narrados
por elas realmente teriam ocorrido (não há sequer a materialidade do objeto dito ilícito –
as 2.000 telhas, as equipes de futebol, os pares de chuteiras).
Registre que em todos os depoimentos aparece o nome de Vera, a qual é
de conhecimento geral que trabalha para o investigante, tanto o é, que ela por diversas
vezes veio a esta justiça Especializada busca os interesses do autor. Fato é que os
depoimentos escritos acostados aos autos, como se mostrou quando da oitiva das
testemunhas ouvidas em Juízo, tiveram o auxílio da senhora Vera, o que de certa forma
se mostram tendenciosos.
Assim, verifica-se que as provas trazidas nos autos não são
contundentes, por se tratarem de declarações testemunhais ambíguas e isoladas, cada
uma afirmando uma posição, não tendo como valorar um depoimento mais que o outro.
Não havendo nos autos outros indícios ou provas (com demonstração do nexo causal)
que possam reforçar os fatos narrados na inicial.
As testemunhas ouvidas não foram capazes de convencer este
Magistrado que houve, de forma segura, a captação de votos mediante pagamento ou
promessa e ainda abuso do poder político, econômico e de autoridade. Além do mais,
14
há de registrar que todas se mostraram muito interessadas no deslinde político da
questão, o que nos leva a apreciar as informações trazidas aos autos, pelas testemunhas,
com cuidado especial.
Dessa forma verifico que, no caso dos autos, o acervo probatório é
insuficiente, não restando demonstrado o abuso do poder econômico, político ou de
autoridade pelos investigados e a captação ilícita de sufrágio, essencial para a
configuração da conduta vedada pelo art. 41-A da Lei 9.504/97.
Dispositivo
ASSIM SENDO, diante da fragilidade probatória e da ausência de
demonstração de abuso do poder político, econômico ou autoridade, e ainda da
captação ilícita de sufrágio e com fulcro no art. 269, I do CPC, JULGO
IMPROCEDENTE os pedidos contido na inicial da Ação de Investigação Judicial
Eleitoral proposta por Lourinaldo Batista da Silva em face de Rafael Mesquita
Brasil, Raimundo Nonato Mendes Cardoso e Francisco Evandro Freitas Costa
Mourão.
JULGO ainda IMPROCEDENTE o pedido contido no incidente de
falsidade aforado pelos investigados em face de documento acostado aos autos às f.
275/276. Deixo de fixar honorários advocatícios, pois incabíveis na espécie (lei nº
9.265/1996). Sem custas.
Após o trânsito em julgado desta sentença, devidamente certificado,
arquivem-se os autos com as baixas devidas.
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Buriti/MA, 20 de janeiro de 2015.
Jorge Antonio Sales Leite
Juiz de Eleitoral da 25ª Zona