6

Click here to load reader

Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

Embed Size (px)

DESCRIPTION

peça

Citation preview

Page 1: Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

Desembargador Irineu Pedrotti - Acórdãos TJSP - Desembargador Irineu Pedrotti - Acórdãos TJSP

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. DIREITOS DE VIZINHANÇA. ELEVAÇÃODO MURO DIVISÓRIO. TRINCAS, MANCHAS DE UMIDADE, EMPOLAMENTODO REVESTIMENTO, DESCASCAMENTO DA PINTURA, ALÉM DOSPREJUÍZOS REFERENTES À ILUMINAÇÃO INDIRETA, VENTILAÇÃO E AESTÉTICA.AcórdãosEnviado por: Postado em:3/12/2007 9:10:00

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO34ªCâmara – Seção de Direito PrivadoJulgamento sem segredo de justiça: 28 de novembro de 2007, v.u.Relator: Desembargador Irineu Pedrotti.Apelação Cível nº 944.362-0/0Comarca de São Bernardo do CampoApelantes: A. M. R., L. N. R. e M. H.Apeladas: As partesAÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. DIREITOS DE VIZINHANÇA.ELEVAÇÃO DO MURO DIVISÓRIO. TRINCAS, MANCHAS DE UMIDADE, EMPOLAMENTO DOREVESTIMENTO, DESCASCAMENTO DA PINTURA, ALÉM DOS PREJUÍZOS REFERENTES ÀILUMINAÇÃO INDIRETA, VENTILAÇÃO E A ESTÉTICA. NOCIVIDADE DA OBRA.RESPONSABILIDADE OBJETIVA. A prova demonstrou que os danos no imóvel do Requerenteoriginaram-se do muro divisório erigido pelos Requeridos, “fora da especificação do projetoaprovado pela Prefeitura Municipal”, ficando evidenciado o nexo causal e a culpa dos (Requeridos).Os elementos dos autos tornam visível que os problemas referentes à desvalorização do imóvel -comprometimento da ventilação, iluminação e estética - podem ser resolvidos com a adequação daobra, limitando-se a altura do muro divisório em 1,48m, com colocação de revestimento na parteremanescente e de rufos onde se fizer necessário, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, sob penade pagamento de multa diária e de eventual conversão (da obrigação) em perdas e danos. Aapuração do valor para composição dos demais defeitos - descascamento da pintura, manchas deumidade, empolamento do revestimento de quartzo, extensa trinca – deverá ser feita em liquidação.LIBERDADE DE CONSTRUIR. LIVRE ARBÍTRIO. ORDENAMENTO JURÍDICO. A liberdade deconstruir não é ampla e nem mesmo discricionária, estando o livre arbítrio do proprietário limitadopelo ordenamento jurídico, a fim de que sejam resguardados os direitos de vizinhança e depropriedade.DANOS MORAIS. A doutrina contemporânea sobre o dano moral é uníssona nosentido que ele não se demonstra e nem se comprova, mas se afere como resultado da ação ouomissão culposa in re ipsa, traduzido na dor psicológica, no constrangimento, no sentimento dereprovação diante da lesão e da ofensa ao conceito social e à dignidade.Voto nº 11.030.

Visto,M. H. ingressou com “MEDIDA CAUTELAR” contra A. M. R. e L. N. R., partes qualificadas nosautos, alegando que:“... é proprietário da residência situada na Rua Francisca Pedroso de Toledo, nº174 (...) sendo que sua propriedade faz divisa com os fundos da propriedade do réu ...”. “... O réuadquiriu o imóvel (...) aproximadamente 03 (três) meses, quando passou a efetuar reformas nomesmo ...”.“... tal construção fere (...) as disposições do código de obras do município, tanto que foramotivo de inúmera autuações bem como o próprio embargo da referida obra ...” (folha 3).Requereu:“... comprovadas as irregularidades da obra, que vem gerando inúmeros transtornos ao Autor,inclusive com a depreciação de seu patrimônio em R$ 50.000,00 (...) pelas condições que este

http://www.irineupedrotti.com.br/acordaos 25/3/2015 9:28:35 - 1

Page 2: Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

apresenta graças a construção irregular, que podou-lhe a luminosidade natural, gerando infiltraçõese umidade que já começa a danificar além das partes externas da residência, também as mobíliasinterna ...”.“... liminar para imediata paralisação das obras ...”.“... aplicação de multa diária ...”.“...condenação do requerido, nas custas, despesas processuais e honorários advocatícios ...” (folhas5/6).Em 10 de janeiro de 2003 o Requerente formulou aditamento à inicial:“... que a presente açãotramite pelo procedimento especial (...) tratando-se de AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVAcumulada com REPARAÇÃO POR PERDAS E DANOS ...”.“... indica o autor o nome da cônjuge doréu para integrar o pólo passivo (...) LÚCIA MADRIGAL RUDA ...” (folha 80 – destaques do original).“... resta ao presente aditamento reformular os pleitos, atendendo os requisitos da ação denunciação de obra nova ...”.“... concessão de liminar embargando a construção (...) e a expediçãode mandado determinando a demolição da área construída irregularmente sobre o recuo ...”.“... aaplicação de multa diária ...” (folha 81).“... a condenação do réu em perdas e danos (art. 936, III)tendo em vista os prejuízos causados ao autor, no valor equivalente a 10 (dez) vezes a importânciagerada em prejuízo pela desvalorização do imóvel do autor, qual seja, R$ 500.000,00 ...” (folha 82).O r. Juízo deferiu o aditamento e o embargo liminar da obra (folha 83).Formalizada a angularidade,os Requeridos, apresentaram contestação (folhas 89/93), que foi impugnada (folhas 260/262).Oprocesso foi saneado:“... SUSPENDO os efeitos da liminar ...”.“... nomeio como perito judicial ...” (folha 425).Encartado o laudo pericial (folhas 516/568), o Assistente Técnico do Requerenteapresentou parecer (folhas 591/608). Encerrada a instrução, as partes travaram debates pormemoriais (folhas 636/644 e 648/652).Seguiu-se a entrega da prestação jurisdicional:“... JULGOPROCEDENTE (...) para condenar o réu a modificar a construção irregular, adequando a altura domuro divisório de acordo com o previsto na legislação municipal vigente, baseando-se nasconclusões do laudo já citado, a fim de se fazer cessar os atuais danos sofridos pelo autor,procedendo também, caso necessário, ao revestimento da área remanescente, com colocação derufos e tudo mais que for necessário, sob pena de incidir em multa diária de R$ 500,00. Por fimcondeno também o réu ao pagamento da indenização, a ser apurada por artigos, decorrente dadesvalorização e dos danos ocorridos no imóvel.Condeno o vencido ao pagamento das custas,despesas processuais, incluindo-se os honorários do perito e honorários advocatícios, que, na formado art. 20, § 4º do Código de Processo Civil, fixo em R$ 2.000,00 ...” (folhas 662/663 – destaques dooriginal).M. H. opôs Embargos de Declaração que foram rejeitados (folhas 667/670 e 682).A. M. R. eL. N. M. recorreram. Perseguem a reforma da decisão alegando que:“... a culpa pela nãoaplicabilidade da r. sentença é do próprio Apelado que (...) não autorizou os Apelantes a reduzirem omuro nos exatos termos da perita de confiança ...” (folha 674).“... a inicial confundiu o MM. Juízo(...), quando do deferimento da liminar, acusando os Apelantes de construção irregular em recuo, ea prova dos autos é una, demonstrando que os Apelantes estavam devidamente regularizados juntoaos órgãos competentes; segundo, a suposta desvalorização no imóvel do Apelado, não pode serimputada aos Apelantes ...” (folha 675).M. H. apresentou contra-razões (folhas 686/691) e, emseguida, interpôs recurso adesivo, alegando que:“... restou omissão na respeitável decisão (...)quanto ao reparo dos danos causados pela construção irregular dos Recorridos no lado de dentrodo imóvel do Recorrente ...”.“.... confusa está a sentença no que tange à modificação da altura domuro divisório ...” (folha 699).“... Para que a respeitável sentença não seja interpretada dubiamenteé necessário que seja esclarecida quanto à altura em que o muro divisório deverá ficar na prática,indicando precisamente quantos metros o Recorrido deverá diminuir o muro em questão ...”.“...Omissa, também a sentença no que tange à revogação do alvará expedido pela Prefeitura, eis que aobra está em desacordo com a planta, sendo esta também em desacordo com a arquiteturarazoável aceita pelo cidadão comum, razão pela qual o citado alvará e mesmo a planta aprovadanão podem vigorar ...”.“... o dano moral pleiteado tem relação causal direta com a obra em questão,vez que os Recorrentes viram-se obrigados a residir durante mais de 2 (dois) anos em sua própriaresidência, privados de ventilação e iluminação, convivendo com o ambiente repleto de umidade e

http://www.irineupedrotti.com.br/acordaos 25/3/2015 9:28:35 - 2

Page 3: Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

apreciando acúmulo diário de mofos e bolores ...” (folha 700).A. M. R. e L. N. M. ofereceramcontra-razões (folhas 706/710).Relatado o processo, decide-se.As razões e as contra-razões dosrecursos estão centralizadas com exclusividade nas provas e, por isso, passam a ser apreciadasnos limites especificados para satisfação do princípio tantum devolutum quantum appellatum,refletindo-se, desde logo, pela diretriz sumular sobre o não-reexame em caso de recursoconstitucional[1].M. H. ingressou com Ação de Nunciação de Obra Nova cumulada com Reparaçãopor perdas e danos contra A. M. R. e L. N. M., objetivando embargo da construção e oressarcimento por danos em razão de obras realizadas no imóvel que se encontra na divisa com oseu.A perícia concluiu:"... Verificamos os seguintes danos das dependências do imóvel do Autor eque eles entendem como uma decorrência das obras efetuadas pelo Réu ...”.“... Garagem:Descascamento da pintura na parede que divisa com o imóvel do Réu, na sua parte inferior.Manchas de umidade na parede e no forro de laje, junto a construção do Réu.Empolamento dorevestimento de quartzo na viga de concreto e também na lateral da porta existente no fundo dagaragem. Esses danos estão localizados muito próximos a divisa com imóvel do Réu.Dormitório dopiso superior: Extensa trinca no forro do dormitório, paralela a divisa com o Réu e próxima a ela.Manchas de umidade na junção entre o forro e as paredes, também próximas da divisa com o Réu...”. (folhas 542/543).“... o Réu construiu irregularmente sobre a área de recuo da Rua FranciscaPedroso de Toledo.A Prefeitura agiu com rigor e o Réu se viu, então, compelido a demolir aconstrução que avançara a área de recuo ...”.“... O Réu demoliu apenas a cobertura do pavimentosuperior construído sobre o recuo. A parede frontal do pavimento superior não foi inteiramentedemolida, e sim, alterada da seguinte forma:A altura da parede foi diminuída.As janelas foramretiradas e na parede frontal foi deixada uma mureta com gradil.As paredes laterais – em particular –aquela que faz divisa com o Autor – foram mantidas.Elas possuem 2,85 m de altura.Vale dizer, ocômodo do pavimento superior foi transformado em um terraço, tendo por piso a laje de coberturada garagem de autos ...” (folha 554).“... o que se verifica na construção do Réu é que para ambas asruas não existente os dois abrigos aprovados em planta, e sim duas garagens (embora uma aindasemi-descoberta).Assim dizemos porque, ao contrário de como deveriam ser os abrigos, referidasgaragens (ambas) constituem recintos fechados com portões que vedam totalmente a visão da rua...” (folha 558).“... indagamos do Sr. Diretor da SO-2 se seria possível a construção de 2 garagens,ao invés de dois abrigos.O mesmo nos informou que face ao parágrafo único do artigo 42 da Lei deZoneamento, isso seria realmente possível ...”.“... o entendimento da Municipalidade de permitir aconstrução de garagem em recuos é devido ao fato de que a lei usa explicitamente o termo‘garagem’.Com abrigo ou com garagem construídos no recuo, a taxa de ocupação do terreno, deacordo com a Lei 4.446, foi respeitada ...”.“... a construção do réu não se encontra de acordo com aPlanta Aprovada, mas é passível de regularização de acordo com o estabelecido na Lei deZoneamento em vigor ...” (folha 559).“... A planta aprovada (...) considerou um abrigo para autos nopavimento térreo e um solarium descoberto no pavimento superior.A altura da parede divisóriaAutor/Réu foi aprovada com 3,00 m no pavimento térreo mais 2,70 m do pavimento superior.Levando-se em conta a espessura da laje de cobertura da garagem (10 cm), a altura da parededivisória totalizaria, 5,80 m.Entretanto, medindo no local, a altura da parede de divisa do pavimentosuperior é de 2,85 m, o que totaliza 5,95 m (3,00 m + 0,10m + 2,85 m).Segundo nos foi informadopelo Diretor da SO-2 e seu assistente, a Prefeitura de São Bernardo do Campo utiliza o Código deObras Arthur Saboya (Lei 3.427 de 19/11/29), um código bastante antigo que não define a alturamáxima para muros divisórios.(...) O código estabelece o máximo apenas para o muro de fronta(altura máxima de 1,60 m).O Código de Posturas da Municipalidade (...) também nada especifica.Notocante ao projeto aprovado, conforme já dissemos, a altura total do muro divisório é de 5,80 m,enquanto no local foram medidos 5,95 m, uma vez que o réu estendeu a altura da parede de divisaem mais 15 cm.Na prática, os arquitetos nunca projetam muros com tais alturas.(...)Finalmente, éoportuno ressaltar que, enquanto na divisa com o Autor a parede divisória do pavimento superior

http://www.irineupedrotti.com.br/acordaos 25/3/2015 9:28:35 - 3

Page 4: Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

possui 2,85 m, na mesma divisa, na confrontação com o vizinho pela Rua Treze de Maio, o muropossui uma altura de 1,48 m, conforme medições feitas in loco ...” (folhas 561/562).“... A altura daparede divisória executada pelo Réu, na sua divisa com o Autor, agride o sentimento estético docidadão comum.Como parte desse prejuízo estético, é indiscutível que a elevada parede roubouuma considerável parte do campo de visão da paisagem, a partir da janela do pavimento superior.Conquanto não seja mensurável esse prejuízo, ele é indiscutível.Quanto a insolação, declaramos: Afachada do imóvel do Autor está voltada para Sudeste, em ângulo de 50°, com a direção Norte.Comesta situação, a fachada somente em poucas horas do ano recebe alguma insolação direta.Entretanto, mais palpável é o fato de que a altura elevada da parede, independentemente dainsolação direta, fez com que a edificação do Autor ficasse um tanto confinada prejudicando ailuminação indireta.Tal como a iluminação indireta, o paredão erguido pelo Réu constitui umanteparo que barra os ventos provenientes do Nordeste.Dessa forma, há também um prejuízoquanto a ventilação ...”.“... Do ponto de vista das Posturas Municipais, a construção do Réu está emdesacordo com o projeto aprovado.Referidas transgressões são passíveis de futura regularização,ressalvado o fato de que a laje da cobertura da garagem não é independente da estrutura daedificação principal ...” (folha 563 – grifou-se).“... Quanto ao muro de divisa entre a propriedadeAutor/Réu, ela se encontra fora da especificação de projeto.Entretanto, independentemente dequaisquer outras considerações, o Autor sofreu prejuízos com as obras do Réu, no que diz respeitoa iluminação indireta, a ventilação e a estética, pela considerável perda da paisagem.Além disso, afalta de revestimento do muro do Réu, na face voltada para o imóvel do Autor, requer imediataconclusão, principalmente no tocante a instalação de rufos. A falta de rufos é que está causando asumidades nos locais indicados no laudo ...” (folha 564).A ação de nunciação destina-se a impedir omau-uso da propriedade vizinha que possa prejudicar a segurança, o sossego e a saúde dosnunciantes, independentemente das providências administrativas exigidas por lei, sendo irrelevantea aprovação da obra pela Municipalidade.Ressalta-se que, embora os Requeridos tenham obtido aliberação da edificação pela municipalidade, a obra está irregular:“... a planta aprovou (...) aconstrução de dois abrigos, enquanto que, aquilo que o Réu construiu, foram duas garagens ...” (folha 559).“... quer se trate de abrigo ou de garagem, a laje de cobertura e a própria estrutura desustentação dessas construções, devem ser inteiramente independentes da construção principal ...”.“... no presente caso, isso não foi observado.A estrutura da garagem é uma continuação daestrutura da construção principal, a qual está incorporada.No tocante a este relevante aspecto, aconstrução do Réu se encontra em situação inteiramente irregular.Essa condição só não estáexpressa em lei, como também, no Alvará de fls. 339 dos autos, onde há uma observação de que alaje de cobertura ‘não poderá ser ligada estruturalmente à laje da residência’ ...” (folha 561).Aliberdade de construir não é ampla e nem mesmo discricionária, estando o livre arbítrio doproprietário limitado pelo ordenamento jurídico, a fim de que sejam resguardados os direitos devizinhança e de propriedade[2].O proprietário pode embargar a construção do prédio que invada aárea do seu, ou sobre este deite goteiras, bem como a daquele, em que, a menos de metro e meiodo seu, se abra janela, ou se faça eirado, terraço, ou varanda[3].São defesos os atos que nãotrazem ao proprietário qualquer comodidade ou utilidade, e sejam animados pela intenção deprejudicar outrem[4].Consignou a Perita Judicial que:“... a Prefeitura de São Bernardo do Campoutiliza o Código de Obras Arthur Saboya (...) um código bastante antigo que não define a alturamáxima para muros divisórios ...” (folha 561).“... Na prática, os arquitetos nunca projetam muros comtais alturas ...” (folha 562).“... enquanto na divisa com o Autor a parede divisória do pavimentosuperior possui 2,85m, na mesma divisa, na confrontação com o vizinho pela Rua Treze de Maio, omuro possui uma altura de 1,48 conforme medições feitas in loco ...” (folha 562).“... No nossoentender, as paredes edificadas no pavimento superior não fazem parte do conjunto arquitetônico doimóvel, mas constam da planta aprovada ...” (folha 566).A perícia foi categórica em concluir que “aaltura da parede divisória executada pelo Réu, na sua divisa com o Autor, agride o sentimento

http://www.irineupedrotti.com.br/acordaos 25/3/2015 9:28:35 - 4

Page 5: Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

estético do cidadão comum” (folha 563) e que os demais defeitos no imóvel do Requerente – descascamento da pintura, manchas de umidade, empolamento do revestimento de quartzo,extensa trinca –originaram-se do muro divisório erigido pelos Requeridos, “fora da especificação doprojeto aprovado pela Prefeitura Municipal” (folha 563), ficando evidenciado o nexo causal e a culpadeles (Requeridos).As fotos trazidas, revelando a situação do imóvel do Requerente antes daedificação do paredão (folhas 487/488), confrontadas com as imagens posteriores à realização daobra (folhas 490, 508/514), tornam visível que, sem dúvida, houve comprometimento da iluminação,da ventilação e da estética do prédio (do Requerente).A contrariedade lançada pelos Requeridos,sem crítica por Assistente Técnico, não pode alijar os elementos técnicos existentes nos autos.Prevalece a conclusão do laudo pericial.A responsabilidade, no caso, é objetiva e decorre dasimples nocividade da obra, independentemente da culpa que, no caso, foi apurada.O ressarcimentopelos danos, é imperativo legal."O que não ultrapassar os limites da anormalidade entra, comopondera Washington de Barros Monteiro, na categoria dos encargos ordinários da vizinhança.Parase saber quando a utilização ou exercício de um direito é normal ou anormal é preciso considerarvários fatores, entre os quais:a) O grau de tolerabilidade, pois se o incômodo for tolerável o juizdespreza a reclamação da vítima, pois a convivência social por si só cria a necessidade de cada umsofrer um pouco (RT 448:87). Se for intolerável o juiz deverá levar em conta várias circunstâncias:se os interesses em jogo são apenas individuais o magistrado pode ordenar a demolição ouremoção da coisa que o provoca; se o interesse do causador coincide com o interesse social, poisnão convém a cessação da atividade prejudicial, o juiz obriga a vítima a tolerar essa inconveniência,impondo à outra parte a obrigação de indenizar; se houver possibilidade de diminuir ou atenuar odano mediante a realização de obras, o magistrado deve ordená-las." [5]Os elementos dos autosevidenciam que os problemas suportados pelo Requerente com o alteamento do muro divisório – comprometimento da ventilação, iluminação e estética do imóvel - podem ser resolvidos com aadequação da obra. O r. Juízo determinou que os Requeridos modifiquem a construção irregular “adequando a altura do muro divisório de acordo com o previsto na legislação municipal vigente,baseando-se nas conclusões do laudo já citado, a fim de se fazer cessar os atuais danos sofridospelo autor ...” (folha 662).A redução do (muro divisório) em apenas 15 cm, que foi a medidaultrapassada em relação ao projeto aprovado pela Municipalidade, é irrisória, em nada atenuando afalta de iluminação indireta e ventilação provocados no imóvel do Requerente. A legislaçãomunicipal não define a altura máxima dos muros divisórios. A Perita Judicial não indicou qual seria aaltura (do muro divisório) adequada para “cessar os atuais danos sofridos pelo autor”.Fica definida aaltura do (muro divisório), na parte superior do imóvel, em 1,48m, mesma medida adotada pelosRequeridos na construção do muro limítrofe “na confrontação com o vizinho pela Rua Treze deMaio” (folha 562), reputada suficiente para resguardar o direito deles (Requeridos) de edificarem ummuro divisório, sem comprometimento da ventilação e iluminação (indiretas), e da estética do imóveldo Requerente.A conversão da obrigação de fazer em obrigação de dar – ressarcimento peladesvalorização do imóvel em razão do comprometimento da ventilação, iluminação e estética doimóvel - só terá lugar no caso de não ser cumprida a obrigação.Os Requeridos deverão desfazer omuro no excedente a 1,48 m, colocando revestimento na parte remanescente “... na face voltadapara o imóvel do Requerente e instalação de rufos onde se fizer necessário para cessar a umidadeno imóvel do Requerente”, no prazo de 45 dias, sob pena de pagamento da multa por dia de atraso,definida na sentença, nos termos do § 4º, do artigo 461 do Código de Processo Civil, ficandosujeitos à eventual conversão (da obrigação) em perdas e danos, sem prejuízo da multa,apurando-se o valor equivalente em execução[6].A apuração do valor para a composição dosdemais defeitos apontados pela prova técnica - descascamento da pintura, manchas de umidade,empolamento do revestimento de quartzo, extensa trinca - não foi objeto da perícia. A posição maisracional está na verificação do quantum debeatur por perícia direta ou indireta no local dos fatos,com subsídios diretos e indiretos, em função das provas dos autos, em liquidação de sentença, na

http://www.irineupedrotti.com.br/acordaos 25/3/2015 9:28:35 - 5

Page 6: Ação de Reparação de Danos. Direitos de Vizinhança

forma definida pelo r. Juízo."Diz-se que o artigo 461 do Código de Processo Civil contémsimultaneamente ações de conhecimento e execução, porque ao mesmo tempo acolhe pedidocondenatório, para que o réu faça ou se abstenha de fazer algo, também acolhe pretensãosatisfativa, exigindo cobrança de multa diária, conforme estipulado na inicial, caso o devedor nãocumpra, voluntariamente, com o disposto na sentença condenatória. Daí porque a cobrança damulta diária prevista no artigo 287 do Código de Processo Civil, que possibilita o início imediato daexecução através da coação patrimonial, não se confunde com a possibilidade que o artigo 461,parágrafo 1º, do Código de Processo Civil, prevê, autorizando o autor requerer a conversão dacondenação do devedor em perdas e danos, cujo valor a título de multa diária, deve ser acrescido àindenização." [7]“Nunciação de Obra Nova. Construção de cômodo em prédio vizinho. Aumento domuro divisório em dez metros. Retirada de iluminação e ventilação. Prejudicado o direito devizinhança.” [8]“Nunciação de obra nova. Muro divisório. Altura de 2,60 m. Direito do Proprietário emconstruir que não se sobrepõe ao do lindeiro em não se ver prejudicado com a construção realizada.Ademais, são defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade esejam animados pela intenção de prejudicar outrem (ART. 1.228, do Código Civil).” [9]"Demolitória.Pretensão ao desfazimento de prédio destinado a granja e ao rebaixamento de muro divisório.Intercorrente cessação das atividades granjeiras. Altura do muro, no entanto, prejudicial àiluminação do prédio dos autores. Ação julgada procedente em parte. Correta condenação dos réusem verbas de sucumbência. Recursos dos autores e dos réus não providos." [10]"... a construção,por sua própria natureza, e mesmo sem culpa de seus executores, comumente causa danos àvizinhança, por recalques do terreno, vibrações do estaqueamento, queda de materiais e outroseventos comuns na edificação. Tais danos hão de ser reparados por quem os causa e por quemaufere os proveitos da construção. Daí a solidariedade do construtor e do proprietário pelareparação civil de todas as lesões patrimoniais causadas a vizinhos, pelo só fato da construção. Éum encargo de vizinhança, expressamente previsto no art. 572 do Código Civil, que, ao garantir aoproprietário a faculdade de levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, assegurou aosvizinhos a incolumidade de seus bens e de suas pessoas, e condicionou as obras ao atendimentodas normas administrativas.” [11]"A responsabilidade dos donos do imóvel onde foram efetuadas asobras é objetiva e decorre do mau uso da propriedade. Ainda que se trate de ato excessivo e nãoabusivo, isto é, praticado com a finalidade legítima, se causar dano ao prédio vizinho surge aobrigação de indenizar independentemente de culpa.” [12]“Reconhecido que os danos no imóveldos autores provieram da construção dos réus, emerge a responsabilidade objetiva e solidária,vinculando tanto o construtor como o proprietário do terreno.” [13]"O indiscutível mau uso dapropriedade, faz com que surja a responsabilidade objetiva do dono da obra de indenizar quandocausar danos ao prédio vizinho.” [14]"A responsabilidade pela reparação de danos causados aprédio vizinho é obrigação propter rem, vinculando quem se encontre na posição de dono oupossuidor, independentemente de ter sido autor direto da obra causadora do prejuízo.” [15]"Oalteamento de muro que não compromete o ângulo estético da propriedade vizinha ou dasalubridade, que se funda na segurança da propriedade e pessoal e que não causa prejuízo aosproprietários vizinhos não enseja provimento a ação demolitória." [16]Sobre as outrasirregularidades apontadas pela prova técnica – construção de duas garagens, quando a plantaaprovou dois abrigos e a laje da cobertura da garagem não ser independente da estrutura daedificação principal –, deverá ser oficiado à Procuradoria Municipal de São Bernardo do Campo paraas providências administrativas cabíveis.DOS DANOS MORAISA indenização por dano moral éresultado lógico da responsabilização que persegue o Requerente, pelos transtornos econstrangimento

http://www.irineupedrotti.com.br/acordaos 25/3/2015 9:28:35 - 6