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i , ., i' .\ I ,. f r " I , W, JI , r ., '.1 AC/4175 10604 - DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 INVE8TIGA<;AO PENAL· ACAo CAUTELAR A9AO CAUTELAR 4175 PROCED. : DISTRITO FEDERAL ORIGEM. : AC-4175-SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL RELATOR(A): MIN. TEORI ZAVASCKI AUTOR(A!S) (E5) MINISTERIO PUBLIca FEDERi\.L PROC. (A/S) (ES) PROCURADOR-GERAL DA EM 23/05/2016 $ Impresso por: 053.432.539-46 AC 4175 Em: 16/06/2016 - 09:20:12

ACAo - Estadão

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AC/4175 10604 - DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 INVE8TIGA<;AO PENAL·

ACAo CAUTELAR

A9AO CAUTELAR 4175 PROCED. : DISTRITO FEDERAL ORIGEM. : AC-4175-SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

RELATOR(A): MIN. TEORI ZAVASCKI AUTOR(A!S) (E5) MINISTERIO PUBLIca FEDERi\.L PROC. (A/S) (ES) PROCURADOR-GERAL DA REPUBLIC.~

DISTRIBUI~AO EM 23/05/2016

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Suprema Tribunal Federal

AC 0004175·23/05/201619:23 0052836-02.2016.1.00.0000

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MINISTEruO PUBLlcO FEDERAL Procuradoria-Geral da Republica

12016 - PGR/GTLJ

Poderes, prerrogativas e competencias săa lemes a servir;o do destina caletivo da narOo. Sâo foras que convidam os cansensos a razâo, e nOa cavidades afaveis aos desajoros. O seu manejo - mesmo na escuridiio da mais desoladara das tarmentas - jamais podera entregar-se a empatias com o ilicito. Coma registrou o Min. Eros Grau, "a interpretarâa do direito. e da Constituir;ăo, năo se reduz a singelo exercicio de leitura dos seus textos, compreendendo processo de continua adaptarăo el realidade e seus conjlitos. (. .. ) A exceriio e o caso que năo cabe no âmbilO de normalidade abrangido pela norma geral. Ela eslli no direito, ainda que niio se encontre nos textos normativas de direito posi/ivo. Ao Judiciario, sempre que necessario, incumbe decidir regulando tambem essas situaroes de exceţâo. Ao faze-Ia nfio se qfasta do ordenamento. " (RE 597994, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Ac6rdiio: Min. EROS ORA U, Tribunal Pleno, julgado em 04/06/2009). (Min. Teori Zavascki. AC 4070)

1. Introdut;âo .

o Procurador·Geral da Republica vem il Presen<ya de Vossa

excelencia, nos autos da AC 4070, tendo em vista a demonstra<yao da

insuficiencia e ineficacia das medidas cautelares ali deferidas por Esta

egn\gia Corte, em face de EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, requerer

sua PRlSĂO PREVENTIVA, ou, altemativamente, as MEDIDAS

CAUTELARES a seguir descritas.

o Pleno do Supremo Tribunal Federal no ultimo dia 5 de maia

referendou decisao monocratica da lavra de V. Exa determinando, verbis, " 1/<'---,

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suspensăo, pela requerido, Eduardo Cosenlino da Cunha, do exercicio do

mandato de deputado federal e, por consequencia, da funfăo de Presidenle

da Câmara dos Deputados".

Referida decisao, como e de amplo conhecimento, foi exarada em

resposta a requerimento deste Procurador-Geral da Republica no qual foram

e\encados mais de uma dezena de fatos de natureza cnmmosa que

evidenciaram o abuso das prerrogativas parlamentares por parte do

deputado. Nessa linha, ar. decisao reconhece que:

"( ... ) a permanencia do requerido, o Deputado Federal Eduardo

Cunha, no livre exercicio de seu mandato parlamentar e il frente da

fun9ao de Presidente da Câmara dos Deputados, alem de representar

risco para as investiga90es penais sediadas neste Supremo Tribunal

Federal, e um pejorativo que conspira contra a propria dignidade da

institui9ao por ele liderada. Nada, absolutarnente nada, se pode

extrair da Constitui9ao que possa, minimamente, justificar a sua

permanencia no exercicio dessas elevadas fun(ţ5es publicas. Pelo

contrârio, o que se extrai de um contexto constitucional sistemico, e

que o exercicio do cargo, nas circunstâncias indicadas, compromete a

vontade da Constitui9ao, sobretudo a que esti! manifestada nos

principios de probidade e moralidade que devem govemar o

comportamento dos agentes politicos".

Nao el necessârio aqui reprisar a contundencia do decis6rio exarado

corn peculiar zelo pela mais Iidimo interes se e corn precisa reflexao acerca

dos limites e implica90es do postulado da separa9ao de poderes. Basta dizer

que assentou-se que se trata de:

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"( ... ) uma situas:âo extraordinăria, excepciona1 e, por isso, pontual e

individualizada. A sintaxe do direito nunca estara completa na

solidâo dos textos, nem jamais podera ser negativada pela imprevisâo

dos fatos. Pelo contrario, o imponderavel e que legitima os avanyos

civilizat6rios endossados pelas mâos da justi"a. Mesmo que nâo haja

previsâo especifica, corn assento constitucional, a respeito do

afastamento, pela jurisdiyâo criminal, de parlamentares do exercicio

de seu mandato, ou a imposiyâo de afastamento do Presidente da

Câmara dos Deputados quando o seu ocupante venha a ser

processado criminalmente, esta demonstrado que, no caso, ambas se

fazem claramente devidas. A medida postul ada e, portanto,

necessaria, adequada e suficiente para neutralizar os riscos descritos

pela Procurador-Geral da Republica.( ... )"

Pois bem.

Nâo obstante a rigorosa e excepcional medida proferida em face do

Deputado EDUARDO CUNHA, constata-se, poucos dias ap6s a hist6rica

decisăo, que a medida interditiva năo surtiu os efeitos desejados. Pelo

contrario, o requerido continua a exercer sem pudor o poder politico que

detem de fato, mantendo corn notavel desenvoltura o mesmo nivel de

articula"ăo e influencia, aIem de adotar postura desafiadora em re1ayâo as

ordens desta Suprema Corte. lsto decorre de dois fatores essenciais: a) as

medidas da Câmara dos Deputados tomadas em suposto cumprimento da r.

Decisâo do STF, foram assaz timidas e, em verdade, mantiveram todas as

prerrogativas parlamentares do requerido a exce"ăo do exercicio da

presidencia das sessoes da Casa e do direito a voto nas delibera"oes; b) a

postura criminosa e reiteradamente obstrutiva do comportamento do

requerido năo foi dissuadida de moda eficaz pela extensăo da medida

deferida. Vale dizer, a medida cautelar de afastamento do mandato năo oi

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suficiente para cessar a conduta ilicita do parlamentar conforme se previa

inicialmente.

2. Primeiro fundamento: descumprimento da decisâo por parte da

Câmara dos Deputados. Manuten~âo indevida de praticamente todas as

prerrogativas parlamentares.

A Mesa da Câmara dos Deputados exarou em 12/5/2016 o ato n°

88/16 a titulo de cumprir a decisao tomada nesta medida cautelar (doc.l) .

No art. 2° do referido ato le-se que o requerido, a despeito da suspensao do

exercicio de seu mandato, mantem as seguintes prerrogativas inerentes ao

cargo: a) uso da residencia oficial da Presidencia da Câmara dos Deputados

e respectivo stafJ que atende o ocupante do im6vel; b) seguran~a pessoal

destinada ao Presidente da Câmara dos Deputados; c) assistencia il saude; d)

transporte aereo e terrestre; e) subsidio integral; f) equipe a servi~ do

gabinete parlamentar.

A justifica9ao do ato assevera, em sintese, que: a) trata-se de situa9ao

atipica, nao se confundindo corn vacância do cargo ou licen~a para exercicio

de cargo acumulăvel; b) a decisao do STP e de natureza precâria e sujeita a

altera~ao a qualquer momento; c) conferiu-se tratamento equivalente ilquele

conferido il Presidente da Republica afastada tendo em vista que "a

Presidenle Eduarda Cunha permanece titular da fum;lia de Presidente de

um Pader da republica, nada mais justa que se assegure a ele tratamenta

simetrica aa conferido a (sic) Chefe da Pader Executiva ara afastada".

Os fundamentos do ato sao absolutamente improcedentes e o seu

conteudo insuficiente a dar cumprimento il decisao desta Corte.

Primeiramente, a manuteneţao das

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detenninada pelo Ato, acaba por interpretar a decisao proferida por essa

Corte e o fazem no limite de esvazia-Ia. Seria compreensivel que a Casa

mantivesse em relayao ao deputado afastado o pagamento do subsidio

integral, a assistencia il saMe ou de esquema de seguran9a basico destinado

a qualquer parlamentar, alem do reconhecimento honorifico e protocolar de

sua condi9âo. Nada, porem, justifica, a manutenyao das demais

prerrogativas todas colegadas ao efetivo exercicio do mandato e ao cargo

de Presidente da Câmara dos Deputados .

Ja o argumento relativo ao suposto paralelismo da situayao em causa

corn a da Presidente da Republica afastada coma resultado da instaura9ao do

processo de impeachment, a propria decisao de V. Exa. nestes autos ja aparta

as situa90es. Eis o excerto:

"Corn o afastamento da Presidente da Republica de suas fun90es, o

Presidente da Câmara dos Deputados sera consequentemente al9ado

il posicţâo de primeiro substituto da Presidencia da Republica, o que

toma uma eventual convoca9ao a exercer esse papel, ao menos em

afastamentos temporarios do novo titular, quase certa. Para se

qualificar ao exercicio da substitui9âo, porem, parece elementar que

devera o Presidente da Câmara dos Deputados cumprir corn

requisitos minimos para o exercicio da Presidencia da Republica. E indispensavel, como a pr6pria Constitui9ao se ocupou de salientar,

que seja ele brasileiro nato (art. 12, § 3°, II). E igualmente necessărio

que o Presidente da Câmara dos Deputados nao figure como reu em

processo penal em cursa no Supremo Tribunal Federal. Isso porque,

ao nonnatizar as responsabilidades do Presidente da Republica, o

texto constitucional precatou a honorabilidade do Estado brasileiro

contra suspeitas de desabono eventualmente existentes contra a

pessoa investida no cargo, determinando sua momentânea suspensâo

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do cargo a partir do momento em que denuncias por infrac;5es penais

comuns contra ele formuladas sejam recebidas pela Supremo

Tribunal Federal. A norma suspensiva nao teria qualquer sentido se a

condu9ao do Estado brasileiro fosse transferida a outra autoridade

que tambem estivesse sujeita ils mesmas obje90es de credibilidade,

por responder a processo penal perante a mesma instância. Diante

dessa imposi.;ao constitucional ostensivamente interditiva, nao hă a

menor duvida de que o investigado nao possui condi.;oes pessoais

minimas para exercer, neste momento, na sua plenitude, as

responsabilidades do cargo de Presidente da Câmara dos Deputados,

pois ele nao se qualifica para o encargo de substitui.;ao da

Presidencia da Republica, ja que figura na condi.;ao de reu no Inq

3983, em curso neste Supremo Tribunal Federal. A rigor, essa

conclusao (a limita.;ao do mandato de Presidente da Câmara dos

Deputados) nao exigiria qualquer promo.;ao ministerial, tanto assim

que ela sequer chegou a ser pleiteada ( ... )

Poder-se-ia objetar que esse entendimento nao e compativel corn o

que foi adotado pela Tribunal quando recebeu a denuncia contra o

requerido, no Inq. 3983, onde ficou assentado que a ele - embora

terceiro na linha de substitui.;ao da Presidencia da Republica -, e inaplicavel a imunidade penal temporaria conferi da pela Carta

Magna ao Presidente da Republica (CF, art. 86, § 4°). A obje.;ao e

infundada, pois as situac;5es sao, na verdade, inteiramente diversas.

O cargo de Presidente da Republica - que ostenta a triplice condi.;ao

de Chefe de Estado, de Governo e da Administra.;ao Publica Federal

- e obtido por voto popular direto, o que lhe confere qualifica9ao

especialissima de estabilidade, sendo substituido, se for o caso, pela

Vice-Presidente, tambem eleito pelo voto popular. Nao hă como

equipara-lo, portanto, corn o cargo de Presidente da Câmara dos

Deputados, escolhido por elei9ao interna de seus pares, que apenas

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esponidica e temporariamente exerce, por substitui~ao, a Presidencia

da Republica. O Presidente da Câmara, dada a natureza e forma de

indica~o para esse cargo, fica sujeito, sem maiores percal~s, a deIe

ser removido e substituido em nova elei~ao interna, caso deixe de

atender aos requisitos indispensaveis ao seu exercîcio. E por isso

que, conforme lembrado naquele julgamento, a jurisprudencia do

Supremo tem assentado que "a norma consubstanciada no ar!. 86, §

4°, da Constituiyao, reclama e imp6e, em fun~ao de seu carater

excepcional, exegese estrita ( ... )" (lnq 672 QO, Relator(a): Min .

CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJ 16/4/1993). Nessas

circunstâncias, nao devia mesmo ser conferida ao requerido a

imunidade de que trata o ar!. 86, § 4° da CF. A solu~ao constitucional

e outra: caso tenha contra si recebida denuncia ou queixa-crime,

coma aqui ocorreu, deixa ele de ostentar condi~ao indispensavel

para assumir, em substituiyao, o cargo de Presidente da Republica".

Mais ainda. Os afastamentos, concrelamenle, sao bastante distintos.

Enquanto aque\e - o da Presidente - e determinado de forma automatica

pela Constituiyao, sem qualquer juizo sobre a intensidade da conduta,

reitera~ao do ato ou perigo de interferencia na apurayao - cuida-se, na

verdade, de garantia do livre exercicio do juizo politico do Senado Federal­

o afastamento determinado nestes autos e de natureza penal tipica, pois,

repita-se, a permanencia do requerido, o Deputado Federal Eduardo

Cunha, no /ivre exercicio de seu mandato parlamentar e il frente da funr;iio

de Presidente da Câmara dos Deputados, a!em de representar risco para as

investigar;iJes penais sediadas neste Supremo Tribunal Federal, ti um

pejorativo que conspira contra a propria dignidade da instituir;iio por ele

liderada.

O Ato da Mesa, outrossim, nao trata de qualquer interdiyao efetiva ao

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exercicio do mandato aJem das 6bvias impossibilidades de voto e do

exercicio da presidencia - que se mantidas configurari am chapado

descumprimento da decisao do Supremo. Nao interdita o acesso do

requerido as dependencias do Congresso Nacional. Tampouco dispoe sobre

a convoca9ao de suplente da representa9ao parti dări a, o que teria a fun9ao

de recompor a representa<;ao parlamentar do estado do Rio de Janeiro. A

licenciosidade do ato convida o requerido a manter-se na mesma escalada de

obstru<;:5es e intimida<;:5es que saa tfpicos do exercicio de seu mandato .

Percebe-se, portanto, que o ato normativo da Mesa da Câmara dos

Deputados, sob o pretexto de dar cumprimento it r. Decisao do STF, fez, na

verdade, indevida limita9ăo da decisao judicial, promovendo o

esvaziamento dos efeitos cautelares pretendidos corn a medida. E o fez em

grande medida, como se demonstrara adiante, em virtude da decisiva

influencia do requerido na dire9ao dos trabalhos da casa.

3. Segundo fundamento: manuten~iio do comportamento i1icito

mesmo ap6s a decisiio do Supremo Tribunal Federal na AC 4170

Recentemente, ao prestar depoimento no Conselho de Etica da

Câmara dos Deputados, EDUARDO CUNHA, afirmou que continuara a

frequentar seu gabinete na Câmara: " ... 3 partir de segunda-feira, voces me

encontram no gabinete 510".

A dec1ara9ao teve ampla repercussao na imprensa:

JORNAL NACIONAL Edi~iio do dia 19/05/2016

19/05/2016 21h36 - Atualizado em 19/05/2016 21h36

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Cunha diz que voIta a trabalhar na Câmara na semana que vem

Conselho de Etica ouve Eduardo Cunha no processo que pode cassar

o mandato deie. Deputado suspenso voita a negar que tenha contas

no exterior.

o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cun ha, falou, nesta

quinta-feira (19), aos integrantes do Conselho de Etica, no processo

que pode levar il cassa.,:ăo do mandato deie. Cunha repetiu que năo

tem contas no exterior. E disse que vai voltar a trabalhar na

Câmara na semana que vem .

Eduardo Cunha falou no mesmo plenărio onde em mar.,:o de 2015

dis se na CPI da Petrobras que năo tinha contas no exterior. Vieram as

suspeitas, as acusa<;oes do Ministerio Publico e a denlincia por

quebra de decoro no Conselho de Etica que se arrasta ate hoje. Cunha

come90u tentando impor limites: disse que so responderia sobre

pontos da representa<;ăo e voltou a dizer que năo tem contas no

exterior.

"Năo existe nenhum elemento de prova que eu seja titular,

proprietărio de patrim6nio, dono da conta, possa movimentar conta.

Eu năo detenho conta na minha titularidade e năo detenho patrim6nio

que naquele momento estivesse sob propriedade", disse Eduardo

Cunha, PMDB-RJ, presidente afastado da Câmara.

Para tentar justificar que tinha muitas atividades comercJa\s no

exterior, Cunha chegou a sacar do bolso passaportes antigos. O

Jomal Nacional pediu acesso ao documento ou copia. A assessoria de

Cunha năo respondeu.

O relator, deputado Marcos Rogerio, do Democratas, perguntou de

onde sala o dinheiro para pagar as despesas corn cartăo de credito no

exterior feitas nos ultimos anos e que constam na investiga<;ăo do

Ministerio Publico contra Cunha.

"Vossa excelencia e familiares conseguiram em vida gastar corn

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cartoes de cnjdito no exterior. A conta de vossa esposa tem coma

garantidor quem ou qual conta garante repasses o custeio a essa canta

da sua esposa?", perguntou o deputado Marcos Rogerio, DEM-RO,

relator.

"Nao efetuei gastos de conta minha ou de qualquer outra natureza

que nao fossem gastos de cartao de credita de dependente do cartao

de credito de titularidade da minha esposa. Da conta dela que esta

declarada nesse momento no Banco Central e que efetivamente ela

tem a conta na pessoa fisica e nunca se negau isso", disse Eduardo

Cunha.

Na resposta, Cunha nao esclareceu de onde vinha o dinheiro para

bancar estes gastos. Esta informayao, segundo integrantes do

conselho, e importante porque mostraria que o dinheiro de pela

menos um trust vem sendo usado pela familia de Cunha.

Em 2015, o Ministerio Publica recebeu documentos da SUlya que,

segundo os investigadores, camprovam que Eduardo Cunha tem

contas naquele pals. No material, ha fotos do passaporte, de quatro

cantas bancărias abertas na SUlya por Cunha, para ele, a esposa e a

filha.

o relator questionou Cunha: "A autoridade suliţa expressamente

afirma que as cantas saa de Vossa Excelencia. Razao pela qual envia

os documentos ao Brasil".

"O fato do Ministerio Publica abrir um procedimento investigayao

nao significa que eu pratiquei o ato ilicito e nem significa que eu

seria culpado a qualquer procedimento investigat6rio", disse Cunha.

Cunha voltou a usar o argumenta de que os recursos depositados

num trust - uma entidade juridica usada para administrar bens fora do

pais - nao pertencem a ele. O deputado Marchezan JUnior, do PSDB,

disse que Cunha usa o trust para esconder a origem ilicita do

dinheiro. E cobrou a renuncia deIe da Presidencia da Câmara. ~

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"Vossa Excelencia a permanecer na Presidencia, mesmo gue

suspenso, esta fazendo um mal a esta Casa, esta fazendo um mal ao

govemo, e esta fazendo mal il na9ao brasileira. Seria oportuno gue

Vossa Excelencia renunciasse ate porgue se Vossa Excelencia

continuar a exercer suas influencias e o seu poder corn seu grupe

parlamentar agui dentro da Casa, vai chegar o momento gue o STF

vai entender pela sua prisao", afirmou o deputado Nelson Marchezan

JUnior, PSDB-RS.

A TV Globo ja mostrou um parecer do Banco Central gue aponta gue

Cunha deveria ter declarado seus trusts.

Em entrevista il TV Globo em 2015, Cunha disse gue era

"usufrutuărio" desses trusts. Hoje, ele reconheceu gue o termo foi

inadeguado. Ai usou o termo "instituidor do trust".

"Eu sou aguil0 gue e definido, eu sou o settle - gue e o instituidor do

truste - e sou o beneficial owner do truste. E a palavra gue esta

colocada na sua lingua matriz corn rela9ao a gue gue e o truste. A

palavra usufrutuăria, como eu expliguei agui, usufrutuărio, foi

colocado de uma forma no jargao jomalistico, numa entrevista, num

depoimento, e ela nao corresponde il realidade da natureza juridica da

situayao", responde Cunha .

Cunha foi perguntado sobre a dela9ao premiada do empreiteiro

Ricardo Pemambuco Junior, gue afirmou ter pago propina a ele no

exterior por obras num porto do Rio. Cunha se irritou, batendo na

mesa: "Eu nao tenho nada a ver corn nenhuma dessas contas citadas

pela senhor Ricardo Pemambuco. E desafio a provar."

Cunha tambem foi criticado porgue estaria indicando aliados para

cargos na Câmara e no govemo Temer, entre eles o atual lider do

govemo, Andre Moura, do PSc.

"O Supremo Tribunal Federal entendeu gue deveria afastar o

deputado Eduardo Cunha do exercicio do mandato pelos riscos

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trazidos pelo exercicio do poder deie ils investiga0;X5es. O exercicio do

poder do deputado Eduardo Cunha niio cessou, ao contrârio, talvez

tenha ate aumentado", disse o deputado Alessandro Molon , REDE­

RJ, lider do partido.

"Niio tem um alfinete indicado nesse govemo por Eduardo Cunha.

Agora, se as pessoas que saa os meus correligionârios, as pessoas

que eu tenho convivencia ocupem postos, isso nao quer dizer que

Eduardo Cunha que indicou. E se indicasse nao teria nenhum delito

nisso", rebateu Cunha .

O depoimento durou mais de sete horas. Agora, Eduardo Cunha ainda

pode apresentar uma nova defesa em cinco dias e o relator tem dez

dias uteis, a partir desta sexta (20), para concluir seu parecer pela

perda ou nao do mandato. Mesmo que os prazos sejam cumpridos,

esse ja e o processo mais longo no Conselho de Etica da hist6ria da

Câmara. E o julgamento no Conselho de Etica pode so acontecer em

junho.

Na saida, Cunha disse que estara de voita na segunda. "Eu vou

frequentar meu gabinete pessoal, eu estou suspenso do exercicio

do mandato, e năo do mandato", afirmou.

A rea9iio foi imediata. "It um desrespeito frontal il decisiio unânime

do Supremo, e obvio que ele năo pode ficar comparecendo il

Câmara. O Supremo năo disse que ele poderia vir aqui, fazer as

articula~oes politicas como ja esta fazendo, isso ai configura

obstru~ăo", disse o deputado Chico Alencar, PSOL-RJ'.

MESMO AFASTADO, CUNHA DIZ QUE CONTINUARĂ

USANDO GABINETE

1 Disponivel em hllp:!!g 1.globo.comijornal-nacionalinoticial2016!OS!cunha-diz-gue·volta­trabalhar-na-camara-na-semana-gue-vern.html, acessado em 22/5/2016.

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Deputado teve o mandato suspenso por decisiio unânime do STF.

Ele falou no Conselho de Etica em pracesso por quebra de decora.

Mesmo corn o mandato parlamentar suspenso, o presidente

afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (pMDB-RJ),

disse nesta quinta-feira (19) que voltară a despachar do seu

gabinete pessoal de deputado a partir da proxima segunda-feira

(23).

Em decisiio unânime, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou

a suspensao do mandato deIe e, consequentemente, o seu

afastamento da presidencia da Casa sob a acusa(ţiio de que ele teria

usado o cargo para atrapalhar investiga(ţoes da Opera"iio Lava J ato e o

andamento do processo que o investiga no Conselho de Etica.

"Eu vou frequentar a Cârn ara. Estou suspenso do exercicio do

mandato e nao de frequentar a Câmara. Vou frequentar. Vou

frequentar meu gabinete pessoal. Estarei aqui presente, nao mais

hoje pelo adiantado da hora, mas, a partir de segunda-feira, vod!s

me encontram no gabinete 510", declarou apos sessao do conselho

em que prestou depoimento nesta quinta.

Perguntado se o gabinete poderia funcionar, apesar de estar

suspenso do exercicio do mandato, Cunha respondeu: "Claro.

Estou suspenso do exercicio do mandato, e nao do mandato".

Questionado nesta quinta sobre a fala de Cunha ao deixar o STF, o

procurador-geral da Republica, Rodrigo Ianot, responsavel pela

pedido de suspensao do mandato do deputado, respondeu apenas: "o

problema e deIe".

O peemedebista afirmou, ainda, "nao ter duvida" de que voltară il

presidencia da Câmara. "Nao tenho duvida. Vamos recorrer e

esperamos que os recursos sejam acolhidos. A decisao foi

excepcional, sem previsăo constitucionaI. Eu comparo a

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distor~oes, corn o, por exemplo, o seDador Delcidio preso Dăo teve

o maDdato suspeDso. Entao, sao muito diferentes os tratamentos corn

rela9ao a om e a outro", disse.

Desde que foi afastado do mandato, no dia 5 de maio, a Mesa Diretora

da Câmara definiu que, durante o periodo em que ficar suspenso,

Cunha tera direito ao salario integral, alem de manter a residencia

oficial, no Lago Sul (bairro nobre de Brasilia), aviao, seguran«as,

motorista, carro oficial e verba de R$ 92 miI para pagar funcionârios

do gabinete .

O primeiro-seeretărio da Câmara, Beto MaDsur (pRB-SP),

destaeou que, eomo o ato da Mesa Diretora dă a Cunha o direito

de manter parte dos funcionarios, o gabinete pessoal tiea aberto

para que esses protissionais frequentem. Segundo o deputado, năo

ha impedimeDto para que Cunha use as dependeDcias da Casa.

"O gabinete tiea aberto as pessoas que tieam corn ele. Como a

Dilma tem direito ater gabinete pessoal corn fUDcionarios, demos

esse direito ao CUDha tam bem. Usar o gabinete e uma op~ăo que

ele esta fazendo", disse Beto Mansur ao G 1, sem querer opinar

sobre a eonveniencia ou nao de Cunha frequentar a Câmara.

Deputados ouvidos pelo Gl, porem, avaliam eomo "arriseada" a

decisăo do presidente afastado de usar o gabinete no predio da

Casa. Para eles, as atividades que o peemedebista vier a

desempenhar podem aeabar seD do interpretadas pelo STF eomo

deseumprimento da suspensao do mandato

O relator do processo que investiga Conha no Conselho de Etica,

Marcos Rogerio (DEM-RO), disse nao haver regra que proibe o

peemedebista de visitar a Câmara. "Na decisao Iiminar que o afastou

do mandato e da presidencia da Casa eu nao vi consignado nenhuma

proibi«ao neste sentido. Mas isso deve ser analisado. De repente, a

propria Mesa poderia fazer este questionamento. Nao vi textualmente

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proibiyao de ele frequentar a Casa."

Questionado ap6s a sessăo se considerava uma "afronta" Cunba

continuar frequentando o gabinete pessoal, o presidente do Conselho

de Etica, Jose Carlos Araujo (PR-BA), disse que "quern deve achar

isso [se e uma afronta) e o Supremo". "Ele esti afastado pela

Supremo", declarou.

Alem disso, mesmo afastado, EDUARDO CUNHA

continua utilizando seu mandato e poder politico em beneficio

proprio, em especial corn vistas a interferir nas investiga!yoes,

conforme se percebe nas indica!yoes que vem fazendo e pretende

fazer no govemo do Presidente interino Michel Temer.

Um dos cargos barganhado por EDUARDO CUNHA e

nada menos o de Secretârio da Receita Federal. A Receita

Federal e um dos orgăos que vem atuando nas investiga!yoes

contra o Deputado .

o ESTADO DE S. PAULO - SP POLITICA 05/05/2016 23 -

CUNHA QUER INDICAR NOVO DIRETOR DA RECEITA'

Adriano Ceolin Adriana Fernandes / BRASiLlA O presidente da

Câmara, Eduardo Cunha (pMDB-RJ), quer indicar o chefe da

Receita Federal no eventual governo de Michel Temer. O assunto

foi tratado reservadamente com o vice-presidente, segundo

2 Disponivel em http://politica.estadao.com.br/noticias/geraJ,cunha-quer­indicar-novo-diretor-da-receita.10000049203. Acesso em 23.05.2016.

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alia dos do deputado. Cunha pretende apresentar om tecnico da sua

confianrya para o 6rgiio que e subordinado ao Minish~rio da Fazenda.

Fundamental na abertura de processo de impeachment da presidente

Dilma Rousseff, o peemedebista tem sido avalista de indicaryoes de

deputados para o governo Temer.

As negocia~iies de Cunha tiveram inicio antes mesmo da vota~ăo

do impeachment. Num primeiro momento, as conversas ficaram a

cargo do lider do PSC, Andre Moura (SE), e do ex-deputado

federal Sandro Mabel (PMDB-GO), que tam bem bavia sido o

principal operador da elei~ăo de Cunha para presidente da

Câmara em 2015. Apos o impeachment, o proprio Cunha assumiu

as negocia~iies. Por causa disso, ele tem sido cobrado por

lideran~as sobre o cumprimento de acordos.

Em meio a essas conversas corn partidos na Câmara, surgtu a

informaryiio de que Cunha quer indicar o novo secretano da Receita. O

orgăo e de extrema importância para colher informa~iies sobre

empresas, dentro e fora do Pais. Jnclusive para monitorar

opera~iies que podem resultar em investiga~iies. A Receita teve

papel fundamental, por exemplo, nas opera~iies Lava Jato,

Acronimo e, sobretudo, Zelotes, que revelou um esquema de

corrup~ăo no Conselho de Administrativo de Recursos Fiscais.

A mais recente tentativa de interferencia politica na Receita foi

revelada na conversa gravada corn autorizaryiio judicial entre o ex­

presidente Luiz lnacio Lula da Silva e o atual ministro da Fazenda,

Nelson Barbosa. "E precisa acompanhar o que a Receita esta fazendo

corn a Policia Federal", disse Lula a Barbosa, segundo audio

divulgado pela juiz Sergio Moro, responsavel pelos processos da Lava

lata na primeira instância. Na oportunidade, Barbosa responde de

forma monossilabica.

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Auditores ouvidos pela reportagem ja avisaram que nao vao aceitar

interferencias politicas para o comando da Receita. Desde a saida de

Everardo Maciel, que foi o secretârio do orgao no governo Fernando

Henrique Cardoso, todos os outros comandantes do orgao foram

funcionarios de carreira. E por esse motivo que o plano de aliados de

Cunha e indicar um nome dos quadros da Receita.

Negativa Questionado pelo Estado, o presidente da Câmara negou "de

forma veemente" que pediu a Temer para nomear um nome deie para

a Receita. "Niio vou indicar ninguem no govemo. Niio participo de

qualquer escolha", disse.

A assessoria da Vice-Presidencia da Republica afirmou que "o

secretărio da Receita e todos os cargos vinculados ao Ministerio da

Fazenda seri'io indicados pelo novo ministro da pasta". O nome mais

cotado e o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles

(PSD).

Por ora, Cunha mantem uma boa rela\,âo corn o vice. Apesar

disso, segundo aliados, ele guarda na manga um pedido de

impeachment contra Temer caso ele descumpra acordos firmados

antes da vota\,âo do impeachment. O presidente da Câmara tem

atuado como avalista das indica\,oes das bancadas da Casa para o

ministerio de Temer. "Ele quer garantia de que poderă contar corn

apoio no futuro", contou um deputado do PP, referindo-se ao processo

de CaSSa9aO do qual Cunha e alvo no Conselho de Etica. Por isso, o

deputado fluminense tem vetado nomes agressivos a ele.

Um caso emblematico e o da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP),

inicialmente sondada para a pasta de direitos humanos. Em novembro

do ano passado, ela pediu a saida de Cunha durante uma sessao na

Câmara. No come90 da semana, ela saiu da lista de cotados pra o

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ministerio e foi substituida por Bruno Araujo (PSDB-PE), que atuou

de forma afinada corn Cunha. Questionado, o parlamentar fluminense

"refuta" agir como avalista da formayao do Ministerio de remer.

Mesmo afastado EDUARDO CUNHA fez diversas indicayoes para

cargos estrategicos no govemo Michel remer, conforme noticiado na

imprensa:

Os homens de Cunha no governo Temer

Aliados do presidente da Câmara afastado foram nomeados para

postos estrategicos dentro do Planalto, na esplanada e na Câmara

por Redayao - publicado 18/05/2016 15h48, ultima modificayao

18/05/2016 16h11

Mesmo afastado da presidencia da Câmara pelo Supremo

Tribunal Federal (STF), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) parece

cobrar do presidente interino Michel Temer (PMDB) a conta

pela aprova\!ăo do impeachment de Dilma Rousseff.

Nesta quarta-feira 18, foi confirmado o nome de Andre Moura (PSC­

SE) para a lideranya do govemo na Câmara. Moura e um dos

integrantes da tropa de choque que tenta evitar a cassayao de Cunha

no Conselho de Etica da Casa esua indicayao tem o apoio de um

bloco parlamentar que reune 225 deputados de 12 partidos do

chamado "centrao".

Criado nesta quarta, o bloco deve dar sustentayao ils medidas

econ6micas do governo, estabelecidas coma prioridades por Temer.

Sem o bloca de apoio, o presidente interino nao teria como fazer

passar diversos projetos que precisam da anuencia do Congresso.

"Minha missao aqui e a de trazer as materias que possam permitir

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que o Pais encontre o caminho do crescimento, da estabilidade

economica, sobretudo, sob a lideran~a e orienta~ao do presidente

Michel Temer e de seus ministros que estarao discutindo conosco as

pautas", disse Moura.

De acordo corn reportagem da GloboNews, o bloco do centrao

referendou o nome de Andre Moura a pedido de Temer. Sua inten~ao

era criar um discurso de que a indica<yao nao e sa de Cunha, mas dos

12 lideres parti dări os.

Apas ser confirmado, Moura negou que tenha sido indicado por

Cunha. "Fui convidado ontem [ter<ya-feira 17] diretamente por

Michel Temer", disse Moura. Moura e reu em tres a~iies penais no

STF por desvio de recursos publicos. Contra o deputado tambem

pesa uma suspeita de tentativa de homicidio contra um ex-aliado que

virou seu inimigo politico.

Outros nomes

Postos estrategicos do govemo dentro do Palacio do Planalto tambem

foram ocupados por aliados de Cunha. O advogado Gustavo do Vale

Rocha foi nomeado por Temer para o cargo de subchefe para

Assuntos Juridicos da Casa Civil da Presidencia da Republica.

Integrante do Conselho Nacional do Ministerio Publico

(CNMP), Rocha jă defendeu Cunha no Supremo. Em 2015, ao ser

sabatinado no Senado, confirmou que advogava para Cunha, mas

disse que o fazia apenas em a~es privadas, sem rela~ao corn o MP.

J a a Secretari a de Governo, ocupada por Geddel Vieira Lima, tera

como chefe de gabinete Carlos Henrique Sobral, que ate poucos dias

atras era assessor especial de Eduardo Cunha na presidencia da

Câmara.

O jomalista Laerte Rimoli, cotado para assumir a presidencia da

Empresa Brasil de Comunicayao (EBC), tambem assessorou Cunha

na Câmara. Ele trabalhou no gabinete do peemedebista e foi um dos

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designados a conduzir a TV Câmara corn măos de ferro. Em 2014,

Rimoli foi coordenador de comunica9ăo da campanha de Aecio

Neves (PSDB-MG) it Presidencia.

Por fim, o Ministeno da Justi9a tambem foi ocupado por um aliado

de Cunha que, assim como Gustavo do Vale Rocha, ja advogou para

o peemedebista. Em 2014, Alexandre de Moraes conseguiu que

Cunha fosse absolvido no STF em uma a9ăo por uso de documento

falso. Antes de assumir a pasta da Justi9a, Moraes chegou a ser

cotado para a Advocacia-Geral da Uniăo (AGU) apas lobby

comandado por Cunha'

o deputado Andre Moura, cumpre lembrar, foi recentemente

incluido no Inq. 3989 e mencionado no pedido originărio desta A9ăo

Cautelar como um dos autores de requerimentos e inquiri9iies feitos de

forma concertada corn o requerido e alvo de novo inquerito instaurado para

apurar exatamente tais condutas. V. Exa., alias, ja constatou nestes autos

indicios de comportamento extravagante de um grupo de parlamentares, do

qual Andre Moura e um dos principais expoentes, que se comportam como

coadjuvantes das condutas desviadas do requerido, como tratado nos itens

10 a 15 da decisăo .

4. A decreta~ăo de prisăo preventiva em razăo de descumprimento de

medida cautelar alternativa il prisăo (art. 282, § 4° do cpp).

o Egregio Supremo Tribunal Federal, vislumbrando situayăo

excepcionalissima, decretou medida cautelar diversa da prisăo ao Presidente

da Câmara dos Deputados EDUARD O CUNHA, corn base no art. 319, VI

do CPP.

3 Disponi vei ern http://www.cartacapital.com.br/politi ca! os-homens-de-cunha-no-govemo-terner, acessado em 22/5/2016.

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Nesse sentido, vale destacar o seguinte trecho do voto do eminente

Ministro Relator:

"6. A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de

persecuyao criminal contra deputados encontra abrigo farto, mas nao

isolado, no principio da inafastabilidade da jurisdiyao (art. 50,

XXXV, da Constituiyao da Republica). Tambem acodem esse tipo de

medida preceitos eticos da maior re\evância, e que estao na base do

proprio sistema de representayao popular que confere movimento ao

estado de direito.

Foi o que pontuou, corn precisao, aMin. Cânnen Luci a, quando

oficiou na relatoria de ayao de habeas cor pus patrocinado em favor de

Presidente de Assembleia Legislativa Estadual que se quedava

afastado do cargo por deliberayao do Superior Tribunal de Justiya (HC

89.417). Naquele julgado, Sua Exce1encia ponderou o seguinte:

"A Constituiyao nao diferencia o parlamentar para privilegia-

10. Distingue-o e toma-o imune ao processo judicial eate

mesmo il prisao para que os principios do Estado

Democratico da Republica sejam cumpridos; jamais para que

e\es sejam desvirtuados. Afinal, o que se garante e a

imunidade, niio a impunidade. Essa e incompative\ corn a

Democracia, corn a Republica e corn o proprio principio do

Estado de Direito.

Afirmava Geraldo Ataliba, que pensar que a impunidade

possa ser acolhida no Estado de Direito, sob qualquer

disfarce, e imaginar que se pode construir uma fortaleza para

dar seguranya e nela instalar um portao de papelao. E seria

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ISSO o que teria sido construi do, constitucionalmente, se se

admitisse que a Constituiyao estabeleceu, expressamente, os

principios da Republica, corn os consectarios principiol6gicos

que lhe sao pr6prios, a garantia da liberdade do el ei tor para

escolher o seu representante a fim de que ele crie o direito

que possa atender as demandas sociais, a garantia da

moralidade e a obrigayao da probidade dos representantes

para seguranya etica dos eleitores e, paralelamente, se tivesse

permitido que se o representante trair o eleitor e fraudar a

Constituiyao rul o Estado Democratico, afunda-se a

Constituiyao, sossega-se o juiz constitucional, cala-se o

direito, porque nada ha a fazer, diante de uma regra que se

sobreporia a toda e qualquer outra; a garantir que uma pessoa

pudesse se ressalvar de qualquer regra juridica em face da

regra proibitiva de seu processamento e de sua prisao em

qualquer caso.

[ ... ]

Como se cogitar, entao, numa situayao de absoluta anomalia

institucional, juridica e etica, que os membros daquela Casa

pod eri am decidir livremente sobre a prisao de um de seus

membros, maxime quando ele e tido coma o chefe

indiscutivel da organizac;:ao [criminosa que] coordena as

ac;:oes do grupa e cobra dos demais integrantes o cumprimento

das tarefas que lhes sao repassadas. As indicac;:oes para

importantes cargos ... sao de sua responsabilidade, e controla,

mediante pagamento, os deputados estaduais (fi. 80)

E se a olhos vistos nao se poderia cumprir aquela exigencia

constitucional, como se poderia aplicar a norma insculpida no

art. 53, § 20, da Constituic;:ao da Republica, sem que se tivesse

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o comprometimento de todos os principios constitucionais,

incluidos os mais caros para que o publico seja do povo e o

particular seja de cada um sem ser pago por todos, inclusive

moralmente?

A situa~ao descrita nos autos patenteia situa~ao excepcional e,

por isso, absolutamente insujeita il aplica~ăo da norma

constitucional em sua leitura isolada e seca.

TaI como a autonomia da vontade, que e encarecida coma

expressăo da liberdade individual e que, por vezes, e amparada pela decisăo judicial por ausencia de condiy5es da

pessoa para manifestar livremente a sua vontade, nos termos

da legisla~ăo civil vigente e que e dessa forma aparentemente

(e apenas aparentemente) contradit6ria que se garante a

liberdade, tambem para garantir a vida constitucional livre e

democrătica ha que se aceitar que, em situa~5es excepcionais

e de anormalidade, como a que se apresenta no caso em foco,

o provimento judicial, fundado, rigorosa e estritamente, nos

principios que sustentam o sistema positivado, e que se

poderă garantir a integridade da Constitui~ăo. Eventualmente,

ha que se sacrificar a interpreta~ăo literal e isolada de uma

regra para se assegurar a aplicar;:ao e o respeito de todo o

sistema constitucional.

Imunidade e prerrogativa que advem da natureza do cargo

exercido. Quando o cargo năo e exercido segundo os fins

constitucionalmente definidos, aplicar-se cegamente a regra

que a consagra năo e observiincia da prerrogativa, e cria~ăo de privilegio. E esse, sabe-se, e mais uma agressăo aos

principios constitucionais, enfase dada ao da igualdade de

todos na lei.

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E a se observar esse, a prisao haverâ de ser aplicada segundo

as regras gue valem para todos guando o status funcional de

alguem ja ni'io esteja em perfeita adequa9i'io ao oficio gue

determina a aplica9i'io do regime juridico constitucional ao

agente. Entao, ter-se-a de garantir a ordem publica, gue se poe

como obriga9ao a ser assegurada por ser dever do Estado e

responsabilidade de todos (art. 144 da Constitui9i'io da

Republica). Afastar-se os principios constitucionais para

aplicar a regra excepcional nao e, seguramente, garantir a

ordem publica e a seguran9a juridica.

Em casos de tamanho comprometimento das institui90es

juridicas e politicas, a ordem publica ja nao e publica e nem e

ordem guando os agentes publicos deixaram de se investir

dessa condi9ao, a nao ser formalmente, para se locupletarem

do gue entendem ser benesses e nao deveres gue os cargos

publicos impoem ilgueles gue os proveem.

11. Aplicar coma pretende o Impetrante a norma do ar!. 53,

§§ 20 e 30 da Constitui9ao, guer dizer, coma espa9Q juridico

gue impede gue o Poder Publico cwnpra a sua obriga9ăo para

chegar il apura9ao, e, se for o caso, il eventual puni9ao de

alguns pela proibi9ao de adotar as providencias devidas para

se chegar ao fim do direito, alem de se impedir gue se extinga

o ambiente institucional contaminado por praticas gue podem

se mostrar delituosas e ao possivel cometimento de infra90es

gue se vem perpetrando no ente federado, simplesmente

porgue ni'io se pode aplicar o direito, seria chegar il mesma

equa9ao de ineficacia ja narrada em nwnerosas passagens

literărias. Mas a vida niio e fic9ao e a moral e o direito nao

hao de ser hist6rias para ser contadas sem compromisso corn

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a eficăcia.'"

Como se nota, o STF decretou a medida cautelar diversa da prisao,

consoante o disposto no ar!. 319 do CPP.

Nao obstante isso, conforme demonstrado acima, a medida caute1ar de

afastamento vem se mostrando ineficaz para o cessamento das ilicitudes

praticadas pelo Deputado EDUARD O CUNHA. Isso se deve em grande

parte pela fato de CUNHA ainda exercer de fato o poder que ostenta em

razao de sua condic;:ao de Presidente da Câmara .

Deveras, o Ato da Mesa que pretendeu regulamentar o afastamento de

CUNHA do exercicio do cargo tem claramente o desiderato de esvaziar os

efeitos da r. Decisao do STF, conforme destacado no t6pico anterior. Por

6bvio que esse ato sofi-eu influencia do Deputado, demonstrando a clara

intenc;:ao de nao dar cumprimento a r. Decisao do STF.

Alem disso, mesmo na parte que o Ato da Mesa manteve a minima

higidez da decisao judicial, a determinac;:ao do STF vem sendo descumprida.

De fato, conforme amplamente noticiado, o Deputado EDUARD O CUNHA

permanece despachando corn correligionărios e outros parlamentares na

residencia oficial coma se ali fosse extensao da Câmara dos Deputados .

As diversas indicac;:6es feitas no atual govemo nao deixam duvidas de

que o Deputado EDUARDO CUNHA permanece, de fato, no exercicio da

Presidencia da Câmara dos Deputados, o que toma, na prătica, a decisao

unânime do STF in6cua.

De acordo corn o ar!. 282, § 4° do C6digo de Processo Penal, o Juiz

poderă decretar a prisao preventiva no caso de descumprimento de medida

cautelar diversa da prisao imposta anteriormente:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Titule deverae ser

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aplicadas observando-se a: (Redacao dada pela Lei n· 12.403, de

2011).

( ... ) § 42_ No caso de descumprimento de qualquer das obrigac;:6es

impostas, o juiz, de oficio ou mediante requerimento do Ministerio

Publico, de seu assistente ou do querelante, podera substituir a

medida, impor outra em cumulacao, ou, em ultimo caso, decretar a

prisao preventiva (ar!. 312, paragraf o unico). OncJuido pela Lei n°

12.403, de 201 ]).

Na mesma linha, o paragraf o Unica do ar!. 312 do Codigo de Processo

Penal:

Art. 312. ( ... )

Paragraf o unica. A prisao preventiva tambem podera ser decretada

em caso de descumprimento de qualquer das obrigac;:6es impostas por

forca de outras medidas cautelares (art. 282, § 40). (IncJuido pela Lei

n° 12.403, de 2011).

E o que a doutrina vem chamando de prisao preventiva sancionatoria'

ou regressiva. Na propria Exposio;:ao de Motivos do Projeto 4.208 (EM n°

00022- MI, de 25 de janeiro de 2001), o Ministro da IustiCa cJaramente

afinna, ao tratar da prisao preventiva: "E acrescentada nova hipotese de

prisao preventiva, no paragraf o Unico do artigo 312, decorrente do

descumprimento de qualquer das obrigao;:oes impostas por foro;:as daih ___ medidas cautelares (art. 319)" ~

4 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal constitucional. 78 ed. rev. Sao Paulo: RT, 2012 , p. 292/293

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Referida especie de prisao, embora tenha sua ongem no Direito

Romano, passou a ser adotada corn frequencia recentemente, em especial a

partir do seculo XX, oportunidade em que esta especie de prisao passa a ser

prevista em diversos ordenamentos juridicos, sobretudo ap6s a criayao de

medidas altemativas il prisao cautelar. Realmente, trata-se de um "reforyo

cautelar", que tem como finalidade assegurar a efetividade das demais

medidas cautelares'

Confonne leciona Ada Pellegrini Grinover, e inerente il pr6pria

existencia do Poder Judiciario a utilizayao de meios capazes de tomar

efetivas as suas decisoes. Seria negar a pr6pria funyao jurisdicional pensar

em um Poder Judiciârio que nao pudesse impor suas decisoes, pois nenhuma

utilidade teriam e seria o mesmo que negar a sua existencia. 6 O poder de o

juiz impor suas decisoes decorre da pr6pria parcela de soberania que exerce,

sendo essencial il subsistencia da Justiya.'

Portanto, a possibilidade de decretayăo da prisăo preventiva em caso

de descumprimento da decisao judicial anterior, que aplicou medida cautelar

diversa, deflui năo apenas da previsăo dos artigos 282, §4°, C.c. art. 312,

paragraf o unico, do CPP, mas do pr6prio estado Democratico de Direito,

assegurado no art. 1°, caput, da Constituiyao, assim como do art. 5°, inc .

XXXV, da Constituiyao Federal, que assegura o principio da

inafastabilidade do controle jurisdicional, ao prever que "a lei nao excluira

da apreciayao do Poder Judiciârio lesao ou ameaya a direito".

5 FERNANDES, Antonio Scarance. Medidas cautelares. In: Bo/etim

IBCCRIM, n° 224. Julho/20l1.

6 GRINOVER, Ada Pellegrini. Paixao e morte do contempt of courl brasileiro. In: O processo. Estudos & Pareceres. 23 ed. Sao Paulo: DPJ Editora, 2009, p. 214. 7 ASSIS, Araken de. O contempt ofCourt no Direito Brasileiro. In: Revista de Processo, v. III. Ju1/2003, p. 18.

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Deve-se recardar, de inîcio, que a fuw;:ao jurisdicional e

absolutamente essencial em qualquer modelo de Estado Democratico.8 O

principio da inafastabilidade do controle jurisdicional, admitido em todos os

paises do mundo, assegura nao apenas o acesso il justi9a, mas o direito a

uma tutela adequada, corn garantia efetiva contra qualquer forma de

denega-;iio de justi-;a.9 De maneira ainda mais ampla, a possibilidade de

agravamento em caso de descumprimento - podendo-se chegar ate mesmo a

decreta91io da pris1io - visa assegurar o escopo politico do processo, que e justamente conferir imperatividade as decisoes para cumprir seus fins .

Nesta linha, a prisao preventiva neste caso possui natureza mista, de

conlempl of Courl, em raz1io do desrespeito da decis1io judicial - no caso da

mais alta Corte do pais - e de carâter sancionat6rio, como resposta a

conduta do imputado que afronta a decisao judicial, negando-Ihe eficacia lO•

A transgressao, neste caso, pode levar a regressao a um regime cautelar mais

rigoroso sempre que se demonstrar que nao ser mais eficiente a originâria

medida, a exigir a mudan9a da situa9ao cautelar. Il

8 COSTA, Domingos Barroso da; PACELLI, Eugenio. Prisăo Preventiva e liherdade provisaria: a reforma da Lei 12.403/11. Sao Paulo: Atlas, 2013, p. 59.

9 GRINOVER, Ada Pellegrini. Paixao e morte ... , p. 212/214. 10 Neste sentido, o item 12 da Recomenda9ao Rec(2006) 13 do Comite de

Ministros do Conselho da Europa sobre o uso da prisao preventiva, as condi90es em que tem l ugar e as medidas de prote9ao contra abusos, adotada em 27 de setembro de 2006, que estabelece: "A breach of alternative measures may be subject to a sanction but shall not automatically justify subjecting someone to remand in custody. In such cases the replacement of alternative measures by remand in custody shall require specific motivation" (grifamos).

II GREVI, Vittorio. Misure Cautelari. In: CONSO, Giovanni; GREVI, Vittorio. Compendio di procedura penale. sa ed, CEDAM: Padova, 20 , p.406

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Nesta linha, leciona a doutrina:

"( ... ) E intuitivo que as medidas do art. 319 seriam ineficazes se niio

houvesse alguma consequencia em caso de descumprimento dos

vinculos impostos. A prisiio preventiva busca, portanto, dar eficacia ao

sistema de medidas cautelares como um todo, visando fon;:ar o agente

a cumprir a ordem judicial. Por sua vez, Calamandrei jă afirmava que

as medidas cautelares possuem um objetivo publicistico: mais do que

defender direitos subjetivos, visam garantir a eficăcia e a seriedade da

funyiio jurisdicional e da administra<;:iio da justi<;:a. Afirmava que a

tutela cautelar visa, portanto, como o contempt of Court, salvaguardar

o imperium judicis. No caso da prisiio preventiva sancionataria isto

fica ainda mais clara ( ... ) No caso da prisiio preventiva em anălise, a

natureza que parece preponderar e a de medida imposta para tutelar a

dignidade da Administra<;:iio da Justi<;:a, aproximando-se do contempt

of Court, corn seu carăter sancionatario, implicito naquele instituto.

Aproxima-se de uma forma de contempt criminal e indireto, pois

possui natureza punitiva pela descumprimento voluntărio de uma

ordem judicial, visando reprimir o autor da ofensa, dissuadindo ele e

as demais pessoas a semelhante comportamento. ( ... ) Realmente, a

prisiio preventiva no presente caso diz respeito, de maneira praxima,

ao praprio escopo politica do processo, de conferir imperatividade as

decisoes para cumprir seus fins. E, assim, uma medida voltada para

assegurar a eficacia geral do sistema de cautelares e das medidas

altemativas introduzidas pela legislador corn a Lei 12.403. Realmente,

decretada uma medida alternativa a prisiio, caso haja o

descumprimento voluntărio pelo agente, a medida passa a se mostrar

insuficiente, sendo necessăria a previsiio de um "soldado de reserva",

para garantir que a prote<;:iio aos fins seja alcan<;:ada. E, portanto, uma

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tutela de segundo grau, pois atua em razao de uma tutela anterior, que

se mostrou insuficiente. Sem tutela anterior ela nao existe esua

finalidade e refon;:ar a existente. Trata-se de uma forma de tutela de

segundo grau, pois justamente visa substituir tutela anteriormente

imposta e que se mostrou insuficiente. No momento do

descumprimento, a medida anteriormente aplicada deixa de ser a mais

adequada, podendo autorizar, em ultimo caso, a decretas:ao da prisao

preventiva"" .

No caso, a decretao;:ao de prisao preventiva em razao do

descumprimento de medidas cautelares altemativas nao esta submetida ils

circunstăncias e hip6teses previstas no art. 313 do CPP, de acordo corn a

sistematica das novas cautelares pessoais. Pode-se verificar que ha um

microssistema no tocante il prisao preventiva sancionataria, que defIui da

prapria combinas:ao do art. 282, §4°, corn o ar!. 312, parăgrafo unico, que

năo aponta para qualquer condis:ao de admissibilidade e que nao faz

remissao ao art. 313. Nao bastasse, a prisao preventiva sancionataria possui

equivaH:ncia, no âmbito penal, corn a conversao da pena restritiva de

direitos em pena privati va de Iiberdade, na hipatese de descumprimento, nos

termos do art. 44, §4°, do CP. Por fim, as condi,.oes de admissibilidade

devem ser analisadas il luz de sua funo;:ao, de garantia de eficiencia do

sistema cautelar coma um todo. Veja, neste sentido, a doutrina:

Por sua vez, as condio;:oes de admissibilidade desta especie de prisao

preventiva devem ser analisadas il luz de sua funs:ao. Como se trata de

12 MENDON(:A, Andrey Borges de. Prisiio Preventiva na Lei 12403/2011. Amilise de acordo com mode/os estrangeiros e com a Convem;iio Americana de Direitos Humanos. Salvador: Juspodium, 2016, p. 428/430

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medida de natureza sancionat6ria, em hip6tese semelhante ao

contempt of Court, e admissivel em qualquer infra9iio penal que tenha

previsiio de pena privativa de liberdade. Como busca dar efetividade a

outras medidas e como houve uma conduta voluntăria do agente, que

descumpriu conscientemente as medidas alternativas impostas, niio

deve haver Iimites rigidos, para garantir ao sistema rnecanismos de

preservar;:iio, coma forma de estÎmulo ao cumprimento das medidas

impostas, entrando em questiio a credibilidade da Justir;:a. No

momento de sopesamento da proporcionalidade, devem tais fatores ser

considerados. lnc\usive, ha wn microssistema no tocante it prisiio

preventiva sancionat6ria, que deflui da pr6pria combinay1io do art.

282, §4°, corn o art. 312, paragraf o Unico, que niio aponta para

qualquer condi9iio de admissibilidade e que niio faz remissiio ao art.

313. Ademais, a prisiio preventiva sancionat6ria possui equivalencia,

no âmbito penal, corn a conversiio da pena restritiva de direitos em

pena privativa de liberdade, na hip6tese de descumprimento, nos

termos do art. 44, §4", do CP. Assim, a questiio relativa it

proporcionalidade e a subordinar;:iio da cautelar ils san90es aplicaveis

ao final do processo se soluciona. De outro giro, quando ha

descwnprimento das medidas aplicadas, o interesse da persecu9ao

penal mostra-se acima do normal, devendo ser sopesada na analise da

proporcionalidade em sentido estrito. lnc\usive, sempre houve no CPP

uma hip6tese de prisiio preventiva sancionat6ria, que era justamente o

quebramento da fian9a (praticamente Unica medida alternativa

efetivamente existente no regime originărio do C6digo), cabivel em

qualquer especie de crime. Por sua vez, conforme visto, na legisla9ao

dos tres paises analisados tambem ha certa flexibiliza9iio das

condi90es de admissibilidade da medida em caso de descumprimento

das medidas alternativas aplicadas. Conc\ui-se, portanto, que no caso

de prisao preventiva sancionat6ria, niio e necessario observar as

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condi"oes de admissibilidade do art. 313."

Assim, "Parece irrecusăvel, assim, a possibilidade de decreta"ao da

prisao preventiva no caso de descumprimento injustificado (e isso deve

restar muito bem esc1arecido!) de cautelar anteriormente imposta, mesmo

para os crimes corn pena igual ou inferior a guatro anos"14

Na jurisprudencia, veja as seguintes decisoes, deste E. STF e do STJ:

Ementa: agravo regimental em habeas corpus substitutivo de recurso

ordinârio. violayao ao principio da colegialidade. Inocorrencia. Prisao

preventiva determinada apas o descumprimento reiterado de medidas

protetivas e corn base em dados objetivos da causa. Inexistencia de

razao para a concessao da ordem de oficio. Agravo regimental a gue

se nega provimento. 1. A orientayao do Tribunal e no sentido de gue

inexiste violayao ao principio da colegialidade na utilizayao, pela

Ministro relator, da faculdade prevista no art. 38 da Lei n° 8.038/1990

e no art. 21, § 1°, do RVSTF. Precedente plenârio. 2. A decisao

agravada esta alinhada corn a orientayao da Primeira Turma do

Supremo Tribunal Federal no sentido da inadmissibilidade do uso da

ayao de habeas corpus em substituiyao ao recurso ordinârio previsto

na Constituiyao Federal. 3. Inexiste razao para a concessao da ordem

de oficio se a prisao preventiva do agravante sa foi determinada apas

13 MENDONCA, Andrey Borges de. Prisiio Preventiva na Lei 12403/2011. Analise de acordo com modelos estrangeiros e com a Conven{:iio Americana de Direitos Humanos. Salvador: Juspodium, 2016, p. 436

14 COSTA, Domingos Barroso da; PACELLI, Eugenio. Prisiio Preventiva e liberdade provis6ria: a reforma da Lei 12.403/11. Sao Paulo: Atlas, 2013, p. 59. Na mesma linha, FISCHER, Douglas. PACELLI, Eugenio. Comentarios ao C6digo de Processo Penal eSua Jurisprudencia. 6" ed. Sao Paulo: Atlas, 2014, p. 683.

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o descumprimento de anterior medida protetiva aplicada pela Juizo de

origem e o decreto de prisăo refere-se textualmente a gravidade

concreta dos fatos, a forma de execuyao dos delitos e as reiteradas

agressoes e ameayas a vitima como indicativos da necessidade da

prisao para o resguardo de direito de terceiro. 4. Agravo regimental

desprovido. (HC 121662 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO

BARROSO, Primeira Turma, julgado em 13/05/2014, PROCESSO

ELETRONICO DJe-199 DIVULG 10-10-2014 PUBLIC 13-10-2014)

RECURS O ORDINÂRIO EM HABEAS CORPUS. RECEPTA<;ĂO .

PRISĂO EM FLAGRANTE. DEFERIMENTO DE LIBERDADE

PROVISDRIA MEDIANTE FIAN<;A E CONDI<;OES.

DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGA<;:OES ASSUMIDAS.

PREVENTIVA ORDENADA. MODALIDADE DE CONSTRI<;ĂO

ANTECIPADA QUE NĂO ESTARIA SUBMETIDA AS

EXIGENCIAS DO ART. 313 DO CPP. SEGREGA<;ĂO FUNDADA

NO ART. 312 DO CPP. REU QUE PERMANECE FORAGIDO.

NECESSIDADE DE ASSEGURAR A CONVENIENCIA DA

lNSTRU<;ĂO CRIMINAL E DE GARANTIR A APLlCA<;ĂO DA

LEI PENAL. SUBSTITUI<;ĂO POR OUTRAS MEDIDAS

CAUTELARES. INSUFICIENCIA.

CON STRAN GIMENTO ILEGAL NĂO EVIDENCIADO.

RECLAMO IMPROVIDO. 1. A prisăo preventiva decretada em

razăo do descumprimento de medida cautelar anteriormente

imposta năo esta submetida as circunstâncias e hipOteses previstas

no art. 313 do CPP, de acorda corn a sistematica das novas

cautelares pessoais. 2. Nao ha o que se falar em constrangimento

ilegal quando a cust6dia esti! devidamente justificada especialmente

na garantia de aplicayao da lei penal, uma vez que, beneficiado corn a

Iiberdade provis6ria, o reu descumpriu o compromisso firmado,

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deixando de infonnar a mudan9a de endere90, inviabilizando a

regularidade da reJa9ao processual. 3. Nos termos dos arts. 282, § 4°,

e 312, parăgrafo unico, ambos do CPP, o descumprimento das

medidas cautelares impostas quando da liberdade provis6ria

constitui motiva\,ao idonea para justificar a necessidade da

segrega.;ao ante tem pus. 4. Pennanecendo o nlu foragido, a

constri9ao se mostra de fato imprescindivel, diante da fundada

necessidade de se assegurar o cumprimento de eventual condena9ao,

pois nitida a inten9ao de obstaculizar o andamento da a9ao criminal

contra si deflagrada e de evitar a a9ao da Justi~ .

5. Insuficiente a aplica9ao de medidas diversas da prisao quando o

agente, beneficiado corn a liberdade provis6ria mediante condi9iies,

nao as cumpriu deliberadamente. 6. Recurso ordinârio improvido.

(RHC 52.314/SP, ReI. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,

julgado em 23/1 0/2014, DJe 04/11/2014)

RECEPTA<;:AO. PRISAO EM FLAGRANTE. DEFERIMENTO DE

LffiERDADE PROVISaRIA MEDIAN TE FIAN<;:A E

CONDI<;:OES. DESCUMPRlMENTO DAS OBRIGA<;OES

ASSUMIDAS. PREVENTIVA. MODALIDADE DE

CONSTRl<;AO ANTECIPADA QUE NAO ESTARlA

SUBMETIDA AS EXIGENCIAS DO ART. 313 DO CPP. REU

REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO. REQUISITO DO ART. 313,

II, DO CPP. PREENCHIMENTO. SEGREGA<;:AO FUNDADA NO

ART. 312 DO CPP. NECESSIDADE DE ASSEGURAR A

CONVENIENCIA DA INSTRU<;ĂO CRIMINAL E DE GARANTIR

A APLICA<;:ĂO DA LEI PENAL. ENVOL VIMENTO EM CRIME

GRAVE ANTERIOR. REITERA<;ĂO DELITIV A. RISCO

EFETIVO. GARANTIA DA ORDEM PUBLICA.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL NAO EVIDENCIADO. ~

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1. A prisao preventiva decretada em razao do descumprimento de

medida cautelar anterionnente imposta ao paciente nao esta submetida

ils circunstâncias e hip6teses previstas no art. 313 do CPP, de acordo

corn a sistematica das novas cautelares pessoais. 2. Nao fosse por isso,

cuidando-se de paciente que ostenta condenayao definitiva anterior

pelo delito de trafico de entorpecentes, preenchido esta o requisito do

art. 313, inciso II, do CPP, autorizando a preventiva. 3. Nao ha o que

se falar em constrangimento ilegal quando a cust6dia esta

devidamente justificada na garantia de aplicayao da lei penal, uma vez

que, beneficiado corn a liberdade provis6ria, o paciente furtou-se de

cumprir o compromisso finnado, deixando de infonnar a mudanya de

endereyo e de comparecer em Juizo quando intimado, inviabilizando a

regularidade da relayao processual. 4. Nos tennos dos arts. 282, § 4°, e

312, paragrafo unico, ambos do CPP, o descumprimento das medidas

cautelares impostas quando da liberdade provis6ria constitui

motivayao id6nea para justificar a necessidade da segregayao.

Precedentes. 5. A constriyao encontra-se justificada tambem em razao

dos registros criminais do reu, revelando a propensao il pratica delitiva

e demonstrando a sua periculosidade social efetiva, dada a real

possibilidade de que, solto, volte a cometer infrayOes penais. 6.

Habeas corpus nao conhecido. (HC 286.578/SP, ReI. Ministro JORGE

MUSSI, QUINTA TURMA,julgado em 05/06/2014, DJe 18/06/2014)

HABEAS CORPUS. lMPETRA<;:ĂO OR1GINÂRIA.

SUBSTITUI<;:ĂO AO RECURSO ESPECIAL CABîVEL.

IMPOSSIBILIDADE. FURTO. TENTATIVA. PR1SĂO EM

FLAGRANTE. DEFERIMENTO DE LIBERDADE PROVIS6RIA

MEDIANTE CONDI<;:6ES. DESCUMPRIMENTO. NĂO

COMPARECIMENTO PARA ASSINATURA DO TERMO DE

COMPROMISSO. PREVENTIVA ORDENADA EM SEDE DE

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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. MODALIDADE DE

CONSTRI<;:ĂO ANTECIPADA QUE NĂO ESTARIA

SUBMETIDA AS EXIGENCIAS DO ART. 313 DO CPP.

SEGREGA<;:ĂO FUNDADA NO ART. 312 DO CPP. REU QUE

PERMANECE FORAGIDO. NECESSlDADE DE ASSEGURAR A

CONVENIENCIA DA INSTRUc;:ĂO CRIMINAL E DE GARANTIR

A APLICAC;:ĂO DA LEI PENAL. CONDIC;:OES PESSOAIS

FA voRA VEIS. IRRELEV ÂNCIA. CONSTRANGIMENTO

ILEGAL NĂO EVIDENClADO. ( ... ) 2. A prisao preventiva

decretada em razao do descumprimento de medidas cautelares

aIternativas nao esta submetida as circunstâncias e hipoteses

previstas no ari. 313 do CPP, de acordo com a sistematica das

novas cautelares pessoais. 3. Nao hă o que se falar em

constrangimento ilegal quando a cust6dia esta devidamente justificada

na necessidade de assegurar-se a conveniencia da instruyăo criminal e

a aplica'Yao da lei penal, uma vez que, beneficiado corn a liberdade

provis6ria, mediante condi.y6es, o reu deixou de comparecer em Juizo

para assinar o termo de compromisso e nao foi localizado para citayăo

pessoal. 4. Nos termos dos aris. 282, § 4°, e 312, panigrafo linico,

ambos do CPP, o descumprimento das medidas cautelares

impostas quando da Iiberdade provisoria constitui motivaţao

idonea para justificar a necessidade da segregaţao ante tempus. 5.

O fato de o acusado ter cometido o ilicito penal em questăo ap6s ser

beneficiado corn a soltura c1ausulada pela pratica de delito anterior

semelhante e circunstância a mais a autorizar a constri'Yao, diante do

risco concreto de reitera'Yao. 6. Permanecendo o reu foragido, a

cust6dia se mostra realmente imprescindivel, diante da fundada

necessidade de se assegurar o cumprimento de eventual condena'Yao,

pois nitida a inten'Yao de obstaculizar o andamento da a'Yao criminal

contra si deflagrada e de evitar a a'Yao da Justi'Ya. 7. Condi'Yoes

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pessoais favoraveis - nao comprovadas na especie nao teriam o

condao de, isoladamente, revogar a prisao cautelar, quando ha

elementos suficientes a demonstrar a sua necessidade. 8. Habeas

corpus nao conhecido. (HC 289.340/SP, ReI. Ministro JORGE

MUSSI, QUINTA TURMA,julgado em 25/11/2014, DJe 05/12/2014)

No caso, evidenciado o descumprimento voluntărio, injustificado e

consciente das medidas aplicadas por este E. STF, urge a decreta"ao da

prisao domiciliar do requerido - medida suficiente, adequada e proporcional

para enfrentar a situa"ăo de risco criada, desde que aplicada em cumula,ăo

cam ou/ras medidas solici/adas

5. Pedido.

Em razao dos gravissimos fatos expostos, o Procurador-Geral da Re­

publica reguer:

a) a decretacăo da prisăo preventiva do Deputado Eduardo Cunha;

b) caso, por hip6tese, V. Exa. entenda descabida, por ora, a prisăo pre­

ventiva, o Procurador-Geral da Republica requer a imposi"ao cumulativa

das seguintes medidas cauteJares altemativas il prisăo (art 319, CPP):

(b.l) uso de dispositivo pessoal de monitoramento eletr6nico (tomoze­

leira);

(b.2) proibi"ăo de contato de qualquer especie, incJusive por meios re­

motos (telefone, e-mail, mensagens de texto ou qualquer forma de co­

munica"ao), corn parlamentares federais e estaduais, Ministros de

Estado, servidores da Câmara dos Deputados e qualquer investigado

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ou reu na Opera9ao Lava Jato ou em algum dos seus desmembramen­

tos;

(b.3) proibi9ao de ingresso em quaisquer reparti90es publicas, em es­

pecial o Congresso Nacional, salvo como usumo de servi90 certo e

determinado ou para o exercicio de direito individual desde que comu­

nicado previamente a essa Corte .

(bA) recolhimento domiciliar no periodo de funcionamento da Câ­

mara dos Deputados, de segunda a sex ta-feira, das 8hOO as 22hOO.

(b.S) proibi9ăo de ausentar-se do pais sem previa comunica9ăo ao Su­

premo Tribunal Federal, na pessoa do Relator da AC 4170, devendo

para tanto entregar seu passaporte em juizo.

(b.S) caso năo seja acolhido pedido contido no item b.6, requer, ao

menos, o recolhimento do passaporte diplomatico do Deputado e de

seus familiares, visto que a utiliza9ăo deste e prerrogativa inerente ao

exercicio do mandato parlamentar que ora se encontra suspenso por

decisăo do STF.

Requer, ainda, independentemente da decreta9ăo dos pedidos cautela­

res nas alineas "a" e "b" acima, enquanto durar o afastamento do exercicio

do mandate, a SUSPENSĂO das seguintes prerrogativas inerentes ao

exercicio do mandato parlamentar e da Presidencia da Câmara:

a) uso da residencia oficial da Presidencia da Câmara dos Deputados;

b) seguran9a pessoal destinada ao Presidente da Câmara dos Deputa-

dos;

c) utiliza9ăo do transporte aereo e terrestre oficiais, visto que este s6

d~, = utilUodo ~ _ do n""'cio do m"""o; /

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d) utiliza9ao dos servidores pilblicos da Câmara dos Deputados, visto

que estes s6 devem atuar em assuntos relativos ao exercicio do mandato, o

qual se encontra suspenso;

e) convoca9ao do suplente do Deputado Eduardo Cunba, a fim de ree­

quilibrar a representatividade do Estado do Rio de Janeiro na Câmara dos

Deputados, que se encontra desfa\cada em virtude do afastamento do reque­

rido.

Ressalta-se, por fim, que a presente AC tramita, segundo anota9ao no

sitio desta Egnjgia Corte, em segredo de justi9a. Contudo, mantida a trami­

ta9ao do presente requerimento nesta modalidade, a movimenta9ao proces­

sual, corn a protocoliza9ao do presente requerimento, seră atualizada e,

provavelmente, objeto de especula9ao acerea de seu conteildo, tendo em

vista que diversas pessoas, inclusive profissionais da imprensa, alem do

acesso comum pela site, detem a certifica9ao eletr6nica hăbil a verificar em

mais detalhes o andamento. Requer-se, por taI razao, que a tramita9iio do

presente requerimento, ate sua anălise e eventual cumprimento, se de na mo-

dalidade oculta.

Brasilia (DF), 23 de

Rodrigo Janot n "iro de Barros V

Procurador-Geral da Republica

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DA CAMARA DOS DEPUTADOS

ANO LXXI- SUPL. AO N° 75 &'IBA.DO, 14 DE MAIODE 2016

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MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

(Bienio 2015/2016)

PRESIDENTE EM EXERCiclO WALDIR MARANHĂO (PP-MA)

1° VICE-PRESIDENTE WALDIR MARANHĂO (PP-MA)

2° VICE-PRESIDENTE GIACOBO (PR-PR)

1° SECRETARIO BETO MANSUR (PRB-SP)

2° SECRETARIO FELIPE BORNIER (PROS-RJ)

3a SECRETARIA MARA GABRILLI (PSDB-SP)

4° SECRET ARIO ALEX CANZIANI (PTB-PR)

1° SUPLENTE MANDETTA (DEM-MS)

2° SUPLENTE GILBERTO NASCIMENTO (PSC-SP)

3a SUPLENTE LUIZA ERUNDINA (PSOL-SP)

4° SUPLENTE RICARDO IZAR (PP-SP)

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ATODAMESAN, ~8 ,DE,2016,

Dispâe sobre a preservacăo das pre"ogafivas do Pres!denle da Cămara dos Deputados, Depulado Eduardo Cunha, durenle o per/odo de suspensâo do exerc/c/o do mandalo em razăo de decisăo do Supremo Tribunal Federal na AClio Caulelar n. 4.01O/DF.

A MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, no uso de suas atnbuiyOes regimentais, resolve:

Arl 1° O Presidente da Cămara dos Deputados Jegitimamente eleito para o bio!!nio 2015-2017, Deputado Eduardo Cunha, aeha-se suspenso do exercicio das funyOes de Presidente desta Casa, em razllo da decisăo do: Supremo Tribunal Federal na AyIlo Cautelar n. 4.070/DF, a partirde 5 de maio de 2016 alo!! ulterior deeisllo judicial .

Paragraf o unica. Nâo se tratando de hip6tese de vacância do cargo na Mesa Diretora, as funyOes de Presidente d,;,sla Casa serâo exercidas nos termos regimentais.

Arl ~. Fi~ ao Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Eduardo Cunha, durante a suspensao do exe~eicio de seu mandato, as seglÎl~ ativas:

- Uso da residencia oficial;" II - seguranya pessoal;

.. " 111- assisto!!ncia ă saude:-

IV - transporte aered e terrestre; V - subsidio inteQral;

VI- equipe a serviyo do gabinete parlamentar.

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DIÂRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS - SUPL. Maio de 2016

Art. 3° Este Ato entra em vigor na data de sua publica~o. produzindo efeitos a partir de 5 de maia de 2016 .

Mara Gabrill 3° Secretario

- ~,"V- .. : FeIP~~

2" SEicretario

·Alex Canzlani 4° Secretario

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Maio de 2016 DIARIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS - SUPL. Saba do 14 5

JUSTIFICACĂO

o presente Ato da Mesa tem como objetivo dar cumprimento ă decisăo proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da Avao Cautelar n. 4.070-0F. na sessăo do dia 5/5/16. ocasiăo em que restou determinado a suspensăo do exercicio do mandato do Oeputado Eduardo Cunha e. por consequ~ncia. da funyao de Presidente da Cămara dos Deputados.

A situa~ăo nilo compreende hip6tese. de vacância do cargo. por se tratar de suspensăo temporaria e caute Iar do Presidente da Casa. Nesse contexto. a Mesa Diretora deve fixar os parâmetros da consequencia dessa decisăo. especialmente quanto ă preservavao das prerrogativas do Deputado eleito legrtimamente pela maioria da Casa. enquanto a questao nao seja definitivamente julgada pelo Supremo Tribunal Federal.

E importante o registro de que se trata de hip6tese excepcional. pontual e extraordinaria. nao disciplinada em qualquer outro Ato da Mesa: o Deputada nilo foi afastado do seu cargo para. eventualmen!e. ocupar outro cargo publico, muito menos houve seu afastamento definitivo. O afastamento foi apenas temporario, o que significa dizer que o Deputado Eduardo Cunha ainda e o Presidente da Câmara dos Deputados, encontrando-se apenas afastado temporariamente das suas fun~6es, por decisâo precăria e sujeita a a1tera~o a qualquer momento .

Por fim. cabe .ressaltar, ainda, que o Senado Federal. nesta data, em razăo do afastamento da Senhora Presidente da Republica no julgamento preliminar do prooesso de impedimento. garantiu coma p:errogativas do cargo o uso da residencia oficial, seguran~ pes ssistencia a sau de. transporte aereo e terrestre, remunerayâo eequipe a servi9 no gabinete pessoal da Presidencia. Dessa maneira. tendo em vista que O Pr . idente Eduardo Cunha permaneoe titular da funcâo de Presidente de um POder da Republica. nada mais justo que se assegure ~. el tame o simetrico ao conferido a Chefe do Poder Executivo ora afastad "

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Coordenadoria de Processamenlo Inicial Segâo de Recebimenlo e Oislribuigâo de Originarios

AC n° 4.175

CERTIOÂO

Certifico, para os devidos fins, que, nesla dala, nas dependencias do

gabinele do Minislro Relalor, procedi il auluagâo e dislribuigâo desle feilo

cam as caulelas de sigila previslas no art. 230-C, §2°, do RISTF (ocuIIO).

Brasilia, 23 de maia de 2016.

{ff0l17h9-Lessana Dias do Carmo - Mat. 1974

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Tenno de recebimento e autua~o

Estes autos foram recebidos e autuados nas datas e com as observa«oes abaixo: AC n04175 PROCED. : DISTRITO FEDERAL ORIGEM. : SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NUMERO DO PROCESSO NA ORIGEM : 4175 AUTOR(AlS)(ES): MINISTERIO PUBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DA REPUBLICA

QTD.FOLHAS: 46 QTD.VOLUME: 1 QTD.APENSOS: O

ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL Ilnvestiga«ăo Penal

DATA DE AUTUAC;;ĂO: 23/05/2016 -19:41:37

Certidao de distribui~o

Certifico, para os devidos fins, que estes autos foram distribuldos ao Senhor MIN. TEORI ZAVASCKI, com a adocao dos seguintes parAmetros: - Caracteristica da distribui«ăo:PREVENC;;ĂO DO RELATOR/SUCESSOR - Processo que Justifica a preven«ăo Relator/Sucessor: AC;;ĂO CAUTELAR n° 4070 - Justificativa: RISTF, ar!. 69, caput DATA DE DISTRIBUIC;;ĂO: 23/05/2016 -19:47:00

Brasflia, 23 de Maio de 2016 .

Coordenadoria de Processamento Inieial (documento eletrOnico)

TERMO DE CONCLUSĂO

Fa~a estes autas conclusos ao(a) Excelentfssimo(al _ Senhor(a) Ministro(a) Relatar, cg,r1J, 0/ vOlume(s). Brasilia, L::Ld:z..:111atW de 2016.

~.9 Lessana Dias do Carma - 1974

LESSANA, em 2310512016 as 19:48.

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