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25 DE ABRIL 1º DE MAIO 39º ANIVERSáRIO ENTREVISTA www.ps.pt N. O 1368 DIRETOR MARCOS Sá ABRIL/MAIO 2012 L'IMPORTANT C'EST LA ROSE ELEIçõES NA FRANçA // PáGS. 16 OPINIãO MIGUEL LARANJEIRO / ACáCIO PINTO / SóNIA SANFONA EURICO BRILHANTE DIAS / VICTOR FREITAS / MARIA DE BELéM ROSEIRA PÁG. 5 PÁG. 13 PÁG. 14 PÁG. 6 PS em rutura democrática com maiores adversários de Abril Jornada de luta e festa NUNCA COMO AGORA PRECISAMOS TANTO DE SOCIALISMO ROSA ALBERNAZ “O PS tem um papel relevante na defesa de igualdade de oportunidades e de direitos entre homens e mulheres” ENTREVISTA A ANTÓNIO JOSÉ SEGURO “Temos como prioridade o combate às desigualdades” Em entrevista ao “Acção Socialista”, António José Seguro arrasa a política económica e social do atual Governo, que está a “afundar o país”, e afirma que uma das suas prioridades é o combate às desigualdades sociais. // PÁG. 8 António José Seguro dirigiu uma emotiva mensagem aos fundadores do PS presentes no almoço comemorativo do 39º aniversário do partido Uma delegação de dirigentes do PS esteve presente nas comemorações do 1º de maio, da UGT e da CGTP, marcadas pela luta contra a ofensiva do Governo contra o mundo do trabalho.

Acção Socialista n.º 1368

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Nesta edição do "Acção Socialista" destacamos uma grande entrevista ao nosso secretário-geral, onde António José Seguro critica a política económica e social do Governo avançando com as propostas alternativas do PS. Pode ainda ler neste número um trabalho sobre as primeiras reuniões do LIPP (Laboratório de Ideias para Portugal) onde se recomenda, entre outas medidas, que a Europa para avançar terá que assentar num novo modelo de desenvolvimento e uma entrevista à camarada Rosa Albernaz, líder das mulheres socialistas de Aveiro, onde recorda o papel ativo que o PS tem vindo a desempenhar na luta pela igualdade de género. Pode ainda ler artigos de opinião de Miguel Laranjeiro, Acácio Pinto, Sónia Sanfona, Eurico Brilhante Dias, Victor Freitas e da presidente do PS Maria de Belém Roseira. Com suplementos «Europa» e «Jovem Socialista».

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25 de abril 1º de maio39º aniversário entrevista

www.ps.pt

N.o 1368 diretor marcos sáABRIL/mAIo 2012

l'important c'est la roseeleições na frança // PáGs. 16

opiniãomiGuel laranjeiro / acácio Pinto / sónia sanfona

eurico brilhante dias / victor freitas / maria de belém roseira

PÁG. 5 PÁG. 13PÁG. 14 PÁG. 6

ps em rutura democrática com maiores adversários de abril

Jornada de luta e festa

nunca como agora precisamos tanto de socialismo

rosa albernaz“o ps tem um papel relevante na defesa de igualdade de oportunidades e de direitos entre homens e mulheres”

ENTREVISTA A ANTÓNIO JOSÉ SEGURO

“temos como prioridade o combate às desigualdades”Em entrevista ao “Acção Socialista”, António José Seguro arrasa a política económica e social do atual Governo, que está a “afundar o país”, e afirma que uma das suas prioridades é o combate às desigualdades sociais.

// PÁG. 8

António José Seguro dirigiu uma emotiva mensagem aos fundadores do PS presentes no almoço comemorativo do 39º aniversário do partido

Uma delegação de dirigentes do PS esteve presente nas comemorações do 1º de maio, da UGT e da CGTP, marcadas pela luta contra a ofensiva do Governo contra o mundo do trabalho.

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A Escaldarabandonar austeridade a qualquer preço Perante os novos ataques à Grécia e após serem conhecidos os novos níveis recorde de desemprego em Portugal, António José Seguro diz que é tempo do Governo perceber finalmente que a única resposta para a atual situação é “abandonar a austeridade a qualquer preço e, em alternativa, consolidar as contas públicas através de uma agenda para o crescimento e emprego”.“os próximos dias vão ser decisivos”, avisa o secretário-geral do PS, numa alusão à próxima reunião do Conselho Europeu em Bruxelas.

Quentesegunda oportunidade para crescimento

o projeto de resolução do PS sobre o Documento de Estratégia orçamental de Portugal (2012/2016) apela ao Governo para reavaliar e rever as medidas de forma a incluir a promoção do emprego e do crescimento.o projeto reafirma o compromisso do PS com as metas da “troika”, referindo, porém, a existência de uma divergência estratégica face às opções políticas do Executivo e repudiando o processo adotado pelo Governo antes de entregar o Documento de Estratégia orçamental em Bruxelas, “sem qualquer consulta prévia à Assembleia da República”. Friodireita acaba com cultura e arrasa saúde o jornal francês “Le monde” publicou textos sobre “Portugal face ao quotidiano da austeridade”, olhando para a Saúde, “setor na primeira linha das restrições orçamentais”, e para a Cultura, onde descreve um cinema “em risco de colapso”.A reportagem parte da imagem do Hospital de São João, no Porto, “um serviço de ponta cortado ao meio”, para dizer que “essa é também a imagem do sistema de saúde português”. os doentes do Serviço Nacional de Saúde, lê-se, “tornaram-se progressivamente clientes” e é caso para acrescentar, “insatisfeitos”.

Geladonovo máximo histórico no desemprego é 14,9%

A taxa de desemprego portuguesa atingiu os 14,9% da população ativa no primeiro trimestre de 2012, o nível mais alto de sempre, segundo dados

divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística. Pedro Passos Coelho deve estar exultante com a proporção que tem assumido este universo de

“oportunidades”! marY rodrigues

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siga-nos no tWitter @PSoCIALISTAsiga-nos no tWitter @PSoCIALISTA

Genève, Suíça, 1964. mário Soares, Tito de morais e Ramos da Costa criam a Acção Socialista Portuguesa, precursora do Partido Socialista, que viria a ser fundado em 1973.

discriminação inadmissível dos homossexuais em áfrica

CARTAS DOS MILITANTES

(des)interesse públicomIGUEL SANToSmILITANTE Nº 85578SECção – SEIxAL/ARRENTELAO recente caso político da demissão do secretário de Estado da Energia na sequência do estudo sobre as ‘rendas excessivas’ dos produtores de energia eléctrica, veio mostrar de forma ine-quívoca que este Governo não está em funções para defender o interes-se público.[...] E aqui é que se nota os dois pesos e as duas medidas na governação: re-lativamente ao cidadão comum o Go-verno não teve nenhum problema em cortar subsídios, salários e pen-sões, mas quando confrontado com interesses instalados e ilegítimos das grandes empresas cede de forma vergonhosa.É intolerável que numa situação de emergência nacional como a que atra-vessamos, os sacrifícios não sejam distribuídos de forma justa e equita-tiva. Pior: este Governo coloca todo o peso dos sacrifícios nos cidadãos mais fracos e protege grandes empresas – com lucros imensos – de verem au-mentadas minimamente a sua contri-

buição! Nem mesmo com a bênção da troika…

o Futuro das regiõesse hoJe portugal Fosse uma Jangada PAULA NoBRE DE DEUSA tradicional jangada é conhecida pela capacidade de navegar contra o vento e a sua vela triangular, também conhe-cida como "vela latina", permite usar a força do vento aproveitando a dife-rença de pressão do ar para enfren-tar as correntes. Talvez seja o que fal-ta a Portugal, porque com submarinos não vamos lá. Enfrentamos correntes desconheci-das e contrárias que não controlamos nem conhecemos. As correntes libe-rais que atravessam o mundo, a Eu-ropa e Portugal, estão a devastar os povos e os instrumentos de navega-ção que temos vindo a utilizar não são confiáveis e estão obsoletos. As dificuldades que antevemos para amanhã somam às desilusões de hoje e todos sabemos que o modelo de go-vernação que seguimos não tem alma e está esgotado. Se, hoje, o país fos-se uma jangada navegaria sem rumo

e rapidamente se afundaria, porque o peso está todo num dos lados, o lado do litoral (mais de 80% da população e da riqueza do país está concentrado numa faixa entre Braga e Setúbal). Só um marinheiro incauto ou inexpe-riente se atreve a navegar assim. Para chegar ao destino qualquer um sabe que o equilíbrio é a chave da solução. Para a jangada se equilibrar precisa de contrabalançar com peso do outro lado, o equivalente à faixa interior de Portugal e a regionalização pode ser o que falta para garantir esse equilí-brio. No entanto, implica um proces-so de desenvolvimento de medidas de ordem institucional, acompanha-das do reforço da capacidade de de-cisão regional. O plano de esvaziamento de compe-tências de serviços, Direções Regio-nais e, nomeadamente das Comis-sões de Coordenação e Desenvolvi-mento Regional (CCDR), vai no senti-do inverso. É desta forma que vamos estimular e atrair investimento para o interior? Não. Hoje alguém acredita que o planeamento regional concebi-do no Terreiro do Paço é uma opção estratégica de desenvolvimento regio-nal? Não. Talvez a regionalização seja a solução que falta à troika impor a Portugal. A verdade é que nunca tivemos uma Ad-ministração Pública em que o direi-to de tutela deixasse de ser exercido a partir de cima para passar a verifi-car-se um controlo baseado em rela-ções horizontais, de interdependência e complementaridade, entre os diver-sos setores descentralizados. A regionalização visa precisamente: atenuar os desequilíbrios de desen-volvimento entre as diferentes regi-ões em que se pode considerar divi-dido o território; aumentar a eficiên-cia e eficácia da Administração Públi-ca, e estimular a participação das po-pulações na decisão e nos processos de desenvolvimento. Assim definida, a regionalização poderia contribuir para que Portugal fosse uma jangada com capacidade de navegar.

A delegação portuguesa que participou na reu-nião da União Inter-Parlamentar (UIP), realiza-da recentemente no Uganda, criticou a crescente criminalização da homossexualidade nos países africanos.Perante os dois milhares de deputados que inte-gram a UPI, uma espécie de parlamento mundial, a deputada socialista Rosa Albernaz – uma dos oito delegados portugueses – explicou como intro-duziu a questão no meio de uma intervenção so-bre saúde, “estratégia” que costumava usar quan-do era difícil falar sobre a ocupação indonésia de Timor-Leste.Na verdade, a ideia foi sempre abordar o trata-mento da homossexualidade que, na generalidade dos países africanos, tem resultado numa crescen-te criminalização.

Refira-se que qua-tro países africanos – Sudão, Somália, Ni-géria e Mauritânia – condenam os ho-mossexuais à pena de morte e que 30 outros a criminalizam, alguns com perpétua.Mas, em causa está agora um projeto que prevê a pena de morte para os homossexuais no Uganda, e impõe também a sua denúncia.“No século XXI apresentar-se um projeto de lei que, além da pena de morte, também tem um ar-tigo em que pais, irmãos, familiares, vizinhos são obrigados a denunciar a pessoa que eles acham que é homossexual é inadmissível numa socieda-de justa”, denunciou Rosa Albernaz. M.R.

acção socialista há 30 anos

29 de abril de 1982Um encontro de mário Soares com trabalhadores socialistas e a intervenção de manuel Alegre na manifestação popular de homenagem aos capitães de Abril, por ocasião de mais um aniversário da Revolução dos Cravos, eram duas das notícias em destaque na edição de 29 de Abril de 1982 do órgão oficial do PS, “Acção Socialista”. Um número que refletia as iniciativas de luta dos socialistas contra o Governo da AD em vários pontos do país. De punho erguido e com os seus valores de liberdade, igualdade e fraternidade, o PS intensificava a luta e construía a alternativa.

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ser

socialista

Nas comemorações do 39º aniversário do PS é sempre bom olhar para trás e reconhecer a importância crucial do nos-so partido no estabelecimento das bases para uma de-

mocracia pluralista, razão pela qual homenageio neste editorial a coragem dos nossos fundadores, pois definiram para sempre o nosso caminho enquanto partido: transformar com justiça social a nossa sociedade e o nosso país.Esse caminho iniciou-se quando os nossos fundadores se reuni-ram em Bad munstereifel, em 19 de Abril de 1973, na República

Federal da Alemanha. Um dos principais de-safios que tinham pela frente era transfor-mar a então Acção Socialista Portuguesa num partido político.A partir daí o PS sempre foi um partido aberto e plural. E, no primeiro mês de li-berdade, teve cerca de cem mil adesões, tornando-se num partido determinante do novo regime democrático. Rapidamente, transformou-se num partido nacional e po-pular, bem implantado em todo o território, merecendo o voto repetido de muitos por-tugueses que desejam o progresso e desen-volvimento do país, com mais justiça social, no quadro de um Estado de Direito.Nos dias de hoje questionam-me frequen-temente sobre o que é ser socialista. Vou dar-vos uma resposta simples, mas cla-ríssima. Permitam-me, por isso, que par-tilhe convosco uma breve citação do nos-so fundador mário Soares, que considero magnânime:“…o partido, caros camaradas, que é o nosso, tem uma alma, que está muito em sintonia com o sentimento popular portu-guês. Uma alma no sentido afetivo da so-lidariedade com os mais pobres e os mais desfavorecidos. Uma fraternidade entre os

que se batem pelos mesmos valores e ideais, de justiça social e de desenvolvimento sustentado. É isso que nunca podemos esquecer, devendo, de geração em geração, reanimar a alma do nosso par-tido, mantendo o orgulho de sermos socialistas, quer estejamos no Governo quer na oposição. Porque, para além do poder, que é um importante instrumento de ação ao serviço da comunidade, estão as ideias, as causas generosas e os valores do humanismo socialista, que nos orientam…”É um orgulho Ser Socialista.

Marcos Sá[email protected]

Um momento da campanha da CEUD – Comissão Eleitoral de Unidade Democrática às legislativas de 1969, em plena ditadura marcelista, que serviu para os socialistas afirmarem

uma estratégia autónoma de oposição face aos comunistas.

[O PS] no primeiro mês de liberdade,

teve cerca de cem mil

adesões, tornando-se num partido

determinante do novo regime

democrático

EDITORIAL

conferência liPP

europa deve apostar num novo modelo de desenvolvimento“o Governo está de forma deliberada a enfraquecer o consenso e o diálogo com o PS”, lamentou António José Seguro referindo-se ao facto de o Executivo ter recusado a proposta de adenda do PS ao Tratado orçamental europeu e de ter enviado para Bruxelas, nas costas do Parlamento e do Partido Socialista, o Documento de Estratégica orçamental (DEo).

Seguro, que falava à margem da conferência “Crise na Zona Euro: Cenários para a Europa”, organizada pelo Laboratório de Ideias e Propostas para Por-tugal (LIPP) e pela Fundação Friedrich Ebert, que teve lu-gar num hotel de Lisboa, acon-selhou por isso, o primeiro-mi-nistro e o Governo a não “brin-carem com coisas sérias”.

Casa cheiaA iniciativa do LIPP e da Funda-ção Ebert teve sala cheia para ouvir Maria João Rodrigues, João Ferreira do Amaral e Ma-nuel Aleixo, salientarem a ne-cessidade da Europa começar desde já a apostar em políti-cas de crescimento económico

como único caminho para o fu-turo da Europa.Para a ex-ministra da Qualifi-cação e Emprego do Governo de António Guterres e conse-lheira das instâncias europeias para as questões socioeconó-micas, os países da zona euro precisam de redesenhar uma nova ótica na sua construção, de modo a enfrentarem a crise“ que está longe de acabar”.Para Maria João Rodrigues, as atuais dificuldades por que passam a esmagadora maioria dos países do euro não se de-vem só ao facto de existir “uma cartilha orçamental” estabele-cida por alguns governos mais conservadores ou pela indisci-plina dos restantes, porque o

verdadeiro problema da crise europeia, acrescentou, “não se resume a uma única crise mais a três”, e que passam pelo atu-al modelo de crescimento, pelo sistema financeiro e pela crise na construção europeia, pro-blemáticas que em sua opinião devem ser encaradas de frente e de forma integrada.Também João Ferreira do Ama-ral defendeu que não sendo o crescimento económico o “alfa e o ómega” da zona euro, repre-senta, todavia, neste momento “um ponto crucial”, porque sem crescimento económico, disse, “não há emprego” e sem polí-ticas activas de emprego o que fica em causa é o modelo social europeu. R.S.A.

conferência - “democracia e ParticiPação Política”

A cidade do Porto foi palco, no dia 12 de Maio, da segunda conferência do LIPP com o tema “Democracia e Participação Política”.Com a presença do secretário-geral do PS, An-tónio José Seguro, esta conferência, organiza-da em conjunto com a Fundação Friedrich Ebert, debateu o défice participativo dos ci-dadãos na vida política, uma realidade vivi-da no país.Foi destacada a ideia de que a participação

é importante para a esquerda democráti-ca, “porque todos os cidadãos são membros de uma comunidade política”, com direitos e, consequentemente, com deveres.A este propósito foi realçado que as forças da esquerda democrática defendem uma demo-cracia política forte e participada, única via para a construção de uma democracia social sustentada na solidariedade, igualdade e na justiça social.O painel de intervenientes foi composto por Marina Costa Lobo, Nelson Dias e Cláudia To-riz Ramos.

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a 19 de abril, 1973, em bad-munstereifel, na então alemanha federal, é criado o Partido socialista.

encontros com autarcas

este é o governo mais centralista da democraciaAntónio José Seguro atravessou o país para debater com autarcas socialistas a lei do Governo sobre o regime jurídico da reorganização administrativa autárquica, iniciativa que o líder do PS classificou de “má lei ou leizinha”.

Encontros que foram o pretexto para que o líder do PS pudesse discu-tir e debater os problemas que cruzam os municípios e as freguesias, a legislação autárquica, a proposta do Governo de extinção de fregue-sia e os apoios do QREN, lamentando repetidamente a ausência de sensibilidade do Executivo de direita.Depois de reafirmar ser este o “Governo mais centralista da história da democracia portuguesa”, Seguro criticou o combate desenfreado e “sem qualquer sentido ou critério” que o Executivo de direita está a fazer ao programa Novas Oportunidades ou à escola pública, salien-tando que o Governo de Passos Coelho prefere percorrer o caminho do “preconceito e da desvalorização da inteligência nacional” fazen-do ataques duríssimos a duas das bandeiras que mais “orgulham os socialistas”.Em Setúbal, perante uma sala esgotada, António José Seguro defen-deu que se tem de assacar aos partidos da maioria a responsabilida-de de terem aprovado no Parlamento, “sob protesto de toda a oposi-ção”, a lei do regime jurídico da reorganização administrativa territo-rial autárquica, iniciativa que, como salientou, vai contribuir “entre outras maldades” para a redução de mais de mil freguesias”, classifi-cando a iniciativa como “uma má lei” ou “uma leizinha”.Trata-se de um atentado ao serviço público, não ajudando ao seu re-forço e eficiência e não contribuindo em nada para a redução de cus-tos, “como aliás o próprio Governo já veio reconhecer”, contrariando assim, o que ficou estabelecido no memorando da troika.Chegados aqui, alerta o líder do PS, é aconselhável que se tenha cons-ciência de que o problema começa na “percetível desconfiança” que a maioria demostra em relação aos eleitos locais aproveitando-se de uma ideia errada que “infelizmente a população tem da maneira como os autarcas gerem os dinheiros públicos”. R.S.A.

Vítor SousaBraga

1. Destaco duas iniciativas: o pro-jeto de Regeneração Urbana e o projeto de Braga 2012|Capital Europeia da Juventude.

No primeiro, pretende-se con-solidar uma estratégia que o município prossegue desde há muitos anos e que passa pela reabilitação e requalificação do centro histórico. Este proje-to, para além da requalificação e reabilitação de ruas e praças, visa o desenvolvimento da pro-moção do emprego, inserção e difusão cultural.

Quanto ao segundo exemplo, é um evento que marcará todo o mandato autárquico, pela audá-cia de uma programação ímpar que deixará bem vincada a mar-ca de uma cidade jovem, e pre-parada para o futuro.

2. Considero a Reforma Admi-nistrativa proposta pelo Go-verno um absurdo, designada-mente no que respeita ao cor-te do número de juntas de fre-guesia. Trata-se de uma medida que reúne a oposição da maio-ria dos eleitos locais porque en-fraquece a qualidade da nossa democracia.

Quem acredita nesta reforma proposta pelo Governo, feita na clausura dos gabinetes, numa lógica de regra e esquadro des-conhece por completo o país real.

3. É um balanço positivo. O poder local democrático é o grande motor de desenvolvimento so-cial e civilizacional do Portugal democrático. Isto porque a go-vernança dos municípios e fre-guesias assenta em dois prin-cípios estruturantes: Da subsi-diariedade e da proximidade. Princípios que garantem que um mesmo euro é melhor apli-cado por quem conhece melhor os problemas e as realidades locais.

Carla TavaresAmadora

1. Desde 1997 que a linha orientadora da gestão socia-lista do município da Ama-dora se tem centrado nas pessoas.

Destaco, entre outras, as po-líticas municipais empreen-didas junto das crianças e dos seniores.

Quanto aos mais novos, para além do investimento na re-cuperação e qualificação do espaço escolar, a edilidade lançou um projeto de “Escola a Tempo Inteiro”, através do programa Aprender&Brincar que complementa o progra-ma lançado pelo Governo do PS de atividades de enrique-cimento curricular.

Na outra vertente, a Câma-ra da Amadora lançou em 2009 o projeto “AmaSénior – Apoio Alimentar a Idosos” para dar resposta a uma ne-cessidade básica de muitos dos nossos munícipes mais idosos, uma vez que grande parte dos acordos existentes apenas abrangia o serviço de apoio domiciliário de segun-da a sexta-feira. Para permi-tir que essas pessoas tam-bém pudessem usufruir de uma refeição aos fins de se-mana e feriados, em parceria com IPSS do concelho, esten-demos esses apoios.

2. A posição do PS merece, da nossa parte, total concordân-cia. Defendemos uma Refor-ma Administrativa que im-plique alterações na Lei das Finanças Locais, assim como no Regime Jurídico de fun-cionamento dos órgãos dos municípios e freguesias e não apenas um corte cego no número de freguesias.

3. O Poder Local foi uma das principais conquistas do 25 de abril de 1974. A autarquia

da Amadora foi, aliás, o pri-meiro município a ser criado após a Revolução. As autar-quias locais têm dignificado os valores da “Revolução dos Cravos”, contribuindo para a implementação do Estado Social e da democracia par-ticipativa. Sem o impulso das autarquias locais teria sido mais difícil cumprir Abril.

Isabel GuerreiroPortimão

1. A construção de raiz da pri-meira escola pública bási-ca e secundária que junta o percurso educativo normal com o ensino integrado e ar-ticulado da música, com cur-sos profissionais também na área artística.

Uma forte aposta na inclusão social ao eliminar, por exem-plo, as barreiras arquitetóni-cas no centro da cidade, atra-vés de um percurso pedonal seguro e sem barreiras, com mais de 5 km com sinalética e informações em Braille.

2. A Reforma Administrativa do Governo está amputada de uma estratégia de reorgani-zação do Estado e contami-nada por uma visão econo-micista das funções sociais que lhe cabem. Isto levará à extinção de muitas juntas de freguesia, designadamente das que estão mais próximas das populações rurais.

3. Muito positivo. Sem um po-der local forte, teríamos uma democracia fraca, incapaz de mobilizar os cidadãos e de concretizar políticas de pro-ximidade, designadamente na área da cultura, do des-porto, da educação, da ação social e saúde. É este o pa-trimónio que em nome do 25 de Abril não podemos permi-tir que seja posto em causa!

trÊs perguntas a autarcas socialistas1. Dê-nos dois ou três bons exemplos de iniciativas que a sua autarquia tenha levado a cabo.2. Qual a sua opinião sobre a Reforma Administrativa quer o Governo que levar avante,

nomeadamente em relação ao corte do número de juntas de freguesia?3. Que balanço faz do papel desempenhado pelo Poder Local em Portugal desde a

implantação de democracia?

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o Governo introduziu uma nova forma de governar: à socapa. A decisão de suspender a possibilidade de antecipar a idade de reforma é um caso paradigmático. Há muitos portugue-

ses com longuíssimas carreiras contributivas, que começaram a trabalhar com 12, 13 anos, ou menos, e que passaram uma vida inteira de trabalho. É justo, que depois de terem sido sacrificados na juventude, sejam agora duplamente atacados? Não me parece.Na reforma da Segurança Social de 2009, o PS deixou a possibili-dade da antecipação das reformas para estes casos e outros, mas neste caso com penalização no valor da pensão. o que o Gover-no agora decidiu à socapa é que estes portugueses, defraudan-do todas as suas legítimas expectativas, não têm acesso a essa

antecipação.Confrontado com esta realidade o Pm sorri. Sorri porque não lhe custa nada, aquilo que custa a muitos milhares de concidadãos. Lançou o medo junto dos portugueses com a possibilidade do aumento da idade de reforma para os 67 anos, para depois vir desmentir e falar no plafonamento dos descontos para a Segurança Social, num método mediático já conhecido. Do que se trata é de transferir para os privados (se-guradoras) o último quinhão do Estado que ainda resta no público.Não estamos a falar, por exemplo, dos atuais PPR’s privados, em que cada um decide em função das suas possibilidades e interesses. Não. Trata-se de retirar dos descontos obrigatórios uma parte para o regime privado. Consequências? Uma dimi-nuição abrupta das receitas da Segurança Social, para voltar a defender uma Segu-rança Social de mínimos, uma velha tese da direita mais retrógrada.

Este Governo não é de confiança. Decide nas costas dos portu-gueses, rompendo uma relação que deve existir entre o Estado e os cidadãos, que é um das fontes estruturantes da democracia. Ataca os portugueses, os trabalhadores e as suas expetativas em nome de interesses insondáveis.Exige-se transparência nos processos, debate e contraditório, partilha com os parceiros sociais, tudo aquilo que não está a ser feito. Não há outra palavra para definir: uma vergonha.o PS estará sempre na primeira linha de denúncia desta situação, na defesa dos interesses dos cidadãos e de uma Segurança Social para todos.

governar

à socapa

Miguel [email protected]

A 28 de Abril de 1974, três dias depois do derrube da ditadura, mário Soares fala à multidão em Sta. Apolónia, onde chegou no “comboio da liberdade” vindo de Paris onde se encontrava exilado.

Este Governo não é de

confiança. Decide nas costas dos

portugueses, rompendo

uma relação que deve

existir entre o Estado e

os cidadãos, que é um

das fontes estruturantes

da democracia.

OPINIÃO

agenda ideológica do governo fere valores de abrilo Executivo de coligação Passos/Portas é o primeiro da nossa história que parece querer dispensar a memória de Abril, denunciou o presidente da bancada socialista, Carlos Zorrinho, perante um Parlamento engalanado para assinalar o 38º aniversário da Revolução dos Cravos.

Durante a sua intervenção na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, o líder parlamentar socialista apontou que “desde há dez meses, em nome de uma agenda ideológica de total sub-missão aos mercados e aos seus interesses, o Governo tem vindo a proceder à maior inversão de rumo da nossa história democrá-tica, ignorando ao mesmo tempo a nossa memória colectiva”.E porque “uma revolução demo-crática precisa de rumo e memó-ria”, Zorrinho assinalou que “os indicadores sociais, as qualifica-ções e os repositórios de conhe-cimento deixaram a trajetória de aproximação à média europeia”.“Muitos começaram mesmo a re-gredir, deitando por terra déca-das de esforço e de empenho de muitos governos, de muitas insti-tuições e de muitas pessoas”, re-feriu o presidente do Grupo Par-lamentar do PS, acusando o atual Executivo de direita de ser tam-bém o primeiro governo “que tem sido um aliado objetivo das visões extremistas que estão a corroer a Europa”.Sublinhando que os “maiores ad-versários de Abril” são o saudo-sismo, o revivalismo, o revira-lho, a estagnação, o alheamento,

a captura ideológica ou idiossin-crática, Zorrinho vincou também que Abril tem o PS entre os seus aliados mais firmes, “que não de-sistem de o fazer cumprir”.“Faremos por isso uma rutu-ra democrática com quem bai-xar os braços”, avisou, visando “todo aquele que “tentar destruir numa legislatura o que levou dé-cadas a adquirir”.

Há outro caminhoDepois, responsabilizou mani-festamente o Governo por não ter sabido “assumir a responsa-bilidade dos consensos políticos, sociais e europeus”.“Tem malbaratado a disponibili-dade política de quem põe os in-teresses do país acima dos inte-resses partidários ou sectoriais”, acusou, frisando de seguida que o PS reafirma, no âmbito de uma celebração de grande sim-

bolismo, que “há outro caminho”.“Com responsabili-dade e cumprindo os compromissos assu-midos internacional-mente, é possível um ajustamento que não seja um empobreci-mento coletivo, mas

que seja antes a preparação para um novo ciclo de cresci-mento e de emprego”.Estas, evidenciou, são, de res-to e de novo, prioridades da Co-missão Europeia, do Banco Central e do Fundo Monetário Internacional.A terminar, Carlos Zorrinho as-segurou que o PS zelará para que essas prioridades não se fiquem apenas pelo papel e para que as portas que Abril abriu “não as fe-chemos nós”.De referir que as comemorações do 38º aniversário da Revolução dos Cravos ficaram marcadas pela ausência, nas cerimónias oficiais, de figuras notáveis como Mário Soares, Manuel Alegre e a Associação 25 de Abril, uma to-mada de posição que, sem dúvi-da, exprime a revolta perante o que a maioria eleita está a fazer ao país. M.R.

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mário Soares, Vasco da Gama Fernandes, Sottomayor Cardia e Catanho de menezes entregam as assinaturas necessárias para a legalização do PS.

rosa albernaz, Presidente das mulheres socialistas de aveiro

“as medidas de austeridade e os cortes na educaçãoe na saúde vão penalizar mais as mulheres”

Há um papel e um trabalho político específico reservados às mulheres no seio do PS?As mulheres no PS não têm um trabalho político específi-co, nem poderiam ter. Na minha opinião a igualdade de género obriga-nos a que esta questão nem se coloque. Mas é um dever de todos e todas nós colocar a I6 na agenda política como for-ma de assegurarmos a promo-ção de uma sociedade mais jus-ta e equitativa.

Que sentido faz existir um De-partamento Nacional de Mu-lheres Socialistas?O PS tem um papel relevante na defesa de igualdade de oportu-nidades e de direitos entre ho-mens e mulheres. Embora se te-nham dado passos importantes, continuam a existir muitas áre-as em que ainda não se conse-guiu uma efetiva igualdade de oportunidades. Por isso e em-bora estas questões sejam da responsabilidade de homens e mulheres os departamentos de-vem continuar a desenvolver este trabalho por forma a cha-mar mais mulheres à política, quer seja ao nível federativo ou nacional.

Que medidas emblemáticas foram já tomadas ou estão agendadas no âmbito do seu departamento em Aveiro?O Departamento Federativo de Aveiro não considera que haja na sua ação medidas mais ou menos emblemáticas, porque entende serem todas de rele-vante importância, podendo ob-

viamente algumas ser mais ou menos pertinentes.Existem sim algumas áreas às quais temos dado alguma prio-ridade, tais como questões do foro político/ideológico da área da igualdade da violência do-méstica, direitos humanos e pobreza.

Pode especificar?Efetuaram-se debates sobre Or-çamento de Estado, Estado So-cial, violência doméstica e so-bre a participação das mulhe-res na política, com a dr.ª Maria Barroso.No campo do combate à pobre-za e direitos humanos com algu-ma periodicidade e bastante su-cesso promovemos juntamen-te com escolas do nosso distrito ações e campanhas de solidarie-dade, sejam elas de angariação de verbas para Patê Vitamínico que permite aos médicos sem--fronteiras trabalharem na área do combate á fome de crianças em África, quer sejam de refle-xão e debate sobre Holocaus-to, direitos humanos e direito á diferença.Esta área é para nós bastante confortante, especialmente pelo forte envolvimento das crian-ças, jovens, professores e pais nas escolas. Tivemos envolvidas recentemente as Escolas C+S de Vale de Cambra, a Escola C+S da Mealhada, a Escola Dr. Manuel Laranjeira em Espinho.Organizámos também visitas à Assembleia da República, com o apoio da Federação, e assim os militantes e simpatizantes visi-taram e assistiram a uma sessão

o Governo da direita tem apostado em medidas que são um retrocesso na política de igualdade de género, acusa Rosa Albernaz, nesta entrevista ao “Acção Socialista”. rui solano de almeida

do plenário e um encontro com deputados.

Sendo hoje o desemprego um dos fenómenos mais preocu-pantes que leitura faz em re-lação ao desemprego femini-no em particular?Normalmente, em situações de crise económica, as mulheres são particularmente atingidas, até porque na maior parte dos casos são elas que têm os filhos a cargo. Aliás, os números do desemprego feminino assim o evidenciam, as mulheres estão a ser drasticamente afetadas. Daí a necessidade de se promove-rem políticas ativas de promo-

ção de igualdade e combate às discriminações salariais e ou-tras no mercado de trabalho. O PS sempre se pautou pela defe-sa e promoção destes valores, enquanto Governo, e continua-rá a fazê-lo, agora na oposição.

O que falta fazer para que a discriminação entre homens e mulheres possa ser expur-gada da sociedade?Trata-se de que as mulheres não sejam preteridas em ne-nhum dos casos pela sua condi-ção de mulheres. Essa mudança só se efetua com investimento na educação e mudança de men-talidades. O trabalho que desen-

volvemos no Departamento Fe-derativo de Aveiro procura aca-bar com essa discriminação.As discriminações civilizacio-nais, enraizadas na cultura de um povo, não se removem com facilidade, mas apesar de ser di-fícil mudar mentalidades, mais uma vez, as políticas ativas de promoção de igualdade é um ca-minho a seguir.

A violência doméstica cons-titui um grave problema em Portugal. As razões são so-ciológicas, culturais ou económicas?Infelizmente, este é um proble-ma que urge continuar a com-

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Campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte, em março de 1975.

rosa albernaz, Presidente das mulheres socialistas de aveiro

“as medidas de austeridade e os cortes na educaçãoe na saúde vão penalizar mais as mulheres”

bater e que é difícil de compre-ender, porque como se sabe é transversal aos vários grupos sociais. A educação é essencial para a mudança de atitudes e preconceitos. Esta é uma das áreas prioritárias no desenvol-vimento do trabalho do Depar-tamento Federativo de Avei-ro. Os governos socialistas ins-creveram o combate à violên-cia doméstica nas suas priori-dades de governação. Destaco o facto de a violência domésti-ca ter passado a ser considera-da “crise pública” em 2000 e a aprovação do novo regime ju-rídico para a prevenção e com-bate à violência doméstica, Lei 112, em 2009. Além disto, o

envolvimento das ONG, das au-toridades políticas, das esco-las, dos hospitais, enfim, uma estratégia de intervenções in-tegrada em sede está em cur-so, assim ela não seja inter-rompida por este Governo.

Como se explica que haven-do mais mulheres que ho-mens licenciadas e no en-sino superior o mercado de trabalho não reflita esta realidade?De facto, esse é o espelho de que permanecem condições de alguma discriminação no aces-so das mulheres aos lugares de topo e chefia. Portugal é um

dos países em que ainda se ve-rifica esta situação, que de al-guma forma é incompreensível face às qualificações. Questões de discriminação em face do papel da mulher no seio fami-liar muitas vezes são um dos obstáculos para essa ascensão profissional.Há que investir no combate à discriminação das mulheres no mercado de trabalho, para que esse tipo de situações se resolva. O Grupo Parlamentar do PS propôs agora, já nesta le-gislatura, uma resolução para o estabelecimento de um acor-do tripartido em sede de con-certação social, que foi chum-bado pela maioria, e muito po-

deria contribuir para que essa questão se resolvesse.

O PS é o paladino da promo-ção da igualdade do género. O que falta fazer para tornar a sociedade portuguesa mais paritária?Ainda há um percurso a per-correr para obtermos uma sociedade em que não exis-ta qualquer discriminação em termos de igualdade de direi-tos. Ao nível da política a re-presentação feminina ainda está aquém da efetiva repre-sentação das mulheres na so-ciedade portuguesa, mas as quotas são um meio para ace-

lerar este processo, o que alias se refletiu ao nível autárquico e nacionalNo que respeita ao acesso aos lugares de topo e poder tam-bém estamos muito aquém e devemos trabalhar para melho-rar a representação das mulhe-res a esse nível.

Sente que com o atual Gover-no de direita a igualdade de género pode ou está a sofrer um retrocesso?Já está a sofrer um retroces-so, por exemplo ao nível dos apoios à promoção do empre-endedorismo feminino, o que nesta altura ainda seria mais premente.

A realidade mostra-nos que a mulher já alcançou luga-res-chave em muitas socie-dades democráticas. Em Portugal esta narrativa é ainda uma miragem ou o ca-minho faz-se caminhando?As políticas do PS contribuí-ram decisivamente para a pro-moção das políticas de igualde de género, contudo muito ain-da há a fazer e se é certo que o caminho se faz caminhan-do, este governo nada tem fei-to nesse sentido. Pelo contrá-rio. As medidas de austerida-de e os cortes na educação e na saúde vão penalizar mais as mulheres.

“Há QUE INVESTIR No ComBATE à DISCRImINAção DAS mULHERES No mERCADo DE TRABALHo” “o PS TEm ASSUmIDo Um PAPEL RELEVANTE NA DEFESA DE IGUALDADE DE oPoRTUNIDADES E DE DIREIToS ENTRE HomENS E mULHERES” A LUTA PELA IGUALDADE DE GÉNERo Já ESTá A SoFRER Um RETRoCESSo Com ESTE GoVERNo

Vem este título – afirmar o português no mundo – a propósito do acordo ortográfico que, nestes últimos tempos, tanto ruído tem causado na opinião pública.

É nesse contexto que também aqui vou deixar a minha posição a favor do acordo que, como se sabe, Portugal está a aplicar fruto das ratificações e resoluções de que o mesmo foi alvo.E faço-o num momento em que um vasto conjunto de portugueses lhe deci-diram fazer um ataque cerrado mas, em grande medida, serôdio.Em primeiro lugar, porque o acordo inicial remonta a 1990 e o segundo proto-colo modificativo de 2004 foi aprovado na Assembleia da República em 2008 (com três votos contra!). Isto é, houve quase duas décadas para o debate se travar e, praticamente, o pleno dos deputados aprovou-o.[ou será que foi preciso Vasco Graça moura chegar ao CCB, e desautorizar o primeiro-ministro, para que este assunto voltasse à ribalta?]Em segundo lugar, há que considerar que não é com duas ortografias oficiais da língua portuguesa que atribuímos verdadeira universalidade e prestígio ao português no mundo, nomeadamente nas instituições e nas academias in-

ternacionais, para além de que uma grafia comum na CPLP abre novas oportunidades ao mercado da edição em português.Em terceiro lugar, temos que ter em conta que qualquer língua é uma entidade em permanente construção e evolução e em nenhum momento ela cristaliza. Não tenhamos, pois, medo desta mudança que visa aproximar a grafia da articula-ção fonológica, pois já no passado também houve alterações, neste como noutros aspetos, também contestadas à época, mas que foram absorvidas pelos escreventes [p.e. aflicto > aflito; exhausto >

exausto; phosphoro > fósforo; sciência > ciência].Em quarto lugar, gostaria de dizer que depois de cem anos de divergências or-tográficas (desde o acordo de 1911 que não foi extensivo ao Brasil) e depois de várias tentativas goradas de acordos envolvendo a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Lisboa de Ciências (1931, 1943, 1945, 1971/1973, 1975 e 1986) foi finalmente encontrado um texto comum que, podendo ter lacunas, é um acordo internacional e um acordo é, em si mesmo, um facto que encerra convergência, que é positivo e que importa, portanto, enfatizar. Em quinto lugar, incluo-me no lote daqueles que acham que o “alfa e o óme-ga” da evolução da língua não se atingiu nas gerações passadas, mas tam-bém não se atinge na nossa… ou seja, parafraseando Galileu, “porém, ela move-se”.Em suma, admito que possamos passar por um período de alguma “caco-fonia ortográfica”, como lhe chamou Joaquim Alexandre Rodrigues, porém isso não deve invalidar, por si, o acordo, uma vez que os falantes do futuro, as crianças e os jovens, farão uma rápida integração de todos os reajustamen-tos que dele resultam.

Acácio [email protected]

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portuguÊs

no mundo

Admito que possamos passar por

um período de alguma “cacofonia

ortográfica” [...] porém, isso não

deve invalidar, por si, o acordo

OPINIÃO

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8 acompanhe-nos no FacebooK SEDENACIoNALPARTIDoSoCIALISTAacompanhe-nos no FacebooK SEDENACIoNALPARTIDoSoCIALISTA

secção

miguel Torga participa num comício do PS.

entrevista a antónio josé seGuro

“este governo segue um caminho errado”A política do “custe o que custar” do Governo de direita está a afundar o país, que regista já um nível dramático de desemprego, denuncia o secretário-geral do PS, António José Seguro, que, em entrevista ao “Acção Socialista”, reafirma que há um caminho alternativo, com propostas concretas, que passa por uma agenda de crescimento e emprego e uma consolidação inteligente das contas públicas. J. c. castelo branco

É o líder da oposição com a vida mais difícil em quatro décadas de democracia por-que a sua ação está condicio-nada pelo memorando assi-

nado pelo anterior Governo do PS com a troika. Como sair desta encruzilhada?Como temos agido. Isto é, sen-do muito firmes no caminho

que escolhemos e que tem uma prioridade – o emprego –, e o crescimento económico e si-multaneamente honrando os nossos compromissos. Nem sempre é fácil de entender este caminho, porque o país pre-cisa do memorando da troika para continuar a financiar-se, mas o que nós temos demons-trado e hoje começa a ser uma evidência é que o caminho es-colhido para cumprir e honrar esse acordo deve colocar como prioridade o emprego e o cres-cimento e não a austeridade a

qualquer preço, como tem vin-do a fazer o Governo.

O que é a nova forma de fa-zer política que tem vindo a defender?A nova forma de fazer política as-senta em não prometer nada que não possamos fazer quando for-mos Governo e sempre que dis-cordarmos do Governo apresen-tarmos as nossas propostas al-ternativas. Eu quero que o PS ganhe as próximas eleições por mérito próprio e não porque o Governo está a cometer erros. E

o caminho que escolhemos des-de há meses de colocar o em-prego e o crescimento económi-co como prioridade é hoje uma evidência. Até chegam ao cúmu-lo de dizer que nós só estamos a defender isso porque o François Hollande o propôs na campanha. Nada de mais falso e errado, por-que nós desde que assumimos a liderança do PS que temos vindo a defender que é necessário con-solidar as nossas contas públicas com uma austeridade inteligen-te, dando prioridade ao cresci-mento e ao emprego. Esta é que é

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entrevista a antónio josé seGuro

“este governo segue um caminho errado”A política do “custe o que custar” do Governo de direita está a afundar o país, que regista já um nível dramático de desemprego, denuncia o secretário-geral do PS, António José Seguro, que, em entrevista ao “Acção Socialista”, reafirma que há um caminho alternativo, com propostas concretas, que passa por uma agenda de crescimento e emprego e uma consolidação inteligente das contas públicas. J. c. castelo branco

a consolidação saudável das con-tas públicas no nosso país.

Não concorda que o Tratado Europeu cria espartilhos orça-mentais que debilitam ainda mais os Estados mais frágeis como Portugal, criando ainda mais constrangimentos para implementarem políticas de crescimento e emprego?Este Tratado responde à neces-sidade de rigor e disciplina orça-mental e o PS concorda com es-tes objetivos. Por isso, votámos a favor. Aliás, não há na história do

PS nenhum tratado europeu que nós não tenhamos votado a fa-vor. Nós mantivemo-nos na tra-dição de ser o partido mais eu-ropeu em Portugal e ao mesmo tempo quisemos dizer com mui-ta clareza que somos defensores do rigor e da disciplina orçamen-tal. Mas que estes não chegam. É preciso uma dimensão económi-ca e social. Por isso, na mesma al-tura em que aprovámos o Trata-do apresentámos uma adenda para que o país pudesse traba-lhar no seio da UE no sentido de aprovar um ato adicional ao Tra-tado com medidas concretas de promoção do emprego e do cres-cimento económico. Infelizmen-te, a maioria de direita chumbou essa nossa proposta. Mas hoje

ela começou a fazer caminho no seio da Europa e até fora da famí-lia socialista já há muita gente a defender que é preciso um pacto para o crescimento e emprego. Por isso, o PS voltou a apresentar essa adenda, que vai ser discuti-da no dia 23 de Maio, de modo a que, mais uma vez, se confronte o Governo português se quer ou não aprovar propostas concre-tas que promovam o emprego e o crescimento económico.

Tem repetido que um partido como o PS que queira voltar a ser Governo tem de preparar e fundamentar muito bem as suas propostas. O que está a ser feito nesse sentido? É que não tem passado para a opi-nião pública, por exemplo, o que o PS tem proposto ao nível das alterações da lei laboral, da lei das rendas, entre outras.É verdade. Nós notamos isso. E, por exemplo, na lei das rendas nós apresentámos 17 propostas de alteração. E na lei laboral, nós, que estamos vinculados ao acor-dado no memorando com a troi-ka, apresentámos várias propos-tas de alteração referentes, no-meadamente, ao banco de horas individual, para reforçar a inspe-ção do trabalho, e ainda contra o fim dos feriados, em particu-

lar o 5 de Outubro. Defendemos também a linha BEI para apoiar as PME’s, o não aumento do IVA, a devolução de subsídios a fun-cionários públicos e reforma-dos, a redução da fatura do gás e da eletricidade, a redução das taxas moderadoras. São alguns dos exemplos que, por um lado, financiam a economia e que, por outro, exigem menos sacrifícios às famílias e, logo, mais dinhei-ro disponível para dinamizar a economia. Não há nenhuma vari-nha mágica nem uma receita que se vai comprar a um supermer-cado, como um kit para o cresci-mento e para o emprego. Há um conjunto de políticas articuladas ao nível nacional e europeu que convergem para o mesmo obje-

tivo. Também apresentámos no Orçamento de Estado uma pro-posta para não se aumentar o IVA da restauração de 13% para 23%, uma subida de 77%, que segundo os dados da associação representativa do sector pode equivaler a uma perda, duran-te dois anos, de cerca de 50 mil empregos.

Acha mesmo que esse conjun-to de medidas que sugere é exequível em Portugal? É com-portável em termos financei-ros e orçamentais? O Gover-no tem dito que não há alter-nativa às medidas que está a aplicar…Faz parte da retórica e da cam-panha de propaganda do Go-verno dizer que não há alterna-tiva. O governo quer fazer crer que está a salvar o país. Mas não. Está, pelo contrário, a afundar o país. Uma boa consolidação das contas públicas não pode ser fei-ta num clima de grande reces-são e de aumento dramático do desemprego. Temos de ter mais tempo para fazer essa consolida-ção das contas públicas. Desde o final de outubro que digo, pu-blicamente e nas reuniões com o Governo e com a troika, que que-remos honrar os nossos compro-missos, mas que precisamos de,

pelo menos, mais um ano. Isso significaria que os sacrifícios para as pessoas e para as empre-sas seriam diluídos no tempo, o que permitiria que o nosso país fizesse um ajustamento mais su-ave e, simultaneamente, não des-truísse a economia, o aparelho produtivo e o emprego.

A “paixão pela austeridade” e a política do “custe o que cus-tar” do atual Governo vai levar os portugueses e o país para onde?Vai levar ao empobrecimento e para uma situação que nos co-meça a alarmar. Hoje são co-nhecidos os dados do desem-prego no 1º trimestre que apon-tam para uma taxa de desempre-

go de 14,9%. É um recorde his-tórico no nosso país. E perante esta situação dramática o Gover-no está de braços cruzados, não faz absolutamente nada. Por ou-tro lado, em termos da evolução do produto da nossa economia tem havido também uma quebra acentuada. Estes são os resulta-dos da austeridade excessiva e estão à vista.

Este é mesmo o Governo com maior insensibilidade social de sempre?Sim, não há dúvida. Os níveis de desemprego atestam esta situa-ção e a maneira como o primei-ro-ministro se refere a este dra-ma é de facto elucidativo de um governante insensível e de al-guém que não está a acompa-nhar a realidade do país. Um Go-verno que tem como resposta para o desemprego o convite à emigração e um primeiro-minis-

tro que chama piegas aos portu-gueses e que chega ao cúmulo de dizer que o desemprego é uma oportunidade. Estes são três fac-tos que revelam uma total insen-sibilidade social.

Como classificaria em duas pa-lavras a política deste Governo?Este Governo segue o caminho errado.

O que o levou a organizar um roteiro “Em defesa do interior”?Porque o interior do nosso país está a morrer. Está num processo de desertificação e as pessoas que resistem es-tão neste momento a ser du-plamente sacrificadas, quer no acesso à saúde, no encer-

ramento de serviços, com inci-dência nos tribunais e nas re-partições de finanças. Por ou-tro lado, em termos de com-petitividade, o gás é mais ba-rato em Espanha do que é em Portugal, as oportunidades de emprego são menores e até a discriminação positiva para as empresa que quisessem insta-lar-se no interior desapareceu. Portanto, fiz esse roteiro do interior para dizer às pessoas destas zonas do país que a cau-sa do desenvolvimento do in-terior é uma causa permanen-te e que podem contar com o PS na defesa dos seus interes-ses. Para o PS, o interior não é um encargo, mas sim uma oportunidade. Qual é o objetivo da criação de um grupo de trabalho para a reforma fiscal?O objetivo é apresentar uma

“NENHUm PoLíTICo HoNESTo PoDE DoRmIR DESCANSADo Com o NíVEL DE DESEmPREGo QUE TEmoS”

“A moDERNIZAção Do PS Dá mAIS VoZ E mAIS PoDER AoS mILITANTES”

“TERmoS Um PRoJETo DE GoVERNAção E Um PRoJETo PARA PoRTUGAL ExIGE QUE TENHAmoS UmA IDEIA Do QUE QUEREmoS PARA A EURoPA, Com PRoPoSTAS CoNCRETAS. É ISSo QUE o PS TEm E QUE o GoVERNo Não TEm”

o primeiro 1º de maio. Seis dias após o “dia inteiro, inicial e limpo”, nas palavras de Sophia de mello Breyner. memorável e inesquecível. o primeiro dia, após 48 anos de ditadura, em que todos os

trabalhadores celebraram o seu dia em liberdade. A maior festa jamais realizada em Portugal.

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Palma Inácio, maria Barroso e Tito de morais no primeiro 1º de maio em liberdade.

proposta de sistema fiscal es-tável no tempo que introduza maior justiça no pagamento de impostos e que financie de for-ma sustentável as funções so-ciais do Estado, como o SNS, a escola pública e a Segurança Social.

O que o levou a afirmar que estava disponível para en-cabeçar uma manifestação caso estivesse em causa o SNS pelas políticas do atual Governo?O PS é um partido que faz opo-sição nos espaços institucionais e nos espaços normais da polí-tica. Não somos um partido da

rua e da pura contestação, mas há uma coisa que me obrigaria a ir de facto para a frente de uma manifestação: se este Governo puser em causa questões fun-damentais do SNS, designada-mente aquelas que constavam do projeto de revisão constitu-cional do PSD e que são aten-tatórias de uma política de saú-de para todos. Com a saúde das pessoas não se brinca.

Em que consiste a moderniza-ção do PS que defende?Consiste em dar mais voz e mais poder aos militantes. Para mim, os militantes são cidadãos e ci-dadãs ativos polticamente, que escolheram a vida partidária para dar contributos para me-

lhorar a sua terra, a sua região, o seu país. Os novos estatutos, aprovados em Comissão Nacio-nal e que possibilitam eleições diretas para a eleição de depu-tados e de candidatos a presi-dentes de Câmara, são exemplo de reforço dos poderes dos mili-tantes. Em segundo lugar, a mo-dernização de um partido aber-to que saiba conviver em todos os momentos, e não apenas em vésperas de eleições, com cida-dãos que são próximos do PS e cidadãos inscritos no PS. Nesse aspeto o Laboratório de Ideias é um exemplo desse espaço de encontro e de reflexão. Uma ter-ceira ideia tem a ver com o obje-

tivo de termos um partido mo-derno que não seja um partido que trabalhe apenas nos parla-mentos ou nas câmaras munici-pais, mas que possa também in-tervir ativamente em associa-ções cívicas junto das pessoas.

Os partidos socialistas, nos úl-timos anos, têm sido contami-nados pela chamada “tercei-ra via”, o que também está na origem da sua decadência. Ou seja, de certa maneira, confun-dem-se com as políticas neo-liberais e passaram a ser, pra-ticamente, partidos sociais li-berais. Como é que a esquer-da democrática pode ter pen-samento próprio para se dife-renciar claramente da direita?

Fazendo aquilo que estamos a fazer. Ou seja, nós temos os nos-sos valores, temos a nossa de-claração de princípios e a nos-sa obrigação é atualizar as nos-sas propostas políticas às novas realidades, em coerência com a nossa matriz ideológica. A nossa responsabilidade é olhar para a realidade e, de acordo e em to-tal coerência com esses valores, atualizar a nossa proposta polí-tica nas áreas da saúde, da edu-cação, no emprego, no cresci-mento económico, etc. É isso que temos vindo a fazer. Quan-do definimos a prioridade para o emprego e o crescimento eco-nómico ou para a União Euro-

peia se modificar no sentido de, também ela, dar resposta à crise que se vive atualmente, estamos a adaptar as nossas propostas políticas e o nosso pensamento político.

O que é que os portugueses po-dem esperar do líder do maior partido da oposição para me-lhorar as suas condições de vida?Para nós, os portugueses estão em primeiro lugar. Temos agi-do e continuaremos a agir em nome do interesse nacional e dos portugueses. Qualquer po-sição do PS tem sempre este ob-jetivo. O que é bom para os por-tugueses e para Portugal terá o PS na primeira linha. Muitas das vezes sou incompreendido. É verdade que já fui mais incom-preendido no passado que ago-ra. Hoje, os portugueses olham para este sentido de responsa-bilidade e apoiam o PS. Como é que reage aos ata-ques, nomeadamente dos co-lunistas de direita, que insis-tem na tese de que o PS tem

uma liderança fraca?Não lhes ligo. [Risos]

Como é que se sente, como lí-der do PS e como cidadão, vi-vendo num país com as maio-res desigualdades sociais da Europa, com dois milhões de pobres…?Sinto-me mal, mas não cruzo os braços. Luto com propostas con-cretas para alterar essa situação. Juntaria a esse quadro o que con-sidero ser o maior drama que te-mos na sociedade portuguesa, que é o aumento elevado do de-semprego e o facto de haver 36% dos jovens portugueses desem-pregados. Eu disse, quando apre-

sentei a minha candidatura à li-derança do PS, que nenhum po-lítico honesto pode dormir des-cansado com o nível de desem-prego jovem que temos no nosso país. A minha responsabilidade é combater as desigualdades so-ciais. Para isso, é necessário ga-rantir a qualificação dos portu-gueses, o acesso à escola públi-ca de qualidade, a uma boa for-mação profissional e empregos. Neste momento, os portugueses não têm essa possibilidade. Têm uma parede à sua frente. Saem das universidades e não têm ho-rizontes. Não têm esperança. Nós só conseguimos gerar espe-rança e confiança se mudarmos de política. E mudar de política é mudar para o caminho alternati-vo que venho defendendo.

Aprovada que está, pela maio-ria, a lei de extinção de fregue-sias, o que é que o PS ainda pode fazer?Como é sabido, este Governo tem maioria absoluta. Estive-mos contra esta lei. Defende-mos uma reforma do poder lo-cal com cabeça, tronco e mem-

bros. Isto é, uma reforma que começasse pela lei eleitoral au-tárquica, lei de atribuições e competências, lei de finanças lo-cais e outros instrumentos le-gais necessários. Nisso inclui-se uma reorganização do territó-rio, mas não uma reorganização feita a régua e esquadro, a partir do Terreiro do Paço e imposta às pessoas. Tem de ser uma re-organização que envolva as pes-soas e que melhore a vida das populações. Este Governo fez tudo ao contrário e daí ter havi-do uma oposição tão grande das populações e do PS. Também neste domínio o Governo mos-trou, mais uma vez, uma enor-

me insensibilidade, arrogância e desconhecimento do que é a realidade do país.

Como reagiu à iniciativa do PSD de apresentar um projeto de resolução sobre crescimen-to económico, que depois deci-diu retirar de votação?Esse projeto de resolução do PSD é a maior hipocrisia políti-ca que conheci nos últimos tem-pos. O PS não foi ouvido sobre o agendamento do Tratado Euro-peu. Votámos a favor, em nome das nossas convicções e do nos-so posicionamento sério, cre-dível e responsável. Mas disse-mos, também, que este Trata-do está desequilibrado. Precisa de dimensão económica e social. E, nesse sentido, apresentámos medidas concretas. O PSD rejei-tou-as. Depois, esteve à espera para ver o resultado das eleições francesas e, como percebeu que se começou a criar um movimen-to no sentido de haver um pacto para o crescimento e o empre-go, veio a correr com uma reso-lução para apresentar na Assem-bleia. Interessante foi ver que,

“Não Há NENHUmA VARINHA máGICA NEm UmA RECEITA QUE SE VAI ComPRAR A Um SUPERmERCADo, Como Um kIT PARA o CRESCImENTo E PARA o EmPREGo. Há Um CoNJUNTo DE PoLíTICAS ARTICULADAS Ao NíVEL NACIoNAL E EURoPEU QUE CoNVERGEm PARA o mESmo oBJETIVo. mAS PARA ISSo É NECESSáRIo VoNTADE PoLíTICA.”

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Soares, Zenha, Alegre e Lopes Cardoso encabeçam, em maio de 75, uma manifestação do PS em defesa da liberdade de expressão. Uma das muitas em que os socialistas saíram à rua em

pleno PREC.

depois, deixou cair essa resolu-ção. Disse que ficaria para mais tarde. Mas quando nós voltar-mos a apresentar no Parlamento o nosso projeto de adenda, PSD e CDS vão ter de dizer o que pen-sam. Se continuam a achar que, quanto mais austeridade, me-lhor. Nós consideramos que o crescimento e o emprego devem ser a prioridade, doseados com uma austeridade inteligente, que combine as duas, garantin-do níveis de desenvolvimento e de qualidade de vida das pesso-as. Não basta pintar a casa com outras cores. Temos de mudar a casa. E é por isso que a próxima semana vai ser muito importan-te para nós. Vamos discutir, por agendamento potestativo, o nos-so projeto de resolução de aden-da ao Tratado, no mesmo dia em que o Conselho Europeu se reú-ne em Bruxelas e, dois dias de-pois, vamos discutir o Documen-to de Estratégia Orçamental que o Governo enviou para Bruxelas nas costas do Parlamento e sem falar com o PS. Os portugueses recordam-se bem do escânda-lo público que o PSD fez por não

ter sido ouvido sobre o PEC IV. O que fez agora foi uma deslealda-de institucional com o Parlamen-to. Há uma diferença muito gran-de: a nossa ação é por convicção; o Governo está a tentar apanhar a moda. Mas as pessoas sabem ver a diferença.

No Congresso avisou os socia-listas que teriam pela fren-te uma maratona. E tem sido apologista da estabilidade go-vernativa. Mas tendo em con-ta que os portugueses se sen-tem defraudados com a atu-ação deste Governo que em muitos domínios está a fazer exatamente o contrário daqui-lo que prometeu, e ainda que os resultados destas políticas são os tais 14,9% do desem-prego, haverá algum momento em que será necessário dizer “basta” e tomar uma atitude?Nós temos tomado atitudes. Aquelas que estão no âmbito das competências de um partido da oposição. O que é a adenda ao Tratado Europeu, que apresen-támos e voltaremos a apresen-tar?! Quando dizemos ao Gover-

no que deve seguir sozinho nes-ta viagem, estamos a agir. Quan-do aprestamos um projeto de re-solução divergindo do DEO que o Governo apresentou a Bruxe-las sem nos consultar, estamos a agir. O PSD e o CDS têm maio-ria no Parlamento e não há, no âmbito constitucional, nenhuma atitude que retire o Governo do local onde está. Eu sou um de-mocrata. Respeito o voto popu-lar. É certo, como diz, que o Go-verno está a fazer diferente do que prometeu. Mas cabe aos elei-tores, quando houver eleições, daqui a três anos e meio, fazer o seu julgamento e decidir em jus-tiça. O que espero é que não re-novem o mandato a quem está a fazer tanto mal ao país. Por isso, a nossa atitude tem sido de uma enorme coerência com o que te-mos dito. Somos responsáveis e estamos comprometidos com as metas do memorando. Mas, ao mesmo tempo, temos vindo a di-zer que há uma divergência es-tratégica enorme entre o cami-nho escolhido por este Gover-no e o caminho do PS. Dissemo--lo, aliás, quando foi votado o Or-

çamento para este ano. Essa di-vergência estratégica tem vindo a acentuar-se, porque a realida-de tem demonstrado que nós te-mos razão. Há outra atitude que possamos tomar que não seja a apresentação de propostas, a de-núncia constante da situação e a responsabilização do Governo por estar a enfraquecer um con-senso político? Se há algum diá-logo é porque o PS manteve sem-pre uma postura de responsa-bilidade e seriedade, sendo, por vezes, ferozmente atacado por isso. O consenso constrói-se e o Governo, ao não dialogar com o PS, está a desbaratar esse con-senso ou a dá-lo por adquirido, como se fosse uma fórmula auto-mática. Mas está muito engana-

do. O PS tem as suas propostas e não abdica delas.

Que mensagem gostaria de dirigir aos militantes e sim-patizantes leitores do nosso jornal?Enviar-lhes um forte e frater-no abraço. Agradecer o apoio, a energia e o entusiasmo que têm colocado nesta nossa caminha-da – uma caminhada que é difí-cil, que é exigente, mas que cada vez tem mais adeptos convictos – rumo ao nosso objetivo, que é, em 2015, voltarmos a governar o nosso país. Para isso, é funda-mental que nos mantenhamos unidos no essencial e que possa-mos vencer as próximas eleições autárquicas.

“UmA BoA CoNSoLIDAção DAS CoNTAS PúBLICAS Não PoDE SER FEITA NUm CLImA DE GRANDE RECESSão E DE AUmENTo DRAmáTICo Do DESEmPREGo”

ExTINção DE FREGUESIAS: “o GoVERNo moSTRoU, mAIS UmA VEZ, UmA ENoRmE INSENSIBILIDADE, ARRoGâNCIA E DESCoNHECImENTo Do QUE É A REALIDADE Do PAíS”

“A NoSSA Ação PELo EmPREGo E PELo CRESCImENTo É PoR CoNVICção; o GoVERNo ESTá A TENTAR APANHAR A moDA. mAS AS PESSoAS SABEm VER A DIFERENçA”

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socialistas contra ataque brutal no sector enerGéticoEnquanto o PS considera a energia um recurso estratégico para alavancar a economia, a maioria governamental de direita continua empenhada em considerá-la apenas um negócio.

Numa entrevista-vídeo con-cedida ao “Acção Socialis-ta”, o secretário nacional do PS Jorge Seguro Sanches sublinhou que o país con-ta com “um grande poten-cial em energias renová-veis”, salientando que o sec-tor energético em Portugal constitui “uma garantia de desenvolvimento”.“Ao contrário da direita, que vê a energia apenas como uma for-ma de cobrar mais dinheiro às populações, nós temos, no Parti-do Socialista, uma perspectiva de que o sector energético é, de facto, muito importante para o futuro, não só do país, mas tam-bém do planeta pela questão das alterações climáticas”, afirmou o dirigente do PS, para quem o Executivo Passos-Portas errou gravemente quando decidiu aplicar a taxa máxima do IVA na fa-tura do gás e da eletricidade precisamente no momento em que em Portugal se produzia mais energia com base em recursos endógenos.Mas o Governo de coligação PSD-CDS está a preparar outro erro igualmente grave, consubstanciado em dois diplomas sobre os quais o PS pediu apreciação parlamentar.

Injustiça e insensibilidadeJorge Seguro acusa o Executivo de direita de pretender que, de forma “abrupta” e sem que exista um mercado concorrencial no fornecimento de gás natural e electricidade no mercado nacio-nal, acabem as tarifas reguladas e seja uma só empresa a definir os futuros preços a serem praticados neste sector.Perante este modelo de liberalização, o secretário nacional do PS fala de “injustiça” e de “insensibilidade”, apontando o dedo a uma estratégia fiscal pouco inteligente, que em nada promove a produção nacional.“Entendemos que este é um ataque brutal aos direitos dos con-sumidores e à vida de todos os portugueses e queremos manifes-tar, no local próprio que é a Assembleia da República, a nossa to-tal discordância com a forma como está a ser feita esta liberali-zação, sem que exista em Portugal um mercado concorrencial na electricidade e no gás”, vincou Jorge Seguro, aproveitando para manifestar orgulho na aposta do PS nas energias renováveis dos governos socialistas.E avisou que “o PS vai ser muito exigente na forma como vais ser praticada a política energética neste país”. M.R.

equilibrar os riscos do crédito à habitaçãoEvitar os custos sociais do incumprimento no crédito à habitação, protegendo as famílias sem afetar a sustentabilidade da banca nem onerar o orçamento de Estado, é o objetivo central do pacote de medidas que o PS apresentará sobre a matéria na Assembleia da República.

O deputado Duarte Cordeiro adiantou ao “Acção Socialista” que uma das propostas deste paco-te recupera “uma moratória para desempregados que já existiu em 2009”.Com esta moratória, “os desem-pregados beneficiam de um perío-do de carência durante dois anos, em que só pagam a parte corres-pondente ao juro e não pagam a parte corresponde ao capital. Re-cebem durante esses dois anos um apoio, um empréstimo, que não pode exceder nem 50% da presta-ção nem um valor superior a 500 euros”, explicou o deputado Duar-te Cordeiro.Para a efetivar o apoio previsto, os socialistas propõem a criação de um fundo de garantia que terá como objetivo “autonomizar a mo-ratória, que como não é financia-da pelo Orçamento do Estado, fun-cionará como o fundo de garantia automóvel ou o fundo de garantia salarial”.

Também para prevenir o incumpri-mento, o PS vai propor a extensão a todas as pessoas dos benefícios que atualmente são facultados aos desempregados de mobilizarem os Planos de Poupança Reforma (PPR) ou Planos de Poupança Edu-cação (PPE) para efeitos de crédito à habitação, sem penalização.O PS defende igualmente que, em caso de viuvez, divórcio, separação judicial de pessoas e bens ou dis-solução da união de facto, o spread inicialmente estipulado não possa ser objecto de aumento no âmbito de renegociação contratual, como tem acontecido.

ps quer impedir conflitos nos arrendamentos antigoso PS propõe quatro alterações essenciais à nova lei do arrendamento do Governo para suavizar o processo de actualização das rendas, evitar conflitos entre inquilinos e senhorios e promover mais equilíbrio e justiça no sector.

Em entrevista-vídeo ao “Acção Socialista” o vice-presidente da bancada do PS Mota Andrade explica que a primeira propos-ta de alteração à nova Lei do Ar-rendamento Urbano é que o pe-ríodo de transição das rendas antigas, anteriores a 1990, seja um período de 15 anos, “por-que são esses 15 anos que estão plasmados no programa do Go-verno e foi, aliás, com esses 15 anos que o PSD se apresentou ao eleitorado com o seu progra-ma eleitoral”.O deputado do PS lembrou que, na proposta que o Parlamento está a apreciar, o Governo “não propõe período para a tran-

sição, diz que é imediata”, sal-vaguardando duas situações: quando o arrendatário tem mais de 65 anos de idade ou 60% de incapacidade.No caso do comércio e ser-viços, o diploma do Executi-vo prevê que “as microentida-des” tenham cinco anos “para se adaptar”.“O que nós propomos é que seja de 15 anos essa transição e que seja para todos”, especificou.Outra proposta do PS é que “quem auferir rendas seja taxa-do com uma taxa fixa de 25%, porque essa é a taxa dos depó-sitos bancários”.Uma terceira proposta está rela-

cionada com os despejos e o ob-jetivo é que este seja um proces-so eficiente e rápido, evitando situações que se arrastam du-rante longos meses, e às vezes anos, em tribunal.Em concreto, o PS quer que seja retirada do diploma do Governo a criação do Balcão Nacional do Arrendamento e que os despe-jos sejam concretizados em três meses, após incumprimento.A quarta proposta socialista prevê que a atualização das ren-das antigas seja sempre feita em função do valor do locado e não em negociação direta, para evi-tar conflitos entre inquilino e senhorio. M.R.

Segundo Duarte Cordeiro, esta é uma medida razoável, uma vez que, “se é bem verdade que a ban-ca não tem interesse no incumpri-mento, é também verdade que por vezes a sua prática conduz a esse incumprimento”.Já no pós-incumprimento, o de-putado sublinha que o PS prevê “a possibilidade de pessoas pode-rem entregar a casa e regularizar a dívida”.Neste ponto, salienta a abertu-ra do partido a contributos exter-nos. Assim, assinala que o “PS vai ao encontro de uma ideia defen-dida pela associação dos consu-midores de produtos financeiros no sentido de se poder entregar a casa para regularização da dívi-da ao banco “quando o valor do ca-pital amortizado mais o valor do imóvel for superior ao valor do ca-pital mutuado”.Mas, no caso de as famílias terem de entregar as casas aos bancos, o PS defende ainda a criação de dois regimes de exceção: um para de-sempregados, outro para pessoas cujos rendimentos diminuíram.O PS defende ainda que, caso a fa-mília entregue a casa ao banco e esta vá a leilão, o valor-base de li-citação suba de 70 para 85%, re-duzindo assim a ocorrência de si-tuações em que, após a venda, só as famílias pagam o risco das des-valorizações dos imóveis no mer-cado. M.R.

A Alameda D. Afonso Henriques foi palco a 19 de julho de 1975 do maior comício realizado em Portugal. o PS lutava pela consolidação da democracia contra a aventura totalitária comunista. Era o princípio do fim do gonçalvismo.

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o caso do jornal “república”, que teve forte repercussão internacional, foi um momento marcante na defesa pelo Ps da imprensa livre e liberdade de expressão.

TRATADo oRçAmENTAL responsabilidade assumida, oportunidadeperdida

Sónia [email protected]

o PS assumiu com os portugueses o compromisso de se constituir como uma alternativa à governação de direita, e, para isso, tem apresentado ao país um caminho diferente, um caminho que con-

cilia o equilíbrio das contas públicas com o crescimento económico e o emprego. Numa crescente credibilização do seu projeto político e na assunção do nível de responsabilidade que se exige de um partido que se afirma como alterna-tiva, o Partido Socialista tem vindo a exercer o mandato que os portugueses lhe conferiram, com sentido de Estado, ciente do momento difícil que Portu-gal atravessa e disponível para a resolução dos problemas dos portugueses, assegurando estabilidade e honrando os compromissos do passado.Por considerar essencial garantir a estabilidade da União Económica e mone-tária – reforçando os mecanismos de governação económica que garantam uma resposta mais integrada entre os países da zona euro, o PS votou a fa-vor do Tratado Europeu (Tratado orçamental).Bem sei que o Tratado não constitui, por si só, uma resposta à crise que as-sola a Europa, contudo, porque julgo que o reforço da governação económica da Europa constitui um pressuposto para o seu fortalecimento e lhe confere novos instrumentos para combater as crises, nomeadamente a crise das dí-vidas soberanas, considero que este tratado consubstancia o compromisso, para já, possível ao nível europeu, e constitui a base considerada necessária para ultrapassar a atual situação. A questão mais controversa é a da inscrição da chamada “regra de ouro”, que dispõe que cada país deve evoluir para um défice estrutural de 0,5% do PIB.Importa desde logo referir que, para Portugal, este objetivo não é novo, já que no PEC IV estava previsto um défice inferior e na Lei de Enquadramento orçamental se encontra já estabelecida regra semelhante. Assim, a questão fulcral não é tanto o que o Tratado contempla, mas an-tes o que ele não prevê. o facto de este Tratado apenas levar em linha de conta a componente de equilíbrio das finanças públicas e omitir com-pletamente a necessidade de promover medidas que potenciem o cresci-mento económico e o emprego confere-lhe um desequilíbrio evidente. o PS apresentou um projeto de resolução na Assembleia da República para que se promovesse um protocolo adicional ao Tratado que contemplasse esta vertente, no fundo que estabelecesse uma segunda “regra de ouro”, esta referente ao emprego e ao crescimento económico, minimizando aquele desequilíbrio.A resposta do Governo foi equívoca numa primeira fase e negativa no final.Inicialmente o PS registou com muito agrado a disponibilidade do primei-ro-ministro e presidente do PSD para que fossem apresentadas propostas de modo a que o texto da resolução, de alguma forma, traduzisse esse consenso europeu, no entanto, o ministro dos Assuntos Parlamentares e o líder parlamentar do PSD vieram desdizer o que foi dito e recusar qualquer diálogo.ou seja, na prática a maioria não se mostrou disponível para preservar o con-senso europeu, aprovando a resolução do PS, ou dando contributos efetivos para a sua redação, perdendo-se aqui uma grande oportunidade.

OPINIÃO

1.º maio

seguro insiste no emprego e crescimento Numa mensagem divulgada no 1º de maio, Dia do Trabalhador, António José Seguro desafiou o primeiro-ministro a aceitar a proposta do PS para a criação de emprego e crescimento económico, chumbada há cerca de um mês pela maioria de direita.

“Desafio novamente o primei-ro-ministro a aceitar a pro-posta do PS para a criação de emprego e crescimento eco-nómico e que juntos possa-mos, no interior da União Eu-ropeia, dotar o Tratado Euro-peu da dimensão económica e social que lhe falta”, disse o lí-der do PS.“Há muitos meses que temos vindo a apresentar propostas concretas de apoio à econo-mia, de apoio às nossas empre-sas para que estas criem rique-za e postos de trabalho”, disse António José Seguro, lembran-do, a propósito, uma propos-ta que o PS apresentou no mês passado no Parlamento para introduzir uma adenda ao Tra-tado Europeu, uma iniciativa chumbada pela maioria parla-mentar de direita PSD/CDS-PP.Na mensagem, o secretário-ge-ral do PS começou por saudar “todos os trabalhadores que, em Portugal, dão o melhor de si para o desenvolvimento e para o bem-estar do país”, su-

blinhando que o 1º de maio de 2012 é comemorado em “tem-pos muito difíceis”, marcados pela existência de “um milhão e 300 mil portugueses desem-pregados, entre eles milha-res e milhares de jovens que não têm uma oportunidade de emprego”.Por isso, defendeu, “há que mudar esta situação” e afian-çou que “não vamos baixar os braços, vamos continuar a lu-tar para que o emprego e cres-cimento seja a prioridade para a saída da crise”.

Em defesa dosdireitos laboraisNeste 1º de maio de festa e de luta contra a ofensiva do Go-verno neoliberal aos direitos dos trabalhadores, os dirigen-tes nacionais do PS Miguel La-ranjeiro, Álvaro Beleza, Vítor Ramalho, Jamila Madeira e João Serrano estiveram presentes nas manifestações da UGT e da CGTP-IN, onde milhares de so-cialistas, militantes e simpati-

zantes, marcharam em defesa de uma política de crescimen-to e emprego e contra o empo-brecimento, desemprego, pre-cariedade laboral em e retira-da de direitos sociais e laborais.Falando aos jornalistas à mar-gem da manifestação da UGT, o dirigente socialista Miguel La-ranjeiro considerou que as de-clarações feitas nesse dia pelo primeiro-ministro sobre a eli-minação dos feriados tradu-zem um recuo do Governo. “O primeiro-ministro recuou completamente naquilo que é a proposta de lei que está neste momento em discussão na Assembleia da República (AR)”, disse Miguel Laranjei-ro. “O Governo colocou na AR um diploma em que permiti-ria que o corte dos feriados ci-vis e religiosos não fosse em si-multâneo e veio hoje dizer que a sua proposta está errada e que vai recuar desse ponto de vista”, acrescentou, recordan-do que o PS se opõe à extinção dos feriados. J.C.C.B.

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olof Palme preside em Estocolmo, Suécia, a 22 de agosto de 1975, a uma reunião da Internacional Socialista, durante a qual é criado o “Comité de Apoio ao Socialismo Democrático em Portugal”.

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a grande responsabilidade de mantervivos os valores e o ideário do ps

O secretário-geral do PS falava, no dia 19 de abril, antes do al-moço comemorativo que juntou no salão nobre da sede nacional os fundadores do partido, com destaque para Mário Soares, António Arnaut, Maria de Jesus Barroso, Alfredo Barroso, Jaime

Gama, Arons de Carvalho e An-tónio Reis, entre outros.“As comemorações dos 40 anos do PS não se esgotarão num dia e prolongar-se-ão por mais tempo”, disse Seguro ao iniciar a sua breve intervenção de bo-as-vindas, na qual referiu os

António José Seguro anunciou que o camarada mário Soares vai presidir em 2013 às comemorações do 40º aniversário da fundação do Partido Socialista, num discurso de celebração dos 39 anos do partido em que definiu como prioridade o combate às injustiças sociais. marY rodrigues

objetivos políticos da histó-ria dos socialistas portugue-ses, desde “a luta pela liberda-de, até à integração de Portugal na Comunidade Económica Eu-ropeia”, a par da “afirmação do Poder Local e das funções so-ciais do Estado”.“O PS deixou ainda marcas na eliminação da discriminação entre mulheres e homens a fa-vor de uma sociedade inclusi-va e bateu-se por um Portugal acolhedor da imigração. Somos hoje um país completamen-te diferente”, sublinhou o líder socialista, citando de seguida uma frase de Antero de Quen-tal que lhe tocou quando en-

trou pela primeira vez na sede do Largo do Rato.“Dizia que onde estiver a injus-tiça é aí que deve estar o so-cialismo”, frisou, confessando que a frase o tocara para sem-pre e que a mantém viva na sua ação política, até porque “nun-ca como hoje precisamos tan-to de socialismo e de combater as injustiças em Portugal e no mundo”.Como líder do PS, António José Seguro assumiu sentir “a gran-de responsabilidade de manter vivos os valores e o ideário do PS”, especialmente nestes “tem-pos muito difíceis” que vivemos.Segundo o secretário-geral,

“quando todos os dias são dadas machadadas no Estado Social, quando se tomam medidas que deixam portugueses para trás, o PS opõe-se a essa lógica, em-bora “nem sempre bem compre-endido, mas reconfortado com a sua consciência e convicções”.A terminar a sua intervenção, António José Seguro dirigiu uma emotiva mensagem aos fundadores do partido presen-tes no almoço comemorativo do aniversário dos socialistas.“O vosso contributo não tem apenas a ver com a fundação do PS. É um contributo que não dispensamos que continue a ser dado. Com as vossas opini-

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A “Europa Connosco” foi uma frase que ficou célebre nos primeiros anos da Revolução. E, de facto, a Europa democrática estava com o PS, como o demonstrava este comício no então

Palácio de Cristal.

ps – 39 anos a lutar pela liberdade e igualdadeo PS fez 39 anos no dia 19 de Abril. São quase quatro décadas em que os socialistas na oposição e no governo, num mundo em permanente mudança, tiveram um papel cimeiro na luta por uma democracia pluralista, com direitos de cidadania civil, política e social, com o objetivo de transformar Portugal numa sociedade mais justa.

Há 39 anos a fundação do PS, em pleno Estado Novo, tinha por obje-tivo central criar condições para que após o derrube da ditadura os socialistas tivessem um instrumento fundamental para a sua ação política. E o PS foi essencial para a consolidação da democracia nos primeiros tempos conturbados do regime saído do 25 de Abril, de-pois na construção do Estado Social, na promoção de políticas de igualdade de género, no reforço dos direitos laborais, e na nossa in-tegração europeia, com a adesão à então CEE, que foi decisiva para um longo período de crescimento económico impulsionado pelos fundos europeus e de estabilidade política.E tudo isto mostrando que o exercício do poder deve ser feito num clima de diálogo e em concertação social.O 39º aniversário do PS comemora-se numa altura em que Portu-gal tem à frente dos seus destinos o Governo mais à direita de sem-pre com uma agenda neoliberal muito clara de destruição, a pre-texto da crise, dos direitos laborais e sociais conquistados no pós-25 de Abril. O PS, sob a liderança do camarada António José Seguro, festeja mais um aniversário com a responsabilidade de manter os valores e ideá-rios do PS e de procurar caminhos alternativos de esquerda para en-frentar a ofensiva da direita. J.C. CASTElO BrANCO

a grande responsabilidade de mantervivos os valores e o ideário do ps

António Arnaut“orgulho-me do PS! o PS faz parte da história democrática portuguesa”.“A história escrita do PS é muito mais pequena do que a história por es-crever, porque o futuro é grande e o futuro é nosso e, portanto, temos que ter confiança nos fundadores e nos continuadores”.

Mário Soares“o PS foi o partido estrutural da II República. Foi um partido que, ora na oposição, ora no governo, sempre esteve presente e sempre encaminhou o país para o melhor. Portanto, faço um bom juízo do que foram estes 39 anos de Partido Socialista”.“Penso que vai haver muitas transfor-mações na sociedade portuguesa e é preciso que o PS se imponha e também crie juventude nele, novos quadros, nova gente, para podermos avançar”.

Almeida Santos“Então não valeu [a pena lutarmos] para trocarmos uma ditadura pela liberdade e pela democracia!”“o PS esteve na origem dos grandes mo-mentos, em que no PREC nós travámos as tendências da altura para cairmos ou-tra vez em regimes duros e conseguimos salvaguardar um regime democrático”.

Ferraz de Abreu“o 25 de abril trouxe ao país a liberdade e a democracia, mas depois trouxe um grande presente ao povo português: foi o Serviço Nacional de Saúde”.“o grande acontecimento [nestes 39 anos] foi o Partido Socialista que o criou, foi o Serviço Nacional de Saúde”.

Maria Carolina Tito de Morais“Nós lutámos muito, no início do Partido Socialista, para que a mulher pudesse ter um estatuto com igualdade de direi-tos e igualdade de deveres, como têm os homens. Essa luta foi, mas continua a ser necessária. Ainda não acabou, porque ainda há muita desigualdade, nós sabemos. mas, de qualquer maneira, o PS tem sido o partido que mais se tem empenhado em que essa igualdade seja atingida”.

Alfredo Barroso“muito do que de melhor aconteceu neste país nestes 39 anos deve-se ao Partido Socialista, à sua luta e ao seu empenhamento, nomeadamente o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, entre muitas outras conquistas e muitos outros direitos que foram ad-quiridos e que agora, infelizmente, estão a ser postos em causa pela direita”.

ões conseguiremos em breve reconciliarmo-nos ainda mais com os portugueses, conquis-tando-lhes a confiança e o cora-ção”, declarou.Também Mário Soares usou da palavra por breves instan-tes para evocar os fundadores já falecidos. Nomes como Raúl Rego, Manuel Tito de Morais, Salgado Zenha, Gustavo Soro-menho, Catanho Menezes e Fer-nando Vale fizeram eco nos lá-bios de muitos dos camaradas.Depois, alertou para dois peri-gos “inaceitáveis”: a destruição do Serviço Nacional de Saúde e a do Estado Social.“Estão a destruir o Estado como Estado e isso não pode aceitar--se. Nós temos que, acerca dis-so, ter uma posição muito fir-me, como se teve sempre nos momentos mais difíceis do Par-tido Socialista”, finalizou.

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o comício do PS no então Pavilhão dos Desportos contra a unicidade sindical (tentativa dos comunistas de impor a Intersindical como central única) em 1975 foi um dos maiores marcos na luta pela democracia.

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o exemplo francêsConfirmaram-se as melhores expectativas nas eleições para a presidência em França. o candidato socialista François Hollande derrotou Sarkozy e concretizou a vontade e esperança de milhões de franceses ao ser empossado como o 7º Presidente eleito na história da V República.

Antes de conhecer François Hollande interrogava-me sobre as suas reais probabilidades de vir a sentar-se no Palácio do Eli-seu. Conheci-o no início da cam-panha, no comício dedicado ao desporto realizado no Pavilhão de Creteil, e percebi imediata-mente a razão pela qual mui-tos franceses se identificavam com ele.A gentileza no trato, mesmo com os adversários políticos, é uma imagem de marca. Como é a sua consistência e tenacidade. O sor-riso e a capacidade de criar con-sensos fazem com que seja um

político em quem se confia.A França é uma referência in-contornável na União Europeia, um dos seus mais populosos pa-íses, uma das maiores econo-mias do mundo, uma potência militar e nuclear. Está na pri-meira linha das indústrias ino-vadoras: aeroespacial, automó-vel, química, farmacêutica, in-formática, entre outras.É dos países que mais contribu-íram para o desenvolvimento da cultura e civilização ociden-tal. Inúmeros franceses se dis-tinguiram em áreas tão diversas como a filosofia a pintura, a li-teratura, a política, a ciência, a medicina , entre outras. Acolhe atualmente milhões de estrangeiros, entre os quais cen-tenas de milhares de portugue-

PoRVitorMiranda

ses. É o país mais laico do mun-do (onde mais pessoas se decla-ram não religiosas) e pátria das grandes ideias republicanas. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade traduzem-se hoje no facto de os franceses adora-rem os debates e a inovação.Um país que respira liberdade, inovação e laicidade dispensa lí-deres messiânicos. Não acredi-ta em quem “nunca se engana e raramente tem dúvidas”. Enten-de que gentileza, consistência e simplicidade não significam obrigatoriamente indecisão ou fraqueza.Prefere um Presidente que seja criador de consensos. E que apela à união das pessoas.Para reorientar a França, Fran-çois Hollande propõe medidas ambiciosas, embora de difícil concretização, que passam pelo crescimento económico e o em-prego. Hollande recusa uma Eu-ropa da austeridade e defen-de a renegociação do Tratado Europeu, dando ainda priori-dade à educação e ao futuro da juventude.A campanha revelou a capacida-de do candidato e do Partido So-

cialista Francês de concretizar tarefas ambiciosas. O partido uniu-se e mobilizou-se. A cam-panha porta a porta foi um su-cesso. Organizou-se uma gran-de mobilização de pessoas sem ligações anteriores à ativida-de política sob o slogan: Tous Hollande.Portugal não é um país tão grande e populoso como a França. Contudo, a sua história é muito rica. A língua portugue-sa é das mais faladas no mun-do. A magnífica aventura dos Descobrimentos, as contribui-ções culturais em todas as áre-as, o cosmopolitismo do nosso povo contribuem para que Por-tugal seja considerado pelos estrangeiros como um dos pa-íses mais marcantes da histó-ria da civilização ocidental e da aproximação entre os povos de todo o mundo.Atravessamos tempos de crise económica e social. O estado de graça do atual Governo de coli-gação e do seu primeiro minis-tro Passos Coelho chegou ao fim. Os portugueses sentem-se per-didos com as galopantes taxas de desemprego e com uma cres-

cente austeridade que asfixia a economia. A direita nacional, historicamente retrógrada dos pontos de vista cultural e eco-nómico, cede facilmente a lóbis nacionais e estrangeiros, sendo incapaz de apresentar soluções inovadoras e de defender os in-teresses estratégicos nacionais.A exemplo do que se passa em França este é o tempo de reo-rientar Portugal. É tempo de dar prioridade ao crescimento e ao emprego, à educação e ao futu-ro dos jovens.Cabe ao Partido Socialista perto de celebrar 40 anos de existên-cia, a missão de unir e mobilizar os portugueses para a mudança. No nosso país as ideias republi-canas não estão tão arreigadas na população como em França. A liberdade, o espírito inovador e a laicidade não são tão mar-cantes. Porém, em Portugal, tal como em França, dispensamos líderes messiânicos. Precisamos de líderes com con-sistência, capacidade de traba-lho e em quem os portugueses confiem. Quem pense nas pes-soas e nos faça sentir que so-mos: Todos Portugal.

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Na aula magna da reitoria da Universidade em Lisboa, o PS realizava o I Congresso. Uma reunião magna marcada por um forte e plural debate ideológico. os socialistas defendiam

uma rutura com o capitalismo.

o nosso

caminho

Eurico Brilhante [email protected]

o Governo escolheu um caminho para Portugal: desvalorizar o trabalho para reequilibrar da forma mais acelerada possível a balança de bens e serviços, reduzindo as necessidades de finan-

ciamento da economia. Um caminho que se baseia, ao mesmo tempo, na convicção de que Portugal não é, e não será, capaz de financiar o Estado social que ergueu desde o 25 de Abril. E, por isso, não perdeu tempo. Com uma maioria estável no Parlamento, e com uma maioria comunicacional – que não social – que ‘bombardeia’ os portugueses de inevitabilidades, onde nada é garantido e nenhum direito parece sufi-cientemente adquirido, o Governo encontrou o ‘caldo’ ideal para fazer regredir os rendimentos do trabalho, para promover o desemprego

como uma ‘ferramenta’ de desvalorização nominal dos custos unitários de trabalho, para atacar os salários dos funcionários públicos e as pensões dos pensionistas, sem que se vis-lumbre um retorno destes sacrifícios.Tudo tem sido feito para que o ajustamento seja rápido, profundo, sem deixar margem para que os portugueses possam ter uma austeridade menos agressiva. A questão or-çamental tem sido vista numa perspectiva puramente financeira, sem ter em conta os equilíbrios que o Estado como agente econó-mico deve fazer.o PS tem vindo, desde Julho, a alertar para o erro da receita, afirmando que há outro ca-minho. Um caminho onde os recursos escas-sos – tão escassos neste momento – sejam alocados à criação de emprego e ao desen-volvimento do sector exportador; um outro caminho onde o Estado português não fique ‘aprisionado’ à singularidade da política de re-dução da despesa, e seja capaz de no quadro orçamental encontrar políticas orientadas ao

crescimento económico. Passados seis meses esta nossa proposta de caminho tem vindo a ganhar adeptos: da srª Lagarde do FmI, ao sr. Barroso da Comissão Europeia; do sr. monti ao sr. Cameron. Discursivamente, no léxico dos políticos europeus, o PS já ganhou quando antecipou uma solução para a saída da crise que parece hoje (quase) consensual; na prática, e menos ainda na vida dos cidadãos, este discurso não tem tido impactos visíveis. E o Governo (ainda) in-siste na receita do ‘custe o que custar’. o tempo tem vindo a dar razão às teses do PS; e os portugueses, confrontados com o erro da receita, mais cedo do que tarde, saberão reconhecer os méritos da nossa pro-posta. Este é o nosso caminho; este é o nosso dever para servir, como sempre servimos, Portugal.

OPINIÃO

O Governo escolheu um

caminho para Portugal:

desvalorizar o trabalho para

reequilibrar da forma mais

acelerada possível a

balança de bens e serviços,

reduzindo as necessidades de

financiamento da economia

reformas anteciPadas suspensão não resolve nada de estruturalo Executivo de direita está a tomar decisões às escondidas, acusou o secretário-geral do PS, no debate quinzenal da Assembleia da República que se seguiu ao anúncio súbito do congelamento das reformas antecipadas.

subsídios de natal e férias confiscados após 2015?António José Seguro insiste em que o primeiro-ministro precisa de assumir as suas responsabilidades no caso da eternamente adiada reposição dos subsídios de Natal e de férias dos trabalhadores da Administração Pública e pensionistas.

Segundo secretário-geral do PS, os portugueses têm sido sucessi-vamente enganados, dando mar-gem folgada ao agravamento no défice de confiança entre os por-tugueses e o Governo liderado por Pedro Passos Coelho.Mas, pior do que esta crise de credibilidade é que também o próprio primeiro-ministro, com as suas atitudes e “enganos”, evi-dencie que “já não tem confian-ça no caminho que escolheu e já não acredita na sua própria receita”.As incertezas sobre a reposição dos subsídios de férias e de Na-tal dos funcionários públicos e pensionistas continuam a minar a confiança que os portugueses precisam de ter no Executivo e no primeiro-ministro.Após um jogo de palavras que se prolongou por semanas, com di-reito a lapsos, correções, explica-ções mais ou menos pormenori-zadas e pinceladas de realismo que apontam para uma receada

espera sine die, o Executivo, pela voz da ministra da Justiça, admi-tiu a hipótese dos referidos sub-sídios continuarem suspensos para além de 2015.Esta possibilidade, recentemen-te ventilada por Paula Teixeira da Cruz, surge depois de Pedro Passos Coelho ter avançado que a reposição estava prevista para 2015, mas talvez de uma forma gradual.Recorde-se que esta medida, que prevê o corte dos 13.º e 14.º me-

ses dos funcionários do Estado e reformados, foi anunciada como temporária e com um período de duração de dois anos (2012 e 2013).No entanto, informações subse-quentes do Executivo aponta-vam o seu fim para a conclusão do programa de ajustamento fi-nanceiro (2014).Mais recentemente, a titular da pasta da Justiça admitiu um ce-nário de prolongamento da sus-pensão de subsídios. M.R.

Na ocasião, António José Segu-ro exigiu explicações ao primei-ro-ministro, condenando o Go-verno por ter decretado a refe-rida suspensão “nas costas dos portugueses”, ferindo as mais elementares regras de trans-parência que devem imperar numa democracia.Para os socialistas, a suspensão das reformas, tendo sido levada a cabo no mais absoluto secre-tismo e à margem da concerta-ção social, sem negociação, não só gorou de forma desumana as expectativas criadas a milhares de pessoas, como também teve um “impacto brutal” em milha-res de famílias.

Na sequência da publicação do decreto governamental em “Diário da República”, o por-ta-voz do Secretariado Nacio-nal do PS, João Ribeiro, ques-tionou o que se estaria de fac-to a passar para que o Executi-vo, em véspera de Páscoa, agis-se “às escondidas”.O dirigente socialista apontou a existência de “declarações contraditórias sobre a capaci-dade de se atingirem os objeti-vos do programa de ajustamen-to financeiro em setembro de 2013” e considerou evidente o descontrolo do Governo.Pouco depois, o Partido Socia-lista entregava no Parlamento

um pedido de audição do mi-nistro Mota Soares, com “carác-ter de urgência”, por causa da forma “escondida” e “à socapa” como a medida foi tomada pelo Governo.De referir ainda que o parti-do pediu também a apreciação parlamentar do decreto-lei em questão, uma vez que, salien-tam os socialistas, este não re-solve nada de estrutural, nem na Segurança Social, nem nas contas públicas, limitando-se a empurrar as despesas para a frente, já que as pessoas aca-barão por reformar-se daqui por dois ou três anos com pen-sões mais altas. M.R.

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secção

uma verdade inconvenienteAl Gore

Um dos livros centrais para quem se preocupa com um dos conceitos mais importantes nas polí-ticas públicas (não só de ambiente): a sustentabilidade. Para a humanidade, o valor deste livro sairá ainda mais re-forçado dentro de alguns anos.Diz o autor que “estamos em colisão com o sistema ecológico do planeta, o que resulta na ruína dos seus compo-nentes mais vulneráveis.”Todavia, acrescenta, “ainda vamos a tempo de escolher um futuro pelo qual os nossos filhos nos agradecerão.”Para vencer este titânico desafio, pre-cisamos apenas, defende, de vontade política!Trata-se, pois, de um livro imprescin-dível que resume e sistematiza muito do que é preciso saber para compre-ender o problema e para poder agir e exigir, uma vez que concilia a infor-mação científica mais recente e rigo-rosa com uma clareza de comunicação invulgar.

o mundo é plano — uma história breve do século xxiThomas Friedman

Como a globalização e as novas tecnologias mudaram e vão con-tinuar a mudar as nossas vidas (e nem sempre para melhor)? Como é que um país se desenvolve? O que significa vi-ver num mundo plano para as empre-sas, países, comunidades, cidadãos? Como os governos e as sociedades po-dem e devem adaptar-se a esta nova realidade? São estas algumas das per-guntas para as quais o autor Thomas L. Friedman avança respostas nesta obra, dividida em 13 capítulos.A tese básica do autor é a oposta à cor-rente: a globalização não gera mais pobreza e injustiça. Pelo contrário, fa-cilita a vida aos pobres que queiram concorrer no mercado aberto.O que o livro de Friedman pretende demonstrar é que o mundo está a ficar

mais igualitário e nivelado, conceden-do aos países atrasados mais oportu-nidades para entrar em áreas onde an-tes lhes era impossível participar.

a queda de um anJoCamilo Castelo Branco

Uma sátira àqueles que, na política, em função dos seus interesses e da

sua agenda, esquecem valores. Como a política pode mudar a vida de muitos…Uma das mais célebres obras literárias de Camilo Castelo Branco, escrita em 1866, que descreve de maneira carica-tural a vida social e política portugue-sa e traz, ainda, um aspeto risível ao tratar também do desvirtuamento do Portugal antigo.Trata-se de uma parábola humorística na qual o protagonista, Calisto, um fi-dalgo austero e conservador, encarna de maneira satírica o povo português.Ao ser eleito deputado, Calisto vai para Lisboa, onde se deixa corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital.

império à derivaArtur Patrick Wilcken

A visão de autor austra-liano sobre a fuga da Cor-te Portuguesa para o Bra-

sil (por altura das invasões france-sas) é um bom ensaio para adaptações para os tempos que vivemos actual-mente na Europa.Baseada em fontes históricas primá-rias, nomeadamente testemunhos dos diplomatas britânicos que estive-ram em Portugal no período que an-tecedeu as invasões napoleónicas e à fuga da corte portuguesa encabeçada pelo príncipe regente D. João (futuro D. João VI) para o Rio de Janeiro, esta obra, além de fazer uma descrição ri-gorosa e fidedigna das mudanças e do progresso que o Brasil sofreu com a chegada da corte portuguesa, desfaz alguns mitos brasileiros sobre a figu-ra de D. João VI que se instalaram a se-guir à independência.

Um LIVRo PoR SEmANA SUGESTõES DE LEITURA DE Jorge seguro sanches

Em carro aberto, o secretário-geral, mário Soares, saúda a multidão em Setúbal, na campanha eleitoral para as legislativas de 1976. Um clima de entusiasmo que teve tradução nas urnas, com a vitória do PS que viria a formar Governo.

“a crise da esquerda europeia”

“união europeia, hoje e o Futuro”

“nada está escrito”

Com vista a quebrar o unanimismo e redinami-zar a esquerda, Alfredo Barroso escreveu o que pensa sobre a actual crise, as razões dela e os pos-síveis caminhos de futu-ro num livro intitulado “A Crise da Esquerda Eu-ropeia”, editado pela D. Quixote.Segundo o autor, esta obra “procura romper com o pensamento único que o neoliberalismo instituiu há muito” e quer contri-buir para abrir espaço a “um pensamento que seja livre dos interesses finan-ceiros e dos poderes”.

O ensaísta critica assim a situação de falta de plura-lidade que existe em Por-tugal e afirma que “nas televisões, por exemplo, aparecem sempre os mes-mos economistas a sus-tentar e a justificar as po-líticas de austeridade”.Mas, um dos traços des-te livro é a crítica a Cava-co Silva. O antigo chefe da Casa Civil de Mário Soa-res considera mesmo que Cavaco “é um dos princi-pais políticos responsá-veis pelo estado a que o país chegou e garante que com isto não está “a des-responsabilizar os outros

políticos do PSD e do PS”.Mas insiste na ideia de que “Cavaco é dominan-te nos últimos 30 anos, ele é estrutural, ele criou o monstro” e até faz um paralelismo entre o atu-al chefe de Estado e Sala-zar. M.R.

O novo livro de poesia de Manuel Alegre, “Nada Está Escrito”, foi apresen-tado, no dia 16 de Abril, em Lisboa, com o selo da D. Quixote.Ao longo de 88 páginas, o poeta-político escreveu, com o seu ritmo particu-lar, 55 poemas, divididos em sete capítulos.De regresso à poesia, Ale-gre defende que, numa al-tura de crise, cada poema que se faz é uma “liberta-ção” da linguagem na cul-tura do número, é “uma derrota da indigência”,

seja ela de natureza cultu-ral, ética, política ou mes-mo literária, uma derrota também da “regressão ci-vilizacional que hoje esta-mos a viver”.A propósito deste li-

vro, editado num contex-to particularmente di-fícil para Portugal, Ma-nuel Alegre questiona se “pode a poesia mudar al-guma coisa?” e, sem arris-car uma resposta absolu-ta, aponta que, “talvez es-crever poesia hoje seja, sobretudo, um sobressal-to” e ainda “um acto de resistência”.E aponta que entre os muitos défices que avas-salam o mundo e invadem as nossas vidas há um de que não se fala. Esse é o défice de poesia. M.R.

O ex-eurodeputado so-cialista Joel Hasse Fer-reira lançou, em Lisboa, o seu mais recente livro, intitulado “União Euro-peia, Hoje e o Futuro”.Ao longo de cerca de duas centenas de pági-nas, o autor apresen-ta uma visão atualizada da União Europeia, pers-pectivando o seu futuro. Aborda processos de de-cisão e foca aspetos es-senciais que dificultam ou potenciam a cons-trução europeia, enqua-drando o papel de dife-rentes estruturas bem como das mais relevan-

tes forças políticas, eco-nómicas e sociais na Eu-ropa atual.Trata-se, pois, de uma leitura incontornável para todos os interessa-dos na problemática eu-ropeia, que possibilita uma compreensão mais aprofundada do que se passa e nos condiciona na complexa União Euro-peia que integramos.A obra, publicada pe-las edições Sílabo, foca de um modo particu-lar os contributos que são dados pelos prota-gonistas da construção europeia, mas também

destaca a importância do papel desempenhado por cada europeu e cada re-sidente na União para a edificação de um sistema político, económico e so-cial de tipo novo, ao qual interessa dar coerência e garantir o futuro. M.R.

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o PoEmA DA VIDA DE...

secção

O que é preciso é gente gente com dente gente que tenha dente que mostre o dente

Gente que não seja decente nem docente nem docemente nem delicodocemente

Gente com mente com sã mente que sinta que não mente que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente que fira de unha e dente e mostre o dente potente ao prepotente

O que é preciso é gente que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente não sente como a gente não quer ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente só é dominada por essa gente quando não sabe que é gente

Ana Hatherly

Esta Gente / Essa Gente

EURÍDICE PEREIRA

o I Governo Constitucional chefiado por mário Soares toma posse a 23 de julho de 1976, na sequência da vitória do PS nas legislativas desse ano.

“gestão da Felicidade”Carlos Zorrinho, líder parlamentar do PS, escreveu um ensaio sobre a felicidade no qual conclui que é preciso redefinirmos o sentido da vida, menos baseado nas máscaras consumistas e mais no contributo que damos à sociedade.

A obra “Gestão da Felicidade – Ensaio sobre um futuro desejá-vel no mundo, na Europa e em Portugal”, com prefácio de Al-meida Santos, parte do pressu-posto de que “pessoas tenden-cialmente felizes são o segredo de uma sociedade económica e socialmente sustentável”.Carlos Zorrinho defende que as políticas públicas em Portu-

gal devem ter em linha de con-ta a psicologia coletiva e pro-duzir um discurso mobilizador para a concretização de objeti-vos positivos.Por outro lado, salienta que essas novas políticas públi-cas precisam de focar-se na-queles recursos do país que dão instrumentos aos cida-dãos para se realizarem e se-

rem parte da solução.O também professor catedrá-tico de Gestão de Empresas da Universidade de Évora ins-pira-se, neste livro, na sua ex-periência política para susten-tar a tese de que “o casamen-to improvável, mas necessário, entre felicidade e política exi-ge uma social-democracia de nova geração”. M.R.

as ilhas

“assombradas”

Victor [email protected]

As plúmbeas nuvens que pairam sobre a madeira e o Porto Santo e que tapam o sol aos madeirenses e porto-santenses infelizmente vieram para ficar e lançaram sobre a Região uma

tempestade que parece nunca mais ter fim e que está a fazer a popu-lação retroceder no tempo. Hoje a Região está a braços com uma situação de aguda crise que só tem paralelo na sua História com os tempos do Estado Novo. Depois do 25 de Abril que trouxe aos cidadãos da Região o secular anseio de Autonomia e a capacidade de se governarem a si próprios sem tudo ter que passar pelo Terreiro do Paço e da entrada de Portugal na União Europeia, que trouxe milhares de milhões de euros em fun-

dos estruturais, a que se juntaram ainda mais milhares de milhões de euros em transferên-cias do orçamento de Estado e o perdão da dívida pelo então primeiro-ministro António Guterres, os madeirenses e porto-santenses são obrigados a uma austeridade sem prece-dentes, bastante superior ao esforço pedido ao Continente, decorrente da entrada em vi-gor do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro resultante do pedido de ajuda feito pelo Governo Regional devido aos mui-tos erros cometidos nas décadas que dura a sua governação ao Governo da República por causa duma colossal dívida que até estava escondida.o PAEF – cujo pagamento começa em 2016 e termina em 2033 - pretende ser um conjunto de medidas para garantir a sustentabilidade das finanças públicas regionais. Pretende que até 2015 haja um superavit orçamental na Região. Para que isso aconteça tem que diminuir a despesa e aumentar a receita. Até aqui parece tudo normal. Só que assim não é.

os madeirenses e porto-santenses estão sujeitos a uma brutal carga fiscal e os resultados já estão a ser assustadores. Por outras palavras: estes sacrifícios impostos à Região, impostos aos madeirenses e porto-santenses pelo Governo Regional do PSD e pelo Governo da República PSD/CDS estão a transformar a Região numas ilhas assombradas pelas falências, desemprego, pobreza e emigração.E para contrariar esta funesta realidade e fazer com que a madeira e Porto Santo sejam de facto “Ilhas Encantadas”, como assim ficam desde sempre conhecidas na História, só há um caminho: renegociar a dívida e o PAEF de modo a que os madeirenses e porto-santenses não permaneçam durante muito mais tempo o que agora são: fantas-mas e almas penadas a viver em Ilhas “Assombradas”.

Estes sacrifícios impostos à

Região [...] aos madeirenses e

porto-santenses pelo Governo

Regional do PSD e pelo Governo

da República PSD/CDS estão

a transformar a Região

numas ilhas assombradas

pelas falências, desemprego,

pobreza e emigração

OPINIÃO

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última

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mário Soares na cerimónia de Adesão de Portugal à CEE no mosteiro dos Jerónimos

Que diagnóstico faz da nos-sa Saúde?O Serviço Nacional de Saúde está doente, isto é, está a pas-sar um mau bocado porque as políticas de austeridade cegas estão a asfixiar o que de me-lhor fizemos em Portugal a se-guir ao 25 de Abril.É preciso não esquecer que o SNS é o sector do Estado por-tuguês mais moderno e reco-nhecido internacionalmente, com índices de grande quali-dade a nível mundial e que tem tido uma boa evolução enorme no acesso de todos os portu-gueses aos cuidados de saúde de qualidade. Também não po-demos esquecer que o SNS é uma obra do Partido Socialista.Mas também é preciso denun-ciar, as vezes que forem pre-cisas, que está em curso uma agenda encoberta de destrui-ção do SNS. Há uma agenda li-beral de privatização do siste-ma, como há também para a

Segurança Social.O que o PS defende – e se for governo fará –, é que se cor-te verdadeiramente nas gor-duras da saúde e que, em vez de cortes cegos, se realizem as fusões necessárias, acabem as estruturas burocráticas inter-médias e se juntem serviços, isto é, que se racionalize o SNS para o salvar, para o moderni-zar, simplificar e melhorar.

Qual ou quais as medidas deste Governo de direita para este sector acha mais chocantes e porquê?A mais chocante foi o aumen-to exagerado das taxas mode-radoras, que eu já chamei ta-xas inibidoras, porque verda-deiramente inibem as pesso-as de recorrerem aos cuidados de saúde.Este aumento, encima da cri-se, das pessoas terem menos rendimentos, de estarem de-sempregadas e de sentirem

mais dificuldades é revelador de uma total insensibilidade humana.

O encerramento da Materni-dade Alfredo da Costa está na ordem do dia e no centro da polémica. O que tem a di-zer sobre isto?Não se pode encerrar uma ins-tituição com o prestígio nacio-nal e internacional da Alfredo da Costa, que conta com equi-pas de grande qualidade, sem envolver os profissionais nes-sa mudança.Se o PS fosse Governo, a MAC não seria encerrada antes da conclusão do Hospital de To-dos os Santos nem antes de ouvirmos os peritos na área e os profissionais da Alfredo da Costa, os autarcas e os utentes para, entre todos, achar a me-lhor solução, que passaria cer-tamente por manter as equi-pas da Alfredo da Costa na ín-tegra. MArY rODrIGUES

TRêS PERGUNTAS Aálvaro beleZa

Janelas de

esperança

Maria de Belém [email protected]

Se eu quiser representar por imagem a coincidência entre o Programa de ação contido no memorando de Entendimento e o contido no Pro-grama do Governo, posso fazê-lo através de dois círculos concêntri-

cos em que o mais pequeno corresponde ao memorando e o de maior área ao Programa do Governo.Razão pela qual este não hesitou em avançar com medidas para além da troika. Estas encaixavam-se perfeitamente nas suas opções ideológicas e permitiriam fazer acontecer mais rapidamente o programa de desconstru-ção da configuração do papel do Estado e das relações económicas e sociais, tal como são encarados pela atual liderança do PSD.Como a História nos ensina, nem sempre os voluntarismos dão bom resulta-do. É que a realidade, muitas vezes, é mais forte que as ideias e pode impedir, por isso, que estas se concretizem. Se fosse só assim não haveria grande pe-rigo. o problema está em que o choque que esse desfasamento – entre a re-alidade e a ideia – provoca, pode causar enormes ruturas e grandes tensões.ora, é isso mesmo o que se passa em Portugal. o exagero na receita das medidas de austeridade provocou maior mal que bem e os ajustamentos

pretendidos estão a causar graves disrupções sociais de que a subida de desemprego, das falên-cias, da pobreza, das doenças mentais e a dificul-dade de acesso aos cuidados de saúde são a face mais visível.Andou, por isso, bem o PS quando sempre exigiu que o Programa de austeridade da troika fosse completado com medidas orientadas para o cres-cimento e o emprego sem as quais dificilmente poderíamos honrar os nossos compromissos porque, com facilidade, cairíamos numa espiral recessiva.

E, durante muito tempo, o PS andou a falar sozinho ou a ser criticado pela sua exigência.mas, lá está. A realidade falou mais alto, através de indicadores verdadei-ramente aterradores e, de um momento para o outro, cada vez são mais as vozes que se juntam ao PS, quer interna, quer externamente, clamando por uma agenda politica virada para o crescimento e o emprego. mas aqui, mais uma vez, por razões diferentes: o PS porque considera que é através do trabalho que as pessoas se desenvolvem na sua plenitude e conseguem realizar-se, outros porque temem as consequências e as perturbações so-ciais cuja eclosão pode ser devastadora.Seja como for, é indispensável que o PS mantenha toda a sua força neste combate e que mobilize a Internacional Socialista numa aliança que inverta o caminho de desespero que as receitas neoliberais de subvalorização do interesse coletivo, perante o interesse particular, traçaram.E, nesse sentido, a sintonia discursiva e estratégica estabelecida com Al-fredo Rubalcaba na sua visita de trabalho e a reunião de Roma dos partidos progressistas para a concertação de posições neste domínio são janelas de esperança que se abrem para todos nós.

O exagero na receita das

medidas de austeridade

provocou maior mal

que bem

OPINIÃO

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Nº 78 • ABRIL DE 2012Suplemento Informativo dos Deputados Socialistas no Parlamento Europeu

Notado Editor

Para uma altErNativaSocialiSta EuroPEia

o rosto da Europa

O documento do PSE sobre “Para

uma alternativa socialista Euro-

peia” será uma peça essencial do

programa europeu dos governos

socialistas e dos futuros candida-

tos socialistas ao PE em 2014.

Ao fim de mais de dois anos de

hesitações, devido à volatilidade

da crise das dívidas soberanas e

à insuficiente resposta das insti-

tuições europeias, o documento

apresenta uma análise serena e

incisiva sobre as causas e o de-

senrolar da crise e propõe dez

medidas interligadas, algumas

das quais faziam de há muito

parte do programa dos Socialis-

tas e Democratas Europeus mas

que só agora se tornaram viáveis

devido à progressiva adesão de

outras forças politicas até aqui

relutantes.

O consenso parlamentar que es-

tas dez medidas recolhem é muito

elevado hoje. Mas o seu desenvol-

vimento técnico e implementação

estão ainda muito demorados. Em

Portugal, algumas destas medi-

das são bem conhecidas (euro-

bonds, project bonds, FTT) mas o

seu argumentário é ainda incom-

pleto. Daí a obrigação que os Par-

lamentares Socialistas Europeus

de Portugal sentem de divulgar

estas propostas, suscitando a dis-

cussão que as enriqueça.

Tendo em conta a forma articula-

da como elas se apresentam, vão

ser uma peça essencial da estra-

tégia socialista para reverter o

atual domínio da direita no Parla-

mento Europeu e no Conselho.

Eis a razão pela qual esta temá-

tica foi escolhida como tema cen-

tral para o Suplemento Europa

relativo ao mês de abril.

antónio correia de campos

Edite Estrela

O défice orçamental domina a agenda política europeia. A crise económica relegou para segundo plano todos os outros assuntos, mesmo os mais re-levantes. Por causa do défice, os líde-res europeus fizeram letra morta dos fundamentos da construção europeia, atropelaram a democracia e substitu-íram, na Grécia e em Itália, governos legítimos por governos de tecnocratas não sufragados pelo voto do povo. Por causa do défice e em nome do pragma-tismo, o Conselho Europeu aprovou um tratado intergovernamental, o Pacto Orçamental, à revelia do Parlamento Europeu e deixando de fora o Reino Uni-do e a República Checa. Tratado desne-cessário e que não resolve nenhum dos problemas que afligem os cidadãos, designadamente, o desemprego (que atinge números nunca vistos, sobretu-do entre os jovens), a perda do poder de compra e da qualidade de vida. Por cau-sa das dívidas soberanas de alguns Es-tados-membros, assiste-se à emergên-cia de egoísmos nacionais e à quebra da solidariedade que, no passado, as-segurou a coesão regional e uniu povos e nações em torno de um projeto único no mundo. E porque os líderes europeus estão mais preocupados com a opinião pública nacional e em ganhar eleições do que em defender a moeda única e o projeto europeu, as decisões têm sido tímidas, tardias e desadequadas. Fal-tam grandes líderes nesta Europa em crise. Líderes com coragem, como se depreende da afirmação do presidente do Eurogrupo: "o problema não é que não saibamos o que fazer, o problema é que não sabemos se seremos reeleitos se o fizermos".Mais preocupantes que o défice or-çamental, são os outros défices: de democracia, de solidariedade e de li-derança. Devia ser ao contrário, tanto mais que o Tratado de Lisboa reforçou a democracia e a cidadania. O PE ganhou mais poderes - elege o Presidente da Comissão mediante proposta do Con-

selho; pode demitir a Comissão; passa a ser colegislador em pé de igualdade com o Conselho relativamente a 95% da legislação europeia - e os Parlamen-tos nacionais viram reforçados os seus dispositivos de controlo da aplicação do princípio de subsidiariedade. A de-mocracia participativa também saiu reforçada, principalmente, através do direito de petição e da Carta dos Direi-tos Fundamentais juridicamente vincu-lativa. Algo está errado. Neste período de incertezas, mais do que nunca, é preciso aprofundar a União, melhorar a democracia e reforçar a cidadania eu-ropeia, instituída pelo Tratado de Maas-tricht, em 1992.Jean Monnet afirmou que "a Europa será feita do conjunto das soluções que forem dadas às crises que consiga su-perar”. As propostas dos governos de direita, que maioritariamente decidem o rumo europeu, já provaram que em vez de conduzirem à superação da crise

estão a definhar a economia e a empo-brecer os cidadãos. Os socialistas eu-ropeus apresentaram "uma alternativa socialista para a Europa", um verdadei-ro programa para o futuro da Europa. São apenas dez pontos, mas essenciais, em cujo ponto décimo reafirmam e de-fendem "o reforço da democracia eu-ropeia", da cidadania e da liberdade de imprensa, alertando para o perigo dos monopólios mediáticos e do controlo dos media europeus por parte de gru-pos de países terceiros. Alerta perti-nente, tendo em conta o que se está a passar em alguns Estados-membros de que a Hungria é o pior exemplo. Alerta que deve ser também ouvido em Por-tugal, para evitar a concentração de órgãos de comunicação social, designa-damente, em mãos de angolanos.Pessoa escreveu que o rosto da Europa era Portugal. Neste momento, vemos um rosto desfigurado num corpo marti-rizado, mas não percamos a esperança.

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actualidadENº 78 | ABRIL 2012 | 2

“uma base mais justa para o comércio internacional”

vital moreira

1. O manifesto “Para uma alternativa socialista europeia”, constitui a mais abrangente e mais estruturada tomada de posição do Partido Socialista Euro-peu (PSE) desde o início da atual crise iniciada em 2008 (primeiro como cri-se financeira, depois económica e so-cial, finalmente crise da dívida pública sem deixar de ser nenhuma das duas primeiras).2. Entre as orientações propostas con-ta-se uma referente ao comércio inter-nacional, “uma base mais justa para o Comércio Internacional”.Na verdade, o comércio internacional não podia faltar num programa político europeu. Em primeiro lugar, a UE cons-titui o maior ator comercial do mundo. A economia europeia depende essen-cialmente do comércio internacional. Importamos muito do que consumimos; exportamos muito do que produzimos. Na moderna globalização das cadeias de produção muitos produtos incor-poram componentes produzidos em

vários países. Para exportar é preciso importar.Em segundo lugar, a política de comér-cio internacional é desde há muito uma tarefa exclusiva da União, sendo defini-da e conduzida pelas suas instituições, incluindo o Parlamento Europeu, e não pelos Estados-membros, cuja parti-cipação ocorre por via do Conselho da União.Em terceiro lugar, a política de comér-cio externo da União, abrindo novos mercados, pode ser decisiva para a ca-pacidade da economia europeia de gerar crescimento e criar emprego.3. Exigir uma “base mais justa para o comércio internacional” - como quer o manifesto do PSE - justifica-se plena-mente, visto que a economia da União é vítima de três situações que a colo-cam em desvantagem competitiva no comércio internacional.A primeira consiste nas práticas co-merciais desleais de alguns grandes atores mundiais, à cabeça dos quais se encontra a China, e que consistem na subsidiação estatal das exportações, na política de “dumping” (exportação por preço abaixo do valor habitual de venda do produto no mercado de origem ou do seu custo de produção), bem como de fenómenos generalizados de violação dos direitos de propriedade intelectual

- nomeadamente as marcas, as paten-tes, as denominações de origem geo-gráfica - das quais depende em muito a competitividade da economia europeia. Na mesma linha entra a manipulação da cotação da moeda de modo a embara-tecer as exportações e a encarecer as importações.Por isso, combater eficazmente essas práticas desleais, que são todas ilegais à face do direito internacional do co-mércio externo, deve constituir um ob-jetivo fundamental da União Europeia.4. A segunda situação injusta decorre dos diferentes padrões sociais (desig-nadamente padrões laborais) e ambien-tais entre a União Europeia, onde eles são elevados, e os de muitos dos nossos competidores, entre os quais alguns dos chamados BRIC, nomeadamente a China e a Índia, onde são muito mais baixos. Padrões sociais e ambientais in-feriores - a somar aos salários baixos - traduzem-se obviamente em custos e preços mais baixos dos produtos e serviços oriundos desses países, tra-duzindo-se em verdadeiras situações de “dumping” social e ambiental, como refere o manifesto do PSE.Por isso é plenamente justificada a proposta de reforçar o mandato da Co-missão Europeia para combater esse “dumping social e ambiental” nas ne-

gociações de acordos internacionais de comércio. Trata-se de aprofundar os ca-pítulos de “desenvolvimento sustentá-vel” que constam dos tratados interna-cionais de comércio de última geração (com a Coreia do Sul, com a Colômbia e o Peru, com a América Central, etc.).Já a ideia de aplicar unilateralmente taxas às importações de países que não cumpram os requisitos ambientais da UE (por exemplo, quanto às emissões de CO2) é mais problemática, por ser de duvidosa legalidade face às normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).5. Por último, ainda na perspectiva da equanimidade do comércio internacio-nal, importa eliminar as situações de abertura assimétrica do mercado eu-ropeu aos nossos competidores sem idêntica abertura da parte deles, como ocorre por exemplo nas compras pú-blicas (aquisição de bens ou serviços pelos poderes públicos), onde a União é assaz aberta, sem que alguns dos nos-sos maiores competidores (como a Chi-na e os próprios Estados Unidos) façam o mesmo. Ressalvadas as relações com os países em desenvolvimento, as relações co-merciais devem pautar-se por um prin-cípio de reciprocidade e de competição no mesmo plano (level playing field).

imposto sobre transações financeiras e obrigações

para financiamento de projetos

antónio correia de campos

Na lista das dez propostas contidas no manifesto dos Socialistas Europeus, sob o título Para uma Alternativa Euro-peia Socialista, apresentado em março último e que se encontra a colher subs-critores ao nível dos Estados Membros, figuram duas propostas que podem ter um efeito estruturante na recuperação económica europeia: (a) a criação de um imposto sobre as transações finan-ceiras e (b) a promoção do investimen-to em infraestruturas, através de obri-gações para financiamento de projetos, emitidas pela União e apoiadas pelo Banco Central Europeu (BCE).De acordo com o manifesto, o imposto sobre as transações financeiras (ITF) visa criar incentivos ao emprego na in-

dústria e serviços, a cargo de pequenas e médias empresas (PME); impulsionar a investigação e o desenvolvimento (I&D); e financiar objetivos públicos a nível do Globo, tais como o combate às alterações climáticas e a ajuda ao desenvolvimento.Na proposta da Comissão Europeia que agora se encontra em discussão no Par-lamento Europeu, o ITF seria de 0,1% para a generalidade das transações financeiras e de 0,01% para as opera-ções sobre derivados. Estima-se que o montante anual daqui resultante, nos países que adiram ao ITF, possa atingir 57 milhares de milhões de Euros, duas vezes e meia o montante dos fundos alocados a Portugal para os sete anos de vigência do atual QREN. A proposta da Comissão destinaria 1/3 da receita ao país onde ele fosse gerado e 2/3 a receitas próprias da União, o que per-mitiria reforçar, entre outras, a I&D, o combate às alterações climáticas e a ajuda ao desenvolvimento.As obrigações para financiamento de

projetos, que se encontram em estu-do na Comissão e no Banco Europeu de Investimento (BEI, não confundir com BCE), destinar-se-ão ao reforço do fi-nanciamento das redes transeuropeias de energia e de transportes, as quais implicam pesadas infraestruturas até aqui financiadas pelos Estados Mem-bros, pelo sector privado em cada País e pelos fundos de coesão. O que daria emprego a centenas de milhares de trabalhadores, relançando o cresci-mento da Europa. Na atual situação dos mercados financeiros, estas obrigações teriam que ser objeto de cobertura adi-cional do risco associado ao crédito de cada país, para evitar distorções graves do custo nacional do recurso aos fun-dos. Enquanto a análise das propostas de investimento ficaria a cargo do BEI, a mutualização do diferencial de risco seria organizada pelo BCE.Se estas propostas tivessem sido apre-sentadas há dois anos atrás, o seu des-tino seria o caixote do lixo: a Comissão não acreditava nelas, ou discordava da

sua viabilidade e mais de metade dos pa-íses as recusariam. Neste momento, é a Comissão que as propõe por sua iniciati-va, o Parlamento muito provavelmente vai aceitá-las e muitos países declaram estar de acordo com elas. É certo que a Suécia, a República Checa e o Reino Uni-do se manifestaram contra o ITF. Mas o facto de, na proposta da Comissão, um terço da receita se destinar aos países onde ocorre a transação é um incentivo forte à eventual mudança de posição.A lição a tirar destes debates e da evo-lução das posições europeias, à medida que a crise da dívida soberana afecta novos países, demonstra que o recurso ao método intergovernamental pelas combinações entre Merkel e Sarkozy se revelou incapaz de salvar a Europa e cada vez se torna mais reconhecida a necessidade de voltar ao velho e bom método comunitário para a fazer pro-gredir. O que seria, há dois anos, uma excentricidade socialista, está a trans-formar-se numa via possível de saída da crise.

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actualidadE Nº 78 | ABRIL 2012 | 3

uma alternativa em afirmação

Novos recursos imprescindíveis ao projeto Europeu

Elisa Ferreira

O que mais terá de acontecer para con-cluirmos que falhou rotundamente a agen-da de austeridade imposta na Europa pela dominação ideológica neoliberal? Quando o exército de desempregados atinge 50 milhões (mais do que a população espa-nhola), grande parte dos jovens tem como alternativas o desemprego ou uma emigra-ção sem perspetivas de regresso, um nú-mero crescente de empresas (sobretudo PMEs) fecha quotidianamente sob a asfixia de uma procura esmagada e de um crédito inexistente e a descrença no futuro em ge-ral, e na Europa e na politica em particular, alimentam regimes antidemocráticos e partidos radicais (vejam-se elucidativa-mente a atual situação da Hungria ou as projeções eleitorais para a Grécia) …

Coisa diferente é saber se a esquerda tem efetivamente uma agenda alternativa sufi-cientemente robusta, capaz de preencher as brechas que se vão começando a abrir no monolitismo político – as alterações na Bélgica, Croácia, Dinamarca e Eslováquia – e que as eleições francesas podem definiti-vamente consolidar. Se a enorme desilusão dos eleitores se vier traduzir numa onda de mudança, onde farão os socialistas a diferença?Com efeito, os socialistas europeus têm procurado ir construindo a sua agenda, a qual hoje se estrutura, para debate e ma-turação, em torno de 10 linhas de ação que derivam, na sua maioria, de duas prin-cipais. Em primeiro lugar, a exigência de que, a par da disciplina orçamental, o cres-cimento, o emprego e a inclusão social be-neficiem de igual prioridade política, vigor legislativo e concentração de meios; uma exigência que rompe radicalmente com o dogma atualmente dominante segundo o qual o crescimento nasce, qual fénix mi-lagrosa, a partir do equilíbrio orçamental construído com base numa série de medi-

das recessivas.Em segundo lugar, a exigência de medidas concretas de defesa e proteção da dívida soberana dos Estados Membros da Zona Euro. Mesmo admitindo que a intervenção que é proposta para o BCE nesse sentido só possa vir a ocorrer a prazo (uma vez que implicaria a alteração do seu esta-tuto), muito mais se pode fazer no curto prazo (desde uma gestão coordenada da dívida à criação de euro-obrigações) para além das tardias, parcelares e penosas decisões que conduziram ao Fundo Eu-ropeu de Estabilização Financeira e ao seu sucessor, o Fundo de Estabilização Monetária.A agenda vai-se assim construindo, ponto por ponto. Importa, entretanto, que avan-ços sucessivos no sentido da austerida-de – como é o Tratado Orçamental – não acabem em oportunidades perdidas para ir colocando no tabuleiro da política, e de forma bem visível aos olhos dos cidadãos, os elementos integrantes de um caminho alternativo. Tal como os almoços, também os consensos não podem ser grátis…

luís Paulo alves

A UE atravessa um período de crise, com enormes prejuízos na economia e no em-prego, despoletado por transações alta-mente especulativas - provando-se assim uma ligação clara entre a ineficiente re-gulação e supervisão financeira, o desem-penho das economias e a sustentabilidade das finanças públicas.Paradoxalmente, a resposta conservado-ra tem-se baseado quase exclusivamente no aumento da tributação, principalmente sobre o emprego, na imposição de cortes orçamentais e medidas de austeridade que ameaçam a recuperação, o emprego e a coesão social. Mas há outro caminho, baseado na promoção do crescimento sustentável e na criação de empregos, salvaguardando a sustentabilidade a lon-go prazo das finanças públicas.O orçamento da UE constitui um instru-mento indispensável para a coordenação e alavancagem dos investimentos nacio-nais, garantindo que importantes inves-timentos possam realmente ocorrer, ge-rando valor acrescentado e solidariedade no espaço económico da UE. Para o poten-ciar há que criar instrumentos inovadores de financiamento e reformar o sistema de recursos próprios da UE para que possa acorrer tanto à gestão comum das dívi-das soberanas, como ao imprescindível conjunto de investimentos com retorno

e valor acrescentado, fundamentais para dinamizar a economia estagnada da UE e aumentar a convergência entre os seus Estados-membros.O sistema de recursos próprios ganha especial sentido numa altura em que os orçamentos públicos nacionais estão sob forte pressão, e ao mesmo tempo se acentua a necessidade de se reforçar verdadeiramente o orçamento da UE, para melhor responder à crise. Um novo sistema de recursos próprios deve alcançar uma ligação mais forte e mais democrática entre os cidadãos, agentes económicos e o orçamento da UE. Deve ser fiscalmente neutro, na medida em que os cidadãos não devem pagar mais impostos por causa da mera existência da própria União Europeia. A capacidade contributiva dos cidadãos e a progressivi-dade (“quem tem mais, paga mais”) deve orientar o processo de reforma dos recur-sos próprios. Como os recursos orçamen-tais da UE são atualmente baseados em contribuições nacionais, a contribuição per capita depende da riqueza do país do contribuinte de residência ao invés da sua própria riqueza pessoal.Desde logo, deve-se terminar com as isen-ções e com as devoluções que, na maior parte dos casos, só existe para se conse-guir um compromisso possível entre os Estados-Membros nas negociações das perspectivas financeiras. A Comissão já sugeriu um novo recur-so baseado no IVA que se traduziria em 29,4 mil milhões de Euros, cerca de 18% do Orçamento de 2020. E após a insistên-cia dos socialistas, também já propôs um Imposto sobre Transações Financeiras

(ITF), para regular os mercados financei-ros, e cujas receitas devem ser alocadas ao orçamento da UE. A Comissão propôs a taxação de 0,1% ou 0,01% conforme o tipo de ativo e estimou uma receita de 57 mil milhões de Euros ao ano - o que equi-vale a cerca de 40% do orçamento da UE para 2011. Uma proposta socialista mais ambiciosa, de 0,05% sobre todas as tran-sações, traria uma receita potencial de cerca de 200 mil milhões de Euros por ano ao nível da UE e poderia contribuir para criar mais de 2 milhões de novos empre-gos na UE.Outra opção é a aplicação de “impostos verdes”, segundo o princípio do poluidor--pagador, transferindo carga fiscal para as atividades que mais poluem o ambien-te, provocam emissões de gases com efeito de estufa e usam volumes conside-ráveis de recursos. Isso traria incentivos importantes para se mudar para fontes de energia sustentáveis e renováveis e disponibilizaria uma receita adicional significativa. Por outro lado, é necessário encontrar também os instrumentos adequados para impor um imposto de CO2 sobre os produ-tos e serviços importados, a fim de elimi-nar as desvantagens competitivas para o mercado interno.Assim, com a adopção destas medidas, entre um conjunto de outras igualmente indispensáveis na arquitetura financeira da UE, não só se contribuía para a refor-ma do sistema de recursos próprios da UE, de forma justa, como se permitia aos Estados Membros reduzir os encargos dos cidadãos no IVA, estimulando o consumo interno.

Swoboda em Portugal para reforçar cooperação com o PS O presidente do Grupo Socialista no Parlamento Europeu, Hannes Swo-boda, deslocou-se recentemente a Lisboa para uma série de contactos com o secretário-geral António José Seguro e outros responsáveis socia-listas portugueses. A presidente da Delegação Socialis-ta Portuguesa no PE, Edite Estrela, acompanhou a visita. Os encontros permitiram reafirmar posições con-vergentes quanto à necessidade de imprimir um novo rumo político à UE, de colocar o emprego e o crescimen-to económico no topo das prioridades e de dar impulso a um projeto polí-tico e social europeu que resolva os problemas dos cidadãos. Na visita à sede do PS, Hannes Swoboda e o se-cretário-geral do PS afirmaram total convergência na defesa de uma UE com menor austeridade, com mais investimento e com harmonização das políticas fiscais. O secretário--geral do PS defendeu que a resposta à crise tem de ser europeia. António José Seguro e o líder dos socialistas no PE defenderam ainda a necessida-de de uma "convergência fiscal" e de novas formas de financiamento das políticas europeias e nacionais, de-signadamente através de uma taxa sobre as operações financeiras. Han-nes Swoboda considerou inaceitável a elevada taxa de desemprego jovem e responsabilizou as transações fi-nanceiras especulativas pela última crise internacional. Ainda na sede do PS, Swoboda encontrou-se com António Vitorino. Hannes Swoboda deslocou-se à Assembleia da Repú-blica para uma reunião com o grupo parlamentar do PS e teve um breve encontro com a presidente da AR. Swoboda visitou também a Funda-ção Mário Soares para um encontro com o líder histórico dos socialistas. A agenda incluiu ainda um jantar de trabalho com deputados do PS mem-bros da comissão parlamentar dos Assuntos Europeus.

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FICHATÉCNICA

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actualidadENº 78 | ABRIL 2012 | 4

uE precisa de se afirmar na vizinhança

ana Gomes

A Primavera Árabe demonstra que a União Eu-ropeia precisa de se afirmar pela positiva na vizinhança imediata, se quiser ter à sua porta democracia, respeito pela legalidade, desenvol-vimento e segurança. Na percepção dos povos que se revoltaram contra Ben Ali, Khadafi, Mou-barak, Saleh, etc... a Europa não se distinguiu por os vir apoiando no combate aos opressores. E mesmo uma intervenção militar redentora, para evitar “in extremis” o massacre de civis, como acabou por ocorrer na Líbia, não se fez sob a égide da Politica Europeia de Segurança e Defesa, mas da NATO, embora com contribuição europeia.As revoltas no mundo árabe, em especial nos países que com a Europa partilham a bacia me-diterrânica, e as repercussões que já estão a ter para além dela, exigem da UE que se em-penhe estrategicamente no apoio às transições democráticas, o que implica também reconhe-cer a necessidade de assistir as forças demo-cráticas a corresponderem aos tremendos desafios da governação económica, em países sob a pressão de populações maioritariamente jovens (e à mercê de fortes investimentos para as radicalizar, incluindo provenientes da Arábia

Saudita e do Qatar).A assistência europeia terá de implicar a mobi-lização de diversas políticas e instrumentos fi-nanceiros, a interação em diferentes graus com atores estatais e sociedade civil, bem como o recurso à experiência e capacidades de Esta-dos Membros, designadamente aqueles que a Sul e na Europa Central viveram processos de transformação política antes de aderir à UE. Mas a articulação estratégica de todos estes meios é vital para a UE ser parceiro reconheci-do no mundo árabe ou africano, além de ajudar a resolver ou conter “conflitos congelados” no Cáucaso. Não se trata só de contribuir para a estabilização na vizinhança: trata-se de garan-tir a própria segurança da UE. Olhe-se para o Sahel e África circundante, onde hoje circulam arsenais de Khadafi acessíveis a todo o género de grupos em Estados tão frágeis como o Mali ou a Guiné-Bissau (onde acabam de ocorrer golpes-de-Estado), com tremendas carências económicas agravadas pela seca e pela falta das remessas dos antigos emigrantes na Líbia, sobre o pano de fundo de reivindicações tribais, manipuláveis pelas redes de criminalidade or-ganizada ali infiltradas, dos narco-traficantes à AQMI (Al Qaeda no Magrebe Islâmico) e ao Boko Haram nigeriano.Face a tais desafios, a UE tem de atuar de forma estratégica e coesa, assumindo sem complexos os interesses comuns e projetando-os de forma coerente com os seus princípios, valores e res-ponsabilidades globais. Precisa para tanto de conciliar divergências internas, que são ditadas

por prioridades, interesses e relacionamentos históricos diferentes entre os 27 Estados Mem-bros: a Suécia ou a Alemanha não sabem, nem quererão saber, da Líbia ou da Tunísia, como a França ou a Itália, mas também não sofrem do lastro negativo de negociatas do passado recente....Urge tirar partido do novo modelo institucional introduzido pelo Tratado de Lisboa e da criação do Serviço Europeu de Ação Externa, que deve articular os recursos da Comissão e do Conse-lho. O cargo de Alta Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, confiado a Catherine Ashton, uma trabalhista britânica, não pode ser meramente figurativo ou reativo, na base do mínimo denominador comum. Os governos dos Estados Membros têm de dar pas-sos na integração política da União também na frente externa - sob pena de a UE se tornar ir-relevante como ator regional e global. Situações de cacofonia política e diplomática têm dado má imagem - da escandalosa abstenção alemã no Conselho de Segurança a propósito da Líbia, à divisão sobre a questão do reconhecimento da Palestina como membro da UNESCO. Pior ainda é a inação relativamente ao bloqueado processo de paz entre israelitas e palestinos, não obs-tante considerável investimento feito pela Alta Representante: as consequências pagam-se no exacerbar da tensão com Teerão a propósito do respectivo programa nuclear; na impotência europeia face à ofensiva da ditadura de Assad contra o povo sírio; na percepção das diversas “ruas árabes” sobre os “dois pesos e duas medi-

das” das potências ocidentais relativamente ao central conflito israelo-árabe. E claro, pagam-no muito caro as sociedades israelita e palestina.É preciso que a Alta Representante, que tem no seu mandato os poderes e os instrumentos necessários, tenha o arrojo de os utilizar, se necessário confrontando os Estados Membros que usam a crise para procurar renacionalizar políticas em vez de avançar na governação e in-tegração europeia. Incluindo aquele de que provem a Baronesa Ashton e que tem sido, historicamente, o mais refractário a que a União assuma responsabi-lidades globais na ação externa. A Política Co-mum de Segurança e Defesa é, neste quadro, instrumento essencial para a gestão de crises que não pode continuar a ser menosprezado: exige investimento conjunto e sustentado em capacidades e recursos, que nenhum Estado Membro está hoje em condições de assegurar isoladamente.Isto é particularmente decisivo em tempos de crise económica e financeira: a crise está a ter pesadas consequências na ação externa euro-peia. Que requer visão estratégica para ir além da miopia ideológica, e tantas vezes religiosa, da direita neo-liberal, obcecada - agora - com redu-ções de défice, dívida, despesa, investimentos. Visão estratégica para os Estados Membros re-conhecerem que, investindo na política externa europeia, gastarão mais inteligente e proveito-samente o dinheiro dos contribuintes. Fazendo mais e melhor, como é devido e necessário, na vizinhança europeia.

“Greening”

capoulas Santos

O título pode parecer estranho para o cidadão co-mum, mas é sobejamente conhecido de todos os agricultores. “Greening” é expressão inglesa que entrou na gíria para identificar parte do conteúdo das propostas da Comissão Europeia relativo aos chamados “pagamentos diretos” aos agriculto-res, a partir de 2014.No passado, os subsídios que a UE pagava aos seus agricultores eram calculados em função das quantidades produzidas, isto é, por exem-plo, por toneladas de cereal ou pelo número de cabeças de gado que cada um produzia. A União pretendia assim dar incentivos para estimular a produção e obter resultados em termos quanti-tativos, o que foi não só plenamente conseguido, como até ultrapassado, com a geração de exce-dentes, a partir de certa altura.As negociações neste momento em curso para a Reforma da PAC, de que tenho a honra de ser o Relator designado do Parlamento Europeu para os principais regulamentos, apontam para que, no futuro, essas ajudas passem a ser pagas por

hectare, independentemente daquilo que o agri-cultor produza, constituindo o pagamento não apenas um apoio ao rendimento mas, sobretudo, uma compensação por serviços prestados por este à comunidade, essencialmente de natureza ambiental.Quer isto dizer que os agricultores europeus te-rão, no futuro, liberdade de escolha sobre aquilo que querem produzir e não produzir apenas “o que dá subsidio” mas continuarão a ter direito a uma ajuda por hectare, num montante a fixar para cada Estado-membro. Esta questão vai ser seguramente a mais controversa de todas uma vez que, de acordo com as regras do passado, há Estados-membros que recebem, em média mais de 500€ por hectare e outros apenas cerca de 70€/ha.Como contrapartida do direito do recebimento deste apoio, terão de respeitar certas condições que contribuam para a melhoria do ambiente, daí a expressão inglesa que, em português, poderá traduzir-se por “verdejamento” ou “esverdea-mento” da Politica Agrícola Comum. A Europa pretende assim que a sua agricultura tenha cada vez mais preocupações ecológicas e que os seus agricultores passem a ser compen-sados pelos serviços ambientais que prestam à comunidade, legitimando desta forma perante a opinião pública os apoios financeiros que a UE lhes atribui.

O que está a motivar acesa discussão entre os agricultores europeus, os ambientalistas e ou-tros sectores da opinião pública, são as condi-ções que devem ser impostas aos agricultores, que sejam comuns em toda a Europa, facilmen-te controláveis e com benefícios ambientais evidentes.A Comissão Europeia propõe que, para além do conjunto de regras já existentes conhecidas por “eco-condicionalidade”, os agricultores tenham de passar a aplicar, de uma até três das se-guintes práticas, segundo a natureza das suas explorações:1- Manter toda a área da exploração com pas-tagens permanentes ou com culturas sob água (arroz);2- Nas explorações que não cumpram o requisito anterior, com mais de 3 hectares, obrigatorieda-de de realizar pelo menos três culturas diferen-tes, sendo que nenhuma delas pode ocupar mais de 70% ou menos de 5% da área total; e, ou, se-gundo os casos;3- Manter pelo menos 7% da área da exploracão sem utilização agricola, podendo incluir-se neste conceito de “Ecological Focus Area”, faixas ar-bustivas de proteção, socalcos, superfícies flo-restadas ou outras formas de proteção do solo ou que contribuam para a defesa e a promoção da biodiversidade.O problema é que, para muitos agricultores, tais

exigências implicam maiores custos de produ-ção e reduzem-lhe as condições para competir num mercado cada vez mais aberto e desre-gulado. Por outro lado, para os ambientalistas, ficam aquém do necessário para fazer face aos desafios ambientais com que a Europa está confrontada.Nos últimos meses tenho participado em deze-nas de reuniões, em Portugal e por toda a Euro-pa, ouvindo as mesmas duvidas e criticas, mas sem que tenha podido anotar até agora medidas alternativas, que sejam comummente aplicá-veis do Atlântico ao Mar Negro e do Àrtico ao Mediterrâneo.Terei assim de encontrar formas tendentes a simplificar e a melhorar as propostas da Comis-são e de introduzir algumas inovações que não deixem quaisquer duvidas sobre a real vontade do PE contribuir para uma PAC mais “verde” mas que, ao mesmo tempo, garantam que a Europa continue a ter uma agricultura competitiva, ca-paz de garantir uma boa parte do seu autoabas-tecimento e a liderança mundial das exportações de produtos agricolas.Veremos, se em junho, quando apresentar os meus relatórios, fui capaz de contribuir para en-contrar a chave de resolução desta dificil equa-ção que, no novo contexto de codecisão, exige um apoio maioritário dos mais de 750 deputados do PE e o acordo simultãneo no Conselho Agricola.

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Director Igor Carvalho Directores-Adjuntos André Valentim, João Correia e Susana GuimarãesEquipa Responsável Alexandra Domingos, Bruno Domingos, Guido Teles, Mariana Burguette, Marta Pereira, Richad Majid e Vasco Casimiro

ÓRGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

SocıalistaJovem nº 510 ABRIL 2012

Participação cívica dos jovensPágina 04

DEBATE JS MADEIRA

Compensa pegada ecológica

em Santa Cruz

Juventude Socialista

Semana Federativa da GuardaPágina 02

REUNIÃO

Page 26: Acção Socialista n.º 1368

SocıalistaJovem

por André Valentim›› [email protected]

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Associação 25 de Abril recusou fazer parte das comemorações oficiaisA histórica associação não quis marcar presença nas comemorações oficiais por considerar que o “atual poder político deixou de refletir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril”. Contudo a associação afirma ter feito parte de comemorações populares e informais.

António José Seguro quer IRS devolvido aos portugueses no prazo normalO Secretário-Geral do Partido Socialista considera importante a reposição das verbas referentes ao IRS em prazos normais devido à condição económica que as famílias portuguesas vivem. “É muito importante que o Estado não retenha o que é das empresas e das famílias”.

Pedro Passos Coelho promete menos impostos em 2015É caso para dizer que o Primeiro-ministro atreve-se a fazer prospecções com objectivos claramente eleitorais. Pelo menos o executivo admite a escalada do desemprego nos próximos anos.

Mariano Rajoy e as dificuldades económicasO executivo espanhol está a aplicar medidas semelhantes às portuguesas e a verdade é que estas estão precisamente a ter o mesmo efeito que em Portugal: Mais desemprego; menos dinheiro e juros mais altos. Na última emissão de dividida espanhola o juros em leilões de curto prazo duplicaram.

›› A Semana Federativa da Guarda realizou-se nos dias 1 a 5 de Abril, tendo focado, na passagem do Secretário-Geral por todos os 14 concelhos dos distrito, a difícil situação enfrentada pelos jovens do interior em momento de crise e de austeridade, num roteiro delineado em estreita articulação com Presidente da Federação, Pedro Rebelo, e com os presidentes da concelhias locais

›› Com a eleição de órgãos da Federação de Portalegre, a Juventude Socialista cumpriu um dos objectivos fixados na moção global de estratégia de reactivação de todas as estruturas federativas do território continental e Regiões Autónomas.

As jornadas iniciaram-se no norte do

distrito, com uma passagem por Vila

Nova de Foz Côa, para uma visita ao

futuro Centro de Alto Rendimento de

Remo do Pocinho e ao Mu-

seu do Côa. Da parte

da tarde a jornada atravessou Figueira de

Castelo Rodrigo, onde se destacou a visi-

ta à freguesia de Castelo Rodrigo e res-

pectiva Junta socialista, e pelo tecido

empresarial do concelho de Pinhel. A

jornada terminou em Almeida, onde,

analisadas as dificuldades causadas

pela introdução das portagens em Vilar

Formoso, se visitou a Associação Des-

portiva, Cultural e Social da Aldeia de São

Sebastião, que desenvolve diversos projectos

com jovens da região.

O segundo dia da ronda pelo distrito procurou identificar

boas práticas autárquicas, através de uma visita à Quinta Pe-

dagógica da Maunça (Guarda) e ficou marcado pela visita a

equipamentos escolares em Gouveia e Celorico da Beira, pela

recepção no Solar do Queijo da Serra e pela tertúlia sobre em-

preendedorismo realizada em Fornos de Algodres.

No terceiro dia, a atenção focou-se em Seia, através de

uma reunião com os responsáveis do Parque Natural da

Serra da Estrela e da visita a investimentos na área da ho-

telaria. Depois de uma visita a uma empresa local

em Aguiar da Beira, o Secretário-Geral visitou

ainda os concelhos da Mêda (em particular

as termas de Longroiva) e de Trancoso.

O última dia ficou marcado pela passa-

gem pelo centro histórico do Sabugal

e pelo contacto com investimentos

municipais de divulgação ambiental

(Centro de Sensibilização Ambiental e

Centro Interpretativo do Vale do Zêze-

re), em Manteigas.

No conjunto dos trabalhos, destacaram-se

ainda as reuniões de trabalho com os Presidentes

da Câmaras da Guarda (Joaquim Valente), Celorico da

Beira (José Francisco Monteiro) e Mêda (Armando Carneiro), e

com vereadores dos executivos das Câmaras de Seia e de Man-

teigas, bem como diversas oportunidades de contacto com a

comunicação social, focando a necessidade de uma abordagem

integrada para a interioridade.

N o passado dia 10 de março, no Crato, António

Pista foi eleito para um mandato de dois anos

enquanto presidente da Federação Distrital

de Portalegre da JS, em mais uma convenção

federativa. Com este marco a JS passou a ter federações ativas

em todo o país, consolidando a sua posição de maior organiza-

ção política de juventude em Portugal, como referiu o Secretá-

rio-Geral da JS, Pedro Delgado Alves, na sessão de encerramen-

to da Convenção de Portalegre, que contou com a presença de

vários dirigentes do PS e da JS locais. António Pista defendeu

que deve ser feira uma aposta no setor turístico para potenciar

o desenvolvimento da região e prometeu ainda uma JS ativa e

com voz forte para transmitir os anseios e preocupações dos

jovens do Alto Alentejo.

Semana Federativa da Guarda atenta aos desafios da interioridade

JS activa em todas as Federações

Page 27: Acção Socialista n.º 1368

Aproveitando a comemora-

ção do Dia Mundial da Ár-

vore, o Secretário Geral da

Juventude Socialista, jun-

tamente com o Secretário

Nacional para o Ambiente,

Artur Patuleia, o presidente da FRO, Carlos Granadas,

o presidente da Concelhia de Torres Vedras, André

Pinto e os jovens socialistas do Oeste e elementos do

PS Torres Vedras, promoveram no dia 23 de março, a

plantação de pinheiros bravos em Santa Cruz - Torres

Vedras, no local da realização do Summer Fest, es-

perando, assim, minimizar o impacte ambiental do

evento e sensibilizar a sociedade civil, em especial as

camadas mais jovens, para a necessidade de adotar

comportamentos que promovam a sustentabilidade

ambiental.

Depois do governo holandês se ter demitido, na pessoa do Primeiro-Ministro Mark Rutte, podemos e devemos pensar no passado recente e na tónica política utilizada. mpanha das últimas semanas.

Importa, em primeiro lugar, referir que este governo holandês era composto por 3 partidos: um liberal; um conservador e, por fim, um de extrema-direita que além de antieuropeu, se caracteriza por profunda-mente xenófobo. Este era um dos executivos mais duros e doutrinários em relação aos sacrifícios que os países não cumpridores deveriam fazer, a par de outros sobejamente conhecidos como a Finlândia e Alemanha que acredi-tam numa receita do FMI verdadeiramente obsoleta.Não deixa de ser irónico, que além de ter sido criado um plano de austeridade que visa o cumprimento de critérios Europeus por parte da Holanda, este não conseguir ser aprovado porque a coligação não chega a acordo o que, desta forma, impossibilita a execução das medidas austeras. Parece que afinal, o rigor, a excelência e a celsitude or-çamental não tem a ver com a latitude nem com o clima menos propício para excessos que se vive mais a norte, tem sim, a ver com questões políticas que existem em qualquer democracia que por vezes condicionam as vontades manifestadas.É esta dualidade de discursos e critérios que vai imperando na U.E. através de políticos, cuja exigência de cumprimento externo, nem sempre está à altura da capacidade de execução interna.Há males que vêm por bem e esperemos que este consiga pôr fim aos moralismos éticos, que como sabemos agora se podem tornar hipócritas, quando a imposição de Bruxelas e a vontade política de um país não se encontram a meio caminho. Quando assim é, já sabemos o que acontece… Bruxelas bate-nos à porta!

igor CarvalhoDIRECtOR DO JOvEM SOCIAlIStA

›› igorcarvalho

@juventudesocialista.org

EDIToRIALAfinal os grandes também caiem…

›› No sentido de compensar o impacto ambiental associado à realização do JS Summer Fest, a Juventude Socialista, monitorizou e contabilizou, com a maior exatidão possível, os gases de efeito de estufa produzidos na sua organização, nomeadamente, o dióxido carbono. Após uma análise da quantidade de CO2 libertado, optou-se pela plantação de pinheiros bravos da espécie Pinus pinaster, com uma capacidade de sequestro de CO2 1,04 ton/50 anos.

›› A conclusão do processo de revisão dos Estatutos do Partido Socialista, na Comissão Nacional realizada na Guarda no passado dia 31 de Março, acautelou algumas das preocupações da Juventude Socialista, que haviam sido formuladas na sua última Comissão Nacional, em Vila Franca de Xira.

N a sequência de uma proposta de alteração

subscrita pelo Secretário-Geral da

JS, Pedro Delgado Alves e

pelo antigo Secretário-

Geral Adjunto, Pedro Vaz, foi possível

acautelar que as regras de inscrição

no Partido Socialista permitem con-

siderar o local de estudo e o local

de trabalho para efeitos de inscri-

ção nas secções locais do PS, tendo

igualmente sido clarificado o siste-

ma de inerências dos presidentes

de órgãos executivos da JS (Secre-

tário-Geral, Presidentes de Federação,

Presidentes de Concelhia) nos órgãos de-

liberativos do PS (Comissões Políticas Nacio-

nal, da Federação e da Concelhia).

Por outro lado, não foram aceite as propostas no sentido

de reforçar a participação da JS nos órgãos nacio-

nais do PS, actualizando o as referências que

constavam do regime anterior. Assim sen-

do, manter-se-á a actual representação

de20 inerentes na Comissão Nacional

do PS e de 5 inerentes na Comis-

são Política Nacional (não se tendo

reflectido o aumento do número

de membros daqueles órgãos nos

últimos anos) e foi rejeitada a pos-

sibilidade de eleição de delegados

pela JS ao Congresso Nacional do PS, à

semelhança do que acontece em outras

organizações partidárias em Portugal e na

Europa. A opção de aumentar os mandatos do

PS para apenas 3 anos foi igualmente recusada.

Juventude Socialista compensa pegada ecológica em Santa Cruz

revisão dos estatutos do PS acautela algumas preocupações da JS

Page 28: Acção Socialista n.º 1368

SocıalistaJovem

A mulher, a gestão e o crescimento económico

JS Madeira debateu participação cívica jovem com o Secretário-Geral

Secretário-Geral debateu igualdade de género na uGt

P edro Delgado Alves participou no passado dia 13 de Abril num debate promovido pela JS Madeira,

dedicado ao tema da participação cívica dos jovens, no qual tomaram igualmente parte Orlando

Fernandes, presidente da JS Madeira, Paulo Cafôfo, membro do Laboratório de Ideias da Madeira,

e Álvaro Castro, dirigente associativo.

A discussão centrou-se na necessidade de reforçar a participação cívica no quadro das escolas e instituições

do ensino superior, quer através da dinamização da disciplina de Educação para a Cidadania, quer através do

desenvolvimento e valorização das associações de estudantes. Foi particularmente debatida a difícil situação

do associativismo naquela Região Autónoma, condicionado pela falta de apoios transparentes e pelas práticas

pouco plurais e respeitadoras da diversidade do Governo Regional presidido por Alberto João Jardim.

O Secretário-Geral da JS, Pedro Delgado Alves, participou, no passado dia 16 de Março, na Conferência organi-

zada pela Comissão de Mulheres da UGT, subordinada ao tema “Os grandes desafios da igualdade de género

no século XXI”, num painel sobre as prioridades da política europeia neste domínio, que contou igualmente

com a participação da Deputada ao Parlamento Europeu pelo PSD, Maria da Graça Carvalho, e com a mode-

ração de Catarina Albergaria, coordenadora da Comissão de Mulheres da UGT.

O debate focou-se fundamentalmente na evolução dos normativos europeu em sede de conciliação da vida familiar e profis-

sional, no trabalho do Instituto Europeu da Igualdade de Género e na aplicação de medidas de incentivo à presença de mulheres

em órgãos de chefia de empresas, cuja discussão se iniciou no plano europeu.

Esta noção de igualdade associada a uma economia

dinâmica, competitiva e inclusiva, está no cerne da

estratégia Europa 2020. Na verdade, diversos estudos

sobre as mulheres e cargos superiores de gestão de-

monstram que as organizações onde as mulheres têm

expressão numa lógica próxima da paridade de género,

apresentam um melhor desempenho e ganhos claros de competitividade.

Um comunicado da Comissão Europeia cita um relatório da consultora

Mc Kinsey que mostra, por exemplo, que as empresas que adotaram a

paridade entre homens e mulheres obtiveram lucros de exploração 56% su-

periores aos das empresas que só empregam homens. O mesmo comuni-

cado refere, também, um estudo da consultora Ernst & Young, onde foram

analisadas as 290 maiores empresas cotadas em bolsa tendo-se concluído

que os lucros das empresas com, pelo menos, uma mulher no conselho de

administração são claramente superiores aos das empresas que não têm

qualquer elemento feminino nas posições de topo.

À justiça elementar que reside na não discriminação em função do géne-

ro, junta-se, também, o argumento económico.

Por vezes, tenho alguma dificuldade em aceitar a adoção de medidas que

imponham a presença de uma percentagem de mulheres em determinadas

estruturas ou organizações, o chamado sistema de quotas, dado que, em

termos teóricos, o crescimento e afirmação de cada individuo surge, natu-

ralmente, independentemente do género. No entanto, a aplicação destes

sistemas em conselhos de administração de empresas/organizações públi-

cas, à semelhança do que está a ser feito em muitos estados membros da

União Europeia, pode ser um mal necessário na medida em que os apelos

à auto-regulação, no que concerne à paridade, por si só não têm sido sufi-

cientes o que constitui um entrave ao crescimento económico.

Recentemente, soube-se, através de um estudo apresentado pelo Instituto

Nacional de Estatística, que as mulheres portuguesas são mais e têm maior lon-

gevidade que os homens, casam e são mães cada vez mais tarde, continuam a

assegurar a maioria das licenças de acompanhamento parental, têm maior risco

de pobreza, têm taxas de desemprego mais elevadas e são pior remuneradas.

Em Portugal uma mulher ganha em média menos 12,8% do que um homem,

disparando esta diferença para 32% (!) no universo dos licenciados.

No último Relatório Global sobre Desigualdade de Género, organizado

pelo Fórum Económico Mundial, Portugal ocupava o 34º lugar em 135

países, fruto das diversas medidas que foram implementadas nos últimos

anos para alcançar uma participação mais igual das mulheres na vida fa-

miliar e na atividade económica, profissional e política. No entanto, apesar

dos progressos já alcançados, os dados recentes continuam a mostrar que

há, ainda, um longo caminho a percorrer no nosso país.

No dia 8 de Março, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher, mas

ainda não chegou o dia em que nascer mulher significará, apenas, nascer

livre e igual em direitos, deveres e oportunidades. por André Oliveira

›› A igualdade entre homens e mulheres é um valor fundamental da União Europeia, sendo vital para o crescimento económico, a prosperidade, a competitividade e para a construção de uma sociedade mais coesa e justa.