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www.ps.pt N. O 1379 DIRETOR MARCOS Sá JULHO 2013 áLVARO BELEZA SECRETáRIO NACIONAL DO PS ENTREVISTAS JúLIO MEIRINHOS CANDIDATO à CM DE BRAGANçA RUI SANTOS CANDIDATO à CM DE VILA REAL // PáG. 12 // PáG. 13 // PáG. 16 ALBERTO MARTINS EM ENTREVISTA “PS e PSD têm vias muito diferentes para o país” // PáGS. 8 E 9 CRONOLOGIA DE UM COMPROMISSO FALHADO // PáG. 6 PROPOSTAS DO PS NO DIáLOGO TRIPARTIDO // PáG. 7 RAFAEL G. ANTUNES

Acção Socialista n.º 1379

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Julho 2013

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www.ps.pt

N.o 1379 diretor marcos sáJUlHO 2013

álvaro beleza secretário nacional do Ps

entrevistas

júlio meirinhos candidato à cM de bragança

rui santoscandidato à cM de vila real

// PáG. 12 // PáG. 13 // PáG. 16

alberto martins em entrevista

“Ps e Psd têm vias muito diferentes para o país”

// PáGs. 8 e 9

CronoloGia De um ComPromisso FalhaDo// PáG. 6

ProPostas Do Ps no DiáloGo triPartiDo// PáG. 7

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o líder parlamentar do Ps exi-giu, na manhã do passado dia 26 de Julho, numa conferência de imprensa realizada no Parla-mento, a demissão imediata da ministra das Finanças, Maria luís albuquerque.carlos Zorrinho justificou a to-mada de decisão do Ps, em vir-tude do que considerou ter si-do “uma monumental mentira” construída pela ministra na co-missão parlamentar aos contra-tos de risco financeiro (swap).Para o Ps, Maria luís albu-

querque ficou sem condições de prosseguir no alto e exigente cargo de ministra das Finanças, justificando que um governante que mente ao Parlamento deixa de ter quaisquer condições po-líticas para se poder manter no lugar.recorde-se que depois de ter afirmado e reafirmado em co-missão parlamentar que não tinha sido informada pelo seu antecessor do processo dos ‘swap’, o que entretanto foi desmentido pelo ex-minis-

tro das Finanças, teixeira dos santos e confirmado por vítor gaspar, Maria luís albuquer-que voltou de novo a ser con-frontada no dia 23 de Julho com um conjunto de e-mails trocados entre si e o ex-diretor--geral do tesouro que vieram atestar de forma clara e inequí-voca que Maria luís albuquer-que sabia de facto, ao contrá-rio do que tem vindo a defen-der em comissão parlamentar, da gravidade do problema dos ‘swap’. ^ r.s.a.

Ps diz que ministra não temcondições para continuar

a esCaLdarna vanguarda do crescimento… da dívidaA dívida pública portuguesa aumen-tou para 127,2% do Produto Interno

Bruto no primeiro trimestre, contra 123,8% registado no trimestre anterior e 112,3% observado um ano an-tes, sendo a terceira mais elevada da União Europeia, conforme divulgou recentemente o Eurostat.Após a experiência demissionária do Governo, de duas alocuções presidenciais com um final de “tudo na mesma”, só faltava mais esta notícia para compor o quadro… É que, segundo com os dados trimestrais da dívida pública do gabinete oficial de estatísticas da UE, só a Grécia (160,5%) e a Itália (130,3%) registaram, entre janeiro e março deste ano, rácios de dívida públi-ca em percentagem do PIB superiores ao de Portugal. Pior seria irrevogavelmente impossível.

QUentetempo de investimentos “light”O recém quase-demitido-mas-salvo--pelo-pai Executivo de direita dá mais um ar de sua (des)graça no que se re-

fere ao próximo Quadro Comunitário de Apoio (QCA), que entra em vigor no próximo dia 1 de janeiro.É que, se Vítor Gaspar deixou dito em missiva que a etapa que se segue a seguir é a do “investimento”, os resistentes do Governo já vieram a público assumir que para o primeiro semestre de 2014 já não há condi-ções de aproveitar o QCA.Num momento em que com a escassez de crédito não há investimento privado e que com a escassez de re-cursos não há investimento público, as únicas verbas que existem disponíveis para investir são os fundos comunitários, que são tratados com esta ligeireza. Trata-se de mais uma evidência de competência e oportunidade.

FrioCavaco amareloDepois de uma aventura carregada de adrenalina nas Selvagens e de encon-tros próximos do terceiro grau com

cagarras e restante fauna local, o Presidente da Repú-blica decidiu que não ia demitir um Governo que todos testemunham estar a cair de podre, nem pela salvação da sua alma política!O sinal de alerta foi dado: Cavaco Silva garante avistar sinais de “coesão e solidez reforçada” no Executivo de coligação PSD/CDS, mas deixa o aviso amarelo de que não irá tolerar outra crise política como a que ele ajudou a alongar e agravar. Deixem--no trabalhar!

GeLadoirrevogável, segundo PortasEngana-se quem pensa que o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, com as qualidades para o drama e a

(má) língua por muitos e longos anos reconhecidas, tropeçou no dicionário e deu o dito por não dito, fal-tando à palavra “irrevogável” a propósito do carácter definitivo (ou não!) da sua recente demissão adiada. Paulo Portas fez, mais uma vez, uso da sua perícia comunicacional e inaugurou uma nova aceção se-mântica da irrevogabilidade: promoção!Mas se isso não bastasse, fulminou o que lhe restava de credibilidade quando se apresentou no debate do Estado da Nação, no Parlamento, e tentou explicar este momento de criatividade na retórica política e governativa com lições de Francisco Sá Carneiro

sobre as prioridades de ação e decisão de um bom servidor da causa pública… De facto, é para ficar sem palavras… ^ MarY rodriGUes

siGa-nos no tWitter @PSOCIAlISTAsiGa-nos no tWitter @PSOCIAlISTA

acÇÃo socialista Há 30 anos

28 julho 1983Governo vai toMar Medidas Para atenUar iMPaCto dos Preços

A decisão do Conselho de Ministros do Governo do Bloco Central de ir tomar um conjunto de medidas para amortecer o impacto da subida de preços dos fatores de produção no sector agrícola era um dos destaques da 1ª página do “AS” de 28 de julho de 1983. O órgão oficial do PS publicava ainda uma notícia sobre uma conferência de Imprensa de Manuel Alegre, onde reiterava ser “um dever moral” dos socialistas apoiar a revolução em curso na Nicarágua, que “não é totalitária”. ^ jCCb

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seguro reúne com líderes federativoso secretário-geral do Ps reu-niu-se, no passado dia 23 de ju-lho, na sede nacional do lar-go do rato, em lisboa, com os presidentes das federações socialistas.num almoço de trabalho, que teve lugar no salão nobre da sede, antónio José seguro e os presidentes das federações analisaram a situação política nacional.também durante o encontro,

os líderes federativos apresen-taram um balanço sobre o an-damento das iniciativas e ati-vidades preparativas das próxi-

mas eleições autárquicas, bem como o retrato da realidade lo-cal em termos de resultados es-perados. ^ m.r.

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EDITORIAl ConFiança no FUtUro

Marcos Sá

Há uma consequência inevitável dos incidentes de turbulên-cia e descrédito governamental sejam eles marcados pela mentira ao Parlamento, pela inconstância emocional irre-

vogável da coligação ou pela desresponsabilização face aos maus resultados.

Os portugueses que sofrem no seu dia a dia as piores atrocidades assistem incrédulos à desfaçatez de alguns políticos, acreditando cada vez menos nos seus representantes e na sua democracia.

Torna-se por isso urgente e imperioso que todos os agentes po-líticos na sua conduta e na gestão das suas posições confiram primazia à necessidade inadiável de reconstruir a confiança dos cidadãos nos partidos e em todas as instituições representativas.

O que se impõe é uma regeneração ética das práticas políticas e uma nova cultura de responsabilização democrática de todos os cidadãos e protagonistas políticos, que derrote favoritismos pes-soais ou atitudes despóticas, alicerçada numa reforçada capaci-dade de diálogo e compromisso sem alhear a força das convic-ções, a transparência das propostas e a coerência dos princípios.

O Partido Socialista e o nosso secretário-geral estão empenhados nesse caminho. A reforma estatutária, a abertura do partido, a linha coerente de posicionamento face às grandes questões na-cionais, em tantos casos antecipando o que são hoje consensos nacionais, levou-nos em menos de dois anos ao patamar de lide-rança crescente da confiança dos portugueses.

Foi por isso que estivemos, e bem, no processo de diálogo inter-partidário lançado pelo Presidente da República. Mas infelizmen-te, mais uma vez, a maioria de Direita, com o beneplácito tácito presidencial, insistiu em não assumir as suas responsabilidades face a um povo descrente e justamente indignado.

Aos socialistas caberá continuar a fazer o seu rumo, aproveitan-do todos os momentos para a afirmação da sua proposta política (como acontece nas próximas autárquicas), oferecendo ao país uma alternativa de esperança, reconquistando a confiança dos portugueses no seu futuro e no futuro de Portugal. ^

“Aos socialistas caberá continuar a fazer o seu rumo, aproveitando todos os momentos para a afirmação da sua proposta política, oferecendo ao país uma alternativa de esperança, reconquistando a confiança dos portugueses no seu futuro e no futuro de Portugal”

seguro eM entrevista à sic notícias

se houver programa cautelar, o Governo falhou!Se Portugal precisar de um programa cautelar após junho de 2014, o Governo terá de assumir as suas responsabilidades, porque significará o falhanço total da sua política. A advertência foi lançada pelo secretário-geral do PS, António José Seguro, em entrevista à SIC Notícias, no mesmo dia em que o Presidente da República comunicou ao país a sua decisão de aguentar o Governo de Portas e Passos.

ao ser questionado sobre o que faria o Ps se Portugal tivesse de negociar um programa caute-lar após o fim do atual memo-rando da troika o líder socialis-ta sublinhou que, se tal cenário se confirmar, o executivo de co-ligação terá de explicar a razão pela qual é necessário um novo programa.“e se é porque este programa fa-lhou? então, em primeiro lugar, é necessário que o governo as-suma as suas responsabilida-des”, afirmou seguro, lembran-do de seguida que “há dois anos o governo prometeu aos portu-gueses que, em troca de pesados sacrifícios, este programa seria

concluído com êxito”.Quanto à decisão presidencial de manter o executivo em fun-ções, o secretário-geral socialis-ta reafirmou a sua discordân-cia, assegurando, porém, que irá respeitá-la institucionalmente.“defendi eleições antecipadas, considerava que o país tinha a ganhar se os portugueses pu-dessem escolher um outro go-verno, mais confiável, compe-tente e com voz forte na euro-pa. não foi esse o entendimento do senhor Presidente da repú-blica, discordo, mas respeito a decisão”, salientou.Quanto às pressões em torno do processo de diálogo com Psd e cds, o secretário-geral do Ps afirmou que não cedeu a ne-nhuma e negou que tenha pro-metido que nunca assinaria um acordo.durante a entrevista de 50 mi-nutos, o líder socialista disse que várias personalidades so-cialistas o desaconselharam a entrar na tentativa de acordo de “salvação nacional” propos-ta pelo Presidente da repúbli-ca e que, por outro lado, vários comentadores de “direita” tam-bém o pressionaram a assinar esse compromisso com o Psd e cds.“Muita gente falou em pressões sobre mim. Havia muita gente no interior do Ps que não que-ria que eu entrasse no processo

de diálogo, que não queria que houvesse acordo, independen-temente do seu conteúdo. Fa-lo em personalidades, em pes-soas, em opiniões que são todas respeitáveis. eu não cedi", fri-sou antónio José seguro, con-trapondo que sempre entendeu que era sua responsabilidade entrar no processo de diálogo proposto por cavaco silva.Por outro lado, seguro desmisti-ficou a ideia de que as vozes so-cialistas contra o diálogo com o Psd e cds fizeram estragos na sua liderança.“não houve estragos nenhuns e, mesmo que haja estragos, o que é isso comparado com a vida dos portugueses que sofrem?”, perguntou.neste ponto, o secretário-geral do Ps revelou ainda que a da-da altura admitiu a possibili-dade de acordo com o Psd e o cds, mas após duas interven-ções “lamentáveis” do primei-ro-ministro concluiu não haver condições.Para antónio José seguro, du-rante as negociações quem ti-nha de ceder era o Psd e o cds, porque, uma vez que está pro-vado que “falhou” a política se-guida pelo governo nos dois úl-timos anos.“se houve falhanço, o que ti-nha de ser mudada era a política destes dois anos. É uma questão de realismo”, explicou. ^ m.r.

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4 aCoMPanHe-nos no FaCebooK SEDENACIONAlPARTIDOSOCIAlISTAaCoMPanHe-nos no FaCebooK SEDENACIONAlPARTIDOSOCIAlISTA

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EU FALHEI TU FALHASTEELE FALHOU

NÓS FALHÁMOSVÓS FALHASTES...ELES PAGAM!

cartoon

a carta de Gaspar e o regresso ao inícioA carta tornada pública. A demissão “inadiável” do ministro de Estado e das Finanças. O Apocalipse adiado e dezenas de comentadores e analistas políticos a destilar opiniões sobre como interpretar e explicar a pior crise política no Portugal democrático. MarY rodriGUes

Muita tinta correu depois de ví-tor gaspar tornar pública a sua carta de demissão.a missiva, além de servir de “mea culpa” para o antigo mi-nistro das Finanças, serviu tam-bém para dar início a uma cri-se política que custou milhões ao país e deixou em suspenso, durante três semanas, os des-tinos de Portugal e a vida dos portugueses.na carta de demissão que en-viou ao primeiro-ministro, Pe-dro Passos coelho, vítor gaspar revelou que já desejava sair há oito meses, assume parte da cul-pa pela degradação da sua credi-bilidade e deixa recados sobre a atuação do governo e a relação com Paulo Portas e o cds.assumido paladino da austeri-dade “doa-a-quem-doer”, gas-par foi o vértice central do fa-lhanço governativo. após se-te exames regulares da troika, o ex-ministro viu-se sem apoio político, sem soluções, com Por-tas fechadas a medidas como a taxa de sustentabilidade para as pensões e com o povo manifes-tamente desagradado.só lá fora, entre amigos merke-lianos, é que vítor gaspar agra-dava ao prestar incondicional vassalagem. Mas, por cá, errou em todas as previsões, foi prota-gonista de incumprimentos im-portantes e impôs medidas “co-

lossais” cujos resultados estão, cada vez mais, à vista de todos.assim, dois anos após a sua to-mada de controlo das finanças públicas, estas continuam por consolidar, o défice orçamen-tal é cada vez maior, a dívida so-berana, tal como o desemprego, não param de crescer, os portu-gueses estão cada vez mais po-bres e desesperançados.

resumindo: demasiado sacrifí-cio para nada. traduzido numa só palavra: fracasso.É, pois, esse fracasso, preto no branco, que se encontra declara-do na carta de demissão daque-le que foi o todo-poderoso mi-nistro de estado e das Finanças, cuja credibilidade ele próprio descreve como “minada”.Mas é igualmente nesta mis-

siva que gaspar insinua a falta de perfil de Passos coelho pa-ra liderar a atividade governa-tiva, frisando ainda que os ris-cos e desafios permanecem “enormes” e exigem a coesão do executivo.na primeira fase de reações à carta de gaspar, o secretário na-cional do Ps João ribeiro subli-nhou que a demissão do minis-

tro das Finanças ilustrava “o fim do governo”, depois de este já ter “violado as promessas elei-torais, perdido credibilidade e autoridade, exigindo sacrifícios aos portugueses e falhando to-das as metas”.no comentário periódico na rtP, José sócrates sublinhou o paradoxo e o cinismo presentes na missiva de gaspar.Para sócrates, a carta de demis-são do ex-ministro constitui o testemunho do falhanço polí-tico próprio e do executivo de direita.Paradoxalmente, longe de su-gerir a Pedro Passos coelho que encetasse uma nova fase com uma nova política de finanças públicas, gaspar continua na carta, obstinadamente, a acon-selhar a continuidade da estra-tégia falhada.além disso, repara sócrates, gaspar evidencia um “notável cinismo” ao deixar entender que nunca achou que houvesse nem liderança nem coesão no execu-tivo capazes de garantir uma go-vernação à altura dos desafios e ainda que a primeira vez que teve intenções de se demitir foi pouco depois de aprovar um or-çamento de estado com um au-mento colossal de impostos.“um estadista não age assim”, vincou sócrates no seu comen-tário semanal na rtP. ^

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direita nunca quis o compromisso A proposta de diálogo tripartido iniciada no passado dia 14 de julho, sugerida pelo Presidente da República, veio demonstrar no final de uma semana de reuniões que Portugal está confrontado com duas visões distintas e alternativas quanto ao rumo futuro do país. A do PS e a do PSD/CDS. r.s.a.

“uma semana perdida em nego-ciações improdutivas”. Foi desta forma que o Ps classificou as su-cessivas reuniões de diálogo com os partidos da maioria com vis-ta a um compromisso de salva-ção nacional proposto por cava-co silva.enquanto os partidos da maio-ria insistiram na defesa das po-líticas que nos trouxeram até à atual crise política, o Ps colocou sobre a mesa propostas alterna-tivas e a defesa de uma profun-da renegociação do memorando da troika.Para o secretário-geral do Ps, o insucesso das conversações veio demonstrar o que há muito já se sabia: que os partidos que apoiam o governo nunca estiveram inte-ressados num efetivo compro-misso de salvação nacional.seguro recorda que esta iniciativa presidencial surgiu na sequência de uma grave crise política aber-ta pelas demissões do ministro de estado e das Finanças, vítor gaspar, e do ministro de estado e dos negócios estrangeiros, Pau-lo Portas, demissões que, na opi-nião de antónio José seguro, se somaram à “tragédia social e à es-piral recessiva” em que o gover-no mergulhou o país.Justificando a adesão ao apelo do Pr, o líder socialista salien-ta que o nosso partido nunca re-

jeitou dialogar com as restantes forças políticas, lamentando que be e PcP tenham recusado dar o seu contributo.Falhado o entendimento tripar-tido de salvação nacional, alber-to Martins mostrou o seu de-sagrado pela decisão do Presi-dente da república em manter em atividade o governo. e dis-se discordar politicamente da resolução presidencial, mas ga-rantindo que o Ps a respeitará institucionalmente.

Crise políticadepois da demissão de vítor gaspar, porventura o ministro das Finanças que ficará para a História como o político mais inábil e improfícuo de todos os governos saídos do 25 de abril de 1974, seguida da “irrevogá-vel” resignação do ministro de estado e dos negócios estran-geiros, Paulo Portas, a pretexto da escolha de Maria luís albu-querque para a pasta das Finan-ças, demissão que aliás apanhou de surpresa o núcleo duro do partido, a poucos dias de um congresso do cds, os portu-gueses depararam-se com aquilo que há muito já sabiam: Portugal está confrontado com o falhanço das políticas de austeridade des-te governo e com a urgência em eleger um novo executivo legiti-

mado pelo voto popular.como viria a reafirmar o líder do Ps junto do Presidente da repú-blica, no início da crise política, o país ficará com uma solução de governo fraca caso este se man-tenha em atividade, como se veio a verificar, já que os proble-mas “não se resolvem com re-mendos”, insistindo seguro em eleições legislativas antecipadas.o líder socialista referia-se tam-bém às mudanças ministeriais entretanto anunciadas pelo pri-meiro-ministro, após a demis-são de vítor gaspar e de Paulo Portas, e agora confirmadas pe-lo Pr, iniciativa que para o Ps as-sumem um carácter de mera ma-quilhagem política podendo no seu entender ser uma solução para os partidos do governo, mas “nunca para o país ou para os portugueses”.

dois anos de políticas erradasPara seguro, o mal deste gover-no não resulta destas ou de ou-tras demissões ou de eventuais rearranjos ministeriais efetua-dos sob pressão, mas pela práti-ca continuada ao longo dos últi-mos dois anos de políticas erra-das que levaram sem quaisquer resultados práticos ao empo-brecimento e a um grande sofri-mento por parte das famílias.

Perante este quadro, o líder so-cialista foi a belém defender a realização de eleições legislati-vas antecipadas como único ca-minho sustentável para tirar o país da situação económica e so-cial trágica em que se encontra, manifestando à saída do encon-tro discordância com cavaco sil-va por não ter anunciado a con-vocação de eleições legislativas antecipadas para setembro no mesmo dia das autárquicas. depois de reafirmar que o Ps não apoiará nem fará parte de nenhum governo “sem que os portugueses manifestem demo-craticamente a sua vontade”, sa-lientou que o país não poderá continuar a acumular défice das suas contas públicas como as que atualmente sustenta, 10,6% no primeiro trimestre, “bastan-te superior ao que se registava há dois anos quando Psd/cds chegaram ao governo”. a par da dívida que não para de aumen-tar atingindo os 127% do produ-to, seguro acusa Passos coelho de ter “falhado todas as previ-sões” e de ter mentido aos por-tugueses, alertando que peran-te o valor verificado no primeiro trimestre tudo indica que a meta do défice jamais poderá ser cum-prida no final deste ano.Para que o acento tónico seja posto de novo na economia e no

emprego, o Ps, pela voz do seu líder, defende uma urgente re-negociação do memorando, as-sim como medidas que passam, nomeadamente, pela mutualiza-ção da dívida pública de cada es-tado-membro da parte superior a 60%.

Mais crescimento e empregoseguro sustenta ainda que Por-tugal defenda junto da união europeia que a componente de comparticipação nacional de in-vestimento para fundos comu-nitários deixe de contar para o cálculo do défice, dando o exem-plo do que já sucede com a itá-lia, o que significa, na sua pers-petiva, que Portugal deve colo-car o máximo dos seus recursos de fundos comunitários em “in-vestimento reprodutivo e em in-vestimento reembolsável”.o país poderia deste modo, na opinião do líder socialista, se-guir uma política anticíclica, fomentando o investimento e o reequilíbrio das suas constas públicas a par de “regras de sus-tentabilidade da despesa”, tu-do sem ter que recorrer à polí-tica de cortes, e garantindo con-dições de sustentabilidade na despesa através de compromis-sos que ultrapassam uma sim-ples legislatura. ^

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CRONOLOGIA DE UM COMPROMISSO FALHADOO apelo do Presidente da República levou, durante uma semana, PS, PSD e CDS à mesa das negociações na perspetiva de se encontrar o que Cavaco Silva designou como uma tentativa de compromisso de salvação nacional.Em prol da transparência, do combate à especulação e por respeito aos portugueses o PS foi prestando contas do andamento das negociações e do desenvolvimento do processo de diálogo.

O Presidente da República fez uma declaração ao país, para transmitir a sua decisão de não convocar eleições antecipadas, recordando que o atual Governo se encontrava na plenitude das suas funções. Nesta mesma declaração, o PR apresentou o seu entendi-mento sobre a solução que melhor servia o interesse nacional assente em três pilares: 1) Estabelecimento de um calendário adequado para

a realização de eleições antecipadas e a abertura de um processo conducente à realização de eleições a coincidir com o �nal do Programa de Assistência Financeira, em junho de 2014.

2) Compromisso de salvação nacional a incrementar entre os três partidos que subscreveram o memorando de entendimento, garantindo o apoio à tomada de medidas necessárias para que Portugal possa regressar aos mercados logo no início de 2014

3) Acordo a médio prazo, assegurando que o Governo que resulte das próximas eleições possa assegurar a governabilidade do país, designada-mente na sustentabilidade da dívida pública, no controlo das contas externas, na melhoria da competitividade da economia e na criação de emprego.

O PS, através do dirigente nacional Alberto Martins, torna pública a sua posição, discordando politicamen-te da decisão do PR ao não convocar eleições para setembro, sublinhando contudo respeitar a decisão de Cavaco Silva, rea�rmando que não fará parte de nenhum Governo sem que os portugueses manifes-tem democraticamente a sua vontade, através da realização de eleições.

O Presidente da República reúne-se, no Palácio de Belém, com o secretário-geral do PS para análise da proposta de compromisso de salvação nacional.Na sequência da reunião, António José Seguro reitera a disponibilidade do PS para iniciar o processo de diálogo, com o objetivo de encontrar as soluções que melhor sirvam o interesse nacional e o futuro dos portugueses. O PS reivindica a presença de todos os partidos com assento parlamentar neste diálogo.

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12O secretário-geral do PS participa no debate do Estado da Nação onde torna claro que o Partido Socialista aceita um diálogo entre partidos políticos e não entre Governo e PS.

O PS insiste na necessi-dade de todos os partidos com represen-tação parlamentar serem convidados a participar no processo de diálogo.

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13Neste encontro discute--se a metodologia de trabalho e �xa-se o prazo de uma semana para dar boa sequência aos trabalhos previstos na procura de um compro-misso de salvação nacional.

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14Abordaram-se de modo detalhado os três pilares apresentados pelo PR, tendo sido identi�cadas as questões fundamen-tais com vista à obtenção de uma compromisso de salvação nacional com a máxima brevidade.

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As delegações dos três partidos envolvidos na negociação interpartidária decidiram interromper os trabalhos, por forma a aprofundar as negociações, retomando as negociações depois da hora do jantar. António José Seguro convoca para o dia seguinte a Comissão Política Nacional para analisar a situação política.

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17O PS recebeu na sua sede do Largo do Rato uma delegação do BE, a pedido deste, lamentando que bloquistas e comunistas tenham recusado dar o seu contributo neste diálogo interpartidário.Na reunião deste dia com os partidos do Governo, aprofundaram-se os temas e analisaram-se os documentos sobre a situação económica e �nanceira do país, tendo-se decidido apresentar no dia seguinte contributos escritos com vista à obtenção de um compromisso de salvação nacional.

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Aprofundou-se a discussão sobre os documentos e contribu-tos apresentados pelas três delegações.Por volta da uma da manhã, as três delega-ções decidem interrom-per os trabalhos.

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Realiza-se a Comissão Política Nacional, onde o secretário-geral do PS explicou aos presentes todo o processo de diálogo, tendo terminado a sua intervenção com a a�rmação “não troco as minhas ideias e propostas para Portugal por eleições”.Seguro fala ao país, enunciando as propostas que o PS apresentou no diálogo interpartidário, acusando o PSD e CDS de serem os responsáveis por terem inviabili-zado o compromisso de salvação nacional proposto pelo Presidente da República.

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PROPOSTAS DO PS NO DIÁLOGO TRIPARTIDO

Não a mais cortes nas reformas e nas pensões

Não a mais despedimentos e cortes salariais na Função Pública

Não aplicação da contribuição de sustentabilidade do sistema de pensões

Fim das políticas de austeridade, em particular a não aplicação do corte de 4700 milhões de euros na despesa pública

Aumento do salário mínimo nacional, das pensões mais baixas e extensão do subsídio social de desemprego

Diminuição do IVA da restauração dos atuais 23% para 13% e uma redução do IRC

Criação de um programa de emergência para apoiar 500 mil portugueses desempregados, sem qualquer rendimento, mobilizando fundos comunitários para a quali�cação e formação pro�ssional

Fim às políticas de austeridade estabelecendo uma política de rendimentos, através de um acordo de concertação social estratégica que envolvesse:

Defesa do investimento público e privado, diminuição de custo de contexto, incentivos �scais ao investimento, criação de um fundo de fomento, �nanciamento às empresas e medidas para salvar empresas economicamente viáveis com di�culdades de tesouraria

Estabilização de médio prazo do quadro �scal e das prestações sociais

Evolução dos salários em torno dos ganhos de produtividade, da situação do país, da taxa de in�ação e dos ganhos de competitividade relativa com outras economias

Aumento do salário mínimo e das pensões mais reduzidas

Reposição dos níveis de proteção social assegurados pelo complemento social para idosos e pelo rendimento social de inserção

Valorização da contratação coletiva, como quadro adequado para a promoção da melhoria da produtividade nos deferentes setores.

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Não à privatização da TAP, Águas de Portugal, RTP e CGD

Equilíbrio e sustentabilidade das contas públicas, através do estabelecimento de uma regra para a despesa pública, que consiste na estabilizando da despesa corrente primária, em particular na despesa diretamente relacionada com rendimentos

Introduzir sustentabilidade na gestão da dívida pública, renegociando as maturidades dos empréstimos, deferindo o pagamento dos juros e defesa de uma solução europeia para o problema das dívidas soberanas dos países da zona euro

Defesa que a parte da dívida soberana superior a 60% do PIB seja gerida ao nível europeu, assumindo cada país a responsabilidade pelo pagamento dos juros correspondentes

Apoio ao investimento público e privado para que os fundos comunitários, nomeadamente, sejam prioritariamente dirigidos a incentivos reembolsáveis, com a componente nacional destinada ao investimento e que passe a não contar para o dé�ce.

A tudo isto os negociadores do PSD e CDS disseram não, inviabilizando deste modo um compromisso de salvação nacionalSeguro garante que vai continuar a bater-se pela aprovação destas propostas socialistas que visam a criação de emprego, o crescimento económico, o equilíbrio das contas públicas, a gestão sustentável da dívida pública e uma verdadeira reforma do Estado.

Durante duas semanas o PS bateu-se para que o processo de diálogo com os partidos do Governo pudesse alcançar um compromisso de salvação nacional, tal como o Presidente da República tinha apelado na sua comunicação ao país. Para os socialistas tratava-se de encontrar as melhores e mais realistas soluções para os graves problemas com que o país, os portugueses e as empresas se confrontam, tendo clari�cado desde o primeiro minuto que não estava em causa preservar o Governo, “que tem os dias contados”, mas salvar Portugal.

Propostas para tirar Portugal da criseEstas foram algumas das propostas apresentadas pelo PS nas negociações tripartidas que a intransigência dos partidos do Governo impediu que fossem aprovadas.

Mas dialogar para o PS não signi�ca que os partidos tenham as mesmas posições sobre a situação do país ou sobre as soluções para sair da crise. Sem abdicar dos seus valores e do seu ponto de vista em defesa da continuação de Portugal na zona euro, da sustentabilidade do Estado Social e de colocar o emprego e a economia no centro das políticas para o equilíbrio das contas públicas portuguesas, o PS nunca recusa nem se exclui de nenhum diálogo com outras forças partidárias, sempre que a situação do país exige o seu contributo. R.S.A.

“Fizemos o que devíamos”O PS defendeu ainda neste diálogo tripartido com os partidos do Governo um conjunto de outras propostas:

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alberto martins em entrevista

“Ps e Psd têm vias muito diferentes para o país”

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O compromisso de salvação nacional falhou porque “PS e PSD têm vias muito diferentes para o país”, afirma o dirigente socialista Alberto Martins, em entrevista ao “AS”, onde refere que o PS não podia aceitar a continuação da via da austeridade que conduziu à “atual situação dramática de desagregação social”. j. C. CasteLo branCo

Porque falhou o compro-misso de salvação nacional proposto pelo Presiden-te da república entre o Ps e os dois partidos do atual Governo?Falhou basicamente porque as vias propostas do Ps e do Psd eram vias muito diferen-tes. o Psd queria manter-se na via da austeridade, uma via que tem conduzido ao de-semprego, à degradação so-cial, à recessão, ao desempre-go, ao aumento dos impostos, aumento da dívida, do défice.

temos uma situação dramáti-ca de desagregação social, com dois milhões de portugue-ses no limiar da pobreza. e a via da austeridade era a ma-nutenção dos compromissos de ajustamento, sem alterar o rumo que hoje está a ser pro-posto não só pelo Ps, desde a primeira hora, a via do cres-cimento e do emprego, mas também pelos próprios mem-bros do governo. e a carta do ex-ministro de vítor gaspar é exemplar quando ele próprio reconhece o falhanço rotunda

do governo e considera que o governo perdeu legitimida-de, credibilidade e confiança, porque não cumpriu nenhu-ma das suas metas essenciais. nós, socialistas, queríamos uma nova rota, uma nova via, enquanto o Psd queria con-tinuar onde sempre esteve e está.

Como comenta o facto de os partidos do Governo acusarem o Ps de ter apre-sentado propostas despe-sistas e irrealistas?

isso não é rigoroso, essa pro-va não está feita, é poeira pa-ra os olhos. o que nós propú-nhamos era um conjunto de medidas de apoio às PMe, de redução do iva, de estímulo à reabilitação urbana, de medi-das que estimulassem o con-sumo, que criassem melhores condições para a exportação. um conjunto de medidas que evitassem o crescente sacrifí-cio dos portugueses. e ao mesmo tempo temos a consciência que os proble-mas de Portugal não se resol-

vem só em Portugal. não há hoje problemas de um qual-quer país da europa que se-jam só desse país. em grande medida, o excedente dos paí-ses do norte da europa são o nosso défice. Porque a euro-pa funciona em grande medi-da em circuito interno, já que 80 das exportações são no cir-cuito interno europeu. e, por isso, as nossas propos-tas eram no sentido, aliás co-mo tem defendido reiterada-mente o nosso secretário-ge-ral, de uma política mais ativa

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na europa, com maior inter-venção do bce, harmonização fiscal, união bancária e uma lógica de solidariedade.a europa tem de ser uma eu-ropa da solidariedade e tomar medidas para que isso se con-cretize. Hoje já não é não é só a união europeia que se ques-tiona sobre o caminho pros-seguido de calamidade social, é o próprio o bce e o FMi. É que a austeridade entregue a si própria como solução der-rota-se a si mesmo. o que nós sempre defende-mos e continuaremos sempre a defender é uma articulação de medidas de contenção or-çamental e medidas de cresci-mento. e isso é feito num qua-dro nacional e europeu.

neste processo o que era verdadeiramente inegociá-

vel para o Ps, a sua linha vermelha?a linha vermelha do Ps era uma linha que foi logo defi-nida à partida e que era parar com os cortes de 4,7 mil mi-lhões de euros, que se iria tra-duzir no agravamento da si-tuação dos funcionários pú-blicos, dos pensionistas, a redução da proteção social. É preciso garantir que haja um conjunto de políticas de defe-sa das pessoas. atingimos ní-veis de sacrifícios impensá-veis, dramáticos, a roçar a de-sagregação social e isso tinha de parar inevitavelmente. e por isso tinha de parar a re-dução das funções sociais do estado.

Falou-se muito sobre quem esteve de má-fé nes-te processo negocial. hou-

ve alguém que estivesse de má-fé?eu não creio que se possa en-trar por aí. nós partimos to-dos de uma ideia de boa-fé ne-gocial. estive nas negociações até um certo período e esta-va convencido que as negocia-ções poderiam conduzir a um bom resultado. e um bom re-sultado era ser um bom re-sultado para os portugue-ses. nós entrámos nestas ne-gociações não com o objetivo de um compromisso fosse ele qual fosse, mas com o propó-sito de tomar medidas que melhorassem as condições de vida dos portugueses. tudo o que era bom para Portugal era bom para os portugueses e foi com esse espírito que o Ps es-teve nas negociações.

Como comenta o facto de

depois do processo nego-cial uma série de comen-tadores da direita terem tentado passar à exaus-tão a imagem de que segu-ro não tinha sentido de es-tado e ter colocado o parti-do à frente dos interesses do país? essa é uma imagem absolu-tamente insultuosa, não tem nada a ver com a realidade, é inaceitável, revela falta de ri-gor analítico e até de serieda-de política. o Partido socia-lista, por intermédio do seu secretário-geral, pôs os inte-resses dos portugueses à fren-te. e por isso fomos para o processo de diálogo proposto pelo Presidente de muito boa--fé, aliás corroborada por to-dos os participantes. combi-námos logo que não haveria acordo sobre nada enquanto

não houvesse acordo sobre tu-do. isto é, a solução final era o acordo global. Mesmo que num ou outro ponto identifi-cável houvesse proximidade. e foi isso que fomos fazendo até ao momento em que percebe-mos que a nossa via, o nosso rumo era diferente do Psd, que queria aplicar as medidas da sétima avaliação, as me-didas de agravamento da vi-da dos portugueses. não que-ria mudar de rumo. ou seja, o governo queria prosseguir uma política que nós temos combatido firmemente. nós pensamos que este governo perdeu credibilidade, confian-ça, legitimidade respeitabili-dade. um governo que tem uma crise desencadeada pe-la demissão do ministro mais responsável pela sua política e depois logo a seguir o nº 2 po-

“atingiMos níveis de sacriFícios iMPensáveis, draMáticos, a roçar a desagregação social”

“ o Psd Queria aPlicar as Medidas da sÉtiMa avaliação, as Medidas de agravaMento da vida dos Portugueses. não Queria Mudar de ruMo”

“este novo governo É aFinal uM velHo governo, coM uMa Falsa reModelação, coM as MesMas caras, distribuindo os Jogos no tabuleiro, e nesse tabuleiro Há uM reForço do cds/PP, Que doMina todas as Pastas econóMicas”

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lítico do governo, Paulo Por-tas, se demite dizendo que é irrevogável e depois volta atrás na sua decisão, significa que é um governo cuja credi-bilidade e honorabilidade pú-blica no plano político está pe-las ruas da amargura.

o que pensa do atual Go-verno que procedeu agora a uma remodelação, procu-rando fazer passar a ima-gem que é um novo Gover-no, com um novo rumo?este novo governo é afinal um velho governo, com uma falsa

remodelação, com as mesmas caras, distribuindo os jogos no tabuleiro, e nesse tabulei-ro há um reforço do cds/PP, que domina todas as pastas económicas, deixando ao pri-meiro-ministro funções de so-berania. É um governo dese-quilibrado. É um governo que começou por dizer que eram só 10 ministros, passou a 11, agora são 14. eram megami-nistérios, agora são não me-gaministérios. É um governo que não tinha ideias claras so-bre os modelos organizacio-nais de governo. agora mu-

dou de rumo outra quanto à sua organização. Manifesta-mente é um governo impre-parado e os portugueses es-tão a pagar um preço elevado pela engenharia política, pe-la impreparação, mas sobretu-do pelas políticas erradas des-te governo.

líder da revolta estudantil de 1969, o camarada, pelo seu percurso político de dé-cadas, é desde há anos uma figura de referência da es-querda portuguesa. Por is-so, não se sente particular-

mente frustrado ao ver a atual realidade de Portu-gal, um dos países mais de-siguais da europa?sim, é evidente. Mas é preci-so recordar que há coisas mui-to importantes que nos trou-xe o 25 de abril, como o fim da guerra colonial, uma guer-ra dramática e injusta, onde os portugueses e africanos se ma-tavam uns aos outros. o fim da ditadura e o triunfo da de-mocracia são coisas inesquecí-veis. agora é inegável que a de-mocracia não cumpriu muitos dos nossos sonhos. e é um fac-

to também que os socialistas muitas vezes na sua ação esti-veram com soluções que não foram as melhores para o de-senvolvimento do país. nos últimos anos eu creio que a construção tecnocrática e neo-liberal da europa foi uma rea-lidade muito negativa. e, nes-se contexto, não demos o salto que era desejável no combate às desigualdades sociais. Mas o que eu posso dizer como socia-lista é que temos ainda um lon-go caminho a percorrer no sen-tido da criação de uma socieda-de mais justa. ^

“o Ps, Por interMÉdio do seu secretário-geral, Pôs os interesses dos Portugueses à Frente. e Por isso FoMos Para o Processo de diálogo ProPosto Pelo Presidente da rePública de boa-FÉ”

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“Na verdade, o PSD verdadeiramente quer cortar na despesa pública social, porque é essa, neste momento, a sua ideologia dominante, considerando irrelevantes as suas consequências em termos económicos e sociais”

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Maria de belém roseira

Chamado a participar num processo de diálogo entre partidos, em situação de grave instabilidade política nacional, o Partido Socialista respondeu presente.

Outra atitude não estaria à altura da sua história, da sua natureza e da sua responsabilidade.Como não podia deixar de ser, participou nesse processo de boa-fé e de forma em-penhada. Depois de ter considerado que ele não podia restringir-se aos partidos da maioria que suporta o Governo e, para isso, convidou as restantes forças com assento parlamentar.Terminada essa primeira fase, sem resultados, encetou o diálogo com os partidos da maioria.Apresentou propostas de acordo com os seus princípios e valores, analisou as apresentadas pelos seus interlocutores, argumentou e fundamentou as suas posi-ções de forma consistente e coerente.Malogradamente, não foi possível atingir os objetivos pretendidos ou, pelo menos, o seu objetivo principal. Ou seja, conseguir unidade de posições entre partidos na discussão do nosso processo de ajustamento com as entidades internacionais competentes.É preciso recordar que o Partido Socialista nunca participou nem foi chamado a participar nas já sete avaliações que foram feitas ao Programa de Assistência Fi-nanceira e nas outras tantas alterações daí decorrentes.Ora, sobretudo na quinta avaliação e depois do fracasso no cumprimento dos ob-jetivos do Programa, decorrente do facto de o Governo ter pretendido aplicar me-didas mais duras e repentinas do que as previstas no programa inicial, o Governo comprometeu-se com um corte na despesa pública muito superior ao inicialmente previsto.O Partido Socialista sempre discordou destas alterações, sempre alertou para o seu efeito recessivo e sempre apresentou alternativas. O Governo sempre as recu-sou. E recusou porque, sem o explicitar, o que sempre pretendeu foi introduzir uma profunda alteração no papel do Estado, designadamente nas suas funções sociais.Esta divergência de fundo, que é uma verdadeira incompatibilidade, veio a tornar--se evidente e explícita, impedindo a realização de qualquer acordo.Na verdade, o PSD verdadeiramente quer cortar na despesa pública social, porque é essa, neste momento, a sua ideologia dominante, considerando irrelevantes as suas consequências em termos económicos e sociais.Ora, para o PS, a economia é instrumental e não finalidade em si. Ela é necessária para promover o desenvolvimento humano, devendo servir as pessoas e não pô-las ao seu serviço.Neste contexto, o PS esteve bem, por muito que alguns analistas apressados e/ou pouco independentes pretendam fazer crer.Desde logo, a delegação, presidida por Alberto Martins, cuja solidez política e es-pírito democrático são conhecidos. Mas também Óscar Gaspar e Eurico Brilhante Dias, competentíssimos e preparados, surpreenderam os interlocutores com a mi-núcia e o grau de conhecimento das matérias em discussão.Finalmente, o secretário-geral, que superintendeu a todo o processo e que prestou ao país e ao partido, através da sua Comissão Política e da divulgação no seu ‘site’ das propostas apresentadas, todos os fundamentos da posição tomada.Andou bem, pois, mais uma vez o PS, assumindo-se como uma verdadeira alter-nativa. Não pode, contudo, descansar sobre aquilo que tem feito. A permanente divulgação da sua mensagem política, do modelo de desenvolvimento que preten-de para Portugal e para os portugueses, sem esquecer o reforço da construção europeia e da nossa presença relativa no mundo, são cada vez mais necessárias.As próximas eleições autárquicas criam uma boa oportunidade para esse efeito e exige-se a cada uma e a cada um de nós uma participação ativa e empenhada para que possamos alcançar uma enorme vitória eleitoral.Não apenas de ideias mas também de ideais, pois, ao contrário do que muitos pre-tendem fazer crer, este perturbado início de século não pôs em causa a sua justifi-cação, antes veio acentuar a sua indispensabilidade. ^

dois anos de liderança!antónio José seguro comple-tou recentemente dois anos na liderança do Ps, numa altura em que os socialistas se prepa-ram para os próximos comba-tes eleitorais: autárquicas, eu-ropeias e legislativas.sucedendo em 23 de julho de 2011 a José sócrates como se-cretário-geral do partido, antó-nio José seguro assumiu a con-dução do Ps na oposição.no plano nacional, chegou à li-derança dois meses depois de o partido ter sido empurrado a subscrever, juntamente com o Psd e cds, um acordo de as-sistência financeira de 78 mil milhões de euros com a troika (banco central europeu, Fun-do Monetário internacional e comissão europeia), que im-pôs um programa de ajusta-mento financeiro até junho de 2014.

a liderança de antónio José se-guro tem-se caracterizado des-de o começo pelo empenho na credibilização e moralização da atividade política, pela honra dos compromissos assumidos, pelos alertas lançados incan-sável e atempadamente e pe-la apresentação de soluções al-ternativas para os problemas do país.as propostas apresentadas por seguro consubstanciam uma estratégia política alternativa à pesada austeridade impos-ta pela governo de direita e as-senta numa visão diferente de Portugal, que defende a retoma do crescimento económico e da promoção do emprego.assim, a alternativa propos-ta pelo líder do Ps baseia-se na ideia de que é preciso parar com a austeridade, renegociar o memorando com a troika,

tendo em vista adaptar o pro-cesso de ajustamento finan-ceiro ao fator crescimento eco-nómico, e promover o investi-mento público e privado para dinamizar a economia.o secretário-geral do Ps tem também defendido que a so-lução para o fim da crise pas-sa por mudanças na união eu-ropeia, designadamente atra-vés de um papel mais ativo e abrangente do banco central europeu e pela criação de um mecanismo de mutualização da dívida de cada estado-membro que seja superior a 60%.em termos político-partidá-rios, na sequência de eleições diretas e do último congresso do Ps, realizado em abril pas-sado, antónio José seguro foi reeleito secretário-geral com mais de 96% dos votos dos mi-litantes socialistas. ^ m.r.

MensaGeM do seCretário-GeraL do Ps PeLos dois anos de Mandatoo “acção socialista” partilha com os seus lei-tores a mensagem do secretário-geral do Ps, na sua página de Facebook, no dia em que as-sinalou dois anos de mandato de liderança socialista."Há exatamente dois anos, abracei a enorme missão de ser secretário-geral do Partido socia-lista. e, nestes dois anos, os desafios não foram poucos nem pequenos.em dois anos, as condições de vida dos por-tugueses agravaram-se brutalmente. todos os dias me chegam relatos de pessoas que passam fome, de famílias que não têm acesso à saúde, assoladas pelo desemprego, de empresas em enormes dificuldades e correndo o risco de fe-char. o cenário é hoje mais negro e os portu-gueses têm hoje menos esperança.o Partido socialista está ao lado das pessoas e sempre lutou pelas soluções. Por isso, o meu empenho põe-se ao serviço das dificuldades, vai ao encontro dos problemas do Portugal

real. existe um caminho alternativo ao que foi seguido até aqui, e há dois anos que afirmamos: temos um novo ruMo para dar a Portugal, aos portugueses. temos soluções que passam pelo fim da política de austeridade, vista por muitos como obrigatória, e que consiste basi-camente em cortes cegos que não olham para as pessoas mas apenas para números.a prioridade tem que ser o emprego. a priori-dade tem que ser o crescimento. a prioridade deve ser a esperança, o futuro. sei que os por-tugueses confiam, que sabem que podemos ser melhores, fazer mais, que podemos escolher um caminho diferente para ultrapassar a crise.obrigado por essa confiança, obrigado por me terem acompanhado ao longo destes dois anos de partilha, de luta e de empenhamento conjunto.Pode continuar a contar comigo. eu continuo a contar consigo!bem haja" ^

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júlio meirinhos candidato à Presidência da câMara de bragança

“Uma cidade moderna onde dê gosto viver”Júlio Meirinhos afirma em entrevista ao “Acção Socialista” que tem como prioridade fazer de Bragança uma cidade moderna, do saber, da cultura e do conhecimento, “onde dê gosto viver”, transformando a interioridade “numa vantagem”. j. C. CasteLo branCo

Porque é que aceitou o desafio de se candidatar à presidên-cia da Câmara de bragança?amo a cidade de bragança e as suas gentes e quero o melhor pa-ra ela. acumulei uma grande ex-periência política e fiz um longo caminho ao serviço desta cida-de e da região e não podia recu-sar o chamamento da cidadania. aqui estou para fazer de bragan-ça uma cidade moderna, onde dê gosto viver e os brigantinos te-nham uma vida melhor.

Candidata-se sob o slogan “bragança no coração”. Qual o significado?tenho uma longa experiência au-tárquica e de gestão em diversos cenários: a nível local, regional e nacional, de dedicação ao inte-rior e à causa pública. vivi lon-gos anos na cidade de bragan-ça, aqui estudei, aqui fui jovem e me fiz homem, aqui fui gover-nador civil, aqui fui presidente da região de turismo do nordeste transmontano: esta é uma cida-de minha por direito próprio, o direito do coração e da memória, mas sobretudo é a minha cidade do futuro.

Qual a ideia central da sua candidatura?a candidatura tem realmente uma ideia central: fazer de bra-gança uma cidade moderna, transmontana, portuguesa e eu-ropeia, onde dê gosto viver, onde não existam fraturas sociais, on-de a cultura, o saber e o conhe-cimento sejam uma preocupa-ção constante, um polo capaz de atrair gente vinda de outras pa-ragens do país e do estrangeiro, capaz de dinamizar o comércio, capaz de gerar empregos para os seus e que seja reconhecidamen-te aceite como capital regional, assumindo plenamente todas as vantagens da sua interioridade.

Porque é que diz que bragan-ça precisa de uma “voz forte” na área da saúde junto do po-der central?É óbvio que para conseguir mais recursos nesta ou noutra área

depende sempre de uma voz po-lítica forte, capaz de fazer enten-der aos Ministérios que o nor-deste transmontano precisa de medidas excecionais para que os serviços possam ser prestados com dignidade a quem deles pre-cisa. a racionalidade dos núme-ros dita o número de médicos de família necessários em cada con-celho, a racionalidade dos núme-ros dita o tipo de serviços que podemos ter. uma racionalidade injusta e até cruel para o distri-to de bragança, que possui uma enorme dispersão geográfica e baixos índices populacionais. o governo tem de perceber que esta região tem características e especificidades próprias e que por isso não pode ser regida pe-las mesmas regras do litoral.

Que medidas tem no seu programa para promo-ver o emprego e combater a desertificação?começarei por mudar a imagem de bragança, nem sempre posi-tiva e atrativa para as pessoas: temos que voltar ao centro da cidade.a grande aposta numa cidade do saber, da cultura e do conhe-cimento, deve afirmar-se como a construção central do nosso fu-turo: o mundo do conhecimen-to é a verdadeira modernidade. É fundamental para bragança a sua população estudantil, os seus professores, os seus investigado-res, todas as suas instituições de ensino e investigação, em parti-cular no domínio do ensino su-perior, por isso tudo faremos pa-ra as apoiar. É essa uma vertente que queremos reforçar, atraindo

para a nossa cidade novos polos de investigação, base de um no-vo desenvolvimento, capaz de resgatar da sua longa crise a nos-sa agricultura e outras atividades a ela ligadas, trazendo para a re-gião indústrias modernas não poluentes, atraindo investimen-to gerador de riqueza.

Que infraestruras pretende desenvolver?as infraestruturas que queremos desenvolver e aprofundar são as relativas ao ensino, à cultura, à investigação, à qualificação e à formação de excelência, ao tu-rismo, à qualidade no apoio so-cial. isto significa que a nossa pri-meira prioridade são as pessoas e nunca nos vamos esquecer dis-so: as pessoas estarão sempre em primeiro lugar. o principal capi-

tal desta cidade tem de ser o ca-pital humano, pois não há me-lhores recursos. Queremos uma cidade para as pessoas, cada vez mais para as pessoas, e onde dê gosto viver.

Qual o principal proble-ma que identifica no concelho?a desertificação das aldeias e consequente perda de popu-lação. a queda da natalida-de e capacidade do concelho para atrair investimento pro-dutivo gerador de emprego.

Perante o cenário de cres-cente pobreza que se verifi-ca no concelho, o que pensa fazer na presidência da au-tarquia para combater este flagelo?Preocupa-me a relação entre a ci-

dade e as nossas aldeias, por isso irei melhorar essa conexão numa lógica de apoio mútuo. Há que requalificar, há que apoiar e reco-lher os saberes e culturas ances-trais, há que apoiar as gentes do campo em novos processos pro-dutivos, e apostar cada vez mais em produtos de excelência. bra-gança tem de ser sinónimo de qualidade e bem-estar. as pes-soas hão-de sentir vontade de querer vir viver para aqui.vamos transformar a interiori-dade que nos tem ofuscado nu-ma vantagem, de tal modo que dentro de algum tempo as cida-des do litoral tenham inveja de nós, da nossa natureza, da nos-sa paz, das nossas condições, da nossa vida de qualidade, das con-dições que temos para produzir produtos de qualidade.

Que comentário lhe merece a política do atual Governo em relação ao interior do país?este governo não implemen-tou qualquer medida de dis-criminação positiva para com o interior e acabou com todas as que existiam: silenciou a de-mocracia de proximidade nas freguesias rurais que extin-guiu; tem feito arrastar inde-finidamente a construção da autoestrada a4; teima em não querer resolver a obra do túnel do Marão; tirou-nos a carreira aérea para lisboa; quer retirar o helicóptero do ineM esta-cionado na região; os tribunais que fecham; a penúria total na saúde e na educação; o sufoco financeiro das câmaras munici-pais, e passo tudo o resto que é muito. ^

“QuereMos uMa cidade Para as Pessoas, cada veZ Mais Para as Pessoas, e onde dê gosto viver” “bragança teM de ser sinóniMo de Qualidade e beM-estar. as Pessoas Hão-de sentir vontade de Querer vir viver Para aQui”

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rui santos candidato à Presidência da câMara

“Fazer avançarvila real”“Fazer avançar Vila Real” é o objetivo do candidato socialista Rui Santos, que pretende pôr fim à decisão “casuística” e “ao sabor de alguns interesses” que marcou 37 anos de gestão autárquica do PSD. j. C. CasteLo branCo

Qual o principal motivo que o leva a ser candidato do Ps à presidência da Câmara de vila real?É com muita honra e com um enorme sentido de responsa-bilidade que sou, novamente, candidato a presidente da câ-mara Municipal de vila real. os vila-realenses conhecem o meu trajecto profissional, político e cívico. conhecem a minha dedi-cação à causa pública e ao servi-ço público.esta é, portanto, uma candida-tura natural que une o Partido socialista e tantos e tantos ci-dadãos independentes, que se revêem nas nossas ideias, nas nossas propostas e postura. o que me motiva, essencialmen-te, é o amor que sinto pela nos-sa terra, por vila real e pelas nossas gentes!

Quais os principais trunfos que tem para vencer as elei-ções de 29 de setembro?um compromisso feliz en-tre querer e saber. não apenas meu, mas de toda a equipa que me acompanha e trabalha pa-ra o sucesso desta candidatura. somos um conjunto de pessoas com competências complemen-tares e elevado reconhecimento.constituímos uma candidatura com os olhos postos no futuro, cansada de 37 anos de gestão autárquica do Psd e com ideias muito concretas e exequíveis para vila real.

Como classifica em duas pa-lavras a sua candidatura?utilizarei apenas uma: avan-çar. esta palavra dinâmica re-presenta bem o espírito daquilo que pretendemos. conhecemos muito bem o nosso concelho,

conhecemos os seus pontos for-tes e os seus pontos fracos. sa-bemos onde estamos, onde que-remos chegar e como fazê-lo. o desafio que lançamos aos elei-tores é acreditar na nossa ca-pacidade para fazer avançar vi-la real!

Quais as linhas-força em que assenta o seu projeto autárquico?definimos cinco eixos funda-mentais para o que deverá ser a intervenção do Ps nesta can-didatura autárquica e na futura gestão camarária de vila real: vila real, planeamento e visão; vila real, atracão económica e motor regional; vila real soli-dária; vila real, urbana e plu-ral; e vila real, autarquia dos cidadãos.

Como pensa implementar políticas de promoção de emprego e de fixação da po-pulação, em especial a mais jovem?temos apresentado propos-tas concretas que, muitas ve-zes sem grandes custos, pode-riam fazer toda a diferença. Por exemplo, temos dito e repeti-do que cabe à autarquia um pa-pel fundamental na atracção de investimento. Quer através da fiscalidade municipal, quer através da operacionalização das geminações existentes com municípios estrangeiros crian-do uma bolsa internacional de emprego, quer ainda através da desburocratização de licencia-mentos e processos. Propusemos, para dar outro exemplo, a criação de um pro-grama de rendas reduzidas pa-ra jovens, em habitações reabili-tadas pela autarquia, no centro

de vila real. esta seria uma for-ma de criar condições para a fi-xação de jovens famílias no con-celho. ou ainda, para terminar, a criação de um Fundo Munici-pal de apoio aos alunos caren-ciados, para frequência de qual-quer grau de ensino, que seja complementar ao definido pelo governo central.

Que respostas tem na área social para o crescente au-mento da pobreza e exclu-são social que se verifica no distrito?urge a elaboração de um bom Plano de desenvolvimento so-cial Municipal. o apoio às iP-ss é importante, mas também a ação direta da câmara Mu-nicipal é imprescindível. ape-nas 2% do orçamento camará-rio para ação e apoio social, valor que tem sido aplicado pe-lo atual executivo, é manifesta-mente pouco.no entanto, a câmara Munici-

pal não pode ser concorrente das instituições sociais do nos-so concelho. não deve tentar competir com elas, na esperan-ça de aí retirar alguns dividen-dos políticos. o funcionamen-to em rede e a existência de um conselho social Municipal são os nossos compromissos para melhorar a oferta social em vi-la real.

Quais foram, na sua opinião, os principais pecados capi-tais da gestão da direita no município?vila real não tem, até hoje, um Plano estratégico Municipal que defina que tipo de concelho pretendemos ser, quais deverão ser as prioridades em termos de investimento público, quais os objetivos de crescimento popu-lacional, quais as infra-estrutu-ras necessárias e a sua localiza-ção, entre outros. o passado da gestão autárqui-ca em vila real é marcado pela

casuística e pela decisão ao sa-bor do momento e de alguns in-teresses. o futuro será feito de planeamento transparente, pú-blico e participado.

Como pensa inverter esta pesada herança?a marca “vila real” tem que ser valorizada e promovida. o ma-rketing territorial é hoje fun-damental para projetar um es-paço geográfico e atrair inves-timento. o nosso concelho tem que voltar a estar no mapa pelas melhores razões.Há que potenciar a nossa gas-tronomia e doçaria, a nossa paisagem natural, o nosso vi-nho, os nossos monumentos como a casa de Mateus ou as nossas figuras ilustres como diogo cão ou carvalho araújo. Há ainda que recuperar aque-las que já foram a grande mar-ca de vila real: as corridas au-tomóveis. ^

“constituíMos uMa candidatura coM os olHos Postos no Futuro, cansada de 37 anos de gestão autárQuica do Psd e coM ideias Muito concretas e exeQuíveis Para vila real”

“o desaFio Que lançaMos aos eleitores É Que acreditar na nossa caPacidade Para FaZer avançar vila real”

“o nosso concelHo teM Que voltar a estar no MaPa Pelas MelHores raZões”

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“Este Governo, ao descentrar a ação dos professores e dos dirigentes escolares da melhoria dos processos de ensino e dos resultados de aprendizagem, reduz o direito fundamental da educação para todos e condena o futuro do país”

exaMes 2013

odete João

siGa-nos no tWitter @PSOCIAlISTAsiGa-nos no tWitter @PSOCIAlISTA

A razia nas classificações dos exames de Matemática e Portu-guês, nos 6º e 9º anos de escolaridade são a demonstração cla-ra da falência das politicas do ministro Nuno Crato.

Em nove anos de realização de exames nacionais de 9º ano, assistimos, este ano, ao pior resultado a Português e ao terceiro pior a Matemáti-ca. Ambos com média negativa, respetivamente, 47% e 43%. Também os exames de 6º ano registam uma quebra, quando comparado com 2012.O pretenso rigor e a excelência com que o ministro Nuno Crato conti-nua a apregoar são, mais uma vez, desfeiteados pela dura realidade dos resultados dos exames, numa clara e inequívoca demonstração do estado nefasto em que a escola pública está mergulhada.Os resultados destes exames nacionais comprovam o malogro das medidas avulsas e desajustadas introduzidas pelo atual Governo, tal como o PS tem vindo insistentemente a denunciar e a combater.Na sua obsessão cega pela austeridade, o Ministério da Educação e Ciência pôs fim ao Plano de Ação para a Matemática, aos apoios ao Plano Nacional de leitura e terminou com a obrigatoriedade do estudo acompanhado e com as aulas de substituição, bem como procedeu à extinção de disciplinas e à redução da oferta de cursos de educação e formação para alunos com idade igual ou superior a 15 anos, o que resultou na redução da permanência dos alunos em ambiente escolar e de aprendizagem.A par destes cortes, o ministro Nuno Crato alterou a organização e estruturação da rede escolar, nomeadamente através da criação de mega-agrupamentos ingovernáveis e do aumento do número de alu-nos por turma, criando um clima de instabilidade, de precariedade e de temor nas escolas e nas famílias. A atuação do atual Governo, para além de acarretar elevadíssimos custos para o país a medio/longo prazo e de implicar danos irreparáveis para o percurso curricular de milhares de alunos que poderão colocar em causa o seu futuro, constitui um forte retrocesso na evolução que Portugal vinha a registar, de forma gradual e consistente, nos últimos anos em matéria de ensino e aprendizagem, conforme, aliás, compro-vam todos os estudos e indicadores nacionais e internacionais. Este Governo, ao descentrar a ação dos professores e dos dirigentes escolares da melhoria dos processos de ensino e dos resultados de aprendizagem, reduz o direito fundamental da educação para todos e condena o futuro do país. O PS, tal como tem vindo a realizar desde o inicio, irá manter-se firme e determinado na defesa do investimento na educação e na formação, na promoção da escola pública, na valorização da função dos agentes educativos e na reposição dos alunos no epicentro do sistema e das po-líticas educativas, pois, acreditamos que o desenvolvimento, a justiça e coesão social do país serão concretizados através do aumento das competências e do conhecimento e da melhoria da qualificação dos portugueses. ^

reModelação

Governo renasce ferido

execução orçaMental

objetivo do défice em causaos dados da execução orça-mental no primeiro semestre deste ano indicam que o ob-jetivo de défice de 5,5% está posto em causa, tendo dupli-cado em cadeia e em termos homólogos.a posição foi assumida pe-lo camarada eurico brilhante dias, membro do secretaria-do nacional numa conferên-cia de imprensa realizada na sede nacional.“todos os indicações que te-mos dos vários boletins de execução orçamental levam--nos a crer que o objetivo [dé-fice de 5,5% no final do ano], hoje, sem mais medidas, es-tá posto em causa”, sustentou eurico brilhante dias, frisan-do que para confirmar esta leitura “basta ver a trajetória, quer do lado da receita, quer do lado da despesa”.e advertiu que, se a políti-ca do governo não for altera-da, os portugueses vão conti-nuar sujeitos “a enormes sa-crifícios” cuja utilidade para

a consolidação orçamental é “praticamente nula”, porque “aquilo que se corta do lado da despesa é exaurido do lado da receita”.“o défice orçamental em ter-mos homólogos mais do que duplicou quando se compara o primeiro semestre de 2012 com o primeiro semestre de 2013, mas duplicou tam-bém em cadeia comparando o exercício de maio passado com o exercício de junho de 2013”, explicou o dirigente do Ps, acrescentando que “Por-tugal não irá cumprir o défice estimado no orçamento reti-ficativo em 2013”.Por outro lado, eurico dias considerou “curioso” que no exato dia em que o orçamen-to do estado retificativo para 2013 entra em execução já os seus objetivos de défice este-jam em causa”.“os impostos indiretos conti-nuam a decrescer em termos homólogos, o iva em parti-cular, sinal evidente de que

a atividade económica conti-nua a aprofundar a sua reces-são. a despesa com subsídios supera 1,4 mil milhões de eu-ros (11,8% do período ho-mólogo) e, ainda mais preo-cupante, as dívidas em atra-so a fornecedores já superam os três mil milhões de euros”, apontou.de seguida, o dirigente socia-lista referiu que o subsídio de férias dos funcionários públi-cos deveriam ter sido pagos em junho passado, mas estes resultados da execução orça-mental, “sendo medíocres”, são ainda assim alcançados sem que tenham sido pagos esses subsídios.“isto significa que em no-vembro novas preocupações virão”, avisou, para concluir que “Portugal precisa de um novo rumo, de parar com os cortes cegos, de fazer uma verdadeira reforma do esta-do, estabilizar os rendimen-tos dos portugueses e dar--lhes confiança.” ^

“o país esperou quase um mês por uma dança de cadeiras que em nada mudou a política de recessão e de empobrecimento que tem vindo a ser posta em prática pelo governo”, decla-rou o presidente da bancada parlamentar socialista, reagin-do às notícias que davam con-ta das alterações produzidas no executivo de coligação após a crise política deste julho.defendendo que “Portugal precisava de uma remodelação de políticas e não de um no-vo ajustamento entre os par-

tidos da coligação”, Zorrinho, que falava em conferência de imprensa, na assembleia da república, apontou que o go-verno agora remodelado “nas-ce ferido pela carta de demis-são de vítor gaspar, pelas con-siderações de Paulo Portas e pela insistência numa minis-tra das Finanças que perfilha a subjugação à ideia que o pro-grama do governo é o progra-ma da troika”.carlos Zorrinho fez ainda no-tar que a recente remodelação do executivo espelha o incum-

primento de mais uma pro-messa eleitoral, “a queda de mais um mito com o qual o primeiro-ministro, Pedro Pas-sos coelho, enganou os por-tugueses: o mito do governo mínimo”.a concluir, o presidente do gP/Ps fez questão de subli-nhar que, independentemen-te dos nomes, dos novos ros-tos e dos currículos, “o que é importante reter é que aqui-lo que nos conduziu ao desem-prego, à recessão e ao empo-brecimento vai continuar”. ^

O Governo recentemente remodelado "nasce ferido" pela carta de demissão de Vítor Gaspar e pelas" considerações" de Paulo Portas, limitando-se a mais um ajustamento entre os partidos da coligação PSD/CDS.

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até ao FiM – destrUição e derrota da aLeManHa de HitLerian Kershaw

Quando já era evidente a derrota da alemanha de Hitler, ouvia-se dizer aos alemães que prefe-riam “um fim com horror a um horror sem fim”.este livro retrata primorosamente a obstinação cega do regime nazi, apostado em prosseguir uma política que se sabia não poder ter qual-quer êxito, mas que os governantes assegura-vam ir prosseguir, contra todas as evidências, por mais sofrimento que causassem ao povo.o historiador britânico, considerado um dos melhores especialistas sobre nazismo, conse-gue captar em “até ao fim” a complexidade do quadro que conduziu ao desfecho trágico e traça um retrato das personagens e instituições ale-mãs que prolongaram o conflito até à agonia fi-nal de berlim.uma obra que convida a uma arrepiante refle-xão numa altura em que se impõe o discurso da continuidade na austeridade, com a simultânea culpabilização e elogio do povo sofredor.

a eUroPa aLeMãulrich beck

Thomas Mann, no seu famoso discurso de Ham-burgo, advertiu os alemães para que nunca mais voltassem a aspirar a uma “europa alemã”.todavia, foi precisamente isto que se tornou realidade durante a crise do euro: a potência económica mais forte do continente a ditar con-dições para novos empréstimos aos estados po-bres da zona euro – até chegar ao ponto de es-vaziar os direitos democráticos de codecisão dos parlamentos.neste curto ensaio, o autor – incontornável re-ferência entre intelectuais e sociólogos euro-peus e estudioso do risco sistémico – tenta ex-plicar a posição da alemanha e em especial da sua atual chanceler na crise europeia e as suas consequências sociais e políticas no futuro da união.no centro do argumento de beck encontra-se a necessidade uma europa nova ser capaz de aba-ter um novo tipo de maquiavelismo, fundado no pragmatismo político de Merkl.

Pensar o séCULo xxtony Judt

último livro do já falecido tony Judt, historia-dor inglês brilhante e um indómito intelectual público, “Pensar o século xx” reúne numa nar-rativa de grande fôlego a história intelectual contraditória de uma época.a natureza excecional desta obra é evidente na sua própria estrutura – uma série de conversas íntimas entre Judt e o seu amigo e colega timo-thy snyder, baseada em textos da época e real-çada pela intensidade da sua visão.atravessando com desenvoltura as complexida-des da vida moderna, ele e snyder reavivam as ideias e os seus pensadores, conduzindo-nos pe-los debates que moldaram o nosso mundo. atra-vés desta evocação de ideias esquecidas e do es-crutínio das tendências em voga, é a forma de um século que se dá a ver. Judt e snyder envol-vem-nos profundamente na sua análise, fazen-do-nos sentir parte da conversa, neste livro so-bre o passado, mas que é também a defesa do futuro.

a ideia de jUstiçaamartya sem

o conhecido filósofo indiano e prêmio nobel de economia em 1998 notabilizou-se pelos seus trabalhos sobre a economia do bem-estar social.Professor de universidades da europa, estados unidos e ásia, inteletual cujos múltiplos inte-resses são enquadrados por um humanismo in-condicional, neste seu novo livro sen volta-se para a filosofia política e a teoria da justiça, con-siderando que as desigualdades do mundo con-temporâneo são o principal obstáculo ao desen-volvimento humano e social.nesta obra, o autor realiza uma verdadeira ana-tomia dos fundamentos da injustiça, apontan-do as contradições das correntes jurídicas atual-mente dominantes, uma vez que para sen a ideia de justiça perfeita, a par da hegemonia “contratualista” no direito, tendem a negligen-ciar a realidade dos cidadãos.a prosa envolvente de sem, que alia rigor con-ceitual a uma visão humana, permite a leitores leigos e especialistas orientarem-se com segu-rança ao longo da exposição dos diferentes sis-temas jurídicos abordados. ^

UM lIVRO POR SEMANASUGESTõES DE josé vera jardiM

O POEMA DA VIDA DE...

josé jUnQUeiro

Pedra FilosofalAntónio Gedeão

eles não sabem que o sonhoé uma constante da vidatão concreta e definidacomo outra coisa qualquer,como esta pedra cinzentaem que me sento e descanso,como este ribeiro mansoem serenos sobressaltos,como estes pinheiros altosque em verde e oiro se agitam,como estas aves que gritamem bebedeiras de azul. eles não sabem que o sonhoé vinho, é espuma, é fermento,bichinho álacre e sedento,de focinho pontiagudo,que fossa através de tudonum perpétuo movimento. eles não sabem que o sonhoé tela, é cor, é pincel,base, fuste, capitel,arco em ogiva, vitral,pináculo de catedral,contraponto, sinfonia,máscara grega, magia,que é retorta de alquimista,mapa do mundo distante,rosa-dos-ventos, infante,caravela quinhentista,que é cabo da boa esperança,ouro, canela, marfim,florete de espadachim,bastidor, passo de dança,colombina e arlequim,passarola voadora,pára-raios, locomotiva,barco de proa festiva,alto-forno, geradora,cisão do átomo, radar,ultra-som, televisão,desembarque em foguetãona superfície lunar. eles não sabem, nem sonham,que o sonho comanda a vida,que sempre que um homem sonhao mundo pula e avançacomo bola coloridaentre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956

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diretor Marcos Sá // conselho editorial Joel Hasse Ferreira, Carlos Petronilho Oliveira, Paula Esteves, Paulo Noguês // chefe de redação Paulo Ferreira // redação J.C. Castelo Branco, Mary Rodrigues, Rui Solano de Almeida // colunistas permanentes Maria de Belém presideNte do ps, Vasco Cordeiro presideNte do ps açores, Victor Freitas presideNte do ps madeira, Carlos Zorrinho presideNte do grupo parlameNtar do ps, Rui Solheiro presideNte da aNa ps, Ferro Rodrigues deputado, Isabel Coutinho presideNte das mulheres socialistas, João Proença teNdêNcia siNdical socialista, Jamila Madeira secretariado NacioNal, Eurico Dias secretariado NacioNal, Álvaro Beleza secretariado NacioNal, João Torres secretário-geral da juveNtude socialista // secretariado Ana Maria Santos // layout, paginação e edição internet Gabinete de Comunicação do Partido Socialista - Francisco Sandoval // redação, administração e expedição Partido Socialista, largo do Rato 2, 1269-143 lisboa; Telefone 21 382 20 00, Fax 21 382 20 33 // [email protected] // depósito legal 21339/88 // issn 0871-102Ximpressão Grafedisport - Impressão e Artes Gráficas, SA

Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos autores. O “Acção Socialista“ já adotou as normas do novo Acordo Ortográfico.

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este jornal é impresso em papel cuja produção respeita a norma ambiental iso 14001 e é 100% reciclável. depois de o ler colabore com o ambiente, reciclando-o.

aCoMPanHe-nos no FaCebooK SEDENACIONAlPARTIDOSOCIAlISTAaCoMPanHe-nos no FaCebooK SEDENACIONAlPARTIDOSOCIAlISTA

fotoGrafias com HistÓriad

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saMPaio reeLeito seCretário-GeraL do Ps25 A 27 DE MAIO DE 1990

No IX Congresso Nacional, realizado no Porto, de 25 a 27 de Maio de 1990, Jorge Sampaio era reeleito, por esmagadora maioria, secretário-geral do PS. No final da reunião magna era aprovada uma moção de orientação estratégica nacional que tinha as bases programáticas de uma alternativa de esquerda ao cavaquismo, então no auge devido às avalanchas de fundos comunitários e ao preço do petróleo em queda livre. O atual inquilino de Belém governava em tempo de vacas supergordas. Nunca a conjuntura económica desde a crise de 1973 tinha sido tão favorável. ^ j. C. C. b.

“Ao afastar os municípios do seu poder de participação nos sistemas multimunicipais, vai-se acentuar a sua incapacidade de promoção e responsabilização democrática pela prestação de um serviço público de excelência”

UM seCtor eM MUdança

antónio ramos Preto

O Governo aprovou, através do Decreto-lei n.º 92/2013, de 11 de julho, o regime de exploração e gestão dos sistemas multimunicipais de captação, tratamento e distribuição de

água para consumo público, de recolha, tratamento e rejeição de efluentes e de recolha e tratamento de resíduos sólidos.Como muito bem realçou a Associação Nacional de Municípios Portugueses, com o presente decreto-lei pretende-se, “(…) no es-sencial, promover a criação de um novo modelo de agregação dos sistemas já existentes e possibilitar a concessão a entidades de capitais maioritária ou totalmente privados (apenas no caso dos resíduos)“.Embora se estabeleça na lei que a criação destes sistemas mul-timunicipais deve ser precedida de parecer dos municípios terri-torialmente envolvidos, não resulta do seu texto, de forma clara e inequívoca, que o mesmo tenha caráter vinculativo, o que se la-menta, porquanto diminui a posição dos municípios na estabiliza-ção dos futuros sistemas multimunicipais. Posição dos municípios que será necessariamente cada vez mais irrelevante, atenta a circunstância de que extinção por incorpora-ção em entidade gestora de sistema de maior dimensão conduzi-rá a que a posição dos municípios, na sua generalidade, se torne minoritária, atentas as restrições a que têm vindo a ser sujeitos, o que não lhes permitirá promoverem uma tomada de posição de participação maioritária no capital social da entidade gestora.Ao afastar os municípios do seu poder de participação nos sis-temas multimunicipais, vai-se acentuar a sua incapacidade de promoção e responsabilização democrática pela prestação de um serviço público de excelência.Razão pela qual o Partido Socialista não pode prescindir do exer-cício do poder de promover a apreciação parlamentar de um decreto-lei com tão relevantes incidências na qualidade de vida das populações portuguesas, e na gestão democrática de um bem essencial à vida humana. ^

três Perguntas a…

áLvaro beLeZa

Concorda com a decisão de não encerrar a maternidade alfredo da Costa?o não encerramento da Mater-nidade alfredo da costa (Mac) foi uma decisão soberana do tribunal e, como tal, deve ser aceite.todavia, é minha convicção que a verdadeira questão em torno da Mac não passa pelo encer-ramento ou não do seu edifício e sim pela necessidade de não desfazer a sua equipa, indepen-dentemente do local no qual es-ta pudesse ser relocalizada.acredito que o importante não é em qual edifício trabalha, e até pode trabalhar em instalações melhores. o verdadeiramente importante no caso da Mac é não destruir a sua equipa, que tem experiência de trabalho em conjunto e que é reconhecida-mente boa.

o que pensa do novo perfil governamental?Penso que o remodelado exe-cutivo não podia ter começado pior. começou coxo!

desde logo tem um novo mi-nistro dos negócios estrangei-ros a propósito do qual relató-rios da administração pública dos estados unidos registam opiniões pouco abonatórias so-bre a sua gestão da Fundação luso-americana.Por outro lado, temos um novo ministro com ligações ao escân-dalo bPn, cujo ónus vale mais do que os quatro mil milhões de corte da troika, e que os portu-gueses andam a pagar há anos com sacrifícios e austeridade.não esperava que uma perso-nalidade como esta, com o seu passado e a sua experiência, aceitasse tanta exposição públi-ca implícita num lugar de minis-tro. Mas, parece que o síndrome do carro preto afeta muita gen-te em Portugal…

Que comentário lhe merece toda a polémica em torno da nova ministra das Finanças e dos contratos ‘swap’?esse é outro caso! um minis-tro das Finanças, acima de tu-do, tem de ser alguém absolu-tamente idóneo, sério, honesto, com indiscutível caráter abona-tório para a salvaguarda da cre-dibilidade do país.ora, parece que, neste caso, houve lugar a algumas mentiri-nhas relativamente aos contra-tos ‘swap’… além de que, como gestora, parece que a senhora ministra os praticou…trata-se, pois, de um espetá-culo lamentável e desnecessá-rio, revelador de uma total au-sência de algo que é essencial na vida e na política: bom sen-so. ^ marY roDriGues

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Capoulas Santos Não foi ainda sob presidência irlandesa do Conselho que se fechou a negociação so-bre a Reforma da PAC para 2014/20, ape-sar dos esforços do Ministro irlandês para fazer crer que um acordo global havia sido conseguido.O acordo a que Comissão Europeia, Con-selho e Parlamento chegaram no passado dia 27 de junho, não foi, afinal, mais do que um quase acordo, após um processo decisório que já leva quase 2 anos de dis-cussões e que se intensificou nas ultimas semanas, com centenas de horas de reu-niões divididas por cerca de meia centena de “Trílogos”.Refiro um “quase acordo” porque, não obstante todas as regras de aplicação contidas em centenas de páginas de arti-culado terem sido acordadas, 5 questões nada irrelevantes ficaram ainda por re-solver devido à teimosia do Conselho: 1. A fórmula de cálculo para a repartição dos envelopes financeiros por Estado-mem-bro, para o I Pilar da PAC, que é 100% financiado pela UE e que representa para Portugal cerca de 550 milhões de euros por ano, 2. Idem para o II Pilar que é parcialmente financiado pela UE e que re-presenta também para Portugal mais de 500 milhões de euros por ano, 3. As taxas de cofinanciamento deste II Pilar, donde depende, por consequência, um maior ou menor esforço do orçamento nacional, 4. As percentagens dos montantes que um Estado membro pode transferir de um para o outro Pilar, que tem também re-percussões no orçamento nacional, e 5. A fixação ou não de limites máximos e de reduções de montantes de subsídios aos agricultores maiores beneficiários. O PE defende um tecto máximo de 300 mil eu-ros por agricultor e o Conselho é contra o estabelecimento de qualquer limite.A razão da ausência de acordo nestas matérias deveu-se ao facto da presidên-cia irlandesa, corroborada por todos os ministros da agricultura, considerar que a sede competente para decidir sobre es-tas questões deveria ser o Conselho Eu-ropeu (Chefes de Estado e de Governo), enquanto eu próprio, enquanto Relator do PE para os principais Regulamentos, investido pelo parlamento com manda-to para negociar estas matérias, sempre considerei que, à luz do Tratado de Lisboa, é o Conselho Agrícola o local próprio de negociação e decisão sobre estes temas. Mantive, assim, durante vários meses, com o Ministro da Agricultura irlandês,

que assegurou este semestre a presidên-cia do Conselho Agrícola, um “braço de ferro” desnecessário que só foi decidido a meu favor, com a decisão do Conselho Eu-ropeu de 28/6, no fecho do acordo inter--institucional sobre o Quadro Financeiro Plurianual, de remeter para a esfera agrí-cola a codecisão sobre estas questões. A renegociação destas matérias, recome-çou, a partir de 1 de julho, sob presidência lituana do Conselho.E não se trata de questões menores para Portugal, uma vez que a fórmula de cal-culo defendida unanimemente pelo Con-selho, logo com o apoio do nosso próprio governo (?), faz com que, no II Pilar, isto é, no Desenvolvimento Rural, onde estão contidos, entre outros, os apoios para o in-vestimento, nas explorações agrícolas, na agroindústria, nos regadios, nas florestas e noutras infraestruturas, etc..., Portugal perca cerca de 600 milhões de euros face ao período de programação anterior. Por outro lado, a França, que recebe da PAC mais do que 18 Estados-membros no seu

conjunto, verá o seu envelope nacional do II Pilar reforçado em cerca de 1100 mi-lhões de euros para o mesmo período, sem que o Conselho aceite sequer explicar que critérios foram utilizados para chegar a este resultado.Se nenhum outro mérito tiver a minha in-transigência ao não aceitar subscrever as posições do Conselho e de forçar a conti-nuação da negociação, ela irá, ao menos, obrigar a que os critérios do Conselho se-jam conhecidos. Mas, estou certo que, no pacote que falta negociar, Portugal pode ver ainda a sua posição melhorada no qua-dro do compromisso a que será necessário chegar para o quinteto de questões referi-das. Quanto à parte da PAC que foi objeto de acordo, ela é francamente positiva para a Europa, para os agricultores, para os con-sumidores e para os cidadãos em geral, e também, obviamente, para Portugal. Teremos uma PAC mais “verde” e uma agricultura mais sustentável, uma vez que os pagamentos diretos ficarão con-dicionados pelo cumprimento de práticas

agrícolas amigas do ambiente, as chama-das medidas de “greening”, concebidas de forma a conciliar a mais valia ambiental com a competitividade do sector. Teremos também uma PAC mais justa, uma vez que haverá, ainda que modesta, uma maior aproximação do valor médio das ajudas por hectare entre Estados-membros, e mais equitativa também entre agriculto-res, tendo em conta que, até 2020, será aplicado um mecanismo de convergência que transferirá uma percentagem das ajudas diretas dos agricultores que rece-bem valores acima da média nacional para aqueles que estão abaixo dessa média, de forma a que, pelo menos, ninguém fique abaixo dos 60% da média, mas que nin-guém veja também o seu nível de ajudas reduzido em mais de 30%. A possibilida-de dos Estados-membros majorarem até mais 65% os primeiros 30ha, no caso de Portugal, ficou igualmente contemplada, de forma a beneficiar de forma acrescida a pequena agricultura.Haverá ainda um regime simplificado e financeiramente mais benéfico para os pequenos agricultores e apoios mais alar-gados para os jovens agricultores, tradu-zidos numa majoração de 25% das ajudas diretas até um determinado limite de área.É ainda introduzido o cofinanciamento comunitário para os sistemas de seguros agrícolas e de fundos mútuos, para acor-rer a situações de catástrofes naturais, incluindo incêndios florestais, ou de doen-ças de plantas e de animais.No final deste primeiro “round” negocial, sinto uma grande satisfação pessoal por uma boa parte do compromisso final, nas questões mais relevantes, refletir pro-postas da minha autoria que o PE já havia incorporado no mandato negocial que me conferiu, como sejam os casos da “con-vergência interna”, do “greening” ou da reintrodução do financiamento comunitá-rio para novos regadios.Nada porém estará adquirido até que tudo esteja negociado. Depois de concluída a negociação das questões ainda penden-tes, o PE terá ainda de a confirmar na Co-missão de Agricultura e no plenário, o que não acontecerá antes do final de outubro.Quando o processo terminar, esta terá sido a primeira reforma decidida em code-cisão envolvendo o Parlamento Europeu, tal como o determina o Tratado de Lisboa. Não tenho qualquer dúvida de que, sem codecisão, a parte PAC já acordada seria bem pior para Portugal. Gostaria de poder dizer o mesmo quando fizer o balanço da negociação da parte que falta.

Nº 92 • JUlHO DE 2013Suplemento Informativo dos Deputados Socialistas no Parlamento Europeu

Acordo da PAC quase fechado

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Edite Estrela Inevitável. Como não falar da crise política da exclusiva responsabilidade do governo? Parece que estamos a assistir a um filme de humor negro com guião escrito a quatro mãos: Vítor Gaspar, Paulo Portas, Passos Coelho e Cavaco Silva.Vivemos tempos difíceis. Por isso, mais do que nunca, precisamos de governantes competentes e com sentido de Estado, qualidades que os líderes dos partidos da coligação governamental provaram não ter. As infantilidades de Paulo Portas e Passos Coelho já custaram muitos milhões de euros ao país, que as vítimas do costu-me, os contribuintes, vão ter de suportar. A política de austeridade lançou Portu-gal em recessão económica e destruiu centenas de milhares de empregos. As consequências das medidas de austerida-de ditadas pela troika e aumentadas pelo governo, que quis ir além da troika, estão à vista. Estudos revelam que um quarto da população está em situação de pobreza. Os jovens licenciados, em quem o país muito investiu, emigram. Entre 2011 e 2012, o país perdeu 55000 pessoas. Portugal per-de os seus melhores quadros e fica mais envelhecido: 131 idosos para 100 jovens. As famílias gastam 96% dos rendimentos só para pagar empréstimos; mais de 1/5

das famílias é atingido pelo desemprego (quase um milhão de inscritos no IEFP); 5% dos que trabalham não conseguem pa-gar as contas; a incerteza do futuro leva todos a cortarem nos bens essenciais e na saúde: 16% dos idosos não cumprem as prescrições médicas por falta de dinheiro para os remédios; e o mesmo acontece com os doentes crónicos. Ora, o “brutal” aumento dos impostos, decretado por Pas-sos Coelho e Vítor Gaspar, devia servir para custear os serviços públicos de saúde e educação e não para meter nos bolsos dos especuladores. É este o resultado de dois anos de governação PSD/CDS. Portugal está hoje pior que antes do pedido de res-

gate. A carta de demissão de Vítor Gaspar é a prova disso. Ele demitiu-se porque sabe que, por causa do fracasso da sua política, Portugal não consegue evitar um segundo resgate. E Paulo Portas quis aproveitar a oportunidade para se esquivar a apresen-tar a reforma do Estado. O já descredibili-zado governo ficou, agora, mais fragilizado ainda.As políticas de austeridade vão deixar marcas profundas e estragos que demo-rarão muito tempo a ultrapassar. Por isso, é preciso mudar de políticas e de prota-gonistas. Quanto mais tempo durar este governo, pior. Mesmo que tentem colar os cacos para artificialmente transmitirem

uma imagem de coesão e estabilidade, as fissuras são de tal ordem que rapidamente vai ruir. Devolver a palavra aos portugue-ses é a solução, tudo o mais é aumentar o problema. Portugal tem de seguir outro caminho.Há muito que o PS defende que a saída da crise passa por uma resposta articulada e coerente ao nível nacional e ao nível eu-ropeu e apresentou uma via alternativa assente no crescimento económico. Esta via alternativa vai fazendo o seu caminho, como se viu com a recente aprovação pela Assembleia da República de oito das dez propostas concretas que o PS apresentou para promover o crescimento e o empre-go. Pena que a maioria PSD-CDS/PP não tenha aprovado também a redução do IVA na restauração. É tempo de Portugal deixar de ser bom aluno da troika e pas-sar a ser um bom negociador. Portugal precisa de um governo determinado e não submisso e que aproveite o facto de os responsáveis políticos da troika (Comis-são Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) precisa-rem de um caso de sucesso para salvar a face. Estar sob assistência financeira não significa ficarmos reféns da vontade dos outros, abdicando da nossa. A crise não é uma catástrofe e a austeridade não é uma inevitabilidade.

AtuAlidAdENº 92 | JUlHO 2013 | 2

É preciso mudar

Há uma alternativa progressista Elisa Ferreira A gestão da agenda europeia durante esta crise está a ser desastrosa. E é um com-pleto equívoco argumentar que a Comis-são Europeia (CE) apenas agiu enquanto órgão técnico, depurado de qualquer cono-tação ideológica ou política. Será que não havia outras soluções, será que não haverá mesmo alternativa? Os factos mostram que, antes e durante a crise, o Grupo So-cialista no Parlamento Europeu defendeu uma agenda diferente mas que não tinha a força de um mandato dos eleitores para a fazer vingar.Senão vejamos:• Quando as tensões se acumulavam nos mercados financeiros, defendemos uma supervisão europeia e uma regulação in-ternacional, assim como um combate sé-rio à fraude e evasão fiscal e à vergonha dos paraísos fiscais; as forças neoliberais dominantes impuseram a tese de que os mercados não devem ser regulados e de que a concorrência fiscal deve ser protegi-da e estimulada, enquanto a CE se mante-ve apática até que a dimensão da crise a veio a obrigar a alguma ação.• Quando os bancos começaram a soço-brar, defendemos a criação de legislação europeia que concentrasse as perdas nos acionistas e as intervenções num fundo eu-ropeu financiado pelos próprios bancos; as forças neoliberais dominantes decidiram que cabia aos contribuintes de cada país salvar os acionistas dos respetivos bancos, mesmo quando o peso do náufrago amea-çasse o afogamento do salvador, enquanto

a CE ficou expectante até que agora, tar-diamente, arriscou alguma propositura.• Quando a recessão começou a atingir as economias mais frágeis, defendemos que a Zona Euro não poderia viver sem um instrumento anti-cíclico que relançasse a economia em fases de abrandamento, sem novas competências para o BCE e um or-çamento europeu mais robusto; as forças neoliberais dominantes insistiram em res-ponsabilizar cada Estado pela sua própria política de relançamento.• Quando, na sequência dessas interven-ções, os Estados mais frágeis apresenta-ram sinais de sobre-endividamento e algu-mas dívidas soberanas ficaram sob ataque dos especuladores, defendemos uma sal-vaguarda comum da dívida pública denomi-nada em euros por via de euro-obrigações ou de um fundo de amortização; as forças neoliberais dominantes explicaram que os défices e a divida eram filhos da preguiça

(como os excedentes da virtude) e que só uma cura de austeridade seria redentora.• Quando todos os países decidiram adotar uma austeridade sincronizada e a recessão e o desemprego se instalaram na periferia sul da Europa, defendemos que a CE reco-mendasse aos países excedentários que li-bertassem a sua procura interna, que pro-movesse iniciativas visando o investimento e o emprego, que não contribuísse para matar o investimento público estratégico com as regras da disciplina orçamental e que lançasse um pilar social de nível euro-peu, incluindo um apoio ativo ao emprego jovem com caráter de emergência; as for-ças neoliberais dominantes reforçaram as sanções aos países por incumprimento do défice e da divida em nome de uma “go-vernação económica” e continuaram a le-vantar obstáculos de todo o tipo á concre-tização de qualquer componente de uma agenda progressista.

Neste quadro, é vã a esperança de uma aprendizagem com os erros e consequen-te reparação. Mesmo quando o mentor do “melhor aluno” desta escola e um dos seus mais convictos apóstolos e praticantes – Vítor Gaspar – faz, à saída de funções, um ato de contrição claro: “O incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi de-terminado por uma queda muito substan-cial da procura interna e por uma alteração da sua composição que provocaram uma quebra muito forte nas receitas tributá-rias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto Ministro das Finanças.” Mas teriam sido precisos dois anos de experimentalismo, com tanto so-frimento e destruição, para se chegar à conclusão elementar de que – num país que passou a viver de um mercado inter-no pobre e artificialmente estimulado pelo crédito – esmagar abruptamente salários e pensões e destruir qualquer visão de fu-turo não estimula as exportações, antes provoca a retração violenta da procura, do investimento e do crédito e desencadeia falências e desemprego incontroláveis?A “receita” não mudou nem dá sinais de ir mudar... Portugal desfaz-se em contra-dições e confusões politiqueiras às mãos de uma ideologia que impera, sob as mais diversas formas concretas, nas principais instituições europeias (Conselho, Comis-são e Parlamento Europeu). Existe uma agenda europeia alternativa mas, em de-mocracia, ela tem de ser sufragada pelos eleitores – veremos o que eles dirão se e quando forem chamados a votar…

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AtuAlidAdE Nº 92 | JUlHO 2013 | 3

O despertar do PSE

António Correia de Campos Depois de alguns anos de hibernação,

de onde em onde com fugazes e frágeis respostas à direita que controla a Euro-pa, o PSE parece ter acordado, sacudido a juba e prepara-se para soltar alguns roncos premonitórios. Na verdade, a me-nos de um ano de eleições europeias, já se fazia tarde. Deixámos que a direita tomasse conta da Europa pela maioria eleitoral no Con-selho de Chefes de Estado e de Governo, por maiorias não eleitorais na Comissão e pela designação de uma presidência de Conselho Europeu totalmente con-trolada pela direita. A Comissão é tão à direita que alguns comissários centris-tas, em privado, pediam a alguns de nós, socialistas, que chamássemos à pedra colegas seus indicados por governos di-tos de esquerda. A esquerda só se fazia ouvir no Parla-mento. Valeu-nos o facto de o PPE não

dispor de maioria absoluta, o que implica um esforço negocial que impediu solu-ções hegemónicas de forte cariz conser-vador. Foi assim que se conseguiu reduzir as malformações congénitas de algumas propostas legislativas da Comissão e do Conselho, como as relativas ao Six Pack e ao Two Pack, bem como toda a inicial-mente punitiva legislação do Semestre Europeu. Claro que se trata de legislação geneticamente conservadora e castiga-dora dos supostos desvarios financeiros dos povos do Sul. Mas a poda e a empa que se lhes conseguiu aplicar mudaram--nas consideravelmente.O expoente máximo deste conservado-rismo de retórica balbuciante e aparen-temente tímida é o Sr. Olli Rehn. Com o tom monocórdico de sempre, profere as declarações mais espantosas, eivadas de gélida superioridade nortista. Du-rante meses pensava-se que o Sr. Rehn era um imenso talento, um economista sólido, um financista frio, silencioso, mas exemplar. O tempo e o sofrimento de Gregos, Irlandeses e Portugueses tem-se encarregado de o reduzir a uma

incompetência mediana. As medidas que propõe e as previsões que antecipa falharam rotundamente e fazem alas-trar a crise aos países ditos de econo-mia sólida, como o seu país de origem, a Finlândia, os Países Baixos e a própria Alemanha. Se não estivéssemos a três meses de eleições na Alemanha e a me-nos de um ano das Europeias, das quais surgirá novo Parlamento, um Presiden-te de Comissão e uma Comissão nova ou renovada, ainda iríamos assistir ao de-clínio e queda dos Olli Rehn deste mun-do, por mera eugenia. Perguntar-se-á, então, por que razão os ministros de países sob intervenção tan-tas vezes aparecem sorrindo fotografa-dos ao pé dos países interventores. Sim-ples atração da vítima pelo algoz, uma história de séculos. Deixemos as inter-pretações psicanalíticas.Pois bem. O nosso Partido Socialista Europeu parece agora ter espaço de ma-nobra e demonstra não estar a dormir. A reunião de coordenadores nacionais, realizada em Sófia, no fim de junho e a conferência sobre a Economia Progres-

sista, levada a cabo pelo PS, pela De-legação Parlamentar Socialista Portu-guesa e pelo PSE, em Lisboa, no início de julho, foram dois exemplos práticos de que alguma coisa está a criar corpo. Da mesma forma, o livro assinado por Han-nes Swoboda e David Gow com o suges-tivo título “Basta”, retirado da interjei-ção com que Elisa Ferreira interpelou o Comissário Rehn, numa célebre audição parlamentar, aponta para uma rejeição da ideologia castradora da atual direita europeia, substituindo-a por propostas de progresso e solidariedade.Durante os meses que se aproximam iremos ter inúmeras ocasiões para tes-tar as propostas socialistas de resposta à crise. Eleições na Alemanha, um go-verno decente na Itália, reformas socia-listas em França e quem sabe, uma nova alternativa de Governo em Portugal po-dem veicular ideias novas, progressis-tas, libertadoras do jugo da especulação financeira. Regressaremos aos valores europeus da solidariedade e da proteção social, da cultura universal e do perma-nente progresso científico e inovação.

Paulo Portas – diplomacia de caixeiro viajante

Ana Gomes A passagem de Pau-lo Portas pelo MNE fica irrevogavelmente marcada por um epi-

sódio de diplomacia rasteira, a desme-recer do zelo caixeiro-viajante que o le-vou, em dois anos, aos quatros cantos do planeta: bastou um sussurro americano sobre a suspeita da presença de Edward Snowden no avião do Presidente Evo Mo-rales, da Bolivia, para que o Governo por-tuguês, por decisão do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, revogasse autorização de passagem por espaço aé-reo e de paragem em território nacional. A decisão violou o direito internacional e regras básicas de cooperação entre Estados que mantêm relações diplomá-ticas, como Portugal e a Bolívia. E ofen-deu o Estado e a sensibilidade do povo boliviano, comprometendo a imagem e os interesses do nosso país em toda a América Latina: constitui assim um sério revés relativamente aos esforços de diplomacia económica que o próprio Paulo Portas procurou desenvolver como MNE. E que impressão faz ver a bandeira nacional queimada nas ruas de La Paz: infame condecoração leva Pau-lo Portas do seu consulado no Largo do Rilvas...Resta-lhe o fraco consolo de não ter agi-do desacompanhado de outras diploma-cias europeias: o que mostra como anda mesmo pelas ruas da amargura a política no Velho Continente, com governos (in-cluindo o socialista francês...) disponí-veis para se vergar ao mais displicente

assobio dos parceiros norte-americanos, inclusivamente violando o direito inter-nacional. Para mais, sem nada acrescen-tarem à capacidade de defender os seus interesses – e o interesse europeu – junto dos aliados transatlânticos: rapidamente a Casa Branca se descomprometeu das atitudes tomadas por Lisboa, Paris, Ma-drid e Viena, dizendo nada ter pedido aos europeus, reconhecendo apenas contac-tos no sentido de desencorajar a conces-são de asilo a Edward Snowden.Não se dando ao respeito, como podem os Governos europeus esperar ser res-peitados? Ainda pairava no ar a fumaça gerada pela revelação de que os EUA espiavam cidadãos e embaixadas da UE e dos Estados Membros em Washington e nas Nações Unidas, e já governos euro-peus, como o de Passos Coelho e Portas, se precipitavam no indigno afã de servir o império, cooperando para obstruir a fuga de Snowden – precisamente o “whistle-blower” que revelou a espionagem em larga escala de cidadãos e governos eu-ropeus por parte agências de segurança americanas. Um individuo que em vez de ser encurralado, devia ver considerado por governos europeus os pedidos de asi-lo político.Não foram as autoridades europeias tão diligentes a responder aos pedidos do Parlamento Europeu para que ins-pecionassem a carga aérea de aviões suspeitos de estarem a ser utilizados pela CIA e outras agências americanas para transportar ilegalmente supostos terroristas para Guantánamo e para as prisões secretas (que viriam a ser ad-mitidas pelo Presidente W. Bush), em

voos que atravessaram o espaço aéreo, tocaram o chão e pernoitaram em diver-sos Estados-Membros da União Europeia, incluindo Portugal. Paulo Portas tam-bém estava no Governo, com a pasta da Defesa, quando se iniciou a operação das centenas daqueles voos autorizados a passar em Portugal, sem qualquer con-trolo ou inspeção. Duplicidade de critérios, falta de princí-pios, incoerência, violações grosseiras da lei caracterizam uma diplomacia de meia-tijela, uma anti-diplomacia que subalterniza os interesses nacionais e europeus aos ditames das rivalidades e disfunções internas de uma potência estrangeira, ainda que aliada. Porque boa parte desta azáfama do “big bro-ther” americano tem menos a ver com a defesa dos seus interesses nacionais, do que com a paranoia proliferadora de serviços secretos que o 11 de setem-bro desencadeou: a pretexto de detec-tar e combater a ameaça terrorista, há mais de 50.000 americanos empregues por dezenas de agências, como a CIA e a NSA, a rivalizar entre si espiando milhões de americanos, europeus, ára-bes, chineses, etc...Tanto espiam, com tanta eficiência, que lhes passam pelas barbas dois patifórios como os manos tchetchenos que atacaram a maratona de Boston!A relação transatlântica tem uma im-portância estratégica fundamental para a UE em todas as dimensões. Com plena consciência disso, o Grupo Socialista no Parlamento Europeu pediu a suspensão das negociações para um Tratado de Co-mércio Livre e Investimento entre a UE

e os EUA até que estivesse esclarecido o incidente da espionagem americana a embaixadas e cidadãos europeus. O Parlamento Europeu estabeleceu entre-tanto uma Comissão para proceder ao inquérito – que abrange também servi-ços britânicos e franceses e outros eu-ropeus que se entreguem a semelhan-tes práticas de espionagem e violação da privacidade. E a Comissão Europeia está averiguar a eventual suspensão de acordos com os EUA, como os referen-tes às transferências de dados sobre transações financeiras para combater o terrorismo e as negociações sobre pro-teção de dados. Tudo isto pinta um quadro esquizofrénico da forma como Europa e EUA se relacio-nam. E o pior é que é precisamente em matéria de segurança, defesa e combate ao terrorismo que a relação transatlân-tica tem de estar assente na confiança e na cooperação leal e responsável, com direitos e deveres de parte a parte. Da lista de deveres não pode fazer parte que os europeus façam trabalho sujo para Washington, violando a lei e os direitos fundamentais dos cidadãos.Lei e direitos que pouco importam a Paulo Portas, bem sabemos. Que não tem sequer a sabedoria reparadora dos seus homólogos espanhol e francês para apresentar desculpas à Bolívia. E que persiste em justificar a decisão com es-farrapadas “razões técnicas”, enquanto admite não querer “importar” problemas: “Snowden não é problema do Estado por-tuguês”, disse Paulo Portas na AR. Mas a ofensa à Bolívia e à América Latina é. E Paulo Portas também é.

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FICHATÉCNICA

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AtuAlidAdENº 92 | JUlHO 2013 | 4

A exceção francesaVital Moreira 1. A França conseguiu impor, isoladamente, a exclusão dos serviços audiovisuais (música,

cinema, televisão, etc.) do âmbito das ne-gociações para um acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos. À míngua de informação, muitos celebraram esse veto francês como o triunfo da “ex-ceção cultural” europeia. Engano, porém: a salvaguarda da diversidade cultural eu-ropeia não precisava nada de tal exclusão. Essa exclusão é antes sintoma de uma mais vasta “exceção francesa” no seio da União Europeia.

2. Sejamos claros. A exclusão dos serviços audiovisuais do âmbito do tratado comer-cial com os Estados Unidos era perfeita-mente desnecessária para defender a di-versidade cultural europeia, devidamente protegida pelos Tratados da União e pela legislação europeia.

Os Tratados são explícitos quando estabele-cem que os tratados comerciais não podem pôr em causa a legislação nem as políticas internas da União, incluindo portanto a pro-teção dos serviços audiovisuais e da diver-sidade cultural nacional europeia. Mesmo sem nenhuma exclusão à partida, o tratado comercial nunca poderia pôr em causa a Diretiva sobre os serviços audiovisuais, que

assegura os subsídios públicos à produção cultural nacional e as quotas de difusão e transmissão de produtos nacionais nas es-tações de rádio e de televisão nacionais, que existem em muitos países europeus, entre os quais a França e Portugal.

Partindo do princípio de que ninguém pode pretender proibir ou restringir a importa-ção de música ou de filmes americanos, ou limitar a liberdade de escolha individual na seleção dos “vídeos on demand” ou nos “downloads” da Internet, a margem de ne-gociação comercial nessa área era sempre muito reduzida, num sentido ou noutro. Se a “discriminação positiva” europeia existen-te estava sempre fora de causa, igualmen-te o está qualquer “discriminação negativa” contra a importação de serviços audiovi-suais dos Estados Unidos.

Por conseguinte, sendo essencialmente desnecessária, a exclusão francesa só tem por efeito irritar a parte norte-americana e suscitar a sua retaliação comercial, atra-vés da exclusão de algum tema que seja do interesse especial da União Europeia (e em particular da França...). Ou seja, o único resultado da chamada exceção cultural é o enfraquecimento da posição negocial da União face aos Estados Unidos. Não há ne-nhuma razão para estarmos agradecidos à França.

3. Porquê então o capricho francês na imposi-ção unilateral e isolada dessa exclusão?

Há duas razões para a exceção france-sa: uma razão “cultural” e uma razão económica.

Por um lado, a França continua a convi-ver mal com a globalização e com a libe-ralização das trocas comerciais, sendo um país onde predominam ainda as ideias “soberanistas”e protecionistas que consi-deram a globalização um flagelo que é pre-ciso contrariar. A “globalização neoliberal” é um espantalho com um surpreendente sucesso nas hostes da esquerda france-sa (e não somente da esquerda radical), sem se precisar que se a globalização é inevitável, como é efetivamente, a tarefa da esquerda responsável consiste em do-mesticar e regular a globalização selva-gem. É para isso que servem os tratados comerciais.

Por outro lado, a França também convive mal com a liberalização das trocas comer-ciais com os Estados Unidos (mas não só) por temer ser lesada na competição acres-cida que o mercado transatlântico terá para a economia francesa, claramente confron-tada com a perda de dinamismo e de com-petitividade, como mostra o agravamento contínuo do défice da balança comercial. Se a isso acrescentarmos a estagnação econó-mica e dificuldades orçamentais, sem es-quecer o sobrepeso do Estado e da despesa pública na economia, a França está coloca-da perante desafios para os quais está mal

apetrechada. Não é por acaso que, de acordo com alguns estudos, a França não se conta entre os países que mais beneficia da cria-ção de um mercado transatlântico com os Estados Unidos.

Ora, como sabemos, quando os governos enfrentam dificuldades internas compli-cadas, nada melhor do que inventar um “inimigo externo” que congregue as hostes nacionais.

4. A “exceção francesa” esconde mal um preocupante desenvolvimento dentro da União Europeia, entre o assertivo dinamis-mo alemão e a perda de velocidade france-sa, que salta aos olhos nos últimos anos.

Ora, toda a construção europeia se baseou no “tandem” entre a França e a Alemanha, que só é sustentável com manutenção de um relativo equilíbrio de poder económico e estratégico entre Paris e Berlim. O apro-fundamento de um fosso no desempenho económico entre os dois países – basta re-ferir o caso da indústria automóvel! – corre o risco de alimentar a criação de uma hege-monia alemã na União, que pode criar gra-ves dificuldades políticas à União Europeia.

A União precisa de uma França compe-titiva, dinâmica, capaz de se bater com a Alemanha no campo económico e no co-mércio internacional e sem necessidade de se entrincheirar na defesa de uma suposta “exceção cultural francesa”, que aliás não está em causa.

O contributo das cooperativas para ultrapassar a crise

luís Paulo Alves O Dia Internacional das Cooperativas come-morou-se a 5 de julho.

A este simbolismo associou-se a aprovação pelo Parlamento Europeu (PE) de um relató-rio sobre o contributo das cooperativas para a ultrapassagem da crise. Para se perceber a sua importância e dimensão na Europa, exis-tem 160 000 empresas cooperativas detidas por 123 milhões de membros, que empregam 5,4 milhões de pessoas (muitas deficientes ou desfavorecidas, em cooperativas sociais) e contribuem, em média, para cerca de 5 % do PIB dos Estados-Membros. Este papel fundamental das cooperativas e outras empresas da economia social em Portugal e na economia europeia levou-me a defender no hemiciclo em Estrasburgo que a sua expansão seria benéfica, podendo dar um contributo importante na ultrapassagem das dificuldades que estamos a atravessar. Per-mito-me defender esta ideia com a convicção de quem, fruto da experiência profissional, pode testemunhar, as virtudes do seu modelo funcional. Saliento sobretudo a adequação e o potencial que o modelo cooperativo demons-tra para gerar respostas sustentáveis que muito precisamos nos domínios económicos,

sociais e ambientais, tão duramente atingidos. A abordagem cooperativa é hoje uma eficaz forma de fazer negócios, que funciona, quer numa pequena, quer numa grande escala, co-brindo um largo espectro de atividades, sendo capaz de criar valor, para os seus membros, para os consumidores e para a sociedade.Por isso, entendo que foi bastante feliz a opção de colocar na agenda europeia este assunto, especialmente dada a extraordiná-ria capacidade de desempenho que a maior parte do setor cooperativo demonstra, neste tempo de crise que atravessamos. As coo-perativas têm sido mais resilientes, tanto em termos de taxas de emprego, como de encerramento de empresas. De facto, são inúmeros os exemplos de boas práticas que são possíveis de encontrar, nos diferentes Estados-Membros que permitiram que as empresas cooperativas obtivessem excelen-tes resultados em termos de crescimento, emprego, taxas de sobrevivência e criação de empresas. Destaco sobretudo que essa maior resistên-cia demonstrada pelas empresas cooperati-vas, inclusivamente pelas financeiras, resulta do seu modelo de empresas de pessoas, que colocam em primeiro lugar os interesses de todos dos seus membros (otimizando os resultados para todos, sem procurar maxi-mizar os benefícios só de alguns), fazendo

da sua participação (com influência real na empresa) e da sua segurança a médio e longo prazo, princípios inalienáveis. É um modelo claramente oposto aos que se concentram na busca de lucros elevados a curto prazo para servir os interesses de uns poucos que nos conduziram a esta crise. As cooperativas não se deslocalizam. A sua força e a sua impor-tância derivam do seu forte enraizamento lo-cal, do nível de respostas de proximidade que conseguem, adaptadas ao meio onde estão inseridas e que constituem a sua verdadeira razão de ser, bem como o motivo principal do seu sucesso.Deve por isso prestar-se a devida atenção às cooperativas na definição de todas as políti-cas relevantes da União Europeia (UE), des-tinadas a contribuir para um crescimento in-teligente, sustentável e inclusivo, como impõe a Estratégia 2020 da UE. Neste sentido é im-portante garantirmos quadros legais que per-mitam o seu crescimento, adequando sempre o quadro normativo da União, tendo em conta o seu papel e o seu elevado potencial. Desde logo, por exemplo, criando um quadro faci-litador da possibilidade de transformar em cooperativas as empresas em reestrutura-ção nos setores da indústria e dos serviços, em crise. A verdade é que a transmissão de uma empresa para os trabalhadores através da criação de uma cooperativa, pode ser a

melhor forma de garantir a sua continuidade. Neste sentido, é importante que a Comissão identifique instrumentos financeiros ou am-plie os existentes para incentivar esta prática, em particular incidindo sobre as PMEs.A Comissão Europeia assumiu a tarefa de criar um Grupo de Trabalho sobre cooperati-vas, organizado pelo Vice-Presidente António Tajani, cujo trabalho começou a 10 de julho. Pretende-se que o grupo reúna um conjunto de soluções inovadoras para os problemas mais urgentes que as cooperativas enfren-tam, que poderão ser apoiados por ações con-cretas da União Europeia.O objetivo deste grupo é o de melhorar as ne-cessidades específicas destas organizações, no domínio do seu quadro normativo e de ne-gócios, dos instrumentos financeiros, da pro-moção de o modelo cooperativo entre jovens, da criação de negócios, da internacionaliza-ção, da transferência de negócios no âmbito de empresas em dificuldades, entre outros. Este é um trabalho fundamental no atual contexto recessivo, de desemprego, insolvên-cias e falências, que deve resultar num im-pulso prático e ambicioso, para que o modelo cooperativo sirva os que procuram emprego e todos que tentam garantir a continuidade das suas empresas, para que encontrem nele uma valiosa forma de se organizarem e de fi-nanciarem a sua atividade.