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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Jornal Laboratório doCurso de ComunicaçãoSocial da L'niversidade
Federal de Santa Catarina.
Textos: Analú Zidko. Ar
le v Reis Machado. CarlaCabral. Carlos Alberto Lo
carelli. Dauro Veras. Denyris Laurinda Rodrigues. I1-ka Gols Schmidt. JoachimSchmitz. Karim Véras. Kar
Ia Bastos. Luciene Guimarães Abdo. Mara $chuster.Maria Alaivi Macarini. Maria Cristina Yo s h i z a t o ,
Marques Edilberth Casara.Milene Co r r e a , Rozana
Maria De Moliner , Roselide Souza. Rute Enriconi,Sabrina Franzoni e SôniaBridi.
Diagramação: Analú Zidko , Arley Reis Machado.Denyris Laurindo Rodri
gues. Ilka Goldschimidt ,
Joachim Schrn itz . Karl a
Bastos. Mara Schuster. Rosana Maria De Mo line r ,
Rute Enriconi e SabrinaFranzoni.
Fotografia: Analú Zid ko ,
Carla Cabral. Joachim Schmitz , Karin Véras, MariaAlauci Macar ini , MariaCristina Yoshizato , Mar
ques Edilbert Casara. Luiz
Philippe de Arruda. Roselide Souza. Sabrina Fransonie Simone Dias.
Laboratório Fotográfico:Carla Cabral. Luiz Philippede Arruda. Rozana MariaDe Moliner e Joachim Schmitz.
Ilustrações: Frank e Franklim Cascaes
Edição, Coordenação e Suo
pervisão: Henrique Finco e
Ricardo Barreto
Pesquisa de textos e rotos:
Disciplina de "FotografiaComparada". Professor
Henrique Finco
Telefone (0482) 33-9215
Telex: (0482) 240 BR
Correspondência: CaixaPostal 472. Departamentode Comunicação e Expressão. Curso de Jornalismo.
Florianópolis. Se.
Composição, Revisão, Aca
bamento e Impressão: Em
presa Editora 6 Estado.
Distribuição Gratuita.
Circulação Dirigida
DIÁRIO DE BORDO
Não tem?!Zero Documento é uma tentativa
de resgatar a memória de Florianó
polis dos últimos 50 anos, o que nãofoi plenamene conseguido. Isto acon
teceu nem tanto pelas limitações de
tempo e recursos, próprias de um
. curso de comunicação, como princi-palmente pela desorganização e pulverização dos arquivospúblicos eprivsdos, além da dificuldade de acesso
aos poucos existentes.
Alguns arquivos foram encontrados em depósitos abandonados; de •
outros conseguimos apenas saber quehaviam desaparecido. Contudo, em
bora muitas estejam abandonadas ou
irremediavelmente perdidas, aindaexistem boas fontes de pesquisa, das
quais algumas foram utilizadas pornós.
Algumas dessas fontes são as próprias pessoas que vivencisrem este
período, no qual Florianópolis sofreuas maiores transformações desde seu
nascimento. A memória humana tende a privilegiar momentos que te-
nham um grande grau de afetividadepor quem os vivenciou e, assim, a
"realidade" nunca é a mesma paradiferentes protagonistas de um mes
mo acontecimento. Por exemplo: em
alguns relatos, as pessoas afirmavam
que não havia o costume de ir à praia,como se faz hoje. Outras, recordamcom saudade de antigos balneários,como as praias de Coqueiros. Muitasdestas contradições, sabemos disto,podem ser creditadas a diferenças declasse social: para quem trabalhavana pesca e na roça - é bastante provável - a praia representava um es
paço de trabalho e não de lazer. O
que acontece ainda hoje.O tom dos textos elâborados por
nós muitas vezes é saudosista, como
foram ssudosistes muitos dos relatos
que colhemos. Temos consciência de
que no passado também existiam a
intolerância, a superstição, conflitos,doenças, etc. Mais ou menos como
hoje.Este aparente saudosismo talvez
Platonicamentemícios, greves, utilizam
aquele palco. Nas ruelas al
guns sobrados resistem,outros deram lugar ao progresso vertical.
Águas calmas, morros
verdejantes, dunas douradas tocam o coração doMorro da Lagoa. O esgototoca o estômago lá em baixo. Os rostos calejados de
sol, os barcos soltando a
tinta. A pesca não fez os
homens ricos. O turismo,alguns.
não signifique apenas uma idealização do passado. Provavelmente ele
representa a recusa da necessidadede existir a miséria, a violência e a
feiúra que estão entre nós e, de certa
forma, também em nós. Na verdade,vale a pena buscar o paraíso e ele
pode ser encontrado exatamente aquionde vivemos, ou em qualquer outra
parte do mundo. Muitos afirmam quepara isto basta deixar de existir a ex�ploração do homem pelo homem. Ebastante provável que seja assim.
Carlos A. Locatelli
A ilha da fantasia. É isso
que todos vêm buscar aqui.Andar sobre o mar, pelaponte, vista só em postaise na televisão. Experimentar a decepção. Por ela jánão se passa mais. O esqueleto negro, que se impõeentre dois pedaços de ter
ra, com um mar nem Sem
pre azul molhando suas
pernas, não suporta maiso peso dos anos e dos auto
móveis.
Como as famílias em
purradas para os morros,o mar foi forçado a ser reti
rar, levando junto o Mira
mar, o cais do Mercado.Saíram os barcos, vieramos ônibus. Com eles a fic
ção arquitetônica da rodoviária.
Mas a velha figueira estálá - ainda bem. Pelo me
nos as moças têm esperanças de casar - dando trêsvoltas - e os aposentados,camelôs, prostitutas e va
gabundos sem teto. Os galhos cresceram, quase to
cando as escadas da Cate
dral, que já não é o prédiomais alto, nem lugar de la
mentações. Diretas já, co-
E muita gente parada na
Felipe. Essa não é a terrada pressa. Ainda mais queum curió está dobrando e
deu cobra no primeiro prêmio da Federal.
Dha da fantasiaMar, rendeira, tradiçãoPaz, natureza, corrupçãoA ilha do tudo já teve ... ainda tem ...
...porém transformados:Artesão virou artesanato industrial,a renda um barato individualTuristas são a fonte de renda, darenda, ou sei láMares poluídos são ofertados a IemanjáFortes construídos não serviram para a defesa,mas hoje são ruínas de rara belezaEscritores e artistas ora apadrinhadoshoje são senhores e soldadosPermanece o "senadinho", a Câmara e o "morro"Permanecem as contradições queacentuam o nome do povo:"Prioridade aos pequenos", en
quanto os grandes desfazem a rede:pois peixe artesanal, já não tem no
PantanalA ilha outrora esquecida,hoje é notícia de jornal:Patinha, AIDS e muito "rolo" policialAqui não se conta mentira,o colóquio é a própria fantasiaVivemos numa ilhaQuem pode fugir do mar?Ele vai, ele vem
tem histórias pra contar...
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
o SÍMBOLO QUE UNEFOTOS: ARQUIVO/ZERO
ão etn 1922. d construç
Iníc\O a
Hercílio Luz,nossamusaaosõê anos
outubro de 1924, 12 dias
após ter inaugurado simbolicamente uma réplica de 18metros, em madeira, da
ponte que depois levaria seu
nome, o governador mor
reu.
Era vontade de HercílioLuz que a ponte, com inau
guração prevista para 7 desetembro de 192�, fossechamada Ponte da Independência. Mas o CongressoRepresentativo do Estadoaprovou a mudança do no
me para Hercílio Luz, como
forma de homenagear seu
idealizador, até então aindavivo.
Mesmo com a morte do
governador, os trabalh?s de
construção não foram inter
rompidos. A �ontagem 1astorres foi terminada em finsde 1924 e a estrutura do vãocentral pronta em agosto de1925. Em janeiro de 1936 o
assoalho já estava colocado,mas a inauguração da pontefoi retardada para 13 demaio, por não se acharem
prontas as ruas de acesso
que o governo estava cons
truindo tanto do lado dailha co�o do continente.
DIA DE FESTAFazia frio, ventava e cho
via no dia em que a HercílioLuz foi inaugurada. Mas,apesar do mau tempo, 50
do Estado para Lages. Todas essas dificuldades evidenciavam a necessidade decriação de uma ligação mais
rápida e menos difícil com
o continente.
O INÍCIOPara dar início à obra,
Hercílio Luz conseguiu doisempréstimos de cinco m�lhões de dólares de banqueiros americanos, dívida estasaldada apenas em 1979.Como o empréstimo demorou, o início da construçãomarcado para meados de1919 foi atrasado para no
vembro de 22, comprometendo-se a construtora Bygton & Sundstron a entregara obra em 24 meses.
Nas fundações da ponteforam feitos 11.250 metroscúbicos de concreto e em
pregadas 29 mil barricas decimento, sendo que dentroda água foi utilizado um �i�oespecial de aço para resistirà ação corrosiva da água salgada. Todo o serviço de fun
dações, inclusive pilastrasde ancoragem e pedestaisestava terminado a 20 de junho de 1924.
MORRE HERCÍLIO LUZTanto empenho para ver
construída a ponte, não sus
tentou Hercílio Luz até a
sua inauguração. Em 20 de
Textos: Roseli de Souza
A L:2 de janeiro de 1982a ponte Hercílio Luz, cartão
postal de Florianópolis, era
fechada por questões de se
gurança e para trabalho de
conservação. Hoje, após 5anos, o governo anuncia sua
reabertura, nos próximos 40dias, para pedestres, carro
ças e motocicletas. AI�unstécnicos e populares aindadesconfiam da fortaleza deseus pilares e temem seu
tombamento. No entanto,mais do que o peso de sua
estrutura suas vigas carre
gam 60 anos de his�ória.História essa que precisa ser
resgatada. Sempre.'.
A Hercílio Luz fOI mau
gurada no dia 13 de maiode 1926, mas sua história co
meça muito antes, n�m.aépoca em que par!l se atingira capital era preCISO enfr��tar o mar, nem sempre dOCIIe calmo. O hiato existenteentre o continente e a ilha
prejudicava seu co�ércio �expansão. Os 40 mil habitantes viviam dependentesdo horário de oito lanchas
que funcionavam �a� qua.troda madrugada ate a noite,transportando tudo. Devidoa essa dependência pensouse até em transferir a capital
Vista' do continente de onde partiam as
barcas que muitos custaram a abandonar
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
o SÍMBOLO QUE UNE
Elo de Ligação e musa, durante anos
mil pessoas estavam presen- Hercílio Luz, algumas delas
tes, numa das maiores festas envoltas num mar de misté
já vividas pela capital. rio e humor. Um desses ca-
A cobrança do pedágio, sos fala a respeito de uma
prática dispensada no dia da procissão, a primeira queinauguração, variava de atravessava a ponte. De re
acordo com as categorias ta- pente o balanço era tanto,beladas. Pedestres pagavam que assustados, os fiéis deium tostão, carrinho de mão xaram a santa no meio daou bicicleta 500 réis, cami- ponte. Os suicídios tambémnhão 3 mil réis e automóveis foram tantos, que hoje nem
20 tostões. O pedágio foi co- se sabe o número. Históriasbrado até o governo de Ne- de acidentes também nãoreu Ramos, tendo maior ar- faltam. Contam os mais an
recadação em 1930, durante tigos, que na década de 40,uma passeata integralista. O num dia chuvoso e de fortefacismo hein? ventania, um jipe desgover-
Entre os anos de 1967 e nou-se despencou numa
1969 a ponte Hercílio Luz prainha (hoje aterrada). Oteve seu piso de madeira corpo de um dos passageirossubstituído por asfalto. No ficou caído sobre a buzina,tempo da ponte com piso de que tocou durante muitosmadeira era comum aconte- minutos despertando a
cerem incidentes. Não raro atenção de todos.uma das tábuas levantava, UNICA NO MUNDOfurando pneus e atravan- Pela forma e materiaiscando o trânsito. Quando utilizados na sua constru
ônibus ou carros estraga- ção, a ponte Hercílio Luzvam em cima dela era pre- pode ser considerada a úniciso caminhar, vendo nas ca no mundo. De acordo'frestas do madeirame o com o projeto de Robinson
mar, às vezes encrespado e e Steinmann a ponte, de 818
ameaçador., metros de comprimento e
VELHAS HISTORIAS 340 metros de vão pênsil,Muitas são as histórias re- pode suportar com seguran
lacionadas com a ponte ça uma carga conjunta equi-
valente a um trem puxandovagões de trinta toneladas,quatro pedestres por metro
quadrado e um encanamen
to de água com peso máxi- .
mo de 650 quilos por metrocorrente.
A princípio ela foi cons
truída para ser usada durante 30 anos, mas já dura 60.Mas é preciso lembrar, queé necessário um trabalho deconservação constante, uma
vez que ela está situada num
local muito úmido, sujeitoa corrosão de seus metais.No entanto, a preocupaçãocom a segurança da pontevem desde o momento desua criação e intensificou-sea partir do governo Ivo Silveira, época em que trêsdas cinco pontes similares a
ela caíram. Atualmente
apenas a Hercílio Luz e a
St. Mary Bridge, em West
Virginia - EUA, ainda nãocaíram. Mas na ponte ame
ricana, o tráfego está proibido desde 68, quando a similar sobre o rio Ohio caiu.Foi nessa época que o governo do Estado iniciou os
contatos para a construçãoda Colombo Salles, inaugurada em 75.
Poucas verbas comprometem.a restauração da ponte
Desde sua inauguração a
ponte Hercílio Luz é alvo deum trabalho de conservaçãosistemático. Na década de 80,
•
a corrosão já se tornara um
seríssimo problema, o quedeterminou uma inspeçãomais aprofundada. O órgãoescolhido para a inspeção foio Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo que,diante dos diversos problemas constatados, recomen
dou em seu laudo final "a re
cuperação e interdição da
ponte devido ao perigo iminente de colapso por pesopróprio". Obedecendo as
orientações, a Hercílio Luz éinterditada no dia 22 de janeiro de 1982, absorvendo nessa
época 43,8% do tráfego diário, ou seja, 27 mil veículos/dia.
A escolha da empresa paraelaboração do projeto finalde recuperação da ponte re
caiu sobre a USIMEC, com
assessoramento da firmaamericana Steinmann, Boygton, Gronquist & Birdsall,sucessora do EngenheiroSteinmann, autor do projetoda Hercílio Luz. Durante a
inspeção americana ficouconstatado o rompimento dabarra do olhal, o que representava um perigo bastante
grave. Imediatamente foi elaborado um projeto para re-
forço do elo .devolvendo a se
gurança e diminuindo a tensão nas barras de sustenta
ção.
Segundo José Mauro Pe
reimo, fiscal de obras da ponte, os serviços prosseguiramnormalmente até abril de 83,quando o projeto previa a re
cuperação do vão pênsil. Masa falta de recursos, devido àsenchentes daquele ano, provocou a parafisação dos tra
balhos. Situação essa queperdura até hoje. O fiscal es
clarece ainda que "todos os
serviços realizados na pontenestes cinco anos, estão relacionados apenas com a sua
conservação. O projeto derestauração foi inviabilizadodevido à falta de recursos.
Uma restauração exigiria 13milhões de dólares".
Esse trabalho de conserva
ção realizado por 17 homensdo DER, consiste em três
operações conjugadas: jateamenta (jatos de areia que re
tiram a corrosão), pintura e
substituição de peças e elementos danificados. Atualmente o DER realiza trabalhos de troca de madeirameda passarela e recuperação doasfalto, dando os últimos re
toques", para a reabertura davelha Hercílio para pedestres, motos e carroças.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
"A mesma praça, o
mesmo banco, as mesmas
flores, o mesmo jardim.Tudo é igual?" Praça XVde Novembro. Jardim Oliveira Belo. Palco ondepersonagens vivos se apresent�vam, em espaços determinados. Cada um sa
bia seu lugar. Entre os co
l6quios, contava-se os ca
sos e é!C�sos, raros da pacata cidade. A elite cabia o
centro .da praça, rígidamente policiada. Aosbrancos de classe baixa e
aos negros restava a calçada em tomo. Mas nem s6por altos funcionários e
sua parentela era visitada'
a frondosa figueira. Também os comerciários, os
'serventes das repartições,a classe 'de choferes; os fo-tógrafos, as empregadasdomésticas, os negros estiveiros .. " e os marinheiros: "Num indo e vindo infinitos"
E pensar que até '1911muitos namorados tiveram que pular o muro. Oumelhor, pular as gradesque haviam em tomo dapraça, fechada às 21 horas. E não era por falta deaviso. Uma sineta tocava
quando iam ser fechadosos quatro portões. Comonão em por falta de avisoque as moças de família,também ap6s esta data,mantinham a virgindadepara casar na igrejã. Poissaudosos namoros iniciaram na-salda do cinema ou
da missa, rumo ao footingda época. La estão os bancosdá praça que não deixam ,os padres mentir.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Então, os garotos de ternoe gravata esperavam as garotas passarem. E elas vinham, com seus melhoresvestidos e chapéus, flertar
aqueles que já faziam parte do seu círculo social.Pois todas as 'boas famílias' se conheciam e se davam bem. Itinerário desorrisos, acenos e insinua
ções que durava aproximadamente até às 22 horas.
No mesmo horário, ao
redor da praça, as empregadas das 'boas famílias'também vinham fazer seu
lazer. Dos morros desciamos negros que se juntavamaos brancos e brancas declasse baixa, além dos ma
rinheiros residentes ou
vindos do além-mar. Seuitinerário exigia maior an-
. dança pois era feito na
parte externa do jardim.Quando cansavam de an
dar, se sentavam nos bancos vagos da praça. Tinham vergonha de se mis-
-
O CORAÇAO DA CIDADE
Fotógrafos lambe-lambe, década de 30
turar à elite?Continuidadade
- "Mas a praça era
uma grande família", afirmam os mais antigos. De
fato, os moços eram maiseducados, as moças maiscaseiras e os idosos mais
respeitados. Também a
igreja era mais freqüentada. Não havia tanto rou
bo, tanto assalto: A vidaera tranqüila. Contudo, a
família que existia na praça, na vida, não existia: Asmulheres mais ricas poderiam ser professoras. Asmais pobres varredoras.
Os brancos pobres, alfaiates. Os negros, talvez, en
graxates. Os marinheiros
poderiam exibir seus tra
jes.E pensar que dos anos
40 a 60 o 'footing' continuou quase o mesmo. Osmeninos, sem apresentarcansaço, continuaram es
perando as meninas ao
longo do Palácio e no cen-
t'OTO: PEDRO DOS SANTOS
tro da praça. Aquela queabriga bustos do poetamaior (Cruz e Sousa), do
pintor maior (Victor Meirelles), de Arthur Boiteuxe Jerônimo Coelho. Nãoé de se estranhar que tam
bém nela esteja o monu
mento lembrando a guerraque liquidou nossos hermanos paraguaios: "Amesma praça". Da mesma
maneira, as meninas con- Hoje, como ontem
tinuaram desfilando, indoaté a atual Lojas Arapuã(antes Confeitaria do Chi
quinho) e voltando em se
guida. Na disputa das
atenções, quem, levavavantagem sobre as estudantes do Coração de Jesus eram os estudantes doCatarinense. Coisas quesó a Figueira sabe explicar. Naquela época, a parte superior da praça -
próximo ao monumentodos nossos hermanos -
começou a ser invadidapela 'malandragem' dasclasses mais baixas. As novas figuras
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
SENADINHO DO POVO
Café acompanhado de história
_D_:'_:_:_:I_dscs_:_m�_d_�_',_:_:_:E_ã'_�_:'_',_jrn-11 ti��!�s�o����r��:Cu��1�i�ti�.� I lferente, tipo assim ... uma
personalidade exótico-familiar. Quem ali chega, tem a
desculpa do cafezinho parafazer amizades e colocar os
papos em dia. Seus freqüentadores pertencem a todas as
classes, desde o funcionário
público até o advogado, queali vão diariamente, transformando assim, o bar num am
biente de família que é a tra
dição e marca da casa.\
Situado na esquina da mais
florianopolitana das ruas,.aFelipe Schmidt, o Ponto Chieé a referência tanto para cata
rinenses como para turistas.
Há anos ele tem sido palcode acontecimentos que cons
troem o dia-a-dia da Ilha.Entre um cafezinho e ou
tro, as fofocas giram em torno
de assuntos como mulheres,negócios, família, até a troca
de favores profissionais, mas
o alvo mesmo é a política ofi
cial, quase sempre contestada
pelos freqüentadores.
SENADOO que caracteriza o bar, é
a presença assídua dos "Sena
dores", pessoas comuns quecompõem .o "Senadinho",fundado há mais de dez anos
pelos freqüentadores do Ca
fé, que em meio às conversas
do cotidiano, sentiram a ne
cessidade de se organizar. O
primeiro a perceber isso, foiLázaro Bartolomeu, do Jornal Radar, que ao ver o pessoal diariamente reunido
. Década de 40 ...
após o meio-dia, brincavachamando-os de "senado
res", pois pareciam o próprio"Senado Romano".
O atual presidente do "Senadinho", é Edy Tremei, ad
vogado e membro da Academia Catarinense de Letras.Para receber o diploma de Senador, é preciso passar poralguns critérios estabelecidos
pelo próprio grupo, como a
freqüência ao bar, a representatividade na sociedade, e
o mais importante: é proibidaa entrada de "corruptos", ao
clube. Figueiredo foi o primeiro a receber o diploma.No mesmo dia em que o ex
presidente visitava o PontoChie em novembro de 79,para' receber o diploma, foivaiado por estudantes e populares descontentes com a
atuação de seu governo. Oepisódio repercutiu em todo
país, colaborando para a popularidade do bar.
O Senador n� 2, foi Esperidião Amin, que durante seu
mandato de prefeito de Florianópolis, instalou na esquina do Ponto Chie, bancos demadeira, assim como um desenho no chão, de um mosaico, onde está gravado as iniciais do Corpo Consultivo doSenatus Populusque, Roma
norum, ou ainda Florianopolitano. A sigla SPQF, foi in
terpretada pelo povo florianopolitano, como "SoluçãoPara Qualquer Fofoca".
Várias pessoas procuram o
auxílio do "Senadinho" pararesolver problemas, como o
de internações em hospitais,facilitadas pela influência doscerca de 80 "Senadores". Assim, por meio desse grupo,são prestados serviços de as
sistência à comunidade e promovidas também homenagens a figuras históricas, alémde lançamentos e exposiçõesde livros no próprio calçadãoem frente.
A Maçonaria evidentemente também se faz representar no Senadinho, sendo
� que de vinte a trinta dostl membros são maçons. Como
� sempre ela está presente nos
'" acontecimentos que fazem a00(
� história da nossa sociedade.:l Um exemplo disso, é a crença� de muitos florianopolitanos� de que ela contribuiu decisi... vamente para construção da
ponte Hercílio Luz.
Edy Tremei
TRADIÇÃONos seus 39 anos, o Ponto
Chie, já pertenceu a cinco
proprietários. Esse fato con
tribuiu para sua descaracte
rização, pois nenhum dos donos deu continuidade ao tra
balho desenvolvido 'anteriormente. Walter José da Luz,proprietário do Ponto no período de 1968 a 1983, diplomado também senador, revo
lucionou a antiga "Confeitaria, Café e Bar", transformando-a de simples venda decafezinho em um completosistema de auto-serviço, introduzido em Florianópolispor ele. Na época as mudan
ças executadas causaram impacto na sociedade, já que"mexer no Pont Chie era me
xer em Florianópolis" foi nes
se período que houve a instalação da primeira arquibancada para assistir o Carnavalna cidade. Em frente ao Ponto Chie, é claro.
IRRITADOO bar jasofreu profundas
mudanças em relação a seu
espaço físico. Inicialmente
ocupava uma área de 120 me
tros quadrados e era decorado com espelhos por todaparte. O proprietário Walter,irritado pelo fato de seus
clientes usarem gratuitamente o espelho, arrancou-os dáparede, renovando a decora
ção. Hoje, o espaço do barestá reduzido: a aparêncianão é a mesma, mas permanecem os fregueses.
Pimpão, como é conhecidopelos membros do Senadinho, é freguês antigo. Hámais de dez anos ele vem to
dos os dias cumprir sua rotina. "Aqui trocamos idéias. Euma escola onde se aprende
o de tudo", embora o que mais::
� gostam de fazer sejam críti�as� ao governo. "Metemos muitoo pau no governo, pois não so
� mos seus brinquedos", escla-rece o Pimpão .
O advogado Luis Prado,nos seus dez anos de casa, no
ta que muitas pessoas deixaram de freqüentar diariamente o bar pela falta de dinheiroe tempo. Coisas da tão atualsituação econômica do país.Para Luís, os políticos de an
tigamente. eram melhores,"os de hoje pensam que tem
poderes absolutos".
Segundo outro freqüentador, o delegado Bagé, como
é conhecido, dois tipos de termômetros fazem.parte da his-tória do Ponto Chico Um deles é o barômetro, "quandocerta parte da cidade está nu
blada, é sinal de chuva na cer
ta". O outro, talvez até maiseficiente, é usado pelos políticos que vêm ao bar para me
dir sua popularidade.
O QUE FICOU PARA TRÁSOutra tradição dos fregue
ses do Ponto Chie, era o famoso "Clube do Palitinho",onde quem perdia o jogo pagava uma rodada de cafezinho. Nos jantares realizados
pelos Senadores, a presençade uma das garçonetes do barcom o famoso café Améliaera indispensável.
Muitas pessoas importantes, ao visitarem Florianópolis não deixavam de dar uma
passada pelo Ponto Chico Oex-presidente Costa e Silva
quando da sua vinda à Ilh�,não fugiu à regra. Como dizo velho Pimpão: "O PontoChie é que nem sonrisal, está
sempre borbulhando", e es
tas são palavras de quem en
tende de assunto.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
DESTERRO JÁ ERA
Destino:da pescaao turismoNos últimos-50 anos
ocorreram•
as maiores
mudançasTina Yoshizato e Paula Remísio
Nos últimos 50 anos, Flo
rianópolis sofreu grandestransformações, particularmente no período de 68 a 74,quando os setores que maismudaram foram os relacionados aos transportes, habita
ção e comunicação, segundoinformações do sociólogo daUniversidade Federal de Santa Catarina o professor Nereudo Vale Pereira. Florianópolis perdeu muito de seu provincianismo. Esse período deinquietações transformou o
modelo familiar que era decinco a oito filhos até 68, a
partir daí a média caiu paraum ou dois filhos por casal.
Esta fase é caracterizada
por um processo de seculari
zação, onde a sociedade flo
rianopolitana deixou de utilizar valores espirituais e reli
giosos como seus principaiscondutores para adotar parâmetros materiais e temporais.Este processo tomou maiorênfase a partir de 1962, com
a instalação da UFSC, sendo. que epl1974 houve uma esta
bilização: os reflexos destemomento de modernização,que ainda não cessou, fizeram de Florianópolis uma so
ciedade angustiante, aflitiva e
desorganizada. A cidade passou a ter um caráter mais universal, moderno e a Universidade Federal desempenhouum fundamental papel neste
quadro, devido à grande injeção de recursos' para o pagamento de funcionários, trans
formando ti mercado imobiliário e de .serviços, além deter atraído para a Ilha muitos
Família Amantino dos Santos
profissionais, que vieram desempenhar funções de professor ou pesquisador. O or
çamento da UFSC é quatrovezes maior que o da Prefeitura e este giro tem granderepercussão na estrutura so
cial.A preocupação do governo
com o turismo começa em
1970, quando se organiza a
EMBRATUR. Houve uma
entrada maciça de capital para financiar empreendimentos turíticos (hotelaria,serviços, bares e restauran
tes) e melhorias -das comuni
cações e das rodovias, - a
BR 101 só foi concluída em
1972. O contato com turistas
gerou transformações sociaise econômicas muito sérias nas
sociedade receptivas - no
caso dos florianopolitanos-,além de forçar a, criação deuma nova identidade 'cultural. O local/se adapta para,atender a essa variedade' de :
pessoas,-
passando de comu
nidade agrí-cola - pesqueiraà estância turística e os bens
passam á ter, cada vez mais,valor de troca e não mais va-
Os Tolentino de Souza
lar de uso.
A, tradição florianopolitaaa foi a de prestação de servi
ços desde a sua fundação. Osportugueses preocuparam-seem garantir a sua possessãoao sul do Brasil com as forta
lezas, sendo montado om
aparato significativo de su
porte do poderio português.Depois, Florianópolis administrou o governo brasileirono sul, sendo a capital demaior .importância, até o início do seculo XX (superandoCuritiba e Porto Alegre).Quando nasceu a indústriacorno alternativa econômica
'no Brasil, Florianópolis per:.deu posição, para as outras ca
pitais do. sul. Mas,' depois de70, com a vinda do turismo,a atividade terciária desen-
r'-, .
II! �"
Cequetrns na década de SO,
volveu-se .com a' criação e impostos do Estado: uma ciprestação. de' serviços ea cida- dade de muitas histórias e
de voltou. a ter .creseimento. transformações, que ascendena área econômica. Hoje ela- -agora com toda a força e bele-
,
é �uarta em arrecadação de za ,que só Florianópolis tem.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
MIRAMAR
Soterrado pelo homemo Miramar era o fime a continuação dacidade. O local paraum chá, um encontro.
Em seu lugar, um
terminal de ônibus.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
BEIRA DO MAR RECUOU
Aterro destrói vida portuáriaFotos antigas (início do século e
anos 40) mostram o mercado inseridonuma atividade que foi esquecida:o porto e sua movimentação
Na garradas bruxas
xas tomava conta do mata
gal: "Tu vais ver o que se
faz com o pescador", ros
nou a chefe do bando bruxólico. "Por favor, ai, ai,ai. Sou tão bonzinho", re
petia Mané Belo. A essa
altura já tinha os cabelosarrancados e a face escaldada pela fogueira que iriamatá-lo. Então lembrou-sede que tinha dentes de alhono bolso, enfiando todosna boca. De repente as
bruxas sumiram, e sua primeira reação foi correr o
mais que pôde. Chegandoem casa, viu uma sombra.Parou boquiaberto. Suas
pernas tremiam. Apareceseu filho, que voltava da
pescaria noturna e lhe diz:"O pai, parece que viu bru
xa. Essas coisa não existe,não tem?"
Carla Cabral
Mané Belo, um pescador metido a bom, caminhava pelo mato. A lua,em todo o seu explendor,anunciava uma boa pescaria no dia seguinte. Ele parou para olhar um reflexona bananeira à sua frente
e, talo horror da imagem,saiu correndo. Porém, não
percebeu a perseguiçãobruxólica: duas criaturas se
puseram diante o olhar do
pescador, rodopiando ven
tos. Mané Belo, neste ins
tante, ainda tentou desviarmas atrás dele estava o res
tan te. das bruxas. "Ah ,
bruxinha, não me faça mal.Sou tão bonzinho", gaguejou, enquanto o redemoinho provocado pelas bru-
... DEZ-H7
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
RESISTÊNelA
o modernismodemorou 30 anos
para aportarna literaturade Florianópolis
Provincianismo provocaatraso de trinta anos
Milene Correa
Se o Modernismo já se
apresentava na literatura eu
ropéia no final do séxulo XIX,somente em 1920 ele chega ao
Brasil. E quase 30 anos de
pois, em 1947, a literaturamoderna aporta na Ilha deSanta Catarina.
Caprichos geográficos? Talvez não explíquem este atraso.Mas este não foi, com certeza,o único motivo a acarretar tamanho atraso cultural nas letras do nosso Estado. Mais do
que as dificuldades geográficas ou de comunicação, o
principal obstáculo enfrentado pelos literatos modernistasna sua tentativa de instalar-seem Santa Catarina e, principalmente, na capital, foi o ex
tremo tradicionalismo e elitismo, tanto da classe intelectual
quanto da sociedade floríano
politana como um todo. En
quanto o resto do Brasil avan
çava e aceitava as vanguardasculturais (importadas ou
não), Florianópolis continuou
apegada a tradições que já es
tavam superadas. Tradiçõesque foram defendidas, nas décadas de 20 e 30, pela "geração da Academia" que, como
disse o escritor e professor deliteratura da UFSC, LauroJunkes, eram pessoas que"estavam com a vida garan-
'
tida, com bom cargo público,boas funções". Foram pes-
Sessão inaugural do Teatro Álvaro de Carvalhosoas como essas que funda
ram, em 1920, a AcademiaCatarinense de Letras. Escritores que viviam do jornalismo e dos cargos públicos,sempre ligados ao poder e
nunca às inovações.
Em 1947, finalmente, o Modernismo chega até a nossa li
teratura, através da criaçãodo Grupo Sul, que tencionava
reagir contra o conservadorismo e a formalidade excessiva
do que se produzia até então.
Não só a literatura foi afetada,mas todas as manifestaçõesartísticas na Ilha receberamum pouco do ar modernista
que o resto do país já respirava há quase 30 anos. O Grupo Sul, dentro da visão mo
dernista possibilitada poruma "teia" de mudançasocorrida na sociedade, procu-
rou introduzir, também aqui,novas concepções de arte e
cultura.Jígando-os com o povo e com os seus novos modosde ver e sentir. Mudou-se,com o Grupo Sul, forma e
conteúdo. Mudou a própriafinalidade da produção de ar
te e literatura, buscou-se uma
comunicação mais ampla com
a população. Começou nessa
época o crescimento da pro. dução literária "na área da
prosa, já que esta prevê uma
maior objetividade e exterio
ridade, características quemelhor serviam à aproximação escritor/povo.
.
Em 1955 aparece o concre
tismo na poesia da Ilha, e pósmodernismo da poesia. Deixase de lado a sintaxe. A palavraatua como objeto significativoem si mesmo, independente
da frase. Em 1980, sinais deabertura política, já não estamos- mais tão atrasados (osmeios de comunicação demassa já não o permitem), e
surge, também aqui, uma literatura preocupada com a rea
lidade, que faz com que "aliteratura não seja algo separado da vida, mas o reflexoda própria realidade", diz o
o
professor Lauro Junkes ,
Emanuel Medeiros Vieira é o
grande representante ilhéudesta fase, preocupado com a
transformação da sociedadedentro da Ilha, com a mudan
ça de costumes e, principal-mente, com a emergência da"sociedade de consumo".
Agora, "a literatura que se
cria aqui não é a melhor domundo, mas, de um modo gerai, há bastante seriedade nos
nossos escritores" , constata o
professor Lauro. E conclurdízendo que "é muito difícil fazet uma projeção de futuro,mas seria indispensável queocorressem mudanças quantoà circulação da nossa literatura". É, a edição parece ser
fácil, os escritores da Ilha
comparam-se aos nacionais, o
que falta é "circular" . Parece
que a Ilha, que no início dosanos 30, temia a "aportagem' da modernidade e suas
variantes, hoje entregou-se a
ela irremediavelmene, em detrimento, até, do conhecimento do moderno que se produzaqui.
Vinte anos depois, no Olesmo lugarEstas fotos de Dilton do
Valle Pereira foram batidasdo mesmo lugar, com uma di
ferença de vinte anos entreuma e outra. O homem de ter
no e gravata da foto mais anti
ga (1966) é o Sr. David Men
donça, que aparece de camisaxadrez na mais recente(1986). A esquina da AnitaGãribaldi com Hercílio Luzdá uma idéia do processo de
verticalização sofrido por Flo
rianópolis neste período.
I 4
v1-!;��
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ANTESDACBF
tivas voltadas apenas aos as
sociados do clube.Em 1923 foi fundada a Liga
Santa Catarina de DesportosTerrestres, da qual eram
membros fundadores o Fi
gueirense e o Avaí. Na épocahavia o campeonato da primeira divisão de amadores,onde participavam os timesacima citados entre outros.Os jogos eram realizados no
Estádio Adolfo Konder (ruaBocaiúva), que inicialmenteera cercado de madeira, maistarde passando para o concre
to.O tempo passou e os times
� adquiriram suas sedes pró� prias. O Figueirense tem a
� sua na rua Olavo Bilac, no
� Estreito, onde está localizadoc
o Estádio Orlando Scarpelli.� Já o Avaí tinha sua primeirag sede na rua Bocaiúva, no Es;:j tádio Adolfo Konder, e hojeo sua sede é a Ressacada, o
� maior estádio de Santa Cata-
rina, que leva o nome de um
ilustre avaiano: Aderbal Ramos da Silva. O Paula Ramos, por sua vez, deixou deatuar no futebol de Florianópolis.
BOM DE BOLAPara o Sr. Fornerolli, que
jogou no Avaí, Figueirense,Paula Ramos e no BarrigaVerde de Laguna, o futebolde hoje está muito diferentedo seu tempo. Ele diz que an
tigamente o futebol era praticado por atletas que jogavamapenas por amor à camisa, e
não por dinheiro, como é
agora. Em sua época o futebol era amador e os jogadoresnão eram assalariados; aliás,quando recebiam era uma
quantia muito pequena, a título de ajuda, e os jogadoressempre tinham outra profissão.
Outra coisa que o Sr. Fornerolli lamenta é o fato dosclubes não jogarem mais pensando no espetáculo, na torcida. O que lhes interessa é o
resultado, só lutando para fazer gols e chegar à vitória se
este resultado for necessário.Outra coisa que ele não acha
justo é um time perder um
título nos pênaltis. Para ele,o ideal é a realização de uma
terceira partida. Na opiniãodele, o futebol da capital, re
presentado pelo Avaí e Fi
gueirense, não será mais cam
peão estadual, pois os timesdos outros centros estão unidos, tornando-se mais fortes,como por exemplo o próprioJoinville. Resta para os ilhéus
apenas esperar para ver se as
palavras do Sr. Fornerolli se
tornarão realidade. Ou talvezaliar os dois times da capitale fazer um só: Quem sabe?
Denirys Rodrigues
No começo do século os es
portes mais praticados na ca
pital eram os aquáticos, com
destaque para a natação e o
remo. Este último era considerado como o esporte da elite de Florianópolis, que con
tava com os seguintes clubes:Riachuelo, Martinele, e o Aldo Luz, que permanecem os
mesmos ainda hoje. Na nata
ção, o destaque ficava parao Figueira Náutico Club, queorganizava os páreos (competições) na Baía Sul.
Outros esportes como atletismo, futebol e ginásticatambém eram praticados. Oatletismo da capital conse
guiu inclusive alguns desta
ques nacionais com atletas doPaula Ramos Esporte Clube.Já a ginástica não teve muito
destaque e o futebol era ama
dor, praticado só pela elite.
Esportes como vôlei e bas
quete não tinham a mesma
popularidade que os outros,ficando restritos aos pátios de
colégio.O MAIS POPULAR
O esporte mais popular da
época era o remo, mas com
o passar do tempo, o futebolfoi crescendo e buscando no
vos aficcionados. Na capital,os times de futebol existiamnos bairros, e ali haviam cam
pos de futebol que hoje já de-
sapareceram. .
Mas a história do futebolnão fica por aí. Imaginem só:antes os jogos eram realizados no campo do Colégio Catarinense e o desenrolar das
partidas se dava ao som demarchas e tangos executados
pela Banda da Força Pública.Destes jogas participavampersonalidades como IvoD'Aquino, Francisco Gallotti, Nereu Ramos e HercílioLuz.
Os times de maior desta
que na época eram o Trabalhista, o Florianópolis e o Palmeiras, mas também existiam
-o Internato e o Externato,formados por alunos do Colé
gio Catarinense. Porém, a fome por esporte era muitomaior que isto, e outros clubes foram fundados e permanecem ainda hoje, como o
Avaí e o Figueirense.COMEÇO
O primeiro foi o Figueirense, que hoje, depois de amar
gar uma segunda divisão, volta à primeira com esperançasde novas vitórias. O Figueirense surgiu a partir da idéia
que três jovens, João SavasSiridakis (Jango), Jorge Albino Ramos e Domingos Velo-
Uma das primeiras formações do Figueirense
As transformaçõesdo esporte em
setenta anosser creditado a um ou outro
radical torcedor avaiano.depois de afirmar que com o
Figueirense na segunda divisão seria mais fácil ser cam
peão, o Avai só conseguiu ficar em quarto lugar, o quenão esmoreceu o entusiasmode sua torcida: "não há nadamelhor do que ser um bomavaiano". O que só pode ser
dito por quem desconhece os
prazeres de sentir-se Figuei-rense.
t
Alguns anos mais tarde, no
bairro da Praia de Fora, surgeo Paula Ramos S.C .. O time
surgiu na praia e o nome foitirado de um cais (Cais PaulaRamos), que ficava perto deonde estavam reunidos os jovens aventureiros, no dia 15de Dezembro de 1937. Aidéia inicial era a de formarum time para jogar na várzea,mas esse time foi campeão doestado em 1943 (este foi o
primeiro título estadual doPaula Ramos).
O Paula Ramos não tinhasó futebol. No atletismo, suaequipe conseguiu destaquenacional mais de uma vez.
Hoje o clube não faz mais
parte do campeonato de futebol profissional do estado,sendo agora apenas um clubesocial, com atividades espor-
so, tiveram de fundar um clube de futebol, nas proximidades da figueira, que era um
lugar comum. Com isso no
dia 12 de Junho de 1921, na
rua Padre Roma, perto daConselheiro Mafra, na casa
do Sr. Ulisses Carlos Tolentino, onde a sala estava cheia,nascia o Figueirense FutebolClube. A partir daí, disputaria regularmente os campeonatos regional e estadual.
O clube tem um passadode glórias e foi o primeiro re
presentante de Santa Catarina no Campeonato Nacional,em 1973. Apesar disso, os últimos acontecimentos nãosão muito favoráveis ao time
que está situado no continente. Desde 1974 que o Figueirense não consegue conquistar o título de campeão esta
dual e, no ano passado, depois de uma péssima campanha, teve que suportar um re
baixamento da primeira paraa segunda divisão. Porém,para alegria da torcida alvi
negra, o time do Estreito volta à primeira divisão em 1988.
Mas há quem diga que "a história do Figueirense é ser vi
ce", o que certamente deve
Dois anos depois da fundação do Figueirense, foi inaugurado o clube que veio a ser
seu maior rival na atualidade,o Avaí Futebol Clube (que se
escrevia Avahi). No dia 1� deSetembro de 1923, na rua
Frei Caneca n� 34, na casa deAmadeu Horn surge o AvaíF. C .. A idéia da fundaçãode um clube de futebol veioapós uma' partida de um timede garotos que venceu o Humaitá, um time valente da rua
Nova Trento. O primeiro no
me sugerido foi o de Independência Football Club, pois es
tavam na semana da Pátria e
o nome seria uma homenagem à data. Mas o Sr. Arnaldo Pinto de Oliveira não con
corda, por ser um nome muito grande e difícil de incentivar. Então ele mesmo sugere o nome Avahi, e assim foifeito. Amém.
O Avaí tem um passado deglórias. É, o time que mais ve
zes conquistou o campeonatoestadual, embora já faça al
gum tempo que não consegueconquistar um título. Na últi-ma temporada, por exemplo,
.
DEZ-87 -
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' P rs,
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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
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só se chega de barco ou caminhando por u-ma trilha povoada de lagartos, pássaros sel
vagens, gambás, bambuzais
gigantes e casarões do iníciodo século, testemunhas da
época em que o café propiciava uma relativa abundância. Ou como a Quebrada,sem estrada e sem luz, ondese encontram engenhos toca
dos à
boi, barcos esculpidosa partir de imensos guarapuvus e silêncio.
CULTURA POPULAR
católicoS e �aFotos de santos hão o servlÇO
- de imagens. ·meira comun ,
mais nova�,. adPro�d!�� nascimento, a prl
Nas casas tos cruclals a Vl
. momenfamíha emmento.
militar, o casa -
ád;k
Nova geração: os adesivos de surf competem com os signos sagrados da
geração dos pais.
Passado e presenteconvivem na Lagoa
Mais, muito mais do queum simples lugar de morar,a casa é um condensador desímbolos sociais capaz de "falar" das transformações vividas por uma sociedade. Tentar decifrá-la, como se decifraum texto escrito em -Iínguadesconhecida, foi um dos ob
jetivos da dissertação de mes
trado de Carmem Rial, professora da UFSC, sobre as
três últimas gerações de nativos da Lagoa da Çonceição.Pois, ilha dentro da Ilha, a
Lagoa ainda guarda recantos
escondidos pela mata, ondeo visitante eventual se depara com modos de vida de sé
culos passados. Lugares co
mo a Costa da Lagoa, onde
e da Austrália, logotipos daO.P. câmaras de V.H.S., de
sejos errantes, cadeiras depraia coloridas, lanchas e co-
caína._
Muito disso tudo está inscrito nas casas dos moradoresnativos. Elas contam a história da transição de um modoe vida camponês, que tinhaa pesca como atividade se
cundária, a um modo de vidacada vez mais inserido na so
ciedade "moderna". É a história da Lagoa ou melhor, domar-de-dentro, nome poéticocom o qual os nativos designam a Lagoa da Conceição,opondo-a ao mar-de-fora o
imenso Atlântico que os ro
deia.
As casas construídas a partir dos anos 50 são feitas em
madeira e com telhado em quatro águas. A cozinha, com ,fogãoa lenha, afasta-se ainda mais, situando-se num nível inferior (foto)ou num "rancho" separado do corpo da casa.
Mas, percorrer a Lagoa é
pisar também zonas plana.
mente inseridas na modernidade: basta chegar na freguesia num domingo de verão.Meninos bronzeados do Rio
Liberadas da esfera da kprodução, as mulheres ago- ;lra na decoração em profu- ,
são, azulejos transformadosem quadros, plásticos e fórmica.
,
Os �ativ�s a chamam de "casa-de-antigamente". Algumas foram cons
truídas ha mais de cem anos, em pedra ou pau-a-pique. O telhado é voltado
para frente porque os portugueses não dominavam o sistema de calhas paraágua da chuva.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
/
REALISMO
Estudarão para conseguir um
contrato de trabalho, a carteira assinada, previdência so
cial e direitos adquiridos. Oestudo passa a ser primordiale gera a expectativa de podercompetir em melhores condi
ções no mercado de trabalho.A expansão capitalista pro
vocou intensa transformaçãoa partir dos anos 60. As esta
tais, o crescimento de servi
ços no setor público, a própria Universidade, a Eletrosul, são fatores preponderantes no processo. Florianópolis cresceu de maneira assus
tadora e desordenada.
ReflexosO homem precisou ceder
seu espaço. O geográfico e o
humano. Não se vê mais
quintal e verduras, galinhase gado solto; não se colhemais café e não se planta mais
algodão. A renda, antes ex
clusiva dos horários de lazer,perdeu em qualidade, passoua ser feita de um fio mais grosso, com menos pontos, me
nos trabalhada, e colorida
porque o turista gosta. E turista é a fonte de renda, dinheiro para comprar aquiloque não se produz mais.
As pessoas passam a nãoter mais tempo umas para as
outras. Já se foi o tempo em
que as mulheres fiavam o al
godão e faziam renda juntas,conversando, trocando receitas. E os homens ficavam fazendo redes e arrastando peixes. Os tempos são outros e
a mudança social é palpável.Já não há os mesmos homenssob o barulho do mesmo mar,no final de cada tarde."
...Depois, sob o manto danoite, algo cansados, penetram em silêncio nas linhas dahistória". (Alcides Buss)
meninos já iniciavam seu tra
balho na atividade pesqueiraaos seis anos de idade. A partir dos quatorze, passariam a
trabalhar na agropecuária,considerada um serviço maisexaustivo.
Valor de uso
Às mulheres cabia o feitiode rendas. No lado da almofada, as meninas já aprendiam, desde pequenas, o trabalho que as dignificaria co
mo mulher de boa cabeça. Oaprendizado doméstico era
iniciado aos sete anos e incluía castigos corporais: as
mães batiam nas articulaçõesdos dedos das meninas quenão tinham facilidade de lidarcom os bilros. Era uma questão de honra saber fazer ren
da. Mulher não devia andarna rua, devia ficar em casa,nos bilros. Aquela que nãosoubesse fazer renda, não era
considerada mulher.O artesanato é uma rein
venção da indústria doméstica, numa produção do uso para o uso, e tinha como objetivo satisfazer as necessidadesbásicas da sociedade agropesqueira: A renda era feita paracompor o enxoval. Os oleirosutilizavam o barro para fabricar panelas. O engenho produzia farinha e o pescador tecia suas próprias redes.
Valor de troca
Hoje a rendeira faz a rendacom a finalidade de comprartecido para fazer as roupas dafamília. O oleiro fabrica o pote de barro para comprar o
de plástico. E o pescador trabalha para o dono do navio
que pesca em alto mar.
A expansão urbana que es
preme o pescador e sua família no litoral, a emergência da
pesca industrial e a odisséia
FOTO: ARQUIVO/ZERO
Talvez ainda exista poesia ...
... nas rendas
do turismo que ocupa a terra
do agricultor e a orla marítima, fazem com que esta cultura tenda ao desaparecimento. O artesanato vira merca
doria, e o que tinha essencialmente valor de uso passa a
ter valor de troca, acarretando uma mudança no sistemaeconômico e quase anula o
consumo daquilo que produzem.
O artesanato é, então, feitobasicamente para ser vendi-
No início do século, o
transporte urbano era feitopor bondes com tração
animal, como aparece na
foto da esquerda e os prédiosmais altos eram casas
assombradas. Poucasconstruções sobraram
daquele tempo, como a casa
de azulejos da praça XV,que aparece à esquerda nas
fotos.
do, e assim pode-se dizer queé feito para comprar dinheiro.
Sob a pressão do consumo
capitalista, o ilhéu se vê sem
alternativas. Há uma reprodução do sistema, mas não se
dá ampliada a nível de artesanato. Tudo o que o artesão
consegue é reproduzir sem
pre a mesma peça. Não se tor
na o grande produtor, o grande empresário. Ele é um tra
balhador doméstico que ven
de seu produto para compraro industrializado, deixa de ser
consumidor primário e come
ça a ser mais um explorado.
Outros valores
A relação de família come
ça a se diluir. Os pais incentivam os filhos a não se voltarem à pesca. As mocinhas jánão são mais obrigadas a fazer renda. Os rapazes virão
para o centro da cidade e se
rão vigias ou caseiros na áreade praia. As meninas terãoum serviço mais "limpo": ser
virão café, serão balconistas.
Rendeiras só tecem para venderMaria A. Macarini
As'mãos já não criam maisa beleza nas rendas. A poesiada pesca já não tem o saborde água fresca, cristalina. Ecomo se o tempo furtasse o
sonho de uma ingênua menina, brincando de viver na fantasia.
Na velha Desterro, século
XVIII, os açorianos instalamse na costa litorânea, e criamuma cultura diferente: diferente da do resto do Brasile da própria cultura de origem. Detalhes específicos fizeram com que a nova sociedade que aqui se instalou di
ferisse, em vários sentidos,das que povoaram o resto do
país - desde o modo de produção até o relacionamento
interpessoal.Caracterizada pela forma
ção de campesinatos, por um
trabalho escravo quase au
sente e com uma economiabaseada em serviços de sub
sistência, a ocupação vicentina era composta por gentehumilde, de jeito "simples"e camarada.
As terras eram divididasem lotes para as casas, mas
o espaço das pastagens parao gado era quase coletivo: as
grandes extensões de terras
eram de toda a comunidade.O gado pastava livremente,sem ter limitações de espaço.Não havia cercas, havia troca
e usufruto.O escravismo era utilizado
apenas em atividades exten
sivas, quase exclusivamentena pesca da baleia, quandoos parentes não eram em número suficiente. As relaçõesde trabalho se davam maispor amizade e compadrio do
que por competência, e os
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Há várias dezenas de anos,nas praias de nossa ilha, a
pesca era muito diferente da
praticada hoje. As traineiras,embarcações movidas a mo
tor para a pesca da sardinha,ainda não existiam. Era o
tempo da escravidão e os ne
gros mais fortes e resistenteseram usados para a tarefa
, mais difícil: a pesca à baleia.Em frágeis embarcações a re
mo saíam mar adentro em
busca dos grandes cetáceos.Quando a baleia era encon
trada, a embarcação se aproximava, o homem atirava o
arpão e mais do que depressaos remadores se distanciavam. Eles tinham que ser
mais rápidos que o animal,que quando atingido debatiase; e se o barco estivesse perto, certamente seria destruído.
Foi-se a escravidão e foram-se também as baleias,não por culpa dos pescadorespretos ou brancos, mas porinteresses mais fortes: o das
grandes empresas de pescacom suas enormes embarcações a motor e arpões de precisão mortal, que alvejam as
baleias que passam por nossa
costa. Poucas restaram, assimcomo os pescadores artesa
nais que colocam na águaseus botes e saem para a
aventura diária da sobrevivência. Se o mar está bom para a pesca, tudo bem. O problema é quando passam se-
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PROGRESSO?
Pesca artesanal: uma atividadecondenada ao desaparecimento
Peixe agora só pra pesqueiro
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Marques Casara
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Antônio Pereira
manas sem uma boa coleta,que mal dá para alimentar a
família.Dos milhares de pescado
res artesanais que habitavama região de Florianópolis e tiravam seu sustento exclusivamente da pesca, são poucosos que continuam na profissão. As tradições, que tinhamuma forte influência na co
munidade, já estão no caminho do esquecimento. As ex
cursões mar adentro, antigamente precedidas de um ritual religioso, hoje não passam da rotina diária em buscado sustento. O pescador Antonio Pereira, 68 anos, dePonta das Canas, conta quenunca viu benzerem as em
barcações. Ele tem a pescacomo profissão porque é a
única coisa que sabe fazer:"Os peixes estão sumindo.Antigamente era diferente,pescava-se só de canoa, nãotinha os grandes barcos das
empresas que levam toneladas de peixe de cada vez".Seu Pereira tem três' filhoshomens, casados, mas quenão seguiram a profissão. Omais velho foi embora com
a esposa para Blumenau trabalhar em uma indústria. Outro é pedreiro e o terceiro,Sidnei Pereira, 23 anos, tro
cou a pesca por um empregode garçom em Ponta das Canas. Ele diz que abandonoua pescaria porque "não ia ter
jeito de sustentar a família.Trabalha-se demais por pouco dinheiro, ganha mesmo
quem tem condições de ser
dono de um barco grande, para pesca em grande quantidade".
OS TURISTASSeu Pereira fala bem dos
turistas. Para os pescadores"eles trazem dinheiro", alu
gam as embarcações parapasseios e as casas para passara temporada. "O turista ajuda o povo. Quem tem casa
aluga, ou alugam os barcos".Sorte dele, que não entrou na
conversa dos "estrangeiros".Eles já arremataram milhõesde metros quadrados de terras nas praias a preços insignificantes, logo reduzidos aindamais pela inflação, deixandoos ingênuos pescadores na
miséria, sem ter ao menos on
de plantar para comer.
EXPLORAÇÃOSegundo pesquisas feitas
pela repórter Jeni Andrade,publicadas em uma matéria
especial do Jornal de SantaCatarina do dia 29/30 de dezembro de 1985, na praia dos
Ingleses, entre os anos de1973 e 1985 foram feitas maisde 1200 transações de terras,sendo vendidos 8 milhões demetros quadrados, equivalentes a 25% de toda a áreado distrito. O atual prefeito,Édison Andrino, que em
1985 presidiu a Comissão Extrordinária de Pesca Artesanal da Assembléia Legislativa, declarou à repórter que"o pescador é a categoriamais abandonada de toda a
região. A situação é dura, em
algumas praias irreversível.O pescador não tem mais ter
reno para o rancho, nem re
de, nem barco. E já escasseiao peixe". Isso tudo apenas em
uma das 42 praias de nossa
ilha.Os pescadores residentes
na cidade, que até por voltade 1960 pescavam às centenas
nas proximidades da ponteHercílio Luz, abandonaram
por completo a profissãomassacrados pelo desenvolvimento. A' poluição destruiu.a fauna marinha e a rápidaurbanização da Baía Norte,com a construção da avenidaBeira-mar e em seguida uma
outra avenida paralela; os
deixaram sem saída, obrigando-os a buscar outras atividades. Alguns conseguiram em
pregos assalariados, outros
tentaram a vida como came
lôs ou fazendo biscates pelacidade.
"Os lavradores e pescadores trabalham para sustentar
o povo, mas ninguém dá va
lor", comentou indignado Sebastião Souza, pescador há
quase 40 anos no Pântano doSul. "Pescamos a noite toda,às vezes saímos antes dameia-noite para voltar no ou
tro dia lá pelas 11 horas, mas
quem ganha mesmo é o intermediário. Um quilo de peixe,comprado do pescador a 60cruzados, por exemplo, podechegar a 150 no mercado, en
carecido pelo atravessador".Sebastião acha que a soluçãopoderia ser urna greve da
classe, mas, segundo ele, "os
FOTO: MAROUES CASARA/ZERO
Ghegando da pesca
FOTO: CARLA CABRAL/ZERO
FOTO: MARQUES CASARA/ZERO
,
Em Pântano do Sul
pescadores não têm força para promover um movimento,porque acreditam em tudo o
que os grandes falam".
rastões, onde o cardume écercado com a rede e puxadopara a praia. Mas até as incontáveis tainhas que trafegavam por aqui há alguns anos
estão reduzidas consideravelmente. Raul Sebastião, 50anos, pescador em Ponta dasCanas, percebe que a cadaano diminui o número de tainhas capturadas por eles.Raul sabe que na época certacentenas de barcos pesqueiros de grandes empresas es
tão de prontidão em alto mar
para pescá-las logo que come
çam a viagem. "Tá sumindocada vez mais, as empresasde pesca estão terminandocom os peixes", lamenta.
TAINHA
Nos meses de maio e junhoo peixe é a tainha, que saida Lagoa dos Patos, no RioGrande do Sul e vai até Cabo
Frio, no Rio de Janeiro paraa desova, viajando por uma
corrente quente que sai daÁfrica e passa por essas
águas. Os pescadores dedicam-se exclusivamente à sua
cap.tura, realizada nas traineiras - barcos especiais paraa pesca da tainha - e nos ar-
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Forte trava sua última batalhaDauro Veras
o barco a motor sai da
Ponta de Sambaqui, em Flo
rianópolis, e uns 30 minutos
depois sé aproxima da ilhaRatones Grande pelo lado
norte. Ela tem cerca de 800metros de comprimento por200 de largura. É cheia de
palmeiras e de vegetação es
pessa, dando a ilusão de ser
um daqueles refúgios ideais
para os piratas dos temposantigos. Na verdade, os úni
cos "piratas" que ali estive
ram - pelo menos na con
cepção dos portugueses - fo
ram os espanhóis, que em
1777 invadiram Florianópoliscom cem navios e 12 mil ho
mens. Tomaram todas as for
tificações sem disparar um
único tiro e permaneceram
por um ano, até que saíram,
pelos termos do tratado de
Santo Ildefonso'.�. No lado norte, o-paredãodo que foi um dia o forte de
Santo Antônio de Ratonesdomina a visão de quem che
ga. Hoje são apenas ruínas,mas tudo era muito diferente
em 1740, ano em que foi cons
truído pelo brigadeiro português José da Silva Paes, primeiro governador-geral da
Ilha de Santa Catarina. A
função do forte, junto com o
de Santa Cruz (na ilha de
Anhatomirim) e o de São Jo
sé da Ponta Grossa, em Jure
rê, era impedir a entrada deinvasores pela Baía Norte.
No fim do século anterior ou
início deste século - a data
precisa não consta nos' docu
mentos históricos - a fortaleza foi abandonada Desde
então, a ação incessante dachuva e dos ventos foi decom
pondo as muralhas.
RESTAURAÇÃOAs pilhagens contribuíram
FOTOS: .IANDlR NASCIMENTO
VIAGEM
com o trabalho da natureza.
Dos 14 canhões existentes
originalmente, hoje há apenas quatro - os outros foram
doados pelo Exército a vários
municípios catarinenses, em
um autêntico roubo. Desde
1947 os fortes dos arredores
da Ilha de Santa Catarina es
tão tombados pelo Patrimô
nio Histórico e Artístico Na
cional, mas muito pouco se
tem feito para resgatar a me
mória dos tempos passados.Havia 11 fortificações, masmuitas desapareceram, ou-,
tras ruíram.Desde o ano passado a As
sociação Comercial e Indus
trial da Grande Florianópolisvem recolhendo dinheiro
com os empresários para um
trabalho de restauração do
forte de Santo Antônio A
primeira etapa custou Cz$ 1
milhão e já foi concluída.Consistiu em fazer a limpeza
do terreno e estabilização das
ruínas. Foram feitos 60 me
tros cúbicos de muralhas.A segunda etapa, de re
construção propriamente di
ta, custará cerca de Cz$ 2 mi
lhões, e a Associação lançouoficialmente a campanha decoleta de fundos no últimodia 28 de novembro, levando
a imprensa para visitar a ilha.Um dos fatores incentivado
res a curto prazo para a boavontade dos empresários é a
Lei Sarney, que concede incentivos fiscais .às empresas
que colaborarem financeira
mente com atividades cultu
rais. A médio-e longo prazo,a Associação Comercial e Industrial pretende estimularum novo ramo de exploraçãoturística, com conseqüentereflexo positivo nas ativida
des de comércio e indústria.O projeto de reconstrução do
forte, a cargo da arquiteta
Maria Lúcia Viana Batista
Borges, está sendo acompanhado de perto pela Secreta
ria do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional (Sphan),para que as características
originais sejam preservadas."Sabemos exatamene como
era o forte, através de documentos históricos", disse o
chefe do escritório local da
Sphan-Pró-Mernória, DalmoVieira Filho. "Não temos a
planta original, mas há relatos minuciosos sobre a edifi
cação, como o feito em 1776
pelo brigadeiro José Custó
dio Sá e Faria", explicou.TURISMO
Jogada no canto de uma
das muralhas, uma lata de
cerveja contrasta com o am
biente. É possível conciliar a
atividade turística com a preservação dos monumentos
históricos? Para Dalmo, sim."Isso é feito no Egito e na
Ir'
, �
Grécia, por que não poderíamos fazer aqui também?" Ele
acha importante preservar o
potencial educacional dos
monumentos e acredita que,com um trabalho permanentede conscientização, é possívelevitar o turismo predatório."Temos um projeto de comu
nicação visual para orientar.
os visitantes do forte", acres
centou.
Quando o prédio estiver
pronto a intenção é instalar
nele a estação ecológica de
Carijós, que é dirijida pelaSecretaria Especial do MeioA.ffibiente (Sema) e pela Fun
dação de Amparo à Tecno
logia e ao Meio Ambiente
(Fatma). A estação de Cari
jós abrange a área dé man
gues da Baía Norte, o mar e
as ilhas. Existe um plano de
fazer da ilha de Ratones partede um circuito turístico a ser
percorrido por escunas e ve
leiros Para isso será neces
sário fazer algumas obras,criando infra-estrutura paraembarque e desembarque de
passageiros. Só o tempo dirá
se tal circuito turístico poderáconviver pacificamente com o
habitat.Quando o barco retornava,
circundando a ilha pelo sul,um lagarto que lagarteavatranqüilamente na beira domar nos olhou, desinteressa
do. Mal sabe ele sobre as in
tenções dos humanos a res
peito daquele chão. À medida que a distância aumenta
va, era possível imaginar-seno lugar do navegador espanhol Albar Nunes Cabeza de
Vaca, que no século 17 bati
zou as ilhas pelo nome de Ra
tones - grande e pequena -
pela semelhança que tinham
com ratos deitados quandovistas de longe.
As obras vão começar tão
logo for possível conseguir al
guma verba.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
-�--�--�--------------------------------------------------------���----------�
Matas nativas quase exterminadasFOTOS: SABRINA FRANZONIIZERO t'OTO: ANTÓNIO GAUDERIOIISTO E
Desmatamento Já o Mangue da Ba-cia do Rio Tavares te-
� :li>t���w'�":'
ve sua área reduzida,.5#> indiscriminado pelas obras do aero-';" v",
ameaça a ilha porto, pela rodovia del '
fi� acesso a ele e pelasI "
pastagens para o gado.'lIJJij
}, Luciene AbdoO mangue do Saco
..,.,_..� c,","
Grande fOI modificado"'. A ilha de Santa Ca- pela rodovia SC 401, e,�
"" :�""'�� tarina vem sofrendo a parte que ficou isola-'\. �_. uma exploração indis- da já se encontra total-
criminada desde a vin- mente alterada pelada dos primeiros imi- urbanização e agrope-grantes europ-eus até cuária, além de ser
os dias atuais. As flo- atualmente quase todarestas locais foram de- de vegetação herbá-saparecendo: no início cea.
lentamente e, após aConsiderando-se ochegada dos colonos
açorianos, na segunda ritmo de urbanizaçãometade do séc. XVIII, de Florianópolis, a
de um modo amplo em tendência é. que, o.stodos os locais' que mangues mais proxi-eram ,ocupados pela Quem pune? mos do centro da Capi-população que come- tal sofram maiores al-
çava a se expandir. Destruição dos Man- Orbanização", foi ins- terações. Estas mu-
gues talado o Complexo danças podem se darNem a vegetação de O processo de desa- Administrativo Regio- tanto na redução de
praia - dunas e restin- parecimento da vege- nal do ltacorubi - suas áreas como na
gas - fica isenta do tação original atingiu TELESC, CIDASC, contaminação de suas -
desmatamento. Toda também os mangues, PRODASC, assim co- águas. Os mangues po-a extensão habitada da Óe foram reduzidos. mo a ampliação da dem, inclusive, desa-ilha, já foi, anterior- mais alterado é o da UFSC com o Hospital parecer completamen-mente, de vegetação Bacia do Itacorubi, de- Universitário e outras te, caso não sejam to-nativa. Hoje, além de vida às obras de in- instalações. Além dis- madas medidas efeti-áreas ocupadas por 10- fraestrutura rodoviá- so, houve a duplicação vas para recu�erá-los e
teamentos no htoral, ria, saneamento, ater- da Avenida Madre preservá-los. ara isto,há as pastagens para o ros e edificações. Des- Benvenuta e o "Ater- é preciso impedir quegado no interior. de 1949, o Departa- ro Sanitário do Itaco- sejam efetuados ater-
Atualmente, a agri-menta Nacional de rubi" , que recebe mais ros para loteamentosObras e Saneamento de 130 toneladas de li- de zonas balneárias,cultura ainda é a prin- executa drenagem no xo de todas as espé- como foi o caso de Bal-
cipal responsável pelo Rio Itacorubi, alteran- cies, alterando o leito neário Daniela, assimdesmatamento em do o nível das águas do rio e diminuindo como outras obras queáreas não exploradas em relação às marés. drasticamente a área venham comprometerpara projetos imobiliá- Como no Plano Dire- do mangue. o ecossistema.rios. Surgem nos terre- tor a área está qualifi-nos abandonados, on- cada como "Zona de Outro mangue con-de o solo já perdeu denado é o do Rio Ra-quase toda a sua fertili- tones. Além das obrasdade natural, vegeta- de drenagem, ele éções rasteiras denomi- cortado pela rodovianadas "capoeira", "ca- .
de acesso às praias depoeirinha" e "capoei- Canasvieiras, Jurerê erão". Esta vegetação Ingleses, que modifica
, se destaca na Lagoa do profundamente o cur-
\-� Peri, Naufragados, La- so dos rios da bacia, as-'"
goa da Conceição, sim como suas águas4
�"'if, Morro da Costa da La- em relação à marés,"f ' ""
goa e Morro do Ribei- comprometendo o
rão. ecossistema.
DESTRUIÇAO
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
• • �''L.r .. :
-----------------------------
I ARQUl'VO/ZEROFOTO:
I.' '" FOTOS; ARQUIVO/ZERO.
Aterro alteraperfil da cidadeo aterramento da Baía Sul, que iniciouna prainha, tomou todo espaço do mar
desde a ponta do Vinagre até o cais Rita 3
Maria, engolindo a Ilha da Pólvora, um
dos marcos de Florianópolis.1 - o cais era o limite
da cidade, 2 - 197i): o aterroda Prainha, 3 - Vista atual,4 - Todo 1� plano é aterro,S - Setor Administrativo... , 6-
... e como era em 1940, 7 .-
- década de 70
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
CRESCIMENTO DESORDENADO
Vista do Morro da Cruz, 1970 e .. ; em 1987
Interesses militaresajudam na povoação
'Arley Machado
o povoamento de Santa
Catarina iniciou em 1673através do porto que oferecia
abrigo às embarcações. Noinício as casas se localizavamem torno da catedral cons
truída pelo fundador, o paulista Francisco Dias Velho, e
desciam até a praia. O largoda matriz foi o centro de ondese originaram as ruas para os
lados e para os fundos.Um pouco mais tarde, em
função dos interesses militares do governo português,muitos fortes foram construídos: Forte Santa Cruz do
Anhatomirim (1739), ForteSão José da Ponta Grossa
(1740), Forte de São João
(1793) e o Forte de Nossa Se
nhora da Conceição (1742).Nessa época, além dos militares que vinham ocupar os for
tes, Portugal incentivou a
imigração de açorianos paraaumentar a população da
ilha. É o início da formaçãoda cidade.
No início de sua ocupação,o Desterro seguia as normas
urbanísticas impostas pelasOrdenações (coleções de leis
promulgadas pelo rei). A
igreja ocupava um lugar privilegiado, com sua praçafronteira e as ruas e caminhosforam construídos em funçãodesse núcleo central.
Em 1822, com a Declara
ção da Independência do
Brasil, o Desterro foi elevadoà categoria de cidade e nessa
ocasião houve a primeira iniciativa de urbanização com a
marcação do perímetro urbano. Nessa marcação houve interesses fiscais e não o reflexo
da expansão da cidade. Coma transferência da capital (Lages) para a ilha, iniciou-se um
período de prosperidade. Foi
projetada uma estrada ligando Desterro a Lages para haver maior integração ao Planalto Catarinense.
Em 1876 o Plano Urbanoatendia ao aumento da população com a transformaçãodos caminhos em ruas e aberturas de novas vias públicas.Já antes, em 1845, com o
abandono do plano inicial de
quadrasretangulares, estabeleceu-se nas vizinhanças dacidade (Baía Norte), as chácaras que poucos privilegiados possuíam. Com a partilhahereditária ou com o lucro dadivisão das terras para venda,o plano urbano recebeu al
guns acréscimos, mas os ricos
proprietários criavam dificuldades à sua expansão e as
ruas paravam ou mudavamde direção quando encontra
vam chácaras de pessoas influentes.
DESTERRO VIRAFLORIANÓPOLIS
Com a Proclamação 'da Re
pública em 1899 e as 'resistências locais, há um período de
estagnação no desenvolvimento da cidade. Neste período, a alteração mais significativa foi a mudança do no
me da cidade de Desterro para Florianópolis, o que acon
teceu a partir da "vitória" dasforças comandadas por Floriano Peixoto.
Em 1945 Santa Catarinaelabora sua primeira tentativa de planejamento urbano
intitulado de "Plano deObras e Equipamentos"(POE), que só foi transformado em Lei em 1955 e im-
plantado em 1956.Os anos 60 foram expres
sivos na evolução urbana de
Florianópolis, pois o crescimento populacional foi maior
que nas décadas anteriores.A instalação da UniversidadeFederal foi um fator fundamentai para esse crescimento.
CÓDIGO MUNICIPALO primeiro documento que
regulamentou a ocupação dosolo em Florianópolis foi um
Código Municipal elaborado
por Demétrio Ribeiro, Edvaldo Paiva e Edgar Graeffem 1945. Esse código continha algumas leis que previama ocupação da parte centralda ilha e continente.
Somente em 1976, vinte e
um anos mais tarde, foi aprovado o primeiro plano diretor. Previsto por Felipe daGama Lobo D'Eça para todoo município, demorou oitoanos para ser aprovado apenas para o continente e centro
da ilha até o Morro da Cruz.O traçado do plano propostoignorava a topografia do ter
reno e felizmente não foi im
plantado. Mais, tarde, em
1982, o IPUF (Instituto de
Planejamento Urbano de
Florianópolis) estendeu esse
plano ao Morro da Cruz,Agronômica e Trindade. Esse plano ficou conhecido co
mo Plano da Trindade. Juntocom o plano dos balneários,em 1985, o IPUF fez uma re
visão do Plano Diretor Central elaborado por Gama
D'Eça.Em 1986 houve a consoli
dação dos planos diretores, e
agora uma única legislaçãoregulamenta a ocupação dosolo em Florianópolis.
A Ilha parece ...
em direção ao Continente
DEZ-87 "ZERO _.
,
P 25"
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
VIDA URBANA
Dois marcos fundamentaisAqui, as transformaçõesdo Caridade e
Matriz, dois marcos
fundamentais de
Florianópolis.
�:
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Esse aumentoaconteceu nos
últimos 50 anos
Sônia Bridi
Há pouco tempo uma re
vista de circulação nacionalclassificou Florianópolis co
mo última capital provincianado país, onde ainda resistemcostumes como levar o passarinho para passear com a família. O"que diria a revistase soubesse que de 1940 pracá essa cidade ficou cinco ve
zes maior? E que esse crescimento não tem nada a ver
com evolução industrial? Ouainda: que há menos de 50anos a capital era tranqüilacidade com 40 mil habitantes,com mais da metade vivendofora da área urbana?
Mesmo que de uma forma
precária, é possível descobrir
algumas coisas sobre essa
província através dos censos
realizados pelo governo. Até1940 esses censos eram feitosde vinte em vinte anos. De
pois, de dez em dez. As publicações mostram não só a evo
lução da sociedade, mas tam
bém a evolução da forma da
pesquisa. O recenseamento
de 1920 foi feito pela "Diretoria Geral de Estatística",órgão que hoje se transformou no Instituto Brasileirode Geografia e Estatística -
o IBGE. É: um trabalho pequeno, com páginas numera
das em algarismos romanos e
com preciosidades lingüísticas como "Sacco dos Limões", "Cannasvieiras" ou
"Santa Catharina". Cientificamente ele é bastante limita
do, mas abrangente o suficiente para que se tenha uma
idéia de como era a Floria
nópolis (sem acento grãfico)da época.
Em 1920 os recenseadoresnão se preocupavam em sa
ber o nível de instrução dos40.252 habitantes de Floria
nópolis. Mas consideraram
importante registrar que a cidade tinha 7.452 edificações,entre elas um prédio com
quatro pavimentos, 16 com
três andares, 173 com dois e
26 assobradados. Sem dúvidaum grande progresso para um
município que 20 anos antes,
AS MUDANÇAS
FOTO: PEDRO DOS SANTOS
na virada do século; tinha
apenas três mil habitantes.Entre as décadas de 20 e 40a população pulou para 46 milhabitantes, mas o recensea
mento teve um crescimento
qualitativo muito grande. Osdomicílios passaram a ser
classificados de forma socialatravés da sua natureza: próprio ou alugado. Nessa época, 60% dos florianopolitanos residiam em casa própria.Os outros eram inquilinos.Em 1980 essa proporção su
biu para dois proprietáriospara cada inquilino.
Através do recenseamento
de 1940 podemos deduzir queem 1920 a maioria da população de Florianópolis não sa
bia ler nem escrever. Em
1940, 45% dos florianopolitanos eram analfabetos. Hoje(dados da Fundação Educare Prefeitura Municipal de
Florianópolis em 1986) os
analfabetos são 13%.
Um dado interessante, quereflete a forma da vida daépoca, é a participação feminina na educação. Na Floria
nópolis de 1940, as mulhereseram em maior número queos homens nas salas de' aulado elementar e no curso médio (a população feminina da
. cidade sempre foi maior quea masculina desde que se tem
registro) mas cai assustadoramente no superior, idade em
que as moças casavam e abandonavam os estudos. Em1940, apenas 15 mulherescursavam ou haviam cursadonível superior na cidade, con
tra 276 homens. ·Em 1980 o
perfil é outro: são 4.380 mu
lheres e 6.299 homens con nível superior.
A divisão entre a popula-
ção urbana e rural tambémnão foi feita no censo de 1920.
'Mas há uma relação da população da sede do municípioe dos distritos da SantíssimaTrindade, Saco dos Limões,Canasvieiras, Cachoeira, La
goa, Rio Vermelho, Ribeirãoe Santo Antônio. Dos 40.252habitantes, 18.500 viviam na
cidade. Os outros 21.752 mo
ravam nos distrítos e se dedicavam à agropecuária e à pesca. É bom lembrar que, sem
estradas, esses distritos (hojedois deles são bairros) ficavam praticamente isolados dasede. Em 1940, 1.049 estabelecimentos rurais foram re
censeados pelo Censo Agrícola. Já então ficou evidenciada a predominância de minifúndios, uma característicado tipo de colonização. Amaior propriedade tinha me-
nos de cem ha., e era a única. com mais de 50 hectares. Esses agricultores se dedicavamprincipalmente às culturas decana de açúcar, café, bananae mandioca. Nenhuma muda'de trigo foi plantada em Florianópolis em 1940, porém os
agricultores, de origem portuguesa, conservavam Q§mesmos hábitos do BrasilColônia. A pesca não foimencionada. Florianópolischegou em 1980 com apenas1 % da população (1.800 pessoas) se dedicando à agropecuária e à pesca.
A julgar pelo censo de1920, casar em Florianópolisera bom negócio e investimento de felicidade permanente. Não há nenhum caso
de separação na relação deestado conjugal, simplesmente porque isto não foi pesquisado. No censo de 40, entre
divorciados, separados e desquitados surgem três mil pessoas. Quase 10% de uma população onde a grande maioria (87%) declarou professara religião católica apostólicaromana.
Não há também registroanterior a 1940 da divisão poratividades dos profissionaisflorianopolitanos. Quandofoi feito, o levantamentomostrou que a principal atividade era a agropecuária, se
guida da indústria de trans
formação, do comércio e ser
viço público, defesa nacionale segurança, que somados ul
trapassam o número de trabalhadores na principal ativida
de, a agropecuária. Em 1980a indústria de transformaçãopassou a ter representaçãoinexpressiva, e as principaisatividades deslocaram-se para a prestação de. serviços, co
mércio e o serviço público.Entre 1940 a 1980, a popu
lação de Florianópolis passoude 46 mil para 187 mil habitantes oficiais. O responsávelpor este aumento populacional em quase cinco vezes, foi.o fluxo migratório. Somenteentre 1970 e 1980, 67 mil pessoas chegaram à ilha, fixandoresidência no município.Dessas, 26 mil vieram do interior de Santa Catarina. Asoutras deslocaram-se de to
dos os estados e territórios doBrasil. O maior número de
migrantes veio do Rio Grande do Sul: 4.200 seguido peloRio de Janeiro, com 2.800,Paraná, 3.100 e São Paulocom 2.300.
População cresceu dez vezes
DEZ-87' ZERO '.
P 27"
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
'/, .
AQUI HAVIA UM CAIS
Ex-Rita Mariao mar, semprerecuando, deulugar à rodoviáriae a uma avenida.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
MEMÓRIA
Quem se lembra do tempoem que Florianópolis não ti
nha luz, água encanada, nem
ônibus ou apartamentos? E"Nosso Senhor dos Passos",da irmandade mais antiga da
ilha, era quase tão rico quantoo governo. Tempo em que"muito moço" trabalhava na
roça e vinha a pé trocar os
réis obtidos no escasso comér
cio da cidade. Tempo em queBeira-mar era o nome de um
restaurante ao redor do qualos "banhistas" se aglomeravam. Onde o lazer ficava porconta das festas particulares,das domingueiras e das festas
religiosas; além do Boi-de
Mamão ou Boi-na-Vara. Da
quele tempo permaneceram
poucas tradições, como a Festa da Laranja "que semprecai em lua cheia". Quem se
lembra?
Karin Veras
A memória da 'velha cida
de' está viva, porém esquecida nos asilos, nas ruas, no
abandono. Pois a 'nova cidade' já não tem lugar para lem
branças. Esquecem que ela só
existe através de quem fez a
história e tem história pracontar. É o caso do ilhéu Ma
nuel Vicente Fraga que com
78 anos demonstra grande lu
cidez e conserva s�a religiosidade como só os antigos.
O asilo Irmão Joaquim situado na Mauro Ramos, é um
casarão composto de grandessalas e dois lados bem distin
tos: o feminino e o masculino.Encaminhados pela irmã
Áquila encontramos Manuel
jogando distraidamente uma
partidinha de dominó. Ele lo
go mostrou um largo sorriso
e nos levou até seu quarto,um minúsculo aposento onde
A história vivade Florianópolisum altar com várias estatue
tas e imagens de santos disputam lugar com o restante damodesta mobília. Ali tivemos
uma verdadeira aula de histó
ria. A história recente de Flo
rianópolis confunde-se com a
própria história de seu Ma
nuel.Nascido em 1909 no Itaco
rubi, ele relembra que os
meios de transporte e comu
nicação eram quase inexis
tentes. Ele que trabalhou a
vida inteira, quase não recebe
visitas. Por isto, fica contente
em poder conversar e contar
que "agora a vida está mais
ruim, embora haja mais facilidades" .
SÍTIOSAcompanhando a evolu
ção da cidade desde o iníciodo século, Manuel nasceu no
tempo em que Trindade e Ita
corubi eram sítios. Neste último bairro ele nasceu e se
criou até a morte do pai. Foi
quando veio trabalhar na cidade. Tinha 19 anos e haviacursado até o 3� ano em escola
particular, isto porque seu paiainda tinha condições. Elelembra que a necessidade e
a distância faziam com que,naquela época, a maioria dos
moços trabalhassem na roçaou na pesca e, desta maneira,ficavam impedidos de estu
dar.A mãe de Manuel fazia
rendas de bilros e morreu de
pois do marido. Suas 3 irmãs
também já morreram. Hoje,o velho morador da ilha não
Na Praça XV
FOTOS: KARIN VERAS/ZERO
Seu Manoel
tem parentes. Só um afilhado
que vem lhe visitar algumasvezes. E vive de mínimo salá
rio (ou vice-versa) deixado
por Oswaldo Lolati - dono
da úlima casa em que traba
lhou. Além de receber do
INPS, que ele mesmo reco
lheu, a quantia de aproximadamente 1 mil cruzados.
Orgulhoso, seu Manuel
conta que foi caseiro de muita
'gente importante'. Traba
lhou na casa do desembargador Medeiros Filho, diretor
do Hospital de Caridade.
Trabalhou também, na casa
do Dr. Rótulo, fundador da
Casa de Saúde São Sebastiõ.
DIVERSÃOO carnaval, não faz dez
anos, era realizado ao redorda Praça XV. No começo só
haviam blocos. As primeirasEscolas de Samba foram:
Protegidos da Princesa, CopaLorde, Filhos de Luão, Tira
mão (da polícia) e Brigaquem Pode (da família
Daux). No sítio, carnaval era
sinônimo de baile e só se dan
çava com máscara. No governo Nereu Ramos vieram os
carros alegóricos. Diabo-a
Quatro, hoje Tenentes do
Diabo, é a sociedade mais an
tiga e tinha seu galpão atrás
do atual Lira Tênis Clube,vencendo concursos carnava
lescos durante vários anos se-
guidos.O Clube 12 de Agosto -
"só de rico" - ficava na rua
João Pinto, onde aconteciam
memoráveis bailes. Também
nas casas particulares a gaita,o violão e o cavaquinho fa
ziam a diversão da época. SeuManuel não dançava, "ia só
espiar" porque "tinha uma ir
mã dançadeira". Naqueletempo não se ia constante
mente à praia. "Tenho raiva
de praia", diz o velho ilhéu:"esta mania foi inventada de
uns 10 anos para cá".As procissões e festas reli
giosas eram muito mais fre
qüentes. Havia a procissão de
São Sebastião, de Santa Tere
zinha, de Nosso Senhor dos
Passos, sendo que a maiorfesta era a de Nosso Senhor
dos Passos.As primeiras igrejas foram
Menino Deus (Hospital de
Caridade), São Francisco (nocentro) e Nossa Senhora do
Rosário, construída por es
cravos no Estreito. Na igrejaMenino Deus ainda existe a
imagem de Nosso Senhor dos
Passos, de mais de 200 anos.
Era a 'Irmandade do SenhorBom Jesus dos Passos' que re
cebia mais doações e diversos
tipos de pagamento de promessa. Por este motivo seu
Manuel afirma que o Senhor
dos Passos, depois do governo, é a pessoa mais rica de
Florianópolis.
VIDA PORTUÁRIAA vida da cidade girava em
torno do mar - conta Ma
nuel, com os navios chegandona Rita Maria (hoje Supermercado Imperatriz). Elelembra o nome de 3 navios:
Hoepke, Ana e Max. Os dois
primeiros faziam percursosmaiores e o último ia até La
guna. A Capitania dos Portosficava em frente ao Hospitalde Caridade.
Onde está o Palácio do Governo ficava o 'Campo doManes' - lugar pantanosoporque a água do mar batia
ali. Seu Manuel lembra queao longo do grande trapichemuitos bêbados e malandros
se afogavam: "Tinha muita
malandragem e cada vez tem
mais". Onde hoje é a Praçada Bandeira ficava õ Largo13 de Maio.
"Essa noite berrou uma va
ca. Isso foi moça que fugiu".Estas palavras eram típicas na
época de juventude dos ve
lhos de hoje. Porque quandonão se contentavam com os
namoros na janela ou dentrode casa, os namorados fu
giam: "Roubavam muita mo
ça de noite", conta seu Ma
nuel. Já os que quisessem na
morar certinho, contenta
vam-se em dar uma voltinhade vez em quando, acompanhados d,os pais da moça.
TRANSPORTE DE BURRO
O primeiro transporte co
letivo da ilha foi o bonde, puxado por burros, um carro
grande e aberto. Havia um
ponto na Agronômica, e o
ponto final era na Praça XV.
Havia também as charretes
puxadas por cavalos, onde
aparecia a figura do coxeiro:
era transporte para casais. O
primeiro ônibus chamava-se
Canarinho (hoje é o Farofinha ... ) e parava nos mesmos
pontos do bonde."A cidade sempre foi bo
nita e mais bonita está", declara seu Manuel com amor
à Ilha. Para ele, a beleza estána evolução arquitetônica,embora reconheça que antes
havia mais originalidade e
que a verticalização "acabou
com o brilho da cidade" , afas
tando o sol.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Benzedeiras:o remédioinfalível
onde invocam a Virgem Maria, e a pessoa se alivia da car
ga negativa. Também a ArcaCaída, doença que atinge bebês recém-nascidos, faz partedo campo de ação da benzedeira.
Sinhá FrançaFrancelina Santana, 78
anos, reside em Ponta das Canas desde que nasceu, e foilá que começou a praticar a
benzedura, há 50 anos. Comuma verruga na testa, e um
ar de quem está constante
mente preocupada, ela. adverte para o perigo das bruxas, que tanto podem ser cria�turas noturnas, quanto- mu
lheres idosas. Conta que a fé:é imprescindível a foda benzedeira. De fato, é precisomuita paciência e peregrina-ção.
.
Nesta comunidade, aindaexistem engenhos de farinha,e Francelina, enquanto con
S fecciona colchas de retalhos,�
.
espera _os meses apropriados""
para a produção "de farinha- maio a junho. Para ela,ajudar no engenhoé um tanto
desgastante devido à idade,mas a farinha é uma fonte derenda. O café, tomado todosos dias durante a manhã, é
.
á FIan a
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
I)C)(�(J)I,I�N'I'fJ.
ORIGEM
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�--Í\--
-w:.1866
'Dee
- -
.L-,*--
-
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
FLORIANÓPOLIS - 1926FOTO§: VALDEMAR ANACLETO
...,� ;"
o pioneirismode doisantigos
fotógrafos'da ilha.
Nas fotos deValdemarAnacleto
e no relatode NestorFernandes
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Dois apaixonadospela cidade
Karla Bastos
Um homem com pouco maisde 20 anos passava em São Joaquim com uma tropa de 120bois, há quase 50 anos atrás.Alguém lhe disse que ali mora
va seu primo-irmão e ele dirigiu-se à sua casa. O primo mos
trou-lhe sua parafernália fotográfica e as vantagens de trabalhar sem "fomefrio-x fora-decasa". O tropeiro ficou deslumbrado com sua própria imagemno papel e o fotógrafo ofereceuseu equipamento (máquina18x24, copiadeira, fórmula para revelação e esmaltadeira),por 2 contos de réis. Era o preçode mais da metade de sua tropa,mas o moço não resistiu. Juntocom sua preciosa aquisição elechegou em casa com algumaspoucas instruções escritas. Falou para a mulher que agoraficariam ricos.
Esta história é a de NestorFernandes, hoje com 74 anos,e que considera a fotografia como mais importante que o fotógrafo, "porque tem fotógrafoque nem sabe de fotografia".
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Quando voltou à cidade de
Lauro Müller, decidido a ser
fotógrafo, não foi nada fácildescobrir os segredos mais primários da nova profissão. DonaLina, sua companheira há 52anos, que nesta época já tinha5 dos 7 fiíhos, conta que "suaram" bastante até que achassem o tempo certo de exposição'do negativo à luz e descobrissem que deviam eliminar qualquer fresta na casa de madeirapara trabalhar totalmente no
escuro. Até aí Seu Nestor teve
que vender galinhas, os porcose o gado, para financiar o material fotográfico importado. Nãohavia ninguém que o ensinassea lidar com tudo aquilo e porsugestão da esposa comprouum pequeno manual de fotografia em Tubarão. Começouentão, a fotografar "pessoas,monumentos, vento (papel solto no ar) - como ele mesmo
descreve. Trabalhou sete anos
em Lauro Müller fotografandofestas e fazendo reportagens,geralmente encomendadas porpolíticos. Ele confessa, orgulhoso, que já fotografou cincopresidentes da República, entreeles Getülío Vargas e Nereu Ramos. Irineu Bornhausen, avô
do senador Jorge, convidou seu
Nestor para trabalhar no Palácio do Governo, mas ele nãoaceitou. Preferiu preservar sua
autonomia. Veio para Florianópolis em 56 e montou "FotoNestor" , no ponto final do ônibus Canto, onde utilizava má
quinas de diversos tanhanhos:24x30, 18x24 e 13x18 (para chamados de fora). Os trabalhosmais solicitados eram as fotos3x4 além das 5x7 preferidas para os galanteios entre namora
dos, que se presenteavam mu-,tuamente.
Alguns dos trabalhos destefotógrafo foram feitos na Serrado Rio do Rastro, onde a estrada era só um risco no meio domato. Dona Lina ficava pendurada num cipó para conseguiros melhores ângulos, enquantoele a segurava para que nãocaísse. Infelizmente todos estes
negativos foram perdidos num
incêndio no "Foto Nestor".Artesanal
Era a esposa, Carolina Fernandes, e os filhos, que ajudavam na produção das fotos.Elas tinham um picote característico. Além disso, era feito um
trabalho verdadeiramente ar-
tesanal para colorir as fotografiaS caso o cliente assim o preferisse. Eram pintadas a óleo,com cotonete (palito e algodão),e o excesso era limpado com gasolina. Ainda faziam retoquesnas fotos preto e branco com
'matolen'. Quando não eram
coloridas as fotos ficavam prontas em 24 horas. Caso contrárioo prazo de entrega era de doisdias.
Agora, o casal está aposentado. O fotógrafo anda um pouco esquecidó e doente: de vez
em quando vai ao hospital aspirar oxigênio. Gosta muito de falar sobre seu passado e admiraas pessoas que trabalham no
sentido de resgatar a memóriade um lugar.
Hoje trata a fotografia como
a terceira descoberta mais importante do mundo, precedidapelo satélite e pela física, e dizque a "melhor luz é a mente".Só lamenta que no mundo dehoje falte o romantismo, aindacultivado por ele. "Ela é a mu
lher mais linda do mundo, e sófico pensando no dia em quevou ter que deixá-la", diz seu
Nestor, confessando seu amor
a Dona Lina .
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FOTO: NESTOR FERNANDES
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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina