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1 | Página ACESSIBILIDADE EM E-LEARNING PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Potencialidades, entraves e necessidades ao nível do hardware e do software Vanessa Martins Brito Gonçalves Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos [email protected] INTRODUÇÃO Na sociedade dos nossos dias, onde a informação e as novas tecnologias desempenham um papel primordial, torna-se cada vez mais uma necessidade básica o poder/saber trabalhar com esses recursos. Cada vez mais, instituições, organismos públicos ou privados, informatizam os seus serviços, “obrigando” qualquer cidadão a adquirir competências no uso das TIC. Devido às suas características, estas podem efetivamente funcionar como um elemento de info-inclusão. Porém, para todos poderem ter as mesmas oportunidades, é necessário adaptar esses recursos a quem, por qualquer motivo, possui alguma limitação (física ou psíquica). Na verdade, as novas tecnologias poderão abrir portas que, até então, estariam eternamente fechadas a cidadãos portadores de deficiência. O e-learning tem-se fomentado em Universidades e outras Instituições de Ensino Superior há cerca de uma década e mais recentemente nas escolas de ensino básico e secundário. Todavia, só apenas nos últimos anos se tem dado a devida atenção à questão da acessibilidade. Mais uma vez, o suporte tecnológico revela-se uma mais- valia para estes indivíduos, os quais se transformam seus fieis utilizadores. Não obstante, as dificuldades técnicas continuam a ser muitas, e é ainda muito complexa a tarefa de criar ambientes de e-learning para cidadãos portadores de deficiência visual. Este trabalho pretende então contextualizar, de forma breve, o estado da acessibilidade no uso das TIC, nomeadamente no e-learning, sem que, previamente, sejam apresentadas algumas normas e tecnologias de acessibilidade à informática.

Acessibilidade em e-learning para indivíduos com deficiência visual

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artigo científico para 1.º Seminário de Educação Especial de Vila Nova de Gaia

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ACESSIBILIDADE EM E-LEARNING

PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Potencialidades, entraves e necessidades ao nível do hardware e do software

Vanessa Martins Brito Gonçalves

Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos [email protected]

INTRODUÇÃO

Na sociedade dos nossos dias, onde a informação e as novas tecnologias

desempenham um papel primordial, torna-se cada vez mais uma necessidade básica

o poder/saber trabalhar com esses recursos.

Cada vez mais, instituições, organismos públicos ou privados, informatizam os

seus serviços, “obrigando” qualquer cidadão a adquirir competências no uso das TIC.

Devido às suas características, estas podem efetivamente funcionar como um

elemento de info-inclusão.

Porém, para todos poderem ter as mesmas oportunidades, é necessário adaptar

esses recursos a quem, por qualquer motivo, possui alguma limitação (física ou

psíquica). Na verdade, as novas tecnologias poderão abrir portas que, até então,

estariam eternamente fechadas a cidadãos portadores de deficiência.

O e-learning tem-se fomentado em Universidades e outras Instituições de Ensino

Superior há cerca de uma década e mais recentemente nas escolas de ensino básico

e secundário. Todavia, só apenas nos últimos anos se tem dado a devida atenção à

questão da acessibilidade. Mais uma vez, o suporte tecnológico revela-se uma mais-

valia para estes indivíduos, os quais se transformam seus fieis utilizadores. Não

obstante, as dificuldades técnicas continuam a ser muitas, e é ainda muito complexa a

tarefa de criar ambientes de e-learning para cidadãos portadores de deficiência visual.

Este trabalho pretende então contextualizar, de forma breve, o estado da

acessibilidade no uso das TIC, nomeadamente no e-learning, sem que, previamente,

sejam apresentadas algumas normas e tecnologias de acessibilidade à informática.

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O QUE SE ENTENDE POR DEFICIÊNCIA VISUAL

Normalmente, associamos a expressão deficiência visual apenas a pessoas que

possuem perda total de visão (cegueira).

Porém, esquecemo-nos das muitas pessoas que, no seu dia a dia, se debatem

com problemas de integração e de acessibilidade, devido à perda parcial ou resíduo

mínimo de visão.

Assim, facilmente inferimos que um indivíduo portador de deficiência visual é

todo aquele que se vê limitado no seu desempenho, pela sua deficiência.

Existem muitas causas para este problema, mas as mais comuns são o

glaucoma e a catarata congénitos, a diabetes, as doenças infeciosas, a atrofia ótica e,

por vezes, as queimaduras ou acidentes.

1.1 Integração das pessoas com deficiência – evolução

Atualmente, nas sociedades mais desenvolvidas, debatem-se conceitos e

normas de integração e de acessibilidade para todos aqueles que, por alguma

limitação ou deficiência, se veem impossibilitados de aceder ou integrar-se nas coisas

mais banais, e por vezes essenciais, do quotidiano, para que assim possuam os

mesmos direitos, e também deveres.

Todavia, se espreitarmos um pouco o passado, apercebemo-nos que nem

sempre foi assim, e que só a partir do século XVIII é que as pessoas portadoras de

deficiência, nomeadamente invisuais, começaram a ser aceites e a integrar-se na

sociedade.

Inicialmente, durante as épocas primitivas, pensava-se que as crianças

deficientes eram possuídas por espíritos malignos, o que levava ao seu extermínio. Ao

contrário do que se possa pensar, apesar das condições de vida serem bastante

precárias, os casos eram poucos.

Contudo, mais tarde, e com o desenvolvimento de algumas religiões monoteístas,

(estes consideravam as crianças órfãs, os idosos e os cegos como protegidos), foram

criados alguns hospitais e asilos. Mas os deficientes continuavam a ser indivíduos sem

direitos ou igualdade.

A situação piorou drasticamente em pleno século XVI, quando Martinho Lutero

(fundador do Luteranismo), afirmou que os deficientes eram pessoas sem Deus,

influenciando assim todos os países que na época aderiram ao protestantismo.

O aparecimento do Iluminismo, da industrialização da sociedade e de alguns

deficientes ilustres, principalmente cegos, deram origem às primeiras conquistas

jurídicas e também alguma aceitação social.

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No século XX, com a declaração dos direitos da criança, em 1921, e

posteriormente a dos direitos do Homem, em 1948, abriram-se definitivamente as

portas à integração dos deficientes.

2. A QUESTÃO DA ACESSIBILIDADE

Acessibilidade é um conceito um pouco vasto que significa “aquilo que é

acessível” 1, ou seja, que pode ser abordado, utilizado por qualquer indivíduo.

Nos últimos anos, este tema tem sido bastante debatido e explorado em

contextos tão diversos como, o acesso das pessoas com deficiência a um edifício,

público ou privado, aos transportes e principalmente às tecnologias da informação e

da comunicação / e-learning.

Considera-se cidadão portador de deficiência aquele que, devido ao seu

problema, físico ou psicológico, enfrenta dificuldades específicas suscetíveis de lhe

limitar a atividade ou restringir a participação na vida social, económica e cultural.

Neste sentido, garantir a acessibilidade em todos os meios a estes cidadãos,

mais do que um dever, é possibilitar-lhes o exercício de cidadania e de autonomia.

2.1 O acesso à informática

O acesso à informática é, cada vez mais, uma questão fulcral nos dias de hoje.

Não é portanto de estranhar que se fale tanto de acessibilidade nesta área.

Em Portugal, para além do Ministério da Educação e da Ciência, existem outros

organismos que se debruçam neste campo, entre os quais se destaca o Instituto

Português da Qualidade2. Juntos, e seguindo os mesmos princípios, têm publicado

alguns documentos que regulamentam e definem um conjunto de critérios de

acessibilidade às Tecnologias da Informação e Comunicação.

Mas porquê o acesso à informática? Como todos sabemos, o computador é

progressivamente considerado uma ferramenta indispensável para qualquer atividade,

seja de trabalho ou de lazer. Esta ferramenta trouxe grandes benefícios para as

pessoas portadoras de deficiência, ficando estas seus fiéis utilizadores.

Contudo, apesar da sua imensa utilidade e versatilidade, a informática continua

a apresentar algumas lacunas no que concerne ao seu acesso por parte de pessoas

com limitações, limitações essas a nível de físico (hardware), e de navegação e

utilização de ferramentas (software).

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2.2 Tecnologias de acessibilidade visual

À medida que se vão debatendo e criando condições (leis, serviços, meios) para

a integração de pessoas portadoras de deficiência no mundo do trabalho e da

informação, vão-se igualmente concebendo dispositivos tecnológicos que possibilitem

essa mesma integração.

Neste ponto iremos apresentar algumas das tecnologias que permitem a

inclusão e a reabilitação de cidadãos portadores de deficiência: as chamadas ajudas

técnicas. Estas encontram-se previstas na lei e são comparticipadas pelo Estado.

Por vezes pode parecer impossível ou muito difícil imaginar como um utilizador

cego consegue utilizar o computador. Para ter uma ideia empírica de como isso

acontece, apague o monitor e continue a trabalhar. A tarefa torna-se impossível.

Nesse sentido foram criadas diversas tecnologias, entre as quais se destacam os

leitores de ecrã e as linhas Braille.

Outra das técnicas utilizadas por alguns utilizadores com limitações do foro

visual é alterar as características gerais de visibilidade, nomeadamente aumentar o

tamanho das letras ou modificar o contraste. Para este efeito são utilizados monitores

grandes e software de ampliação. Vejamos então alguns dispositivos e ferramentas:

2.2.1 Leitores e Ampliadores de Ecrã

Os leitores e ampliadores de ecrã são instrumentos

tecnológicos utilizados por pessoas invisuais, ou com

baixa-visão, no sentido de conseguir captar a informação

que se encontra num ecrã ou num monitor.

Estes aparelhos podem ser utilizados em conjunto,

ou em separado, consoante o caso, ou seja, dependendo

do grau de limitação do utilizador.

No caso de pessoas com baixa-visão, o recurso mais

adequado é o ampliador de ecrã (portátil ou fixo). Este permite

que a informação visual transmitida pelo computador seja

ampliada.

As pessoas com cegueira total recorrem aos leitores de ecrã,

dado que estes possibilitam a audição dos textos, utilizando, para isso, uma placa de

som ou sintetizador de voz. Também poderá fornecer informação táctil quando

associado a uma linha Braille.

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2.2.2 Linhas Braille

As linhas Braille são dispositivos utilizados juntamente com

leitores de ecrã, que servem para os utilizadores, cegos ou com baixa-

visão, poderem aceder, de forma táctil, à informação contida no monitor.

São compostas por uma fileira de células Braille eletrónicas que

podem reproduzir o texto presente no ecrã do computador e funcionam

como uma alternativa ao sintetizador de voz, ou um complemento deste.

Estes dispositivos têm sofrido uma grande evolução, podendo,

atualmente, também ser utilizados como terminais Braille independentes

ou bloco de notas.

2.2.3 Computadores Portáteis Braille

A oferta a nível de computadores portáteis Braille é já

considerável e podemos encontrar no mercado diversas

opções entre PDAs e Braille Notes.

Os PDAs apresentam características mais modestas e

básicas para o dia a dia, enquanto que os computadores

portáteis possuem já algumas características de robustez.

De entre outras aplicações, é já possível usufruir, nestes dispositivos, de ferramentas

tão úteis como um processador de texto, folha de cálculo, explorador de ficheiros,

calendário, lista de contactos, e-mail, acesso à Internet, capacidade de gerar a sua

própria tabela Braille, calculadora científica, entre outras.

Estes dispositivos permitem ainda imprimir diretamente para as impressoras

Braille ou impressoras normais e podem igualmente ser ligados a um monitor.

2.2.4 Impressoras Braille

As impressoras Braille são impressoras normais que, em

vez de imprimirem os caracteres a negro ou cores,

produzem pequenas saliências no papel que

representam os caracteres do alfabeto Braille.

Este tipo de impressão permite, aos cegos, a

leitura, em papel, de documentos produzidos por computador.

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2.2.5 Leitor de documentos

Os leitores de documentos são scanners especiais que digitalizam o documento,

reconhecem todo o texto e leem-no, de entre outras línguas, em

Português de Portugal, em apenas alguns segundos.

Não necessita de ser ligado ao computador, uma vez que

possui o seu próprio disco rígido, com espaço disponível para

mais de dez milhões de páginas.

2.2.6 Braille Note GPS

O Braille Note GPS é um dispositivo que, através dos satélites de

GPS (Global Positioning System), permite a qualquer pessoa com

perda de visão, saber onde está, usando para isso um recetor

GPS do tamanho de um telemóvel.

Este aparelho permite ainda programar as rotas normais

de deslocação, as lojas ou restaurantes preferidos, localizar a residência

quando volta para casa, encontrar paragens de autocarro ou de comboio, etc.

2.2.7 Openbook

O Openbook é um dispositivo que permite transformar

documentos de texto impressos, ou documentos gráficos baseados

em texto, em formato eletrónico, através de tecnologia de

reconhecimento de caracteres (OCR) e de síntese de voz.

O Openbook permite ainda utilizar um sintetizador de voz, suportando a maioria

destes dispositivos, por hardware.

2.2.8 Jaws

O Jaws, para WINDOWS, é um leitor de ecrã muito popular que

permite aos utilizadores com problemas de visão o acesso às

aplicações mais comuns e também à Internet.

Através do sintetizador de voz interno e da placa de som do PC, a

informação do ecrã é lida, possibilitando o acesso a uma larga variedade de

informação e a diversas aplicações de trabalho e educacionais.

Este programa permite igualmente o envio de informações para linhas Braille,

destacando-se assim dos outros leitores de ecrã, uma vez que facilita o acesso a esta

tecnologia.

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2.2.9 Magic

O Magic é um programa que combina funções de ampliação de

texto, com leitura de ecrã para baixa-visão, quando adquirido com

opção de voz.

Uma das suas particularidades é permitir escolher qual a informação que quer ler,

enquanto trabalha com as aplicações.

Este software é de fácil utilização: possui voz e ampliação de caracteres,

interface de utilizador com novas cores e também combinação de teclas que evitam

conflitos com o Windows ou outras aplicações.

2.2.10 Tradutores de Música

Como o próprio nome indica, os tradutores de música são

programas que “traduzem” as pautas musicais para a grafia Braille

musical.

Possibilitam, por isso, também a utilização destes recursos, por

parte de pessoas que deem aulas de música a pessoas com deficiência de visão,

transcrever uma pauta impressa, para formato Braille sem ter de aprender a grafia

Braille.

Os softwares de acesso a programas musicais são Scripts para o leitor de ecrã

Jaws, que permitem um melhor acesso a programas como Cakewalk3 e Sybellius

4 que,

pela sua interface demasiadamente gráfica, não permitem um trabalho fácil sem esta

ajuda.

2.2.11 Kits Multimédia

Existem, disponíveis on-line, alguns manuais digitais que poderão ser

consultados e de onde se poderá fazer o download de software e informação diversa

sobre o problema da acessibilidade. Assim, no site acessibilidade.net estão

disponíveis três kits:

KIT ACESSO (url: http://www.acessibilidade.net/at/kit/)

KIT Necessidades Especiais (url: http://www.acessibilidade.net/at/kit2004/index.htm)

KIT Tecnologias de Informação sem Barreiras no Local de Trabalho – Manual

Digital (url: http://www.acessibilidade.net/trabalho/index.htm)

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3. ACESSIBILIDADE AO HARDWARE

Os problemas de acessibilidade no hardware centram-se, essencialmente, no

transtorno que é, habitualmente, fazer pequenas ações num computador e respetivos

periféricos, tais como manusear botões, interruptores ou reguladores. Para dar alguns

exemplos comuns destes problemas, imaginemos como será, para um indivíduo cego,

ligar/desligar um PC, ligar/configurar uma impressora ou até mesmo introduzir/retirar

uma disquete ou CD-ROM.

Atendendo a todos estes exemplos supra mencionados, facilmente concluímos

que a solução mais eficaz seria a criação de um só programa que proporcionasse a

execução de todas estas etapas e fornecesse toda a informação necessária aos

utilizadores invisuais.

Outra questão relevante prende-se com a disposição e formatos dos botões dos

dispositivos. Estes nem sempre estão dispostos no melhor local e nem sempre têm o

melhor tamanho ou formato.

Neste sentido, a opção ideal seria que os botões estivessem colocados na parte

frontal do aparelho, possuindo um design côncavo. Estes não deveriam ainda ser de

pequena dimensão ou estarem muito juntos uns dos outros, para não causarem

confusão ou erro de utilização. Para além destas características, e no caso da

deficiência visual, seria aconselhável que os botões tivessem igualmente

acompanhamento sonoro das suas funções, bem como rótulos para uma mais fácil

identificação, ou informação em Braille.

Para evitar conflitos na utilização e manutenção dos diversos periféricos do

computador, é aconselhável evitar operações ou movimentos complexos. Os

elementos (ecrã, impressora, rato, etc.) devem ser independente do CPU,

possibilitando assim uma maior personalização e adaptação da máquina ao homem.

Outro aspeto que deverá ser levado em conta é a forma como estes aparelhos

ficarão dispostos. Devem estar bem regulados a nível de orientação e de altura e ter

uma sustentação estável e anti-deslizante.

As unidades de armazenamento amovível são muito utilizadas nos dias de hoje e

apresentam igualmente alguns problemas no seu uso por parte de pessoas com

deficiência visual. Existe o problema de introduzir corretamente estes materiais e

também das ranhuras onde devem ser inseridos.

Assim, deverá haver o cuidado de criar plataformas deslizantes para a sua

introdução, com botões ergonómicos de controlo, bem como avisos para o utilizador

para quando este insere incorretamente o dispositivo.

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Por fim, e no que concerne às impressoras e scanners, é aconselhável que estas

possuam bandejas de armazenamento de folhas, as quais sejam de fácil

manuseamento, ou seja, sem coberturas ou sem obrigatoriedade de retirar a bandeja

para colocar mais papel.

4. ACESSIBILIDADE AO SOFTWARE

A questão da acessibilidade ao software está estreitamente direcionada aos

programadores de software, os quais deverão ter em conta diversos aspetos na

criação de um programa informático.

Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que as limitações de interação com o

programa informático estão do lado da interface e não do lado do utilizador com

deficiência.

Em segundo lugar, é igualmente imprescindível que se tenha em conta as

diferentes dificuldades e limitações de uma pessoa deficiente e de quais as soluções

que as permitam ultrapassar.

Apesar de parecer complexa, esta tarefa poderá não ser tanto complicada se o

programador tiver em consideração alguns aspetos-chave: redundância a nível da

interação e da comunicação e compatibilidade com as tecnologias existentes.

No capítulo das tecnologias de acessibilidade visual, foram apresentados alguns

programas de ampliação ou leitura de ecrã, mais concretamente o Jaws e o Magic.

Não obstante, este tipo de software não resolve, por si só, alguns dos problemas que

podem ocorrer. Por exemplo, não é possível ler um gráfico ou uma imagem. De igual

forma, quando um utilizador com baixa-visão amplia a imagem, ou modifica o

contraste, poderá encontrar muitos problemas no manuseamento do rato.

Neste sentido, e no âmbito da deficiência visual, é absolutamente fundamental

que o programador possibilite a interação com o software e o acesso à informação,

tendo em conta que o utilizador o possa fazer recorrendo a diferentes elementos, tais

como: teclado, leitores de ecrã, opções de alto contraste do sistema operativo e

programas de ampliação.

No contexto dos Sistemas Operativos, existe já uma considerável preocupação

pela questão da acessibilidade. A Microsoft Office, por exemplo, disponibiliza algumas

opções, entre as quais, no campo da dificuldade visual, se destacam:

Suporte de alto contraste e cor personalizáveis;

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Capacidade de dimensionar e fazer zoom (lupa);

Atalhos do teclado;

Teclado no ecrã;

Menus e barras de ferramentas personalizadas.

Em suma, é muito importante que as aplicações e programas criados considerem

e respeitem a diferença, bem como a diversidade de características e necessidades

dos utilizadores com deficiência. Quanto mais simples, conciso e abrangente for a

aplicação, mais acessível será.

5. ACESSIBILIDADE WEB

A acessibilidade à Web consiste no acesso, por parte de pessoas com limitações

ou deficiência, à informação que circula na Internet. Para que esse acesso seja

realizado nas melhores condições, é necessário que se tenha em conta alguns

aspetos, tais como:

«A respetiva leitura possa ser feita sem recurso à visão, movimentos

precisos, ações simultâneas ou a dispositivos apontadores, designadamente

ratos;

A obtenção da informação e a respetiva pesquisa possam ser efetuadas

através de interfaces auditivos, visuais ou tácteis.»5.

Para avaliarmos a qualidade de uma página da Internet, ao nível da sua

acessibilidade, devemos apoiar-nos nas catorze Diretrizes de Acessibilidade ao

Conteúdo da Web6 do consórcio World Wide Web (W3C), as quais atestam os

requisitos de qualidade de um sítio Internet:

1. Fornecer alternativas ao conteúdo sonoro e visual;

2. Não recorrer apenas à cor;

3. Utilizar corretamente anotações e folhas de estilo;

4. Indicar claramente qual a língua utilizada;

5. Criar tabelas passíveis de transformação harmoniosa;

6. Assegurar que as páginas dotadas de novas tecnologias sejam

transformadas harmoniosamente;

7. Assegurar o controlo do utilizador sobre as alterações temporais do

conteúdo;

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8. Assegurar a acessibilidade direta de interfaces do utilizador integradas;

9. Pautar a conceção pela independência face a dispositivos;

10. Utilizar soluções de transição;

11. Utilizar as tecnologias e as diretivas do W3C;

12. Fornecer contexto e orientações;

13. Fornecer mecanismos de navegação claros;

14. Assegurar a clareza e a simplicidade dos documentos.

Assim, é com agrado que consultamos já diversos sítios Internet portugueses

que possuem funcionalidades de acessibilidade para cidadãos com deficiência, para

diferentes ambientes, equipamentos e navegadores, possuindo assim o símbolo da

acessibilidade.

6. ACESSIBILIDADE EM E-LEARNING

O ensino a distância evidencia enormes potencialidades no que respeita aos

indivíduos portadores de deficiência. Por um lado, permite o acesso a recursos e

conteúdos que, de outra forma, seria impossível, e consegue ainda com que estes

utilizadores se relacionem de uma forma mais natural com outros utilizadores, sem o

entrave da deficiência, ou os constrangimentos que daí poderiam advir.

Todavia, quando falamos em acessibilidade em e-learning, existem dois

celeumas cruciais, que se prendem com aspetos técnicos e metodológicos. Ambos

são fulcrais na criação deste tipo de ambiente: uma plataforma poderá possuir todas

as condições técnicas para ser acessível, mas os conteúdos poderão não estarem

estruturados para utilizadores invisuais; da mesma forma que um curso poderá estar

desenhado para indivíduos portadores de deficiência visual, mas os suportes

tecnológicos não permitirem o devido acesso a esses conteúdos.

Outra questão fundamental está relacionada com o facto de muito do trabalho

desenvolvido no ensino a distância ser feito através da Internet. Nos dias de hoje, e

apesar de haver já melhorias significativas neste campo, existem ainda inúmeros sites

que não cumprem com as normas de acessibilidade web criadas pelo W3C, não

permitindo assim a sua navegação por parte deste utilizadores “especiais”.

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Ainda no que concerne às ferramentas disponibilizadas por uma plataforma de

ensino a distância, poderão ser muitos os problemas a surgir, como, por exemplo, a

simples utilização de um Chat.

Sendo uma ferramenta de comunicação síncrona, num Chat, os utilizadores

escrevem e enviam mensagens muito rapidamente. Quando este processo tem de ser

feito através de um leitor de ecrã, esta poderá transformar-se numa tarefa complicada.

Estes dispositivos conseguem habitualmente trabalhar com algumas aplicações HTML,

mas nem sempre o utilizador consegue controlar a forma ou a ordem como as

mensagens são lidas. Assim, o que muitas vezes acontece, é que o leitor de ecrã vai

lendo todas as mensagens, à medida que estas vão chegando, por vezes quase

simultaneamente (se for um chat com vários utilizadores), tornando muito confusa, ou

quase impossível a perceção das mesmas, por parte do seu utilizador.

Neste contexto, e face às muitas dificuldades constatadas, são já alguns os

estudos e as iniciativas realizadas a nível mundial.

7. PROJETOS SOBRE ACESSIBILIDADE EM E-LEARNING

Nos últimos anos, e após algumas iniciativas mais tímidas, tem havido uma

aposta crescente no tema da acessibilidade no ensino a distância.

Um exemplo mais enraizado é a Hadley School for the blind, a qual lida com o

ensino a distância para cegos desde 1920. Inicialmente através de cassetes, telefone

ou Braille, esta instituição proporciona já alguns cursos a distancia, em diferentes

níveis de ensino.

Mais recentemente, na Alemanha, o projeto e-Learn-ViP7 (eLearning for visually

impaired persons), aprovado pelo organismo responsável pela Educação e Formação

da Comissão Europeia8, veio abrir novos horizontes e criar novas regras e critérios de

avaliação de cursos a distância. O referido projeto tem como objetivo principal

proporcionar o acesso ao e-learning, a indivíduos portadores de deficiência visual.

Para tal, e de uma forma uniformizada, foi feita uma avaliação dos cursos a

distância existentes nos países nele envolvidos, tendo-se criado posteriormente um

símbolo de qualidade. Ainda no seguimento do sucesso deste projeto e dos bons

feedbacks recolhidos, foi criado o consórcio: C4EA (Consortium for E-Learning

Accessibility)9, o qual é responsável por abranger a acessibilidade em e-learning a

outros tipos de deficiência.

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CONCLUSÃO

Após a realização deste pequeno estudo, e alguma reflexão, podemos retirar

algumas inferências.

Efetivamente o tema da acessibilidade é, cada vez mais, uma questão a refletir e

a trabalhar no futuro.

Neste contexto, as novas tecnologias desempenham um papel preponderante e

abrem muitas portas que antigamente estariam automaticamente fechadas a todos

aqueles que, por qualquer tipo de limitação, eram diferentes.

A igualdade de direitos e de acesso deve ser, mais do que uma necessidade,

obrigatória, sendo que as novas tecnologias proporcionam uma ponte para esse

acesso. Para tal, é necessário criar e adaptar os recursos (hardware, software e web)

para todos. Porém, esta tarefa é complexa e dispendiosa, dada a pouca oferta

existente e a pouca participação das entidades governamentais.

A construção de sites e de ambientes de e-learning acessíveis para cegos é

bastante difícil (ao nível da programação e da navegação), sendo o desenho de cursos

a distância altamente complicado. Mas a sua realização, de forma adequada e atenta,

poderá abrir um novo mercado de trabalho, que até então não existia.

A Acessibilidade continua a ser um tema desconhecido para muitas pessoas e a

exclusão social, uma realidade escondida.

NOTAS DE RODAPÉ

1- In Nova Enciclopédia Larousse, Vol. I (1997). Círculo de Leitores. Edição nº 3886.

2- Normas de acessibilidade para pessoas com deficiência: Norma prNP 4429:2003 e Norma

prNP4430:2003.

3- O Cakewalk é utilizado para criar todo o tipo de projetos musicais, desde demos de música, até jingles

de rádio ou CD’s para artistas profissionais.

4- O Sybellius permite, aos utilizadores invisuais, trabalhar com um programa de anotação musical.

5-In Resolução de Conselho de Ministros (97-99) sobre "Acessibilidade dos sítios da administração

pública na Internet pelos cidadãos com necessidades especiais".

6- Disponível no url: http://www.w3.org/TR/WAI-WEBCONTENT/.

7- Disponível no url: http://ec.europa.eu/education/programmes/elearning/projects/projects_2004/e-learn-vip.pdf

8- Disponível no url: http://ec.europa.eu/education/programmes/elearning/projects/041_en.html#7

9- Disponível no url: http://www.elearningeuropa.info/pt/article/Accessibility-guidelines-for-eLearning-systems-and-a-

Consortium-for-eLearning-Accessibility-results-of-E-Learn-VIP-proje

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BIBLIOGRAFIA

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URL: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/especial/Paginas/default.aspx

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Ataraxia (url: http://www.ataraxia.pt/)

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Tiflotecnia – Informática e Acessibilidade, Lda. (url: http://www.tiflotecnia.com/index.htm)

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ACAPO (url: http://www.acapo.pt/)

Centro de Inovação para Deficientes (url: http://www.cidef.org/)

Centro de Terapia Ocupacional (url: http://www.comunicacaoalternativa.com.br/adca/centro/Recursosdistribuidos.htm

CERCIFAF (url: http://www.cercifaf.pt/)

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Portal do cidadão com deficiência (url: http://www.pcd.pt/)

Royal National Institute of the Blind (url: http://www.rnib.org.uk/xpedio/groups/public/documents/code/InternetHome.hcsp)

SKILL - National Bureau for Students with Disabilities (url: http://www.skill.org.uk/)

SNPRID - Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência (url: URL: http://www.snripd.pt/)

TechDis (url: http://www.techdis.ac.uk/)

UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento (MCT-ES) (url: http://www.umic.pcm.gov.pt/UMIC/

Web Accessibility Initiative – Critérios de Acessibilidade WAI (url: http://www.w3.org/WAI/)

SITES DE ACESSIBILIDADE:

Acessibilidade em estado de sítio (url: http://www.euroacessibilidade.com/index.htm)

Acessibilidade.net (url: http://www.acessibilidade.net/)

Apple Education Solutions: Accessibility in Education (url: http://www.apple.com/education/accessibility/)

IBM Acessibility (url: http://www-306.ibm.com/able/access_ibm/disability.html)

Microsoft Office on-line – accessibility (url: http://office.microsoft.com/pt-pt/assistance/HA010347422070.aspx)

OUTROS SITES:

Ajudas.com (url: http://www.ajudas.com/)

Educare (url: http://www.educare.pt/NEDESP/Nedesp.asp)

Ergonomia de Interfaces WWW para cidadãos com Necessidades Especiais (url: URL: http://www.minerva.uevora.pt/simposio/comunicacoes/ergoweb/)

Informática no Ensino Especial (url: URL: http://student.dei.uc.pt/~gilliam/sf/sf.html#Interface)

LERPARAVER (url: http://www.lerparaver.com/convencao_direitos.html)