Acidentes Em Motorist As

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Universidade de So Paulo Faculdade de Sade Pblica

Acidentes e doenas do trabalho de profissionais do setor transporte: anlise dos motoristas no Estado de So Paulo, 1997 a 1999

Monica La Porte Teixeira

Dissertao apresentada ao Programa de PsGraduao em Sade Pblica da Faculdade de Sade Pblica para obteno do ttulo de Mestre em Sade Pblica. rea de Concentrao: Sade Ambiental Orientadora: Prof Dr. Frida Marina Fischer

So Paulo 2005

Acidentes e doenas do trabalho de profissionais do setor transporte: anlise dos motoristas no Estado de So Paulo, 1997 a 1999

MONICA LA PORTE TEIXEIRA

Dissertao apresentada ao Programa de PsGraduao em Sade Pblica da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Sade Pblica. rea de concentrao: Sade Ambiental Orientadora: Prof. Dr Frida Marina Fischer

So Paulo 2005

RESUMOTeixeira MLP. Acidentes e doenas do trabalho de profissionais do setor transporte: anlise dos motoristas no Estado de So Paulo, 1997 a 1999. So Paulo; 2005. [Dissertao de Mestrado - Faculdade de Sade Pblica da USP].Objetivo: Descrever e analisar os acidentes do trabalho ( acidentes-tipo, acidentes de trajeto, e doenas do trabalho) em motoristas residentes no Estado de So Paulo. Mtodos: Base elaborada a partir do banco de dados da Fundao

Seade/Fundacentro, composto dos dados coletados nas CATs notificadas na Previdncia Social do Estado de So Paulo, entre 1997 a 1999. Os casos de 14 567 motoristas foram categorizados em seis grupos. Taxas de incidncia, mortalidade e letalidade foram regionalizadas para o Interior, Regio Metropolitana de So Paulo e Municpio de So Paulo. Resultados: Os acidentes ocorreram aps, uma a trs horas, e depois de sete horas de trabalho. O grupo motorista em geral representou 33,9% dos acidentes do trabalho, os de caminho 32,4%, os de nibus 12,0%, os motociclistas 11,0%, os de caminho pesado 7,3% e outros 3,3%. A taxa de incidncia do Estado foi de 42,5 acidentes/1.000 trabalhadores do setor motoristas profissionais; para o Interior, 52,8; para Regio Metropolitana, 31,1 e para o Municpio 32,4. A mortalidade no Estado foi de 11,0 bitos/10.000 motoristas profissionais; 17,0/10.000 para o Interior e 6,6/10.000 e 5,0/10.000 para Regio Metropolitana e Municpio. Neste grupo profissional, o estado de So Paulo apresentou uma taxa de letalidade de 26,0 bitos/1.000 acidentes do trabalho, o Interior 32,1, a Regio Metropolitana 21,0 e o Municpio 15,4. No estudo da letalidade especfica, segundo estes agrupamentos criados e citados acima, os motoristas em geral destacaram-se com 33,9 bitos/1.000 acidentes para o Interior. Os motociclistas, para a Regio Metropolitana e o Municpio, apresentaram taxas prximas 11,9 e 12,2; respectivamente. Concluses: O clculo das taxas e a anlise de grupos especficos de motoristas possibilitou detectar especificidades na ocorrncia de acidentes, na mortalidade e letalidade. Os acidentes-tipo e a incapacidade temporria representaram a maioria dos eventos. As causas de acidentes e doenas relacionadas com o trabalho que atingiram a maioria dos motoristas foram: os choques/colises, o mal-sbito e a perda auditiva.

Descritores: Acidentes do trabalho, motoristas, motociclistas, motoristas de caminho, motoristas de nibus, doenas do trabalho.

SUMMARYTeixeira MLP. Acidentes e doenas do trabalho de profissionais do setor transporte: anlise dos motoristas no Estado de So Paulo, 1997 a 1999 [Injuries and work related diseases among the professionals of the transport sector in State of So Paulo, Brazil, 1997 to 1999]. So Paulo; 2005. [Dissertation for Master Degree School of Public Health of USP].Objective: To describe and analyze the work injuries (typical and commuting accidents and work- related diseases) of drivers living in the State of Sao Paulo, Brazil. Methods: The analysis was carried out using the Seade Foundation and Fundacentro data gathered from 1997 to 1999. This data bank includes the accidents reported to Social Security of State of Sao Paulo, Brazil. The studied population was composed of 14.567 drivers. The injuries were classified in six groups (general drivers, truck drivers, heavy truck drivers, motorcyclists, others. The incidence, mortality and lethality rates were classified in accordance to location: Municipality of Sao Paulo, Sao Paulo Metropolitan Area and inland (the rest of the State). Results: Most of the accidents occurred after one to three working hours and after seven working hours. The group general drivers suffered 33,9% of work accidents, truck drivers 32,4%, bus drivers 12,0%, motorcyclists 11,0%, heavy truck drivers 7,3% and others 3,3%. The incidence rate for the State of Sao Paulo was 42,5 accidents/1.000 professional drivers, 31,1% in Sao Paulo Metropolitan Area, and 32,4% in the Municipality of Sao Paulo. Mortality rate: the State showed 11,0 deaths/10.000 drivers, 17,0/10.000 inland of the State, 6,6/10.000 5,5/10.000 for Sao Paulo respectively for Metropolitan Area and the Municipality of Sao Paulo. The professional drivers showed the following lethality rates: the State of So Paulo: 26,0 deaths/1.000 work accidents, inland 32,1/1.000 accidents, Sao Paulo Metropolitan Area 21,0/1.000 accidents, and the Municipality of Sao Paulo 15,4/1.000 accidents.

The analysis of specific lethality rates showed the following results: the highest rate was found for all drivers category in inland 33,9 deaths/1.000 accidents. The motorcyclists presented close numbers for the Municipality of Sao Paulo and Sao Paulo Metropolitan Area: 12,2 and 11,9/1.000 accidents, respectively. Conclusion: The typical accidents and temporary disablement represent the greatest number of occurrences. The accidents and work- related diseases affecting the greatest number of drivers were: collisions, sudden illness, and hearing loss.

Keywords: Transportation sector, occupational injuries, professional drivers, motorcycle drivers, truck drivers, bus drivers, work-related diseases.

NDICE 1 INTRODUO1.1 A Histria e a Sade dos Trabalhadores 1.2 O Acidente do Trabalho 1.2.1 1.2.2 Atores e Sujeitos do Acidente do Trabalho O Contexto Institucional dos Acidentes do Trabalho na Amrica do Sul e Central 1.2.3 Legislao Brasileira sobre o Acidente do Trabalho: definio e conceito jurdico 1.2.4 Acidentes do Trabalho: definio de risco e conseqncias de tipo de acidente 1.2.5 1.2.6 1.2.7 1.2.8 Definio de Acidente Os Nmeros dos Acidentes do Trabalho O Custo do Acidente do Trabalho Fonte de Informao: comunicao de acidente do trabalho - CAT 1.3 Os Acidentes de Transporte 1.3.1 1.3.2 O Custo dos Acidentes de Trnsito Acidente de Trnsito e Acidente de Trabalho 18 19 23 24 26 27 29 31 34 10 12 13 17 8 7

11 7 7

1.4 Trabalhador: motorista 1.4.1 1.4.2 1.4.3 1.4.4 Condies de Trabalho e o Risco A Organizao do Trabalho Agravos Sade do Motorista e suas Conseqncias Levantamento sobre os Acidentes de Motoristas

2 OBJETIVOS2.1 2.2 Objetivo Geral Objetivos Especficos

4040 40

3 MTODOS3.1 3.2 3.3 Delineamento do Estudo Universo de Estudo Perodo de Referncia

4141 41 41

3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12 3.13 3.14 3.15

Geografia de Anlise Fontes de Dados Construo do Banco de Dados Seade/Fundacentro Elaborao da Base de Dados em Estudo Consolidao dos Dados Elaborao dos Agrupamentos de Motoristas Definio das Variveis em Estudo Definio e Elaborao dos Denominadores Freqncia e Cruzamento das Variveis Selecionadas Clculo dos Indicadores Agrupamento Geogrfico Softwares Utilizados no Estudo

42 42 43 45 46 47 56 58 60 60 61 61

4 RESULTADO E DISCUSSO4.1 Fontes e Bases de Dados 4.1.1 Limitao da Fonte de Dados 4.1.2 Vantagens da Base em Estudo 4.2 Caractersticas dos Acidentados 4.2.1 Idade 4.2.2 Estado Civil 4.2.3 Distribuio dos Grupos de Motoristas 4.3 Caractersticas dos Acidentes 4.3.1 4.3.2 Tipos de Acidente Hora do Acidente 4.3.2.1 Acidente-tipo 4.3.2.2 Acidente de Trajeto 4.3.2.3 Horas trabalhadas 4.3.3 4.4 Descrio do Acidente

6262 62 64 64 65 66 67 68 68 70 70 71 72 74 87 87 89 94 96

Conseqncia do Acidente 4.4.1 4.4.2 Tipo de Incapacidade e bito Partes do Corpo Atingidas

4.5

Anlise das Taxas de Incidncia, Mortalidade e Letalidade 4.5.1 Descrio das Taxas para o Total dos Motoristas

4.5.2

Descrio da Taxa de Letalidade para os Grupos de Motoristas 97

5 CONCLUSES 6 CONSIDERAES FINAIS7

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REFERNCIAS ANEXOSAnexo 1 - Formulrio de coleta de dados de acidentes do trabalho de motoristas Anexo 2 - Listagem da Varivel descrio do acidente Anexo 3 - Populao do Setor transporte de 18 a 69 anos Municpios do Estado de So Paulo e Regies, 1997, 1998 e 1999

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NDICE DE FIGURASFIGURA 1 Causas externas e acidentes de transporte Estado de So Paulo e Municpio de So Paulo, 1980 a 2003

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FIGURA 2 Agrupamento de motoristas criado com base nas tabelas do grupo de base da Classificao Brasileira de Ocupaes - CBO 55 FIGURA 3 Acidentes do trabalho de motoristas segundo faixa de idade Estado de So Paulo, 1997 a 1998 FIGURA 4 Acidentes do trabalho de motoristas segundo estado civil Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 5 Acidentes do trabalho tipo, segundo grupos de motoristas e nmero de horas trabalhadas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 6 Descrio dos acidentes e doenas do trabalho, segundo motorista em geral Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 7 Descrio dos acidentes e doenas do trabalho, segundo motociclistas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 8 Descrio dos acidentes e doenas do trabalho, segundo motorista de caminho Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 9 Descrio dos acidentes e doenas do trabalho, segundo motorista de caminho pesado Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 10 Descrio dos acidentes e doenas do trabalho, segundo motorista de nibus Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 11 Descrio dos acidentes e doenas do trabalho, segundo outros motoristas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 FIGURA 12 Caracterizao do territrio do Estado de So Paulo Diviso Poltica - Administrativa

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NDICE DE TABELASTABELA 1 Acidentes do trabalho segundo tipo de acidentes Brasil e Estado de So Paulo, 1970 a 2003 (N) TABELA 2 Projees do nmero de vtimas do trnsito, por regies, corrigida a subnotificao Regies Selecionadas, 1990 a 2020 (N e %) TABELA 3 Vtimas no fatais e fatais de acidentes de trnsito, por sexo Brasil, Regio Sudeste, Estado de So Paulo e Municpio de So Paulo, 2002 (N) TABELA 4 Distribuio dos acidentes do trabalho de motoristas, segundo agrupamentos criados Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 5 Distribuio dos acidentes do trabalho de motoristas, segundo agrupamentos criados e tipo de acidente Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 6 Distribuio dos acidentes do trabalho de motoristas, segundo agrupamentos criados e tipo de acidente Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %)

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TABELA 7 Acidentes-tipo, segundo grupos de motoristas e hora do acidente Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (%) 71 TABELA 8 Acidentes do trabalho de trajeto, segundo grupos de motoristas e hora do acidente Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (%) 72 TABELA 9 Principais descries dos acidentes, segundo os agrupamentos de motoristas e tipos de acidentes Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (%) 86 TABELA 10 Acidentes do trabalho de motorista, segundo conseqncia Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %)

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TABELA 11 Conseqncia dos acidentes do trabalho, segundo agrupamento criado Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %) 89 TABELA 12 Acidentes do trabalho de motorista em geral, segundo tipo e partes do corpo atingidas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %)

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TABELA 13 Acidentes do trabalho de motociclista segundo, tipo e partes do corpo atingidas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 14 Acidentes do trabalho de motorista de caminho, segundo tipo e partes do corpo atingidas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 15 Acidentes do trabalho de motorista de caminho pesado, segundo tipo e partes do corpo atingidas Estado de So Paulo, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 16 Acidentes do trabalho de motorista de nibus, segundo tipo e partes do corpo atingidas Estado de So Paulo e Regies, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 17 Populao do setor transporte de 18 a 69 anos Estado de So Paulo e Regies, 1997 a 1999 (N e %) TABELA 18 Taxa de incidncia, mortalidade e letalidade Estado de So Paulo, 1997 a 1999 TABELA 19 Taxas de letalidade, segundo agrupamento criado Estado de So Paulo e Regies, 1997 a 1999

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1 INTRODUO1.1 A Histria e a Sade dos TrabalhadoresA relao entre trabalho e sade/doena dos trabalhadores, constatada desde a Antigidade, nem sempre se constituiu em foco de ateno. No trabalho escravo ou no regime servil, inexistia a preocupao em preservar a sade dos que eram submetidos ao trabalho. O trabalhador, o escravo, o servo eram peas de engrenagens naturais pertencentes terra, assemelhados a animais e ferramentas, sem histria, sem progresso, sem esperana terrestre, at que, consumidos seus corpos, pudessem voar livres pelos ares ou pelos cus da metafsica (NOSELLA 1989). O capitalismo, desenvolvido no fim do sculo XVIII e incio do sculo XIX, socializou um primeiro objeto que foi o corpo enquanto fora de produo e trabalho (FOUCAULT 1988). As palavras de FOUCAULT (1988) moldam este conceito: "o capitalismo socializou um primeiro objeto que foi o corpo enquanto fora de produo, fora de trabalho. O controle da sociedade sobre os indivduos no se opera simplesmente pela conscincia ou pela ideologia, mas comea no corpo, com o corpo. Foi no biolgico, no somtico, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O corpo uma realidade bio-poltica. A medicina uma estratgia bio-poltica" (p.80). A medicina moderna uma medicina social que tem uma tecnologia do corpo social . No incio do sculo XIX, no perodo da Revoluo Industrial, surgiu na Inglaterra, a medicina do trabalho como especialidade mdica, quando a fbrica passa a ser o locus das relaes produtivas. A medicina, alm dos cuidados com a sade da populao, passou tambm a intervir no ambiente de trabalho, em busca de ateno sade dos trabalhadores para que o seu adoecimento no acarretasse fraturas nos interesses do capital. Ao mdico cabiam todas as responsabilidades de manuteno e controle da fora de trabalho. Surge assim, em 1830, o primeiro servio de medicina do trabalho (DEJOURS 1998; GOMEZ-MINAYO e THEDINCOSTA 1997; MENDES e DIAS 1991). MENDES e DIAS (1991) apontam que "estes deveriam ser servios dirigidos por pessoas de inteira confiana do empresrio e que se dispusessem a defend-los;

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deveriam ser servios centrados na figura do mdico; a preveno dos danos sade resultantes dos riscos do trabalho deveria ser tarefa eminentemente mdica; a responsabilidade pela ocorrncia de problemas de sade ficava transferida para o mdico" (p.342). Esta prtica ganha uma dimenso maior nos pases em processo de desenvolvimento, com absoluta carncia de servios mdicos. O mdico passa no s a controlar a fora de trabalho, como a intervir no ambiente domstico atravs da famlia, adicionando uma fora extra ao controle da fora de trabalho da administrao. Assim, o mdico da empresa passa a selecionar os mais aptos, controlar o absentesmo e gerenciar o retorno ao trabalho, em casos de doenas ou acidentes. O mdico passa, ento, a controlar a produo. A medicina do trabalho, ao isolar riscos especficos, atua sobre suas conseqncias, medicalizando em funo de sintomas e sinais ou associando-os a uma doena legalmente reconhecida. Desta forma, no capaz de superar o enfoque biolgico, ignorando outros fatores que envolvam as relaes psicossociais que trazem conseqncias para a sade do trabalhador (GOMEZ-MINAYO e THEDINCOSTA 1997). No exerccio da medicina do trabalho, deve-se observar a quem ela est servindo: se ao capital, controlando o ndice de absentesmo e selecionando os trabalhadores mais saudveis para o exerccio de determinada tarefa, ou ao trabalho, apontando onde e como se localizam as origens para os diversos adoecimentos no trabalho (SELIGMANN-SILVA 1990). Para entender o adoecer dentro do processo de trabalho, necessrio perceber quem o trabalhador que adoece e de que forma ele est inserido no processo produtivo. A interveno somente no corpo no suficiente para um diagnstico que formule teraputicas eficazes, diante dos milhares de casos de doenas decorrentes de ambientes insalubres e de processos de trabalho mal dimensionados. Esta temtica reforada pelos autores GOMEZ-MINAYO e THEDINCOSTA (1997) quando afirmam que, nem sempre, as doenas adquiridas no ambiente de trabalho apresentam sintomas que as diferenciam de outras patologias. Fica, ento, difcil, para a medicina do trabalho, identificar processos danosos sade que no tenham nexo claro com a exposio a um agente exclusivo.

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O papel da medicina do trabalho, como afirmam, GOMEZ-MINAYO e THEDIN-COSTA (1997), "no pode ficar circunscrito apenas a obter adicional de insalubridade ou periculosidade, de instalar equipamentos de proteo, de diagnosticar nexos causais entre o trabalho e a sade, com vistas a obter benefcios da previdncia social, embora tais procedimentos possam representar etapas de uma luta maior, que chegar s razes causadoras dos agravos, mudana tecnolgica ou organizativa que preside os processos de trabalho instaurados" (p.26). Aps a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento de novas tecnologias com engrenagens pesadas, novos instrumentos, a chegada de produtos qumicos e a fragmentao crescente das tarefas trazem em seu bojo uma crescente demanda por interveno no ambiente de trabalho. Tal processo tambm ocasiona o deslocamento do papel do supervisor para a prpria mquina, e esse passa a exercer formas abusivas de controle da produo atravs da obrigatoriedade da execuo de tarefas mais intensas ou montonas. Estas demandas trazem novas repercusses sade dos trabalhadores e se traduzem no crescimento do nmero de acidentes e no aumento das doenas. Isso exige uma ateno de que a medicina, sozinha, no pode dar conta. Desta forma, o aspecto descrito por OLIVEIRA (1996) evidencia outro diferencial desta abordagem voltada para a relao sade/doena e o ambiente de trabalho: "a luta a ser travada no campo da morte e do adoecimento do trabalhador que se d a partir do processo produtivo, deve estar circunscrita questo da preveno e no, como hoje ocorre, prioritariamente associada reparao" (p.128). Assim se cai no conceito de Sade Ocupacional, que se apresenta como multidisciplinar porque envolve profissionais de reas distintas (PORTO 1994). A respeito do mesmo tema, h o enfoque apresentado pelos autores GOMEZMINAYO e THEDIN-COSTA (1997), ao afirmarem que a sade ocupacional incorpora a teoria da multicausalidade, na qual um conjunto de fatores de risco considerado na produo da doena, avaliada atravs da clnica mdica e de indicadores ambientais e biolgicos. Surge, no cenrio internacional, a emergncia de novos valores oriundos dos movimentos sociais organizados e preocupados com a questo da sade no trabalho. A avaliao de sade do trabalho vem sendo incorporada s prticas de Sade Pblica, incluindo setores sindicais e acadmicos (MENDES e DIAS 1991).

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Estes movimentos, originrios de pases desenvolvidos, questionam, entre outros pontos, os valores da vida e da liberdade, o significado do trabalho na vida do indivduo e o papel do Estado na regulamentao do valor do trabalho. Tais movimentos sociais querem, acima de tudo, participao nas questes de sade e segurana no trabalho. Na Itlia, o Estatuto dos Direitos dos Trabalhadores, Lei 300, de 20/05/70, incorpora as principais reivindicaes do movimento dos trabalhadores em busca de melhores condies de trabalho. Entre elas, est a no-monetarizao do risco, a nodelegao da vigilncia da sade ao Estado e a tcnicos estranhos ao trabalhador, a validao do saber operrio atravs de estudos independentes a partir de grupos homogneos de risco (FACCHINI et al. 1991; MENDES e DIAS 1991; ODDONE et al. 1986; SIVIERI 1995).Estas discusses ressoam em vrios pases e encontram pontos comuns em torno de direitos fundamentais. Para MENDES e DIAS (1991), esto entre eles: o direito informao e recusa ao trabalho em condies de risco grave para a sade ou para a vida; o direito consulta prvia aos trabalhadores pelos empregadores, antes das mudanas de tecnologias, mtodos, processos e formas de organizao de trabalho, e o estabelecimento de mecanismos de participao, desde a escolha de tecnologia at, em alguns pases, a escolha de profissionais que iro atuar nos servios de sade no trabalho. O apogeu da sociedade capitalista industrial ocorreu no ps-2 Guerra Mundial e se estendeu at meados da dcada de 1970, e nesta dcada que surgem, no mundo do trabalho, algumas transformaes que repercutem na sade do trabalhador. As grandes indstrias deslocam-se para pases do Terceiro Mundo em busca de mo-de-obra mais barata, levando consigo tecnologias degradantes e poluidoras do meio-ambiente. Com o surgimento de novas tecnologias, principalmente de informatizao e automatizao, o trabalhador passa a sofrer cada vez mais com um processo de trabalho de ritmo intenso e de tarefas que se conservam fragmentadas, em sua maioria ou em muitos casos. O mito da sociedade salarial foi consolidado em fundamentos que propunham a garantia do emprego estvel, bem pago e por tempo indeterminado, como um sistema de proteo velhice e famlia (WNSCH FILHO 2003). Os cidados do sculo identificaram

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no emprego formal sua condio de insero na sociedade (DUPAS 1998b). Mas, na realidade, o avano da cincia e da tecnologia no trouxe benefcios ou modificaes que fossem benficos vida dos trabalhadores e que lhes permitissem satisfazer suas necessidades sequer materiais, como fonte tradicional de sentido de vida. Os trabalhadores dos pases subdesenvolvidos, excetuando-se parcelas muito restritas, de fato, nunca chegaram a compartilhar as benesses de uma sociedade salarial. No Brasil, os metalrgicos do ABC (Santo Andr, So Bernardo e So Caetano do Sul) paulista formavam, no final dos anos 1970, uma ilha de trabalhadores diferenciados quanto aos vnculos salariais, dentro de um sistema de relaes de trabalho bem estruturadas. A concepo do trabalhador como pensamento e movimento de atuao (MENDES e DIAS 1991) tem suas origens junto a essas parcelas de trabalhadores que esboavam um modelo de sociedade salarial e que formavam a liderana sindical no incio da dcada de 80, poca em que, no Brasil, acontecia o incio da transio democrtica. Os sindicatos organizados tinham poder de negociao na defesa do mercado de trabalho e obtinham efetivamente ganhos sociais. Mas o trabalho assalariado caracterstico do perodo das dcadas de 50 a 70, alm de envolver o clssico trabalhador da indstria, tornou-se predominante nas relaes de emprego para o pessoal de escritrio, gerentes e executivos, e mesmo os membros de profisses liberais como mdicos, advogados, foram envolvidos pelas relaes de salrio (WNSCH FILHO 2003). A sade do trabalhador busca a explicao sobre o adoecer e o morrer das pessoas, dos trabalhadores em particular, atravs do estudo dos processos de trabalho, de forma articulada com o conjunto de valores, crenas e idias, as representaes sociais e a possibilidade de consumo de bens e servios, na moderna civilizao urbano-industrial (DIAS 1991). O movimento do mundo do trabalho em busca do aumento do lucro e da produtividade foi acompanhado de perto pelos trabalhadores, que viram as jornadas e o ritmo de trabalho serem intensificados pelo fechamento de postos de trabalho, para a introduo de inovaes tecnolgicas e todas aquelas "novidades" criadas pelo capital (SELIGMANN-SILVA 1990).

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Esta convivncia estreita com o processo produtivo d ao trabalhador autoridade para questionar suas repercusses sobre a sade. Desta forma, outra questo de grande importncia dentro dos pressupostos da sade dos trabalhadores se refere valorizao do saber operrio, saber este forjado na experincia cotidiana diante do processo de trabalho e que entende o trabalhador como fundamental em aes que visem as melhorias das relaes de trabalho. Nesta histria, os trabalhadores assumem o papel de atores, de sujeitos capazes de pensar e de se pensarem, produzindo uma experincia prpria no conjunto das representaes da sociedade (DIAS 1991). importante acrescentar que, nesta abordagem, os diferentes olhares das diversas disciplinas no so simples somatrios, mas o surgimento de um novo olhar. Trata-se, portanto, de um ponto de vista que aponta os enfoques interdisciplinar e interinstitucional como preponderantes para a construo do campo da sade do trabalhador. Compreender a expresso sade do trabalhador implica, segundo MELO (1993), ter como pano de fundo o prprio entendimento de sade coletiva, o qual se constituiu nas ltimas dcadas e trouxe discusso a categoria qualidade, na medida em que recorta a questo sade numa leitura associada ao questionamento sobre em que condies de vida e de trabalho a sociedade brasileira viveu e vive o seu desenvolvimento e, ao tentar entender quais so as necessidades e problemas dessa sociedade, procura equacion-los e enfrent-los. Compreender as principais mudanas no mundo do trabalho, com a manuteno das condies e da organizao da produo, trouxe conseqncias para a sade do trabalhador. O trabalho sempre foi a prpria essncia da atividade humana. No entanto, continua-se a ver os trabalhadores adoecerem e morrerem no exerccio da atividade laborativa. Cabe, ento, um entendimento sobre a dicotomia sade e doena dentro do processo de trabalho. As mudanas imprimidas a estes meios de trabalho sero retratos fidedignos da sociedade na qual o homem est inserido. Logo, representam as condies sociais e histricas nas quais o trabalhador se encontra. Por conseqncia, a sade do trabalhador ser um reflexo dessas dadas condies.

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1.2 O Acidente do Trabalho

1.2.1 Atores e Sujeitos do Acidente do Trabalho

A preocupao pela sade e segurana dos trabalhadores se constitui em um tema de grande relevncia. Interessa a vrios sujeitos e distintos atores sociais, muito especialmente aos trabalhadores, aos empregadores, assim como ao Governo e, dentre estes, a todos os que trabalham, pensam e estudam atravs da tica da sade e do trabalho, at mesmo os dirigentes do Seguro Social. Todos tm motivos para preocupar-se com o tema. Os trabalhadores especialmente, pois, de repente, de trabalhadores podem passar a acidentados, vtimas dos acidentes do trabalho com vrios nveis de incapacidade para o trabalho, com distinta durao, quando no, com a morte. Aos empregadores conscientes e sensatos no interessam os riscos do trabalho, muito menos sua materializao em danos sade de seus empregados. Mais que um problema humanitrio e de respeito aos direitos da cidadania, sade e segurana no trabalho representam tambm um problema econmico. Para o Governo, o problema de sade e segurana no trabalho tem interfaces com o sistema produtivo e de desenvolvimento da riqueza nacional. Interessa

diretamente a quem tem a tarefa de lidar com a formao e o desenvolvimento da mo-de-obra, da fora de trabalho e dos recursos humanos; com as relaes de trabalho, as condies e os ambientes de trabalho; com a assistncia mdica dos trabalhadores e a quem tem como tarefa observar o problema desde a perspectiva de prevenir a perda de capacidade para o trabalho, buscar sua recuperao, ou pelo menos, reparar economicamente sua perda, para que o trabalhador possa ter os meios indispensveis para sua subsistncia e para seus dependentes (MTE 1997).

1.2.2 O Contexto Institucional dos Acidentes do Trabalho na Amrica do Sul e Central

Na Amrica do Sul e Central, so encontrados inmeros riscos, acidentes e doenas de trabalho que vo desde os riscos prprios de uma sociedade em

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desenvolvimento at aqueles criados em ambientes de avanada tecnologia, sem ignorar que existem cenrios de grandes atrasos e desigualdades. O conjunto de pases da Amrica do Sul e Central, incluindo Caribe e Mxico, formado por trinta e trs pases. A heterogeneidade de dimenses, os aspectos culturais e fsicos so caractersticas da regio. O percentual da populao urbana, em 1998, foi de 70% para Amrica do Sul e 53% para a Central. O produto interno produto (PIB) per capita, em dlares americanos, em 1998, foi de 4.407 para a Amrica do Sul e 1.527 para a Amrica Central. Em comparao com o PIB norteamericano, foi de 23.220. O ndice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,758 para a Amrica do Sul e Central (SCHUBERT 2001).

1.2.3 Legislao Brasileira sobre o Acidente do Trabalho: definio e conceito jurdicoO primeiro texto legal brasileiro a abordar o acidente do trabalho foi o Cdigo Comercial de 1950. Em seu artigo 78 l-se: Os agentes de comrcio so responsveis pelos preponentes, por todo e qualquer dano que lhes causarem por malversao, negligncia culpvel, ou falta de exata e fiel execuo das suas ordens e instrues, competindo at contra eles ao criminal no caso de malversao. Sua abrangncia, porm, era limitada aos trabalhadores do mbito do comrcio. O Cdigo Civil de 1916 resguarda este direito em seu artigo 159: Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito ou causar prejuzo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. Todos os estatutos legais supramencionados adotam a teoria da culpa aquiliana, ou seja, a responsabilidade pelo dano era de natureza extracontratual. Cabia ao trabalhador provar a culpa do empregador. Como ressalta Martins (1997), o operrio, porm, no conseguia fazer a prova do acidente quanto culpa do empregador, pois as testemunhas que arrolava no compareciam, visto que eram oriundas da prpria empresa, por ficarem com medo de serem despedidas pelo patro (WALGVOGEL, 1999). A Lei n. 3.724, de 1919 a primeira a abordar o acidente do trabalho como categoria especial do termo genrico dano ao trabalhador. Adotou o legislador a teoria do risco profissional em detrimento da culpa aquiliana. A partir de ento, cria-

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se uma responsabilidade objetiva do empregador no que tange ao acidente do trabalho, ou seja, o empregador responde por todo e qualquer acidente do trabalho sem que seja necessrio o trabalhador provar a culpa do mesmo. Por se tratar de uma presuno jris tantum, o que significa que, mesmo sendo estabelecida pelo Direito, relativa, cabendo ao empregador o nus de provar o dolo do trabalhador. No responde o empregador por fora maior, dolo da vtima ou dolo de terceiros (WALDVOGEL 1999). As leis sobre acidentes do trabalho foram sendo redefinidas e reelaboradas com o correr do tempo , com a mudana organizacional do trabalho, com o controle do emprego, a concepo de risco profissional que procurou identificar os fatores de risco e detectar as diferenas segundo os diversos agentes desencadeadores dos processos de acidentes do trabalho (MACHADO e GOMEZ 1995) e, ainda, com as mudanas nas relaes sociais do trabalho que, segundo DWYER (1994), a maneira pela qual gerenciado o relacionamento entre uma pessoa e seu trabalho. No ficando de lado a evoluo do seguro acidentrio, a finalidade e os princpios bsicos da Previdncia Social. Assim a partir de 1991, passa a vigorar no Brasil a Lei n. 8.213 sobre acidentes do trabalho, cujo texto resumido : Acidente do trabalho todo aquele que ocorre pelo exerccio do trabalho, a servio da empresa, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou a reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho (artigo 19). Consideramse ainda como acidentes do trabalho, outras entidades mrbidas, tais como as doenas profissionais, os acidentes ligados ao trabalho, embora o trabalho no seja a nica causa que haja contribudo para a morte ou a leso do segurado; os acidentes ocorridos no local de trabalho; os desabamentos; as inundaes; os incndios e outros, provenientes de contaminao acidental no exerccio da atividade; os acidentes, ainda que ocorridos fora do horrio ou local de trabalho, na execuo de ordem da empresa, mesmo para estudos ou realizao de servios externos; no percurso da residncia para o local de trabalho ou deste para aquela (artigos 20 e 21).

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Por sua vez, a Lei acidentria n. 6.367, de 1976 tem bem explcita a tipificao dos acidentes do trabalho em acidentes-tipo, acidentes de trajeto e doena do trabalho, explanados no pargrafo anterior. - Acidente-tipo: o evento prejudicial sade do trabalhador, ocorrido de forma concentrada no espao e no tempo, em determinado momento e lugar. Isto , so os acidentes decorrentes da atividade profissional desempenhada pelo trabalhador. - Acidente de trajeto: o acidente sofrido pelo empregado, ainda que fora do local e horrio de trabalho, no percurso da residncia para o trabalho ou deste para aquela. Nos perodos destinados s refeies ou descanso, ou por ocasio da satisfao de outras necessidades fisiolgicas no local de trabalho ou durante este. - Doena do trabalho ou profissional: aquela resultante de condies de trabalho agressivas sade do indivduo. Sendo ento os acidentes ocasionados por qualquer tipo de doena peculiar a determinado ramo de atividade (WALDVOGEL 1999).

1.2.4 Acidentes do Trabalho: definio de risco e conseqncia de tipo de

acidenteDe acordo com as definies embasadas na Lei n.6.367, um trabalhador sofre um acidente do trabalho quando uma das trs situaes verificada: - vitima de um acidente tipo, de um acidente de trajeto ou de qualquer tipo de doena profissional. Assim, os riscos e estressores de ocorrncia de acidente, especialmente do primeiro e do terceiro variam para cada ramo de atividade econmica, em funo de tecnologias e condies de trabalho, caractersticas da mo-de-obra empregada e medidas de segurana adotadas, entre outros fatores. A natureza do risco definida (MPS 2004): ...compreendem agentes mecnicos que em geral produzem feitos de forma sbita e leses do tipo traumtico acidentes do trabalho de agentes fsicos, qumicos e biolgicos, causadores de doenas profissionais. Acrescentam-se os riscos ergonmicos e, com importncia crescente, fatores psicossociais com repercusso em especial sobre a sade mental dos trabalhadores. Mudanas nas

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tecnologias

e

nas

formas

de

organizao

do

trabalho,

informatizao,

descaracterizao da empresa como nico local de trabalho e trabalho em domiclio, criando novas formas de risco... Ocorrido um acidente do trabalho, suas conseqncias podem ser categorizadas: - Simples assistncia mdica o trabalhador segurado recebe atendimento mdico e volta imediatamente s suas atividades profissionais (MPS 2004). - Incapacidade temporria o trabalhador segurado fica afastado do trabalho por um perodo, at que esteja apto para retomar sua atividade profissional. Para a Previdncia Social importante particionar esse perodo em inferior a 15 dias e superior a 15 dias, uma vez que, no segundo caso, gerado um benefcio pecunirio, o auxlio-doena por acidente do trabalho (MPS 2004). - Incapacidade permanente o trabalhador segurado fica incapacitado de exercer a atividade profissional que exercia poca do acidente. Essa incapacidade permanente pode ser total ou parcial. No primeiro caso, o segurado fica impossibilitado de exercer qualquer tipo de trabalho e passa a receber aposentadoria por invalidez. No segundo caso, o segurado recebe uma indenizao pela incapacidade sofrida, auxlio-acidente, mas considerado apto para o

desenvolvimento de outra atividade profissional (MPS 2004). - bito o trabalhador segurado falece em funo do acidente do trabalho (MPS 2004). A avaliao da incapacidade parcial permanente no segue um critrio para todos os pases. A atribuio de pesos e taxas de invalidez, alm de diferente, , em alguns casos, incompleta. A situao ainda mais crtica para as ocorrncias de leses mltiplas e para os acidentados com leses preexistentes (MPS 2004). No Brasil, a Norma Brasileira de Cadastro de Acidentes, cujo objetivo fixar critrio para algumas situaes de perda de membros, de viso e de audio, determina que, para efeito de contagem de dias perdidos de trabalho se houver leses mltiplas, devem ser acumulados os pesos atribudos ocorrncia. O simples critrio de acumulao pode gerar situaes em que os pesos para todas as leses superam o peso atribudo morte (MPS 2004).

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Finalmente, conhecidos o risco e os tipos de conseqncias de acidentes, as empresas, os empregadores, devem procurar minimiz-los implantando medidas preventivas. O primeiro passo no sentido de prevenir acidentes reunir um conjunto de estatsticas confiveis que permita gerar indicadores. fato, reconhecido at mesmo por tcnicos da OIT, que conseguir retratar 100% dos acidentes ocorridos uma tarefa muito difcil, uma vez que alguns empresrios deliberadamente no notificam as ocorrncias. Alm disso, as estatsticas dos acidentes do trabalho, no Brasil especificamente, so as disponveis no Ministrio da Previdncia Social, ou seja, aqueles acidentes ocorridos com segurados sob regime de CLT. Portanto, a estatstica global de acidentes do trabalho maior, porm no h fontes para mensur-la (MPS 2004).

1.2.5 Definio de Acidente

A palavra acidente, de acordo com o dicionrio da lngua portuguesa, um substantivo masculino que designa acontecimento casual, fortuito, imprevisto. Outro sentido ainda para o termo acidente o de acontecimento infeliz, dano, estrago, prejuzo, avaria, runa, desastre (FERREIRA 1995). Na literatura tcnica, as referncias relativas a acidentes so origens de causas remotas e desconhecidas, eventos no planejados, no previstos, falta de inteno (HALE e HALE 1972; BROWN 1992). Para os trabalhadores, as referncias aparecem como produtos de falta de sorte, ou azar ou, ainda, descuidos da prpria vtima (ALMEIDA et al. 2003). Em 1972, HALE e HALE destacaram a existncia de diferenas no conceito de acidente do trabalho adotado em diversos estudos. Segundo os autores, este fato decorre, entre outros fatores, da influncia da fonte de informaes e da classificao de gravidade de leses usadas nos estudos. BROWN (1992) aponta as possibilidades de interferncias dos interesses do grupo profissional que conduz a investigao na definio de acidente. Assim, para psiclogos, o acidente pode ser definido como falha para agir corretamente numa dada situao. Por outro lado, mdicos tenderiam a considerar acidentes como sinnimo de leso. Mas BROWN (1992) adota a seguinte definio de acidente: resultado no planejado de um

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comportamento imprprio. Para DEJOURS (1997), o encaminhamento da investigao acerca do papel do fator humano nos acidentes assume dois caminhos: o da falha humana e o dos recursos humanos. Do ponto de vista prtico, o primeiro prioriza a abordagem de falhas, desrespeito a regras, erros ou faltas cometidas no trabalho e a defesa de regulamentos, da disciplina, da vigilncia e de instrues direcionadas para o controle das aes. Porm comum a todas as atividades profissionais e a todos os pases, sendo este evento observado nos mais distintos perodos histricos, o acidente do trabalho faz parte do cotidiano da classe trabalhadora, classificando-se como um srio problema de sade pblica mundial (OIT 2004). No Brasil, ainda muito comum que o acidente do trabalho seja considerado resultado de um ato inseguro e de condies inseguras (ALMEIDA 2001, 2003; BINDER e ALMEIDA 1997), recaindo a culpa sobre o trabalhador que, na nsia de realizar sua funo, no tomou os devidos cuidados necessrios, ou que, na introduo de uma nova tecnologia, esse trabalhador no soube adaptar-se provocando um acidente (TEIXEIRA e FREITAS 2003). Compreendido como um agravo sade que mantm relao direta com o processo de trabalho e a leso, o acidente do trabalho pode causar srios danos fsicos ou psquicos ao trabalhador (CORREA FILHO 1994), sendo o mais grave sua morte (WALDVOGEL 2001); segundo LACAZ (1999) os trabalhadores, no exerccio dirio de suas atividades laborativas, esto sujeitos aos mais distintos infortnios, sendo o acidente do trabalho, no Brasil, o principal evento mrbido entre a classe trabalhadora (WNSCH FILHO 1999).

1.2.6 Os Nmeros dos Acidentes do TrabalhoSegundo dados mundiais da Organizao Internacional do Trabalho OIT, os acidentes do trabalho causaram, em 1994, um total de 335 mil mortes em acidentes tpicos que se somam a um total de 158 mil mortes por acidentes do trabalho durante o trajeto e 325 mil mortes por doenas relacionadas ao trabalho, que totalizam 818 mil mortes no ano de 1994. Alm desses dados, ocorrem anualmente 240 milhes de acidentes e 160 milhes de doenas ocupacionais (TAKALA 2002).

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Para o ano de 2004, dez anos depois do ltimo levantamento, os dados estatsticos mundiais da OIT mostram que os acidentes de trabalho no mundo, fatais ou no, ainda so numerosos, esto na casa de 270 milhes por ano. Os acidentes fatais chegam a 350 mil por ano. Os casos de doenas profissionais apontam 160 milhes de casos por ano, sendo que 1,65 milhes so fatais. Um tero dos casos de doenas profissionais provocam perda de, pelo menos, quatro dias de trabalho, perfazendo um total de 53,3 milhes por ano. As mortes devido a acidentes ou doenas relacionadas ao trabalho tm em mdia cinco mil trabalhadores por dia, dois milhes de trabalhadores por ano, no mundo (OIT 2004). O Brasil, no perodo de 1970 a 1979, apresentou uma mdia anual de acidentes do trabalho-tipo, de 1,4 milhes de acidentes; para os acidentes de trajeto, 35 mil, e para as doenas do trabalho, 3 mil. Entre 1990 a 2003, o Brasil apresentou 1,9 milhes de acidentes-tipo, 37,8 mil e 19,9 mil acidentes de trajeto e doenas ocupacionais respectivamente. Para o Estado de So Paulo, entre 1990 a 2003, a mdia anual dos acidentes apresentados nesse perodo foi de 384 mil para os acidentes-tipo, 17 mil para os de trajeto e 9,3 mil para as doenas do trabalho. Os dados da Previdncia Social para o ano de 2000 apontam que ocorreram no pas 343.996 acidentes e 3.094 mortes por acidente de trabalho, para uma populao segurada de 20.374.176, o que representa uma proporo de incidncia de acidente de trabalho de 1,68 por 100 mil. A taxa de letalidade no ano foi de 9,0 mortes por mil acidentes, e a taxa de mortalidade ficou 15,2 mortes por 100 mil trabalhadores registrados pela CLT. Os coeficientes de 2000 mostram que o Brasil est com a taxa de mortalidade por acidentes de trabalho acima da mdia dos pases da Amrica Latina, que ficou em 13,5/100 mil, s perdendo para os pases da sia 23,1/100 mil e da frica que de 21/100 mil, segundo o ltimo levantamento da OIT, que tomou como base os dados do ano de 1994 (TAKALA 2002). A Previdncia, no perodo de 1999 a 2003, registrou 1.875.190 acidentes de trabalho, sendo 15.293 com bitos e 72.020 com incapacidade permanente, mdia de 3.059 bitos/ano, entre os trabalhadores formais mdia de 22,9 milhes em 2002. O coeficiente mdio de mortalidade, no perodo considerado, foi de 14,8 por 100.000 trabalhadores (MPS 2003). A comparao desse coeficiente com o de outros pases, tais como Finlndia 2,1 (2001), Frana de 4,4 (2000), Canad 7,2 (2002) e Espanha

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8,3 (2003) (TAKALA 2002), demonstra que o risco de morrer por acidente de trabalho no Brasil cerca de duas a cinco vezes maior. No mesmo perodo mencionado, a Previdncia concedeu 854.147 benefcios por incapacidade temporria ou permanente devido a acidentes do trabalho, ou seja, a media de 3.235 auxlios-doena e aposentadorias por invalidez por dia til. Foram registrados 105.514 casos de doenas relacionadas ao trabalho (PNSST 2004).Apesar de elevados, esses nmeros no refletem a realidade. Estudo epidemiolgico de amostragem domiciliar realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista, na cidade de Botucatu-SP, com padro de vida e ndice de desenvolvimento humano (IDH) superiores mdia nacional, demonstrou a ocorrncia de 4,1% de acidentes de trabalho na populao, dos quais apenas 22,4% tiveram registro previdencirio. Segundo estimativa da OMS, na Amrica Latina, apenas 1% a 4% das doenas do trabalho so notificadas. Para ilustrar esses dados a Tabela 1 a seguir detalha os tipos de acidentes para o Brasil e para o Estado de So Paulo, para os perodos existentes dos dados (AEPS 2004). No Brasil, a incidncia de acidentes do trabalho registrados na Previdncia, em relao aos empregados segurados, foi de 1,8% entre 1997 e 1998 (MET 2003). Apesar de se referir apenas aos acidentes registrados oficialmente, no incluindo a parcela populacional no contribuinte da Previdncia Social, os dados sobre acidentes do trabalho so preocupantes (RIBEIRO 2000).

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Tabela 1 Acidentes do trabalho segundo tipo de acidentes Brasil e Estado de So Paulo, 1970 a 2003 (N) Tipo ANOS 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 926.354 825.081 632.012 579.362 490.916 374.167 350.210 374.700 325.870 347.482 347.738 326.404 304.963 282.965 323.879 319.903 Brasil 1.308.335 1.479.318 1.602.517 1.756.649 1.869.689 1.692.833 1.497.934 1.388.525 1.404.531 1.215.539 1.117.832 943.110 So Paulo 419.981 375.425 283.385 292.165 269.756 215.180 204.031 230.660 145.489 162.564 162.083 145.745 124.096 110.725 126.636 119.368 Brasil 18.138 23.016 28.395 38.273 44.307 48.394 48.551 52.279 55.967 51.772 57.874 56.989 60.202 58.524 56.343 46.679 33.299 22.709 22.824 28.791 34.696 37.213 36.114 37.513 39.300 38.799 46.881 49.069 Trajeto So Paulo 24.716 23.429 23.895 21.044 18.232 15.980 11.932 16.861 16.909 15.453 15.148 15.295 15.137 15.203 18.595 19.064 5.025 4.838 5.217 6.281 8.299 15.417 15.270 5.016 3.823 3.713 3.204 2.766 3.016 Doena Trabalho So Brasil Paulo 4.050 2.389 1.784 1.839 2.191 2.598 2.161 1.866 2.259 3.072 5.018 6.784 9.617

20.646 12.650 34.889 13.556 36.648 16.845 30.489 14.962 23.903 11.622 19.605 18.487 22.311 21.208 8.334 8.008 9.536 8.273

Fonte: Anurio Estatstico da Previdncia Social (AEPS), 1970 at 2003.

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Em 2003 foram registrados 393.071 acidentes no pas e 154.767, no Estado de So Paulo (PREVIDNCIA SOCIAL 2003), o que correspondeu, apesar do subregistro, a um aumento de 15% em relao ao ano anterior tanto para o Brasil como para o Estado de So Paulo. Assim, diante de sua magnitude e importncia, constituise como um grave problema de sade pblica, sendo foco de ateno de vrios estudos (LUCCA e FVERO 1994) e um dos principais indicadores da relao sade/doena no trabalho (WNSCH FILHO 1999).

1.2.7 O Custo do Acidente do Trabalho

Tanto para os empregadores quanto para os empregados, um acidente do trabalho pode ter conseqncias financeiras, de sade e legais em longo prazo (CDC 2004). Em 2000, nos Estados Unidos, os gastos dos empregadores, causados pelas perdas e ausncia dos empregados chegaram a mais de US$ 4.6 milhes (NHTSA 2004). No Brasil, a escassez e inconsistncia das informaes sobre a real situao de sade dos trabalhadores dificultam a definio para polticas pblicas, o planejamento e implementao das aes de sade do trabalhador, alm de privar a sociedade de instrumentos importantes para a melhoria das condies de vida e de trabalho. As informaes disponveis referem-se apenas aos trabalhadores empregados e cobertos pelo Seguro de Acidentes do Trabalho SAT da Previdncia Social - que representam cerca de um tero da PEA nacional (PNSST 2004). O atual sistema de segurana e sade do trabalhador carece de mecanismos que incentivem medidas de preveno, responsabilizem os empregadores, propiciem o efetivo reconhecimento dos direitos do segurado, diminuam a existncia de conflitos institucionais, tarifem de maneira mais adequada as empresas e possibilitem um melhor gerenciamento dos fatores de riscos ocupacionais (PNSST 2004). Em 2003, os gastos da Previdncia Social com pagamento de benefcios acidentrios e aposentadoria especial concedida em face de exposio a agentes

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prejudiciais sade ou integridade fsica, com reduo no tempo de contribuio totalizaram cerca de 8,2 bilhes de reais (PNSST 2004). Para cada real gasto com o pagamento de benefcios previdencirios, a sociedade paga quatro reais, incluindo gastos com sade, horas de trabalho perdidas, reabilitao profissional, custos administrativos. Este clculo eleva o custo total para o pas a aproximadamente 33 bilhes de reais por ano (PNSST 2004). O nmero de dias de trabalho perdidos em razo dos acidentes aumenta o custo da mo-de-obra no Brasil, encarecendo a produo e reduzindo a competitividade do pas no mercado externo. Estima-se que o tempo de trabalho perdido anualmente devido aos acidentes de trabalho seja de 106 milhes de dias, apenas no mercado formal, considerando-se os perodos de afastamento de cada trabalhador (PNSST 2004).

1.2.8 Fonte de Informao: comunicao de acidente do trabalho CAT

A principal fonte de informaes no estudo dos acidentes do trabalho a Comunicao de Acidentes do Trabalho CAT, emitida pela Previdncia Social para fins de processamento de benefcios (WNSCH FILHO 1995; WALDVOGEL 2001, 2002; MACHADO e GOMES 1995). Pelo fato de essa fonte de informao conter apenas os trabalhadores assegurados, os cobertos pelo seguro de acidentes do trabalho, esta uma sria restrio encontrada nos estudos dos acidentes do trabalho (LUCCA e FVERO 1994), no fornecendo a verdadeira dimenso do acidente do trabalho. Neste caso, as anlises excluem todos os trabalhadores inseridos no mercado de trabalho informal (LUCCA e FVERO 1994; CORRA FILHO 1994), assim como os funcionrios pblicos (RIBEIRO 2000). Mesmo de notificao obrigatria, nem todos os acidentes ocorridos no exerccio das atividades laborais so registrados, principalmente aqueles com menor gravidade, que no afastam os trabalhadores de suas atividades (ALMEIDA 2003; WALDVOGEL 2001, 2002). A falta de tradio de alguns profissionais da rea da sade, ou mesmo a falta das empresas em notificar as ocorrncias apontada por WALDVOGEL (2001, 2002) como motivo de omisso. Mesmo que apresente restrio por serem parciais as notificaes, uma vez que a subnotificao bastante importante (LIMA et al. 1999),

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a CAT constitui uma das principais fontes sobre acidente do trabalho, representando importante material no dimensionamento da questo acidentria (POSSAS 1987), revelando o grave problema de sade pblica que o acidente do trabalho. Devido ao aumento do mercado informal de trabalho, a estimativa da OIT de que o nmero de acidentes do trabalho seja o dobro do que consta nos relatrios oficiais, e, no Brasil e no Estado de So Paulo, superior a 50% (WNSCH FILHO 2003). Estima-se que apenas 35% dos trabalhadores brasileiros tm cobertura por acidente do trabalho (OIT 2004). Com o interesse de estudar profundamente o tema de acidentes do trabalho, vrios autores (LUCCA e MENDES 1993; WNSCH FILHO 1995; WALDVOGEL 2002) ressaltam as dificuldades, em razo da falta ou das limitaes das informaes referentes ao tema, mas tem-se na CAT a fonte oficial da informao.

1.3 Os Acidentes de TransporteMuito antes de ser inventado o automvel, as leses causadas pelo trnsito envolviam carruagens, animais e pessoas. Os dados aumentaram exponencialmente com o aparecimento e proliferao dos automveis, nibus, caminhes e outros veculos a motor. Foi um ciclista da cidade de Nova York, o primeiro caso registrado de traumatismo em que houve a participao de um veculo a motor, em 30 de maio de 1896. E um pedestre, em Londres, foi o primeiro caso registrado de morte, causado por veculo a motor, em 17 de agosto do mesmo ano

(WORLDFIRSTDEATH 2003). Em 1997, o total de mortes causadas pelo trnsito foi estimado em 25 milhes (FAITH 1997). Estima-se que, em 2002, morreram 1,18 milhes de pessoas por causa de choques na via pblica, o que significa 3.242 mortes dirias. Este dado representa 2,1% das mortes mundiais constituindo-se na nona causa de morte no mundo (OMS 2004). A taxa de mortalidade causada pelo trnsito decrescente nos pases desenvolvidos, desde as dcadas de 1960 e 1970, e mesmo as cifras nacionais variam muito dentro de uma mesma regio. Na Amrica do Norte, entre 1975 e 1998, a taxa de letalidade do trnsito por 100.000 habitantes decresceu em 27% nos Estados

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Unidos, e 63% no Canad (OMS 2004). Durante este mesmo perodo, as taxas dos pases subdesenvolvidos e em desenvolvimento aumentaram consideravelmente. Em 2002, esses pases concentraram 90% das mortes causadas pelo trnsito (VASCONCELLOS 1999; NANTULYA e REICH 2003; BENER et alii. 2003).Tambm neste caso observam-se grandes diferenas entre os pases. Na sia, entre 1975 e 1998, as taxas de letalidade cresceram em 44% na Malsia, e 243% na China (KOPITS e CROPPER 2003). As projeoes da taxa de letalidade para o ano de 2010 e 2020 so apresentadas na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2 Projees do nmero de vtimas do trnsito, por regies, corrigida a subnotificao Regies Selecionadas, 1990 a 2020 (N e %) Regio frica America Latina e Caribe sia Meridional sia Oriental e Pacfico Europa Oriental e sia Central Oriente Mdio Pases desenvovidos Total Nmero de pases 46 31 7 15 9 13 35 156 1990 59 90 87 112 30 41 123 542 2000 80 122 135 188 32 56 110 723 2010 109 154 212 278 36 73 95 957 2020 144 180 330 337 38 94 80 1203 Taxa de letalidade(100 mil pessoas)

12,3 26,1 10,2 10,9 19,0 19,2 11,8 13,0

14,9 31,0 18,9 16,8 21,2 22,3 7,8 17,4

Fonte: NANTUKYA et al. 20003.

Os acidentes e as leses no trnsito constituem atualmente um grave problema de sade pblica, com abrangncia mundial. A relevncia da questo se d em virtude da sua magnitude e transcendncia e do forte impacto na morbidade e na mortalidade da populao. Dos acontecimentos que as pessoas enfrentam a cada dia, o trnsito um dos mais complexos e perigosos (OMS 2004). Os acidentes de trnsito estavam, em 1999, na nona posio das principais causas de mortes no mundo, e a OMS prev que, em 2020, essa causa alcanar a terceira posio. E mais, o nmero de mortes que, em 1990, estava na casa de 5,1 milhes, em 2020 chegar a 8,4 milhes, sendo os acidentes de trnsito a principal causa do aumento. Hoje essa causa corresponde a 2,2% da mortalidade no mundo para todos os grupos de idade (OMS 2004). Estima-se que, a cada ano, no mundo morrem 1,2 milhes de pessoas por causa de choques em vias pblicas, e 50 milhes

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ficam feridas. Se providncias no forem tomadas, estes valores aumentaro em torno de 65% nos prximos 20 anos. Apesar de a proporo dos veculos em circulao em funo da populao ser muito maior nos pases desenvolvidos, o nmero de mortes por acidente de trnsito maior nos pases em desenvolvimento (OMS 2004). A distribuio territorial da populao brasileira apresenta marcante concentrao em aglomeraes urbanas situadas, em sua maioria, na Regio Sudeste e no Litoral, onde se concentram 48% da populao brasileira. Alm disso, segundo dados do Departamento Nacional de Transito DENATRAN, a maior parte da malha viria faz ligao entre esses grandes aglomerados, que so ainda, os plos de atividade econmica. A populao flutuante que circula por essas estradas, vinda de outras localidades, tambm elevada, ainda que dados mais precisos no estejam disponveis (PRMAT 2002). No Brasil, estima-se que 96% das distncias percorridas pelas pessoas ocorram em vias urbanas e rurais, 1,8% em ferrovias e metrs, e o restante, por hidrovias e meios areos. Nas reas urbanas, os deslocamentos a p e o uso de nibus so formas dominantes de deslocamento. No ano de 2001, estavam em circulao cerca de 90.000 nibus, transportando 50 milhes de passageiros por dia. Os sistemas metrovirios e ferrovirios em operao nas regies metropolitanas e grandes cidades transportam um volume dirio da ordem de 5 milhes de passageiros (PNSST 2004). Estatsticas de acidentes de trnsito indicam a ocorrncia de cerca de 350 mil acidentes anuais com vtima, em todo o pas, dos quais 30 mil resultaram em mortes e 300 mil feridos (DENATRAN 2004). Em 2001, o Sistema de Informao de Mortalidade SIM registrou em nvel nacional um total de 118.598 bitos por causas externas. A mortalidade por acidentes de transporte terrestre foi a segunda causa de morte no conjunto das causas externas, representando 26% deste total, atrs somente das agresses (DENATRAN 2004). A Figura 1 mostra a tendncia das causas externas e os acidentes de transportes para o Brasil e para o Estado de So Paulo no perodo de 1980 a 2003, e a Tabela 3 as vtimas fatais e no fatais de acidentes de trnsito.

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Figura 1 Causas externas e acidentes de transporte Estado de So Paulo e Municpio de So Paulo, 1980 a 2003120 %

100

80

60 Causas Externas Estado 40 Ac. Trasnporte Estado Causas Externas Municipio de S o Paulo Ac. Transporte Municpio de So Paul o 0

20

1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

anos

Fonte: Fundao Seade. Estatsticas do Registro Civil.

Tabela 3 Vtimas no fatais e fatais de acidentes de trnsito, por sexo Brasil, Regio Sudeste, Estado de So Paulo e Municpio de So Paulo, 2002 (N) Brasil, Regio Sudeste, Estado de So Paulo e Municpio de So Paulo Brasil Sudeste Estado de So Paulo So Paulo Brasil Sudeste Estado de So Paulo So Paulo Estaduais de Trnsito - DETRAN Vtimas no fatais Sexo Masculino 225.301 98.352 90.062 Feminino 83.063 37.333 34.005 Ignorado 9.949 1.922 1.895 472 233 985 13 3

Total 318.313 137.607 125.962 24.599 18.877 7.435 5.097 1.137

17.424 6.703 Vtimas fatais 15.066 5.252 4.128 897 3.578 4.250 956 237

Fontes: Ministrio das Cidades, Sistema Nacional de Estatsticas de Trnsito e Departamento

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1.3.1 O Custo dos Acidentes de TrnsitoO custo econmico e social das causas por acidentes de trnsito so enormes. No mundo, aproximadamente 50% das mortes so de jovens na faixa etria dos 15 aos 44 anos, correspondendo ao setor da populao mais produtiva do ponto de vista econmico (OMS 2004). Estudos centrados em regies do mundo produziram as seguintes informaes: - Os traumatismos causados pelo trnsito custam aos pases da Unio Europia 180.000 mil euros anuais (ELVIK 2002). - Nos Estados Unidos, o custo anual chega casa dos U$$ 230.600 milhes (BLINCOE 2002). - Nos estudos realizados na dcada de 1990, o custo dos acidentes de trnsito representou uma taxa de 0,5% do produto interno bruto no Reino Unido, 0,9% na Sucia, e 2,8% na Itlia (ELVIK 2002). - Em 2000, as leses causadas pelo trnsito custaram a Bangladesh U$$ 745 milhes e U$$ 2000 milhes no Sul da frica (www.transport.gov.za 2003). - Os choques e traumatismos causados pelo trnsito e as mortes custaram a Uganda U$$ 101 milhes anuais, representando 2,3% do produto nacional bruto PNB (BENMAAMAR 2003). - Na Europa oriental, em 1998, os traumatismos causados pelo trnsito custaram entre US$ 66,6 milhes e US$ 80,6 milhes Estnia, entre US$ 162,7 milhes e 194,7 milhes Letnia e US$ 230,5 milhes Litunia (BACKAITIS 2003). - Na China, em 1999, os acidentes causados pelo trnsito causaram a perda de 12,6 milhes de ano de vida potencialmente produtiva, com um valor estimado em US$ 12.500 milhes, quase quatro vezes o valor gasto pelo pas em sade (OMS 2004). No Brasil, os acidentes de trnsito tambm representam custos hospitalares, perdas de materiais, despesas previdencirias e grande sofrimento para as vtimas e seus familiares, demonstrando o significativo peso econmico e social deste problema (MS 2001). O impacto das mortes pode ser analisado por meio do indicador relativo a Anos Potenciais de Vida Perdidos APVP. Por incidirem com

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elevada freqncia no grupo de adolescentes e adultos jovens, os acidentes e a violncia so responsveis pelo maior nmero de anos potenciais de vida perdidos. No Brasil, entre 1981 e 1991, o indicador de APVP aumentou 30% em relao aos acidentes e violncia. Os acidentes de trnsito so os maiores responsveis pelas internaes no Sistema nico de Sade SUS, dentro das causas externas, que incluem os homicdios, afogamentos e outros tipos de violncia. O Ministrio da Sade destina anualmente R$ 351 milhes para internaes no SUS por causas externas, sendo que 30% deste total so gastos na assistncia mdica s vtimas de acidentes de trnsito. Esse valor representa cerca de R$ 105 milhes por ano. O tratamento com trauma custa, em mdia, 60% a mais que o de um paciente no complexo, porque geralmente necessrio realizar procedimentos cirrgicos e usar um Centro de Tratamento Intensivo - CTI com aparelhos de alta tecnologia. Estudos do IPEA (2003) indicam um custo social decorrente dos acidentes de trnsito da ordem de R$ 5,3 milhes anuais, considerados apenas os aglomerados urbanos. Estima-se que esse custo possa chegar a R$ 10 bilhes anuais se considerados tambm os acidentes rodovirios.

1.3.2 Acidente de Trnsito e Acidente de TrabalhoMuitos dos acidentes envolvendo condutores, pedestres e veculos em via pblica, que constituem o volume dos acidentes de transito, so tambm acidentes do trabalho, pois parte significativa desses acidentes ocorre com trabalhadores durante o exerccio de suas atividades, quando se encontram a servio da empresa (MS 2001). O Instituto Nacional de Sade e Segurana Ocupacional NIOSH solicitou, em seu site, ajuda para prevenir as mortes ocupacionais relacionadas com veculos motorizados. Entre 1980 a 1992, nos Estados Unidos, o choque automobilstico foi a principal causa de morte relacionada com o trabalho. Durante esse perodo, os choques automobilsticos relacionados com o trnsito representaram 15.830 mortes ocupacionais ou 20% de todas as mortes no trabalho. O nmero de mortes relacionadas com o trnsito foi oito vezes maior que o nmero no associado ao trnsito (NIOSH 2004).

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As caractersticas dos trabalhadores mortos no mundo, nos acidentes so assim descritas (NIOSH 2004): - dos trabalhadores mortos em choques automobilsticos relacionados com o trfico, 93% eram homens. A taxa de leso para os trabalhadores homens foi 11 vezes mais alta que para sexo feminino; - quase 70% das mortes ocorreram entre trabalhadores de 25 a 54 anos. O grupo de 30 a 34 anos constituiu o nmero mais alto de mortes, e os trabalhadores que tinham 65 anos ou mais tiveram a taxa mais alta de morte, 1,3 por 100.000 trabalhadores; - a maioria dos trabalhadores que morreram foi de condutores (76%), 14% pedestres e 9% passageiros; - dos trabalhadores que foram a bito, o setor das companhias de caminhes e o da construo foi o que apresentou o nmero mais elevado de morte; - mais da metade dos incidentes ocorreram em estradas estaduais (27%) e em estradas interestaduais (24%) e 65%, ocorreram durante o dia, sendo que 85%, durante condies normais de tempo. Os acidentes de trnsito so, ento, a principal causa das mortes ocupacionais nos Estados Unidos. Entre 1992 e 2001, 13.337 trabalhadores morreram em acidentes de trnsito, numa mdia de quatro mortes por dia. Os acidentes de trnsito ocuparam o primeiro lugar com 22% das mortes no trabalho, em comparao com os 13% das mortes causadas por homicdio e os 10% por quedas (CDC 2004). Em 2001, quase 4,2 milhes de trabalhadores dos Estados Unidos eram motoristas, dos quais 73% eram caminhoneiros. As ocorrncias de trnsito so a causa principal de acidente para os trabalhadores na indstria de transportes. Milhes de trabalhadores que no so condutores profissionais de tempo integral conduzem veculos prprios ou da empresa para realizar entregas, vendas e visitas a clientes e muitas outras tarefas. As ocorrncias de trnsito so tambm a principal causa de acidentes com trabalhadores em escritrio e em especialidades profissionais e so a segunda causa principal de morte de executivos, pessoas de vendas e tcnicos. (CDC 2004). So resumidos assim os acidentes de transporte relacionados com o trabalho entre 1992 a 2001, nos Estados Unidos:

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- Tipos de veculos ocupados pelas vtimas: - Caminhes (28%). - Automveis (24%). - Caminhonetes pickup (12%).

- Caractersticas dos acidentes e dos trabalhadores: - 49% foram choques entre veculos; - 53 % ocorreram entre as 7 da manh e as 4 da tarde; - 38% ocorreram em estradas federais ou estaduais; - 89% dos trabalhadores que morreram eram homens; - o risco de mortalidade aumentou para os 55 anos de idade em diante. - Setores industriais em que trabalham as vtimas: - Transporte (33%). - Servios (14%). - Construo (11%) (CDC 2004).

1.4 Trabalhador: motoristaCerto dia, na cidade de So Paulo, um motorista de nibus, ao fim de uma longa conversa, em um misto de desabafo e de orgulho disse: o motorista totalmente o progresso do pas (SATO 2000). Antes ele falava sobre o seu trabalho, sobre as dificuldades em realiz-lo, mas tambm sobre aquilo que lhe dava satisfao, numa conversa cheia de grias e jarges prprios da linguagem da categoria, relatando acontecimentos que s os que pertencem a esta categoria profissional vivem e testemunham (INST 2000). Aquela uma das frases que transmite uma das idias que pode ajudar a caracterizar o que o trabalho no ramo de transportes (SATO 2000), em especial o dos motoristas. Junto com ela, vem outra frase dita por trabalhadores desse ramo que : a gente carrega o Brasil nas costas.O sentido dessa frase leva a pensar no complexo produtivo e de trabalho no Brasil. Vse que os trabalhadores dos ramos industriais fabricam bens materiais como os

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alimentos, o vesturio, os eletrodomsticos, as mquinas, os remdios, os automveis, a matria prima para uso em outras indstrias, enfim, uma infinidade de coisas (INST 2000). Trabalhadores do setor primrio, plantam, colhem e extraem minrios. Mas quem faz os produtos chegarem a seus destinos so os trabalhadores do setor de transporte. So esses trabalhadores que dinamizam a economia, garantindo o funcionamento do mercado e a vida social. E, mais ainda, garantem o transporte de trabalhadores para seus locais de trabalho, de seus filhos para as escolas, para as festas, para os estdios de futebol. Transportam tambm os empresrios e executivos para fecharem seus negcios, os doentes, as encomendas, os documentos. Esses trabalhadores so definidos por outros, tambm trabalhadores: so um gnero de primeira necessidade (CUT 2000).

1.4.1 Condies de Trabalho e o RiscoH uma grande diversidade de situaes de trabalho, a dos motoristas, que implica condies de trabalho variadas. Dessas situaes decorrem diversos problemas de sade e as ameaas integridade fsica, psicolgica e social desses trabalhadores. Colocam-se ento em questo os riscos vida (MENDES 2003). Para que possa se falar sobre risco necessrio que haja uma definio sobre os diversos aspectos do risco. A bibliografia a respeito do termo risco tem pouco consenso sobre o seu significado (AYRES 1997). O conceito utilizado para identificar diferentes situaes. A palavra risco propicia diferenas de compreenso entre disciplinas do conhecimento e mesmo entre pases. O termo se refere a mensuraes de carter objetivo como a probabilidade estatstica de ocorrncia de um determinado evento indesejvel e seus efeitos. A palavra risco tambm expressa situaes de carter subjetivo, a exemplo da percepo e aceitabilidade do risco, condicionadas por fatores socioculturais, socioeconmicos, individuais e

psicolgicos (SINGLETON 1987). A vivencia do trabalhador com condies de risco diversa. H riscos de agresso sade, que se contam cumulativamente no organismo. Alteraes dos ritmos biolgicos que podem ser co-responsveis por perturbaes do sono, por doenas cardiovasculares, alteraes do sistema imunolgico, disfunes do trato

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gastrintestinal, aquisio de hbitos de fumo e bebida e distrbios de origem psquica. H riscos que implicam danos psicossociais, entre eles, o isolamento sociotemporal conseqente de trabalho em horrios irregulares, com limitado nmero de folgas nos fins de semana (FISCHER 1991).Teoricamente o risco inversamente proporcional ao custo da segurana para que o risco se aproxime de zero. A categoria profissional ligada ao setor transporte est sujeita a elevado nmero de riscos, fatores adversos e estressantes, que a tornam mais exposta ocorrncia de acidentes do trabalho. Os trabalhadores dessa categoria exercem sua atividade profissional no espao da rua, sujeitos, s vezes violncia, aos problemas urbanos e aos riscos intrnsecos de seu processo de trabalho. Representam ainda a categoria mais exposta aos acidentes de trnsito, acidentes estes que, no Brasil, representam para os condutores 1,84% das vtimas fatais e 36,5% das vtimas no fatais. Para o Estado de So Paulo e municpio de So Paulo esses dados so 1,4% e 1,3% para os acidentes com vtimas fatais e 40,1% e 24,9% para no fatais respectivamente (DENATRAN 2004). O ato de dirigir uma tarefa com mltiplos estressores ocupacionais para os motoristas profissionais. A grande diversidade desses estressores tem implicaes diretas na conformao das condies de trabalho, portanto, os estressores aos quais os trabalhadores esto expostos esto presentes nos riscos de natureza fsica, qumica, biolgica (HORNE e REYNER 1999), psicossocial e ambiental que afetam a sade e segurana desses trabalhadores. Estes cinco grandes grupos de fatores de risco para a sade e segurana dos trabalhadores, especificamente do setor transporte, so categorizados e explicados a seguir:

Fsicos: rudos, altos nveis de rudo tanto dentro quanto fora dos veculos,devido ao trfego intenso, vibrao, temperaturas extremas, presso atmosfrica (MENDES 1988).

Qumicos: agentes e substncias qumicas, sob forma lquida, gasosa ou departculas e poeiras (MENDES 1988).

Biolgicos: vrus, bactrias, fungos, parasitas e protozorios.

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Ergonmicos e Psicossociais: decorrem da organizao e gesto do trabalho,como, por exemplo, da utilizao de equipamentos, mquinas e mobilirio inadequado, levando a postura e posies incorretas, ventilao e desconforto para os trabalhadores (EWA 1989), trabalho em turnos e noturnos (MORENO et al.. 2003; KNAUTU 1993), monotonia ou ritmo de trabalho excessivo, exigncias de produtividade, relaes de trabalho autoritrias, falhas no treinamento e superviso dos trabalhadores.

Mecnicos e de Acidentes: limpeza do ambiente de trabalho, sinalizao (MS2001).

ESTRESSORES

Biolgica Fsica

Qumica Ambiental

Psicossocial

Esses fatores aumentam os riscos de um acidente do trabalho e do aparecimento de doenas ocupacionais (COSTA et al. 2003).

1.4.2 A Organizao do TrabalhoOs modos de viver e todas as interaes humanas so atingidos pelas transformaes no mundo do trabalho. Incluem-se neste caso desde as formas de

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produo de bens, de materiais e de servios, at as relaes humanas nos diferentes mbitos, do internacional ao comunitrio, alcanando os ambientes de trabalho e a famlia. Os indivduos e os vnculos afetivos tambm esto envolvidos neste processo de mudanas profundas (SELIGMANN-SILVA 1997). ELIAS (1995) destaca a importncia das interaes entre os processos de transformao tcnica e os processos sociais. Os estudos deste pensador contemporneo foram ressaltados por SELIGMANN-SILVA (1997), com relao imprevisibilidade das dinmicas sociais mediadas pelas descobertas cientficas e pelas tecnologias incorporadas industria, aos transportes, s comunicaes, aos servios em geral e ao cotidiano humano. Os novos modos de organizao do trabalho vm-se traduzindo pela caracterstica da falta de visibilidade da tarefa realizada. Essa questo da invisibilidade torna mais complexa a experincia com as condies de risco a que esto expostos os motoristas profissionais. Para compreender o conjunto das transformaes materiais e sociais que envolve os seres humanos e gera repercusso no ambiente a partir do trabalho, importante que os problemas ambientais e de sade do trabalhador sejam vistos integradamente. O fracionamento de um problema complexo em reas parciais, corresponde ao domnio de disciplinas especficas, impede a anlise e proposio de polticas alternativas. O paradigma da promoo da sade tem como estratgia a preveno de riscos, a assistncia, a informao, a educao e a comunicao como aspectos fundamentais que vm ganhando reconhecimento crescente no mbito dos movimentos de sade como uma exigncia do contexto atual. A formulao de polticas pblicas saudveis, por meio de uma ao coordenada entre diferentes estressores sociais, essencial para atingir a qualidade de vida almejada no mundo contemporneo, provvel que no exista uma soluo ideal relacionada maneira de se organizar o trabalho, no entanto h que se pensar sobre os tipos de homens que a sociedade fabrica, por meio dessa organizao. O problema no criar novos homens, mas encontrar solues que permitiro acabar com a desestruturao de certo nmero deles, em decorrncia do trabalho (DEJOURS 1998).

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1.4.3 Agravos Sade do Motorista e suas ConseqnciasQuanto mais se aprofunda o conhecimento sobre os problemas que acometem os trabalhadores motoristas - v-se que h uma srie de problemas de sade. Os esforos fsico e mental podem causar problemas de postura, fadiga, hrnias, fraturas, tores, contuses, lombalgias e varizes, bursites, artroses, entre outros tipos de doenas viscerais, de rgos genitais, do sistema circulatrio (BULHES 1994); irritabilidade emocional; nervosismo sem suas distintas manifestaes, sensao de esgotamento mental; problemas gstricos e intestinais; hipertenso e problemas cardacos; abuso de bebidas alcolicas e uso de estimulantes. No que se refere aos distrbios msculo-esquelticos, utiliza-se por conveno o conceito de distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho DORT - para caracteriz-los. So englobadas as afeces que atingem os msculos, fscias musculares, tendes, ligamentos, articulaes, nervos, vasos sangneos, como resultado de atividades laborativas. Outras terminologias como leses por esforos repetitivos LER - so freqentemente utilizadas para designar a DORT (ALMEIDA 2001). Os motoristas, de uma maneira geral, apresentam queixas relacionadas DORT em decorrncia da m utilizao ou negligncia de aspectos determinantes da ergonomia. Podem ser considerados dois fatores principais, a saber: a inadequao do ambiente de trabalho posicionamento dentro do veculo, operao dos equipamentos e movimentos repetitivos e fatores estressante, inerentes profisso (ALMEIDA 2001). No que se refere s orientaes ergonmicas, ainda no existe um modelo ideal para aplicao em caminhes e nibus, porm estudo de HARRISON et al.. (2000), apontou alguns aspectos para a melhora da qualidade ergonmica nos veculos: - assento com um ngulo de 100 graus entre a base e o encosto; - a altura do assento e o encosto tambm devem ser ajustveis; - o assento como um todo deve ser fixo num trilho que permita o deslocamento antero-posterior para adequao de todos os indivduos; - diminuio do calor e do rudo provenientes da cabine e do motor.

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O tempo de trabalho regula nossas vidas. Trabalhar durante horrios que podem comear de madrugada, prolongar-se toda a noite, ou se iniciar tarde e terminar de madrugada, tanto em dias de semana quanto em fins de semana, faz parte da vida de milhes de trabalhadores em todo o mundo (FISCHER 2001). Os vrios meios de transporte de passageiros nas reas urbanas e interurbanas, assim como o transporte de carga, fazem parte do leque de servios necessrios e disposio da populao durante praticamente 24 horas ininterruptas. Um grande contingente de motoristas profissionais em todo o mundo est envolvido com o trabalho em turnos, noturno fixo e em horrios irregulares. Esses trabalhadores esto submetidos a uma grande diversidade de ambientes e condies de trabalho, estando muitos deles em precrias condies de trabalho e de vida (FISCHER 2003). O comprometimento do desempenho causa do aumento de erros e de acidentes do trabalho durante certos perodos do dia e da noite, sendo ainda maior entre trabalhadores em turnos. Decorrente de uma dessincronizao interna do funcionamento do organismo, o desempenho e a disposio para o trabalho ficam prejudicados no perodo noturno, seja pela incompatibilidade da realizao de certas tarefas, seja pela conseqncia de perturbaes do sono, que levam impossibilidade de manter a ateno ou mesmo a viglia devido sonolncia (FISCHER et al. 2003). Outro aspecto importante a ser levado em conta no desenvolvimento do trabalho dos motoristas profissionais a dificuldade de sono geralmente, um grande problema para os trabalhadores em turnos, em particular para os que trabalham em turnos rodiziantes e ainda acumulam outra atividade. Os vrios tipos de perturbaes e a diminuio na durao do perodo principal do sono foram estudados (FISCHER et al. 2003). O aumento na sonolncia, o aumento dos cochilos ou perodos de sono fragmentados, a diminuio da qualidade do sono e a influncia de fatores ambientais, tais como, rudo, desconforto trmico, que perturbam o sono diurno foram estudados por FISCHER et al (2003). Os trabalhadores do setor transporte esto expostos a vrios acidentes, entre estes, os devidos sonolncia. Um exemplo famoso foi um acidente de trem ocorrido em 1986 no Canad, que matou 23 pessoas e causou um prejuzo estimado em trinta milhes de dlares. O acidente foi atribudo a uma falha humana, ou seja, causado

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pelo maquinista do trem. Estudos sobre o acidente revelaram que o maquinista havia dormido apenas trs horas e meia na noite anterior ao trabalho (FOLKARD 1996), o que provavelmente reduziu seu nvel de alerta durante o trabalho (MORENO et al. al. 2001). A alta freqncia da fadiga entre os motoristas inegvel. A fadiga

caracterizada por sensaes de cansao fsico e mental e passa a ser considerada fadiga patolgica ou crnica quando o cansao no recuperado com os perodos de sono e descanso. Comeam a aparecer distrbios de sono, insnia, irritabilidade, sensao de desnimo, dificuldade para realizar qualquer atividade, de trabalho ou no, perda de apetite. Os motoristas definem assim: no d mais para trabalhar, j passou do limite, estamos transpassados. A fadiga no um problema apenas fsico o corpo cansado a atividade fsica intensa, h tambm uma srie de situaes nas quais aparentemente no h esforo do corpo. O trabalho de caminhoneiros, de motoristas entregadores de cargas, de motociclistas, no demanda apenas esforo fsico. Eles tm que estar atentos para cumprir metas, para no cometer erros, sofrem presso por fazerem parte de um processo de trabalho que nem sempre lhes d condies adequadas de trabalho. Trabalhar no setor virio implica tambm ter nas mos grande responsabilidade, e acidentes de trnsito podem ocorrer ou causar grandes transtornos para a populao como um todo. impossvel separar corpo e mente (INST 2000). O estresse psicolgico surge em decorrncia de condies variadas tais como as exigncias do trabalho, tenses familiares, preocupaes financeiras, indo alm da capacidade do trabalhador em lidar com estes desafios. Essas condies variadas, como instabilidade emocional, depresso, falta de concentrao, dificuldade de julgamento, que tm conseqncias nefastas, interferem na capacidade de trabalho dos motoristas. O complexo de agravos sade mostra a abrangncia infindvel das conseqncias a que esses trabalhadores esto submetidos.

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1.4.4 Levantamento sobre os Acidentes de Motoristas

Os

motoristas

rodovirios

desempenham

uma

funo

laboral

que

continuamente os submete a inmeras situaes estressantes, do ponto de vista fsico e mental. Esse estresse o responsvel no s por distrbios msculo-esquelticos, como tambm por alteraes emocionais, cognitivas e sobretudo funcionais (ALMEIDA 2001). Os motoristas de ambulncias lidam regularmente com o hipoclorito de sdio ao efetuarem a desinfeco deste veculo e, alm disso, inalam os agentes qumicos provenientes da combusto dos automveis. Tambm esto expostos aos agentes antiergonmicos, provenientes de freqente levantamento de peso para movimentao e transporte de pacientes e equipamentos; posturas prolongadas e inadequadas; flexes da coluna vertebral em atividades de organizao e assistncia. Alm disso, realizam rodzios de turnos e trabalho noturno (SILVA e BIANCHI 1992). Tendo em vista as alteraes emocionais e cognitivas, constata-se na literatura que fatores do tipo depresso e/ou ansiedade, bem como prejuzos de motivao, ateno e/ou memria, representam uma queixa constante dos motoristas rodovirios, o que dificulta ou impede o convvio social e profissional (ALMEIDA 2001). SAITO et al. (1999) realizaram um trabalho integrado entre a Polcia Rodoviria Federal, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagens e a Faculdade de Medicina do Tringulo Mineiro, no qual observaram as condies de segurana em veculos que trafegavam em rodovias prximas ao municpio de Uberaba-MG. Entre 260 motoristas submetidos a exame clnico, 27,3% (71) no usavam cinto de segurana. Constatou-se que os motoristas profissionais no faziam uso do cinto de segurana em quase o dobro das vezes em que foram examinados, quando comparados com outros condutores; 19,7% dos veculos no apresentavam faroletes, faris e lanternas em condies adequadas; 14,1% no usavam luz de freio e 9,8% no tinham, em seus veculos, o funcionamento de setas. Destes 260, todos tinham idade superior a 21 anos e eram do sexo masculino, 30 eram motoristas profissionais habilitados, em exerccio de sua funo. Estudos comprovam que tais profissionais, por falta de condies dos veculos, acabam correndo um risco maior

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de sofrer acidentes de trnsito e podem estar includos dentro dos acidentes de trabalho. Estudo realizado por COSTA et al.. (2000), executando pesquisa de campo com 1.762 motoristas de linhas operadas na Regio Metropolitana de So Paulo e, em 2002, com 984 motoristas da Regio Metropolitana de Belo Horizonte abordaram cinco temas: caractersticas pessoais dos motoristas e alguma informao sobre sua famlia; condies de trabalho dos motoristas, incluindo caractersticas dos veculos dirigidos por eles; contexto social em que se desenrolava o trabalho, considerando tambm a violncia urbana; condies de sade dos motoristas, segundo os sintomas por eles declarados, bem como a questo dos acidentes, suas conseqncias e possveis causas. Foi possvel verificar a existncia de muita similaridade entre os motoristas das duas regies, tanto nas caractersticas pessoais como nos aspectos referentes ocupao. Os motoristas de Belo Horizonte praticavam jornadas mais curtas que os de So Paulo e tinham trajetos menores a percorrer. Porm eram mais baixos os percentuais dos que cumpriam horrio fixo e turnos nicos e significativamente mais elevadas as propores daqueles que faziam dois turnos de trabalho, a chamada dupla pegada, bem assim dos que cumpriam horrios irregulares. Alm disso, era muito mais alto, em Belo Horizonte, o percentual de motoristas sem pausa para a refeio. Foi mais freqente em Belo Horizonte a presena de dispositivos que ofereciam mais conforto ao motorista direo ajustvel, direo hidrulica, cinto de segurana de trs pontos, apoio anatmico para as costas, ajuste vertical do assento, ajuste para alcance dos pedais - e menos comuns as queixas de trepidao, rudo e gases dos nibus. Os dois grupos de profissionais enfrentavam condies de trabalho muito duras e apresentaram srios problemas de sade. A anlise estatstica efetivada revelou a existncia de relaes muito importantes entre algumas condies de trabalho e a sintomatologia de morbidade declarada pelos motoristas, nas duas regies. Verificou-se que vrias caractersticas do nibus trepidao, ajuste do banco, emanao de gases txicos, ventilao e muito rudo estavam associados a diversos problemas de sade, como dores osteomusculares, vista irritada, problemas respiratrios e auditivos. A extenso da jornada de trabalho mostrou-se associada

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obesidade, ao aparecimento de dores osteomusculares, a problemas do sono e estresse. Em So Paulo, as jornadas eram extremamente longas, de 10 horas e 20 minutos, em mdia. Problemas por uma coleo de medos como ser assaltado, sofrer acidente, morrer, ficar doente, ser demitido, os quais repercutem sobre a sade, gerando estresse. Problemas do sono e outros sintomas tambm foram apontados, ficando constatada a associao entre o medo de assalto e problemas gastrintestinais, bem como o medo de acidente e problemas do sono e estresse. A idade e a associao a vrios dos sintomas de morbidade no puderam ser atribudas simplesmente idade cronolgica, pois se sabe que os motoristas sofrem um desgaste incompatvel com sua idade cronolgica, devido s mas condies de trabalho. Pelo que foi analisado, pode-se dizer que, nas duas metrpoles, os

motoristas do transporte de passageiros estavam submetidos a condies de trabalho muito penosas, que afetavam sua sade e segurana como tambm a segurana dos passageiros, que, em muitos casos, eram trabalhadores. Outro estudo realizado com 392 motoristas de transporte coletivo de RecifePE, cuja principal queixa foi a baixa acuidade visual para perto mostrou que 25.7% foram considerados reprovados, segundo o Conselho Nacional de Trnsito. Dentre os reprovados em acuidade visual, 54 tiveram histria de acidente de trnsito, sendo o ndice estatisticamente significante (LIMA et al. 2000). A atividade de trabalho dos motoristas de caminho e de caminho pesado caracterizada como de alto risco. Primeiro, pela atividade em si exigir um alto grau de concentrao, de raciocnio e reaes rpidas, tanto para interpretar os sinais de trnsito quanto para responder aos estmulos diversos do trfego. E para isso, precisam estar em estado de alerta contnuo. Esse alerta contnuo refere-se capacidade de fazer a varredura no meio, percebendo os estmulos, e disposio de agir prontamente. Alguns estados alteram, e muito, a capacidade de perceber o que ocorre volta, tais como estados depressivos que levam ao desinteresse em relao ao meio, tornando a pessoa mais voltada para si mesma, e ainda outros como distrbios do sono, noites mal dormidas, assim como as constantes mudanas no horrio de trabalho formando turnos mveis, que contribuem para uma reduo da capacidade de manter a ateno que, somada a um aumento no tempo de latncia

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tempo para responder a um estmulo -, podem ser de extremo perigo, aumentando as chances de ocorrncia de acidente (SANTOS e BUENO 2001). Assim, os motoristas de caminhes transitam por estradas que, s vezes, no tm os mesmos padres, a mesma infra-estrutura de servios e nem as mesmas condies de trfego, exigindo, por isso, um estado de alerta contnuo, o que colabora para o processo de degradao de sua sade. Alm do estado de alerta contnuo, a alimentao incorreta e inadequada, os locais inseguros para dormir, a ausncia de sanitrios higienizados, o trabalho isolado, o sedentarismo e todos os problemas da organizao do trabalho colocam os motoristas de caminhes como trabalhadores com alto risco de sofrer um acidente (OLIVEIRA e BENTO 2003). Ocorre ainda o risco do alcoolismo que, segundo SELLIGMANN-SILVA (1995) confirma, os indivduos que trabalham sob muita tenso so os mais propensos ao alcoolismo, como o caso dos motoristas de caminho e de nibus, estando este processo presente em ocupaes em que o indivduo trabalha sozinho. Ao considerar-se que a viso corresponde a 95 % do ato de dirigir, BRANDO et al.. (1995) realizaram um levantamento em uma rodovia federal de grande circulao onde foram sorteados 400 motoristas de caminhes pesados. Deste total, 204 (51,0%) tinham um intervalo para renovao da Carteira Nacional de Habilitao CNH - maior que cinco anos e 51,5% referiram nunca se terem submetido a exames oftalmolgicos exigidos pela legislao, e estes quando realizados, nem sempre estavam completos. Apresentavam deficincia de acuidade visual 51 motoristas (14,2%), entre os quais, 17 (29,8%) portavam uma viso aqum do mnimo exigido pela lei, sendo que quatro motoristas apresentaram cegueira de um dos olhos. Foram estudados 25 motoristas de nibus de uma empresa de transporte coletivo da regio de Campinas SP, e todos tinham exames mdicos pradmissionais normais. De outra parte, a hipertenso arterial foi detectada em 8 (32%), e as alteraes de ritmo cardaco foram encontradas em 23 (92%) dos trabalhadores (PINHO et al. 1991). Na Dinamarca, estudos identificaram motoristas de nibus como a categoria profissional de alto risco de mortalidade por doenas arteriais coronarianas. Dados epidemiolgicos suecos, em 1981, revelaram que os motoristas apresentaram um ndice de mortalidade devido doena arterial cinco

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vezes mais elevado do que o pessoal empregado em ocupaes tcnicas, cientficas ou educacionais (DUFFY e McGOLDRICK 1990). CMARA (1999) concluiu que os motoristas expostos a altos nveis de temperatura (24 e 36C) e rudo (55 e 78dB), tambm apresentaram aumento do batimento cardaco e das presses sistlica e diastlica, com tambm desconforto e fadiga. Na ndia, em 1991, realizaram-se testes audiomtricos em motoristas expostos ao rudo e se compararam os resultados com um grupo controle. Para os motoristas, as exposies ao rudo foram medidas entre 89 e 106 dB e entre 50 e 62 dB para o grupo controle. Observou-se que os motoristas tinham audiogramas alterados em 89% dos casos, contra 19% do grupo controle. Os motoristas indianos esto expostos aos nveis de, no mximo, 106dB; em se tratando dos motoristas de nibus urbanos da cidade de So Paulo, a exposio aos nveis de rudo acima de 94dB no comum (KWITKO 2001). Em 2000, foram entrevistados 311 caminhoneiros. Do total, 3,5% eram hipertensos e, destes, 45,4% usavam anfetamina associada. Estima-se que 19.200 caminhoneiros que trafegam por ms no trecho analisado, fazem uso de drogas antihipertensivas associadas anfetamina, aumentando consideravelmente o risco de acidentes (FARIA 2001). Mediante coleta das CATs, com bitos, realizada em Santa Catarina, puderam ser analisadas 206 mortes ocorridas por acidentes do trabalho no Estado em 1991. Foi elevado o nmero de acidentes rodovirios ou em via pblica (77); o motorista foi a profisso mais vitimada (33). O elevado nmero de mortes nas transportadoras resultou da