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Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica Programa de Projeto de Estruturas João Flávio Braz Machado “ANÁLISE AVANÇADA PARA VERIFICAÇÃO DE ESTRUTURAS MISTAS (AÇO E CONCRETO) SOB CONDIÇÕES DE INCÊNDIO”

(aço e concreto) sob condições de incêndio

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  • Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Escola Politcnica

    Programa de Projeto de Estruturas

    Joo Flvio Braz Machado

    ANLISE AVANADA PARA VERIFICAO DE ESTRUTURAS MISTAS

    (AO E CONCRETO) SOB CONDIES DE INCNDIO

  • Joo Flvio Braz Machado

    ANLISE AVANADA PARA VERIFICAO DE ESTRUTURAS MISTAS

    (AO E CONCRETO) SOB CONDIES DE INCNDIO

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Projeto de

    Estruturas, Escola Politcnica, da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo

    de Mestre em Projeto de Estruturas.

    Orientadores:

    Ricardo Valeriano Alves

    Alexandre Landesmann

    Rio de Janeiro

    2015

    UFRJ

  • iii

    Machado, Joo Flvio Braz

    Anlise avanada para verificao de estruturas mistas

    (ao e concreto) sob condies de incndio 2015.

    81.: 30 cm.

    Dissertao (Mestrado em Projeto de Estruturas)

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politcnica,

    Programa de Projeto de Estruturas, Rio de Janeiro, 2015.

    Orientador(es): Ricardo Valeriano Alves e Alexandre

    Landesmann

    Anlise Avanada, 2. Incndio, 3. Modelo de Zonas 4.

    Estrutura. I. Alves, Ricardo Valeriano e Landesmann, Alexandre

    II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola Politcnica.

    III. Ttulo.

  • iv

    ANLISE AVANADA PARA VERIFICAO DE ESTRUTURAS MISTAS (AO

    E CONCRETO) SOB CONDIES DE INCNDIO

    Joo Flvio Braz Machado

    Orientadores:

    Ricardo Valeriano Alves

    Alexandre Landesmann

    Dissertao de Mestrado apresentada Programa de Projeto de

    Estruturas, Escola Politcnica, da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo

    de Mestre em Projeto de Estruturas.

    Aprovada pela Banca:

    __________________________________________

    Prof. Ricardo Valeriano Alves, D.Sc., UFRJ

    __________________________________________

    Prof. Alexandre Landesmann, D.Sc., UFRJ

    __________________________________________

    Prof. Luiz Fernando Lomba Rosa, D.Sc., UFRJ

    __________________________________________

    Prof. Mayra Soares Pereira Lima Perlingeiro, D.Sc., UFF

    Rio de Janeiro

    2015

    UFRJ

  • v

    A Deus por iluminar meus caminhos,

    A todos os meus companheiros de Casaro Vermelho,

    A Silvana.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para a

    elaborao deste trabalho.

    Aos meus orientadores, Professores Ricardo Valeriano e Alexandre Landesmann,

    pela pacincia, compreenso e tempo gasto, tendo participao fundamental na

    elaborao desta Dissertao com sugestes, revises, crticas, dicas, ensinamentos, etc.,

    capazes de viabilizar e enriquecer este humilde trabalho, mas, sobretudo pelo

    aprendizado que levarei pelo resto da vida.

    Ao amigo Professor Srgio Hampshire, que me incentivou a ingressar no

    mestrado com palavras de incentivo.

    UFRJ, em particular, ao Programa de Projeto em Estruturas, representado por

    todos seus Professores e Funcionrios, o meu sincero agradecimento.

    Aos Professores Ian Burgess e Roger Plank da Universidade de Sheffield (UK)

    pela ateno dedicada no emprego dos modelos computacionais.

    Ao CBCA pelo apoio e participao nos materiais e programa disponibilizado.

    Agradeo a Professora Paula Farencena Viero por ter me orientado l no incio da

    minha trajetria acadmica me estimulando no abandonar a universidade.

    Agradeo, em especial, a todos aqueles que e direcionaram suas oraes por

    minha causa, das quais fortaleceram a minha jornada diria.

  • vii

    RESUMO

    MACHADO, Joo Flvio Braz. Anlise avanada para verificao de estruturas

    mistas (ao e concreto) sob condies de incndio. Rio de Janeiro. 2015. Dissertao

    (Mestrado) Programa de Projeto de Estruturas, Escola Politcnica, Universidade

    Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2015.

    Este trabalho tem por objetivo a anlise avanada de modelo numrico-

    computacional para a anlise de estruturas mistas (ao e concreto) em situao de

    incndio. O desenvolvimento da dinmica do incndio, por modelos de zonas, feito

    por um modelo tridimensional de Dinmica Computacional (programa OZone). A

    variao da temperatura em funo do tempo nos elementos expostos ao incndio

    realizada e o comportamento estrutural analisado por meio de comparaes entre as

    curvas adotadas por normas e pelos resultados do programa acima descrito, que inclui a

    variao das relaes constitutivas dos materiais, para diferentes temperaturas. A

    modelagem do compartimento incendiado permite a verificao da estrutura quanto

    evoluo das temperaturas nos elementos estruturais com relao ao tempo com a

    possibilidade da adoo de modelos de curvas de incndio mais prximas da realidade.

    Um estudo de caso realizado com a ajuda do programa computacional proposto. Os

    resultados obtidos indicam que modelos de zonas como os tratados neste trabalho,

    podem ser incorporados em anlises de projeto em situao de incndio, representando

    verificaes mais realsticas e econmicas do que as usualmente realizadas.

    Palavras-chave: Anlise Avanada, Incndio, Modelo de Zonas, Estruturas.

  • viii

    ABSTRACT

    MACHADO, Joo Flvio Braz. Advanced analysis for assessment of aomposite

    Structures (Steel and Concrete) under aire conditions. Rio de Janeiro. 2015.

    Dissertao de Mestrado Programa de Projeto de Estruturas, Escola Politcnica,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2015.

    This study aims to advanced analysis of numeric-computational model for the analysis

    of composite structures (steel and concrete) in case of fire. The development dynamics

    of the fire zones for models, is made by a three-dimensional computational model

    dynamics (Ozone program). The temperature variation depending on time in the

    elements exposed to fire is performed and the structural behavior is analyzed by

    comparing the curves and standards adopted by the results of the above program, which

    includes variation of the constituent ratios of the materials for different temperatures.

    The modeling of the burned compartment allows the examination of the structure on the

    evolution of temperatures in the structural elements with respect to time with the

    possibility of adopting models closer to reality fire curves. A case study is carried out

    with the help of the proposed computer program. The results indicate that models zones

    as those treated in this work, can be incorporated into design reviews in fire,

    representing more realistic checks and economical than those usually performed.

    Keywords: Advanced Analysis, Fire, Zone Models, Structures.

  • ix

    SUMRIO

    1. INTRODUO ........................................................................................................... 1

    1.1. Objetivos ............................................................................................................ 3

    1.2. Justificativa do Tema.......................................................................................... 3

    1.3. Organizao ........................................................................................................ 4

    2. REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................................... 5

    2.1. Tempo Requerido de Resistncia ao Fogo ......................................................... 5

    2.2. Descrio e Modelagem dos Incndios .............................................................. 6

    2.3. Comportamento dos Incndios ......................................................................... 10

    2.3.1. Modelagem por Zonas .......................................................................... 11

    2.3.2. Efeito da Variao da Temperatura ...................................................... 13

    2.3.3. Programa OZone .................................................................................. 18

    2.3.4. Curvas Nominais de Incndio .............................................................. 20

    2.4. Elevao da Temperatura no Ao .................................................................... 23

    2.4.1. Elementos Estruturais sem Revestimento Contra Fogo ....................... 23

    2.4.2. Elementos Estruturais Envolvidos por Material de Proteo Contra

    Incndio ................................................................................................ 24

    2.5. Dimensionamento Estrutural ............................................................................ 27

    2.5.1. Consideraes Bsicas para Dimensionamento sob a Ao do Fogo .. 27

    2.5.2. Barras Submetidas Fora Normal de Compresso ............................ 31

    2.5.3. Barras Submetidas Flexo ................................................................. 34

    3. ESTUDO DE CASO .................................................................................................. 36

    3.1. Descrio Geral do Estudo de Caso ................................................................. 36

    3.2. Materiais Utilizados ......................................................................................... 39

    3.2.1. Ao Estrutural ....................................................................................... 40

    3.2.2. Ao de Armadura Passiva..................................................................... 40

    3.2.3. Concreto Estrutural ............................................................................... 40

    3.3. Elementos Estruturais ....................................................................................... 41

    3.3.1. Pilares ................................................................................................... 41

    3.3.2. Vigas ..................................................................................................... 42

    3.3.3. Lajes ..................................................................................................... 42

    3.4. Determinao do Tempo Requerido de Resistncia ao Fogo ........................... 43

    3.5. Descrio do Compartimento sob a Ao do Fogo .......................................... 45

    3.6. Solicitaes ....................................................................................................... 46

  • x

    3.6.1. Carregamentos Atuantes sobre a Laje .................................................. 46

    3.6.2. Dimensionamento do Pilar ................................................................... 46

    3.6.3. Dimensionamento da Viga Principal .................................................... 47

    3.6.4. Viga Secundria .................................................................................... 47

    4. RESULTADOS OBTIDOS ....................................................................................... 48

    4.1. Variao da Temperatura do Gs com o Tempo .............................................. 48

    4.2. Variao da Temperatura nos Elementos Estruturais....................................... 51

    4.2.1. Pilar ....................................................................................................... 51

    4.2.2. Viga Principal ....................................................................................... 54

    4.2.3. Viga Secundria .................................................................................... 57

    5. CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 61

    5.1. Sugestes para Trabalhos Futuros .................................................................... 63

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................... 64

    7. ANEXO A VERIFICAO PELO PROGRAMA A3C ....................................... 68

  • xi

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 2.1 - Curva temperatura-tempo de um incndio e taxa de calor liberado em

    compartimento (BABRAUSKAS, 2002). ........................................................................ 7

    Figura 2.2 - Comportamento do incndio em um compartimento (CALDAS, 2008). ..... 9

    Figura 2.3 - Caracterizao do modelo de zonas e a relao entre a camada de gases

    quentes e as aberturas, adaptado da NFPA (2002). ........................................................ 12

    Figura 2.4 - Curvas nominais EN 1991-1-2:2002. ........................................................ 21

    Figura 3.1 - Perspectiva do projeto arquitetnico do edifcio (PDCIDUNI, 2014)........ 36

    Figura 3.2 Disposio dos pilares em planta com cotas em mm (PDCIDUNI, 2014) 37

    Figura 3.3 - Construo do Bloco 34 .............................................................................. 38

    Figura 3.4 - Disposio de varandas em planta com cotas em mm (PDCIDUNI, 2014) 39

    Figura 3.5 - Detalhe dos pilares ainda sem o encamisamento ........................................ 41

    Figura 3.6 - Exemplos de armaduras dos pilares mistos (PDCIDUNI, 2014) ............... 42

    Figura 4.1 - Temperatura do gs em funo do tempo de incndio pela ISO 834 ......... 48

    Figura 4.2 - Temperatura do gs em funo do tempo de incndio no Ozone ............... 49

    Figura 4.3 - Zona Fria ..................................................................................................... 50

    Figura 4.4 - Variao da altura de elevao do plano neutro ......................................... 50

    Figura 4.5 - Seo tranversal do pilar misto em mm ...................................................... 51

    Figura 4.6 - Temperatura do ao sem proteo do pilar - ISO 834 (1999) .................... 52

    Figura 4.7 - Temperatura no ao sem proteo do pilar - Hot Zone............................... 53

    Figura 4.8 - Temperatura do ao com proteo - ISO 834 (1999) ................................. 53

    Figura 4.9 - Temperatura do ao com proteo - Hot Zone ........................................... 54

    Figura 4.10 - Temperatura do ao na viga principal sem proteo - ISO 834 (1999) ... 55

    Figura 4.11 - Temperatura do ao sem proteo na viga principal - Hot Zone .............. 55

    Figura 4.12 - Temperatura do ao na viga principal com proteo - ISO 834 (1999) ... 56

    Figura 4.13 - Temperatura do ao com proteo do pilar - Hot Zone ............................ 57

    Figura 4.14 - Temperatura do ao na viga secundria sem proteo - ISO 834 (1999) . 57

    Figura 4.15 - Temperatura do ao na viga secundria sem proteo - Hot Zone ........... 58

    Figura 4.16 - Temperatura do ao na viga secundria com proteo - ISO 834 (1999). 58

    Figura 4.17 - Temperatura do ao na viga secundria com proteo - Hot Zone .......... 59

  • xii

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 2.1 - Resumo do TRRF em minutos conforme ABNT NBR 14432:2001............ 6

    Tabela 2.2 - Fator de massividade para elementos estruturais de acordo com a ABNT

    NBR 14323:2013 sem e com proteo. .......................................................................... 27

    Tabela 2.3 - Coeficientes g para aes permanentes consideradas separadamente ....... 29

    Tabela 2.4 - Coeficientes g para aes permanentes diretas agrupadas......................... 29

    Tabela 2.5 - Dimenses mnimas da seo transversal, cobrimento mnimo de concreto

    da seo de ao e distncias mnimas dos eixos das barras da armadura face do

    concreto (ABNT NBR 14323:2013)............................................................................... 33

    Tabela 2.6 - Cobrimento de concreto com funo apenas do isolamento trmico (ABNT

    NBR 14323:2013). ......................................................................................................... 33

    Tabela 3.1 - Determinao do TRRF com base na ABNT NBR 14432:2001................ 44

    Tabela 4.1 - Comparativo entre os valores das dimenses previstas em norma com as

    dimenses da seo transversal ...................................................................................... 51

    Tabela 4.2 - Resumo comparativo entre os resultados das curvas de incndio para os

    perfis metlicos ............................................................................................................... 60

  • xiii

    LISTA DE SMBOLOS

    Letras Latinas

    0 rea das aberturas

    A rea da superfcie exposta da seo

    Ag rea bruta da seo transversal

    rea total das superfcies do envelope do compartimento

    Calor especfico do ao

    Calor especfico da superfcie do compartimento

    Calor especfico do gs

    Cb Fator de modificao para diagrama de momento fletor no uniforme

    E Mdulo de elasticidade do ao temperatura ambiente

    Tenso mxima de compresso do concreto em temperatura ambiente

    Tenso de escoamento do ao em temperatura ambiente

    Limite de resistncia ( ruptura) mnimo

    Resistncia ao escoamento do ao a temperatura ambiente

    Limite de escoamento do ao

    FGi,k Valor caracterstico das aes permanentes diretas

    FQ,exc Valor caracterstico das aes trmicas decorrentes do incndio

    FQk Valor caracterstico das aes variveis decorrentes do uso e ocupao da

    edificao

    Acelerao da gravidade (9.8)

    Mdulo de elasticidade transversal

    Coeficiente de transferncia de calor efetivo

    0 Altura da abertura

    Condutividade trmica do ar

    Condutividade trmica da superfcie do compartimento

    kE,T Fator de reduo do mdulo de elasticidade do ao temperatura Ta

    ky,T Fator de reduo da resistncia ao escoamento do ao temperatura Ta

    L Carga trmica

    Mcr Momento fletor de flambagem elstica temperatura ambiente

    , Momento resistente

    , Momento solicitante

  • xiv

    Mpl Momento de plastificao da seo transversal temperatura ambiente

    Mr Momento fletor correspondente ao incio do escoamento da seo transversal

    para projeto temperatura ambiente

    Taxa de perda de massa do combustvel

    Fluxo de gs que sai pelas aberturas

    , Esforo normal resistente

    , Esforo normal solicitante

    Profundidade do compartimento

    Taxa de liberao de energia

    [] Vetor de Foras Internas

    Taxa de transferncia de calor convectivo e radioativo da camada superior

    Rfi,d Esforo resistente de clculo correspondente do elemento estrutural para o

    estado limite ltimo em considerao, em situao de incndio

    , Esforo solicitante de clculo em situao de incndio

    t Tempo

    Espessura do material de proteo contra incndio

    Tempo de processamento para p processadores

    Tempo de penetrao trmica

    Temperatura do gs no compartimento do incndio

    , Temperatura do ao no tempo t

    , Temperatura do gs no tempo t

    Temperatura ambiente

    Permetro da seo transversal

    Permetro efetivo da seo transversal

    0 Largura da abertura

    Largura do compartimento

    Altura do plano neutro

    Letras Gregas

    c Coeficiente de transferncia de calor por conveco

    Coeficiente de dilatao trmica

    g Valor do coeficiente de ponderao para as aes permanentes diretas

    Espessura da superfcie do compartimento

  • xv

    Deslocamento vertical

    Calor de combusto efetivo

    Intervalo de tempo (no deve ser considerado maior que 5s)

    Emissividade do incndio, valor mdio definido como 0,8

    Coeficiente de emissividade

    Alongamento mnimo aps ruptura

    Emissividade resultante

    ndice de esbeltez reduzido para barras comprimidas temperatura ambiente

    m Condutividade trmica do material de proteo contra incndio

    1 fator de correo para temperatura no-uniforme na seo transversal

    2 fator de correo para temperatura no-uniforme ao longo do comprimento de

    um elemento estrutural

    Coeficiente de Poisson

    Parmetro de armazenagem relativa de calor

    Densidade

    Densidade do ao

    Densidade da superfcie do compartimento

    Densidade do ar

    Fluxo de calor radiativo

    Aumento de temperatura em relao temperatura ambiente

    fi Fator de reduo associado resistncia

    Parmetro de ventilao

  • 1

    1. INTRODUO

    Desde a apario da humanidade o fogo esteve presente, onde seu conhecimento e

    domnio influenciaram a evoluo de vrias civilizaes. O homem primitivo conhecia

    o fogo apenas em incndios florestais- considerado como algo divino. Seu aprendizado

    e manuseio foram dominados para as utilidades de iluminar, cozinhar, afugentar animais

    e aquecimento contra o frio. Porm, houve um dia em que o fogo tornou-se

    incontrolvel, causando ferimentos e destruio. Surgia ento o primeiro incndio e a

    necessidade de control-lo mostrou-se necessria.

    Nos tempos atuais, o uso do fogo continua sendo de grande necessidade, quer nos

    ambientes indstrias e/ou nas moradias, sendo por vezes perdido seu controle e gerando

    incndios, responsveis por prejuzos materiais e pela perda de vidas.

    As modernas edificaes residenciais, comerciais, industriais ou de reunio de

    pblico, quando na sua concepo, possuem a mesma preocupao, no que tange a

    segurana contra incndio e pnico. Em todos estes locais, quanto nos logradouros

    pblicos, verifica-se uma srie de medidas que demostram a preocupao com o ser

    humano, como, por exemplo, a sinalizaes e a iluminao de emergncia dos locais de

    diverses pblicas ou at mesmo em hidrantes urbanos.

    Os objetivos da segurana contra incndio so de mitigar o risco vida e a perda

    patrimonial e os danos ao meio ambiente. O risco vida surge devido exposio

    fumaa, ao calor e ao colapso de elementos construtivos sobre usurios e equipes de

    combate ao fogo. A perda patrimonial se refere destruio parcial ou total da

    edificao e adjacncias, equipamentos, documentos e estoques sem deixar de

    mencionar lucro cessante e eventual liberao de agentes nocivos ao meio ambiente,

    decorrente de acidentes em plantas industriais.

    Um sistema de segurana contra incndio formado por um conjunto de meios de

    proteo ativos e passivos que possa garantir a desocupao dos usurios da edificao,

    possibilitar as operaes de combate ao incndio e minimizar danos edificao e suas

    adjacncias (por questes econmicas necessrio identificar a extenso do dano que

    pode ser considerado admissvel).

  • 2

    Entre os meios de proteo ativos, tm-se os detectores de calor ou fumaa,

    chuveiros automticos, extintores, hidrantes, sistemas de iluminao de emergncia,

    sistemas de controle e exausto de fumaa, brigadas contra incndio e outros que

    precisam ser acionados manual ou automaticamente.

    Por sua vez, os meios de proteo passivos podem-se citar a capacidade resistente

    em situao de incndio das estruturas, compartimentao, sadas de emergncia,

    isolamento de risco, rotas de fuga, controle dos materiais de acabamento e outros

    incorporados construo da edificao que no requerem nenhum tipo de acionamento

    para o seu funcionamento.

    O estudo do comportamento de estruturas sob a ao de incndios atravs dos

    modelos de zonas, segundo programa computacional Ozone, desenvolvido na

    Universidade de Lige na Blgica, o objetivo deste trabalho. Tal assunto pode ser

    visto, recentemente, com intensivas pesquisas e avanos.

    Inicialmente, o conceito de temperatura crtica, pelo qual as estruturas de ao

    eram protegidas limitando a temperatura do ao, e o uso de tabelas para a verificao de

    estruturas de concreto, juntamente com ensaios experimentais, foram os principais

    procedimentos de verificao da capacidade resistente das estruturas em situao de

    incndio.

    Modelos analticos, numricos e experimentais cada vez mais sofisticados

    permitem um melhor conhecimento e entendimento do comportamento estrutural e dos

    materiais construtivos em situao de incndio. Os procedimentos de projeto devem

    levar em conta o comportamento da estrutura em temperatura elevada, a exposio ao

    calor e os benefcios dos meios de proteo ativa e passiva, juntamente com as

    incertezas associadas e a importncia relativa da estrutura.

    No momento, possvel determinar de forma adequada o desempenho de uma

    estrutura ou de seus componentes em um incndio real, incorporando os parmetros

    citados. Modelos avanados de clculo podem ser utilizados tanto em aproximaes ou

    com base em desempenho. Os modelos desenvolvidos neste trabalho podem ser

    utilizados em anlises avanadas, tanto com o objetivo de estudar solues de projeto

    ou no estudo do comportamento de estruturas.

  • 3

    1.1. Objetivos

    O presente trabalho tem como objetivo a anlise de estruturas com base no uso de

    um modelo avanado capaz de simular de forma adequada a evoluo da temperatura

    dos gases no compartimento de estruturas de ao e mistas (ao e concreto) sob a ao de

    incndio, possibilitando a verificao e o estudo de estruturas sob essas condies.

    Neste interim, foram desenvolvidos modelos numricos que abrangem desde o

    estudo do comportamento das sees transversais dos elementos estruturais como vigas

    e pilares, ao desenvolvimento de modelos de elementos finitos para a modelagem das

    estruturas sob altas temperaturas.

    1.2. Justificativa do Tema

    Dois pontos importantes contribuem para que a capacidade resistente das

    estruturas em situao de incndio seja maior do que a prescrita nos mtodos

    simplificados de clculo: as condies reais de incndio ao qual a estrutura est

    submetida e o comportamento da estrutura como um todo.

    Segundo BURGESS (2005), o nico caminho de se prever como uma edificao

    se comporta em incndio por meio de modelos numricos avanados que incluam as

    mudanas no comportamento dos materiais em altas temperaturas, as distribuies de

    temperaturas nas diversas partes da estrutura e a habilidade para trabalhar

    adequadamente em grandes deslocamentos.

    Com o objetivo de apresentar uma nova modelagem numrico-computacional a

    fim desenvolver a anlise de estruturas em situao de incndio, foi utilizado o

    programa OZone, no encontrado na literatura local, por meio dos seus resultados.

    Desta forma, foi possvel agrupar um conjunto de anlises para o desenvolvimento de

    modelos numricos, comercialmente adotados, para anlise de estruturas em situao de

    incndio.

    As pesquisas locais sobre o comportamento de estruturas em situao de incndio

    so modestas, principalmente as experimentais, devido ao alto custo das instalaes e

    equipamentos envolvidos na tarefa. Assim, o desenvolvimento de modelos capazes de

  • 4

    simular o comportamento de estruturas em situao de incndio torna-se extremamente

    relevante.

    Ao final, os resultados do programa foram validados estabelecendo seus limites de

    aplicao, tornando-se uma opo interessante para o desenvolvimento de pesquisas e

    projetos nessa rea.

    1.3. Organizao

    O captulo 2 apresenta uma reviso bibliogrfica dos conceitos bsicos de

    segurana contra incndio, com enfoque na anlise trmica dos elementos estruturais

    quando da ao de incndio atravs de curvas e modelos numricos, alm dos

    programas computacionais utilizados como plataforma para o desenvolvimento do

    modelo apresentado neste trabalho.

    No captulo 3, apresenta-se o estudo de caso com a descrio da estrutura, seus

    materiais, a determinao de seus parmetros normativos frente ao fogo.

    O captulo 4 mostra os resultados obtidos, resultantes do incndio postulado, alm

    do desenvolvimento do modelo gerado para a anlise trmica. Dentro destes

    procedimentos so apresentadas as formulaes e hipteses adotadas, onde se pode

    destacar o desenvolvimento da modelagem por zonas em comparao, ao prescrito pelas

    normas brasileiras, no que se refere s sees transversais adotadas de elementos

    estruturais como vigas e pilares com ou sem proteo trmica.

    No ltimo captulo so apresentadas as concluses e as sugestes de continuidade,

    e finalmente, as referncias bibliogrficas deste trabalho.

  • 5

    2. REVISO BIBLIOGRFICA

    Neste captulo so apresentados os conceitos de engenharia de segurana contra

    incndio, o comportamento trmico das estruturas em funo do tempo sob a ao de

    incndios, alm de uma reviso bibliogrfica dos conceitos encontrados na literatura.

    No que concerne ao estudo das estruturas em situao de incndio, trs etapas so

    fundamentais: (i) a modelagem do incndio, (ii) a anlise trmica e (iii) a anlise

    estrutural. A modelagem do incndio, do ponto de vista estrutural, tem como objetivo

    obter a relao temperatura-tempo dos gases ou os fluxos de calor por radiao e

    conveco.

    A anlise trmica visa obteno da elevao da temperatura nos elementos

    estruturais a partir da relao temperatura-tempo dos gases. A elevao da temperatura

    importante para avaliao das propriedades dos materiais que devero ser utilizadas na

    anlise estrutural. Os estudos desenvolvidos neste trabalho so voltados para as etapas

    de anlise trmica e estrutural.

    2.1. Tempo Requerido de Resistncia ao Fogo

    O Tempo Requerido de Resistncia ao Fogo (TRRF) representa a confiabilidade

    da sociedade nos mecanismos de deteco e debelao de incndios, segundo VARGAS

    e SILVA (2003), sendo o TRRF de um elemento isolado, normalmente especificado por

    cdigos normativos, e designado em funo do desempenho estrutural obtido por

    ensaios laboratoriais (estufas e fornos). Este tempo normalmente expresso em

    mltiplos de 30 minutos, como: 30, 60, 90 e 120, conforme estabelece a ABNT NBR

    14432:2001.

    Em procedimentos prescritivos de projeto, a especificao do TRRF tem por base

    critrios gerais, como o tipo e altura da edificao que esto associados carga de

    incndio, e s consequncias da exposio a altas temperaturas. Nota-se que apesar da

    considerao de critrios gerais como a carga de incndio e as consequncias da

    exposio a altas temperaturas, fatores importantes, como a ventilao e as propriedades

  • 6

    dos materiais que compem o compartimento, no so considerados. A Tabela 2.1

    apresenta alguns exemplos de TRRF.

    Tabela 2.1 - Resumo do TRRF em minutos conforme ABNT NBR 14432:2001.

    Ocupao/uso Altura da edificao

    h 6m 6 < h 12m 12 < h 23m 23 < h 30m h 30m

    Residencial 30 30 60 90 120

    Hotel 30 60 60 90 120

    Supermercado 60 60 60 90 120

    Escritrio 30 60 60 90 120

    Escola 30 30 60 90 120

    Shopping 60 60 60 90 120

    Hospital 30 60 60 90 120

    Segundo VARGAS e SILVA (2003), o tempo requerido de resistncia ao fogo

    um tempo mnimo de resistncia ao fogo de um elemento construtivo, quando sujeito ao

    incndio-padro. A resistncia ao fogo a propriedade de um elemento estrutural

    resistir ao do fogo por determinado perodo de tempo, mantendo sua segurana

    estrutural, estanqueidade e isolamento, onde aplicvel.

    O TRRF varia de uma especificao (normas, leis ou regulamentaes) para outra,

    sendo fruto do consenso da sociedade, no significando a durao do incndio ou o

    tempo de desocupao dos indivduos de um edifcio, muito menos o tempo necessrio

    para a chegada do Corpo de Bombeiros.

    2.2. Descrio e Modelagem dos Incndios

    A intensidade e a durao dos incndios em edificaes podem variar muito.

    possvel estimar o desenvolvimento da temperatura em um incndio dentro de um

    compartimento sob condies adversas, desde que os parmetros envolvidos sejam

    conhecidos. Parmetros como a quantidade dos materiais combustveis, so

    imprevisveis, uma vez que variam com o tempo e de um compartimento para o outro.

    Portanto, impossvel saber a relao temperatura-tempo que um edifcio poder

    ser exposto durante sua vida til. Porm, possvel, com razovel probabilidade, indicar

    para qualquer compartimento, uma relao temperatura-tempo que no ser excedida

    durante a vida til da edificao. Essas relaes so as bases do projeto de segurana

  • 7

    contra incndio e facilitam o estudo dos componentes resistentes da edificao expostos

    a incndios de vrias intensidades e duraes de acordo com LIE (2002).

    A curva temperatura-tempo dos gases est associada taxa de calor liberado pela

    combusto que pode ser representada pela Figura 2.1, que est diretamente relacionada

    taxa de combusto por meio do potencial calorfico especfico do material em

    combusto segundo BABRAUSKAS (2002). O desenvolvimento do incndio em um

    compartimento, Figura 2.1, pode ser dividido em trs fases: (1) crescimento do

    incndio; (2) combusto permanente com um aumento rpido de temperatura; (3)

    reduo da temperatura.

    Figura 2.1 - Curva temperatura-tempo de um incndio e taxa de calor liberado em

    compartimento (BABRAUSKAS, 2002).

    O incndio comea a partir da combusto de um primeiro item dentro do

    compartimento. Durante essa fase, o incndio localizado e a distribuio de

    temperatura no compartimento altamente varivel. O perigo maior o risco de morte

    devido produo de gases quentes e fumaa.

    Se o incndio rapidamente detectado e medidas efetivas de combates so

    acionadas, ele pode ser facilmente controlado e os danos e riscos so mnimos. Se no

    h interveno, e o primeiro item em combusto est suficientemente distante de outros

  • 8

    materiais combustveis, o incndio pode se extinguir. O mesmo pode ocorrer caso os

    materiais tenham dificuldades de combusto.

    Com o desenvolvimento do incndio, se no houver quantidade suficiente de

    oxignio, o incndio pode se extinguir de fato ou apenas aparentemente. Neste caso,

    sendo capaz de crescer novamente se mais oxignio entrar no compartimento. Em

    algumas situaes, pode ocorrer uma exploso ambiental, chamada backdraft.

    Para respirao humana, o mnimo de oxignio na atmosfera de 16% em volume

    (a concentrao de oxignio na atmosfera de aproximadamente 21%). Para a

    combusto, o mnimo para as chamas de 13%, e 4% o mnimo para as brasas sendo

    que abaixo de 4% no h combusto. Quando a quantidade de oxignio pequena

    (abaixo de 8% em volume) e se tem calor, gases inflamveis continuam a ser liberados

    no compartimento. Esses gases podem se incendiar rapidamente se houver uma entrada

    suficiente de oxignio no ambiente, provocando o backdraft.

    Na engenharia estrutural, assume-se que o incndio se espalha, e que h

    quantidade suficiente de oxignio para que ele no se extinga. Durante o crescimento do

    incndio, fase (1) ou pr-flashover, gases quentes e fumaa so liberados a partir da

    combusto dos materiais. Esses gases que geram as curvas da Figura 2.1, e se acumulam

    na parte superior do compartimento, definindo, juntamente com as aberturas (janelas e

    portas) duas zonas: uma zona superior de gases quentes e uma zona inferior de ar fresco.

    A diviso entre as zonas superior e inferior denominada plano neutro, acima do

    qual os gases fluem para fora do compartimento, e abaixo do qual o ar fresco entra no

    compartimento. Nessa fase, em geral o incndio controlado pelo combustvel

    (quantidade ou facilidade de combusto).

    O volume de gases torna-se estvel enquanto ocorre um aumento da radiao e

    temperatura devido a contnua combusto, o que leva ignio de todos os materiais

    combustveis no compartimento (a temperatura de ignio da madeira exposta a um

    fluxo de calor mnimo de aproximadamente 250C (BABRAUSKAS, 2002). Tal

    fenmeno, no qual todos os materiais combustveis encontram-se envolvidos pelo fogo,

    conhecido como flashover (inflamao generalizada).

    O flashover est associado principalmente ao fluxo de calor recebido pelos

    materiais que ainda no entraram em combusto (CADORIN, 2003). Este fluxo,

  • 9

    transmitido por conveco e radiao, est associado s temperaturas do contorno

    (paredes e teto) e, portanto, temperatura dos gases quentes que formam a zona

    superior. Com base em resultados de vrias pesquisas, adota-se para o fluxo o valor de

    20 kW/m2 e para a temperatura 600C.

    Aps o flashover, tem-se a fase (2) ou ps-flashover, onde a temperatura aumenta

    rapidamente. Nessa fase, a extino do incndio quase sempre impossvel e as equipes

    de combate se concentram em prevenir a propagao para outros compartimentos ou

    edifcios vizinhos.

    Na fase (a), a Figura 2.2, elucida o exposto anteriormente quando o incndio entra

    em um estado estvel de combusto e, portanto, a taxa de calor liberado tambm se

    torna constante (b). A taxa de combusto depende principalmente da quantidade de ar

    que entra no compartimento, ou seja, o incndio controlado pela ventilao (c). A

    temperatura permanece alta e os danos estrutura, tambm, atingem o mximo (d). Essa

    a fase mais relevante para a engenharia estrutural. Aps um perodo de combusto,

    muitos materiais so consumidos e a taxa de combusto comea a diminuir. Nesse

    ponto, cerca de 70% dos materiais foram consumidos (este o ponto em que comea o

    decrscimo na taxa de calor liberado (e)).

    O incndio entra, ento, na terceira fase, na qual as temperaturas diminuem e o

    incndio se extingue quando todos os materiais combustveis so consumidos.

    Figura 2.2 - Comportamento do incndio em um compartimento (CALDAS, 2008).

  • 10

    Nos modelos analticos, um grande nmero de ensaios executado nos quais

    diferentes parmetros so avaliados. Anlises de regresso so realizadas estabelecendo

    relaes entre as variveis de sada (taxa de combusto, temperatura dos gases no

    incndio, quantidade de gases quentes) e variveis de entrada como carga de incndio e

    ventilao. Devido complexidade do problema, somente em poucos casos, solues

    analticas podem ser encontradas.

    As curvas de incndio parametrizado e incndio localizado apresentadas pelo EN

    1991-1-2:2002, e as so as curvas de incndio nominais como a do incndio-padro so

    exemplos mais simples onde o tempo requerido de resistncia ao fogo incorpora as

    diversas variveis do problema de uma maneira subjetiva.

    CALDAS et al. (2006) utilizaram em seus trabalhos cdigos computacionais para

    obteno da relao temperatura-tempo dos gases em um compartimento para posterior

    anlise da estrutura, demonstrando a possibilidade de economia com a utilizao de

    mtodos avanados de clculo em seus procedimentos. Neste mesmo sentido,

    PANNONI et al (2005a,b) tambm utilizaram o programas avanados para simular o

    comportamento do incndio em compartimentos.

    Devido a incertezas constantes sobre fatores como o local do incio do incndio,

    condies de ventilao dos ambientes, aleatoriedade das aberturas e a variedade nas

    propriedades dos materiais que formam o compartimento, existe uma necessidade de

    uma aproximao probabilstica mais adequada para modelagem dos incndios

    postulados.

    Porm, devido falta de informao sobre tais distribuies probabilsticas e

    natureza complexa do processo de formao, utilizam-se aproximaes determinsticas

    considerando-se os casos mais desfavorveis.

    2.3. Comportamento dos Incndios

    O comportamento dos incndios carece de modelagem por processos sofisticados

    e tem atrado a ateno de vrios pesquisadores. Como resultado de tais estudos, muitos

    modelos tm sido desenvolvidos como, por exemplo, modelos analticos com

    modelagens por zonas.

  • 11

    2.3.1. Modelagem por Zonas

    A anlise computacional proposta procura estimar a evoluo das temperaturas

    em um compartimento em incndio, onde se assume a ocorrncia do flashover. As

    anlises desenvolvidas neste trabalho foram extradas e implementadas a partir das

    prescries do Handbook of Fire Protection Engineering da NFPA (2002) para o

    modelo de zonas; do EN 1991-1-2:2002 e das curvas nominais de incndio. A

    modelagem do incndio utilizada feita com base no modelo de zonas, que tem como

    base as curvas nominais de incndio, cujas formulaes utilizadas so descritas mais

    adiante.

    A modelagem por zonas tida como sendo uma aproximao bastante vlida,

    onde o incndio dividido em poucas e grandes zonas com diferentes caractersticas.

    Por exemplo, para a fase pr-flashover, o compartimento incendiado pode ser dividido

    em duas zonas: uma zona superior de gases quentes e uma zona inferior de ar fresco,

    mostrada na Figura 2.3.

    Assume-se que cada zona possua propriedades uniformes como temperatura e

    concentrao de gases. Os resultados obtidos para compartimentos de geometria regular

    fornecem uma modelagem por zonas com um bom entendimento do comportamento do

    incndio.

    A caracterizao do modelo de zona (zone model), ou modelo de duas camadas

    (two-layer model) da Figura 2.3 considera o foco do incndio como um ponto no

    ambiente abaixo do teto, que libera energia e produtos de combusto (massa). Estes

    produtos quentes formam uma pluma demonstrada na mesma ilustrao, que devido ao

    efeito de empuxo, movimentam-se para o teto. Neste movimento, o ar frio que est ao

    redor sugado para a pluma, o que diminui a sua temperatura e aumenta o seu volume.

    Quando a pluma atinge o teto, ela se espalha e forma uma camada de ar quente,

    que cresce conforme a pluma continua a gerar gases quentes. assumido que o nico

    ponto de troca de calor entre o ar e a camada de gases quentes a pluma. Com o

    aumento do seu volume h uma tendncia em se atingir o nvel de aberturas, como

    portas e janelas, por onde os gases iro fluir. Para compensar esta fuga, o ar do ambiente

    externo entrar no compartimento.

  • 12

    Figura 2.3 - Caracterizao do modelo de zonas e a relao entre a camada de gases

    quentes e as aberturas, adaptado da NFPA (2002).

    O conceito do modelo de duas zonas assume que a composio das camadas

    uniforme, ou seja, temperatura e outras propriedades so constantes dentro de cada

    camada. Entretanto, as temperaturas iro variar durante o desenvolvimento do incndio

    e a temperatura da camada superior permanecer maior, sendo esta uma das

    caractersticas mais importantes para este modelo de incndio.

    As suposies adotadas nesta modelagem podero ser menos vlidas para espaos

    muito grandes ou para espaos longos como corredores com shafts. Esta abordagem

    emergiu internacionalmente em meados da dcada de 70, quando os esforos para os

    estudos do desenvolvimento de incndios se intensificaram.

    O princpio bsico adotado para calcular a temperatura em um compartimento

    incendiado a conservao de energia, que segundo a NFPA (2002): a energia

    adicionada camada superior pelo incndio igual energia perdida pela camada

    superior para aquecer os gases mais o tempo para a troca de energia dentro da

    camada mais quente.

    Para formular expresses para a conservao da energia de maneira prtica,

    algumas simplificaes precisam ser assumidas. As propriedades das camadas inferior e

    superior so assumidas como espacialmente uniformes, mas podem variar com o tempo.

  • 13

    Temperatura e propriedades do ar so associadas com a definio de gases ideais e

    homogneos da NFPA (2002). As principais definies na aplicao das leis de

    conservao so:

    (i) o gs considerado ideal, com densidade e calor especfico constante;

    (ii) a troca de massa nas partes livres do contorno geralmente causada por

    conveco natural ou forada, ou pelo processo do empuxo;

    (iii) a combusto tratada como fonte de massa e energia;

    (iv) a pluma chega ao teto do compartimento instantaneamente, isto , no

    computado o tempo deste transporte;

    (v) a seo horizontal do compartimento possui rea constante, devendo ser

    considerada retangular;

    (vi) a presso no compartimento convencionada como uniforme na equao de

    energia, porm variaes hidrostticas so consideradas para diferenas de presso nas

    aberturas do recinto (em geral a presso no compartimento muito maior que as

    variaes hidrostticas);

    (vii) o fluxo de massa dentro da pluma devido a um processo turbulento, dado

    quando o ar ao redor da pluma sugado para dentro da mesma, como resultado do

    empuxo;

    (viii) efeitos de atrito entre os fluidos e as partes slidas so ignorados neste modelo.

    2.3.2. Efeito da Variao da Temperatura

    A variao de temperatura em um compartimento em incndio influenciada

    principalmente pela gerao de energia devido ao processo de combusto. A taxa de

    liberao de energia, [], igual taxa de perda de massa de um combustvel,

    [/], multiplicada pelo calor de combusto deste combustvel [/], ou seja:

    = Eq. (2-1)

    O calor de combusto efetivo esperado em um incndio onde existe a combusto

    incompleta e geralmente descrito como uma frao do calor de combusto terico.

  • 14

    Para calcular as temperaturas em um compartimento em incndio fundamental o

    conhecimento desta grandeza, pois ela torna possvel o clculo da taxa de liberao de

    energia (NFPA, 2002).

    A habilidade de predizer as temperaturas alcanadas durante um incndio de

    grande importncia para a prtica da proteo contra incndios. A importncia para a

    identificao destas temperaturas inclui:

    (i) verificao de danos estrutura e outros bens;

    (ii) ignio em outros compartimentos e objetos;

    (iii) o incio do flashover.

    a) Temperaturas antes do Flashover

    O mtodo que ser apresentado foi desenvolvido por MCCAFFREY et al. (1981).

    Para a soluo aproximada do conjunto de equaes para a conservao da energia, os

    autores utilizaram expresses simples para a conservao de energia, estabelecendo uma

    correlao com dados experimentais para obter uma aproximao da temperatura na

    camada superior em um compartimento em incndio.

    Aplicando as leis de conservao de energia camada superior, obtm-se:

    = ( ) + Eq. (2-2)

    Onde:

    - representa a energia gerada pelo incndio;

    - [ ( )] a energia transportada da camada superior para o gs que flui

    pelas aberturas;

    - [] a taxa de transferncia de calor convectivo e radiativo da camada

    superior, que aproximadamente igual taxa de conduo de calor para as superfcies

    do compartimento, podendo ser aproximada pela expresso:

    = ( ) Eq. (2-3)

    Onde:

  • 15

    - [/. ] o coeficiente de transferncia de calor efetivo;

    - [] a rea total das superfcies do envelope do compartimento;

    - [] a temperatura ambiente.

    Substituindo a Eq. (2-3) na Eq. (2-2), obtm-se o aumento de temperatura em

    termos de dois grupos adimensionais:

    =

    /( )

    1+/( ) Eq. (2-4)

    Onde:

    - em [] o aumento de temperatura em relao temperatura ambiente, ou seja,

    ( ).

    Desta forma, o fluxo de massa da camada quente que flui pelas aberturas pode

    ser escrito como:

    =2

    300

    3/2 [2

    (1

    )]

    1/2

    (1

    0)

    3/2

    Eq. (2-5)

    Onde:

    - o coeficiente de impedimento da abertura (usualmente 0.7);

    - 0 e 0 [] so respectivamente a largura e a altura da abertura; [/] a

    densidade do ar;

    - [/] a acelerao da gravidade;

    - [] a altura do plano mdio da abertura.

    Como depende principalmente de , e de fatores de geometria (0 e 0),

    pode ser substitudo por (00) . Assim, com base na anlise dos

    experimentos realizados por MCCAFFREY et al. (1981), a Eq. (2-4) pode ser reescrita

    na seguinte forma, onde 0 [] a rea das aberturas:

    = 480 (

    00)

    2/3

    (

    00)

    1/3

    Eq. (2-6)

  • 16

    Os coeficientes 480, (2/3) e (-1/3) foram determinados pela correlao das

    expresses com os dados obtidos por cerca de 100 incndios experimentais

    (MCCAFFREY et al., 1981). Nestes estudos, comparados compartimentos com altura

    variando de 0,3m at 2,7m e reas de 0,14m at 12,0m

    Substituindo os seguintes valores para condies ambientes na Eq. (2-6):

    = 9.8 /2, = 1.05 /. , = 1.2 /, = 295 , obtm-se:

    = 6.85 (2

    00)

    1/3

    Eq. (2-7)

    O coeficiente de transferncia de calor pode ser determinado usando a

    aproximao para o estado estacionrio, em que o tempo de exposio, t, maior que o

    tempo de penetrao trmica, por:

    =

    > Eq. (2-8)

    O tempo de penetrao trmica definido por:

    = (

    ) (

    2)

    2

    Eq. (2-9)

    Onde:

    - [/] a densidade da superfcie do compartimento;

    - [/. ] o calor especfico da superfcie do compartimento;

    - [/. ] a condutividade trmica da superfcie do compartimento;

    - [] a espessura da superfcie do compartimento.

    Quando o tempo de exposio for menor que o tempo de penetrao, uma

    aproximao com base na conduo em um slido semi-infinito utilizada:

    = (

    )

    1/2

    Eq. (2-10)

    Caso haja diferentes materiais formando as paredes e tetos, uma mdia ponderada

    na rea dever ser utilizada. As limitaes no uso deste mtodo para estimar as

    temperaturas so os seguintes (MCCAFFREY et al., 1981):

  • 17

    (i) a correlao estvel para temperaturas de camada superior at aproximadamente

    600C;

    (ii) aplicvel a incndios estacionrios ou para dependentes do tempo, desde que a

    resposta para o fenmeno de conduo seja transiente;

    (iii) no aplicvel para incndios de desenvolvimento muito rpido em grandes

    ambientes, em que haja uma rpida evoluo do crescimento do incndio antes dos

    produtos de combusto fluir pelas aberturas;

    (iv) a taxa de liberao de energia do incndio deve ser determinada por experimentos

    ou outras correlaes;

    (v) as caractersticas do tempo de crescimento do incndio t e do tempo de penetrao

    trmica dos materiais do compartimento devem ser determinadas com o intuito de

    obter o coeficiente de transferncia de calor efetivo.

    b) Temperaturas aps o flashover

    O mtodo empregado aqui para calcular as temperaturas em ambientes aps o

    flashover foi desenvolvido por LAW (1983). A rea de superfcie do compartimento

    por onde o calor gerado pelo incndio se perde expresso por ( ).

    Para certa carga de incndio conhecida, os compartimentos que possurem

    diferentes valores de , ou altura apresentaro um diferente balano de calor, e

    por isso as temperaturas nestes compartimentos sero diferentes. Um parmetro que

    expressa esta diferena :

    =()

    Eq. (2-11)

    Onde:

    A0 rea das aberturas e 0 altura de abertura;

    Para valores pequenos de (alta ventilao), a taxa de liberao de calor a

    mxima, porm, o calor perdido para as aberturas e a temperatura resultante baixo.

    Para valores altos de (baixa ventilao), h pouco calor perdido para o exterior, e a

    taxa de calor liberado pequena, com a temperatura novamente baixa. Para propsitos

    de projeto LAW (1983) definiu a relao como:

  • 18

    () = 6000(10.1)

    Eq. (2-12)

    A Eq. (2-12) representa um limite superior para o aumento de temperaturas para

    certo . Entretanto, se a carga de incndio baixa, o valor pode no ser obtido

    corretamente. A importncia do efeito da carga trmica tambm depende de e e

    pode ser expresso por:

    = ()(1 0.05) Eq. (2-13)

    =

    [()]0.5 Eq. (2-14)

    Onde: L representa a carga trmica (por exemplo: madeira) em kg. O efeito do incndio

    no compartimento no depende apenas de , mas tambm da durao do aquecimento.

    Tal efeito pode ser mensurado por:

    =

    Eq. (2-15)

    Para questes de projeto, as equaes podem ser desenvolvidas para expressar

    uma correlao com resultados de experimentos, conforme dado por LAW (1983):

    = 0.18(/) 0.036 < 60 Eq. (2-16)

    Sendo: e [] so respectivamente a largura e a profundidade do compartimento.

    As temperaturas resultantes deste processo so mdias, obtidas durante o estgio

    de desenvolvimento total do incndio. Os incndios so assumidos como controlados

    pela ventilao, para os valores estimados em massa. assumido que 1kg de madeira

    gera 18,8MJ ao total.

    Para demais combustveis, basta substituir o valor da taxa de perda de massa

    (Eq. 2-16), o que pode ser extrado por meio de experimentos, como por exemplo,

    resultados disponibilizados na base de dados chamada FASTDATA (BFRL/NIST,

    1999).

    2.3.3. Programa OZone

    A ferramenta computacional Ozone, elaborada nas pesquisas de CADORIN

    (2003) e desenvolvida pelo Departamento de Mecnica, Materiais e Estruturas da

  • 19

    Universidade de Lige na Blgica utiliza o conceito de modelagem por zonas e modelos

    analticos para obteno da relao temperatura-tempo dos gases no incndio.

    O programa apresenta um modelo avanado de anlise estrutural sob a ao de

    incndio, mais especificamente, nos modelos de zona. A sua aplicao ao clculo

    estrutural em situao de incndio engloba a determinao da temperatura dos gases nos

    compartimentos, para que seja possvel encontrar, em seguida, a temperatura nos

    elementos estruturais e dimensionamento em situao de incndio.

    A modelagem por zonas descrita como um modelo numrico que divide os

    espaos fsicos em estudo em diferentes zonas. Os modelos de zona mais comuns

    dividem um compartimento em duas zonas, uma zona superior mais quente e uma

    inferior mais fria.

    Todavia, os modelos computacionais desenvolvidos no OZone incluem modelos

    de clculo de uma ou duas zonas com abordagem de transio, onde o usurio pode

    definir a curva desenvolvimento do incndio, a composio das paredes, alm de

    permitir a adoo de aberturas atravs de ventilao e calcular o comportamento de

    elementos de ao estrutural atravs frmulas dos eurocdigos.

    Os modelos, utilizados pelo programa, so ferramentas numricas comuns para a

    avaliao da temperatura, com base no desenvolvimento dos gases, no interior de um

    compartimento, durante o curso de um incndio.

    Com base em um determinado nmero de hipteses, que so prticas de serem

    utilizados, e que proporcionam uma boa avaliao da situao, desde que sejam

    utilizados dentro do seu campo real da aplicao, do qual as tornam ferramentas

    essenciais nas aplicaes de engenharia de segurana contra incndio.

    A principal hiptese adotada nos modelos criados a partir do OZone a de que os

    compartimentos esto divididos em espaos em que a distribuio de temperatura

    uniforme em qualquer momento.

    Nestes modelos de uma zona, a temperatura considerada uniforme dentro de

    todo o compartimento. Este tipo de modelo vlido em caso de incndios plenamente

    desenvolvidos, ao contrrio de modelos de duas zonas que so vlidos em caso de

  • 20

    incndios localizados. Neste ltimo caso, h uma camada mais quente, que fica perto do

    teto e uma camada mais fria que est perto do cho.

    A verso utilizada no escopo deste trabalho traz, por exemplo, os modelos de

    parede que so feitos pelo mtodo dos elementos finitos, e que, alm disso, fornecem

    diferentes modelos de combusto para o desenvolvimento e cobertura de diferentes

    hipteses de utilizao da ferramenta. O objetivo da modelagem computacional

    efetuada pelo OZone de apresentar, por um lado um novo modelo de incndios em um

    compartimento e, por outro lado, a validao em escala dos testes de fogo.

    O programa possui uma interface amigvel para a entrada dos dados de acordo

    com a necessidade da anlise estrutural, sendo que os dados introduzidos, usualmente,

    nos modelos numricos do programa so: a geometria do compartimento, os materiais

    (incluindo todas as paredes, pavimentos e tetos), nmero de janelas (ou orifcios) e o

    seu tamanho, os perfis utilizados, densidade de carga de incndio no compartimento e a

    taxa de libertao de calor.

    2.3.4. Curvas Nominais de Incndio

    As curvas de incndio-padro so idealizadas para ensaios experimentais de

    elementos submetidos a altas temperaturas. Sua formulao no leva em considerao

    nenhuma caracterstica da compartimentao e, portanto, no possui nenhuma

    correlao com o incndio real.

    Diversas normas internacionais, como o EN 1991-1-2:2002 e as normas nacionais,

    como a ABNT NBR 14323:2013, permitem a substituio da anlise da estrutura sujeita

    ao incndio real por um tempo de exposio de referncia curva de incndio-padro.

    Neste caso, o processo de aquecimento controlado de acordo com uma curva

    padronizada de tempo versus temperatura estabelecida internacionalmente e

    referenciada pela ISO 834 -1 (1999) que foi includa no EN 1991-1-2:2002 e na ABNT

    NBR 14432:2001.

    Tal curva, tambm ilustrada na Figura 2.4, caracterizada pelo aquecimento

    contnuo do ambiente em funo do tempo de incndio transcorrido, mantendo-se,

    contudo, uma taxa de aquecimento decrescente. Os resultados obtidos pela utilizao da

  • 21

    curva permitem uma avaliao padronizada, sobre a severidade do fogo sobre um dado

    componente estrutural.

    Em procedimentos prescritivos de projeto e em ensaios padronizados, a

    temperatura calculada segundo a curva do incndio-padro, utilizada para incndios

    base de materiais celulsicos (ver Figura 2.4, EN 1991-1-2:2002; ABNT NBR

    14432:2001; ISO 834 -1:1999)

    = 20 + 345 log10(8 + 1) Eq. (2-17)

    Onde:

    - a temperatura dos gases em graus Celsius;

    - [] o tempo de desenvolvimento do incndio.

    Para incndios devido combusto de materiais formados por hidrocarbonetos, a

    relao temperatura-tempo (EN 1991-1-2:2002) deve ser utilizada:

    = 20 + 1080 (1 0.3250,167t 0.67520412,5t) Eq. (2-18)

    Para estruturas externas, localizadas fora do compartimento incendiado, mas que,

    sofrem a ao do incndio atravs de aberturas, o EN 1991-1-2:2002 apresenta a

    expresso:

    = 20 + 660 (1 0.6870,32 0.3133.8) Eq. (2-19)

    Figura 2.4 - Curvas nominais EN 1991-1-2:2002.

    TgC

    t (min)

  • 22

    A partir da anlise da Figura 2.4, observa-se que as curvas nominais apresentam

    um crescimento constante da temperatura, diferentemente do que ocorre em um

    incndio real. Todavia, WANG (2002) para validar as curvas exposio ao incndio

    padro, um tempo limite de exposio especificado, isto , Tempo Requerido de

    Resistncia ao Fogo j descrito na seo 2.1.

    Apesar das limitaes, a utilizao do incndio-padro tem muitas vantagens em

    relao s condies reais de exposio ao incndio:

    (i) o conceito de TRRF tem uma longa histria e est bem relacionado com a segurana

    em incndio, apresentando resultados seguros na utilizao em projetos;

    (ii) tem-se um grande conhecimento obtido a partir de ensaios utilizando a relao

    temperatura-tempo do incndio-padro, porm pouco se tem para outras relaes

    temperatura-tempo;

    (iii) a curva do incndio-padro tem somente uma relao temperatura-tempo, sendo de

    fcil utilizao em projetos.

    Devido a estas vantagens, tentativas tm sido feitas para correlacionar incndios

    naturais ao incndio-padro. Todavia, mesmo para estruturas desprovidas de qualquer

    tipo de material de proteo contra incndio, utilizao de mtodos avanados de

    anlise trmica e estrutural para estruturas de ao sob condies de incndio, como os

    desenvolvidos em LANDESMANN (2003).

    Os mtodos avanados possibilitam o atendimento dos requisitos de resistncia ao

    fogo de um modo mais preciso do que aqueles tradicionalmente previstos pelas

    especificaes simplificadas estabelecidas em normas.

    Alm disso, permitem ao projetista a especificao mais racional do uso de

    materiais de proteo passiva contra incndio, quando necessrios. Contudo, deve-se ter

    em mente que a combinao de sistemas ativos de proteo das estruturas, baseados no

    conceito de monitoramento e extino, aliados a anlises estruturais, proporcionam uma

    substancial reduo nos requisitos de resistncia ao fogo (TRRF), como ser visto no

    Captulo 4.

  • 23

    2.4. Elevao da Temperatura no Ao

    2.4.1. Elementos Estruturais sem Revestimento Contra Fogo

    Para elementos estruturais pertencentes a estruturas interna sem a presena de

    material de proteo contra incndio, a elevao temperatura Ta,t , para um dado

    intervalo de tempo t (em segundos), determinada individualmente para cada

    segmento da seo-transversal, de acordo com a seguinte expresso (ABNT NBR

    14323:2013):

    , =

    , para Ta,t > 0 Eq. (2-20)

    Nesta expresso, representa o fluxo de calor por unidade de rea, sendo

    composto por duas parcelas, respectivamente associadas conveco c e radiao r,

    conforme dado a seguir:

    c r Eq. (2-21)

    Onde:

    = ( ) Eq. (2-22)

    = 5,67. 108 [( + 273)

    4 ( + 273)4 ] Eq. (2-23)

    Nas expresses ilustradas pelas Eq. 2-21 a 2.23, os seguintes parmetros foram

    introduzidos (ABNT NBR 14323:2013):

    -c refere-se ao coeficiente de transferncia de calor por conveco tomado como

    25 W/m2o

    C;

    - Tg a temperatura do ambiente, em C, obtida em funo de curvas tempo-

    temperatura, conforme apresentado anteriormente pela Seo 2.2;

    - Ta a temperatura na superfcie do ao, em C;

    - res corresponde a emissividade resultante, podendo ser tomada igual a 0,5; o valor de

    5,6710-8

    representa a constante de Stefan-Boltzmann;

  • 24

    - u/A representa o fator de massividade de elementos estruturais de ao sem proteo

    contra incndio, dado em m-1

    ;

    - a a massa especfica do ao, que pode ser considerada independente da temperatura,

    com valor igual a 7850 kg/m3.

    O valor de t no pode ser tomado maior que 25000 (u/A)-1

    . No entanto,

    recomenda-se no tomar t superior a 30 segundos. Alm disso, algumas expresses

    para determinao do fator de massividade u/A para peas de ao sem proteo so

    dadas na Tabela 2.2. Ao se usar a equao em 2.20, o valor do fator de massividade u/A

    no pode ser tomado menor que 10 m-1

    .

    A ABNT NBR 14323:2013 permite a adoo, em alguns casos, distribuio

    uniforme de temperatura utilizando-se os valores do fator de massividade indicados na

    Tabela 2.2.

    2.4.2. Elementos Estruturais Envolvidos por Material de Proteo Contra Incndio

    Para perfis metlicos envolvidos por materiais de proteo contra incndio, os

    mecanismos bsicos de transferncia de calor permanecem idnticos queles

    apresentados para elementos desprotegidos. Contudo, a baixa condutividade do material

    de proteo superficial induz uma considervel reduo na taxa de aquecimento da

    seo de ao.

    Por outro lado, a prpria camada de revestimento trmico possui capacidade de

    armazenar uma devida quantidade de calor, mesmo sendo pequena, o que ocasiona um

    substancial retardamento no processo de aquecimento do ao.

    Segundo a metodologia proposta pela ABNT NBR 14323:2013, assume-se que a

    superfcie exposta ao fogo do material de revestimento trmico, encontra-se sob a

    mesma temperatura do meio aquecido, ou seja, com a mesma temperatura do ar.

    Tal hiptese vlida desde que uma parcela mnima do calor incidente na camada

    protetora seja utilizada no clculo do aumento da temperatura do material de

    revestimento trmico, o que bastante razovel, uma vez que o coeficiente de conduo

    do ar substancialmente baixo em relao ao ao (WOOLLEY, 1992).

  • 25

    Utilizando o procedimento incremental-simples, semelhante quele proposto

    anteriormente para perfis aparentes, utiliza-se a expresso 2.24, originalmente prescrita

    pela ABNT NBR 14323:2013, para determinao da elevao de temperatura no ao,

    Ta,t, em cada um dos trs elementos que representam a seo-transversal de perfis

    metlicos I ou H, envolvidos por material de proteo contra incndio.

    , =(/) (,,)

    ()(1+(/4))

    ,

    4/+1 , para , 0 se , > 0 Eq. (2-24)

    Na expresso 2.24, o termo , que representa a armazenagem relativa de calor

    pelo material de proteo trmica, dado pela seguinte equao:

    m mm

    a a

    ( / )mc

    t u Ac

    Eq. (2-25)

    Onde:

    - um/A o fator de massividade para elementos estruturais envolvidos por material de

    proteo contra incndio (dado em m-1

    );

    - um o permetro efetivo do material de proteo, limitado s dimenses do elemento

    estrutural de ao pela face interna do material de proteo;

    - tm a espessura do material de proteo (dada em m).

    Assim, supondo-se que o conjunto protegido, ou seja, perfil metlico e material de

    proteo contra incndio, encontra-se inicialmente a uma temperatura uniforme (Ta0) de

    20oC, a variao da temperatura no ao (Eq. 2.24) pode ser determinada em funo do

    tempo decorrido, atravs de procedimento incremental simples, computado a cada

    intervalo de tempo, utilizando-se, para isto, resultados obtidos no passo anterior (n-1),

    conforme descrito a seguir:

    ,= ,

    1 + , Eq. (2-26)

    , =

    (/)(,1,

    1)

    (1)(1+

    1

    3)

    (

    110 1),

    , para , 0 Eq. (2-27)

    Onde,

    n-1 m mm n-1

    a a

    ( / )mc

    t u Ac

    Eq. (2-28)

  • 26

    Os fatores de massividade da Tabela 2.2, aplicados a perfis metlicos

    desprotegidos, tambm podem ser utilizados na anlise trmica de perfis metlicos

    envolvidos por material de proteo contra incndio, ou mesmo pela fixao de placas

    rgidas no entorno exposto ao fogo (WOOLLEY, 1992).

    Nestes casos, a superfcie externa do perfil metlico pode ser total ou parcialmente

    envolvida pela camada de material isolante.

    Os parmetros de caracterizao do material de proteo contra incndio,

    apresentados pelas Eqs. (2.24) e (2.25), podem ser obtidos junto aos fabricantes

    (WOOLLEY, 1992), sendo definidos como:

    - cm o calor especfico do material de proteo contra incndio (em J/kgoC);

    - tm a espessura do material de proteo contra incndio (metros);

    - m a condutividade trmica do material de proteo contra incndio (dado em

    W/moC);

    - m a massa especfica do material de proteo (em kg/m3).

    Alguns materiais porosos de revestimento trmico, como por exemplo, a

    vermiculita e a l mineral, retm certa porcentagem de gua adsorvida que se evapora

    completamente a aproximadamente 100oC, dispersando neste processo considervel

    parcela do calor latente envolvido no aquecimento de sees protegidas oriundas do

    contato com o fogo.

    Este fenmeno causa um retardamento na curva de aquecimento de elementos

    protegidos, at que toda gua retida seja expelida da camada de proteo. A partir das

    recomendaes do EN 1993-1-2:2003, as anlises desenvolvidas nesta pesquisa, de

    modo conservativo, no levam em considerao este fenmeno.

    Aplicaes do modelo numrico simplificado no clculo da elevao de

    temperatura de perfis metlicos envolvidos por material de proteo so apresentadas e

    comparadas com resultados numricos semelhantes, obtidos com o auxlio do programa

    Ozone, conforme ilustrado pela Seo 4 deste trabalho.

  • 27

    Tabela 2.2 - Fator de massividade para elementos estruturais de acordo com a ABNT

    NBR 14323:2013 sem e com proteo.

    Situao Descrio Fator de Massividade

    Seo sem proteo

    exposta ao incndio

    por todos os lados

    =

    Seo aberta sem proteo

    exposta ao incndio por

    trs lados

    Seo com proteo

    exposta ao incndio

    por todos os lados

    Seo com proteo tipo

    contorno, de espessura

    uniforme exposta ao

    incndio por trs lados

    2.5. Dimensionamento Estrutural

    2.5.1. Consideraes Bsicas para Dimensionamento sob a Ao do Fogo

    O dimensionamento de uma estrutura em situao de incndio deve ser feito por

    meio de resultados de ensaios ou por meio de mtodos analticos de clculo. Neste

    ltimo caso, pode ser usado o mtodo simplificado de dimensionamento, no item b

    desta seo, ou o mtodo avanado de dimensionamento, obedecendo-se as diretrizes

  • 28

    apresentadas na seo 9 da ABNT NBR 14323:2013, ou ainda por uma combinao

    entre ensaios e mtodos analticos.

    O dimensionamento por meio de mtodos analticos deve ser feito levando-se em

    considerao que as propriedades mecnicas do ao e do concreto, a exemplo de outros

    materiais, debilitam-se progressivamente com o aumento de temperatura e como

    consequncia, pode ocorrer o colapso de um elemento estrutural ou ligao como

    resultado de sua incapacidade de resistir s aes aplicadas. O mtodo simplificado de

    dimensionamento descrito a seguir se aplica aos elementos estruturais que compem a

    estrutura.

    Os mtodos avanados de anlise estrutural e trmica so aqueles em que os

    princpios da engenharia de incndio so aplicados de maneira realstica a situaes

    especficas. Para determinao da temperatura a ser usada no dimensionamento em

    situao de incndio, pode ser usada a curva temperatura-tempo dos gases quentes

    padronizada pela ABNT NBR 5628:2001, juntamente com o TRRF visto na seo 2.1.

    O esforo resistente de clculo em situao de incndio, obtido a partir de

    qualquer mtodo de dimensionamento, no pode ser tomado com valor superior ao

    esforo resistente de clculo temperatura ambiente, determinado conforme a ABNT

    NBR 8800:2008 ou a ABNT NBR 14762:2010, a que for aplicvel.

    a) Combinaes de aes para os estados limites ltimos

    As combinaes de aes para os estados limites ltimos em situao de incndio

    devem ser consideradas como combinaes ltimas excepcionais e obtidas de acordo com a

    ABNT NBR 14323:2013. Deve-se considerar que as aes transitrias excepcionais, ou

    seja, aquelas decorrentes da elevao da temperatura na estrutura em virtude do incndio

    tm um tempo de atuao muito pequeno. Desta forma, as combinaes de aes podem ser

    expressas por:

    gi

    n

    i=1

    , + FQ,exc + ,

    n

    i=1

    (i) em locais em que no h predominncia de pesos de equipamentos que permaneam

    fixos por longos perodos de tempo, nem de elevadas concentraes de pessoas (por

    exemplo, edificaes residenciais, de acesso restrito):

  • 29

    gini=1 , + FQ,exc+0,21FQk Eq. (2-29)

    (ii) em locais em que h predominncia de pesos de equipamentos que permaneam

    fixos por longos perodos de tempo, ou de elevadas concentraes de pessoas (por

    exemplo, edificaes comerciais, de escritrios e de acesso pblico):

    gini=1 , + FQ,exc+0,28FQk Eq. (2-30)

    (iii) em bibliotecas, arquivos, depsitos, oficinas e garagens:

    gini=1 , + FQ,exc+0,42FQk Eq. (2-31)

    Onde, FGi,k o valor caracterstico das aes permanentes diretas; FQ,exc o valor

    caracterstico das aes trmicas decorrentes do incndio; FQk o valor caracterstico

    das aes variveis decorrentes do uso e ocupao da edificao; g o valor do

    coeficiente de ponderao para as aes permanentes diretas, igual a 1,0 para aes

    permanentes favorveis e dados pela Tabela 2.3, contida na ABNT NBR 14323:2013

    ou, opcionalmente, pela Tabela 2.4, para aes permanentes desfavorveis.

    Tabela 2.3 - Coeficientes g para aes permanentes consideradas separadamente

    Peso prprio de estruturas metlicas

    Peso prprio de estruturas pr-moldadas

    Peso prprio de estruturas moldadas no local

    Elementos construtivos industrializados 1)

    Elementos construtivos industrializados com adies in loco

    Elementos construtivos em geral e equipamentos 2)

    1,10

    1,15

    1,15

    1,15

    1,20

    1,30

    1) Por exemplo: paredes e fachadas pr-moldadas, gesso acartonado.

    2) Por exemplo: paredes de alvenaria e seus revestimentos, contrapisos.

    Tabela 2.4 - Coeficientes g para aes permanentes diretas agrupadas

    Edificaes onde as aes variveis decorrentes do uso e

    ocupao superam 5 kN/m2

    Edificao onde as aes variveis decorrentes do uso e

    ocupao no superam 5 kN/m2

    1,15

    1,20

  • 30

    Para os estados limites ltimos em situao de incndio, as resistncias de clculo

    devem ser determinadas usando-se coeficientes de ponderao unitrios. Desta forma,

    as resistncias de clculo ficam com os mesmos valores das resistncias caractersticas

    correspondentes e, na ABNT NBR 14323:2013, por simplicidade, os coeficientes de

    ponderao da resistncia no aparecem explicitados nas expresses das resistncias de

    clculo.

    b) Mtodos simplificados de dimensionamento

    O mtodo simplificado de dimensionamento visto na ABNT NBR 14323:213

    transcrito nesta seo e aplica-se s barras prismticas de ao constitudas por perfis

    laminados e soldados no hbridos, s vigas mistas ao concreto e pilares mistos ao-

    concreto nos quais o perfil de ao utilizado laminado ou soldado no hbrido.

    Levando-se em considerao a capacidade estrutural e a resistncia, as condies

    de segurana de uma estrutura em situao de incndio podem ser expressas por:

    (Sfi,d ,Rfi,d ) 0 Eq. (2-32)

    Quando a segurana verificada isoladamente em relao a cada um dos esforos

    solicitantes, as condies de segurana podem ser expressas da seguinte forma

    simplificada:

    Sfi,d Rfi,d Eq. (2-33)

    Onde:

    - Sfi,d o esforo solicitante de clculo em situao de incndio, obtido a partir das

    combinaes de aes apresentadas no item b;

    - Rfi,d o esforo resistente de clculo correspondente do elemento estrutural para o

    estado limite ltimo em considerao, em situao de incndio.

    Com o aquecimento, a rigidez das peas diminui e a capacidade de adaptao

    plstica aumenta e os esforos solicitantes decorrentes de restries s deformaes de

    origem trmica podem ser em geral desprezados. Em casos especiais nos quais estes

    esforos precisem ser considerados, pode-se obt-los simplificadamente por meio de

    anlise estrutural com as propriedades mecnicas dos materiais temperatura atingida

    no tempo requerido de resistncia ao fogo.

  • 31

    O esforo resistente de clculo, Rfi,d, deve ser determinado considerando a

    variao das propriedades mecnicas do ao e do concreto com a temperatura, conforme

    a seo 5 da ABNT NBR 14323:2013. Na seo 2.5.2 Rfi,d torna-se Mfi,Rd, Nfi,Rd,

    separadamente ou em combinao, e os valores correspondentes dos esforos

    solicitantes, Mfi,Sd , Nfi,Sd que representam Sfi,d.

    Os esforos solicitantes de clculo podem ser obtidos por meio de anlise

    estrutural elstica, desprezando-se os efeitos globais de segunda ordem. As situaes

    nas quais os efeitos locais de segunda ordem precisam ser considerados so explicitadas

    na ABNT NBR 14323:2013.

    Para efeito de flambagem local dos elementos componentes das sees

    transversais, admite-se que as classes das sees obtidas temperatura ambiente, de

    acordo com a ABNT NBR 8800:2008, sejam mantidas em temperatura elevada. Alm

    disso, a referida norma orienta que o estado limite ltimo de ruptura da seo lquida

    no precisa ser considerado, uma vez que a temperatura do ao ser menor na ligao

    devido presena de material adicional (parafusos, chapas, cantoneiras, etc.).

    2.5.2. Barras Submetidas Fora Normal de Compresso

    As consideraes efetuadas nesta subseo aplica-se a barras de ao axialmente

    comprimidas com distribuio uniforme de temperatura na seo transversal e ao longo

    do comprimento. No item a apresentado o procedimento para obteno da fora

    normal resistente de clculo de barras comprimidas com sees transversais

    classificadas como compactas ou semi-compactas (sees cujos elementos componentes

    no possuam relaes entre largura e espessura superiores aos valores de r dados na

    tabela E.1 do anexo E da ABNT NBR 8800:2008).

    O comprimento de flambagem para o dimensionamento em situao de incndio

    pode ser geralmente determinado como no dimensionamento temperatura ambiente.

    Entretanto, nos prticos de vrios andares, os pilares contnuos podem ser considerados

    com a rotao perfeitamente impedida abaixo e acima do compartimento incendiado,

    desde que a resistncia ao fogo dos componentes que isolam este compartimento no

    seja menor que a resistncia ao fogo do pilar.

  • 32

    a) Sees transversais compactas ou semi-compactas

    A fora normal resistente de clculo, Nfi,Rd, de uma barra de ao com seo

    transversal compacta ou semi-compacta deve ser obtida para o estado limite ltimo de

    instabilidade da barra como um todo, sendo igual a:

    , = , Eq. (2-34)

    Onde:

    - fi o fator de reduo associado resistncia compresso em situao de incndio,

    determinado pela equao 2.35;

    - ky,T o fator de reduo da resistncia ao escoamento do ao temperatura Ta,

    conforme ABNT NBR 14323:2013;

    - Ag a rea bruta da seo transversal;

    - fy a resistncia ao escoamento do ao temperatura ambiente.

    O valor de fi deve ser obtido pela expresso:

    =

    1

    +(2,

    2

    Eq. (2-35)

    com = 0,5(1 + , + ,2 ) Eq. (2-36)

    Sendo: o,T o ndice de esbeltez reduzido em situao de incndio, dado por:

    o,T = oky,T

    kE,T Eq. (2-37)

    = 0,022

    Eq. (2-38)

    Onde:

    - o ndice de esbeltez reduzido para barras comprimidas temperatura ambiente,

    determinado de acordo com a ABNT NBR 8800:2008;

    - kE,T o fator de reduo do mdulo de elasticidade do ao temperatura Ta, conforme

    ABNT NBR 14323:2013;

  • 33

    - E o mdulo de elasticidade do ao temperatura ambiente;

    - fy a resistncia ao escoamento do ao temperatura ambiente;

    b) Dimensionamento de Pilares Mistos Ao-Concreto

    O dimensionamento em situao de incndio por mtodos simplificados de pilares

    mistos revestidos com concreto constitudos por um perfil I ou H de ao, totalmente

    revestido com concreto, conforme Tabela 2.5, extrada da ABNT NBR 14323:2013.

    Tabela 2.5 - Dimenses mnimas da seo transversal, cobrimento mnimo de

    concreto da seo de ao e distncias mnimas dos eixos das barras da armadura face

    do concreto (ABNT NBR 14323:2013).

    Tabela 2.6 - Cobrimento de concreto com funo apenas do isolamento trmico (ABNT

    NBR 14323:2013).

  • 34

    2.5.3. Barras Submetidas Flexo

    No que tange s barras de ao fletidas definidas como vigas no esbeltas pela

    ABNT NBR 8800:2008, a determinao do momento fletor e de fora cortante

    resistente de clculo, em diversas situaes, considerado o efeito benfico de uma

    distribuio de temperatura no uniforme na seo transversal por meio do fatores 1 e

    no comprimento da viga por meio do fator 2. O fator de correo 1 para distribuio

    de temperatura no-uniforme na seo transversal tem os seguintes valores:

    (i) para uma viga com todos os quatro lados expostos: 1,00;

    (ii) para uma viga envolvida por material de proteo contra incndio, com trs lados

    expostos, com uma laje de concreto ou laje com frma de ao incorporada no quarto

    lado: 1,40;

    (iii) para uma viga sem proteo contra incndio, com trs lados expostos, com uma laje

    de concreto ou laje com frma de ao incorporada no quarto lado: 1,15.

    O fator de correo 2 para distribuio de temperatura no-uniforme ao longo

    do comprimento da barra fletida tem os seguintes valores:

    (i) nos apoios de uma viga estaticamente indeterminada: 1,15;

    (ii) em todos os outros casos: 1,00.

    O valor do parmetro de esbeltez para os estados limites ltimos de flambagem

    local da mesa comprimida, flambagem local da alma e flambagem lateral com toro,

    representados respectivamente pelas siglas FLM, FLA e FLT deve ser sempre

    determinado como no anexo D da ABNT NBR 8800:2008.

    Os valores dos parmetros de esbeltez correspondentes plastificao e ao incio

    do escoamento, respectivamente p e r, devem ser determinados usando-se os

    procedimentos do mesmo anexo da referida norma.

    O momento fletor resistente de clculo, Mfi,Rd, de uma barra fletida, com os tipos

    de seo transversal e eixos de flexo indicados na tabela D.1 do anexo D da ABNT

    NBR 8800:2008, igual a:

    (i) para FLM e FLA

  • 35

    Se p

    , = 12k, Eq. (2-39)

    Se p r (somente para FLM)

    , = k, Eq. (2-41)

    (ii) para FLT

    Se p

    , = 12k, Eq. (2-42)

    Se p r (somente para FLM)

    , = k, Eq. (2-44)

    Onde:

    - Mcr o momento fletor de flambagem elstica temperatura ambiente, obtido de

    acordo com o anexo D da ABNT NBR 8800:2008, para o estado limite em

    considerao;

    - Mpl o momento de plastificao da seo transversal temperatura ambiente;

    - Mr o momento fletor correspondente ao incio do escoamento da seo transversal

    para projeto temperatura ambiente, obtido de acordo com o anexo D da NBR

    8800:2008, para o estado limite em considerao;

    - Cb o fator de modificao para diagrama de momento fletor no uniforme, obtido de

    acordo com a ABNT NBR 8800:2008.

  • 36

    3. ESTUDO DE CASO

    Neste captulo apresentado o estudo de caso que tem como base um dos

    edifcios do novo complexo acadmico CFCH-CCJE-CLA/UFRJ previstos no Plano de

    Desenvolvimento da Cidade Universitria (PDCIDUNI), atualmente em construo no

    Campus da Cidade Universitria da UFRJ, na Ilha do Fundo.

    A Figura 3.1 ilustra a perspectiva do Bloco 34, cujo projeto arquitetnico deste

    edifcio abrigar salas de aula, gabinetes e laboratrios de pesquisa.

    Figura 3.1 - Perspectiva do projeto arquitetnico do edifcio (PDCIDUNI, 2014)

    3.1. Descrio Geral do Estudo de Caso

    O Bloco 34 um edifcio aporticado de 8 pavimentos em estrutura de ao e mista

    (ao e concreto). Possui plano de base na elevao +1,88 m e cobertura na elevao

    +39,00 m, totalizando uma altura de 37,12 metros. Seus pavimentos, conforme pode ser

    visto na Figura 3.2, so baseados em um conjunto de 22 pilares mistos dispostos em 6

    eixos transversais espaados de 7,50 metros e 3 eixos longitudinais espaados de 8,75

    metros.

  • 37

    Figura 3.2 Disposio dos pilares em planta com cotas em mm (PDCIDUNI, 2014)

    No existem na estrutura sistemas de contraventamento especiais para resistir aos

    esforos laterais. Os prticos ficam totalmente responsveis por garantir a estabilidade

    global, sendo as rigidezes flexionais dos elementos e a eficincia das ligaes

    extremamente importantes.

    As fundaes so compostas de estacas tipo hlice contnua de dimetros entre

    400 e 800 mm e comprimentos na ordem de 18 m. Os blocos de coroamento em

    concreto armado apresentam uma, duas ou trs estacas, de acordo com o carregamento

    do pilar para o qual servem de base, e no qual todos os blocos so interligados por

    cintas.

    Todavia, para fins deste trabalho desconsiderada a influncia da interao solo-

    estrutura na estabilidade global do edifcio, ou seja, sero desconsideradas as

    deformaes do solo de fundao.

    As vigas e pilares podem ser vistos na Figura 3.3, ou seja, as vigas e pilares foram

    projetados com perfis laminados a quente, listados no catlogo da fabricante Gerdau

    Aominas. Estes perfis so fabricados de acordo com a norma ASTM (American

    Society for Testing and Materials) e utiliza ao tipo ASTM A 572 grau 50.

    Os pilares contam ainda com um encamisamento dos perfis metlicos em concreto

    armado (de resistncia caracterstica igual ou superior a 30 MPa).

  • 38

    Figura 3.3 - Construo do Bloco 34

    So utilizadas lajes metlicas, tipo steel deck, no qual o sistema estrutural

    formado pela combinao de nervuras metlicas cobertas por uma laje de concreto

    armado, onde as chapas de ao dobradas funcionam, ao mesmo tempo, como armadura

    positiva e forma para o concreto.

    O primeiro nvel de lajes disposto em trs elevaes diferentes (+5,25 m; +6,02

    m; +6,70 m). Segundo o projeto arquitetnico, so diferentes funes como rea

    comercial, estacionamento e praa de convivncia. Ainda baseando-se na arquitetura,

    observa-se que no h vedao como nos demais pavimentos.

    A partir do 3 pavimento, o edifcio apresenta pequenas varandas em balano (ver

    Figura 3.4), dispostas de forma no uniforme em trs de suas laterais. A disposio

    destas varandas, que tambm varia de acordo com o pavimento em questo, ilustrada a

    seguir:

  • 39

    Figura 3.4 - Disposio de varandas em planta com cotas em mm (PDCIDUNI, 2014)

    O ltimo pavimento do edifcio encontra-se na elevao +35,20 m e destina-se a

    um terrao coberto para convivncia de alunos, professores e funcionrios, alm de

    abrigar os reservatrios superiores de gua e casas de mquina. A cobertura do ltimo

    pavimento se faz por uma estrutura metlica treliada que apoiada no topo de cada um

    dos pilares.

    Os elementos da estrutura so compostos por perfis de chapas finas formados a

    frio, no qual sua cobertura tem apenas a funo de proteger o edifcio da ao de

    intempries e de coletar as guas pluviais. As cargas verticais e as cargas horizontais de

    vento so transferidas para os pilares na elevao +39,00 m, por meio de simples apoios

    de chapas metlicas.

    3.2. Materiais Utilizados

    Os materiais bsicos empregados na superestrutura do edifcio (ao e concreto)