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ações de Coragem: ensinando os Adolescentes sobre Sexualidade e GÊnero na Nigéria e em Camarões By Andrea Irvin INTERNATIONAL WOMEN’S HEALTH COALITION

Ações de Coragem: Ensinando os adolescentes sobre Sexualidade e Gênero na Nigéria e em Camarões

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Este trabalho descreve algumas das lições sobre educaçãoem sexualidade. A primeira seção descreve muito brevemente o contexto em variação da adolescênciaem Camarões e na Nigéria. A segunda discute o quese entende por sexualidade e educação em sexualidade,bem como certas diretrizes básicas para oensino deste tópico. A última seção abordaquestões a serem consideradas no desenvolvimentode programas em contextos específicos. Emboranem todas as pessoas que trabalham em determinadasatividades concordem com as idéias aquiapresentadas, estas são o produto de experiênciascolaborativas, avaliação de programas, observaçãodireta e discussão contínuas.A educação em sexualidade abrangente pode melhorara saúde sexual e reprodutiva e capacitar as pessoasde todas as idades a compreender e manejar asua vida sexual e reprodutiva. Se proporcionadaantes da adolescência e durante a mesma, poderá terimpacto tríplice. Poderá: (1) ajudar os adolescentesa compreender e manejar a própria sexualidade ereprodução durante o período crítico de desenvolvimentosocial e físico; (2) preparar os jovens paramanejar a sua sexualidade na idade adulta, inclusivecontrolando sua fertilidade e mantendo asaúde sexual tanto a própria como a do parceiro;e (3) preparar os jovens para a paternidade quandoforem chamados a orientar, apoiar e educar ospróprios filhos.A educação em sexualidade é mais efetiva quandocontinua durante todo o ciclo de vida e quando houverdisponibilidade de outros serviços para ajudar osadolescentes a fazer escolhas duradouras nos campossocial, educacional, econômico e de estilo devida. A necessidade de educação em sexualidadeentre adolescentes no mundo inteiro é enorme.

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ações

de Coragem:

ensinando os Adolescentes

sobre Sexualidade

e GÊnero na

Nigéria e em

Camarões

By Andrea Irvin

INTERNATIONAL WOMEN’S HEALTH COALITION

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Ações

de Coragem:

Ensinando os adolescentes

sobre Sexualidade

e Gênero na

Nigéria e em

Camarões

Andrea Irvin

INTERNATIONAL WOMEN'S HEALTH COALITION

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Para obter exemplares adicionais, favor contatar:

International Women's Health Coalition

24 East 21st StreetNew York, NY 10010Tel.: (212) 979-8500Fax: (212) 979-9009

E-mail: [email protected]: www.iwhc.org

Favor usar a seguinte informação ao citar este trabalho:

Andrea Irvin, Ações de Coragem:Ensinando os adolescentes sobre Sexualidade e Gênero na Nigéria e em Camarões,

International Women's Health Coalition, Nova York, 2000.

Copyright © 2000 da International Women's Health Coalition.Todos os direitos reservados.

Partes podem ser reproduzidas sem permissão por escrito,contanto que a fonte seja citada.

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sumÁrio

Introdução 1

Transições em evolução: a adolescência na Nigéria e em Camarões 2

Sexualidade: é mais do que “fazer sexo”! 6

Educação em sexualidade: o que ela ensina? 6

Educação em sexualidade: diretrizes tiradas da experiência na Nigéria e em Camarões 8

Sexualidade, gênero e justiça social: abordando questões de poder, direitos e responsabilidades 12

Treinamento de educadores em sexualidade: o que funciona? 14

E a educação por companheiros? Não é melhor? 16

Agora que captamos a sua atenção: atendendo a necessidades correlatas 16

O que podem fazer os doadores internacionais? 18

Apêndice I: Action Health Incorporated, Lagos, Nigéria 19

Apêndice II: Girls' Power Initiative, Calabar, Nigéria 23

Apêndice III: Conscientizing Nigerian Male Adolescents, Calabar, Nigéria 28

Referências 32

Recursos 33

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RECONHECIMENTOS

Desejo reconhecer com agradecimento: primeiro e acima de tudo, pelo trabalho que realizamos juntas e por tudo o que me ensinaram, todas as minhas colegas

da Nigéria e de Camarões. Vocês são maravilhosas! Pelo excelente serviço de editoração : Ruth Dixon e Adrienne Germain. Pelos conselhos, camaradagem,

incentivo e amizade: Joan Dunlop, Adrienne Germain, Janice Jiggins, Konstance McCaffree, Nanette Ecker, Jenny Hendy, Gabrielle Ross, Les Kojima, todo o pessoal da IWHC,

especialmente Nyanda Labor, e as mulheres da sexta-feira.

—Andrea Irvin

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Asexualidade e o poder estão na base damaioria dos problemas de saúde sexual ereprodutiva. Portanto, a boa saúde

depende, em parte, do poder pessoal para discutirefetivamente com outros a própria sexualidade e ocomportamento reprodutivo, não apenas numarelação íntima, mas no âmbito de instituições dasociedade como um todo (Petchesky e Judd, 1998;Zeidenstein e Moore, 1996).

Para manejar a sua vida sexual e reprodutiva, a pes-soa precisa estar em condições de decidir se setornará sexualmente ativa, quando e com quem; deevitar sexo não consensual, violência sexual e abuso;de planejar a gravidez e ter acesso ao aborto seguro;de evitar adquirir ou transmitir infecções sexual-mente transmissíveis e HIV/AIDS; de saber quandoprecisa de serviços preventivos e curativos; de teruma gravidez e parto seguros; e de gerar e criar fi-lhos sadios. Todas estas ações requerem conheci-mento do corpo tanto próprio como do parceiro; acapacidade de conversar sobre sexo e reproduçãocom o parceiro e outras pessoas; compreensão deinfecções e doenças, como preveni-las e reconhe-cê-las; e a capacidade de ter acesso aos cuidados dasaúde. Essa ação também requer a capacidade deafirmar o direito a controlar o próprio corpo e asaptidões para assegurar que as próprias necessi-dades sejam atendidas e os desejos e preocupações,respeitados.

Não é realista esperar que tais conhecimentos,aptidões e atitudes surjam naturalmente. Na maio-ria das sociedades, as questões de sexualidade epoder interpessoal baseado no gênero não são abor-dadas abertamente, apesar de uma mídia de massacada vez mais sexualizada. Envolto no silêncio esegredo, por um lado, e deformado e sensacionaliza-do por outro, em filmes, jornais e revistas, o tema da sexualidade com freqüência desperta sentimentosde vergonha e embaraço em vez de alegria. Pode serameaçadora a abordagem realista da sexualidade epoder porque traz à tona aspectos fundamentais dasprofundezas do ser e expõe as vulnerabilidades. Opessoal de programas de saúde reprodutiva geral-mente experimenta os mesmos tabus e sensaçãoincômoda que os clientes a quem serve.

Sendo escassa a informação, poucos programas deplanejamento de saúde reprodutiva ou familiar sis-tematicamente proporcionam às pessoas as infor-mações e aptidões de que necessitam para com-preender, manejar e usufruir a sua sexualidade(Dixon-Mueller, 1993). A maioria oferece informaçãolimitada, tipicamente em salas de espera de clínicas,sobre temas considerados úteis para o programa,tais como anticoncepcionais ou amamentação. Namaioria dos países, as escolas negligenciam ou re-legam a segundo plano a educação em sexualidadedos adolescentes, mesmo no contexto da educaçãopara a “saúde” ou para a “vida familiar”. Como amídia e, na maioria, os pais, adultos, parentes e ami-gos também não estão preparados ou não estão dis-postos a dar informação exata sobre sexualidade aosjovens, a ignorância, a incapacidade de agir e osproblemas de saúde são passados de uma geração àoutra.

A educação em sexualidade abrangente pode melho-rar a saúde sexual e reprodutiva e capacitar as pes-soas de todas as idades a compreender e manejar asua vida sexual e reprodutiva. Se proporcionadaantes da adolescência e durante a mesma, poderá terimpacto tríplice. Poderá: (1) ajudar os adolescentesa compreender e manejar a própria sexualidade ereprodução durante o período crítico de desenvolvi-mento social e físico; (2) preparar os jovens paramanejar a sua sexualidade na idade adulta, inclu-sive controlando sua fertilidade e mantendo asaúde sexual tanto a própria como a do parceiro;

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Fazer o que vem naturalmente?

“A sexualidade é algo que se aprende comoresultado de um processo que não deve serdeixado ao acaso ou à ignorância... É impor-tante que o processo informal da educação se-xual na família seja apoiado por oportunidadesde aprendizado planejadas e esclarecidas queofereçam informação no momento oportunodurante o período de crescimento.”

Citado do relatório anual do SIECUS em Carol Cassell e PamelaWilson, Sexuality Education: A Resource Book. New York: GarlandPublishing, 1989, pp. xix-xx.

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e (3) preparar os jovens para a paternidade quandoforem chamados a orientar, apoiar e educar ospróprios filhos.

A educação em sexualidade é mais efetiva quandocontinua durante todo o ciclo de vida e quando hou-ver disponibilidade de outros serviços para ajudar osadolescentes a fazer escolhas duradouras nos cam-pos social, educacional, econômico e de estilo devida. A necessidade de educação em sexualidadeentre adolescentes no mundo inteiro é enorme. Namaioria dos países do Hemisfério Sul, aproximada-mente um quarto da população tem de 10 a 19 anos;no Hemisfério Norte, de 11% a 14% da populaçãodeste grupo etário (Into A New World, 1998, p.48).Estimado em 1995 bem acima de 1 bilhão, o númerode adolescentes no mundo todo não pode simples-mente ser ignorado.

A importância de atender às necessidades de saúdesexual dos adolescentes foi destacada pelaConferência Internacional das Nações Unidas sobrePopulação e Desenvolvimento (CIPD), realizada noCairo em 1994. Os governos aprovaram umPrograma de Ação que reconhece que os adoles-centes devem ter acesso à informação confidencial,orientação e serviços, respeitando ao mesmo tempoos direitos e responsabilidades dos pais (Relatórioda Conferência Internacional das Nações Unidassobre População e Desenvolvimento de 1994).Embora muitas organizações não-governamentais edoadores nos campos da saúde e população tenhamrespondido a este apelo à ação, até agora poucosgovernos assumiram compromissos políticos, finan-ceiros e institucionais necessários para assegurarque a informação e os serviços estejam disponíveis esejam acessíveis. Além disso, muito resta a ser feitopara educar o público e mudar atitudes e práticassociais.

Desde 1990, a International Women's Health Coalition (IWHC) vem apoiando suas colegas daNigéria e de Camarões que trabalham com jovensem atividades relacionadas com a saúde sexual ereprodutiva e com os papéis dos gêneros. Em 1990,a então recém-criada Action Health Incorporated(Saúde em Ação—AHI), da Nigéria, pediu à IWHCque apoiasse seus esforços no sentido de reduzir a

incidência da gravidez de adolescentes. Desde aque-la época, muitos outros indivíduos e organizaçõesmanifestaram interesse em seu trabalho. NaNigéria, a IWHC colabora com as seguintes enti-dades: Girls' Power Initiative (Iniciativa de Atribuiçãode Poder à Mulher Jovem—GPI), programaConscientizing Nigerian Male Adolescents(Conscientizando os Rapazes Nigerianos—CMA),Empowerment and Action Research Center (Centro deAtribuição de Poder e Pesquisa para a Ação—EMPARC), Adolescent Health and Information Project(Projeto de Saúde de Adolescentes e Informação—AHIP) e, em Camarões, Femmes, Santé etDéveloppement (Mulheres, Saúde eDesenvolvimento), entre outras. (Ver perfis nosApêndices I, II e III.)

Este trabalho descreve algumas das lições sobre edu-cação em sexualidade decorrentes de nossa experiên-cia compartilhada. A primeira seção descreve muitobrevemente o contexto em variação da adolescênciaem Camarões e na Nigéria. A segunda discute o quese entende por sexualidade e educação em sexuali-dade, bem como certas diretrizes básicas para oensino deste tópico. A última seção abordaquestões a serem consideradas no desenvolvimentode programas em contextos específicos. Emboranem todas as pessoas que trabalham em determi-nadas atividades concordem com as idéias aquiapresentadas, estas são o produto de experiênciascolaborativas, avaliação de programas, observaçãodireta e discussão contínuas.

TRANSIÇÕES EM EVOLUÇÃO: A ADOLESCÊNCIA NA NIGÉRIA E EM CAMARÕES

Preconizada pelo surgimento da puberdade, a ado-lescência é uma época de crescimento e mudançafísicos, mentais e sociais rápidos e profundos. AOrganização Mundial da Saúde define a adolescên-cia como o período dos 10 aos 19 anos de idade (TheReproductive Health of Adolescents—A SaúdeReprodutiva dos Adolescentes, 1989). Embora estadefinição seja conveniente para fins de análise e dis-cussão de dados, as fronteiras tanto físicas comosociais da adolescência variam entre indivíduos, sub-grupos e sociedades e entre homens e mulheres.

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Nas últimas décadas, no mundo inteiro, a adolescên-cia vem passando por mudanças significativas. Namaioria das regiões, a idade de início da puberdadevem diminuindo em conseqüência de melhornutrição, ao passo que a idade do primeiro casamen-to vem sendo adiada, especialmente no caso da mu-lher em sociedades onde o casamento ocorre emidade precoce. Em muitos países, a escolarizaçãoformal estende-se cada vez mais aos últimos anosda adolescência para ambos os sexos. Na Nigéria,como um todo, por exemplo, 21% das mulheres e34% dos homens, de 16 a 20 anos de idade, freqüen-tavam a escola em 1990; as cifras para Camarõesem 1991 eram 34% e 48%, respectivamente(Women’s Lives and Experiences, 1994, p.7). Embora aproporção de mulheres que se casam na adolescên-cia venha diminuindo, já recentemente, no início dadécada de 1990, mais da metade das mulheres de 20a 24 anos de idade de ambos os países estava casa-da ou tinha começado a coabitação antes dos 18anos (Into A New World, 1998, p.51) e muitas entramem uniões polígamas. Aproximadamente 46% dasmulheres de Camarões e 35% da Nigéria tiverampelo menos um filho antes do 18° aniversário (Ibid.:52). Como era de se esperar, os casamentos preco-ces são muito mais comuns na zona rural e entre asmulheres com escolarização do primeiro grau ouinferior.

Prolongando-se a escolarização e aumentando aidade de casamento, a adolescência surge comouma etapa social de vida identificável, especialmentenas zonas urbanas. Em sociedades em rápidamutação e urbanização, profundamente influenci-adas pela mídia globalizada, deterioram-se as nor-mas tradicionais e os controles do comportamento.Tanto para adultos como para adolescentes, essatransição tem resultado numa mistura freqüente-mente confusa de valores e costumes tradicionais econtemporâneos. Os pais continuam a ter as mes-mas expectativas de seus adolescentes solteiros, queseus pais tinham com respeito a eles, criando umasituação claramente insustentável num mundo emmutação.

Por exemplo, de acordo com as últimas pesquisas,94% de todas as camaronesas e 83% das nigerianastinham tido relações sexuais antes de completarem

20 anos (Ibid., p.51) e a idade média da primeirarelação sexual (16,0 anos em Camarões e 16,4 anosna Nigéria) no caso de mulheres de 25 a 29 anos deidade em ambos os países era quase um ano menosdo que a idade média de casamento (MacroInternational 1994, p.17). Uma minoria substancialde jovens, especialmente homens, tem múltiplasparceiras. Por exemplo, um estudo na Nigéria reve-lou que dos 80% de estudantes do sexo masculinodo segundo grau sexualmente ativos, mais dametade indicou ter mais de uma parceira (Jinadu &Odesanmi 1993, p.114–115). Além disso, de acordocom a crença popular, o aumento das pressõeseconômicas e a maior liberdade sexual resultaramnum número crescente de meninas que têm relaçõessexuais em troca de dinheiro, pagamento de taxasescolares, presentes ou sustentação básica.Subjacente a esses padrões há o baixo status damulher e a carência de poder pessoal (Kisekka, 1992;Osakue e Martin-Hilber, 1998). Em Camarões e naNigéria, as meninas são socialmente educadas paraserem tranqüilas e submissas e, acima de tudo,“boas” esposas e mães. Espera-se que obedeçamaos pais e aos mais velhos antes do casamento e,depois de casadas, ao marido. O conceito de di-reitos universais, especialmente direitos individuais,não é geralmente reconhecido nem aceito.

Nessas circunstâncias, as meninas e mulheres sãoparticularmente vulneráveis à exploração e à violên-cia baseada no gênero: assédio sexual, estupro,abuso sexual e coerção, violência doméstica e, naNigéria, mutilação genital. Embora dados confiáveissejam escassos, talvez metade de todas as nigeri-anas tenha sofrido mutilação genital (Toubia, 1995).(Em Camarões, esse procedimento é relativamenteraro.)

No passado, alguns grupos culturais propor-cionaram “educação sexual tradicional” aos jovenspouco antes do casamento ou, para as meninas, naépoca da primeira menstruação. Essa educaçãogeralmente reforçava os direitos e obrigações habitu-ais, inclusive o direito absoluto do marido ao corpoda mulher e a obrigação da mulher de servir eagradar o marido. A educação sexual tradicionalcarecia de informação sobre o processo biológico dematuração e reprodução, prevenção de doenças, etc.

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À medida que desaparece essa educação sexual tra-dicional, ela é substituída por pouco ou praticamentenada para a maioria dos jovens. Além disso, os edu-cadores em saúde pública da Nigéria e de Camarões,como de outros países, indicam que muitas meninasficam sabendo da existência da menstruaçãosomente aos descobrirem horrorizadas que estãosangrando. O embaraço dos pais é transmitido bemcedo e desencoraja as crianças de fazerem pergun-tas. As mensagens implícitas que as criançasrecebem sobre a sexualidade são freqüentementenegativas, deformadas por mitos e perniciosas.Quando a sexualidade do adolescente se tornainegável, os pais tipicamente lançam mão deameaças vagas ou avisos, tais como “evite a com-panhia dos rapazes.” Os que reconhecem a necessi-dade dos filhos de receberem informação exata comfreqüência carecem eles mesmos de tal conhecimen-to. Prossegue assim o ciclo da ignorância e doembaraço.

Os sistemas escolares da Nigéria e de Camarões,baseados no aprendizado rotineiro e na memoriza-ção, tendem a reforçar a aceitação do status quo porparte de moças e rapazes. A combinação da socia-lização tradicional e desses métodos educacionaisperpetua a passividade e baixa auto-estima da moçae o sentido de superioridade “natural” do rapaz.Portanto, não é de surpreender a crença das moçasde que o seu status e tratamento são justificados—ou seja, internalizam a opressão—tornando assimduplamente difícil para si mesmas romper as nor-mas patriarcais e os valores sexistas.

Em 1999, o Governo da Nigéria e várias ONGsdesenvolveram um contexto estratégico para umapolítica nacional de saúde de adolescentes. OMinistério da Educação reuniu um grupo de trabalhosobre desenvolvimento do currículo que inclui asONGs. Resta saber até que ponto será progressivoe eficaz. O Governo de Camarões adotou (na ausên-

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Educação Demográfica, Educação para a VidaFamiliar, Educação Sexual, Educação emSexualidade—Qual é a diferença?

Esses rótulos são usados de forma diferente nasdiversas culturas. O conteúdo do programa e nãoo nome é o aspecto mais importante na apresen-tação do tipo de programa. De modo geral, ostermos referem-se ao seguinte:

Educação Demográfica dá ênfase às questões rela-cionadas ao crescimento da população e aodesenvolvimento econômico e ambiental. Visa arelacionar essas questões com o indivíduo a fimde incentivar as pessoas a terem menos filhos.Tais programas freqüentemente não inclueminformação sobre sexualidade ou até mesmo con-tracepção.

Educação para a Vida Familiar ressalta a vidafamiliar e as relações, por exemplo, preparaçãopara o casamento, finanças domésticas, cuidadospaternais e maternais e planejamento familiar.Pode também abranger crescimento, saúde pes-soal e nutrição, auto-estima e papéis de ambos ossexos. Alguns programas incluem fisiologia

reprodutiva, comportamento sexual e anticon-cepção. Às vezes visa a desencorajar a relaçãosexual antes do casamento. Independentementedo conteúdo do programa, a expressão “educaçãopara a vida familiar” é freqüentemente usadaporque soa mais culturalmente aceitável do queoutros termos.

Educação Sexual enfatiza a informação básicasobre anatomia sexual e fisiologia, puberdade,reprodução, infecções sexualmente transmis-síveis, HIV/AIDS e prevenção de gravidez. Assuas metas são preparar os jovens para a puber-dade e prevenir a gravidez indesejada e asinfecções sexualmente transmissíveis.

Educação em Sexualidade dá ênfase a uma abor-dagem mais ampla à sexualidade, focalizando apessoa inteira e apresentando a sexualidade comoparte natural e positiva da vida. Abrange todos osaspectos de se tornar e ser uma pessoa sexual ecom as características de seu gênero e inclui asperspectivas biológica, psicológica, social,econômica e cultural. Examina valores e desen-volve aptidões sociais com o objetivo de pro-mover a saúde sexual.

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cia de um programa próprio) um currículo de for-mação de professores do primeiro grau em educaçãoem sexualidade, preparado pela organizaçãoFemmes, Santé et Développement. Entretanto, nãoestá claro se os professores são obrigados ou atémesmo autorizados a ensinar esse currículo nasescolas.

De qualquer forma, sem treinamento especializado,os professores não estão mais bem equipados doque os pais para oferecer educação em sexualidade.Como os pais, os professores que não se sentembem com este tema transmitem o próprio embaraçoe com freqüência dão informação incorreta. Porexemplo, uma menina nigeriana que tinha participa-do de um programa de educação em sexualidadeafirmou que o professor dissera aos estudantes queo nome do órgão genital externo feminino era“partes privadas”. Quando a menina disse que onome correto era “vulva”, o professor lhe disse queela era uma “sem-vergonha”.

Exploração sexual, violência, gravidez indesejada,aborto inseguro, infecções sexualmente transmis-síveis e HIV/AIDS: os jovens de hoje enfrentamtodos estes riscos e outros mais. A gravidez indese-jada entre adolescentes não casadas é um problemasério. Por exemplo, em Camarões, 25% de todos osrecém-nascidos vivos de mulheres com menos de 20anos foram de adolescentes não casadas; naNigéria, 6% (Into A New World, 1998, p.52). As estudantes que engravidam enfrentam a “esco-lha” de fazer um aborto ilegal, geralmente inseguro,ou abandonar a escola para ter o filho, limitandoassim seriamente as suas opções para o futuro.Relutantes em recorrer aos pais em busca de ajuda,com pouco ou nenhum dinheiro próprio para pagarum aborto e sem saber onde procurar serviçosseguros, as adolescentes que procuram terminaruma gravidez indesejada com muita freqüênciaprocuram provedores baratos e sem preparo profis-sional. Embora se desconheça o número de adoles-centes que fizeram aborto, na Nigéria 80% das com-plicações resultantes de aborto inseguro são consti-tuídos por adolescentes atendidas em hospitais(Ministério da Saúde e Serviços Sociais, 1994, p.20).

Jovens sexualmente ativos também correm alto riscode contrair doenças e infecções sexualmente trans-

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Seis conceitos-chave de um programaabrangente de Educação em Sexualidade

Conceito-chave 1: Desenvolvimento humanoAnatomia reprodutiva e fisiologiaReproduçãoPuberdadeImagem do próprio corpoOrientação e identidade sexuais

Conceito-chave 2: RelaçõesFamíliaAmizadeAmorNamoroCasamento e compromissos por toda a vidaEducação de crianças

Conceito-chave 3: Aptidões pessoaisValoresTomada de decisõesComunicaçãoPositividadeNegociaçãoProcura de ajuda

Conceito-chave 4: Comportamento sexualSexualidade durante a vidaMasturbaçãoComportamento sexual compartilhadoAbstinênciaResposta sexual humanaFantasiaDisfunção sexual

Conceito-chave 5: Saúde sexualAnticoncepçãoAbortoInfecções sexualmente transmissíveis, inclusive HIVAbuso sexual e violênciaSaúde reprodutiva

Conceito-chave 6: Sociedade e culturaSexualidade e a sociedadePapéis dos sexosSexualidade e a leiSexualidade e religiãoDiversidadeSexualidade e as artesSexualidade e a mídia

Diretrizes para uma Educação em Sexualidade Abrangente, Jardim

da Infância – 12a Série. Lagos, Nigéria: National Guidelines Task

Force, Action Health Incorporated, 1996, p. 13. Adaptado de

Guidelines for Comprehensive Sexuality Education, publicado pelo

SIECUS, Nova York.

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missíveis ou HIV/AIDS provenientes de sexo despro-tegido. O Nigerian National AIDS and STD ControlProgramme (Programa Nacional Nigeriano deControle da AIDS e de Doenças SexualmenteTrasmissíveis) comunicou que 63% de todos osnovos casos de AIDS documentados de 1986 a 1995eram de mulheres de 15 a 29 anos de idade(National AIDS e STD Control Programme, 1996).Um estudo realizado no estado de Lagos em 1990-91descobriu que 20% de todas as gestantes de 15 a 19anos de idade eram HIV positivas (Into A New World,1998, p.37).

SEXUALIDADE: É MAIS DO QUE “FAZER SEXo”!

A sexualidade é parte natural e integral de todo serhumano, mas sua definição está sujeita a um debateintelectual contínuo. A sexualidade baseia-se nocorpo físico e a sua expressão é influenciada porforças pessoais e sociais. Abrange todas as partesda vida relacionadas ou associadas com o comporta-mento sexual ou com o sexo de cada pessoa. Parafins educacionais, pode ser descrita como tendocinco aspectos sobrepostos: desenvolvimentohumano, emoções e relações, saúde sexual, compor-tamento sexual e violência sexual.

Conhecer a sexualidade é um processo que dura avida inteira e é parte essencial da socialização detodas as pessoas. As mensagens sobre a sexuali-dade são comunicadas direta ou indiretamente pormeio das interações diárias e de experiências eexposição a uma ampla variedade de influências. Asfontes e lugares de conhecimento da sexualidadeincluem os pais e parentes, amigos íntimos e gruposde colegas, escola, mídia, instituições religiosas,local de trabalho e outros locais de reunião, prove-dores de serviços de saúde, instituições sociais eartes. Portanto, a educação em sexualidade é algoque acontece independentemente do fato de a con-siderarmos de forma consciente e formal.

A educação em sexualidade abrangente é um proces-so conscientemente planejado de ensino dos aspec-tos biológicos, psicológicos, socioculturais e espiritu-ais da sexualidade humana e do desenvolvimento deaptidões e atitudes necessárias para uma vida sexual

positiva e saudável. A educação em sexualidadeaborda a sexualidade como parte natural, positiva esaudável da vida humana e trata dos prazeres e ale-grias da sexualidade humana, bem como de seusaspectos indesejáveis, tais como violência sexual einfecções sexualmente transmissíveis.

EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE: O QUE ELA ENSINA?

A meta principal da educação em sexualidade é apromoção da saúde sexual. Um grupo de peritosconvocado pela Organização Mundial da Saúde(OMS) definiu a saúde sexual como “a integraçãodos aspectos físicos, emocionais, intelectuais e soci-ais do ser sexual de forma positivamente enriquece-

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Dez elementos de uma educação em sexualidade efetiva:

1. O programa apresenta uma visão positiva, exata e abrangente da sexualidade humana.

2. O programa respeita os estudantes e lhes atribui poder.

3. O programa respeita o pluralismo cultural e sexual e promove valores universais.

4. O programa aborda a diversidade de estilos e capacidades de aprendizado.

5. O programa aborda os três domínios do aprendizado: cognitivo, afetivo e comportamental.

6. O programa é interdisciplinar e integrado em todo o currículo.

7. O currículo é abrangente em alcance, idade e experiência e é apropriado e logicamente seqüencial.

8. O programa é apoiado e reforçado pela família, colegas, grupos religiosos, clínicas de saúde reprodutiva e mídia local.

9. Os professores estão dispostos, sentem-se à vontade e são bem treinados.

10. O programa promove aprendizado para toda a vida.

Adaptado de Evonne Hedgepeth e Joan Helmich, Teaching about

Sexuality and HIV: Principles and Methods for Effective Education,

Nova York: New York University Press, 1996, p. 14-38.

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dora e que melhore a personalidade, a comunicaçãoe o amor... Toda pessoa tem o direito de receberinformação sexual... e considerar a aceitação derelações sexuais por prazer e para fins de procri-ação.” (OMS 1975)

A educação em sexualidade tem os seguintes obje-tivos:

❖ Proporcionar informação exata sobre todos os aspectos da sexualidade humana, inclusive o gênero.

❖ Prestar assistência às pessoas a fim de conscien-temente explorarem, considerarem, ques-tionarem, afirmarem e desenvolverem os próprios sentimentos, atitudes e valores relacionados com as diversas dimensões da sexualidade.

❖ Aumentar a auto-estima e as aptidões sociais para o desenvolvimento de relações íntimas mutuamente satisfatórias, de apoio mútuo, eqüitativas e carinhosas e para a autodetermi-nação na experiência da própria sexualidade, inclusive a expressão de próprio gênero e o controle da própria reprodução.

❖ Capacitar os homens e mulheres a agirem de forma responsável na expressão de sua sexuali-dade, no seu comportamento reprodutivo e nas suas relações íntimas e sociais.

Para os programas serem eficazes, é preciso abordartrês domínios distintos do aprendizado:

❖ O domínio afetivo, que trata do componente emocional e de atitude da sexualidade.

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A educação em sexualidade não leva a umamaior atividade sexual

Uma pesquisa realizada pelo Programa Global sobre AIDS,patrocinado pela Organização Mundial da Saúde, revelou ainexistência de provas de que a educação sexual nas esco-las leve a uma atividade sexual precoce ou mais intensaentre os jovens. Os 35 estudos revistos indicaram oseguinte:

❖ A educação sexual resultou em retardar a atividadesexual ou reduzir a atividade sexual global (seis estudos).

❖ O acesso à orientação e os serviços de anticoncepçãonão incentivaram a atividade sexual precoce ou mais inten-sa (dois estudos).

❖ Os estudos restantes não mostraram aumento nemredução dos níveis da atividade sexual.

❖ A educação sexual aumentou a adoção de práticassexuais mais seguras entre os jovens sexualmente ativos(10 estudos).

Sexuality Education Does Not Lead to Increased Sexual Activity.

Comunicado de imprensa, 26 de novembro de 1993. Genebra:

OMS, 1993.

A educação em sexualidade leva a outrasmudanças importantes

Desconhece-se até agora o pleno potencial da abrangenteeducação em sexualidade. A maioria dos programas deeducação em sexualidade não é realmente abrangente emalcance ou seqüência devido a muitos fatores limitantes,inclusive oposição organizada. No entanto, as pesquisasrevelam que a educação em sexualidade se correlacionacom as seguintes mudanças significativas:

❖ Aumento dos conhecimentos sexuais e bem-estar pessoal com relação à sexualidade própria

❖ Maior tolerância com relação aos comportamentos e valores pessoais de outras pessoas

❖ Retardamento do início das relações sexuais e maior probabilidade do uso de anticoncepcionais ao terem início as relações sexuais

❖ Maior comunicação com os pais sobre assuntos sexuais, o que está conexo com comportamento mais responsável

❖ Maior auto-estima e aptidões de tomada de decisões

Evonne Hedgepeth e Joan Helmich, Teaching about Sexuality and

HIV: Principles and Methods for Effective Education, Nova York: New

York University Press, 1996, p. 3.

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❖ O domínio comportamental, que trata de comportamentos específicos e ensina as aptidões necessárias para negociar a saúde e o prazer sexuais de maneira segura e responsável.

❖ O domínio cognitivo, que trata de aspectos factuais ou de conhecimento da sexualidade.

Embora a maioria dos programas tenha focalizadoos aspectos cognitivos, muitos estão acrescentandocomponentes comportamentais que capacitam osestudantes a aprender e pôr em prática as aptidõesde que necessitam para lidar com pressões sociais,por exemplo, como dizer não às relações sexuais nãodesejadas e como negociar o uso da camisinha,entre outros comportamentos. Um número muitomenor, porém, trabalha ativamente com jovens nodomínio afetivo da sexualidade. Considerando que onosso comportamento sexual e formas de tratar ou-tros aspectos da nossa sexualidade são impulsiona-dos pelos nossos sentimentos de embaraço, vulnera-bilidade e medo, bem como pela necessidade deamor e aceitação, a educação em sexualidade deveabordar o domínio afetivo para ter êxito. Osdomínios tanto afetivo como comportamentalrequerem o uso de métodos de aprendizado ativo eparticipativo que diferem muito das técnicas educa-cionais didáticas empregadas na maioria dos países.

Assumir uma abordagem positiva com os jovens éindispensável a fim de compreenderem que a sexua-lidade é uma parte natural e aprazível de sua vida ealgo com que podem e devem sentir-se confortáveis.Essa compreensão é um precursor necessário àcapacidade de conversar com o parceiro ou parceirasobre questões como o uso de anticoncepcionais. Étambém essencial uma abordagem honesta e abertaque abranja os aspectos positivos e os riscos da sexu-alidade. Um número demasiadamente elevado deprogramas trata apenas dos riscos da atividade sexu-al, tais como doença, desonra (adquirir “má repu-tação”) e vergonha e procuram persuadir os jovens anão terem relações sexuais antes do casamento.Como os adolescentes sabem que a atividade sexualtraz muito prazer, a informação tendenciosasomente cria uma atmosfera de desconfiança edescrença.

Freqüentemente, a idéia da educação em sexualidadeprovoca no início reações negativas nos pais e nacomunidade em geral. Entre outras preocupações,as pessoas temem que tais programas incenti-vem os adolescentes a terem experiências se-xuais e até mesmo a se tornarem “promíscuos”. Poresta razão, os programas precisam fazer um trabalhopreliminar considerável destinado a aumentar a com-preensão e o apoio a respeito do alcance da edu-cação em sexualidade e porque não deverá levar auma maior atividade sexual entre os adolescentes.Em nossa experiência, uma vez compreendido o querealmente é a educação em sexualidade, os aspectosnegativos diminuem enormemente e freqüentementedesaparecem.

EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE: DIRETRIZES TIRADAS DA EXPERIÊNCIANA NIGÉRIA E EM CAMARÕES

As organizações que planejam implementar progra-mas de educação em sexualidade devem fazer umasérie de perguntas. A quem se destinam os progra-mas e por quê? Onde devem ser oferecidos?Quando e por quanto tempo? O que se deve incluirno currículo? Qual é a melhor maneira de transmitiras mensagens? E como saberemos que estamosrealizando um bom trabalho?

Com base na própria análise dos interesses e neces-sidades específicos dos grupos a que servem, asnossas colegas da Nigéria e de Camarões, que tra-balham primordialmente em organizações não-gover-namentais, determinaram o que se pode e se devefazer e como fazê-lo. A IWHC tem apoiado o seutrabalho, incentivando-as (e às vezes as dissuadin-do), compartilhando e discutindo idéias e perspecti-vas novas, contribuindo com um olho crítico e umaopinião externa, aprendendo em conjunto o que énecessário, quando se pode fazer e o que funciona,sempre se empenhando ao mesmo tempo em con-seguir a excelência. Tem sido um esforço colaborati-vo enriquecedor por meio do qual todos os partici-pantes aprenderam e mudaram. Com o tempo e aexperiência, surgiram certos elementos comofatores-chave a serem considerados na formulaçãode programas para adolescentes, tanto moças comorapazes. Apresentamos, a seguir, alguns temasrecorrentes e erros evitáveis.

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❖ Determinar, sem tendenciosidade e sem pré-jul-gamento, o que os adolescentes precisam saber e o que já sabem. Provavelmente eles sabem mais do que você pensa, mas também têm muitas informações errôneas.

A maioria dos adultos considera os adolescentescomo menos versados e menos experientes do que

realmente são. Esquecem-se de quanto eles mes-mos sabiam e quando e quais eram as suas preocu-pações quando eram adolescentes. Quer por meiode pesquisa formal ou simplesmente “procurandoconhecer” os adolescentes a serem atendidos peloprograma, é essencial que os implementadores doprograma e os educadores ouçam os jovens. O queeles sabem e no que eles crêem? O que eles queremsaber? Quais são as diferenças de experiências enecessidades entre os jovens, e como isso deve afe-tar a formulação dos programas? Quais são as suaspreocupações? Freqüentemente as respostas a estasperguntas não serão as que os adultos esperam. Osimplementadores de programas em Camarões e na

Nigéria, por exemplo, descobriram, para sua surpre-sa, que os jovens de ambos os sexos com freqüênciaestavam mais interessados em conhecer melhor asrelações românticas do que o sexo. “Como devofalar com uma jovem?” “O que devo fazer paraatrair a atenção do rapaz de quem eu gosto?”“Como sei se estou apaixonado/apaixonada?” Éinteressante observar que muitos programas quedão ênfase à abstinência, anticoncepcionais ouinfecções sexualmente transmissíveis não men-cionam sentimentos como o amor.

Uma clara análise da informação necessária ao edu-cando e como o educando usará a informação devepreceder o desenvolvimento das lições sobre o tema.O ensino do ciclo menstrual oferece um bom exem-plo dos perigos e simplificação excessiva. As meni-nas e as mulheres geralmente calculam os “diasseguros” para ter relações sexuais com base no quesabem sobre o ciclo menstrual. Embora os edu-cadores afirmem que os “dias seguros” não podemser previstos com exatidão, esta mensagem perde oefeito quando os educadores afirmam, como fazemcom freqüência, que o ciclo menstrual médio é de 28dias, um mito persistente, e que a ovulação ocorreaproximadamente na metade do ciclo. Muito pelocontrário, os estudantes precisam saber que aduração do ciclo é notoriamente imprevisível, varian-do de pessoa para pessoa, de mês para mês e com aidade. Os estudantes também precisam saber que aovulação ocorre entre o décimo segundo e o décimosexto dias antes do início da menstruação seguinte,algo que não se pode prever (Walker, 1997; Carlsonet al., 1996).*

Ensinar sobre infecções sexualmente transmissíveisoferece um bom exemplo da importância de

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* “Segundo descrevem muitos textos didáticos, uma vez ocorrido oprimeiro fluxo menstrual, a menstruação ocorrerá regularmente cada28 dias (o assim chamado “ciclo menstrual”), exceto se interrompidopela gravidez, até a menopausa ao redor de 50 anos de idade. Noentanto, vários estudos longitudinais extensos, nos quais as mulheresassinalam as datas da menstruação ao ocorrer, demonstraram queisso é relativamente raro. O tempo entre os ciclos menstruais podevariar de 10 a 60 dias. Os ciclos variam em duração tanto de umamulher para outra como de um ciclo para outro, tendo apenas um emoito ciclos a duração exata de 28 dias. Vollman descobriu que aduração do ciclo também varia com a idade, ocorrendo uma média de35 dias nos primeiros anos da adolescência, reduzindo-se a um míni-mo de 27 dias após 40 anos e aumentando para 52 dias depois de 55anos. . . . Portanto, a menstruação não é tão previsível como os textosmédicos populares nos fazem crer.”

Desmistificação da educação em sexualidade: experiência de uma mulher

Ayo, uma mulher de pouco mais de 30 anos, é membro deuma organização que trabalha na prevenção da AIDS naNigéria. Quando a organização decidiu proporcionartreinamento em educação em sexualidade aos membrosque trabalham com jovens, Ayo, encarregada do programade juventude no seu estado, foi escolhida para o treina-mento. Sua primeira reação foi negativa. Para ela, apalavra “sexualidade” significava “relação sexual” e pensa-va que a educação em sexualidade fosse como fazer sexo.Ayo achou isso estranho e ficou decepcionada. As pessoasnão aprendem a fazer amor fazendo? Apesar das reservas,ela decidiu fazer o treinamento. Ao regressar, estava entusiasmadíssima. Não tinha percebido que algo como amenstruação, algo normal na sua vida, fizesse parte da sex-ualidade. Além disso, ela ficou profundamente impressio-nada pelo pouco que sabia sobre sexualidade, inclusivemenstruação, poluição noturna e outros aspectos dapuberdade que ela devia compreender e ensinar. Declarouenfaticamente que as escolas deveriam prover educaçãoem sexualidade para os jovens. “Nós todos precisamos deeducação em sexualidade. A educação em sexualidade édiferente da educação sexual”, disse Ayo. Esse tipo demudança de atitude é comum se o treinamento sobre se-xualidade for bem feito.

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considerar a informação necessária para os estu-dantes manterem a sua saúde sexual. Os edu-cadores geralmente falam sobre o modo de trans-missão dessas infecções, seus sinais e sintomas ecomo preveni-las e tratá-las. Dão ênfase aos sin-tomas específicos de cada infecção desse tipo emencionam, apenas de passagem, que a maioria dasmulheres não mostra sinais nem sintomas deinfecção. Portanto, um número demasiadamenteelevado de meninas e mulheres crê que estãosaudáveis quando na realidade não estão. (Germainet al., 1992, p.2).

❖ Estar consciente de que implementadores de programas inadequadamente treinados (profes-sores, planejadores, ativistas, etc.) não se sentirão à vontade ao tratarem de certos tópicos, poderão deformar ou excluir esses tópicos e poderão transmitir informação errônea.

É imperativo que os implementadores sejam treina-dos de uma forma tal que revele seus próprios pre-conceitos, permita-lhes examinar suas tendenciosi-dades e aumente o seu nível de tolerância e tranqüili-dade na discussão de questões como masturbação,atração pelo mesmo sexo, abuso sexual de crianças eincesto, violência sexual e coerção, partes pudendase outras áreas de preocupação para os adolescentes.Numa sessão sobre AIDS em Camarões, por exem-plo, quando perguntaram a uma educadora por quea vagina coçava durante a menstruação, ela respon-deu: “a vagina não é uma lugar limpo. É sujo.” Defato, a vagina não somente é muito limpa, mas elase limpa a si mesma. Promover a noção de que avagina é suja é prejudicial à imagem que uma jovemfaz do próprio corpo e a seus sentimentos a respeitode si mesma e de sua sexualidade. Além disso, aeducadora perde a oportunidade de prestar assistên-cia. Não é normal que a vagina (ou, mais provavel-mente a vulva) cause coceira durante a menstruação;é possível que a jovem que fez a pergunta tenha umainfecção que lhe seja prejudicial se não for tratada ouque ela esteja usando alguma coisa para coletar ofluxo menstrual que estivesse causando irritação nosseus órgãos genitais, um problema solucionável.

❖ Não supor que os temas controversos encon-trem reação negativa da comunidade ou não permitir que tais reações determinem o conteúdo do programa.

Naturalmente, as preocupações comunitárias devemser consideradas no desenvolvimento de um progra-ma, mas o critério primordial dos tópicos deve ser obem-estar dos jovens. Com muita freqüência, acomunidade não reage conforme esperado, mesmocom relação a tópicos considerados “polêmicos” ousensíveis e aqui há tipicamente uma série deopiniões na comunidade, algumas das quais podemoferecer apoio. Segundo a nossa experiência, se osimplementadores do programa se sentirem bem arespeito de um tópico, poderão encontrar meios deconseguir o apoio da comunidade.

Em 1990, quando a Action Health Incorporated ofNigeria ficou preocupada pela primeira vez com agravidez de adolescentes, concentrou seus esforçosem incentivar a abstinência em seus programas pormeio de mensagens como “simplesmente diga não.”Embora os membros dessa ONG pessoalmente nãoacreditassem que esta fosse a mensagem de que osadolescentes mais precisassem, consideraram queabordar a sexualidade dos adolescentes de formamais abrangente seria cultural e politicamente explo-sivo. Por meio de uma pesquisa simples, descobri-ram que 50% dos adolescentes da área em que tra-balhavam já eram sexualmente ativos. Perceberamque precisariam oferecer um programa amplo paraatingir esses jovens. No final, o programa não geroutantos problemas como se temia originalmente e osadolescentes participaram mais ativamente do pro-grama do que o teriam feito em outras condições.

❖ Tratar questões controversas de forma aberta e factual e incentivar o compartilhamento e a análise de respostas emocionais.

Em termos gerais, os programas destinados a abor-dar questões que podem ser controversas em seucontexto cultural produzem bom resultado sefocalizarem os fatos e incentivarem a discussão e opensamento crítico sobre sentimentos e atitudes. Amasturbação, por exemplo, é geralmente um assuntotabu e comumente tema de intensa moralização.

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No entanto, a experiência tem demonstrado que,quando os educadores abordam esse tema de formanão-emocional e sem preconceitos e orientam osparticipantes a uma discussão e avaliação crítica dascrenças tanto próprias como da sociedade, a separaros fatos dos mitos e a determinar os próprios va-lores sobre a masturbação, muitos participantesficam mais à vontade para discutir este assunto.Isso ajuda a remover o tabu e a diminuir a vergonhaque envolve essa prática, que é natural, comum esaudável, em vez de ser prejudicial.

As questões de tabu são envolvidas por sentimentosde vergonha e ocultos, a tal ponto que, com freqüên-cia, se crê que não existam na respectiva cultura.Freqüentemente são objeto de preconceito tenaz emalévolo, discriminação e opressão. A orientaçãosexual é uma dessas questões. Alguns jovens têmexperiências sexuais com parceiros do mesmo sexo.Precisam de informação para compreender aspróprias experiências e aliviar a ansiedade. Muitosoutros não conhecem ninguém que seja abertamentegay ou bissexual e não pode imaginar essas reali-dades. Os educadores podem compartilhar relatosda vida real (anônimos ou não) sobre pessoas gaysou bissexuais e suas famílias para reduzir o medo eo ódio procurando familiarizar-se com o caráter, per-sonalidade, experiências, sentimentos e humanidadedessas pessoas. Mesmo abordando brevementeessas questões de forma não-sentenciosa começa aromper a barreira do silêncio, um passo crítico noprocesso educacional. Deve-se apoiar e incentivar oseducadores que se sentem à vontade para fazermais.

❖ Proporcionar às crianças e adolescentes a informação necessária antes de experimentarem os diversos aspectos da sexualidade.

É essencial, por exemplo, informar as meninas sobrea menstruação antes que esta comece e os jovensprecisam tomar conhecimento de gravidez, infecçõessexualmente transmissíveis e camisinha antes deterem relações sexuais. A maioria dos adultos nãosabe quando é apropriado proporcionar essa infor-mação e freqüentemente hesita em dar informaçãoantes de realmente ser necessária.

Num programa destinado a incentivar a comuni-cação sobre sexualidade entre mães e filhas, algumasdas mães não quiseram que suas filhas (a maioria de13 a 20 anos de idade) fossem informadas sobrerelação sexual porque elas eram demasiadamente“jovens”. As mães reuniram-se separadamente paradecidir o que fazer. Quando saíram da reunião, umadas filhas disse: “Aquilo que vocês não querem quenós saibamos, nós já sabemos. Já vimos isso emvídeos e na televisão. O que vocês estão querendoesconder de nós?” Em vez de abrir as linhas decomunicação, as mães mostraram que não estavampreparadas para falar honestamente.

Ao desenvolverem programas educacionais para osadolescentes, os adultos devem considerar o que osadolescentes precisarão saber quando se casarem eusar isso como orientação para o que devem ensinar.Como manejarão as suas relações sexuais? Quaisserão as expectativas sexuais de seus parceiros?Quais são as próprias expectativas? Como podemplanejar a família? E o que dizer da infidelidade e

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As jovens adquirem poder!

Uma jovem nigeriana que participou da Girls' Power Initiative(Iniciativa de Atribuição de Poder à Mulher Jovem – GPI)assim se expressou:

“A reuniões semanais da GPI. . . abriram meus olhos para arealidade. Comecei a perceber e notar que no passado e atémesmo agora se nega à mulher o gozo de direitos humanosfundamentais em nome do sexo. Compreendi que a mulher éestuprada, enganada, relegada a segundo plano, sexualmenteassediada e espancada pelo assim chamado marido e, no

entanto, ninguém diz nada, ninguém parece notar nadaporque sã0 coisas de mulher. Vendo tudo [isso] e com o co-nhecimento adquirido com a ajuda das reuniões semanais daGPI, dei um passo de coragem e decidi ser parte da luta paradizer ao mundo que os direitos [da mulher] são direitoshumanos. Se a mulher é um ser humano, por que não podegozar dos direitos fundamentais?”

Felicia Asuquo, “Report on My Experiences in GPI Weekly Meetings . . .”

Em Girls' Power Initiative Nigeria End of Grant Year Report. Vol. 2:

Programme Execution Team Members' Evaluation, Benin City, Nigéria:

Girls' Power Initiative, 1996.

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possibilidade de infecções sexualmente transmis-síveis? Como podem falar com o parceiro ou par-ceira sobre anticoncepção e prevenção de infecções,para não mencionar o prazer?

❖ Quando viável, dividir os educandos em grupos etários.

Dadas as enormes mudanças que ocorrem durante aadolescência, os níveis de maturidade e experiênciadiferem significativamente entre adolescentes maisjovens e mais velhos e até mesmo entre grupos damesma idade. Jovens de diferentes idades têm pre-ocupações e níveis de expectativa diferentes; pre-cisam de tipos diferentes de informação e métodosde conhecimento. Muitos jovens também conside-ram útil a realização de sessões separadas por sexo.

❖ Sempre que possível, fornecer materiais escritos como referência.

Os educadores freqüentemente incentivam os jovensa compartilharem com os amigos a informaçãoaprendida em aula ou num programa. Em princípio,isso parece uma boa idéia, mas pressupõe que osadolescentes se lembrem exata e detalhadamentedas lições, o que não é o caso. Embora os materiaisescritos não substituam a comunicação direta comadultos versados no assunto, podem ajudar a asse-gurar que a informação compartilhada seja exata ecompleta.

❖ Implementar programas que, na medida do possível, sejam profundos e abrangentes e revê-los periodicamente em resposta ao feedback e à avaliação.

É provável que programas breves para grupos dejovens ou classe escolar sobre determinados tópicostenham apenas efeito muito reduzido. Programasmais longos e mais profundos podem mudar a vidade uma pessoa se forem bem desenvolvidos. Paraos programas criarem auto-estima ou mudarem ati-tudes sexistas e para terem impacto significativosobre o conhecimento da sexualidade e o nível dedesembaraço que envolve questões sensíveis, pre-cisam trabalhar em coordenação com os partici-pantes durante meses e até mesmo anos. Não háatalhos.

Quando a Girls’ Power Initiative (Iniciativa deAtribuição de Poder à Mulher Jovem – GPI) começouno sudeste da Nigéria em 1994, ninguém imaginavaque as reuniões semanais de três horas com asmeninas se desenvolvessem num programa de trêsanos. Entretanto, com base na experiência e auto-avaliação, a GPI chegou à conclusão de que seriamnecessários três anos para abordar as questões edesenvolver nas meninas a auto-estima e a fortalezanecessárias para a mudança ser duradoura. Entre asreuniões, as meninas absorviam e usavam a infor-mação, atitudes e aptidões que tinham aprendido.O impacto da abordagem da GPI reflete-se, emparte, nas decisões de vida das meninas e nasdecisões de vários membros do grupo inicial de con-tinuar a tratar por própria conta de questões de sexu-alidade e da mulher.

À medida que os professores e responsáveis entramem contato com as realidades dos jovens e ganhamexperiência direta com a educação em sexualidade,há uma evolução inevitável de sua compreensão epontos de vista. Os implementadores precisamavaliar regularmente e modificar o conteúdo de seusprogramas com base nas próprias experiências. Asavaliações da eficácia dos programas não precisamser altamente formalizadas, mas devem examinar, deforma regular e crítica, o conteúdo dos programas; aqualidade da implementação (exatidão e integrali-dade, aptidões didáticas e nível de comunicação); eas mudanças nos conhecimentos, atitudes eaptidões dos participantes com o correr do tempo.Os planejadores dos programas precisam promoveruma atitude e compromisso com a auto-avaliação emelhoria contínuas que vão além de questões de“quantidade” (número de participantes, número dereuniões, etc.) para explorar a eficiência.

SEXUALIDADE, GÊNERO E JUSTIÇA SOCIAL: ABORDANDOQUESTÕES DE PODER, DIREITOS ERESPONSABILIDADES

O relativo poder dos indivíduos e a distribuiçãodesigual de direitos e responsabilidades é um fatorde definição na forma como as pessoas experimen-tam a sexualidade e a reprodução. Como as mulhe-res e as moças têm menos poder do que os homense rapazes, precisam tomar conhecimento de seus

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direitos, da discriminação e das formas como opoder é usado e manipulado. As adolescentespodem fazer importantes mudanças na sua autoper-cepção, em suas relações íntimas, no modo comoenfrentam a discriminação e no curso que segue asua vida. Com apoio, a maioria das jovens podereconhecer e articular claramente a discriminaçãobaseada no gênero que enfrenta na vida diária e osseus efeitos sobre a própria vida. A educação emsexualidade deve incluir o desenvolvimento deaptidões para lidar com situações em que o poder deoutras pessoas é usado ilegitimamente contra elas.Para realmente fazer diferença na saúde sexual, osprogramas de educação em sexualidade precisamabordar essas questões.

A Girls’ Power Initiative desenvolveu muitas técnicasinovadoras para aumentar a conscientização dasjovens e as aptidões de solução de problemas.Abordam a violência e o assédio sexuais diretamentee têm ocorrido mudanças impressionantes nos co-nhecimentos, auto-estima, ambição e capacidadedas participantes de agir por conta própria. Asreuniões semanais da GPI sempre começam comum processo chamado “verificação”, durante o qualcada moça faz a própria apresentação e relata algoque lhe aconteceu durante a semana e qualquerexperiência em que tenha usado informação ouaptidões adquiridas no programa. A tentativa deexploração sexual por parte de um professor é umexemplo típico. Uma moça descreveu como usouuma estratégia sugerida pela GPI, a saber, levar umaamiga com ela ao reunir-se com um professor. Oprofessor tentou ficar sozinho com ela, mas, em vezde confrontá-lo diretamente, a estudante usou diver-sas desculpas para evitar estar sozinha com ele.Após esse relato, o grupo discutiu como ela se saiuna situação. Algumas jovens eram de opinião queela fez bem, ao passo que, segundo outras, ela deve-ria ter confrontado o professor, embora isso pudesseter resultado em conseqüências negativas para ela.Este processo analítico, no qual as estratégias sãoavaliadas de maneira prática e realista, reforça eapóia a tomada de ação das participantes, bemcomo cria e examina estratégias adequadas. As ati-tudes e comportamentos das participantes mudam,passando de passivos a ativos; e, com essamudança, elas começam a transformar as atitudessociais com relação ao gênero.

As questões de poder, direitos e gênero precisam serabordadas com rapazes e moças. Os homens erapazes precisam tomar conhecimento dos direitos eresponsabilidades e do abuso do poder. É útilcomeçar a examinar situações em que os rapazesacreditam que sofreram opressão e discriminaçãobaseadas na raça, etnicidade, idade, classe social,aparência pessoal ou alguma outra característicasobre a qual não têm controle. Uma vez examinadasas próprias experiências de injustiça, eles podemcomeçar a compreender as experiências de outrosgrupos opressos e como eles mesmos contribuempara a injustiça. Essa transformação é um processode longo prazo que requer apoio contínuo. Osrapazes precisam saber que a luta pela igualdade ejustiça será longa e difícil, e precisam compreenderque até mesmo as pessoas cujos direitos eles estãoempenhados em apoiar nem sempre apoiarão osesforços deles.

É especialmente importante ajudar os rapazes acompreender o conceito de consentimento.Precisam fazer a si mesmos várias perguntas. O queo “consentimento” significa em determinados con-textos? Como um rapaz sabe que recebeu consenti-mento? O que deve fazer se não tiver certeza? Porque o consentimento é importante? Quando sepode retirar o consentimento? Quais são ascondições necessárias para uma moça dar consenti-mento a um casamento arranjado? Uma mulher“consente” em ter relações sexuais com um homemquando o seu apoio econômico depende de manteras boas graças dele?

Como complemento da Girls' Power Initiative no su-deste da Nigéria, o Centre for Research, Informationand Documentation (Centro de Pesquisas, Informaçãoe Documentação—CENTRID) começou um progra-ma para rapazes chamado “Conscientização deRapazes Nigerianos”. Por meio de discussões eatividades interativas, abrangendo uma ampla vari-edade de tópicos, o programa visa a desenvolver ummodo de pensar independente e crítico entre osrapazes no que diz respeito à própria vida econdição de sua sociedade. Entre outras questões,leva-os a questionar e mudar suas atitudes e com-portamentos sexistas. Por exemplo, pediu-se aosestudantes que examinassem as contribuições feitaspelas adolescentes e mulheres à história da Nigéria e

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que analisassem por que essas contribuições nãoforam abordadas em suas aulas regulares. Em outroexercício, pediu-se primeiro que preparassem umalista de profissões que “somente os homens” podemexercer. A seguir, perguntou-se como justificavam aspróprias opiniões sexistas. Foram desafiados os pre-conceitos e estereótipos. Se, por exemplo, um rapazdissesse: “os homens podem ser políticos, mas nãoas mulheres, porque os homens são maisinteligentes”, o facilitador diria: “isso significa que,por ser homem, você é mais inteligente que todas asmoças da sua classe em todas as matérias?” e daísurgia o debate. No fim do primeiro ano do progra-ma, um rapaz escreveu: “Na minha opinião, dado ofato singular de que as contribuições . . . do marido,da mulher e dos filhos ajudam a família a avançar eter êxito. . . os homens devem parar de dominar aesposa sob pretexto de que são eles, os maridos, osganha-pães do lar. Essa crença é realmenteerrônea.”

Abordar efetivamente questões tais como direitos damulher e da criança, assédio sexual e violência sexuale doméstica requer uma profunda compreensão dasrazões da injustiça, como é perpetuada, o sentido daresponsabilidade própria e as aptidões para o traba-lho de mudança social. Os jovens precisam aprenderpara saber quando a experiência de um indivíduo,por exemplo, um caso específico de estupro, fazparte de um problema social que precisa ser analisa-do e tratado como preocupação social. É crítico queos jovens compreendam que, como cidadãos, elestêm responsabilidade e papel a desempenhar emmelhorar a própria comunidade.

TREINAMENTO DE EDUCADORES EMSEXUALIDADE: O QUE FUNCIONA?

O investimento no treinamento de alta qualidade deeducadores é um dos requisitos mais importantespara um programa eficaz; no entanto, figura entreos fatores a que menos atenção se dispensa, porquea educação contínua é cara, não é fácil encontrartreinadores experientes e muito erroneamente se crêque a educação em sexualidade não requer treina-mento especial. O treinamento, a prática do ensino,a supervisão de acompanhamento e a educação con-tínua são todos essenciais. Por meio de um proces-so de prova, erro e sucesso com nossas colegas de

Camarões e da Nigéria, nós aprendemos osseguintes pontos sobre treinamento.

❖ Os educadores sexuais não treinados crêem com freqüência que sabem mais do que real-mente sabem e não compreendem a importân-cia da especialização.

Vários programas contam com o trabalho de volun-tários entusiasmados e funcionários com um treina-mento apenas mínimo ou nenhum. As pessoas queensinam educação em sexualidade com pouco ounenhum treinamento geralmente usam as própriascrenças, valores, lógica ou informação errônea noseu ensinamento e as conseqüências podem serdesastrosas. Embora leve tempo para identificartreinadores habilidosos e certamente se requer di-nheiro para isso, o investimento é essencial porque asexualidade é extremamente complexa, envolvendonão somente os fatos mas também um conjunto desentimentos, atitudes e crenças por parte tanto doseducadores como dos estudantes. Os educadoresprecisam saber consideravelmente mais sobre a se-xualidade do que realmente ensinam, inclusive conhe-cimento sobre assuntos que talvez não abordemdiretamente mas que podem surgir em questões oudiscussões privadas. Numa sessão sobre AIDS, porexemplo, uma jovem perguntou: “Se um homem forHIV positivo e houver HIV num de seus esperma-tozóides e esse espermatozóide entrar no óvulo damulher e fertilizá-lo, a mulher pode permanecer HIVnegativa e o bebê ser HIV positivo?” É preciso terconhecimento, aptidão e experiência para responderàs perguntas dos adolescentes e uma grande dosede confiança para dizer, quando necessário: “Eu nãosei. Vou pesquisar.” Também é preciso um treina-mento considerável para responder a perguntassobre valores pessoais, atitudes, emoções e expe-riências pessoais de forma cuidadosa, neutra e quemelhore o aprendizado.

❖ Não somente os adolescentes mas também os educadores precisam identificar as atitudes, valores, tendenciosidades e preconceitos próprios e não se deixar levar por eles.

Tal como a educação em sexualidade abrange trêsáreas do aprendizado, da mesma forma o treinamen-to dos educadores precisa incluir conhecimento da

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sexualidade (domínio cognitivo), aptidões de ensino(domínio do comportamento) e exame de sentimen-tos, valores e crenças (domínio afetivo). O treina-mento ajuda os educadores a ficarem mais à von-tade para falar sobre sexo e sexualidade. Eles tam-bém precisam de ajuda na avaliação das tendenciosi-dades e preconceitos próprios e, se não puderemdeixar de emitir juízos, pelo menos precisam apren-der a não misturar as opiniões pessoais com o tra-balho educacional. Nem todos estarão emcondições de fazer isso.

Em alguns assuntos, é essencial que os educadoresmudem os seus pontos de vista para terem eficácia.Por exemplo, muitos educandos inicialmente crêemque é culpa da mulher se ela tiver sido estuprada, eque ela deve ter feito alguma coisa para isso aconte-cer. É preciso treinamento intensivo para mudar ati-tudes predominantes tão profundamente entra-nhadas, não somente sobre estupro mas tambémsobre relações entre os sexos, orientação sexual ecomportamentos nocivos, tais como espancamentoda mulher, assédio físico ou sexual e violência sexual.

❖ Desenvolver perícia em educação em sexuali-dade requer treinamento, prática, feedback, supervisão, atualização do treinamento e tempo.

Duas semanas de treinamento básico não são sufi-cientes para desenvolver perícia. O bom treinamen-to inicial precisa ser acompanhado de uma práticaregular com feedback de observadores experientes. AGirls’ Power Initiative, por exemplo, reforça e intensifi-ca o seu treinamento por meio da realização dereuniões semanais, nas quais cada educadora falacomo foram as suas aulas na semana anterior e osproblemas encontrados. Em conjunto, discutemsugestões para mudanças futuras e cada educadoraapresenta seus planos para a sessão da semanaseguinte. O grupo faz sugestões sobre conteúdo,método e leitura preparatória.

A atualização do treinamento solidifica e reforça osganhos obtidos no treinamento inicial. Essa atuali-zação pode incluir elementos-chave da instrução ini-cial ou, à medida que aumentar a perícia, pode serusada para desenvolver aptidões destinadas a treinaroutras pessoas. Uma funcionária da GPI, ao fazerbasicamente o mesmo curso de treinamento após o

intervalo de dois anos de ensino, observou queaprendeu mais no segundo curso do que noprimeiro, porque agora ela sabia exatamente o queprecisava saber.

❖ Fornecer materiais de referência aos educadoressobre sexualidade e educação em sexualidade é umpasso simples e essencial.

Deve haver disponibilidade de materiais de referên-cia para os educadores encontrarem a informação deque necessitam no momento em que dela maisnecessitarem. Isso é especialmente importantequando não houver acesso a peritos. Uma jovemque dirigia grupos de discussão sobre conscientiza-ção do próprio corpo para a Action HealthIncorporated (AHI) descreveu uma sessão em que ogrupo falava sobre menstruação, poluição noturna,masturbação e fantasias sexuais. Ela deu exemplosde perguntas feitas pelos estudantes e como elatinha respondido. Quando se indagou como elatinha desenvolvido um conhecimento tão impressio-nante das questões, a educadora respondeu queantes e depois de cada sessão ela passava um bomtempo no centro de recursos da AHI. (Ver a seçãosobre Recursos, página 33.)

❖ Os educadores sexuais devem ser escolhidoscuidadosamente. Nem todos se qualificam!

As pessoas que são empáticas por natureza, quegostam dos jovens e os respeitam, que são abertas anovas idéias e têm um estilo de aceitação sem emis-são de juízos têm a maior probabilidade de seremótimos professores de educação em sexualidade. Aspessoas que têm crenças morais muito fortes sobrea sexualidade e pouca tolerância por quem não tema mesma opinião provavelmente não serão bons pro-fessores de educação em sexualidade.

Entretanto, em muitos programas escolares adecisão sobre quem vai ensinar educação em sexua-lidade é feita por matéria. Tipicamente, é designadoo professor de biologia ou de educação física,refletindo o equívoco de que a sexualidade se refereprimordialmente ao corpo. A pessoa escolhida podeou não mostrar interesse e talento. Se possível, émelhor permitir que os educadores sexuais identi-fiquem ou escolham a si mesmos e, até mesmonesse caso, aconselha-se cautela.

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Supõe-se freqüentemente que o pessoal do campoda saúde, como médicos e enfermeiras, se quali-fiquem para falar sobre sexualidade, embora não te-nham treinamento especializado e possam, como asoutras pessoas, transmitir informação errônea basea-da em crenças pessoais. Por exemplo, uma organi-zação convidou um médico para participar do desen-volvimento do conteúdo das aulas. Quando o grupode planejamento chegou à parte da masturbação, omédico insistiu em que o tema não fosse abordado,porque a prática é nociva e má. Embora as outraspessoas presentes soubessem que essa opinião nãoera exata, concordaram em excluir o tópico do cur-rículo em deferência à autoridade do médico.

Pode ser difícil contrabalançar ou desafiar a opiniãodos assim chamados peritos. É importante lembrarque, embora o pessoal médico possa ter conheci-mento factual de assuntos como anatomia e fisiolo-gia, biologia da reprodução ou infecções sexual-mente transmissíveis e AIDS, não é necessariamentetreinado em aspectos comportamentais, sociais oupsicológicos da sexualidade e estão sujeitos às mes-mas tendenciosidades, juízos, sentimento e infor-mação errônea como todos os demais.

E A EDUCAÇÃO POR COMPANHEIROS? NÃO É MELHOR?

A educação por companheiros—ou seja, apoiar osjovens aproximadamente da mesma idade e catego-ria social na educação dos colega—ganhou populari-dade nos países do Hemisfério Sul. Supõe-se que osadolescentes se comuniquem melhor com seus com-panheiros do que os adultos. A IWHC e as nossascolegas chegaram à conclusão de que a educaçãopor companheiros é um complemento potencial-mente útil de um programa abrangente implementa-do por adultos treinados e peritos, mas não um subs-tituto. Os adolescentes raramente se tornam peritosno assunto e tipicamente carecem da maturidadedos adultos para lidar com situações difíceis.

Realizar bem um programa de educação por com-panheiros é caro e leva tempo. Requer o seguinte:seleção cuidadosa de jovens que sejam sociáveis,interessados na sexualidade, de mente aberta,empáticos e conscienciosos; treinamento extensivoabrangendo áreas idênticas às de qualquer outro

treinamento em educação em sexualidade; umprocesso de qualificação como educador de compa-nheiros no fim do treinamento; e extensa supervisãoe apoio de um educador adulto qualificado em todasas sessões educacionais. Freqüentemente se negli-gencia este último aspecto.

É também importante estabelecer limites claros comos adolescentes educadores de companheiros sobreos tipos de situação que eles podem tratar e aquelesque precisam ser encaminhados a adultos. Muitos programas usam o termo “orientação porcompanheiros”. A orientação por companheiros e aeducação por companheiros não são a mesma coisae requerem tipos muito diferentes de treinamento.Um orientador é alguém que ajuda outra pessoa aresolver um problema, freqüentemente de naturezaemocional, ouvindo com simpatia e ajudando a pes-soa a encontrar soluções. Um educador é alguémque desenvolve conhecimentos, aptidões ou ocaráter de outra pessoa por meio do ensino.Nenhum ou poucos adolescentes estarão emcondições de orientar outros sobre problemas taiscomo gravidez indesejada, violência sexual, estupro,orientação sexual ou depressão.

AGORA QUE CAPTAMOS A SUAATENÇÃO: ATENDENDO A NECESSIDADES CORRELATAS

Um bom programa de educação em sexualidadegera a procura de outros serviços e referências, espe-cialmente orientação pessoal e serviços de saúde.Os implementadores de programas precisam estarpreparados para atender a esses pedidos. Todos oseducadores sexuais devem ser capazes de propor-cionar orientação básica para tratar de questões esentimentos que possam decorrer de discussões emgrupo. Além disso, do ponto de vista ideal, os pro-gramas devem ter orientadores bem treinados e beminformados, aos quais os educadores podem referiros participantes. Da mesma forma, os programasdevem ser capazes de referir adolescentes aosserviços existentes na comunidade. As colegas daIWHC, porém, perceberam que os adolescentes hesi-tam em recorrer aos serviços destinados a adultos,especialmente clínicas de planejamento familiar emuitos têm preocupações de saúde de naturezageral ou necessidades específicas de teste de

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infecções sexualmente transmissíveis, teste degravidez, cuidados pré-natais ou aborto, que não sãoatendidas nos serviços existentes. Portanto, as cole-gas da IWHC procuram identificar provedores deserviços sensíveis aos adolescentes (freqüentementeno setor privado) e desenvolver sistemas de referên-cia. Algumas oferecem serviços limitados elas mes-mas, mas isso requer investimento em treinamentoalém dos recursos da maioria dos programas. AAction Health Incorporated, por exemplo, prestaserviços de saúde básicos no seu centro de jovens eencaminha as participantes a outros serviços.

Ao encaminharem os adolescentes aos serviços, osprogramas precisam examinar cuidadosamente osprovedores potenciais a fim de assegurar-se de suaexperiência, aptidões e atitudes com relação àprestação de serviços a adolescentes, bem como suadisposição de manter a confidencialidade. Do pontode vista ideal, devem também ser treinados em sexu-alidade e orientação para compreender plenamenteas necessidades dos jovens e incentivar os clientes aserem abertos e específicos no tocante às suasnecessidades e atividades. Deve-se entrar em acor-do com os provedores a respeito de mecanismosclaros de referência e, em muitos casos, os progra-mas também precisam ajudar os jovens a encontrarrecursos para pagar os serviços e remédios. A GPI,por exemplo, chegou à conclusão de que as jovens,mesmo recebendo consultas gratuitas ou de baixocusto, freqüentemente não podem pagar o tratamen-to ou os remédios.

A visita de um adolescente à clínica é uma oportu-nidade para prever e evitar futuros problemas. Se ocliente indicar que é sexualmente ativo/ativa, oprovedor de serviços precisa discutir a prevenção degravidez, o uso da camisinha e a prevenção deinfecções sexualmente transmissíveis/HIV, mesmose o cliente tiver vindo por outras razões e não pediressa informação. Considerando que a maioria dasinfecções de HIV ocorre na adolescência e entreadultos jovens, e que o número está aumentando(Organização Mundial da Saúde, 1989), é irrespon-sável que um adolescente sexualmente ativo não sejaorientado a fundo sobre o HIV e incentivado em ter-mos vigorosos a usar camisinha. Os clientes queainda não forem sexualmente ativos ou que atual-mente não o são também devem ser informados

sobre gravidez e prevenção de infecções sexualmentetransmissíveis/HIV, bem como incentivados a visitarum provedor de serviços antes de se tornarem sexualmente ativos.

Os serviços de saúde para adolescentes devem seradaptados especificamente à sua idade e maturidadede diversas formas. Por exemplo, se for necessárioum exame genital, deve-se explicar bem claramenteas razões e o método antes do procedimento edurante o mesmo e a cliente deve sentir-se confortável. Os meios para a prevenção de infecçõessexualmente transmissíveis e gravidez devem serclaramente explicados e deve-se incentivar osclientes a refletir sobre as questões práticas específi-cas envolvidas. Por exemplo, ao prescrever a pílulaanticoncepcional, o provedor precisa fazer certasperguntas específicas. “Onde você vai guardar aspílulas?” “Quem poderá encontrá-las?” “Isso éimportante para você?” “Exatamente como é quevocê se vai lembrar de tomá-las?” “E a proteçãocontra infecções sexualmente transmissíveis/HIV?”Se os clientes—homens ou mulheres—estiveremusando camisinha pela primeira vez, precisam fami-liarizar-se com ela antes de usá-la e planejar comoabordarão a questão do uso da camisinha com oparceiro ou a parceira. A representação do papel éuma técnica útil e específica que pode ser aplicadana clínica.

Na medida do possível, os programas de educaçãoem sexualidade devem procurar informação e feed-back dos provedores de cuidados da saúde a quemencaminham os clientes. Por exemplo, os jovenspodem fazer aos provedores perguntas que devemser acrescentadas ao currículo, tratadas mais a fundoe abordadas com ênfase diferente. A Action HealthIncorporated aprendeu que precisava dar mais ênfaseà higiene pessoal nos seus programas educacionais.Além disso, ao registrar o número de clientes daclínica que tinham sofrido mutilação genital, apren-deu que a ocorrência desse fato era muito mais altado que tinha imaginado e modificou o seu programaeducacional para abordar mais plenamente esseassunto.

Os provedores de cuidados da saúde sexual e repro-dutiva a adolescentes enfrentam dilemas de cons-ciência particulares para os quais não há soluções

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simples. Por exemplo, ao ajudarem os adolescentesno tocante à anticoncepção, aborto ou tratamento eprevenção de infecções sexualmente transmissíveis,os provedores talvez sejam obrigados por lei ou sesintam eles mesmos obrigados a equilibrar o com-promisso com a confidencialidade (o direito do ado-lescente) com o sentido da obrigação de informar ospais ou obter o consentimento deles.

Nos países em que o aborto é, do ponto de vistajurídico, altamente restrito, ajudar uma jovem nocaso de gravidez indesejada talvez seja o dilemamais difícil enfrentado pelas pessoas que trabalhamcom adolescentes. A situação complica-se aindamais na questão do consentimento dos pais. Se ajovem estiver disposta a contar para os pais, então aresponsabilidade por ajudá-la pode passar a eles.Mas se a jovem se recusar a informar os pais, o queos provedores podem ou devem fazer? A técnica daboa orientação determina que não é função do orien-tador procurar influenciar a decisão dela ou forçá-la amudar de idéia, mas, pelo contrário, ajudar a esclare-cer as suas opções e objetivos e ponderar as conse-qüências de suas ações, independentemente do queela decidir. Se uma jovem tiver decidido fazer umaborto e a clínica se recusar a ajudá-la, ela provavel-mente procurará um provedor não treinado ou ten-tará induzir ela mesma o aborto. A sua saúde e atémesmo a sua vida correrão perigo. Os gerentes deprogramas e provedores de serviços precisam lidartanto com os riscos no seu país como com aspróprias convicções e consciência para encontrar asrespostas com as quais se sintam bem. Alguns ofe-recerão orientação e talvez conselho ou referências;alguns deixarão a jovem enfrentar sozinha a situ-ação; outros farão todo o possível para garantir asegurança da mulher; outros ainda colaborarão comdefensores da saúde e de direitos reprodutivos paradesenvolver leis e normas que apoiam o aborto.

O QUE PODEM FAZER OS DOADORESINTERNACIONAIS?

A educação em sexualidade abrangente pode seruma estratégia altamente eficaz para transformar aqualidade da saúde reprodutiva e sexual e de vida.Os adolescentes que participam desses programaspodem aprender lições e aptidões de valor ines-

timável que se aplicam não somente às situações dasua vida atual, mas também ao seu futuro comomembros totalmente participantes da sociedade.

A educação em sexualidade vai muito além daquiloque ordinariamente podemos classificar de “sexo ereprodução” para abranger uma ampla série detemas e abordagens inter-relacionados. Visa nãosomente a informar, mas também a mudar e atribuirpoder. Tem como objetivo indivíduos, casais,famílias, comunidades e sociedades. Não se destinasomente a adolescentes, mas a pessoas de todas asidades. Analisa as complexidades de gênero—denoções socialmente impostas a respeito do que écomportamento “masculino” ou “feminino” adequa-do—e como as ideologias de gênero podem serquestionadas e transformadas. Examina relaciona-mentos de poder e analisa os efeitos de recursosdesiguais na capacidade das pessoas de negociar asua saúde e direitos sexuais e reprodutivos.

As experiências dos grupos de Camarões e daNigéria, com os quais a International Women's Health Coalition colabora, indicam a necessidade detrabalhar com cuidado para reforçar a capacidadelocal e criar vínculos entre os programas de edu-cação em sexualidade, ativistas e provedores deserviços de saúde. As entidades internacionaisdoadoras podem ajudar a desenvolver as aptidõesdos participantes de projetos locais, oferecer materi-ais de referência e currículos que podem ser adapta-dos às condições locais e prestar apoio aos serviçosdepois que os programas estiverem em funciona-mento. Podem apoiar e promover o esforço intensonecessário para elaborar programas abrangentes dealta qualidade. Podem oferecer apoio moral e enco-rajamento tão necessários para essas pioneiras quetêm a visão e a coragem de proporcionar educaçãoem sexualidade e que podem enfrentar oposição eataque. Podem apoiar e incentivar a inclusão dogênero e da responsabilidade social nos programasde educação em sexualidade. Podem apoiar progra-mas de educação pública e compartilhar a visão decobertura nacional e perícia. Os seus esforçosencontrarão o tremendo entusiasmo e energia queos jovens levam às questões que mais os preocu-pam.

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AAction Health Incorporated (Saúde em Ação—AHI) é uma das maiores e mais eficazesorganizações não-governamentais da

Nigéria que trabalham no campo da saúde e direitosreprodutivos e sexuais. Desde a sua fundação em1989 por ‘Nike Esiet, Diretora do Projeto, e pelomédico Dr. Uwem, seu marido, o mandato e os pro-gramas da Action Health transformaram-se na van-guarda do trabalho com jovens. Sediada em Lagos,a AHI oferece aos adolescentes educação e serviçosem saúde reprodutiva e sexual no seu Centro deJovens e na sua clínica; proporciona educação emsexualidade a estudantes do segundo grau por meiode educação por companheiros adolescentes e declubes de Saúde e Planejamento de Vida em 33 esco-las de Lagos; e liderou o desenvolvimento de dire-trizes nacionais do ensino e comunicações sobresaúde reprodutiva e sexualidade de adolescentes. Oprimeiro subsídio recebido pela AHI foi feito pelaInternational Women's Health Coalition (IWHC) em1990.

Ouvindo os jovens

Em 1992, a AHI abriu o Centro de Jovens para aten-der a uma necessidade premente dos jovens deLagos de dispor de um lugar seguro para aprender ediscutir questões de sexualidade e saúde reproduti-va. O centro tem a liberdade de proporcionar ativi-dades educacionais inovadoras, independentes doslimites do ambiente escolar.

Semanalmente, cerca de 40 a 100 jovens, de 10 a 25anos de idade, participam de programas no Centroda Juventude da AHI, incluindo apresentações devídeo, discussões e trabalho interativo em gruposobre questões de sexualidade. Pelo menos 38jovens visitam a clínica toda semana em busca deassistência em problemas de saúde reprodutiva oupara discutir e obter anticoncepcionais. Algunsusam a biblioteca bem estocada, e outros, na maioria

as jovens que não freqüentam a escola, assistem auma aula profissionalizante de computação. Muitosdos programas foram formulados pelos própriosjovens que atuam como facilitadores e assistentes eaté mesmo produzem vídeos para os companheiros.Todos os programas dirigidos por adultos contamcom um jovem assistente, de modo que sejam trans-mitidas as aptidões e a confiança. Muitos jovensvisitam o centro várias vezes por semana para seencontrarem com outros jovens e absorver infor-mação.

Apesar de ataques esporádicos de alguns pais eautoridades públicas que consideram “imoral” ofere-cer educação em sexualidade aos jovens, a AHI con-tinua a concentrar-se totalmente nos fatos sobre asexualidade dos jovens nigerianos, incluindo as altastaxas de gravidez de adolescentes, aborto clandesti-no e doenças sexualmente transmissíveis (DST). Oseu trabalho demonstra a necessidade de educação,serviços, compaixão, honestidade e parcerias com osjovens a fim de melhorar a sua saúde reprodutiva esexual. “Com base na minha experiência como ado-lescente, eu sabia que, em vez de decidir unilateral-mente o que era melhor para os jovens, fazia sentidoouvi-los”, afirma ‘Nike Esiet. Desde os primeirosdias da AHI, Esiet e o seu pessoal estão compro-metidos a ouvir. “Nós perguntamos ao jovem:‘como você quer que trabalhemos com você?’ “Oque pensa que funcionaria?”, lembra-se Esiet. “Umadas coisas que os jovens diziam era que gostariamde receber informação por meio de outros jovens:‘Os nossos pais nos falam de cima para baixo.Queremos que a informação venha de jovens comonós, porque eles nos dizem a verdade.’”

Visão na fundação

Ex-jornalista do prestigioso jornal nigeriano TheGuardian e oficial de relações públicas da Seção daNigéria da Society for Women and AIDS in Africa

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ApÊndiCE I

Action Health Incorporated, Lagos, NigÉria

Mia MacDonald

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(Sociedade para a Mulher e AIDS na África—SWAAN), ‘Nike Esiet tornou-se líder do movimentode seu país em prol da saúde reprodutiva dos ado-lescentes. Os seus contatos na mídia e as suashabilidades como oradora pública ajudam a assegu-rar a cobertura de imprensa do trabalho da AHI, bemcomo o acesso aos responsáveis pela formulação depolíticas e líderes das comunidades empresariais emédicas de Lagos.

No início da sua carreira em The Guardian, Esiet sen-tiu-se atraída pelos relatos sobre jovens que lidavamcom questões de saúde reprodutiva, geralmente compouco ou nenhum apoio dos pais ou da comu-nidade. “Eu me lembro quando o redator do jornalme perguntou: ‘Não há nada mais para escreversenão sobre jovens que ficam grávidas?’”,recorda-se Esiet. Ao decidir que queria fazer maispara promover a saúde reprodutiva dos adoles-centes, Esiet considerou as suas opções. “Eu passeipor muitos dos problemas que enfrentam osjovens”, diz ela, “e concluí que realmente o maisnecessário era a informação.” Estava lançada asemente da fundação da Action Health. O nome foiescolhido para representar a sua missão: Nãovamos simplesmente falar de saúde; vamos agir.Esiet deixou a carreira de jornalista em 1991 paradedicar-se em tempo integral à construção da AHInuma organização multiforme para servir aos jovens.

Assumindo a liderança

A sexualidade dos adolescentes continua a ser umtema controverso na Nigéria. Uma pesquisa recentede jovens da zona urbana revelou que, no fim daadolescência, 41% dos jovens tinham tido relaçõessexuais. Destes, 82% das moças e 72% dos rapazestinham tido relação sexual aos 19 anos. Um total de62% dos casos de AIDS documentados de 1986 a1995 era constituído por jovens mulheres de 15 a 29anos. A gravidez das adolescentes é comum, ocor-rendo o mesmo com o aborto inseguro; mais de80% das mulheres internadas nos hospitais daNigéria para tratamento de complicações rela-cionadas com o aborto têm menos de 20 anos.Infelizmente, muitos pais, formuladores de política eadministradores escolares preferem ignorar essesfatos, enquanto alguns até mesmo atacam ONGs

como a AHI que procuram ajudar os adolescentes afazer escolhas informadas e obter a informação eserviços de que necessitam.

Em certa ocasião, a AHI foi “banida” das escolas,acusada por autoridades escolares conservadoras depromover a promiscuidade e “corromper” os adoles-centes. Foi restabelecida; e, nesse processo, con-seguiu desenvolver a capacidade de defesa dos di-reitos. A estratégia de Esiet tem sido utilizar a edu-cação pública e os serviços da mídia para divulgar osfatos sobre a sexualidade de jovens nigerianos ecolocar o trabalho da AHI em perspectiva. A edu-cação em sexualidade, argumenta ela, reduz a infor-mação errônea e a confusão entre os adolescentes,retarda a relação sexual prematura e melhora aspráticas de sexo seguro entre os adolescentes que jásão sexualmente ativos.

Em 1996, a AHI começou a treinar outras pessoas:com um subsídio da IWHC, coordenou uma sessãode duas semanas sobre educação em sexualidadepara 20 mulheres e homens de seis ONGs nigeri-anas. A AHI continua a realizar programas de edu-cação em sexualidade para determinadas ONGs; atéesta data, já treinou mais de 60 participantes. Emcolaboração com o Sexuality Information andEducation Council of the United States (Conselho deInformação e Educação dos Estados Unidos sobreSexualidade—SIECUS), a AHI também iniciou odesenvolvimento de diretrizes escritas para a edu-cação em sexualidade abrangente na Nigéria. Essasdiretrizes, produzidas por 20 organizações, ajudarama solidificar as alianças da AHI e a desenvolver um ter-reno comum com outras ONGs e atores-chave naNigéria. Oferecem um contexto detalhado para osprogramas de educação em sexualidade destinados ajovens de idade escolar, bem como para os pais e ascomunidades. Mais de 70 organizações nacionaisendossaram as diretrizes, que foram bem recebidaspelos ministérios da educação locais e federais. AAHI lançou uma iniciativa para integrar as diretrizesnos currículos escolares do estado de Lagos, naesperança de que, se o estado de Lagos assumisse avanguarda, outros estados também participariam.Nesse empreendimento, a AHI procurou o apoio devários grupos interessados, inclusive a mídia, organi-zações comunitárias (operárias do mercado, traba-

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lhadores em transportes, Guias de Jovens Mulheres),diretores de escola e principais formuladores depolítica dos governos nacional e locais. Hoje, essasdiretrizes são pontos de referência para discussõesem todo o país.

Graças ao financiamento generoso da FordFoundation e da John D. and Catherine T. MacArthurFoundation, a AHI, em colaboração com outras enti-dades, tem desempenhado papel central em criar ecoordenar uma nova clientela da saúde reprodutivade adolescentes na Nigéria. Em janeiro de 1999, aAHI atuou como secretaria da Primeira ConferênciaNacional Nigeriana sobre Saúde Reprodutiva deAdolescentes. Essa conferência reuniu mais de 350jovens participantes—e adultos—de diversos minis-térios públicos e ONGs para produzir um contextoestratégico destinado a implementar uma políticanacional sobre saúde de adolescentes. Com basenesse êxito, pediu-se à AHI que participasse de umgrupo de trabalho reunido pelo Ministério daEducação para preparar um currículo nacional sobreeducação em sexualidade. Atualmente, a AHI, com acolaboração de uma comissão representativa deâmbito nacional constituída por representantespúblicos e cidadãos privados provenientes de seiszonas geopolíticas, está trabalhando no desenvolvi-mento de um currículo.

“Conscientização do próprio corpo” e outras atividades

Os escritórios, o Centro de Jovens e a clínica daAction Health ocupam um grande edifício atrás deuma alta cerca pintada em cores fortes com cenas dejovens atuando na própria vida: discutindo gravidezde adolescentes, trabalhando em computadores eeducando amigos sobre a sexualidade. Do outrolado da rua poeirenta, um vendedor vende frutas ebebidas num pequeno estande, as galinhas passeiamlivremente e numa das principais estradas ouve-se oruído de carros e caminhões. Atrás dos portões daAHI e pouco além de um pátio, cerca de 100 jovensparticipam de uma discussão. Na parte de baixo,um grupo de 40 adolescentes, rapazes e moças,tomam parte numa sessão de “reprodução audiovi-sual”. Estão assistindo a um vídeo e discutindo asquestões por ele levantadas, inclusive gravidez de

adolescentes, infecção de HIV/AIDS e DST. Emboratrajando roupas formais—os rapazes de calçasescuras e camisa clara e as moças de saia escura ecamisa branca—não se sentem limitados em suaparticipação. Um jovem facilitador dirige a sessão,assistido por um adulto.

Na parte de cima, num salão arejado mas aglomera-do, realiza-se uma sessão de “conscientização dopróprio corpo”. Cerca de 80 adolescentes—rapazese moças—lotam as filas. Em sete minutos, o facili-tador adulto tratou de “curiosidade”, aborto inse-guro, DST, AIDS e complicações do parto que comfreqüência afligem e às vezes matam as adoles-centes. O formato é interativo: o facilitador não dárespostas, mas pede aos jovens que respondam.Tanto os rapazes como as moças são articulados nasrespostas e surpreendentemente bem informados.Falam sobre a necessidade de habilidades em boacomunicação, capacidade de dizer não—NÃO emmaiúsculas, quando necessário—vestimenta apropri-ada, comportamento no namoro e perigos das dro-gas e do álcool.

Serviços modelo

Em 1993, numa outra tentativa de atender às neces-sidades definidas pelos jovens, a AHI abriu uma clíni-ca de saúde reprodutiva. “Se é disso que os jovensprecisam, então é melhor começar logo”, Esiet lem-bra-se de ter dito. A meta mais ampla é criar ummodelo de prestação de serviços de saúde reproduti-va para os adolescentes—um modelo que possa serreplicado pelo governo ou doadores. O início daclínica foi lento; sofreu a falta de pessoal médicocom a orientação certa para a prestação de serviçosde saúde reprodutiva para os adolescentes.Resultado: número baixo de clientes. Agora, apósmuita reorganização, a clínica está florescendo e, emalgumas tardes, com um número excessivo declientes. Uma jovem médica, uma enfermeira-parteira, um técnico de laboratório e um jovemassistente prestam uma série de serviços: orien-tação e educação individualizada, testes e tratamen-to ou encaminhamento a cuidados médicos gerais,saúde sexual, controle da natalidade, gravidez,opções de gravidez, infecções do trato reprodutor eAIDS e violência sexual. A consulta e a orientação

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são gratuitas; os testes de diagnóstico, os remédiose anticoncepcionais estão um pouco acima do custoda AHI, mas abaixo do preço comercial.

O local da clínica é bem iluminado e arejado e o pes-soal, acolhedor. Pede-se a opinião dos jovens sobrea maneira de melhorar os serviços e o ambiente deprestação de serviços. A idade dos clientes varia de10 a 22 anos. Vinte e seis por cento dos jovens,tanto rapazes como moças, afirmam que são sexual-mente ativos. Os prontuários da clínica mostramaltas taxas de sexo desprotegido, número elevado deinfecções do trato reprodutor e higiene pessoal e sexual deficiente. A clínica dá ênfase a aumentar oconhecimento de seus clientes a respeito da saúdereprodutiva.

A clínica é inovadora na Nigéria e em outras partes,graças à natureza abrangente de seus serviços.Oferece orientação em assuntos sexuais, serviçospara os casos de estupro e abuso sexual e orientaçãoem gravidez indesejada, serviços que a maioria dasclínicas de planejamento familiar da Nigéria e deoutros países em desenvolvimento não pensaria emoferecer. Basicamente, a clínica põe em prática oPrograma de Ação acordado na Conferência sobrePopulação e Desenvolvimento (CIPD), realizada noCairo em 1994. “Estamos ajudando a tornar aConferência de Cairo uma realidade”, afirma Esiet,“mediante a prestação de serviços, informações ecapacitação aos jovens para que possam assumir ocontrole da própria vida de uma forma que, casocontrário, não o fariam.”

“Um longo caminho”

Desde 1989, a AHI passou de uma idéia para umarealidade tangível. Nos próximos anos, o seu tra-balho e alcance continuarão a crescer e evoluir deacordo com as necessidades dos adolescentes e emestreita parceria com os jovens a quem serve.Quando Esiet começou pela primeira vez o trabalhoem tempo integral na AHI, um de seus primeirosprojetos foi uma série de seminários para pais, pro-fessores e jovens, apoiado por um subsídio daIWHC. O enfoque principal dos seminários foi a pre-venção da gravidez de adolescentes e a mensagem

“Simplesmente diga não” era central. Em resumo,assim declara Esiet: “Percorremos um longo camin-ho.”

Para contatar a Action Health Incorporated, escrevapara: PO Box 803, Yaba, Lagos, Nigéria; Tel.: 234-1-774-3745; E-mail: [email protected].

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São quatro da tarde de um sossegado domingona cidade verde e tranqüila de Calabar, Nigéria.Pouco adiante na rua, em frente a uma

padaria, 200 meninas adolescentes estão “batendo oponto” com suas colegas da Girls’ Power Initiative(Iniciativa de Atribuição de Poder à Mulher Jovem—GPI). No que se tornou um ritual de domingo àtarde, essas jovens estão compartilhando experiên-cias da semana anterior.

“Estou me sentindo bem esta semana”, relata umajovem chamada Josephine. Continuando, ela contaque sua irmã recentemente disse que as jovens queusam saias curtas estão “procurando o estupro.”Como Josephine reagiu perante tal afirmação? “Eucorrigi minha irmã. O estupro é violência e osrapazes estuprarão não importa a roupa que se este-ja usando. O que dizer dos rapazes que usamshorts bem curtos?” Ao terminar de falar, as outrasjovens dão vivas e aplaudem e outra jovem se levan-ta para contar a sua história.

Assim começa outra notável reunião da GPI, um pro-grama lançado em 1993 para reforçar a auto-estimade jovens nigerianas proporcionando-lhes infor-mação sobre saúde e direitos reprodutivos para ensi-nar-lhes a expressar o que querem ou não queremcom relação ao sexo. Com este objetivo, a GPI dirigeo programa de domingo, realiza workshops públicos eorganiza atividades baseadas no currículo da GPI emvárias escolas de Calabar, uma cidade de 500.000habitantes situada a uns 50 quilômetros da fronteirade Camarões no sudeste da Nigéria. A GPI trambémdirige um programa na cidade de Benin na regiãosudoeste do país. Nada menos de 1.450 jovens mulheres, de 10 a 18 anos de idade, são membros daGPI; outras 300 participam de programas intensivosrealizados pela GPI em feriados escolares; e milhares têm acesso à mescla ímpar da GPI de informação e atribuição de poder por meio de um

boletim trimestral intitulado Girls' Power (Atribuiçãode Poder à Mulher Jovem).

O contexto da Nigéria

O que torna a GPI tão extraordinária é o fato de sim-plesmente existir na Nigéria, onde a vasta maioriadas jovens é treinada para ser subserviente aos pais,irmãos e marido. Embora esteja aumentando onúmero de nigerianas profissionais e as mulherestenham maior acesso ao ensino superior e a cargosde alto nível nos círculos acadêmicos, na advocacia eem algumas empresas privadas, a criação tradicionalda jovem nigeriana de submissão e aceitação conti-nua a existir em todo o país. É especialmente fortenas vastas áreas rurais da Nigéria. O compromissoda GPI com discussões francas sobre reprodução,saúde e direitos da mulher, violência doméstica erelações entre homens e mulheres é altamente inusi-tado e até mesmo controverso. O grupo já foi acu-sado de corromper as jovens, incentivando-as aserem sexualmente ativas ou tornando-as “demasi-adamente audazes” para encontrar um bom marido.

“Se perguntarmos a uma jovem: ‘Qual é seu nome?’ela abaixa a cabeça”, diz a Dra. Bene E. Madunagu,fundadora e co-coordenadora da GPI, defensora dasaúde e direitos reprodutivos e sexuais da mulher,altamente respeitada em âmbito internacional.“Quando se pergunta a uma jovem: ‘Que direitosvocê tem como ser humano?’, quase sempre elaemudece ou diz: ‘O direito de viver, de comer bem eà educação’. Ninguém pensa no direito à saúde,especialmente as jovens.”

De acordo com a Dra. Madunagu, que dirige o pro-grama em Calabar, o trabalho da GPI é proporcionaràs jovens informação crítica que, caso contrário, nãoteriam e também, como indica o nome, ajudá-las adesenvolver aptidões para que tomem as própriasdecisões informadas sobre sua saúde e vida. A meta

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ApÊndiCE II

Girls’ Power Initiative, Calabar, NigÉria

Mia MacDonald

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mais ampla é ajudar essas jovens a adquirir a auto-confiança e o autoconhecimento para realizar o seupotencial na educação, carreira, maternidade erelações. “Nós não ensinamos, nós comparti-lhamos”, diz Madunagu. “Elas têm o poder dedecidir a própria vida por meio da informação. Ainformação é poderosa.”

Inícios da GPI

A Dra. Madunagu fundou a GPI em 1993 em parceriacom Grace Osakue, administradora escolar daCidade de Benin, que, como ela, é defensora dasaúde e direitos da mulher e conhecida nacional einternacionalmente. Elas começaram com uma idéiae uma visão sólida. “Queremos atingir a mulherenquanto ela é jovem, ensiná-la de forma diferente,socializá-la de forma diferente, dar-lhe informaçãodiferente—informação baseada em fatos—de modonão sentencioso,” afirma Madunagu.

A meta da GPI é começar onde essas jovens estão e“fazê-las olhar além: ‘Precisa ser sempre assim?Poderia ser diferente? O que poderia ser diferente?O que podemos fazer para tornar a situação dife-rente?’”

Trabalhando com um punhado de colegas,Madunagu reuniu um grupo de nove adolescentes,incluindo a própria filha hoje com 17 anos, naprimeira reunião da Girls’ Power Initiative em julho de1994 em Calabar. “Essas nove jovens contarampara as amigas e continuamos a aumentar”, lembra-se Madunagu. No sudoeste, Grace Osakue, quecomeçou com sete jovens, também presenciou umcrescimento substancial e sustentado do programa.

Papel catalítico da IWHC

A International Women’s Health Coalition (IWHC) tem desempenhado papel crítico no desenvolvimen-to da GPI desde que foi concebida a idéia dessaorganização. A IWHC deu à GPI o seu primeiro sub-sídio semente e imediatamente prestou assistênciatécnica. Andrea Irvin, ex-Oficial de Programa para aÁfrica da IWHC, proporcionou à Dra. Madunaguassessoramento estratégico sobre a estruturação doprograma; e, não menos importante, forneceu umsólido fundamento. “Andrea transmite tanto incenti-

vo à GPI”, diz Madunagu. “De fato, a crítica deAndrea a meus relatórios, as questões que ela levan-ta sobre as minhas propostas—são elementos queajudam a aguçar os meus pensamentos e me dãouma clara visão da missão da GPI.”

Outro componente crítico do apoio da IWHC éfornecer materiais factuais, científicos e promo-cionais sobre a saúde e direitos da mulher—infor-mação inexistente na Nigéria e na maioria dos ou-tros países africanos. Esses materiais têm sido vitaistanto para os facilitadores da GPI como para asjovens que assistem às reuniões e participam do cur-rículo das aulas. Munidos dos materiais da IWHC,diz Madunagu, “nós nos sentimos no topo domundo.”

Captando a atenção do público

Nos últimos anos, as jovens da GPI têm promovidoeventos públicos sobre a violência contra a mulher,AIDS e direitos da mulher; até mesmo encenaramuma peça teatral intitulada “Sexo não é Amor”.Embora a oposição a tais eventos tenha sido míni-ma, Madunagu diz que todas as atividades públicassão apresentadas com a seguinte declaração: “A GPIestá apenas fazendo uma pequena contribuição coma qual o nosso governo concordou nas recentes con-ferências realizadas no Cairo e em Beijing.” Issotranqüiliza os pais de que o governo sabe desseseventos, explica ela. De fato, as bibliotecas federaise estaduais recebem a publicação Girls’ Power e atémesmo pedem mais exemplares. Além disso, a GPIjá testou o seu currículo sobre educação em sexuali-dade a ser usado nas escolas e está implementandoum programa intensivo em base experimentaldurante as férias em diversas escolas comunitárias.A GPI também preparou materiais de educação po-pular para o público em geral sobre violência,atribuição de poder e auto-estima. Tem sido instru-mental na promoção de debates críticos sobre saúdee direitos sexuais e reprodutivos das adolescentesentre pais, educadores e autoridades públicas estaduais.

À medida que o programa se expande e passa anovas áreas, a GPI testa métodos de comparti-lhamento da sua visão e perícia com outras organiza-

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ções. A meta é promover a liderança e reforçar acapacidade das colegas e ONGs africanas interes-sadas na filosofia e metodologia da GPI.Atualmente, a GPI serve como recurso de treinamen-to sobre gênero e saúde reprodutiva e sexual paraoutras organizações interessadas. Realizou umworkshop para líderes de outras organizações e publi-cou o Manual de Treinamento da GPI, que oferecediretrizes para as pessoas interessadas em imple-mentar programas semelhantes. Como o programase expandiu de forma significativa, a GPI mudou-serecentemente para instalações maiores.

Mulheres jovens de toda a Nigéria lêem a publicaçãoGirls' Power e escrevem a Madunagu pedindo conse-lhos e respostas a perguntas. Responder ao volumecrescente de correspondência mantém Madunaguocupada até altas horas da noite, mas ela diz quevale a pena se ela conseguir ajudar as jovens a ver eviver a vida de forma diferente. Uma carta veio deuma jovem que vive em Lagos, a maior cidade daNigéria, mas que tinha assistido às reuniões dedomingo da GPI enquanto estava de férias com afamília em Calabar. A jovem foi subseqüentementevítima de estupro coletivo por rapazes numa bi-blioteca da escola. A maior parte da sua família éconstituída por homens, escreveu ela, de forma queela não se sentiu à vontade para conversar comninguém sobre o estupro. Numa viagem a Lagos,Madunagu foi visitar a jovem, aconselhou-a a nãosentir vergonha do estupro e insistiu em que elacomunicasse o fato às autoridades—algo que amaioria das mulheres hesita em fazer, uma vez queos casos de estupro são julgados em tribunal abertoe, com freqüência, provocam vergonha e desprezo àsvítimas. A GPI está atualmente trabalhando com aAssociação de Advogadas Nigerianas para conseguirque as audiências e julgamentos de estupro sejamtransferidos para a privacidade dos gabinetes dosjuizes.

O panorama mais amplo

A meta mais ampla da GPI é incentivar uma novageração de mulheres jovens nigerianas fortes e cons-cientes a decidir o próprio destino e, a longo prazo,mudar a vida e papéis percebidos das mulheres—edos homens—de seu país. “Estamos educando as

jovens que começarão a pensar de forma diferentesobre questões de gênero”, diz Madunagu. “Este é onúcleo de um conjunto de feministas que poderãoabordar as questões de forma mais concreta. A GPIserá o campo de treinamento dessa atividade.”

No tocante ao crescimento notável da GPI, dizMadunagu: “Creio que eu estava muito voraz naminha idéia, e deu certo.” Todo domingo, umnúmero maior de mulheres jovens chega ao con-junto de escritórios verdes da GPI, situados numatravessa tranqüila de uma rua movimentada.Algumas chegam a ter 8 anos de idade, freqüente-mente irmãs de jovens mais velhas do programa,que aprendem lições apropriadas à idade sobre auto-estima e saúde reprodutiva.

No futuro, Madunagu gostaria de tornar a Girls’Power Initiative um programa nacional, mas as limi-tações de recursos financeiros e a dificuldade deencontrar e treinar pessoal, inclusive pessoas quenão sejam sentenciosas a respeito de adolescentes,fazem disso uma meta a longo prazo. Mesmoassim, ela encontrou formas de divulgar a saúde e osdireitos da mulher a grupos mais amplos. O progra-ma escolar da GPI se está expandindo e poderá estarem até 15 escolas até o fim de 2001. Numa reuniãoentre o pessoal da GPI e diretores de escolas, aexpansão do programa foi pedida insistentementetanto pelas autoridades escolares como pelos pais.

Atribuição de poder em ação

Na reunião de domingo da GPI, o relato deJosephine a respeito do desacordo entre ela e a irmãsobre o que causa o estupro levou o grupo a umadiscussão entre as jovens, moderada por Eka Bassey,uma das facilitadoras adultas da GPI. Bassey pededefinições de estupro e pergunta por que os homensestupram. Uma jovem responde que não se trata daroupa que a mulher usa. Bassey pergunta às outrasse elas estão ou não de acordo com esta idéia. Ruthestá contra. “Uma mulher deve ser cautelosa evestir-se modestamente”, diz ela. Eka discute anecessidade de estar consciente da própria roupa.“Considerem aonde vocês estão indo”, sugere ela,“mas a forma de vestir não deve levar ao estupro.”Acrescenta que as jovens precisam proteger-se con-

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tra o assédio e evitar situações potencialmenteperigosas. Conforme adverte Madunagu, “NaNigéria, temos um provérbio: ‘Aqui nem a coca-colaé grátis.’”

O currículo da GPI define o estupro como um atosexual não consentido, independentemente de setratar de um namorado ou envolver “elogios”. Otreinamento da GPI em prevenção de estupro incluisugestões práticas como se preparar para um encon-tro com o namorado: não utilizar atalhos que levema becos ou a lugares escuros e desertos; comparti-lhar os gastos do encontro; e, talvez o mais impor-tante, não considerar que precisa fazer sexo com onamorado para provar que o ama. Na opinião daGPI, a exortação a “simplesmente dizer não” é insu-ficiente; as jovens recebem informação factual sobresexo e sexualidade, inclusive anticoncepção, deforma que possam escolher por si mesmas, dizMadunagu. Algumas retardam a atividade sexual, aopasso que outras a começam. “Elas não se abstêmde relações sexuais porque nós lhe dizemos para seabsterem”, afirma ela, “mas porque elas estão beminformadas.”

Madunagu conta a história de uma jovem da GPIque foi à farmácia comprar camisinhas. O homematrás do balcão disse que ele não as venderia aninguém “menor de idade” e, quando a jovem lheperguntou qual era a idade mínima, ele respondeu:“trinta anos”. “O senhor não sabe se eu tenho ounão mais de 30 anos”, retrucou ela, “e eu vou com-prar as camisinhas”. E ele lhe vendeu as camisi-nhas. Uma jovem que expressa tal confiança e deter-minação sobre um assunto tão íntimo é, afirmaMadunagu, “algo inesperado, algo impensável emnossa sociedade.”

A verdade sobre o amor verdadeiro

Este domingo particular caiu logo antes do Dia deSão Valentim (Dia dos Namorados), cada vez maiscomemorado na Nigéria. Vendedores ambulantesvendem cartões elaborados que custam a metade deum dia de trabalho. Ao chegarem ao encontro, asjovens e outro grupo de 50 meninas da Girls’ PowerInitiative de 10 a 14 anos discutem o que é o ver-dadeiro amor. Com base no trabalho de grupo ejogos interativos, chegam à seguinte definição:devoção, sacrifício, não esperar demais, atencioso,

compreende erros, aceita falhas, o sexo não é abusi-vo, afetuoso, discute os assuntos e resolve interpre-tações errôneas.

Eka Bassey começa outra discussão. “Qual é a provado verdadeiro amor?” pergunta ela às jovens.“Vocês falam sobre essas coisas?” Ele escuta vocês?Vocês falam sobre os próprios sentimentos? Ele diz:‘Isso é conversa da GPI’ quando você discute pro-teção contra gravidez e doenças?” O que certamenteé uma rara ocorrência tanto nos Estados Unidoscomo nesse canto sossegado da Nigéria, as jovenscompartilham as suas idéias sobre intimidade, confi-ança, abuso e respeito tanto próprio como pela liber-dade do parceiro. O grupo conclui que “o ver-dadeiro amor leva tempo.”

A verdadeira medida de um programa como o daGPI é, naturalmente, a mudança que ocorre naspróprias jovens. Muitas das adolescentes agorafalam com uma confiança mais tranqüila ou maisrobusta; as que são tímidas no início adquirem con-fiança graças ao incentivo das colegas. Algumas dasjovens são bastante retraídas, mas as facilitadoras daGPI empregam formas inventivas—diálogos intera-tivos, jogos e trabalho em grupo—para fazê-las falar,mostrando-lhes que as suas idéias e opiniões sãoimportantes. Madunagu planeja fazer no próximoano uma avaliação total do programa da GPI, masaté agora as provas demonstram que o programaestá provocando uma revolução pacífica mas poten-cialmente poderosa.

Depois da reunião, as facilitadoras perguntam àsjovens do respectivo grupo o que aprenderam.Neste domingo, uma menina, de uns 12 anos deidade, responde: “A diferença entre amor e paixãopassageira”. Uma jovem mais velha da GPI diz que,quando um rapaz lhe pediu para serem amigos, elalhe perguntou: “Que tipo de amigos?” Surpreso, elerespondeu: “Você sabe, namorada, namorado,sexo.” Ela respondeu: “Para este tipo de amizadeeu não estou preparada.” Os rapazes, inclusive estedo relato, muitas vezes perguntam: “Por que asmoças da GPI fazem todas essas perguntas?”

Construindo a auto-estima das jovens

A meta transcendental de Madunagu permanece ina-balável: a atribuição de poder político e social à

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mulher nigeriana, a qual “não espera ser nomeadacomissária, mas que, pelo seu próprio reconheci-mento, alcançará o objetivo que almeja alcançar.”Com a geração mais jovem da Nigéria, numa ruatranqüila de uma cidade sossegada, tal atribuição depoder está se tornando uma realidade gritante. “Asjovens agora vão além de apenas dizer: ‘Ah! Euquero ser enfermeira; ah! eu quero ser professora’”,diz Madunagu, “para dizer: ‘Ah! Eu sou muito boaem física, química, matemática; portanto, acho quevou fazer medicina ou engenharia.’”

No terraço fora dos escritórios da GPI, a reunião dedomingo está chegando ao fim. As facilitadorasdizem aos grupos de adolescentes e de jovens mu-lheres que aprenderam muito delas e pedem umretorno sobre o que as facilitadoras poderiam fazermelhor. Antes de fazerem fila para receber o di-nheiro da condução—parte importante do programaque permite a participação das jovens mais pobres—cada grupo canta em conjunto três versos do hino“Década da Mulher”, “Igualdade, Desenvolvimento ePaz”, de Carole Etzler. Erguendo-se das salas verdesacima da cidade verdejante, as vozes das jovens sãofortes e repletas de esperança.

Em todo este país,e no mundo inteiroas mulheres desejam ser livres.

Não mais nas trevas,forçadas a ficar para trás,mas lado a lado na verdadeira igualdade.

Vamos cantar uma canção para todas as mulheres.Que as suas vozes sejam ouvidas no mundo inteiroe nunca, nunca cessem.

Vamos cantar uma canção para todas as mulheres:igualdade, desenvolvimento e paz.

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Oprograma Conscientizing Nigerian MaleAdolescents (Conscientizando os RapazesNigerianos—CMA) foi criado em 1995 para

ensinar rapazes nigerianos de 14 a 20 anos de idadea desenvolver uma consciência crítica e rejeitar pre-conceitos e práticas sexistas existentes. O CMA foilançado com um subsídio da International Women'sHealth Coalition. Sediado na cidade de Calabar,perto da fronteira com Camarões, o CMA é umaorganização singular na África Ocidental e, muitoprovavelmente, em muitos outros lugares. O progra-ma baseia-se num currículo intensivo que inclui asociedade nigeriana, os papéis da mulher e as estru-turas da família, sexualidade, saúde e direitos repro-dutivos e violência contra a mulher; os rapazes tam-bém recebem orientação confidencial. O fundadorda CMA, Dr. Edwin Madunagu, jornalista, acadêmi-co, professor e pensador social, é um ativista políticonacionalmente conhecido e respeitado. A meta delongo prazo de Madunagu é criar um movimento dehomens progressistas que trabalhem como aliadosdo movimento feminista da Nigéria na criação deuma sociedade baseada na igualdade de gênero. “Oprograma não é apenas outro programa”, diz ele.“Gira em torno de uma visão ideológica—e políti-ca—de um compromisso com a mudança, paixãopela mudança e fé na possibilidade da mudança.”

A capacidade de questionar e analisar

O CMA começou com 25 rapazes provenientes detrês escolas do segundo grau de Calabar e de diver-sos setores da comunidade. Participaram de umprograma rigoroso de nove meses depois das aulas,reunindo-se semanalmente para discutir, debater eaprender novas formas de pensar e comportar-se.Para a maioria deles, era a primeira exposição aidéias de igualdade de gênero, direitos humanos,saúde e direitos reprodutivos e realidades como aviolência contra a mulher. Utiliza-se o método do

diálogo, no qual os facilitadores adultos orientam osrapazes no exame das próprias idéias, ideais e pre-conceitos. Este estilo de transmitir informação, queinclui o desenvolvimento da capacidade crítica depensar de forma independente e de analisar, baseia-se no trabalho de Paulo Freire e Simone de Beauvoir,bem como no próprio trabalho de Madunagu comoprofessor e pensador social. O currículo procuradestacar as experiências de cinco grupos margina-lizados da sociedade nigeriana: mulheres, traba-lhadores, camponeses, minorias e jovens.

No quarto ano do CMA, 100 rapazes adolescentesestão participando do programa de dois anos.Reúnem-se semanalmente em grupos de 15 a 25durante 12 meses. No segundo ano, realizamreuniões mensais para reforçar o que aprenderam—um ajuste feito após a avaliação dos sucessos e fra-cassos do primeiro ano do programa. Mais recente-mente, acrescentou-se uma prática ao programa: aexperiência de educação por companheiros supervi-sionada, destinada a desenvolver um grupo centralde sólidos ativistas comunitários. Os participantesatuam com educadores e mediadores na respectivacomunidade, intervindo, por exemplo, em casos deviolência e opressão da mulher. O currículo recém-revisto dá ênfase aos conceitos básicos do CMA,incluindo sexismo na família e na sociedade, sexuali-dade e questões de saúde e direitos reprodutivos eviolência contra a mulher. Madunagu e o seu pes-soal estão convencidos de que a participação ativa econtínua no CMA também ajudará a reforçar adecisão dos rapazes frente às críticas, zombaria edescrença que muitos experimentam com familiares,colegas e professores. “É demasiado cedo para per-mitir que se misturem novamente na sociedade", dizMadunagu. "Poderiam ser arrastados novamente”.

Além disso, o CMA também expandiu o seu progra-ma além do centro. Estabeleceu um programa de

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ApÊndiCE III

Conscientizing Nigerian Male AdolescentsCalabar, NigÉria

Mia MacDonald

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extensão em cinco escolas do segundo grau em Uyo,cidade vizinha no estado de Ibom. Até esta data, 150rapazes adolescentes beneficiaram-se desse progra-ma de um ano. O pessoal do CMA também está tra-balhando com instituições do terceiro grau deCalabar, focalizando 20 rapazes que atualmente sãolíderes ativos nos seus campuses respectivos. Oprograma inclui o mesmo material em maior profun-didade, destacando questões de violência contra amulher, inclusive assédio e estupro. Finalmente, afim de facilitar o compartilhamento, o pessoal estáterminando o manual de treinamento do CMA, queservirá como guia do currículo e referência para ou-tros especialistas em desenvolvimento de jovensinteressados em programas para rapazes.

Responsabilidade do homem nas relações sexuais e no amor

O programa Conscientizing Male Adolescents funcionano Center for Research, Information eDocumentation (Centro de Pesquisas, Informação eDocumentação—CENTRID), uma ONG criada porMadunagu em 1990. O CENTRID e o CMA ocupamum conjunto de escritórios no segundo andar numarua movimentada de Calabar, cidade tranqüila de500.000 habitantes cercada de água e árvores robus-tas. O ponto focal do escritório do CENTRID e umrecurso crítico para o programa CMA é uma extensabiblioteca. Em 10 prateleiras enormes estão as obrascompletas de Lenin e Marx, romances, livros sobre ahistória da África e da Nigéria, vários trabalhos deKen Saro-Wiwa, Wole Soyinka e Ben Okri, Roots(Raízes), Presumed Innocent (Presumido Inocente),Satanic Verses (Versos Satânicos) (ao lado do Alcorão)e seções sobre direitos humanos, mulher, estudossobre gênero e saúde reprodutiva.

Numa tarde recente, cerca de 50 rapazes reuniram-se numa sala enorme e aglomerada no escritório doCENTRID para discutir relações sexuais e amor eresponsabilidade do homem em cada um dessesaspectos. Os rapazes trajam o uniforme formal dasescolas nigerianas: camisa branca abotoada e calçasazul-escuras. Eka Bassey é a facilitadora. À medidaque avança a discussão, os rapazes estão ao mesmotempo brincalhões e sérios e não parecem impres-sionados por duas mulheres visitantes nem por uma

mulher como facilitadora. Bassey expõe uma sériede hipóteses que os rapazes discutem e debatem. Aprimeira “o sexo espontâneo é melhor” produz murmúrios de “sim, claro!”. Um rapaz diz:“Quando eu vejo alimento, tenho vontade decomer”, o que é recebido com risos dos colegas.Outro rapaz, em resposta, menciona o risco dedoenças sexualmente transmissíveis, inclusive oHIV/AIDS. Bassey provoca reflexão mais profundaao perguntar: “E a gravidez?” e diz que é importanteplanejar as relações sexuais e conhecer o históricosexual de uma pessoa.

Proposição seguinte: “Se você ama a sua parceira,mostra esse amor por meio do sexo?” Os rapazesparticipam: “Não, você mostra o amor por meio daatenção e do diálogo”, diz um rapaz. E outro: “Osexo pode levar à dissolução da relação. É precisoconhecer os sentimentos e as necessidades da par-ceira.” E um terceiro: “Expresse a si mesmo, masmantenha a amizade.”

Entrementes, na biblioteca, 10 rapazes, membros doprograma piloto, estão preparando o workshop públi-co trimestral do CMA, com o título “Obstáculos cul-turais para a igualdade de gênero”. Cada qualpreparou um trabalho para discussão; em conjunto,escreverão um trabalho a ser apresentado no work-shop. Um rapaz de 19 anos, com uma camiseta doBlockbuster Vídeo, lê um trecho do que escreveu: “Àmedida que os homens e as mulheres de caráterpassam por uma transição... devemos separar amasculinidade do domínio e a feminilidade dasujeição. Ergamo-nos e ponhamos fim à desigual-dade de gênero em nossa sociedade e no mundo.”

Origens do CMA

Há mais de 25 anos Madunagu tem sido um promo-tor dos direitos políticos e um estudioso e pensadordo socialismo. Quando estudante na Universidadede Lagos, foi o co-fundador do Movimento deCombate à Pobreza na Nigéria. Durante vários anosensinou matemática na Universidade de Calabar. Aodeterminar que não podia combinar a carreiraacadêmica com o ativismo político, passou a fazerparte de The Guardian, jornal diário de Lagos comuma perspectiva liberal, como colunista, redator e

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membro da diretoria. Saiu quando o regime militarfechou o jornal em 1994.

Madunagu retornou a Calabar e começou a concen-trar-se em outras possibilidades e canais de transfor-mação social, entre eles os conceitos que levaram aoprograma Conscientizing Male Adolescents. Discutiu oassunto com a esposa, Bene, coordenadora da Girls’Power Initiative, e mais tarde com Andrea Irvin, ex-Oficial de Programa para a África da IWHC. “Pensei que fosse uma discussão teórica e sofrimuita inércia... Já fizemos tanto neste país... játemos cinco manifestos, cinco partidos políticos earquivos e arquivos sobre programas.”

Irvin perseverou e incentivou Madunagu a elaborar aestrutura do programa CMA e a preparar um currícu-lo. Em 1995 o programa foi lançado. O CMA, dizMadunagu, não teria saído do chão sem a visão e oincentivo de Irvin e o financiamento da IWHC. Opróprio Madunagu leciona e atua como facilitador, oque ele adora fazer, e vê o CMA como uma represen-tação em pequena escala da sua visão mais ampla:“Esta conscientização é muito, muito fundamental:mobilização nas raízes. É como voltar aos funda-mentos, ao trabalho que iniciamos em 1973 com oMovimento de Combate à Pobreza na Nigéria.”

Processo e avaliação

Embora seja difícil avaliar o impacto do CMA nas ati-tudes anti-sexistas e nas habilidades de pensamentocrítico dos rapazes, Madunagu e seu pessoal vêemprovas de que o CMA está causando mudanças sig-nificativas. Ao término da experiência de novemeses, os 25 participantes iniciais do CMArealizaram um workshop público no qual apresen-taram trabalhos sobre temas tratados no programa.Foram convidados jornalistas e, depois da reunião,os rapazes fizeram uma conferência de imprensa naqual defenderam de maneira efetiva—e contun-dente—suas posições anti-sexistas. Muitos delesrealizarão agora debates com os pais, comportamen-to altamente inusitado numa sociedade em que osmais velhos ainda são tratados com enorme reverên-cia.

Outros rapazes demonstraram nova abertura para

participar no trabalho doméstico, normalmentedomínio das mães e irmãs. Um foi até repreendidopela mãe por tê-la ajudado: parece que ele recolheua roupa do varal, grande parte da qual eram peçasinteriores de sua mãe. Os rapazes estão tambémmenos dominadores em suas interações com asmoças, tanto dentro como fora da família. Um lugarem que houve menos progresso é o desafio aosfatos ou atitudes de professores e de outras autori-dades escolares. Isso levará tempo; Madunagu dizque regularmente os estudantes ainda são expulsosaté mesmo pela aparência de questionar a autori-dade escolar. Naturalmente, tem havido objeções decertos pais—na maioria da classe média—à partici-pação de seus filhos num programa tão heterodoxo.Outros, porém, incentivam a participação.

Nos dois anos de operação da CMA, o que tem sur-preendido Madunagu e seu pessoal é a falta de cinis-mo da comunidade com relação a esse empreendi-mento e o rápido desenvolvimento do primeirogrupo de participantes. “Não estamos preparandoalmas para o céu ou candidatos para o paraíso”, dizMadunagu. “Nós queremos desenvolvimento quan-tificável, queremos a realização de mudanças identi-ficáveis para a transformação desta sociedade e, por-tanto, a transformação dos seres humanos membrosdesta sociedade.”

Atingindo mais além

Na próxima fase da CMA, várias novas iniciativasfarão parte do programa, com a meta de “maximizare ampliar os benefícios”, diz Madunagu. O pessoalestenderá o programa às escolas do primeiro esegundo graus de Calabar e de um estado contíguocom o objetivo de criar grupos de discussão do CMAdentro das escolas. O boletim do CMA, The MaleAdolescent (O Rapaz Adolescente), será distribuídonas escolas que forem acessíveis. Serão escolhidascinco escolas para visitas de acompanhamento, afim de avaliar o impacto do boletim sobre os rapazesestudantes. O retorno inicial dos professores temsido muito positivo. Algumas escolas pediram maisexemplares; numa delas, porém, o bibliotecário gri-tou “Fora daqui” e chamou o guarda de segurançapara expulsar o representante do CMA. Os diretores

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de escola, que não consideram o programa demasi-adamente controverso, serão convidados a participardos workshops trimestrais do CMA e a recomendarrapazes para fazer parte do programa.

No futuro, Madunagu prevê a operação total dosprogramas do CMA em dois ou três locais e o CMAcomo parte de um empreendimento mais amplo, emcolaboração talvez com uma rede regional ounacional; entretanto, ele não quer que o programacresça tanto a ponto de o estado nigeriano consi-derá-lo como ameaça e tentar silenciar o trabalho.“Em última análise, eu gostaria que o CMA fosse vin-culado a uma tentativa mais ampla de mudar estasociedade”, diz Madunagu, “mas não a curto prazo...Somente então poderá introduzir qualquer diferençaqualitativa... É agora aceito pelo movimento dasmulheres em particular e pelo movimentodemocrático progressivo em geral que a transfor-mação social necessária para libertar a mulher dadominação, exploração, opressão, abuso e indig-nidade requer os esforços não somente das mulhe-res mas também dos homens.” Madunagu tambémprevê uma futura aliança entre o CMA e a Girls’Power Initiative, que está empenhada em desenvolvera auto-estima de mulheres nigerianas jovens aumen-tando o seu conhecimento de saúde reprodutiva,direitos reprodutivos e direitos humanos. “As duasorganizações se beneficiarão da experiência, bemcomo o nosso novo modo de pensar, a nova visão ea nova perspectiva... Deverá surgir uma aliança emdeterminado nível de organização daqueles que sãooprimidos; esse trabalho conjunto deverá transfor-mar-se em realidade.”

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Recursos

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NOTAS

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Editora Gerente: Laurel Schreck

Tradução: Joâo F. Bezerra

Desenho Gráfico: Curtis & Company

Impressão: Citation Graphics

Impresso em papel reciclável. [recycle symbol]

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