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AÇÕES EDUCATIVAS DE TRÂNSITO REALIZADAS PELO BATALH ÃO DE
POLÍCIA RODOVIÁRIA DO PARANÁ
Carlos Henrique Cardozo
RESUMO
Este artigo objetivou mostrar o problema atual do trânsito no Brasil, número de acidentes e mortes que ocorrem todo ano nas áreas urbana e rural do País. Ele começa analisando as causas e conseqüências deste número alarmante, bem como apresenta alternativas de redução através de trabalhos educativos. Neste sentido o presente trabalho demonstrou as ações educativas desenvolvidas pelo Batalhão de Polícia Rodoviária do Paraná, e em especial pela Quarta Companhia de Polícia Rodoviária de Maringá, que desenvolve um programa denominado Vendo, Lendo, Escrevendo e Desenhando sobre o Trânsito (VLED) no Núcleo Regional de Loanda desde 2000 com o objetivo principal de levar aos futuros motoristas uma reflexão do seu papel como cidadão consciente de seus direitos e deveres na direção de um veículo, sendo que desde 2007 o referido programa é aplicado no Núcleo Regional de Maringá.O trabalho foi desenvolvido sob a forma de um estudo de caso em Maringá. O referido município foi escolhido pela facilidade de acesso, tendo em vista que o pesquisador tem acompanhando o desenvolvimento do projeto desde o início. Foram selecionadas escolas de ensino médio, tendo em vista que, via de regra os alunos estão na eminência de conquistarem sua carteira de habilitação e aumentaram o número de motoristas trafegando pelas cidades e estradas do País.Considerando a limitação de tempo e a abrangência da população de alunos, optou-se pela realização de entrevistas junto a Diretores de seis Estabelecimentos de Ensino do município de Maringá que participaram do trabalho durante os anos de 2007 e 2008. O estudo concluiu que ações educativas de prevenção de trânsito surtem resultados satisfatórios, desde que aplicados de maneira conjunta com vários segmentos da sociedade, contudo a implementação do programa VLED depende também do interesse dos Núcleos Regionais de Ensino e do interesse dos professores em conhecerem e se aprofundarem no tema. INTRODUÇÃO
Estudos mostram que o número de acidentes no Brasil tem aumentado a cada ano.
Somente no ano de 2007 foram registrados 43.518 (quarenta e três mil, quinhentos e dezoito)
acidentes com vítimas no Paraná, sendo 1672 (hum mil, seicentos e setenta e duas) mortes no
local. (DETRAN-PR/2008). Os acidentes de trânsito se transformaram num dos problemas
mais graves que a população brasileira enfrenta nos seus deslocamentos, diários ou não.
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No Paraná, o governo vem trabalhando exaustivamente no sentido de diminuir ao
máximo os acidentes de trânsito, para que a população paranaense, bem como a de outros
Estados que aqui circulam, sejam poupados desta estatística de vítimas fatais, que situa o Brasil
como um dos recordistas de acidentes de trânsito em todo mundo. (Detran-PR/2008) Neste
sentido, o presente artigo apresenta uma reflexão sobre questões relacionadas ao trânsito, mais
especificamente no trabalho educacional dirigido às crianças em idade escolar.
A Polícia Rodoviária Estadual como agente transformador no trânsito, vem
contribuindo para a disseminação de informações que permitam a mudança na conduta de
pedestres, passageiros, ciclistas, motociclistas, demais condutores, enfim, todos os usuários das
vias. Suas ações educativas junto às instituições de ensino e na comunidade em geral, fazem
com que o tema trânsito seja analisado e refletido, desenvolvendo, uma nova consciência.
No entanto, um trabalho de prevenção dos acidentes de trânsito devem necessariamente
incluir uma reflexão sobre a evolução do problema e discutir medidas de aumento de segurança
que não restrinjam à abordagem de engenharia de tráfego. Assim apresentam-se medidas que
relacionam os conhecimentos da engenharia de tráfego, educação e do urbanismo para uma
reorganização do espaço urbano, que inclua também a prevenção de acidentes.(FARIA, 1994)
Através da gestão do conhecimento é possível promover mudanças culturais e
comportamentais, estimulando a cooperação entre todos os usuários da via, o respeito as leis e a
humanização do transito, educando para cidadania e garantindo a segurança no exercício pleno
do direito de ir e vir. A educação de trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário da
sociedade.
A segurança no trânsito é um problema atual, sério e mundial, mas absolutamente
urgente no Brasil. A cada ano, mais de 33 mil pessoas são mortas e cerca de 400 mil tornam-se
feridas ou inválidas em ocorrências de trânsito. Esses índices de fatalidade na circulação viária
são bastante superiores às dos países desenvolvidos e representam uma das principais causas de
morte prematura da população economicamente ativa. (Associação Brasileira de Educação de
Transito - ABETRAN/2007).
Desde a promulgação do Código de Trânsito Brasileiro – CTB em 1997, houve um
despertar de consciência para a gravidade do problema. No entanto, o estágio dessa
conscientização e sua tradução em ações efetivas ainda são extremamente discretos e
insuficientes para representar um verdadeiro enfrentamento a questão.
Para reduzirem-se as ocorrências e implementar-se a civilidade no trânsito, é preciso
trata-lo como uma questão multidisciplinar que envolve problemas sociais, econômicos,
laborais e de saúde, onde a presença do Estado de forma isolada e centralizadora não funciona.
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Ainda que o Estado assuma a liderança é necessário um esforço nacional organizado em favor
de um trânsito seguro, mobilizando, coordenando e catalisando as forças de toda sociedade.
A política nacional de trânsito tem o cidadão brasileiro como seu maior beneficiário.
Traça rumos e cria condições para a abordagem do trânsito de forma integrada ao uso do solo,
ao desenvolvimento urbano e regional, ao transporte em suas diferentes modalidades, à
educação, á saúde e ao meio ambiente. (RODRIGUES, 2007)
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro – Lei 9.503 de 23 de Setembro de 1997
– artigo 1º , parágrafo 29: O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos
órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito
das respectivas competências, adotar medidas destinadas a assegurar esse direito.
No entanto a concepção de trânsito como um direito de todos é bastante recente. O
antigo código nacional de trânsito – Lei 5.128, de 21 de Setembro de 1966 – no mesmo artigo,
não o contemplava sob este prisma, enfatizando somente que o trânsito – de qualquer natureza
nas vias terrestres do território nacional, abertas a circulação pública – seria regido por aquele
Código.
Porém, uma análise mais aprofundada a respeito desta abordagem demonstra a visão
reducionista apresentada em relação ao trânsito, uma vez que ele não depende da integração
entre esses três elementos, mas da relação que as pessoas estabelecem com a via e com o
veículo. Os esforços para prevenir os acidentes e suas conseqüências devem ser os mesmos
tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais, no entanto, observando-se as características de cada
uma: maior número de acidentados nas áreas urbanas e maior letalidade dos acidentados nas
áreas rurais. (FARIA, 1994)
Para Rodrigues (2007) 6% dos acidentes ocorrem pela má condição das estradas; 4%
dos acidentes ocorrem por defeitos no veículo; 90% dos acidentes ocorrem porque o
motorista erra. Ora, se 90% dos acidentes ocorrem em função da falha humana, é preciso
reconhecer que qualquer assunto relacionado ao trânsito deve ser analisado, sobretudo, sob o
ponto de vista do comportamento humano.
Neste sentido, para realização de um exame crítico e consciencioso, é necessário lançar
um novo olhar ao trânsito, possibilitando argumentações consistentes e favorecendo debates
que mergulhem com maior profundidade nos diferentes aspectos que envolvem as pessoas e
seu comportamento enquanto pedestre, motorista, passageiro, ciclista, motociclista.
Pensando de forma abrangente, o tema trânsito remete a princípios que permitem refletir
sobre as pessoas e suas relações sociais. Assim, a via e o veículo cedem lugar á abordagem de
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elementos mais significativos que, relacionados às pessoas, conduzem a uma concepção mais
ampla acerca do tema.
Todavia a Quarta Companhia de Polícia Rodoviária com sede na cidade de Maringá-PR
desenvolve um programa denominado Vendo, Lendo, Escrevendo e Desenhando sobre o
Trânsito (VLED) no Núcleo Regional de Loanda desde 2000 com o objetivo principal de levar
aos futuros motoristas uma reflexão do seu papel como cidadão consciente de seus direitos e
deveres na direção de um veículo, sendo que em 2007 o referido programa foi implantado no
Núcleo Regional de Maringá dividido em quatro projetos:
• Matéria Extracurricular, aplicada a alunos das 3º e 4º séries do ensino
fundamental;
• Hipomóvel sinalizado, que consiste na sinalização de carroças de tração animal;
• Olimpíada de redação realizada nas escolas do ensino médio em todas as
cidades sob a jurisdição do NRE de Loanda, Paranavaí e Maringá, com o tema
“Causas e Conseqüências das Drogas na família e no trânsito;
• Filmes educativos, produzidos anualmente sempre com o foco na família, no
transito e nas drogas.
Nesta pesquisa procurou-se conhecer o efeito do programa junto aos alunos de Ensino
Médio de acordo com a opinião dos Diretores de Estabelecimentos de Ensino da rede pública
estadual de Maringá. Inicialmente apresenta-se uma discussão teórica abrangendo breve
histórico da educação de trânsito no Brasil, seguido da educação brasileira, da transversalidade
e da educação para o trânsito. Em seguida a metodologia da pesquisa é explicada e os
resultados são apresentados e comentados.
1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL
Os anos 1940 marcaram uma década de transformações do processo histórico brasileiro
destacando o fim do domínio político das oligarquias agrárias, o nacionalismo econômico, o
populismo de Estado de Getúlio Vargas. Alem disso, a partir da industrialização, a política
liberal do governo Dutra facilitou a entrada de capital estrangeiro no País. (RODRIGUES,
2007).
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Em 1941, foi publicado o primeiro código de trânsito do Brasil. Com o objetivo de
disciplinar a circulação de motoristas e pedestres, o código foi substituído, após cinco meses,
pelo Decreto 3.651 que passou a reger o trânsito durante vinte e cinco anos, sofrendo
pouquíssimas alterações.
Nesta conjuntura histórica surgiu um anteprojeto de Educação de Trânsito para as
escolas. A proposta foi apresentada no I Congresso de Trânsito da Cidade de São Paulo, em
junho de 1949, tendo como objetivo alterar o Código Nacional de Trânsito, em vigor a oito
anos, para viabilizar a organização e a execução de um programa sistemático à educação do
pedestre e do operador de veículo. Entretanto, não houve nenhuma alteração significativa no
código favorecendo a implementação do anteprojeto. (RODRIGUES, 2007)
No ano de 1964, deu-se início a ditadura militar, época em que a ação participativa era
restringida pelo governo. Um novo sistema de poder surge, através das Forças Armadas que
derrubam a Constituição e o Sistema Legal do País
Neste contexto político, a Lei 5.108, de 21 de Setembro de 1966, foi sancionada pelo
então Presidente General Castelo Branco. Esta lei instituiu o Código Nacional de Trânsito que,
juntamente com seu Regulamento (RCNT), Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito
(Contran), leis e decretos federais, revelavam as exigências da estrutura sócio-política e
econômica dos anos 1960.
O Código Nacional de Trânsito (Lei 5.108/1966) declarava,em seus artigos 124 e 125,
que:
“Pelo menos uma vez a cada ano, o Conselho Nacional de Trânsito fará realizar uma Campanha Educativa e Trânsito, em todo território nacional, com a cooperação de todos os órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito. O Ministério da Educação e Cultura promoverá a divulgação de noções de trânsito nas escolas primária s e médias do País, segundo programa estabelecido de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito. “
Em 1967, a indicação do General Artur da Costa e Silva pelo Supremo Comando
Militar para a Presidência da República, fez com que o período apresentasse fatos relevantes,
tais como: a abertura do Congresso Nacional com vistas a promulgação da nova Constituição
Brasileira;a abertura da economia; a entrada de capital e investimentos externos; a censura
plena e a repressão política. (RODRIGUES, 2007)
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Neste período o Paraná organizou o projeto Prática Educativa nas Escolas com a
finalidade de preparar professores para o trabalho direto com os alunos, tratando questões
referente ao trânsito. Foram visitadas mais de 50 (cinqüenta) escolas e, aproximadamente
25.000 (vinte e cinco mil) alunos receberam noções gerais de trânsito, sendo alertados de seus
perigos. (Rodrigues, 2007).Esse projeto contou com a participação da Secretaria de Estado de
Educação e Cultura, da Fundepar, da Prefeitura Municipal, do Departamento de Estradas e
Rodagens do Paraná (DER/PR), entre outros órgãos. A experiência paranaense foi seguida por
São Paulo, em 1970.
Apesar dos programas destinados à Educação de Trânsito, as estatísticas do início dos
anos 1970 eram desanimadoras: de uma frota de 4.300.000 veículos, o número de mortes
atingiu 7.000 pessoas; 100.000 ficaram feridas e 19.000 veículos foram inutilizados.
(RODRIGUES, 2007)
Nessa época os projetos de Educação de Trânsito elaborados refletiam a ideologia
política da época: obediência e reconhecimento ao policial de trânsito, reforçando o ensino das
regras de trânsito de maneira normatizada, sem nenhuma chance de reflexão sobre o tema.
( RODRIGUES, 2007).
O final do Governo Geisel caracterizou-se pela crescente oposição ao arbítrio usando a
redemocratização como palavra de ordem do final dos anos de 1970. No início do governo
Figueiredo os atos institucionais foram extintos, porém o Executivo ainda tinha o poder de
decretar o estado de emergência, o estado de sítio, independentemente do Legislativo, além de
medidas de emergência em áreas localizadas.
Os anos 1980 foram expressivos para a organização de diversos simpósios nacionais de
Educação de Trânsito promovidos pelo Departamento Nacional de Estradas e Rodagem
(DNER), bem como pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Em setembro de 1980, durante o II Simpósio Nacional de Trânsito, foi proposta a
implementação da Educação de Trânsito para o ensino de 1º e 2º graus tendo por meta atingir
primeiramente as capitais, com expansão posterior às grandes cidades. Para tanto, a
universidade Federal do Rio Grande do Sul responsabilizou-se pela execução do projeto e pela
impressão do material instrucional e complementar. A distribuição do material – destinado a
instruir pedestres, passageiros e ciclistas – ficou a cargo das Secretarias de Educação.
A mudança paulatina do regime e os sinais de abertura política demonstraram o esforço
dos departamentos de transito para envolver a sociedade num processo educacional voltado a
alunos e pais. Assim, em São Paulo foi fundado o Clube do Bem – Te – Vi, o Projeto Vida e a
Cidade Mirim. Em 1982, o Estado do Rio de Janeiro produziu um material bibliográfico de
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trânsito, dirigido a orientação de alunos e professores, denominado caderno pedagógico
(RODRIGUES, 2007).
O Mato Grosso fundou, em 1988, a Sociedade Educativa de Trânsito Amigo (SETA).
Composta por um grupo de trabalho, a SETA promovia encontros para debater questões
relacionadas ao transito no Estado e combater os altos índices de acidentes. Com a intenção de
alertar os habitantes, foram promovidos cursos de legislação e de educação do trânsito,
palestras para alunos, reciclagem de policiais entre outros eventos. A partir de 1991, este grupo
avançou para a implementação de programas complementares como a Guarda Mirim (Patrulha
Escolar de Segurança) e campanhas educativas direcionadas a comunidade. (FILIPOUSKI,
2002)
A gradativa liberação da censura brasileira possibilitou um surto de criação artística e
literária nos anos de 1990. As novas publicações começaram a trazer uma abordagem mais
crítica e ampla da realidade nacional. Com isso, também a literatura sobre trânsito passou a
fazer uso de uma nova linguagem. A continuidade do prêmio Volvo de Segurança foi um
exemplo. Em 1992, o Mato Grosso do Sul recebeu o primeiro lugar na categoria Estado com o
slogan: trânsito é questão de consciência.
A Nova república estimulou outras iniciativas que mobilizaram o País na busca de
soluções para a situação do trânsito. O Governo de Minas Gerais, em parceria com as
Secretarias de Segurança Pública e Educação, desenvolveu um programa de Educação de
Trânsito para as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental. Em 1995, o Distrito Federal
lançou um projeto de atividades educativas de trânsito aos professores das redes pública e
particular de ensino.
Em 1996, a Abdetran elaborou o Programa Nacional de Educação de Trânsito.
Apresentado aos diretores dos Departamentos Estaduais de Trânsito, no XXXIV Encontro
Nacional de Integração dos DETRAN’s, em Maceió, o programa foi implementado, no ano
seguinte, em 22 escolas – municipais, estaduais e particulares-em Natal , no Estado do Rio
Grande do Norte. ( RODRIGUES, 2007)
Subsidiadas pelo Departamento de Trânsito do Estado do Rio Grande do Norte, as
escolas receberam o programa, livros paradidáticos, jogos e outros recursos para o trabalho
sistemático com a Educação de Trânsito. Seguindo o modelo, o Estado do Mato Grosso
também utilizou o programa e, da mesma forma, implementou-o em escolas situadas em
Cuiabá e Várzea Grande.
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Nota-se assim que os anos 1990 foram especialmente relevantes para a viabilização de
programas, projetos, campanhas, materiais de orientação e uma série de outras iniciativas
voltdas a Educação no Trânsito.
No ano de 2001, O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e a Unesco, com
recursos do Fundo Nacional de Educação e Segurança no Trânsito (Funset), implementaram o
Projeto Rumo à Escola , que teve com principal objetivo inserir o Trânsito com tema
permanente de estudo, análise e reflexão nas escolas brasileiras de Ensino Fundamental. O foco
do trabalho foi o desenvolvimento de valores, posturas e atitudes, no sentido de garantir o
direito de ir e vir dos cidadãos, oportunizando aprendizagens que conduzissem ao universo de
relações humanas e do convívio social apresentando uma visão ampla e abrangente sobre o
tema, não o restringindo a condutores de veículos automotores e tampouco a um fenômeno
relacionado a grandes cidades. ( FILIPOUSKI, 2002)
Nesse contexto, teve como objetivo mostrar à sociedade a importância de educar
crianças e jovens para o exercício da cidadania no espaço público. A abordagem do projeto
considerou o trânsito como um processo sócio-histórico que envolvia, principalmente, as
relações estabelecidas entre as pessoas e o espaço, assim como a relação das pessoas entre si.
Os professores das escolas receberam capacitação para transversalizar o tema em suas aulas,
além de receberem cadernos pedagógicos com exemplos práticos facilitadores à sua ação
docente, materiais didáticos, vídeos, livros paradidáticos, entre outros materiais.
Atualmente, os órgãos e entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito devem
ter uma coordenadoria de educação, o que contribui, sobremaneira, à implementação de ações
voltadas `a Educação de Trânsito em todo País.
2. EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A educação brasileira foi regida pela Lei 5.692/1971 – Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – durante 25 anos. Neste período as escolas procuraram seguir tendências
educacionais mais contemporâneas e reavaliaram sua forma de ensinar. Entretanto, a estrutura
do ensino permaneceu inalterada em função da vigência da lei em pauta.
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96 – apresenta
alterações significativas.
• Estabelece somente dois níveis escolares: a educação básica (composta pela
educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e a educação superior.
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• Responsabiliza cada escola pela elaboração e execução de seu projeto
pedagógico – respeitando o sistema de ensino adotado por seu Estado ou
Município. O professor deve participar ativamente deste trabalho.
• Os currículos do ensino fundamental tem uma base nacional comum
(Parâmetros Curriculares Nacionais). Porém, cabe a cada sistema de ensino e a
cada escola oferecer uma parte diversificada de acordo com as características
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
• Os conteúdos curriculares da educação básica devem observar as seguintes
diretrizes, contidas no Art. 27:
I- a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres do
cidadão , de respeito ao bem comum a à ordem democrática;
II- consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento;
III- orientação para o trabalho;
IV- promoção do desporto educacional e apoio às práticas educativas não formais.
• De acordo com o Art. 32 da LDBEN o ensino fundamental tem como objetivo a
formação básica do cidadão, mediante:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio
da leitura, da escrita e do cálculo;
II- a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e
dos valores em que se fundamentam a sociedade:
III- o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV- o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e da tolerância
recíproca em que se assenta a vida social.
Frente às mudanças, é fundamental ressaltar que a escola não muda a sociedade, e nem
é a responsável pelos desastres da sociedade. Mas, de qualquer forma, precisa cumprir, da
melhor maneira possível com sua função social: formar cidadãos.
Assim, cabe a escola, entre outros aspectos:
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• Criar condições que possibilitem a manifestação de opiniões e idéias; a análise e
reflexão dos fatos; a troca de vivencias e experiências;
• Proporcionar aos seus alunos, de forma igualitária, o acesso a informação, à cultura, à
arte, à tecnologia, à vida em grupo;
• Resgatar a alegria e o prazer de aprender;
• Romper com a ignorância; valorizar o saber e a cultura; ampliar os horizontes dos
alunos, a fim de que eles compreendam, encontrem e ocupem o seu lugar na sociedade.
(RODRIGUES, 2007).
2.1. Parâmetros Curriculares Nacionais
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) procuram, igualmente, atender à Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional como também a Constituição Brasileira que
estabelece a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros capazes de
orientar as ações educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-los aos ideais
democráticos e a busca da melhoria do ensino nas escolas brasileiras.
Daí a importância da autonomia oferecida à escola que, ao elaborar seu projeto
pedagógico, deve seguir a estrutura básica indicada nos PCN, mas tem a liberdade de atender as
necessidades pertinentes à sua realidade.
Os objetivos gerais do ensino fundamental, indicados nos PCN, definem que os alunos
sejam capazes de:
• Compreender a cidadania como participação social e política, assim como
exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia a dia,
atitudes de solidariedade, cooperação e repudio às injustiças, respeitando o
outro e exigindo para si o mesmo respeito;
• Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes
situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de
tomar decisões coletivas;
• Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais,
materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de
identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
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• Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem
como aspectos socioculturais de outros povos e nações posicionando-se contra
qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de
crenças,de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;
• Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente
identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo
ativamente para a melhoria do meio ambiente;
• Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de
confiança em suas capacidades afetivas, física, cognitiva, ética, estética, de
inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca
de conhecimento e no exercício da cidadania;
• Conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis
como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com
responsabilidade em relação a sua saúde e a saúde coletiva;
• Utilizar diferentes linguagens como meio para produzir, expressar e comunicar
suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais em contextos
públicos e privados, atendendo as diferentes intenções e situações de
comunicação;
• Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para
adquirir e construir conhecimentos;
• Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolve-los,
utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a
capacidade de análise critica, selecionando procedimentos e verificando sua
adequação.
Nos PCN as disciplinas apresentam-se como áreas a serem trabalhadas em todo
ensino fundamental: área de língua portuguesa, área de matemática, área de ciências
naturais, área de história, área de geografia, área de educação física. Os PCN devem ser
incorporados ao trabalho pedagógico que é desenvolvido pela escola, por isso tem caráter
de transversalidade, sendo parte integrante das áreas.
Os temas transversais entram no ensino das áreas para serem refletidos e
analisados a partir de um trabalho compartilhado entre alunos e professores. Assim, os
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valores que antes eram transmitidos pelo professor de forma aleatória e subjetiva, hoje
podem ser debatidos e analisados concretamente.
O professor deve trabalhar com ao temas transversais como partes integrantes
das áreas e não como algo estanque. Os temas transversais não são aulas especiais, nem tão
pouco áreas de ensino. É importante salientar que a proposta contida nos PCN não é dar
aulas de ética, assim como esta proposta não sugere que sejam dadas aulas de Educação no
Trânsito. Os temas transversais, propostos nos PCN, foram escolhidos com base nos
seguintes critérios:
• Urgência Social – questões graves que se apresentam socialmente e que
impedem o pleno desenvolvimento da cidadania;
• Abrangência Nacional – questões que, de alguma maneira são comuns e
pertinentes a todas as regiões brasileiras;
• Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental – questões que já
são trabalhadas pelas escolas, como no caso da saúde, do meio ambiente e da
orientação sexual;
• Favorecer compreensão da realidade e a participação social – questões que
possibilitem a participação social dos alunos e que desenvolvam sua capacidade
de posicionar-se e de intervir no meio social.
Com isso, a educação para o trânsito é considerada uma temática de transversalidade
comentada a seguir.
3. TRANSVERSALIDADE
3.1 O Tema Trânsito integrado às áreas curriculares
Todas as pessoas aprendem na escola a ler, a escrever, a somar, a dividir. Ao longo da
vida escolar, aprendem centenas, talvez milhares de conteúdos: sinônimos, antônimos, relevo,
hidrografia, raiz quadrada, equação numérica, colônia, republica. Mas, desde sempre, os
pofessores, alem dos conteúdos, trabalham com valores, embora sem saber disso. Qualquer
pessoa é capaz de lembrar diversas ocasiões em que seu professor interrompeu a aula para
falar sobre a importância do respeito aos colegas, da preservação do meio ambiente, das
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diferenças entre as pessoas. Assuntos que, aparentemente não tinham nada a ver com a aula.
Entretanto, sempre que fizeram isso, tranversalizaram um tema. (RODRIGUES, 2007)
Na escola, hoje, estas conversas informais precisam ser planejadas, ou seja, o professor
ao programar sua aula, já deve saber que, alem do conteúdo formal, precisa criar situações que
possibilitem a aquisição de valores, posturas e atitudes. É nesse momento que os temas
transversais aparecem. Eles tem por objetivo trazer à tona, em sala de aula, questões sociais que
favoreçam a pratica da democracia e da cidadania. (RODRIGUES, 2007)
Os temas transversais não são novas disciplinas. São conteúdos educacionais,
fundamentados em aspectos da vida social, que transpassam pelas disciplinas. Portanto, o
professor não vai dar aulas de ética ou aulas do meio ambiente e tão pouco “aulas de trânsito”.
Ele vai inserir, em sua aula, atividades que favoreçam a análise e a reflexão sobre este tema, a
fim de que os alunos realizem sua própria aprendizagem e traduzam em comportamentos os
conhecimentos construídos. (RODRIGUES, 2007)
Hoje, com um novo olhar à educação, o professor é capaz de compreender o quanto é
importante estabelecer na prática educativa uma relação entre aprender sobre a realidade
(conhecimento teoricamente sistematizado) e aprender a partir da realidade (questões da vida
real). E, para isso, é preciso que suas aulas sejam planejadas de modo a favorecer momentos de
análise e de reflexão sobre a realidade. Cada recurso pedagógico utilizado pelo professor deve
ser selecionado cuidadosamente, a fim de que favoreça aprendizagens significativas e
contextualizadas. (RODRIGUES, 2007)
4. EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO
4.1. Educação de Trânsito nas escolas
Uma das experiências mais bem sucedidas foi a do aluno-guia ou patrulha escolar, que
ocorreu no início dos anos 90, na cidade de Joinville, que realizou um amplo programa de
educação, engenharia e segurança no trânsito. Juntamente com a ampla campanha educativa em
diversas formas de mídia e com a sinalização e implantação de obras de engenharia nas portas
das escolas públicas e particulares, da pré-escola a oitava série do primeiro grau, alguns de seus
alunos foram treinados pela Polícia Militar, para orientar a travessia das ruas em frente às
escolas. (FARIA, 1994)
Mesmo nos locais onde não se consiga implementar programas de educação do tipo
aluno-guia, os pedestres, e particularmente as crianças e os adolescentes, devem ser orientados
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por agentes de trânsito ou por professores e pais de alunos, preparados para esta tarefa, sobre
como se comportar no trânsito. (FARIA, 1994)
Estudos internacionais comprovam que os programas de redução dos acidentes de
trânsito mais eficazes são aqueles que propõem ações conjuntas de educação, de engenharia e
de esforço legal. Estes estudos ressaltam que é fundamental investir em educação, mesmo que
seus resultados sejam de complexa monitoração ou que devam ser esperados, pelo menos, a
médio prazo. (FARIA, 1994)
A educação para o trânsito, e em especial a do público infanto-juvenil, é um dos
instrumentos que podem contribuir para a redução a médio e a longo prazo dos índices
alarmantes de acidentes no trânsito, pois um trânsito efetivamente seguro só será conseguido
quando os cidadãos forem mais conscientes de sua responsabilidade individual e mais
respeitadores dos direitos dos outros. A sociedade pode conseguir mais facilmente que seus
cidadãos desenvolvam estes valores se, desde, cedo as crianças e os adolescentes forem
educados, para que, quando adultos, tornem-se pedestres e, principalmente, motoristas mais
conscientes. (FARIA, 1994)
4.2. Educação de Trânsito no Batalhão de Polícia Rodoviária
Os pedestres representam o principal tipo de vítima de acidente de trânsito na maioria
das localidades brasileiras, devendo, portanto, receber atenção especial, os motociclistas
tendem a crescer como potenciais vítimas, considerando sua crescente incorporação no
mercado formal ou informal de trabalho, como já se nota no Brasil. Dessa maneira políticas
públicas visando a promoção de um transporte mais seguro para esses usuários da via pública
deveriam ser urgentemente planejadas e implementadas, aliadas á educação contínua em
práticas de direção defensiva e ao estímulo à adesão de equipamentos de segurança, como o
capacete. Com relação a esses aspectos, há que se considerar que os comportamentos no
trânsito, embora em geral sejam medidos em termos individuais, como no presente estudo, são
produtos do contexto social e do momento histórico no qual ocorrem, sendo importante que as
ações de intervenção visem a corrigir não simplesmente os aspectos individuais, mas
principalmente os determinantes mais globais desses comportamentos. (LIBERATTI, 2000)
Neste sentido, as ações desenvolvidas pelo Batalhão de Polícia Rodoviária são
direcionadas para o bem estar da coletividade e a melhoria contínua da Instituição, de seus
integrantes e da comunidade. Exemplo disso é a integração de todas as Companhias na Semana
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Nacional de Trânsito, anualmente realizada do mês de setembro. Na área da 1º Cia ( Curitiba),
os policiais que trabalham na Escola Prática Educativa de Trânsito do Departamento de
Estradas e Rodagem (DER) , integrando equipe multidisciplinar de professores, pedagogos,
profissionais de saúde, etc... se voltaram para as pessoas portadoras de necessidades especiais,
da 3º idade e comunidades indígenas das Reservas de Mangueirinha e Chopinzinho, localizadas
na região da 6º Cia (Pato Branco), onde o trânsito foi utilizado como instrumento social de
inclusão daquelas comunidades.
Uma solicitação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), foi o ponto de partida para o
início das ações de prevenção nas Reservas. (ALVES, 2007 coordenadora estadual das escolas
educativas de transito do DER).
Ainda, de acordo com a coordenadora, a cada ano o projeto se expande e se aprimora.
“Primeiro conscientizamos as crianças. Levamos os ensinamentos de trânsito de forma lúdica
para dentro das salas de aula das Reservas. Segue-se a capacitação dos professores,
comunidade e principalmente os pais, bem como o dialogo com os motoristas. Em 2007
inovamos, pela sensibilização dos motoristas com a entrega de panfletos realizada pelas
próprias crianças indígenas”.
Inúmeros são os exemplos de ações desenvolvidas e em desenvolvimento pelo BPRv,
por meio de suas Companhias, com a implantação e realização de campanhas, palestras,
programas, projetos e participação de eventos de naturezas diversas, como o Paraná em Ação,
em todo o Estado, a Expoingá (Feira Agropecuária) na cidade de Maringá e a Feira do Selo
Social, esta na cidade de Ponta Grossa, sede da área da 5º Cia/BPRv que, entre outras
atividades desenvolve a campanha “Eu uso a Passarela”, como mais um exemplo de parceria e
ação construtiva.
Em meio a esse trabalho um dos programas educativos de trânsito que já está
consolidado é o Vendo, Lendo, Escrevendo e Desenhando sobre o Trânsito ou simplesmente
“VLED”. Desenvolvido na área da 4º Cia, desde o ano de 2000, em parceria como os Núcleos
Regionais de Educação (NRE) de Loanda, Paranavaí e Maringá. Somente na região
metropolitana de Maringá no ano de 2008 o Programa com um de seus projetos envolveu 45
escolas da Rede Estadual de Ensino, atingindo 95 mil estudantes do ensino médio.
4.2. Programa Vendo, Lendo, Escrevendo e Desenhando sobre o Trânsito
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O programa nasceu de uma iniciativa do Soldado José Alvacir Borges da 4º Cia/PRv,
que também é seu coordenador, e hoje se desenvolve por meio da parceria entre a polícia
Rodoviária Estadual, as Secretarias Municipais de Educação e Núcleos regionais.
Suas atividades iniciaram no ano de 2000, na cidade de Loanda – PR, mais
precisamente em uma turma de 3º série do Ensino Fundamental da escola Maria da Glória
Dáviz. No mesmo ano a proposta de ensino de trânsito se expandiu para todas as salas de 3º e
4º séries daquela escola e no ano seguinte, 2001, para todas as escolas do município de Loanda.
No mês de julho de 2001 na busca de material inédito foi produzido o primeiro vídeo
educativo, gênero documentário sobre o dia-a-dia da criança no trânsito com duração de 30
minutos. Esse vídeo documentário é utilizado até os dias de hoje, durante todo o ano letivo.
Nesse mesmo ano mais 13 (treze) municípios subordinados ao Núcleo Regional de Loanda
implantaram o programa em suas escolas, bem como as cidades de Guairaça e Amaporã que
pertencem ao NRE de Paranavaí. Hoje as aulas teóricas e praticas são ministradas em 72
(setenta e duas) escolas de 18 cidades, incluindo Maringá. O programa está dividido em quatro
projetos, sendo:
1) Matéria Extracurricular - aplicado em média a 6.500 alunos das 3º e 4º séries do
Ensino Fundamental, integrados ao VLED. Até o final de 2004 era utilizada uma
apostila apenas para o professor, contudo, no início de 2005, com a adesão de um
desenhista a equipe do projeto, esta apostila foi reformulada e distribuída um para
cada aluno.
2) Hipomóvel sinalizado – sinalização de carroças de tração animal. Dentro deste
projeto já foram cadastradas e sinalizadas até a presente data 2.372 carroças em sete
municípios. Conforme estatística da 4º Cia/PRv, o hipomóvel sinalizado reduziu
drasticamente os acidentes envolvendo este tipo de veículo por ano. O exemplo
disso é que até 2002 acidentes com hipomóveis ocupavam o 2º lugar nas estatísticas
nos 12 municípios sob a jurisdição do Posto Rodoviário de Loanda; a partir da
implantação da campanha este índice caiu para o último lugar e se mantém até os
dias atuais. Nesse projeto os alunos envolvidos cadastraram todas as carroças do
município de Loanda. Num segundo momento em parceria com algumas entidades
locais, foram adquiridas faixas refletivas e aproximadamente 192 carroças foram
sinalizadas, ocasião em que seus proprietários receberam uma carteirinha onde
consta todos os dados do veiculo, nome e endereço do proprietário, e no verso o Art.
52 do CTB e assinatura.
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3) Olimpíada de redação – realizada nas escolas de ensino médio em todas as cidades
sob a jurisdição do NRE de Loanda e Paranavaí e desde 2007, também nas escolas
subordinadas ao NRE de Maringá. O tema da redação é “ Causas e Conseqüências
das drogas na família e no trânsito”. No mês de setembro, a seleção das redações
é feita por uma equipe de cinco professores voluntários de diferentes cidades. A
premiação acontece, simultaneamente, com o lançamento do filme do ano. Em
Maringá, o evento é realizado no Teatro Calil Hadad.
4) Produção de filmes educativos – anualmente é produzido um filme educativo
sempre enfocando a família, o transito e as drogas. O filme é divulgado durante todo
o ano letivo seguinte a sua produção uma vez por semana em diferentes cidades,
sendo o público alvo alunos de ensino médio e familiares ultrapassando a média de
100.000 espectadores por ano.
5. METODOLOGIA
Esta pesquisa é um estudo qualitativo, desenvolvido sob a forma de um estudo de caso.
Trata-se de um estudo exploratório, procurando identificar efeitos de um programa de educação
de trânsito em um município paranaense. De acordo com Bervian e Cervo (2002, p. 67) a
pesquisa exploratória é recomendada principalmente nas ciências humanas e sociais, e trabalha
sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade.
O caso escolhido foi o de Maringá, pela facilidade de acesso, tendo em vista que o
pesquisador está acompanhando o desenvolvimento do projeto no município.
Foram selecionadas escolas de ensino médio, tendo em vista que, via de regra os alunos
estão na eminência de conquistarem sua carteira de habilitação e aumentaram o número de
motoristas trafegando pelas cidades e estradas do País.
Considerando a limitação de tempo e a abrangência da população de alunos, optou-se
pela realização de entrevistas junto a Diretores de seis Estabelecimentos de Ensino do
município de Maringá que participaram do trabalho durante os anos de 2007 e 2008.
Na coleta de dados optou-se pelo uso de questionários (estes foram usados nas
entrevistas pessoais com os Diretores dos Estabelecimentos de Ensino). As entrevistas foram
formais utilizando de uma pauta com pontos a serem explorados. Segundo Vergara (2000, p.
55) a entrevista por pauta possui maior profundidade, podendo conter anotações relevantes,
bem como pode ser gravada para maior eficácia. Durante as entrevistas foi explicado a
importância de suas respostas para o trabalho, bem como o uso das referidas entrevistas para
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fins de estudos e pesquisas. Foram investigados aspectos objetivos e subjetivos, incluindo
percepções, conhecimentos e julgamento a respeito dos objetivos pretendidos neste projeto.
A coleta de dados foi constituída através de uma pesquisa de campo, onde foram
realizadas entrevistas com os Diretores dos seguintes colégios:
• Colégio Estadual João de Faria Pioli
• Núcleo Regional de Educação de Maringá (coordenação pedagógica)
• Colégio Estadual João XXIII
• Colégio Estadual Santa Maria Goretti
• Colégio Estadual Tomaz Edison A. Vieira
• CEEBJA (Penitenciária Estadual de Maringá)
Os dados da pesquisa foram tratados de forma qualitativa. De acordo com Richardson
(1999, p-19) “a abordagem qualitativa de um problema, além de ser uma opção do
investigador, justifica-se, sobretudo por ser uma forma adequada para entender a natureza de
um fenômeno social.”
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta do presente trabalho foi justamente focar os resultados obtidos na aplicação
do projeto aos alunos do ensino médio da rede estadual do núcleo regional de Maringá, que
caracterizou-se pela veiculação de um filme educativo produzido anualmente pelo Soldado José
Alvacir Borges, policial rodoviário que atualmente reside no município de Loanda.
Síntese dos filmes:
2006 – DESTINOS CRUZADOS
Este filme foi baseado em fatos reais. Geraldo, o líder da família é um alcoolotra
violento. Seus filhos Lúcia e Pedro saem de casa. Depois de cinco anos Lúcia tenta se
aproximar da família, seus pais sofrem um grave acidente. Pedro se torna traficante e viciado
pagando com a própria vida suas dívidas com o narcotráfico.
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2007 – VIDAS AMEAÇADAS
Este é o sétimo filme educativo do programa VLED e segue a fórmula que deu origem
aos anteriores. Vidas ameaçadas mostra inúmeras ações da Polícia Rodoviária do Paraná no seu
dia a dia.
Através do drama de dois jovens, um alcoólotra em recuperação, fanático por
motocicletas, mas que tem uma família forte, unida, que vai até as ultimas conseqüências para
resgata-lo, e outra, adolescente órfã de pais vivos sem perspectiva para a vida, fugindo da
morte encontra na policial Marta a esperança de um caminho para a vida.
2008 – O LEGADO
Numa cidade do interior brasileiro duas famílias com marcantes diferenças sociais são
surpreendidas pela forma do amor de seus filhos, Julio e Daiana, ela filha de um casal de
cortadores de cana de açúcar e ele filho do proprietário da usina. Só é mais forte do que este
amor o poder e as conseqüências do vício imposta sobre eles.
6.2 - Sobre a Prevenção de Trânsito
Inicialmente, procurou-se avaliar se os participantes da pesquisa tinham conhecimento de
algumas políticas de prevenção de acidentes de trânsito no Brasil. Todos os diretores
responderam que conhecem pelo menos um programa de prevenção de trânsito, tendo alguns
deles inclusive relacionado o programa de trânsito com programas voltados a prevenção do uso
de drogas.
Neste sentido têm-se que todos os diretores conhecem o programa da Quarta Companhia
de Polícia Rodoviária denominada VLED (Vendo, Lendo, Escrevendo e Desenhando sobre o
Trânsito), 20% conhecem o trabalho desenvolvido pela escola do DER (Departamento de
Estradas e Rodagem), 20 % dos entrevistados citou o programa do Conselho Comunitário de
Segurança (CONSEG) “Viva e Deixe Viver”, 40 % afirmou ter acesso a políticas de prevenção
de acidentes pela televisão e 60% citou o PROERD (Programa de Redução as Drogas e a
Violência), que mesmo não tendo ligação direta com o tema “trânsito” foi lembrado pela maior
parte dos Diretores entrevistados.
Outro aspecto explorado, referiu-se ao fato da escola já ter participado ou participa de
algum programa preventivo de trânsito, além do VLED. O que chamou a atenção neste aspecto
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é a afirmação de que 40% dos Estabelecimentos de Ensino nunca haviam participado de
qualquer outro programa preventivo de trânsito além do VLED, 20% já participou do “Viva e
Deixe Viver”do CONSEG, campanhas pontuais da Secretaria de Transportes do Município de
Maringá por 20% dos entrevistados, 20 % dos entrevistados colocou que quando lecionava no
ensino fundamental acompanhava seus alunos na Escola Educativa de Trânsito do DER.
Em seguida procurou-se avaliar a importância de um Programa sobre educação de
trânsito na escola, onde todos os diretores foram unânimes em afirmar que um programa como
este é muito importante para esclarecimentos e orientações acerca do tema, até mesmo porque é
papel da escola trabalhar com a conscientização dos alunos.
A respeito do programa propriamente dito, todos os diretores foram indagados com
relação ao desenvolvimento do trabalho e as expectativas dos resultados. Em que pese o exíguo
espaço de tempo para se trabalhar com a aplicação dos questionários ficou muito clara a
aceitação do programa, tendo inclusive nestas oportunidades evoluído o relacionamento inter
pessoal da comunidade, neste caso representada pelos alunos das escolas trabalhadas e a Polícia
Militar, neste caso representada pela Polícia Rodoviária.
Na seqüência cada Diretor de escola citou o número aproximado de alunos que participam
do programa anualmente, sendo que em média conclui-se que aproximadamente 400 alunos do
ensino médio por estabelecimento de ensino participam do programa, e como fato curioso em
toda região de Maringá são atingidos em torno de 35.000 alunos na faixa etária entre 14 e 60
anos de idade, este último fazendo parte do CEBEEJA.
Fazendo-se uma análise do comportamento dos alunos após a participação do programa,
conclui-se que os diretores citaram que de uma maneira geral perceberam mudanças de postura
e de comportamento; que o programa reforçou o que os adolescentes já possuem de
conhecimento dos malefícios das drogas, e principalmente esta aliada a direção de um veículo.
Muito embora os diretores argumentaram que quase diariamente ficam sabendo de
acidentes de trânsito envolvendo adolescentes, principalmente através da imprensa apenas 40%
dos mesmos reconheceram ter conhecimento de acidentes envolvendo alunos que participaram
do programa, contra 60 % que afirmaram não terem conhecimento.
Na seqüência foi avaliado o efeito do programa no que diz respeito ao consumo de álcool
e(ou) droga associado ao ato de dirigir um veículo, pelo qual todas foram unânimes em colocar
que o programa surtiu um efeito interessante na postura dos alunos. Ainda com relação a
produção dos filmes todos afirmaram de serem de fácil compreensão, porém um dos diretores
entrevistados citou que no início da veiculação do filme os alunos demonstraram um pouco de
resistência, talvez pela imposição, mas que no decorrer e ao final já tinham incorporado a idéia.
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Em última análise foram abordados assuntos técnicos, como alunos inabilitados, alunos
que não utilizam capacete e os principais problemas associados ao trânsito que seriam
necessários para serem abordados em um programa de educação de trânsito. Neste sentido 60%
dos diretores afirmaram que possuem conhecimento de alunos que dirigem sem habilitação, ao
passo que 100% afirmou que não tem conhecimento de alunos que conduzem motocicletas sem
capacete. Por fim os principais problemas associados ao trânsito que na opinião dos diretores
seriam importantes serem abordados em um programa de educação no trânsito seriam a
problemática das motocicletas, ações conjuntas com outros órgãos, continuidade das ações e o
desrespeito a sinalização de trânsito.
7. CONCLUSÃO
O trabalho com a Educação de Trânsito deve ser concebido como forma de desenvolver
atitudes e valores voltados ao respeito, à cooperação e à valorização da vida. Os alunos que
tiveram a oportunidade de vivenciar o programa VLED terão condições de debater e refletir
sobre conteúdos referentes ao trânsito e serão capazes de transformar a realidade imediata.
No entanto sabe-se que cada região possui necessidades e características específicas e,
por isso, cabe ao professor criar situações de ensino aprendizagem que atendam tais
necessidades, sempre acompanhados de um policial militar rodoviário que terá a missão de dar
o suporte técnico necessário para que o professor tenha um desempenho adequado.
Neste sentido, entendo que os objetivos do trabalho foram atingidos, pois ficou muito
claro a participação efetiva de professores e diretores durante o desenvolvimento do projeto,
porém, muito embora os resultados tenham sido satisfatórios sugere-se que o trabalho com o
trânsito não se limite a sala de aula, sendo necessário explorar ambientes externos que
propiciem a locomoção, como por exemplo observar o trânsito próximo a escola e a partir daí
promover debates a respeito das situações observadas.
Desta análise, torna-se importante deixar claro que o curto espaço de tempo para o
desenvolvimento do trabalho de certa maneira impediu a realização de uma pesquisa de campo
mais aprofundada com relação a coleta de dados, pois desta maneira teríamos um trabalho
direcionado aos alunos que propriamente participaram do projeto, e não aos diretores dos
estabelecimentos, resultados mais fidedignos seriam colhidos e uma percepção mais ampla a
respeito do trabalho seria constatada.
Em que pese os bons resultados, outras dificuldades ainda foram constatadas, como por
exemplo a questão da falta do conhecimento mínimo acerca do tema por determinado
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professor, o que de certa maneira dificultou o desenvolvimento do trabalho com seus alunos.
Sugere-se então que o professor explore recursos diversificados, como textos de jornais e
revistas, vídeos, enfim, tudo aquilo que estimule o debate sobre o tema.
É imprescindível que o professor amplie sua visão acerca do tema e trabalhe com seus
alunos de forma abrangente. O professor precisa buscar conhecimentos que o auxiliem em sua
prática educativa. No desenvolvimento do programa VLED o interesse e a participação do
professor e o seu constante aperfeiçoamento possibilitará sempre uma melhoria na aplicação do
projeto.
REFERÊNCIAS
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23
RODRIGUES, Juciara. Educação de Trânsito no Ensino Fundamental. Brasília – DF: Coleção Rumo a Cidadania, 2007. ROZESTRATEN, Renner J.A. Psicologia do Trânsito. Ed. Da Universidade de São Paulo, 1988. Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1997.v.8. SILVA, J.R. & VERGARA, S.C. Mudança Organizacional e as múltiplas relações que afetam a reconstrução das identidades dos indivíduos. ENENPAD, Salvador, 2002. VERGARA, S.C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 6 Ed. São Paulo: Atlas, 2005.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ ESCOLA DO GOVERNO
ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
CARLOS HENRIQUE CARDOZO
Orientador: Professora Doutora Hilka Vier Machado
AÇÕES EDUCATIVAS DE TRÂNSITO REALIZADAS PELO BATALH ÃO DE
POLÍCIA RODOVIÁRIA DO PARANÁ
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Maringá Paraná
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