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Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café Relatório Final

Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café · teoria econômica ajuda a decifrar o mistério: “empreendedorismo”. Em ... A realização da oficina “Cuidando de

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Ações Estratégicas de Revitalizaçãodo Vale do Café

Relatório Final

 

 

 

 

Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café 

 

 

Relatório Final 

Julho de 2010 2ª. edição

 

  

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TEXTOS TÉCNICOS  ARQUITETURA Alfredo Britto Maurício Prochnik 

ROTEIROS TURÍSTICOS Ana Seraphim Adriano Novaes 

HISTÓRICO / ASPECTOS ECONÔMICOS  André Sant’Ana 

PESQUISA ESTATÍSTICA ESPECIAL José Matias de Lima  

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL  Marcia La Rocque  

MUSEOLOGIA / PARQUES NATURAIS Maria de Lourdes Parreiras Horta  

PERFIL SÓCIO‐ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS Marilurdes Lopes Ferreira 

COORDENAÇÃO GERAL Sonia Mattos 

TEXTO FINAL Sonia Mattos André Sant’Ana     

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O passado vai fazer um novo futuro Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café   

  Há mais de um século a Light atua como prestadora de serviços públicos no Rio de Janeiro. Hoje a Light é a distribuidora de energia para 31 municípios do estado atendendo a mais de 4 milhões de clientes. Dentro de sua área de concessão está o Vale do Paraíba Fluminense, atualmente conhecido como Vale do Café.  Depois de patrocinar, com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o Inventário das Fazendas do Ciclo do Café Fluminense, o Instituto Light apresenta o projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café”. Através de vários produtos específicos, o projeto entrega às organizações do Terceiro Setor, ao poder  público  e  à  comunidade  um  conjunto  de  informações  de  natureza  cultural  –  elaborado  base  em pesquisas e estudos pertinentes à realidade local – que possibilitará o acesso e a capacitação deste público para  que  possam  trabalhar  na  estruturação  da  região  do médio  Paraíba  fluminense  como  um  destino turístico  ‐cultural de grande  interesse para o país e estratégico para o estado, fomentando um novo ciclo de progresso, baseado no Turismo Histórico Cultural.  Com  o  projeto  “Ações  Estratégicas  de  Revitalização  do  Vale  do  Café”,  o  Instituto  Light  e  o  Instituto PRESERVALE  criaram  roteiros  turísticos  para  os  diversos  quadrantes  da  região  e  promoveu  o  curso “Cuidando de Casas Históricas”, para capacitar profissionalmente a mão de obra  local. O projeto também identificou  áreas  prioritárias  para  novos  museus  e  parques  naturais  e  apontou  as  necessidades  dos existentes.   Todos estes estudos estão sendo apresentados de duas maneiras. Aqui, neste relatório, com a análise da vocação econômica de potenciais ações de restauro e recuperação de Fazendas Históricas, e pela internet, onde todos os resultados estarão disponibilizados para o público interessado.   O  Instituto Light acredita estar cumprindo um  importante papel neste ambicioso projeto: o de entregar a uma  região que  sempre honrou o pacto de  relacionamento  com a  Light, alternativas para que possa  se redescobrir e voltar a crescer, transformando‐se novamente em um pólo estratégico do Rio de Janeiro. Se ontem a riqueza veio do café, desta vez o seu legado histórico será a mola propulsora de um novo futuro. Que, para a Light, não há dúvidas, será cheio de energia. 

   

 

Oscar Guerra  Diretor do Instituto Light  

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Relatório Final 

  ÍNDICE   

I – INTRODUÇÃO............................................................................................................................................7 

II – APRESENTAÇÃO  ......................................................................................................................................9 

III – O TURISMO CULTURAL COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA O VALE DO CAFÉ  ..........................12 

IV – UM RETRATO DA CADEIA TURÍSTICA DO VALE DO CAFÉ  ....................................................................17 

V – PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA  ..........................................................................................22 

VI – O FOMENTO AO TURISMO CULTURAL E RURAL NO BRASIL ................................................................43 

VII – SEGMENTOS: ARQUITETURA / MUSEUS E PARQUES NATURAIS /  ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA /QUALIFICAÇÃO  .......................................................................................49 

VIII – UM CHOQUE DE INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO NOS NEGÓCIOS TURÍSTICOS    DO VALE DO CAFÉ: AÇÕES ESTRATÉGICAS .......................................................................................71 

IX – INDICAÇÃO DE PROJETOS.....................................................................................................................89 

X – CONCLUSÃO.........................................................................................................................................118 

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I ‐ INTRODUÇÃO 

André Sant’Ana e Sonia Mattos  

Empreendedorismo no Vale do Café 

Não há qualquer dúvida de que a  região  fluminense conhecida como o Vale do Café vive, há algumas poucas décadas, um  renascimento que ninguém podia prever: exatamente a  ressurreição daquele patrimônio que  foi devastado com a derrocada da atividade cafeeira; o reflorescer das fazendas que constituíram o centro dinâmico da economia brasileira no século XIX, vendidas a preço de banana ou tomadas pelas casas de crédito aos seus proprietários  em  bancarrota. Quem  acreditaria  que  as  propriedades  pertencentes  aos  plantadores  de  café  e traficantes de escravos ainda existiriam no início do século XXI? 

Isso aconteceu apesar de tudo e de todos os que permitiram a decadência incessante e crescente da região, que se seguiu ao colapso do café. Mas uma palavra nova que surge quase no final do século XVIII dentro da teoria econômica ajuda a decifrar o mistério: “empreendedorismo”. 

Em recente artigo no O Globo1, Paulo Guedes lembra que a economia nasceu como uma ciência política, o estudo dos esforços produtivos de uma sociedade. A natureza humana, os costumes sociais, o espectro da miséria ante  as pressões demográficas, a  riqueza das nações, os  conflitos entre os  segmentos  sociais, a distribuição de renda e a formação de mão‐de‐obra eram objetos de análise dos primeiros economistas2, e continuam importantes para a análise dos males econômicos atuais. A metodologia associada a essa análise econômica reganha força considerável desde as últimas décadas do século XX até os dias de hoje. 

O  Tratado  de  Economia  Política3  de  Jean‐Baptiste  Say  é  considerado  o  baluarte  do  conceito  de empreendedorismo4.  Publicado  nos  primeiros  anos  do  século  XIX  e  muitas  vezes  descrito  como  uma popularização das idéias de Adam Smith, o Tratado teve como ponto de partida a típica metodologia de sua época. Esse ponto de partida tinha por base a convicção de que a teoria econômica deveria começar, não com fórmulas matemáticas abstratas e análises estatísticas, mas com a experiência real do ser humano. Tal ênfase  humanística  resultou  no  destaque  dado  por  Say  ao  papel  do  empreendedor  no  crescimento econômico e no delineamento das relações sociais.  

 1 Editoria “Opinião”, 8/3/2010, p. 7.  2 Ilustrativos são os títulos da obras dos principais precursores da teoria econômica, como Adam Smith (1723‐1790), An Inquiry into the Nature and  the Causes of  the Wealth of  the Nations, ed. Oxford University Press, 1976, 1.080 pags., e David Ricardo  (1772‐1823). On the Principles of Political Economy and Taxation, ed.Cambridge University Press, 1981, 447 pgs.  3 Jean‐Baptiste Say (1767‐1832). Traité d’ économie politique ou simple exposition de la manière dont se forment, se distribuent ou se consomment les richesses, Calmann‐Lévy Editeur, 1972, 572 pgs.  4Tendo sido um francês o precursor dessa análise econômica, o amplo debate que se seguiu na Inglaterra e nos Estados Unidos usa o conceito com o galicismo entreprenneurship.

   

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O empreendedor, para Say, é aquele que consegue mover recursos econômicos de uma área para outra, equilibrando‐as  e  potencializando  a  área  que  decide  privilegiar,  com  todo  um  arsenal  de  precauções, visando,  sobretudo,  reunir  as  condições  para  que  o  negócio  prospere  continuamente,  com  riscos calculados.  Para  isso,  ele  busca  atrair  a  atenção  do  poder  público  para  o  apoio  necessário  ao  seu empreendimento. E avalia primordialmente dois segmentos: as parcerias necessárias de financiamento e o estado de sua mão‐de‐obra. Assim, a ele gera valor para si e para a própria sociedade. 

No entanto, as parcerias  com o poder público nem  sempre  caminham na direção da  sustentabilidade e usufruto, pela comunidade, dos benefícios culturais e ambientais de uma sociedade. O turismo cultural, no Brasil, padece em linhas gerais de uma ausência de interlocução proveitosa entre governos e as iniciativas empreendedoras da comunidade.  

Citando Maria Cristina Wolff de Carvalho, no livro “Caminhos do Rio a Juiz de Fora”, 2010, “o Brasil possui paisagens naturais e culturais de beleza extraordinária. No entanto, esta beleza não tem sido tomada como um bem em si a ser preservado, continuamente mantido, recuperado e explorado. (...) iniciativas, quando existem,  na maioria  das  vezes  buscam  se  adequar  aos  limites  da  infraestrutura  precária,  à  ausência  de informação, apoio, conforto e segurança ao visitante. Acrescente‐se a indiferença para com a ambientação dos  lugares  de  interesse,  a manutenção  vacilante  dos monumentos/museus  e  o  quadro  é  desolador. A tolerância ilimitada com os processos que levam à degradação da paisagem e do ambiente tem propiciado a  desvalorização  contínua  dos  tesouros  artísticos  nacionais.  De  um modo  geral,  não  é  percebido  que “paisagens  culturais”  são  construídas  no  dia‐a‐dia  da  população.  E  essa,  quanto  mais  educada,  mais habilitada estará a dar o devido valor aos elementos que a constituem, empenhando‐se em gerir e  tirar partido de suas potencialidades, fazendo‐as interagir com sua própria existência.” 

No  intuito  de  contribuir  para  uma  percepção  do Vale  do  Café  como  uma  região  de  potencialidades  de desenvolvimento cultural, social e econômico únicas na história do Brasil, foi concebido e executado este projeto. 

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II ‐ APRESENTAÇÃO  

O  projeto  “Ações  Estratégicas  de  Revitalização  do  Vale  do  Café”,  cujo  relatório  ora  apresentamos,  foi idealizado pelo Instituto Preservale em conjunto com o Instituto Light com o objetivo de proporcionar uma visão  em  perspectiva  desta  região  do  Brasil,  que  possibilite  a  elaboração  de  um  Plano  Estratégico  de Desenvolvimento Regional, tomando por partida os patrimônios culturais e ambientais que a caracterizam. Para esta finalidade, foi elaborado um projeto que contemplou três vertentes: uma de ação executiva, que foi a realização de três “produtos” qualificativos:  

1.  A realização da oficina “Cuidando de Casas Históricas”, que capacitou cerca de 40 participantes em métodos de conservação, proteção e qualificação de acervos de imóveis históricos. Os participantes da  oficina  foram  fazendeiros,  quadros  técnicos  e  gestores  culturais  de  diversas  prefeituras municipais, numa experiência por todos avaliada como de excepcional qualidade e utilidade. 

2.  A  produção  de  folhetos  com  roteiros  regionais,  mapa  e  indicações  de  atrativos,  hospedagem  e alimentação, cujo objetivo é o de proporcionar ao visitante a visão dos diversos quadrantes turísticos do vale, permitindo a livre circulação e escolha dos atrativos conforme sua localização na região. 

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3. O lançamento da proposta de criação de um “Selo das Fazendas Históricas”, atribuídos às fazendas 

do Vale que  foram  inventariadas pelo  INEPAC/Light/  ICCV.  Este  selo,  cujos  critérios deverão  ser definidos em conjunto com as entidades oficiais de patrimônio e a sociedade, virá  inaugurar uma série  que  poderá  ser  editada  anualmente,  com  categorias  diferenciadas,  visando  estimular  a restauração, a conservação e a interpretação dos patrimônios rurais fluminenses. 

 

 

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A segunda vertente do projeto  foi a pesquisa sócio‐econômica do segmento de turismo cultural que orbita em torno da história e das fazendas do café no Vale do Paraíba desde os anos 80/90. A pesquisa compreendeu análises de dados compilados  junto ao  IBGE e outras  fontes, bem como o  trabalho de campo realizado pela equipe de consultores do projeto, que consistiu de entrevistas e visitas técnicas junto aos principais fazendeiros, proprietários e gestores de empreendimentos e instituições culturais e ambientais da região, como também por intermédio de discussões em conjunto para compartilhamento de impressões, pontos de vista e dúvidas.  

Esta  pesquisa  representou  um  desafio  técnico,  logístico  e  cultural,  pois  o  universo  em  questão  ‐  os municípios  que  compõem  a  região  do  Vale  do  Café  ‐  não  dispõe  de  dados  atualizados,  acessíveis  e amigáveis à pesquisa. Além disso, temos que considerar o fato de que as visitas presenciais, em função das distâncias  e  dificuldades  de  acesso  e  comunicação  ‐  sem  esquecer  o  aspecto  pessoal  e  humano  dos respondentes, que muitas vezes encontram dificuldades em processar e assimilar o conjunto de questões envolvidas neste  tipo de  trabalho  ‐  implicaram numa  intensa experiência de convivência dos consultores com os fatores limitantes que a região apresenta. 

Foi utilizado um software para o armazenamento e tabulação dos dados, visando à sua utilização em outras plataformas  de  dados  sobre  a  região,  além  da  possibilidade  de  ampliação  do  escopo  e  profundidade posterior desta pesquisa.  

Uma  vez que a  carência de dados é um dos problemas a  serem  superados, novas pesquisas, que estão também indicadas neste relatório, poderão beneficiar‐se do trabalho já realizado. 

Foram  elaborados  questionários  específicos  para  cada  um  dos  segmentos  (fazendeiros/gestores  e hoteleiros),  que  permitiram  a  visualização  dos  perfis  dos  empreendedores  de  cada  segmento,  suas demandas, suas expectativas, suas dificuldades e sugestões para a melhoria e desenvolvimento do turismo cultural no meio rural fluminense.  

A  tabulação  e  análise  dos  dados  levantados,  juntamente  com  a  observação  crítica  dos  consultores, permitiram  a  compreensão de que há  lacunas  estruturais que precisam  ser  supridas, de modo  a que o enorme  potencial  da  economia  criativa  representada  pelo  turismo  cultural  no  Vale  do  Café  possa deslanchar um processo de desenvolvimento regional efetivamente sustentável.  

Entra  aí  a  terceira  vertente  do  projeto,  que  se  configura  como  uma  ação  propositiva,  a  partir  dos diagnósticos realizados pelos consultores do projeto e de suas reflexões, avaliações e indicações técnicas. 

A  pesquisa  de  iniciativas  presentes  na  região  que,  potencialmente,  venham  a  se  integrar  no  processo  de desenvolvimento regional, levou a um desenho bastante diversificado de possíveis intervenções, buscando um contexto  em  que  estas  sejam  realizadas  de modo  planejado,  coerente  e  integrado,  através  da  construção solidária de parcerias entre os diversos segmentos envolvidos – empresariado, governos e sociedade. 

Nosso projeto apresenta objetivos de curto, médio e longo prazo, a serem atingidos pelos atores regionais, com os  apoios  institucionais, políticos  e  financeiros que  forem necessários, provenientes das  esferas de  governo municipais, estadual e federal, bem como das agências de fomento, crédito e investimento disponíveis. Nossa intenção é também provocar a resposta destes parceiros complementares para este desafio comum.  

Chamamos a atenção de nossos interlocutores para o fato de que o Estado do Rio, verdadeiro emblema da nação, será  impactado nos próximos anos por diversos eventos  internacionais de grande magnitude. Esta agenda  exigirá  o  aprontamento  das  condições  logísticas  e  operacionais  de  seus  equipamentos  sociais, culturais e turísticos, e não somente na capital, mas sobretudo no interior do estado. É exatamente na zona rural  do  Rio,  onde  estas  ofertas  são  ainda  incipientes  até mesmo  para  seus moradores,  que  estão  os atrativos turísticos e culturais das fazendas históricas do Vale do Café, sobre os quais a demanda externa será enorme, em função dos fluxos de interesse turístico que para ele serão dirigidos. 

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III ‐ O TURISMO CULTURAL: A ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA O VALE DO CAFÉ 

Um impulso similar ao da economia cafeeira imperial parece ter se repetido no deslanche da mentalidade empreendedora do século XX no Vale do Paraíba. Um tipo de inconsciente coletivo histórico que “baixou” na região. Esse  impulso, em ambos os séculos XIX e XX, foi notadamente a  inversão de recursos próprios. Guardadas as proporções, tanto a produção cafeeira no XIX como a oferta de serviços turísticos de cunho cultural no século XX exigiu investimentos de pequeno porte.  Fala‐se aqui do investimento específico para cada setor – o cafeeiro e o turístico. 

No caso da montagem do Vale Turístico do Café, o investimento aconteceu sem montante significativo, se comparado com a implantação de grandes pólos de empreendimentos turísticos.  

O que houve foram ações prévias individuais de investimento de grandes proporções, principalmente para a recuperação do patrimônio material ameaçado, sua equipagem, manutenção e modernização, sem visar inicialmente o  turismo.  Isso em meio a  inúmeras  compras de propriedades  rurais desvalorizadas. O que houve  de  forte  investimento  prévio  acabou  se  incorporando  como  ativo  que  viabilizou  as  decisões  de investir no turismo cultural. 

Investimentos  de  porte  foram  feitos  em  infraestrutura  de  produção  e  de  toda  logística  necessária, equipamentos,  energia, mão  de  obra,  recuperação  e  formação  de  pastagens  e  de  cultivos  produtivos, irrigação, aquisição de cabeças de gado de leite e de corte, criação de cavalos, implantação e manutenção de empreendimentos rurais. 

As decisões de investir em turismo cultural foram sendo gradativas e acabaram desencadeando uma nítida mobilização dos agentes econômicos e institucionais atuantes nessa região que fora o motor da economia brasileira  durante  quatro  décadas  do  século  XIX5,  e  que  em  importância  econômica  literalmente desapareceu, deixando como legado apenas o patrimônio arquitetônico dos solares coloniais e imperiais. 

Se  não  vejamos:  sobrou  a  população  remanescente  dos  escravos,  que  não  tendo  para  onde  migrar permaneceu na região, e toda uma malha social  ligada notadamente ao comércio, aos serviços públicos e às atividades remanescentes da aristocracia.  

Não  se  produzia  mais  nada  de  relevância  comercial,  além  de  pontuais  empreendimentos  fabris principalmente  em Valença,  se  considerarmos  uma  região  localizada  a  uma  centena  de  quilômetros  da capital  da  República.  Restou  a  lavoura  de  subsistência,  algumas  produções  hortícolas  e,  sobretudo,  a pecuária leiteira e de corte, que começou como alternativa às antigas propriedades cafeeiras e manteve‐se sempre com expressão macroeconômica pouco significativa6. Essa herança, a região carrega até hoje. Como alternativa para  reverter a crise estrutural de mais de um século, a nova direção econômica que  toma o Vale  do  Café  no  sentido  da montagem  de  um  parque  turístico  vocacionado  para  o  Turismo  Cultural  é inquestionavelmente um boa saída (talvez única) para a revitalização dessa importante região brasileira.  

5 O apogeu da economia cafeeira foi entre 1835 e 1875, período em que o Brasil “era” o Vale Fluminense.  6 Embora o Município de Valença seja um dos principais produtores de  leite do Estado do Rio, ele não aparece entre os 80 primeiros municípios  brasileiros  produtores  de  leite.  A mesorregião  Sul  Fluminense  também  não  aparece  entre  as  30  principais mesorregiões brasileiras neste setor, e representa apenas 23% de toda a produção  leiteira do Estado do Rio. Essa pequena expressão econômica se explica, em parte, pela baixa produtividade relativa da produção fluminense como um todo, e pelo fato de ser um estado essencialmente importador de  leite de outros estados: produz menos de 500 milhões de  litros para um consumo de 2,3 bilhões de  litros de  leite.  (cf. Embrapa, dados de 2007 e 2009 – ver http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/informacoes/estatisticas/producao).   

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III ‐ 1. A ação empreendedora no Império do Brasil 

O café foi a base econômica do Segundo Reinado. A superação da crise regencial, a reorientação centralista e  conservadora  e  a  conseqüente  estabilidade  do  Império  a  partir  de  1850  encontram‐se  intimamente relacionadas à economia cafeeira.  

A estrutura econômica e social do Brasil não havia sido alterada com a emancipação política e continuava, em  essência,  tão  colonial  e  escravista  quanto  fora  durante  o  período  anterior.  Estruturada  para  a monocultura, a economia  imperial e escravista brasileira prosperou quando produziu uma mercadoria de grande aceitação no mercado europeu e,  também, quando não era ameaçada pela  concorrência. Assim acontecera com o açúcar no passado e agora com o café, em meados do século XIX. 

O café não requeria grandes e vultosos  investimentos, como a montagem de um engenho de açúcar e como aconteceu no renascimento recente do Vale do Café. Eram necessários: tanques para a lavagem do grão depois da colheita, terreiro onde espalhar e secar o café e máquinas de decorticação, triagem e outras, que eram mais simples e de fabricação local. Portanto, nos seus primórdios, a cultura cafeeira baseava‐se na utilização do fator terra  e dependia do movimento da mão‐de‐obra. Como o  cafezal  é uma  cultura perene, o  crescimento da economia cafeeira dependia quase que exclusivamente do suprimento de escravos. 

Mas,  ao  contrário  da  economia  açucareira,  a  economia  cafeeira  caracterizou‐se  desde  a  sua  origem  pelo casamento  entre  as  etapas  da  produção  e  da  comercialização7,  em  controle  das  classes  sociais  locais.  Na economia cafeeira, a  importância do comerciante foi enorme e decisiva, mas o fato de ter se constituído nos quadros de um país politicamente emancipado deu ao fazendeiro um espaço maior de liberdade e atuação.  

Segundo as palavras de Celso Furtado, “desde o começo, sua vanguarda [os cafeicultores] esteve formada por  homens  com  experiência  comercial.  Em  toda  a  etapa  de  gestação,  os  interesses  da  produção  e  do comércio estiveram entrelaçados. A nova  classe dirigente  formou‐se numa  luta que  se estende em uma frente  ampla:  aquisição  de  terras,  recrutamento  de mão‐de‐obra,  organização  e  direção  da  produção, transporte  interno,  comercialização  nos  portos,  contatos  oficiais,  interferência  na  política  econômica  e financeira”8. (Isso lembra o movimento que acontece nestas últimas décadas no Vale do Café.) 

Tornando‐se o principal produto de exportação brasileira a partir da metade do século XIX9, o café ocupou, de  início,  regiões  vizinhas  da  capital  brasileira,  o  Rio  de  Janeiro.  Ali  encontrou  uma  infraestrutura  já montada,  reaproveitando  a mão‐de‐obra  escrava  disponível  em  virtude  da  desagregação  da  economia mineira.  Além  disso,  favoreceram  enormemente  a  abundância  de  animais  de  transporte  (mulas)  e  a proximidade  do  porto.  Portanto,  sem  grandes  dificuldades  para  os  padrões  da  época,  com  os  próprios recursos existentes e disponíveis, deu‐se o impulso inicial à economia cafeeira. 

7 No  ciclo do açúcar,  todas as decisões eram  tomadas no  comércio, que era  totalmente  controlado pelos holandeses, desde o fornecimento  de  equipamentos  e  tecnologia,  até  o  transporte  nas  urcas  holandesas  (daí  o  nome  do  bairro  carioca)  para beneficiamento  e  comercialização  na  Europa.  Dessa  maneira,  eram  os  comerciantes  e  fornecedores  estrangeiros  que  se apropriavam da parte maior do negócio, contribuindo para a prosperidade da Holanda, permanecendo os senhores de engenho como seus sócios menores. Isso explica em grande parte a desigualdade entre os padrões do desenvolvimento do Nordeste e do Sudeste. 8 Furtado, C. 2007. Formação Econômica do Brasil. 34ª edição, Companhia das Letras, São Paulo. 9 Em 1860, o café produzido nas terras fluminenses respondia por 82% das exportações brasileiras desse produto.   

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O  comportamento  dos  primeiros  empreendedores  cafeeiros  não  foi  nada  pródigo.  Suas  tarefas  eram colocar os  escravos para, primeiramente, pôr  a mata  virgem  abaixo, plantar  e  colher, produzir muito  e exportar,  e  gastar  pouco,  consigo  mesmo  e  com  a  família.  Apenas  o  estritamente  necessário,  o imprescindível,  para  assim  conseguir  alcançar  a  abastança.  Décadas  depois  dos  primeiros empreendimentos é que vieram a ser construídos os palácios rurais, precedidos por um extenso renque de palmeiras imperiais, compondo um quadro de fausto e requinte inigualáveis no Brasil. 

São  eles  que  financiam  a  guerra  contra  o  Paraguai  e  são  o  esteio  do  Império,  constituindo‐se  numa aristocracia  genuinamente  rural,  de  arroubo  imperial.  Eles  são  conseqüência  direta  do  estímulo premonitório de D. João VI, distribuindo as sementes que mandara vir da África e da facilidade com que a planta  se  desenvolveu,  inicialmente,  na  encostas  da  Tijuca,  posteriormente  nas  terras  de  Resende  e descendo, ao longo do Século XIX pelo Vale do Paraíba. 

III ‐ 2. O empresário inovador chega ao Vale do Café 

Já nos anos 1950,  começou a  se esboçar na  região uma vocação para a  recuperação de um patrimônio esquecido, através do  interesse pelas antigas  fazendas de  café, que  começaram a  ser  compradas e, em grande parte, salvas da ruína pelos novos proprietários. As motivações foram diversas, como famílias em busca do  resgate da memória aristocrática do Vale e de seus antepassados, ou a simples compra de um bem portentoso como residência secundária para veraneio e lazer de fins de semana.  Um exemplo é o do empresário  Horácio  de  Carvalho  que,  sobretudo  a  partir  da  década  de  1950  compra,  primeiro, propriedades que haviam pertencido à sua família (era neto do Barão do Amparo) e deixa, após sua morte, nove  fazendas coloniais e  imperiais. Motivados  também pela perspectiva do  investimento em setores da agropecuária,  contribuem,  em  última  instância,  para  promover  os  primeiros  passos  de  revitalização econômica e cultural do Vale e de seus valores rurais. 

Desde meados dos anos 70, em movimento intensificado na década de 1980, as fazendas históricas do Vale do Paraíba foram mudando de mãos. Algumas também foram adquiridas para investimentos na produção agropecuária da região e vários de seus solares suntuosos receberam obras de recuperação e restauro, pois seu estado de  abandono  impedia  a ocupação  residencial. Os  anos 80  foram marcados por uma  intensa renovação de propriedade de  fazendas e,  já nesta  fase, as grandes casas rurais receberam  investimentos consideráveis para sua recuperação e uso familiar, mesmo que ainda como residências de veraneio, final de semana e  lazer. Desde o  início deste processo,  recursos  inestimáveis  foram destinados para a aquisição, recuperação, montagem das residências, paisagismo,  infraestrutura de produção, equipamentos, energia, emprego  de  mão‐de‐obra,  recuperação  e  formação  de  pastagens  e  de  cultivos  produtivos,  irrigação, aquisição de cabeças de gado de  leite e de corte, criação de cavalos e  implantação de empreendimentos rurais. Alguns  poucos  proprietários,  em  virtude  de  relações  de  amizade  e  vizinhança  com  outros  novos fazendeiros, perceberam a  importância do conjunto patrimonial da  região, e deram  início a um  trabalho ainda tímido de acolhimento de visitantes que vinham para conhecer a história do Ciclo do Café e o legado patrimonial do império rural. 

Os  anos  90  foram  marcados  pela  conscientização  quanto  à  questão  ambiental  e  estes  proprietários decidiram  constituir‐se  em  associação,  para  melhor  levar  a  cabo  uma  proposta  de  desenvolvimento sustentável da região, através da preservação dos seus patrimônios culturais e ecológicos para o Turismo.  Assim nasceu o Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Paraíba ‐ PRESERVALE. 

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A mídia  descobriu  o Vale  nesse  período  e  começaram  a  surgir matérias  em  jornais  e  revistas  sobre  os “novos barões do café”, que abriam suas portas para a visitação guiada e o Turismo Cultural. A partir de 2000,  talvez  inspirados pela “redescoberta” de nossa  identidade,  impulsionada pelas comemorações dos 500  anos do Descobrimento, os brasileiros  começaram  a  ver  com maior  atenção  a  sua história  e o  seu patrimônio e, num movimento de recuperação de cidadania cultural, abraçaram a idéia do Turismo Cultural como forma de resgate e valorização dos seus próprios espaços de memória e de  identidade. Após o ano conturbado de 2001, quando as viagens internacionais passaram a ser mais difíceis e arriscadas, o estímulo ao turismo interno (aqui e em todo o mundo) favoreceu a arrancada dos destinos culturais brasileiros e o Vale do Paraíba se tornou o Vale do Ciclo do Café e, mais recentemente, o Vale do Café.  

III ‐ 3. Os segmentos líderes começam a se mobilizar.  O Preservale 

A  história  da  organização  representativa  das  fazendas  históricas  começa  em  1994,  quando  60  pessoas, entre  fazendeiros,  pesquisadores,  ambientalistas,  arquitetos,  agentes  de  viagem,  historiadores  e apaixonados pela história e pelo patrimônio do Ciclo do Café, fundam o Instituto PRESERVALE. 

Está  criada  a  idéia  de  um  conjunto  de  patrimônio  histórico  dotado  de  identidade  cultural  e  ambiental, reafirmando  a  noção  de  comunidade  regional  e  emprestando  personalidade  jurídica  às  iniciativas  que, doravante  representadas  institucionalmente,  exprimem  a  organização  da  sociedade  civil  na  defesa  do patrimônio e em busca de sustentabilidade através do Turismo Cultural. 

O PRESERVALE nasceu  como  forma de união entre os diversos gestores de propriedades históricas, que viram no  Turismo Cultural uma  forma  inovadora de  agregar  valor  ao patrimônio  rural,  acrescentando  à renda  corrente  das  fazendas  as  receitas  de  hospedagem  e  visitação  guiada  com  finalidade  educativa, histórica e cultural.  

O  Instituto permitiu que o conceito de  região atravessasse os Municípios,  integrando  roteiros, meios de hospedagem,  entretenimento  cultural  e  produção  artesanal,  criando  uma  experiência  de  sucesso.  A agremiação  dos  proprietários  gerou  novas  propostas,  visando,  sobretudo,  à  preservação  do  patrimônio histórico, à revitalização da cultura popular, à recuperação do patrimônio ambiental e paisagístico, dando à atividade turística uma característica regional. 

O PRESERVALE congrega hoje cerca de 30 fazendas históricas. Recebeu em 2004 o Prêmio Estácio de Sá, da Secretaria  Estadual de Cultura do Rio de  Janeiro na  categoria  Preservação do  Patrimônio Cultural. Vem atuando  junto aos órgãos de defesa do patrimônio em âmbito Municipal, Estadual e Federal, bem como junto aos organismos  ligados à Cultura e ao Turismo em todas as esferas de governo nacional e também junto às entidades internacionais.  

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O Conciclo 

Um  grupo  formado  pelos  secretários  municipais  de  turismo,  empresários,  profissionais  diversos  e representantes institucionais10 reúne‐se em 1999 para escolher o modelo jurídico de gestão e de fomento ao  turismo no Vale do Café. Um Conselho Regional de Turismo do Vale do Ciclo do Café  (CONCICLO) é então criado e definido com os seguintes objetivos principais:  integrar esforços dos poderes públicos com os da sociedade civil e da iniciativa privada; criar condições que incentivem o desenvolvimento da atividade turística da região do Centro Sul Fluminense; manter  intercâmbio com entidades de turismo; formular as diretrizes básicas para a política regional de turismo, propondo soluções e formas de captação de recursos para  programas  e  projetos;  manter  cadastro  amplo  de  informações  turísticas  e  permanente  serviço estatístico  do  mercado  regional  para  divulgação  e  suporte  técnico  de  projetos;  opinar  sobre  o planejamento e a execução orçamentária dos municípios quanto a sua atuação, mediante a apresentação de uma política de  incentivo ao  turismo; promover  a profissionalização do  turismo por meio de  cursos, debates palestras e informações. 

A criação do CONCICLO, congregando inicialmente 10 prefeituras municipais (Piraí, Barra do Piraí, Valença, Vassouras, Barra do Piraí, Mendes, Paulo de Frontin, Paty do Alferes, Miguel Pereira, Paracambi e, depois incluindo, Volta Redonda, Barra Mansa e Pinheiral), constituiu‐se na primeira tomada de consciência, por parte dos governos municipais, de que era preciso tratar o turismo como uma atividade regionalizada e não restrita  ao  âmbito  dos  municípios  individualmente.  O  fortalecimento  político  e  a  integração  entre  as Secretarias Municipais de Turismo e Cultura, o trade turístico (pousadas, hotéis, bares, restaurantes), e o terceiro  setor  (o  PRESERVALE  e  o  próprio  CONCICLO,  uma  entidade  associativa)  permitiu  que  diversos temas ganhassem uma nova plataforma, favorecendo a criação de eventos regionais (o Café, a Cachaça e Chorinho,  seguindo  a  estrada  aberta  pelo  “Festival  Vale  do  Café”,  de música  nas  fazendas  e  praças  da região),  que  passaram  a  constar  do  calendário  turístico  de  toda  a  região,  emprestando  consistência  e identidade aos Municípios do Vale. 

10 Associações comerciais, SEBRAE, Associação de Hotéis da Região Sul Fluminense (AHSF), Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores de Turismo (ABRAJET), ABAV, PRESERVALE e Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH).

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IV ‐ UM RETRATO DA CADEIA TURÍSTICA DO VALE DO CAFÉ 

IV ‐ 1. O pequeno empreendedor das fazendas históricas do Vale do Café. 

Para além dos hoteleiros de  zonas urbanas e dos proprietários de hotéis‐fazenda e pousadas nas  zonas periurbanas do Vale11, o pequeno empresário  rural –  também  fazendeiro e proprietário das edificações construídas principalmente no Período Imperial – foi e continua sendo o típico empreendedor do Vale do Café,  o  realizador  de  combinações  novas,  que  criou  e  continua  conduzindo  por  conta  própria,  em  seu benefício e a seus riscos, um novo produto. 

O  empreendedor  do  Vale  do  Café  descobriu,  sem  dificuldade,  que  seu  patrimônio  material  era  uma oportunidade de gerar valor e agarrou  tal oportunidade  sem  levar em  conta outro  recurso  (humano ou capital), como também sem planejar a sua própria posição  jurídica, o que resultou na grande maioria dos casos na informalidade fiscal do negócio. 

Alguém que definiu por si mesmo o que iria fazer e em que contexto seria feito, e investiu tudo ou muito que  pôde,  com  recursos  próprios  consideráveis.  Quando  definiu  o  que  fazer,  pensou  apenas  em  seus sonhos, desejos, preferências, o estilo de vida que queria ter. A mídia ajudou bastante a partir dos anos 90, comparando  o  Vale  do  Paraíba  ao  Vale  do  Loire  dos  castelos  franceses.  Conseguiu  assim  dedicar‐se intensamente, pois  a empreitada  se  confundia  com prazer, e  com o prazer que podia proporcionar  aos visitantes  ao  se depararem  com  sua bela propriedade e magníficos  jardins,  além da  sua história. O  seu produto. 

Em vez de desmoronar, o  seu produto voltou à vista e ele o manteve  recuperando  tradições e  registros familiares que, na maior parte, nem eram de seus antepassados. Nesse caso, o tal empreendedorismo nos casos  conhecidos  do  Vale  do  Café  foi  muito  facilitado  pela  reforma  e  restauração  arquitetônica  das propriedades,  e  também  pelo  comportamento  (e  investimento)  voluntarioso  dos  proprietários,  com sucesso inevitável. Mas o crescimento contínuo e sustentado ainda é duvidoso nos tempos atuais. 

O traço  limitador do empreendedor desse tipo no Vale do Café é a  impossibilidade estrutural de compor metas  audaciosas,  de  pretender  negócios  de  grande  crescimento  e muito menos  de  obter  ganhos  de produtividade, atributos que notabilizam o empreendedorismo. Ainda não se conquistou uma sinergia no âmbito  dos  outros  diversos  agentes  econômicos  e  institucionais  de  uma  cadeia  turística  regional,  que  possa  suportar  tal  dinâmica,  o  que  é  o  objetivo  central  de  nosso  projeto  “Ações  Estratégicas  de Revitalização do Vale do Café”. 

11 No Município de Vassouras, por exemplo, a hospedagem no espaço urbano e periurbano distribui‐se entre 12 hotéis, hotéis‐fazenda  e  pousadas  construídos  no  século  XX,  e  o  Município  dispõe  de  três  guias  turísticos  não  credenciados  (cf.  portal www.visitevassouras.com.br).    

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Embora proprietários de fazendas  imponentes, todos são pequenos empreendedores do negócio turístico cultural. Em  geral  complementam  suas  atividades profissionais principais  com o negócio  turístico,  como meio adicional de geração de recursos para atender aos elevados custos de manutenção e preservação das propriedades.  Vários  fazendeiros  construíram  hospedarias,  pousadas  e  hotéis  fora  da  Casa‐Grande  ou aproveitando  edificações  originais  do  período  cafeeiro,  inclusive  senzalas  e moinhos  de  café.  De  uma centena de Fazendas Históricas do Vale do Café preservadas ou em fase de recuperação, cerca de 20 delas oferecem serviços turísticos que incluem hospedagem e/ou visitação, almoço típico, café imperial, lanche, sarau e outros eventos regionais. 

Em Barra do Piraí, a Fazenda Taquara é  situada em meio a uma plantação de  café, ainda hoje principal produto  comercial  da  propriedade,  que  também  desenvolve  a  suinocultura. A  Fazenda  Taquara  agenda visitação e almoço para grupos na antiga senzala da fazenda.  

A Fazenda São João da Prosperidade, com sede que apresenta planta original preservada, oferece serviços de gastronomia e produtos regionais.  

No Município de Valença, a Fazenda Santo Antônio do Paiol abre para visitação em sua sede original que abriga um acervo memorial único na região. 

 

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A Fazenda Vista Alegre, também em Valença, abre também para visitação e gastronomia, e tem sua própria fábrica de  conservas, molhos e geléias  com  ingredientes  cultivados na própria  fazenda  com os métodos orgânicos. A Fazenda Pau D’Alho é aberta à visitação, em que se pode conhecer um pouco da história da imigração italiana no Brasil e oferece degustação de produtos regionais.  

Em Vassouras, a Fazenda Cachoeira Grande, na estrada para Mendes, recebe grupos programados, para os quais abre seus salões com mobiliário de época e apresenta uma coleção de carros antigos. A Fazenda do Secretário, com seus afrescos restaurados, móveis originais da propriedade e  jardins magníficos, também recebe visitantes.  

Destacam‐se também com visitação programada a Fazenda Cachoeira do Mato Dentro, a Fazenda Mulungú Vermelho, a suntuosa Fazenda São Fernando e a Fazenda Santa Eufrásia.  

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Em Barra do Piraí, a Fazenda Ponte Alta, com seu antigo moinho de café restaurado, oferece hospedagem em  sua  pousada,  e  apresenta  o  seu  já  tradicional  sarau  interativo,  em  que  a Baronesa de Mambucaba relata, na companhia do Barão e de suas mucamas, episódios marcantes da memória do ciclo do café no império. O  Hotel  Fazenda  do  Arvoredo,  com  seu mobiliário  de  época  conservado,  sua  gastronomia  de tradição regional e seu chá  imperial é mais uma  integrante do rol de fazendas que oferecem um produto cultural‐pedagógico.  

 

Em  Rio  das  Flores,  a  Fazenda  Paraíso,  fundada  pelo  Visconde  do  Rio  Preto,  que  conserva magníficos afrescos de Villaronga, abre para visitação pública. A Fazenda União, em processo de ampliação de  suas instalações,  oferece  hospedagem  requintada,  visitação  e  culinária  regional  com  base  em  receitas centenárias. 

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A Fazenda Santo Antônio também oferece hospedagem e gastronomia, com passeios à catedral de pedra de São José de Três Ilhas, construída pelos escravos e às cachoeiras no seu entorno. 

Em Miguel Pereira, encontra‐se a Fazenda Santa Cecília, construída em 1770, muito antes do Ciclo da Café, e reformada por volta de 1840 pelo Barão de Paty de Alferes nos padrões neoclássicos da época. Possui em seus jardins uma capela projetada por Oscar Niemeyer com um painel dedicado à Santa Cecília desenhado por ele em seu interior, e oferece hospedagem e gastronomia regional.  

São seis Fazendas Históricas que oferecem hospedagem, segundo o Instituto PRESERVALE12: Hotel Fazenda Arvoredo, Pousada Fazenda Ponte Alta, Hotel Fazenda Florença, Fazenda União, Fazenda Santo Antonio e Fazenda  Santa  Cecília.  Há  diversas  outras  Fazendas  Históricas  sendo  reformadas  e  adaptadas  para hospitalidade na região, com abertura prevista para o próximo ano (2011).  

Vários  outros  hotéis‐fazenda  e  pousadas  no meio  rural,  de  construção  já  do  século  XX.  São  atrativos turísticos muito  bem  organizados  e  trabalham  valorizando  o  patrimônio  cultural  da  época  do  café,  tais como o Hotel Fazenda Galo Vermelho, em Vassouras, Hotel Ribeirão, em Barra do Piraí, ou o Hotel Fazenda Rochedo, em Conservatória, dentre outros.   

O Projeto “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café” realizou pesquisas de campo e estatísticas visando mapear as potencialidades de negócios e serviços que se utilizam do Patrimônio Histórico Rural da região como ferramentas de desenvolvimento de Economias Criativas. Este levantamento, feito por equipe altamente  qualificada  e  experiente,  identifica  claramente  o  crescimento  de  iniciativas  individuais, comunitárias e públicas, no sentido de dinamizar o segmento de Turismo Cultural e Rural na região. 

 

12 http://www.preservale.com.br e  Instituto PRESERVALE. 2007. Fazendas do Brasil. Catálogo Geral da Oferta  ‐ 2007. Turismo no Espaço Rural Brasileiro. Rio de Janeiro.  

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V ‐ PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA 

A  pesquisa  pode  ser  considerada  como  sendo  de  caráter  “piloto”  e  buscou  obter  dados  consistentes  e resultados de boa qualidade sobre a nova economia do Turismo Cultural na região do Vale do Café, de forma a subsidiar o conhecimento sobre as fazendas históricas no que tange ao desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo cultural na região, bem como as dificuldades encontradas para gerenciar o empreendimento; o perfil dos  proprietários  das  fazendas  históricas;  o  perfil  socioeconômico  dos  visitantes  das  fazendas;  informações sobre a mão‐de‐obra empregada nas Fazendas Históricas consideradas no estudo; a existência de acervo de arte; a demanda por capacitação da mão‐de‐obra ocupada no desenvolvimento das atividades das fazendas; a percepção dos proprietários sobre a qualidade dos serviços de telefonia e telecomunicações na região e sobre a infraestrutura local, dentre outras características das propriedades. 

V‐ 1. Tabulação e Análise dos Resultados 

Para tanto, foi elaborado um questionário estruturado em cinco blocos/partes. Os resultados apresentados neste  relatório  referem‐se  às  informações  obtidas  em  15  Fazendas  Históricas  do  Vale  do  Café,  que responderam  ao  primeiro  suplemento  do  questionário  aplicado  às  fazendas.  Vale mencionar  que,  das fazendas  respondentes, 80%  representam os principais atrativos do Turismo Cultural do Vale do Café, e 20% são proprietários que estão iniciando no mercado, abrindo pela primeira vez suas fazendas.  

O primeiro suplemento do questionário elaborado para a Pesquisa é composto de cinco Partes ou Blocos (www.preservale.com.br). Na Parte  I do questionário,  foram  investigadas  características da  fazenda que permitem  sua  identificação,  tais  como:  a  razão  social,  o  nome  fantasia;  CNPJ;  endereço;  nome  do proprietário; localização GPS e a existência ou não de inscrição de produtor rural.  

A  segunda  parte  do  questionário,  Parte  II,  contemplou  um  elenco  de  variáveis  que  possibilitam  obter informações das principais características da propriedade, tais como: o uso da fazenda; o número de meses de funcionamento no ano; a  localização da fazenda; o desenvolvimento ou não de atividades de Turismo Cultural; a existência de sinalização; o estado de preservação da propriedade; os equipamentos e serviços existentes/ofertados;  se  a  fazenda  tem  produção  própria  de  alimentos  e  o  local  onde  a  fazenda comercializa os produtos, dentre outras características da propriedade. 

Foi  também  investigado na pesquisa,  se a Fazenda Histórica abriga algum  tipo de acervo,  se os mesmos estão segurados e também se a fazenda abriga e/ou expõe mobiliário de época; decoração mural e acervo documental.  A  pesquisa  investiga  também  a  existência  na  fazenda  de  serviços  ou  de  mão‐de‐obra qualificada para  conservação de  seus acervos. Ainda neste  contexto,  foi pesquisada a oferta de eventos culturais e/ou serviços oferecidos e também a forma de divulgação e promoção da fazenda.  

Na Parte  III do questionário,  foi  investigado um  elenco de quesitos que permitem  conhecer o perfil do visitante e as circunstâncias da visita do mesmo à fazenda. 

A Parte IV do questionário, fornece informações que possibilitam conhecer o perfil do proprietário/gerente da fazenda e dentre o elenco de características de interesse destacam‐se as de cunho socioeconômico, tais como: sexo, idade, tempo de residência na fazenda, há quanto tempo é proprietário, situação ocupacional atual e anterior, dentre outras.  

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São  também  investigadas  as  principais  razões  que  motivam  os  proprietários  para  o  desenvolvimento  e investimento  no  empreendimento;  a  procura  por  assessoria  técnica  a  órgãos  públicos  e/ou  de  empresas privadas para a condução do negócio; as principais dificuldades para o funcionamento do negócio; a capacitação para a gestão do negócio e também as expectativas quanto ao futuro do negócio/empreendimento. 

Por fim, na Parte V, buscou‐se conhecer a demanda de capacitação da mão‐de‐obra ocupada na fazenda; a existência  de  cursos/escolas  de  capacitação  profissional  nas  cercanias  da  propriedade,  bem  como  a intenção em qualificar/capacitar seu quadro de empregados e possibilidade de arcar com despesas para a capacitação da mão‐de‐obra alocada no seu empreendimento. 

O processo de entrada, tratamento e tabulação dos dados de pesquisa foi desenvolvido no software CSPro – Census and Survey Processing System, na versão 4.0. O CSPro foi criado pelo U.S Census Bureau. É gratuito e o download pode ser feito no site www.census.gov. O primeiro objeto criado no CSPro foi o dicionário de dados onde se especificou todos os itens da pesquisa e os valores válidos para o registro das respostas. 

A aplicação de entrada de dados  (digitação dos questionários)  foi criada a partir do dicionário de dados, contendo uma crítica estatística básica, utilizando as informações sobre os valores válidos, visando impedir a  gravação  de  respostas  não  previstas  para  cada  item,  os  saltos  relativos  aos  diferentes  itens  do questionário,  para  não  gerar  inconsistências  entre  itens  que  condicionam  a  rota  de  entrevista  no questionário e, bem como, contendo a crítica de consistência dos itens que permitiam marcar mais de uma resposta,  evitando  que  se  registrasse  a  mesma  alternativa  mais  de  uma  vez.  Concluída  a  crítica  de consistência, foi criado o plano tabular utilizado para gerar resultados da pesquisa. 

O banco de dados tem formato texto (ASCII) e pode ser lido em outros softwares. Especialmente, o CSPro que permite exportar os dados para utilização no software SAS ‐ Statistical Analysis System, no SPPS e em planilhas de cálculo (Excel) ou softwares de banco de dados (formato CSV). 

Neste relatório são apresentados os principais resultados obtidos na pesquisa especial sobre as 15 fazendas que  responderam  ao  questionário.  As  informações  obtidas  na  pesquisa,  de  caráter  experimental, constituem subsídios para o conhecimento das principais características do elenco de  fazendas históricas investigadas,  bem  como  o  planejamento  de  futuras  pesquisas  a  serem  aplicadas  em  um  universo mais abrangente de fazendas históricas do Vale do Café. 

Perfil do Proprietário/Gestor das Fazendas Históricas 

Dentre as quinze Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa, os resultados obtidos indicam que 60% dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa são pessoas do sexo feminino. A maioria dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo, 80%, tem nível de escolaridade  correspondente  à  formação  superior  completa,  sendo  que  apenas  20%  declararam  ter concluído o ensino médio. Uma análise considerando a idade dos proprietários indica que mais da metade, 53,3% dos proprietários, têm 60 anos ou mais de idade enquanto que 40% declararam idade compreendida entre mais de 39 a 59 anos e apenas um proprietário declarou idade entre 24 a 39 anos. 

A maioria (46,7%) dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa é dona das fazendas históricas há mais de dez anos, enquanto que 33,3% declararam tempo de posse entre cinco a dez anos e apenas  um  declarou  ser  proprietário  há  menos  de  cinco  anos.  Isto  demonstra  que  houve  um direcionamento da atividade  tradicional da propriedade  rural para  incluir o Turismo Cultural nos últimos 10/15 anos. 

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Os resultados da pesquisa indicam que apenas 20% dos proprietários das Fazendas Históricas não residem na fazenda. Dentre aqueles proprietários que residem nas fazendas pesquisadas, 47% residem há mais de dez anos enquanto 33% declararam tempo de residência na fazenda compreendido entre cinco a dez anos. A grande maioria, 93,3% dos proprietários das Fazendas Históricas  consideradas na pesquisa, declara‐se responsável pela  gerência das  Fazendas Históricas  consideradas no  estudo  e  informam que não  tinham experiência anterior como empreendedores na área de Turismo Cultural.  

Este quesito evidencia que a iniciativa dos proprietários é característica do seu perfil empreendedor, pois, quanto à situação ocupacional anterior dos proprietários/gestores das fazendas consideradas na pesquisa, os  resultados  indicam que, aproximadamente um quarto dos proprietários, 26,7%, era de empregadores em outro negócio, enquanto outros 26,7% eram funcionários de empresas públicas ou privadas e apenas 13,3% eram produtores rurais  (dois proprietários). Observa‐se que 46,7% dos proprietários declaram não ter  outro  trabalho  ou  não  exercer  atualmente  outra  ocupação/atividade  além  da  gerência  da  Fazenda Histórica. Uma análise por gênero indica que é no segmento feminino onde se observa o maior percentual de  proprietárias  de  fazendas,  55,6%, que  declararam  ser  a  fazenda  a  sua  única  ocupação/trabalho.  Por outro  lado, 20% dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa declararam que  são empregadores e 13,3% são empregados do setor público ou do setor privado. Mais uma vez evidencia‐se a forte  tendência  dos  proprietários  a  considerarem  a  atividade  do  receptivo  nas  fazendas  como  um verdadeiro “negócio”, e não apenas uma ocupação eventual.  

Quando  indagados  sobre  as  razões  que  os  motivam  para  o  desenvolvimento  e  investimento  no empreendimento, destacam‐se as seguintes principais razões, declaradas pelos proprietários das fazendas históricas  consideradas no estudo, em ordem  crescente:  interesse e gosto pela arte, pela  cultura e pelo Turismo Cultural; possibilidade de o negócio gerar receita complementar; oportunidade de negócio; meio de sustento e hobby.  

Qualificação dos Proprietários quanto ao Negócio 

As  informações  apresentadas  indicam  que  67%  dos  proprietários  das  Fazendas  Históricas  pesquisadas declararam já ter freqüentado ou realizado algum curso de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio, enquanto 33% ainda não realizaram cursos de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio.  

Uma análise por gênero indica que dentre os proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo, de sexo masculino, todos declararam  já ter freqüentado ou realizado algum curso de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio. No  segmento de proprietários do  sexo  feminino, que é maioria dentre  os  proprietários  entrevistados,  apenas  55,6%  das  proprietárias  de  Fazendas  Históricas  já freqüentaram ou realizaram algum curso de especialização e/ou aperfeiçoamento na gestão do negócio. 

É  expressiva  a  proporção  de  proprietários  das  Fazendas  Históricas  que  declararam  já  ter  procurado assessoria técnica de órgãos públicos e/ou de empresas privadas para o desenvolvimento do negócio: 80%, sendo que os órgãos mais citados são, respectivamente, o Instituto PRESERVALE e o SEBRAE. 

Dentre os órgãos públicos, destaca‐se o SEBRAE como o órgão onde os proprietários  já buscaram alguma assessoria  técnica,  seguido da procura por  assessoria  técnica  para o desenvolvimento  e  a  condução  do negócio através de pessoas que conheciam o ramo. 

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Se  de  um  lado  uma  proporção  expressiva  de  proprietários  declarou  já  ter  procurado  ou  tido  alguma assessoria  técnica,  apenas  33,3%  (cinco  dentre  os  quinze  proprietários  de  Fazendas  Históricas  que participaram  da  pesquisa)  dos  proprietários  estabeleceram  alguma  relação  com  órgãos  públicos  de preservação de monumentos históricos ou de fomento turístico e/ou cultural e apenas um declarou já ter estabelecido relação com órgão público de fomento. Os resultados da pesquisa  indicam que apenas cinco proprietários de fazendas históricas já estabeleceram alguma relação com órgãos públicos de preservação ou órgãos público de fomento.  

Expectativas de Futuro 

De acordo com os resultados da pesquisa, a maioria dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo está otimista quanto à expectativa de futuro do negócio. Observa‐se que treze dentre os quinze proprietários  entrevistados  na  pesquisa  declararam  que  pretendem  investir  ou  diversificar  o  negócio. Indagados  sobre  a  existência  atual  de  algum  projeto  de  investimento  para  o  seu  empreendimento,  a maioria dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, 86,7%, declarou que pretende investir na melhoria/restauração da fazenda bem como investir na recuperação do prédio ou ainda ampliar as acomodações para receber hóspedes. Dentre aqueles proprietários que pretendem investir e diversificar o  negócio  ou  simplesmente manter  o  negócio  como  está,  53,3%  (oito  proprietários),  declararam  que pretendem oferecer  espetáculos,  shows  e  eventos  culturais.  Já,  três outros, declararam que pretendem ampliar  as  acomodações  na  fazenda  para  receber  hóspedes  e  quatro  outros  proprietários  pretendem oferecer  refeições  aos  visitantes  e  melhorar  a  qualidade  da  culinária  enquanto  seis  proprietários declararam  intenção de melhorar a qualidade do atendimento e dos serviços prestados aos visitantes da fazenda. 

Quanto à expectativa de aumento do número de visitantes/vendas, seis proprietários têm expectativa de aumento correspondente a mais de 30 a 70% de aumento, enquanto três outros avaliam que terão mais de 70% de aumento no número de visitantes e apenas dois avaliam que o aumento não será superior a 30%.  

Os  eventos  musicais  e  culturais  são  aqueles  com  maiores  expectativas  de  aumento  do  número  de visitantes, seguidos dos eventos gastronômicos. Dentre aqueles que declararam que pretendem investir no negócio,  os  recursos  privados;  projetos  culturais  e  a  obtenção  de  empréstimos/financiamentos  são  as formas mais  citadas  de  como  pretendem  investir  no  negócio.  Uma  análise,  por  gênero,  indica  que  no segmento de proprietários das Fazendas Históricas, do sexo masculino, destacam‐se os recursos privados e a obtenção de empréstimos/financiamentos.  Já no segmento feminino, destacam‐se os projetos culturais incentivados e os recursos privados como principais formas de investir no negócio. 

Quanto ao nível de associação a alguma entidade ou organização empresarial e/ou cultural, os resultados da  pesquisa  indicam  que  apenas  40%  dos  proprietários  ou  propriedades  estão  associados  a  alguma entidade ou organização empresarial/cultural, sendo que é no segmento de proprietários do sexo feminino onde ocorre o maior índice de associação a alguma entidade ou organização empresarial/cultural.  

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Dificuldades  

Quando  indagados  sobre  as  principais  dificuldades  encontradas  para  o  funcionamento  do  negócio,  os proprietários das Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa  indicaram, em ordem de dificuldade: o alto custo de manutenção da propriedade como sendo a principal dificuldade mais citada, seguido da  falta  de mão‐de‐obra;  da  falta  de  capital  de  giro  para  tocar  o  negócio,  seguido  do  custo  elevado  de treinamento/capacitação da mão‐de‐obra; da baixa lucratividade e da falta de assessoria governamental.  

Demandas ‐ Terceiro Setor 

Segundo  a opinião dos proprietários das  fazendas  consideradas no estudo, os órgãos da  sociedade  civil organizada poderiam  contribuir para o  crescimento  socioeconômico e  cultural do  seu empreendimento, através das  seguintes ações: abertura de  suas propriedades e oferecendo emprego para a  comunidade; criação de Associações de Turismo; fortalecimento do Núcleo de Meio Ambiente do Instituto PRESERVALE; criação de uma Associação de Produtores de Leite; promoção e divulgação das Fazendas do Vale do Café; investimento em capacitação e treinamento específicos; realização de eventos culturais municipais visando à divulgação do Turismo Regional;  implementação de projetos culturais e de preservação do patrimônio; incentivando o turismo; investimento em projetos culturais; investimento no turismo cultural; melhoria do serviço  de  telefonia  e  de  acesso  à  Internet; melhoria  da  divulgação;  investimento  na manutenção  das propriedades o que atrairia o Turismo Regional; maior participação associativa na defesa dos  interesses comuns dos proprietários/empreendedores; pressionando o setor público no sentido de cumprir seu papel; desenvolvimento e investimento no Turismo. 

É  interessante observar que algumas das demandas sobre o Terceiro Setor se confundem com demandas por  ações  que  deveriam  ser  respostas  dos  governos  no  cumprimento  da  sua  parte  no  negócio (infraestrutura, telefonia, capacitação de mão‐de‐obra, sinalização viária e divulgação da região); 

Os  incentivos  ao  Turismo  Cultural  e  ao  Turismo  aparecem  como  as  sugestões  mais  citadas  pelos proprietários  das  Fazendas Históricas,  como  ações  que  poderiam  ser  desenvolvidas  pela  sociedade  civil organizada no sentido de contribuir para o crescimento socioeconômico e cultural do Vale do Café.  

Outra ação citada pelos empreendedores é a realização de pressão política pelos órgãos da sociedade civil organizada junto aos governos de forma que os governos invistam na região em infraestrutura, sobretudo na sinalização das estradas e nas telecomunicações.  

A abertura de suas propriedades ao público e o resgate da memória histórica das cidades do Vale do Café foram também sugeridas pelos proprietários das fazendas que responderam ao questionário da pesquisa. 

Setor Público 

No  que  concerne  a  contribuição  para  o  crescimento  socioeconômico  e  cultural  do  Vale  do  Café,  os proprietários das Fazendas Históricas que responderam ao questionário da pesquisa opinam que os órgãos do setor público deveriam desenvolver esforços para recuperar as estradas da região; atuar de forma mais integrada e regional no sentido de buscar  formas de  investimentos e políticas públicas para a região;  ter participação mais efetiva dos órgãos públicos nos eventos culturais do Vale do Café, incluindo o “Festival do Vale do Café”; propiciar subsídios necessários para a manutenção das Fazendas Históricas;  implementar e melhorar a infraestrutura local; criar projetos voltados para o Turismo Incentivado.   

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A  criação  de  Secretarias  de  Turismo;  a  qualificação/treinamento  dos  empregados  através  de  Curso  de Turismo e Curso  Superior em  Turismo na  região  são, dentre outros, exemplos de  ações  sugeridas, bem como o apoio e a valorização de iniciativas como aquelas do Instituto PRESERVALE.  

O  desenvolvimento  de  trabalho  de  conscientização  histórica  nas  escolas  da  região  através  de  planos  e projetos  educacionais  específicos,  também  é  outra  ação  sugerida  pelos  proprietários  das  Fazendas Históricas pesquisadas. 

Da mesma forma, parcela significativa de proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa, avalia que os órgãos do setor público deveriam atuar na melhoria da infraestrutura e dos transportes locais, no saneamento e na conservação das estradas de acesso às propriedades, bem como deveriam investir em projetos culturais e definir ações que possibilitem a promoção e divulgação do Turismo Cultural do Vale do Café, além de incentivar o turismo local. 

Características Físicas e Produtivas das Propriedades 

Os resultados da pesquisa especial sobre as Fazendas Históricas indicam que 66,7% das Fazendas Históricas têm  inscrição de produtor rural. Este dado sinaliza para a existência de uma economia rural ativa. A área construída  da  sede  para  60%  das  fazendas  históricas  consideradas  no  estudo  supera  os  100  metros quadrados, e apenas uma das fazendas informou a área construída de edificações para hospedagem, com mais de 100 metros quadrados. 

Dentre  as  Fazendas Históricas  consideradas  no  estudo,  33,3%  têm  área  total  de mais  de  100  hectares, enquanto 26,7% têm área total de até 50 hectares e 13,4% têm área compreendida entre mais de 50 a 100 hectares.  Com  relação  à  área  plantada,  26,7%  das  fazendas  declararam  ter  até  50  hectares  de  área plantada e 13,3% mais de 100 hectares. 

Quanto à área destinada à criação de gado e outros animais observa‐se que quatro  fazendas declararam área  de  até  50  hectares,  outras  três  declararam  área  destinada  à  criação  de  gados  e  outros  animais correspondente a mais de 50 a 100 hectares, e apenas uma delas  informou área de mais de 100 hectares destinada à criação de gado e outros animais. 

Estes resultados demonstram a vitalidade de uma economia agropecuária, mesmo diante do cenário atual de incremento ao uso turístico das propriedades rurais. 

O estado geral de conservação das Fazendas Históricas é avaliado como sendo apenas regular segundo 20% dos proprietários das  Fazendas Históricas pesquisadas, enquanto que 47% dos proprietários  consideram bom  o  estado  de  conservação  das  fazendas  e  33%  avaliaram  como  muito  bom  o  estado  geral  de conservação de suas propriedades. 

Dentre  as  Fazendas  Históricas  que  responderam  ao  questionário  da  pesquisa,  observa‐se  que  quatro dispõem de Tulha; sete dispõem de Terreiro de Café; duas de Engenho de Beneficiamento de Café; duas declararam dispor de Senzala; dez dispõem de Capelas; sete dispõem de Currais e três têm plantação de café na propriedade. 

Quanto  aos  equipamentos  e  serviços  existentes  ou  ofertados,  os  resultados  da  pesquisa  indicam  que quatro  fazendas  declararam  ter  piscina  e  sauna;  três  delas  dispõem  de  sala  de  convenções  e  quatro dispõem de restaurante. 

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Cachoeiras estão presentes em seis das fazendas que responderam ao questionário da pesquisa enquanto sete  fazendas declararam que dispõem, na propriedade, de  trilhas para caminhadas. Dentre as  fazendas consideradas no estudo, quatro delas  já oferecem  visitas orientadas a outras  fazendas da  região, o que indica a propensão destas fazendas para o desenvolvimento do turismo ecológico e cultural.  

As fazendas, na grande maioria, 80%, são abastecidas por água proveniente de nascente e apenas 13,3% delas  são  abastecidas  com  água  proveniente  de  rede  geral  de  distribuição.  Quanto  ao  esgotamento sanitário da propriedade, 53,3% utilizam  fossa  rudimentar; 26,7%  fossa séptica  ligada à  rede coletora de esgoto  ou  pluvial,  enquanto  apenas  uma  utiliza  rede  coletora  de  esgoto  ou  pluvial  e  outra  tem  o esgotamento sanitário lançado em rio ou lago.  

Quanto  ao  destino  do  lixo,  os  resultados  da  pesquisa  indicam  que  33,3%  das  fazendas  coletam  o  lixo diretamente  sem  coleta  seletiva,  enquanto  20%  utilizam  coleta  seletiva;  13,3%  enterram  o  lixo  na propriedade; 6,7% queimam o lixo na propriedade e 20% dão outro destino ao lixo. 

Observa‐se na pesquisa que  todas as Fazendas Históricas consideradas no estudo  têm a energia elétrica como fonte de energia utilizada na fazenda.  

Os  resultados da pesquisa  indicam ainda que 47% das Fazendas Históricas consideradas no estudo praticam agricultura orgânica e a maioria das Fazendas Históricas pesquisadas ainda não utiliza métodos sustentáveis, mas gostaria de conhecer as práticas. Dentre aquelas que já utilizam tais métodos, duas utilizam coleta seletiva de lixo, duas outras utilizam compostagem e outra Fazenda Histórica faz reciclagem de lixo. 

Pequena Agro‐Indústria Regional 

Os produtos alimentícios utilizados ou consumidos na propriedade são adquiridos no supermercado  local, na  comunidade  local  ou  em  atacadistas  de  outros municípios,  segundo  informam  os  proprietários  das Fazendas Históricas estudadas. Por outro lado, observa‐se que 60% das Fazendas Históricas têm produção própria de alimentos e comercializam os produtos em loja da fazenda e no comércio local ou regional.  

Doces,  queijos,  conservas,  embutidos  e  café  são  os  principais  alimentos  processados  pelas  fazendas  e apenas 46,7% das  fazendas comercializa produtos  regionais em sua propriedade. Existe aí uma demanda reprimida do ponto de vista da oferta, distribuição e comercialização de produtos da agroindústria regional. 

Nos segmentos das Fazendas Históricas que declararam comercializar os seus produtos, seis dispõem de loja na propriedade e comercializam também seus produtos no comércio local/regional e uma delas declara que já comercializa em grandes centros urbanos os seus produtos. 

Os  produtos  regionais  são  provenientes  do  artesanato  local/regional,  da  pequena  indústria  caseira local/regional  e  da  agroindústria  local/regional.  Contraditoriamente,  no  entanto,  indagados  se  haveria interesse  na  criação  de  um  centro  de  comercialização  dos  produtos  regionais,  tipo  CEASA,  66,7%  dos fazendeiros, ou seja, dois terços das Fazendas Históricas pesquisadas declararam não ter interesse e apenas 33,3% manifestaram  interesse na criação de um centro de  comercialização dos produtos nos moldes do CEASA.  A  pouca  percepção  dos  entrevistados  quanto  à  sinergia  entre  produção  associada  (artesanato, produtos  alimentícios  e  de  origem  regional)  e  resultado  econômico  do  turismo  demonstra  que  há necessidade de orientação e dinamização deste segmento comercial da economia criativa local.  

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Pesquisa de Avaliação 

A maioria, 60%, dos fazendeiros que responderam ao questionário da pesquisa, ainda não realiza pesquisa de avaliação ou satisfação junto aos seus visitantes/clientes, embora seis das Fazendas Históricas pesquisadas já o façam. Este dado indica que ainda há um caminho a percorrer rumo à profissionalização da atividade. 

Características dos Empreendimentos 

O uso das fazendas, de acordo com as respostas dos proprietários das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa,  é  bastante  diversificado.  Dentre  as  respostas  obtidas,  destacam‐se  os  seguintes  usos: desenvolvimento  de  atividade  de  Turismo  Cultural  (quatorze  dentre  as  quinze  Fazendas  Históricas pesquisadas); uso residencial (dez ocorrências); pecuária de corte (cinco ocorrências), pecuária leiteira (seis ocorrências) e produção agrícola (cinco ocorrências). 

Quanto ao desenvolvimento de atividades de Turismo Cultural, observa‐se que as  fazendas  consideradas no estudo desenvolvem as seguintes principais atividades: Visitação orientada e eventos culturais (nove fazendas); Fazenda  Histórica  com  eventos  culturais  (sete  fazendas);  visitação  orientada  e  refeições  (sete  fazendas); hospedagem e eventos culturais (três fazendas) e somente visitação orientada (quatro fazendas). 

A maioria das fazendas consideradas na pesquisa, 86,7%, funciona durante mais de oito meses ao ano e a intensidade de demanda ao longo do primeiro trimestre é de até 25%, para oito das fazendas consideradas na pesquisa. Já no segundo trimestre, a intensidade de demanda é de mais de 25 a 50% para 53,3%, para oito delas e de até 25% para 13,3% delas, ou seja, para duas das Fazendas Históricas pesquisadas.  

No terceiro trimestre, 53,3% das fazendas, oito delas, informam que a intensidade de demanda é de mais de 25 a 50% enquanto que no quarto  trimestre a  intensidade de demanda é de até 25% para 53,3% das fazendas consideradas na pesquisa e de mais de 25 a 50% para outra fazenda. 

A maioria das fazendas consideradas no estudo, 66,7%, está situada na zona rural enquanto 26,7% estão na zona urbana, porém fora do centro da cidade. Quanto às condições de acesso às fazendas, os resultados da pesquisa indicam que apenas 33,3% das Fazendas Históricas consideradas no estudo são acessadas através de estrada asfaltada permanentemente em boas condições, enquanto 40% são acessadas por estrada de terra/saibro  em  boas  condições.  Entretanto,  os  resultados  da  pesquisa  indicam  que  20%  das  Fazendas Históricas pesquisadas ainda são acessadas por estrada de terra em condições precárias. 

Dentre as fazendas que já oferecem eventos culturais e/ou serviços, oito delas oferecem concertos e shows musicais;  cinco  oferecem  brunch  ou  chá  imperial;  duas  oferecem  hospedagem  e  atividade  culturais  a estudantes  (Turismo  Pedagógico)  e  três  oferecem  shows  folclóricos  regionais,  enquanto  duas  Fazendas Históricas oferecem Sarau Histórico. 

Divulgação 

A página na  Internet, o folheto distribuído em estabelecimentos da região, a agência de turismo/viagens, são as principais formas de promoção/divulgação dos eventos realizados pelas fazendas mais citadas pelos proprietários  das  Fazendas  Históricas  consideradas  no  estudo.  Este  quesito  explicita  a  ausência  de  um Plano Integrado de Comunicação para a região. 

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A divulgação da Fazenda Histórica, o acesso à mesma e os serviços de telefonia e telecomunicações são as reclamações  e/ou  sugestões  de melhorias mais  observadas  junto  aos  hóspedes  das  Fazendas Históricas consideradas no estudo. 

Acessos e Carências 

Quanto aos meios de transportes utilizados pelos visitantes das Fazendas Históricas pesquisadas acessarem as  fazendas, os  resultados da pesquisa  indicam  ser o carro próprio e os ônibus/vans de  turismo, os dois principais meios de transportes utilizados pelos visitantes/hóspedes para acessarem as Fazendas Históricas. Embora  as  condições  das  estradas  já  sejam  por  si  só  um  problema  sério  para  a maioria  das  fazendas históricas pesquisadas, os  resultados que a sinalização das mesmas,  indicando o acesso até elas, é ainda mais precária segundo a opinião de 67% dos proprietários. 

Os resultados da pesquisa  indicam que 13% das Fazendas Históricas ainda não dispõem de algum tipo de sinalização  indicando  o  seu  acesso.  Quanto  ao  acesso  ‐  meio  de  transporte  ‐  às  Fazendas  Históricas pesquisadas,  os  resultados  indicam  que  apenas  73,3%  das  Fazendas  Históricas  que  responderam  ao questionário  são  servidas  e/ou  acessadas  por  meio  de  transporte  público.  Este  também  é  um  tema recorrente em todos os relatórios de consultoria, feita ao longo de três meses por cada equipe.  

A qualidade dos serviços de telefonia e telecomunicações, segundo os proprietários das Fazendas Históricas consideradas no estudo, é ainda bastante precária, conforme indicam os resultados apresentados a seguir.  

Observa‐se  que  apenas  40%  dos  proprietários  das  Fazendas  Históricas  consideradas  no  estudo  estão satisfeitos  com a qualidade dos  serviços de  telefonia e  telecomunicações,  indicando dificuldades para o desenvolvimento do negócio, sobretudo se considerado as atividades de Turismo Cultural. 

O nível de associativismo a organizações empresariais ou culturais das Fazendas Históricas consideradas na pesquisa  é  ainda  bastante  residual.  Apenas  seis  dos  quinze  proprietários  das  Fazendas  Históricas  que responderam  ao  questionário  da  pesquisa,  o  que  representa  40%,  declararam  que  estão  associadas  a alguma entidade ou organização empresarial/cultural. Este dado aponta para uma compreensão  limitada da noção de associativismo, uma vez que todos os respondentes pertencem ao Instituto PRESERVALE.  

Acervos, Pesquisa Histórica e Proteção Legal 

Quanto  ao  acervo  de  arte,  os  resultados  da  pesquisa  indicam  que mais  da metade,  60%,  das  Fazendas Históricas  consideradas  na  pesquisa,  dispõe  de  algum  tipo  de  acervo  de  arte,  sendo  que  todas  têm  os acervos abertos para visitação pública. 

Embora mais da metade das Fazendas Históricas pesquisadas disponham de algum tipo de acervo de arte, os resultados da pesquisa, entretanto,  indicam que 67% das Fazendas Históricas ainda não têm segurado a casa principal (sede) da Fazenda Histórica e nem dos acervos ali existentes. Apenas 20% dos proprietários declararam estar com a casa e o acervo segurados enquanto 13% dos proprietários têm apenas a casa segurada.  

Por outro lado, 73,3% dos proprietários, onze dentre as quinze fazendas que responderam ao questionário, não têm ainda a propriedade protegida  legalmente por órgãos de preservação, sendo que apenas duas já têm tombamento definitivo e uma delas tem tombamento provisório, conforme  indicam os resultados da Tabela 1.   

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Tabela 1 ‐ Distribuição das Fazendas Históricas pesquisadas, por proteção legal, segundo órgãos de preservação. 

Frequência A Propriedade é protegida legalmente por órgãos de preservação?  Total  Percentagem     Total  15  100,0 Sim, tombamento provisório.  2  13,3 Sim, tombamento definitivo.  2  13,3 Não é protegida legalmente.  11  73,3 

No que  tange  a pesquisa histórica, os  resultados da pesquisa  indicam que 66,7%, dez dentre  as quinze fazendas  consideradas  no  estudo,  dispõem  de  pesquisa  histórica  sobre  a  propriedade.  Os  resultados indicam  que  duas  outras  Fazendas  Históricas  ainda  não  dispõem  de  pesquisa  histórica  e  três  outras fazendas, embora não disponham, os proprietários declararam ter interesse em realizar pesquisa histórica das propriedades.  

Quanto  ao  inventário,  53,3%  (oito  das  fazendas  estudadas)  já  foram  inventariadas  para  fins  culturais, porém, apenas o  imóvel, conforme  informam os seus proprietários. Duas outras Fazendas Históricas têm inventário  apenas  do  acervo.  O  inventário,  apenas  do  imóvel,  é  observado  para  duas  outras  fazendas enquanto que três outras fazendas não foram inventariadas, mas os proprietários declararam interesse em inventariá‐las. 

Dentre  as  fazendas que  responderam  ao questionário da pesquisa, observa‐se que  93,3% das  Fazendas Históricas pesquisadas abrigam e expõem mobiliário de época e 20% abrigam e expõem decoração mural; enquanto 46,7% delas abrigam e expõem algum acervo documental.   

Mão‐de‐Obra para Restauro e Conservação 

Por outro  lado, apenas 26,7% das Fazendas Históricas pesquisadas dispõem de  serviços ou mão‐de‐obra qualificada  para  conservar  os  seus  acervos,  mas  a  maioria  dos  proprietários  das  Fazendas  Históricas pesquisadas, 53,3%, declarou interesse em contratar serviços ou mão‐de‐obra qualificada para inventariar ou estudar ou restaurar ou conservar os seus bens móveis e imóveis.  

Cinema/Televisão 

Os resultados da pesquisa indicam que 60% (nove fazendas) já foram utilizadas como locação para cinema e  televisão  e  dentre  estas,  cinco  proprietários  avaliaram  a  experiência  como  sendo  positiva.  Indagados sobre o  interesse,  a maioria dos proprietários  (80%) declarou que  teriam  sim,  interesse  em  alugar  suas propriedades para o cinema e televisão. 

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Capacitação da Mão‐de‐Obra Regional 

Quando  indagados  sobre  o  tipo  de  capacitação  que  avaliam  ser  necessária  para  o  pessoal  ocupado  no empreendimento, os proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas destacaram as seguintes necessidades, em ordem decrescente de citação: Curso de  Introdução à História Regional e  Introdução ao Turismo Cultural; Interpretação do Patrimônio; Cursos de Culinária Regional; Cursos para Recepcionistas; Restauração de obras de arte  e  Curso  de  Jardineiro/paisagista;  Curso  de  atores  para  espetáculos  teatrais;  Preparação  de  garçons, barmans e arrumadeira; Cursos de gerente; Curso de informática e de Idiomas, dentre outros. 

A maioria  dos  proprietários  das  Fazendas  Históricas  pesquisadas  informa  não  existir  cursos/escolas  de capacitação profissional próximos à sua propriedade e 73,3% deles gostariam que houvesse.  

Quanto  às  despesas  para  capacitação  da  mão‐de‐obra  empregada  na  propriedade,  sete  dentre  treze proprietários  das  fazendas  consideradas  na  pesquisa  estariam  interessados  na capacitação/aperfeiçoamento do seu quadro de mão‐de‐obra e declararam que arcariam com as despesas para capacitação e disponibilizariam horas de trabalho remunerado para a capacitação do funcionário (oito dentre quatorze fazendas).  

Metade dos proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas declarou que disponibilizariam  transporte para  o  funcionário  participar  de  programas  para  a  sua  capacitação,  o  que  indica  a  intenção  dos proprietários  em  continuar  investindo  na  capacitação  de  sua mão‐de‐obra  visando  à manutenção  e/ou ampliação do negócio voltado para o turismo cultural. 

Perfil dos visitantes e circunstâncias da visita às Fazendas Históricas 

Este  item  da  pesquisa  revelou  uma  distorção  na  percepção  dos  fazendeiros  com  relação  ao  público visitante, pois não houve  respostas  indicando a presença de  turistas estrangeiros, ao mesmo  tempo em que, em depoimentos e entrevistas com os mesmos proprietários, estes afirmaram a crescente procura de grupos  franceses,  italianos,  alemães e  ingleses por  suas propriedades. Mencionaram  também  a  falta de guias qualificados em idiomas estrangeiros como uma lacuna a ser suprida com urgência. 

De acordo com a percepção dos proprietários das fazendas que recebem visitantes/hóspedes, o público de visitantes  é,  predominantemente,  do  sexo  feminino,  73,3%,  com  idade  superior  a  50  anos,  53%.  Os visitantes são, na grande maioria, procedentes do Município do Rio de Janeiro, 80%, e de outros municípios do Estado do Rio de Janeiro e a maioria tem nível de escolaridade correspondente ao Nível Médio, 46,7%, enquanto 33,3% detêm o Ensino Superior, conforme  informaram os proprietários das Fazendas Históricas pesquisadas.  Quanto  à  situação  de  ocupação  predominante  da  maioria  dos  visitantes  das  fazendas, observa‐se que prevalecem, segundo a percepção dos respondentes, os empregados do setor privado ou do setor público, ligeiramente seguido pelos aposentados e estudantes. 

Os  visitantes/hóspedes  das  Fazendas  Históricas  consideradas  na  pesquisa  visitam  as  fazendas, acompanhados  com  o  cônjuge/companheiro  (a)  e  com  os  familiares  e  também  em  grupos organizados/excursões,  indicando  que  a  visita  às  Fazendas  Históricas  parece  ser  uma  prática  de sociabilidade e um programa em família, conforme indicam os resultados da pesquisa. 

Conhecer  a  história  do  Ciclo  do  Café  é  o  motivo  mais  declarado  da  visita  às  Fazendas  Históricas pesquisadas,  para  a  maioria  dos  visitantes/hóspedes,  segundo  80%  dos  proprietários  das  Fazendas Históricas que responderam ao questionário.  

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Segundo a maioria dos proprietários, 80%, os visitantes visitam também outros atrativos do município onde está  localizada a Fazenda Histórica e quase dois  terços dos proprietários  (66,7%) das Fazendas Históricas consideradas  na  pesquisa  avalia  que  os moradores  da  cidade/município  onde  se  insere  a  propriedade conhecem a fazenda enquanto 26,7% consideram que os moradores ainda não a conhecem. 

Como síntese da pesquisa, destacaríamos o seguinte: 

Os proprietários dos atrativos históricos do Vale do Café (Fazendas Históricas) têm na sua propriedade um bom  negócio  nas mãos.  Estão  investindo  há  anos, melhorando  seus  empreendimentos  na medida  do possível, dispostos a  investir em benfeitorias e novos atrativos, bem  como preocupados  com o nível de serviço oferecido, a dificuldade de treinar mão‐de‐obra, as carências da infraestrutura e da comunicação.  

São produtores rurais lutando por manter viva a economia agropecuária do Estado de um modo inovador, empreendedor e criativo, que já consumiu uma boa parcela do capital privado disponível na região. Buscam crédito,  querem  crescer, mas  necessitam  de  todo  o  conjunto  de  investimentos  que  somente  no  setor público  vão  encontrar:  acessos,  telecomunicações,  divulgação,  educação,  formação  técnica  e  gerencial. Querem fazer projetos e criar novos produtos, para gerar mais empregos e melhorar a qualidade de vida das populações que vivem no meio rural.  

V – 2.  A dimensão socioeconômica dos municípios formadores da área denominada como: O Vale do Café. 

Apresentação 

O presente relato se caracteriza por ser um sumário do relatório apresentado a Coordenação do projeto e que  objetivava  traçar  o  perfil  socioeconômico  dos Municípios  do  Vale  do  Café  é  o  foco  central  deste relatório.  Duas são as questões, principais, que orientam a organização desse estudo: 

A  delimitação  da  área  de  estudo,  considerando  que  o  Vale  do  Café  apresenta  contornos  de natureza  histórica  e  que  não  se  restringe  ao  território  do  estado  do  Rio  de  Janeiro,  a  primeira questão a  ser equacionada  se  refere a qual área adotar como  sendo o alvo da presente análise. Neste caso a delimitação foi indicada pela coordenação do projeto. 

A base de dados, um dos grandes desafios quando  se pretende produzir  informação a partir de dados secundários é a obtenção de dados atuais e organizados de forma a possibilitar fácil acesso. A  sociedade moderna  vive  a  contradição  de  dispor  significativo  volume  de  dados,  de  recursos tecnológicos cada vez mais amigáveis, mas sem que se disponha de sistemas de padronização de dados, já que são vários os produtores. 

No caso deste estudo, a grande dificuldade é a de encontrar estatísticas recentes. A garimpagem de dados também é dificultada pela forma como os mesmos estão armazenados, nem sempre de fácil acesso. 

O  perfil  socioeconômico  dos municípios  do Vale  do  Café,  traçado  neste  relatório,  carrega  as  limitações acima descritas. 

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Neste sumário executivo estão  relatadas as principais dimensões enunciadas com base nas estatísticas e registros  disponíveis,  e  se  tem  por  foco  a  necessidade  de  oferecer  ao  leitor  um  resumo  de  fácil compreensão. 

Delimitação da Área de Estudo 

Considerando o rol de municípios  indicados pela coordenação do projeto a área de estudo compreende duas mesorregiões:  a Metropolitana  do  Rio  de  Janeiro  e  a  Sul  Fluminense;  e  três microrregiões: Vassouras,  que pertence a meso metropolitana do Rio de Janeiro e que contem seis dos doze municípios formadores da área de estudo; as microrregiões de Barra do Piraí, com três municípios e a do Vale do Paraíba Fluminense, contendo os três municípios restantes, ambas, as micros, pertencentes à mesorregião Sul Fluminense.  

A  região  conhecida  como  Vale  do  Café  apresenta  algumas  diferenciações  quanto  à  sua  composição territorial, dependendo da fonte de consulta. Segundo a Fundação CIDE, o Vale do Café do Rio de Janeiro está  localizado na região do Centro‐Sul fluminense. O Centro‐Sul Fluminense é uma das regiões político e administrativas do Estado do Rio de  Janeiro e corresponde àquela área do Vale do Paraíba fronteiriça ao Estado  de Minas Gerais,  subdividida  nas microrregiões  de Vassouras  e  de  Três Rios  ambas  cortadas de Oeste para Leste pelo Rio Paraíba do Sul. 

A Região de Governo denominada   Centro‐Sul  Fluminense é  formada pelos  seguintes municípios: Areal, Comendador Levy Gasparian, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Sapucaia, Três Rios e Vassouras. 

A  Região  de  Governo  do  Centro‐Sul  Fluminense,  integra  as  messorregiões  Centro  Fluminense  e Metropolitana do Rio de  Janeiro, as quais pertencem às microrregiões que compõem a área, Três Rios e Vassouras, respectivamente.  

Contudo, para fins deste documento, a área considerada é aquela indicada pela coordenação do projeto e que compreende a divisão territorial descrita no Quadro 1.  

Quadro 1 ‐ Composição da área do Vale do Café, segundo a definição adotada no estudo. 

Municípios do Vale do Café  Mesorregião  Microrregião Valença  Mesorregião Sul Fluminense  Barra do Piraí Vassouras  Metropolitana do RJ  Vassouras Barra do Piraí  Mesorregião Sul Fluminense  Barra do Piraí Rio das flores  Mesorregião Sul Fluminense  Barra do Piraí Piraí  Mesorregião Sul Fluminense  Vale do Paraíba Fluminense Miguel Pereira  Metropolitana do RJ  Vassouras Paty de Alferes  Metropolitana do RJ  Vassouras Paulo Frontin  Metropolitana do RJ  Vassouras Mendes  Metropolitana do RJ  Vassouras Paracambi  Metropolitana do RJ  Vassouras Barra Mansa  Mesorregião Sul Fluminense  Vale do Paraíba Fluminense Volta Redonda  Mesorregião Sul Fluminense  Vale do Paraíba Fluminense 

 

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Histórico 

O  Vale  do  Café  viveu  seu  apogeu  no  período  de  transição  entre  o  Período  Colonial  e  o  Império.  O desenvolvimento começou com a abertura do segundo caminho do ouro, concebido para evitar o trecho marítimo alvo de constantes ataques piratas.  

Com  o  esgotamento  da  produção  do  ouro,  a  região  encontra  uma  nova  alternativa  no  cultivo  do  café, quando se  inicia o período de  riqueza mais  intensa. As antigas  fazendas ainda guardam muitos símbolos desta opulência, com suas construções grandiosas, mobiliários de época e peças de arte valiosas. 

As antigas fazendas são consideradas, hoje, como as âncoras do Turismo Rural, pelo conjunto de atrativo que oferecem.  

Antiga região cafeeira, o Centro‐Sul Fluminense viveu, durante algumas décadas, as consequências da decadência desta cultura e, hoje, sua economia se apóia na criação de gado, na olericultura e no turismo. A realidade mostra um  forte  parcelamento  do  solo,  principalmente  nos municípios  próximos  à  Região Metropolitana,  enquanto algumas grandes propriedades têm sido transformadas em hotéis fazenda e sítios de lazer.  

Um olhar, mesmo que superficial, sobre a história de formação dos municípios integrantes do Vale do Café, permiti identificar dois blocos, sendo que um deles contempla a estruturação do território do café e que é caracterizado  pela  dinâmica  de  criação  dos municípios  instalados  no  século  XIX  e  que  tem  no  trabalho escravo sua principal força. Um bom exemplo é o caso de Vassouras que chegou a atingir uma população escrava da ordem de 20.000 pessoas. 

O outro bloco, formado pelos municípios criados no último século a partir dos anos 50, desmenbrados dos municípios  formadores  do  bloco  anterior  e  que  surgem  já  como  resultado  do  incremento  das  funções urbanas, onde a indústria tem relevante papel, caso de Volta Redonda instalada em 1954. 

A área do Vale do Café, como considerado no presente relato, é de 5.156,4Km2, sendo que a  distribuição da  área municipal  apresenta  forte  concentração  nos municípios mais  antigos  e  que  deram  origem  aos demais, sendo que apenas Valença corresponde a 25% do total da área. 

A  seguir,  estão  enunciadas  as  principais  características  dos municípios  formadores  do Vale  do  Café,  de acordo com as estatísticas secundárias e registros administrativos, capturados de diversas fontes de dados e organizados para atender ao objeto desta análise. 

Dinâmica Demográfica 

O objetivo deste bloco é dimensionar a área de estudo quanto ao  tamanho demográfico. Para  tanto  se utilizou como fonte de dados o Sistema de Dados Regionais Agregados, SIDRA, do IBGE. O período tratado cobre as pesquisas censitárias de 1970 a 2007. 

Em  2007, mais  de  50%  da  população  do  Vale  do  Café  estava  concentrada  em  dois  dos  doze municípios  integrantes da área: Barra Mansa, 22,34% e Volta Redonda  com 32,57%, do  total da população da área; 

Desde  1970  Barra Mansa  e  Volta  Redonda  são  os  únicos municípios  com  população maior  que 100.000habitantes; 

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Segundo  a  Contagem  da  População  de  2007,  oito  dos  doze municípios  do Vale  do  Café  tinham menos de 50.000 habitantes. 

Dos municípios do Vale do Café, Vassouras parece ser o que sofreu o maior  impacto ao  longo de sua trajetória, fato indicado por ser o que apresenta maiores perdas na população. Um dos motivos pode ser atribuído ao fato de ser este o município que sofreu maior número de desmembramento, dando origem a quatro dos municípios formadores da área em estudo. 

Importante  destacar  a  evolução  do  adensamento  demográfico  no  espaço  urbano  legali, caracterizando a perda da importância da atividade rural como fator de fixação da população.  

Um olhar geral sobre a área de estudo revela o predomínio da população urbana, em especial nos últimos períodos da série analisada. 

Predomínio do rural no  início do período analisado, (70/80), ocorre nos Municípios de Vassouras; Rio das Flores e Engenheiro Paulo de Frontin; 

Intenso adensamento urbano em Mendes, que sai de 33% da população residente na área rural em 1980 para apenas 0,67% em 1991; 

Em Volta Redonda, a própria história de ocupação e organização do espaço municipal determinou a consolidação do quadro urbano; 

Nos municípios  de Vassouras,  Rio  das  Flores,  Paty  do Alferes  e  Engenheiro  Paulo  de  Frontin  se observa um maior equilíbrio na distribuição da população residente urbano/rural, embora ocorra predomínio da população urbana. 

Dimensão Socioeconômica 

Neste segmento, estão presentes informações relativas à Educação, no que se refere à infraestrutura física, número de estabelecimentos de ensino e ao dimensionamento da população atendida, através do número de matrículas. Estes registros têm como fonte a Fundação CIDE e o INEP, e se referem aos anos de 2006 e 2009.  

Outro  bloco  temático  se  refere  ao  serviço  de  saúde.  Na  medida  do  possível,  é  também  tratada  a infraestrutura de  comunicação e articulação do espaço  regional. A  fonte desses dados é o DATASUS do Ministério da Saúde, mas foram obtidos no site da Fundação CIDE e se referem ao ano de 2005 e no caso dos hospitais credenciados o dado mais recente, disponível, é de 2003. 

Quanto à Educação, deve ser considerado: 

Em  todos  os  níveis  de  ensino  é  o  urbano  que  pesa  na  concentração  dos  benefícios.    Assim,  o município  de  Volta  Redonda  se  destaca  por  apresentar,  em  2009,  maior  número  de estabelecimentos de ensino, maior número de matrículas em creches e pré‐escola; 

Do  total  de  estabelecimentos  que  oferecem  ensino  fundamental,  60%  são de  gestão municipal, ocorrendo principalmente em Volta Redonda, Barra Mansa e Valença, que juntos concentram 54% dos estabelecimentos de ensino fundamental com dependência municipal. Este comportamento se repete quando se trata do ensino médio; 

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O quadro de matrículas no Ensino Médio, mais uma vez favorece Volta Redonda que contabiliza em 2009, 12.738 matrículas, segundo o INEP, correspondendo a 40% do total de matriculas realizadas naquele ano em escolas de Ensino Médio. No caso do Ensino Médio, o principal gestor é o Estado; 

Menos de  8% dos  estabelecimentos  que oferecem  EJA, no  Estado do Rio,  estão  localizados nos municípios formadores do Vale do Café; 

A distribuição interna à área reforça o papel de Volta Redonda como principal centro da região. O Vale do Café  contribui  com 7,6 dos estabelecimentos do  total do Estado do Rio de  Janeiro, que oferecem ensino para jovens e adultos, destes 30% estão localizados em Volta Redonda. 

Os municípios do Vale do Café têm participação pouco expressiva na rede física do Ensino Especial. Observa‐se que apenas 7% dos estabelecimentos do Estado do Rio de  Janeiro está  localizado em alguns dos municípios do Vale. Destes, 37% estão em Volta Redonda.  

Embora com predomínio da esfera municipal, observa‐se que ocorre um  relativo equilíbrio entre as  três esferas de gestão. 

Quanto à Saúde, os aspectos a serem destacados são: 

Nesta caracterização, ressalta o fato de que Barra do Piraí, Mendes, Rio das Flores e Valença não contavam em 2005, segundo a fonte adotada, com nenhum posto de saúde; 

O  Vale  do  Café  concentra  12,79%  do  total  das  unidades  ambulatoriais  do  Estado  do  Rio  de Janeiro; 

Do  total  de  unidades  ambulatoriais  disponíveis  no  Vale  do  Café,  29%  são  de  consultórios isolados, 23% de centro de saúde/unidade básica. Os postos de saúde representam pouco mais de 7% do total de unidades ambulatoriais da região; 

A análise da distribuição de unidades ambulatoriais  indica uma divisão da área em estudo, em pelo  menos  três  subáreas,  em  face  da  disponibilidade  dos  equipamentos  de  saúde:  Volta Redonda e Barra Mansa, concentram cerca de 50% dos equipamentos existentes; Barra do Piraí, Vassouras, Valença, Miguel Pereira e Paracambi, que  juntos totalizam pouco mais de 38% das unidades e Mendes, Piraí, Paty do Alferes, Engenheiro Paulo de Frontin e Rio das Flores 11%; 

O quadro da oferta de atendimento, quando  se considera a disponibilidade de hospital geral, em relação ao total da população, segundo dados da Contagem da População de 2007, do Vale do Café, é de que existe 1 hospital para cada 25.318 pessoas; 

Quando  a  análise  se  dá  no  âmbito  do  município,  alguns  aspectos  se  destacam  como,  por exemplo, a posição de Paracambi em  relação aos demais municípios, que  conta com a maior participação de hospitais contratados, 42%; 

No Vale do Café,  tomando‐se  todas as especialidades e  considerando a população  residente, segundo dados da Contagem da População realizada pelo IBGE, em 2007, que totalizava 784.883 habitantes, se têm 5,98 leitos por 1.000 habitantes; 

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Outro  aspecto  a  ser  avaliado  diz  respeito  ao  número  de  leitos  em  psiquiatria,  que  é  a especialidade  que  apresenta maior  número  de  leitos,  sendo  que  79%  destes  leitos  são  de hospitais  localizados  nos municípios  de  Paracambi,  854  leitos  e  no município  de  Engenheiro Paulo de Frontin, 200 leitos; 

A  constatação mais  relevante  é  a  confirmação  da  fragilidade  da  infraestrutura  de  saúde  nos municípios‐alvo  da  pesquisa,  que  deve  servir  como  sinal  de  alerta  a  qualquer  iniciativa  de investimento na área, em especial quando se fala de sustentabilidade.  

Incrementar fluxo demográfico sem o correspondente fortalecimento do mobiliário urbano, em especial no que se refere ao sistema de saúde, é apostar no aprofundamento dos problemas, hoje existentes, na região do Vale do Café. 

 

Comunicação e Circulação:  

Neste bloco se tem por objetivo enunciar alguns indicadores de centralidade dos municípios‐alvo.  

Um dos parâmetros tradicionalmente utilizados é a disponibilidade de meios de comunicação. Embora muitos destes municípios  já estejam  interligados por  redes virtuais, ainda  se  tem, na base física do território, os principais instrumentos de articulação espacial; 

Um dos serviços mais básicos na esfera da comunicação é aquele prestado pelos Correios.   Do total de 1.266 unidades existentes no Estado do Rio de Janeiro, em 2005, segundo a informação obtida no site da Fundação CIDE, apenas 96 atendiam ao Vale do Café;  

A  concentração  deste  serviço  no  município  de  Volta  Redonda  é  mais  um  indicativo  das diversidades intrarregionais na área em estudo.  

O tamanho da  frota associado ao tipo de veículo permite avaliar a  infraestrutura de meios de circulação disponível na região. Considerando o total da população do Vale do Café, se tem em torno de 252 veículos por 1.000 pessoas.  

Apenas quatro dos doze municípios concentram 78% do total da frota, a saber: Volta Redonda com 41%; Barra Mansa com 19%; Barra do Piraí com 12% e Valença com 6%. 

Dimensão Econômica 

Neste bloco, são apresentadas  informações referentes ao emprego, cuja fonte principal é o Ministério do Trabalho. São apresentadas também informações sobre a geração de renda, com a análise do PIB, que tem como  fonte  as  contas municipais  calculadas  pelo  IBGE;  informações  sobre  o  desempenho  econômico, descrito  com base em  registros  referentes ao  consumo de energia elétrica e disponibilizados no  site da Fundação CIDE, e  registros  referentes às  finanças públicas, obtidas no  site do  IBGE, mas que  tem  como fonte o Ministério da Fazenda. 

Finalmente, se busca uma avaliação da estrutura produtiva, com base em estatísticas do IBGE, obtidas no Censo Agropecuário de 2006 e também considerando as  informações da Pesquisa de Cadastro Central de Empresas de 2007.  

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Emprego e Renda:  

Os dados tratados neste bloco descrevem a estrutura de ocupação das pessoas ocupadas nos municípios do Vale do Café e os salários pagos, segundo a base de dados do Ministério do trabalho, no período de janeiro de 2008 a janeiro de 2009.  

Um  olhar  sobre  a  estrutura  de  ocupações  do  Vale  do  Café  sinaliza  para  uma  organização eminentemente  terciária  e  de  pouca  exigência  quanto  à  formação  acadêmica,  com  raras exceções; 

O destaque no comportamento do PIB municipal é a primazia econômica do Município de Volta Redonda, quando comparado com os demais Municípios do Vale do Café; 

Os  municípios  de  Barra  Mansa  e  Barra  do  Piraí  formam  o  segundo  grupo  na  hierarquia determinada pela renda gerada, em seguida se tem os municípios de Valença e Piraí, seguidos dos demais municípios formadores da área em estudo; 

Quanto  ao  setor  de  atividade  é  o  Setor  dos  Serviços  que  esta  no  topo  da  hierarquia. Outra observação  importante  é  o  total  declínio  da  agricultura,  em  face  dos  pequenos  valores observados na formação do PIB municipal. 

Desempenho econômico:  

Neste tema são tratados os dados de consumo de energia elétrica e finanças públicas: 

Um  tradicional  indicador de desempenho econômico é o consumo de energia. Das  indicações possíveis de serem inferidas com base nos registros analisados se destacam: a pouca expressão do setor rural; 63% do consumo de energia elétrica no setor industrial e 43 % no comercial são atribuídos  ao município  de  Volta  Redonda,  enquanto  que  sua  participação  no  consumo  de energia pelo  setor  rural  é de  apenas  1,3%;  com  exceção do  consumo  comercial, nos demais setores  as  três  primeiras  posições  são  ocupadas  pelos Municípios  de  Volta  Redonda,  Barra mansa e Barra do Piraí; 

Finanças  Públicas:  Uma  primeira  avaliação  se  refere  à  relação  receita  /despesa,  em  2007. Segundo  os  registros  do  Ministério  da  Fazenda,  em  2007  havia  um  equilíbrio  entre  estas componentes das finanças públicas nos municípios do Vale do Café; 

Dentre  as  receitas  analisadas,  a  de  origem  tributária  é  a  responsável  pelo maior  volume  de entradas,  R$127.124.460,  seguidos  do  imposto  sobre  serviço,  ISS,  R$68.829.230,  imposto predial  urbano,  IPTU  R$33.  491.  415,  e  de  taxas  diversas  com  montante  da  ordem  de R$7.007.845; 

Destacam‐se  os  municípios  de  Volta  Redonda  e  Barra  Mansa,  como  os  dois  principais arrecadadores, enquanto que Rio das Flores e Engenheiro Paulo de Frontin, são os   municípios que recebem os menores valores; 

No Vale do Café, o FPM é a principal fonte de arrecadação e é de R$138.126.313,91, enquanto que  a maior  receita  apresentada  neste  relato  é  a  tributária    que  correspondia,  em  2007,  a R$127.124.460,3. 

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Estrutura Produtiva:  

Neste bloco são apresentadas informações relativas às atividades agropecuárias, referentes ao número de estabelecimentos, área dos estabelecimentos, em hectares, e também dados do Cadastro de Empresas. A fonte  dessas  estatísticas  é  o  IBGE,  através  do  Censo  Agropecuário  de  2006  e  do  Cadastro Nacional  de Empresas de 2007: 

Valença  e  Barra  Mansa  são  os  municípios  que  apresentam  os  maiores  quantitativos  de estabelecimentos e área, com cerca de 60 ha por estabelecimento; 

Mendes e Engenheiro Paulo de Frontin são os municípios que aparecem como os de menores quantitativos,  tanto  quanto  ao  número  de  estabelecimentos  como  quanto  à  área  dos estabelecimentos.  Em Mendes,  que  ocupa  a  última  posição,  cada  estabelecimento  tem,  em média, 55 ha, enquanto que no município de Engenheiro Paulo de Frontin esta média é de 94 ha,  indicando  ser  este  município  detentor  de  uma  estrutura  fundiária  de  natureza  mais concentrada (poucos estabelecimentos ocupando áreas de maior extensão); 

Rio das  Flores  é o Município que  apresenta médias  indicativas de  estabelecimento de maior porte, 116 ha, enquanto Paracambi apresenta a menor média 19,16 ha; 

O tamanho médio dos estabelecimentos agropecuários no Vale do Café é de 61,67 ha; 

Na  relação  “área  x  número”  de  estabelecimentos,  indicada  pelos  dados,  fica  clara  a predominância  de  pequenos  estabelecimentos  em  Paracambi,  único  município  onde  a participação do número de estabelecimentos em relação ao total de estabelecimentos no Vale do Café, é maior que a participação em relação à área; 

No  outro  extremo,  aparece  o município  de  Rio  das  Flores  onde  predomina  a  existência  de propriedades de maior tamanho; 

Outro aspecto importante revelado pelo Censo Agropecuário de 2006 se refere à condição legal das terras. Uma primeira observação é de que a grande maioria dos estabelecimentos no Vale do Café é de condição legal própria, cerca de 80%. 

As  informações, a seguir, se  referem às estatísticas do Cadastro geral e  têm por objeto complementar o perfil  econômico  dos municípios  do Vale  do  Café  e  permitem  uma  análise  do  comportamento  de  cada município em relação ao total do Vale do Café: 

O município de Volta Redonda, que havia perdido  significado na  análise dos dados do  censo agropecuário, volta a se destacar como o principal município quando o foco da análise volta a ser urbano e em especial  industrial. Em seguida, aparecem os municípios de Barra Mansa e de Barra do Piraí;  

Os municípios  com menor  número  de  unidades  locais  são,  por  ordem  decrescente:  Paty  do Alferes; Mendes e Engenheiro Paulo de Frontin. 

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Considerações Finais 

Ao  término desta análise, realizada exclusivamente com base em dados secundários,  ficam como pontos que devem ser considerados quando novas intervenções no território estiverem sendo planejadas. 

O Vale do Café pode ser visto como uma região cuja unidade se dá por conta da formação sócio‐espacial, mas que ao longo do tempo se estruturou em pelo menos três subespaços: 

1.  Volta Redonda; 

2.  Valença, Barra do Piraí e Barra Mansa; 

3.  Engenheiro Paulo de  Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paty do Alferes, Piraí, Rio das Flores e Vassouras. 

A fragilidade do equipamento urbano, em especial quanto à infraestrutura de saúde disponível para  a  população  residente,  deve  atuar  como  um  sinal  de  alerta  para  possíveis empreendimentos geradores de novos fluxos de população,  indicando a necessária articulação entre o público e o privado, que na  região deve  se materializar em  investimentos em  saúde pública. 

A  atual  disponibilidade  de  uma  força de  trabalho de médio  para  baixa  formação  técnico‐profissional  já  é  ponto  crítico  que  compromete  o  desenvolvimento  sócio  econômico  da região.  A  inexistência  de  qualificação  técnica  dos  segmentos  específicos  da  hotelaria  e serviços, em especial no que se refere à educação ambiental e de cunho histórico e cultural, limitam  as  condições  necessárias  de  uma  base  orientadora  para  o  desenvolvimento  de ações voltadas para o turismo cultural, rural e ecológico. 

A baixa expressão do setor primário na  formação da renda e na geração de emprego  indica a necessidade de revitalizar espaços e mobiliário rural para torná‐los atrativos. 

 Os setores adjacentes integrantes da cadeia turística do Vale do Café 

A  gradativa  montagem  de  um  parque  turístico  vocacionado  para  o  Turismo  Cultural  atraiu  inúmeros empreendedores  que  compõem  a  cadeia  de  turismo  do  Vale  do  Café.  São  notadamente  os empreendedores  da  produção  de  alimentos,  de  bebidas  e  de  artesanato,  que  consideramos  segmentos adjacentes integrantes de uma cadeia turística. 

A  relação  entre  o  Turismo  Cultural  e  os  outros  setores  das  economias  locais  do  Vale  do  Café  foi  se intensificando ao passar dos anos recentes. No entanto, a exclusiva ênfase no grande atrativo da região que é o seu patrimônio arquitetônico deixou, de certa maneira, os setores adjacentes que compõem qualquer cadeia turística, um pouco desamparados.  

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O caso de São Paulo pode  ser útil para uma  reflexão. A conhecida mesorregião que alavanca o Turismo Rural paulista não tinha outro argumento a não ser seus produtos típicos, de tipo agropastoril e artesanal. E toda uma “indústria”, hoje fortíssima e apoiada na hotelaria convencional, foi montada nessa direção. Esse interior de  São  Paulo não  tinha qualquer  atrativo de  cunho patrimonial  arquitetônico, mas um  rígido  e atento  planejamento  foi  desenhado  para  mobilizar  os  pequenos  setores  de  produção  de  alimentos, bebidas, vestuário, arte e acessórios diversos, além dos equipamentos e serviços turísticos que se tornaram adjacentes. No caso do Turismo Rural paulista, o adjacente não foi o que é adjacente na região do Vale do Café. O adjacente aqui no Vale foi o central lá. Outras regiões têm os mesmos setores adjacentes que os do Vale Café, mas centralizam seus atrativos nas belezas naturais costeiras ou  seus  interiores de vastidão e suntuosidade natural. Em São Paulo, a aridez de suas terras rurais foi um patamar para a montagem de um dos principais pólos turísticos brasileiros, fundado em seus produtos regionais e no artesanato. 

Uma dimensão importante no planejamento de um pólo turístico, que não houve até agora para o Vale do Café,  é  a  atenção  quanto  aos  fatores  geradores  da  renda  que  possa  ser  efetivamente  internalizada  na região, mais precisamente em  cada economia  local. O belo artesanato  regional,  com  forte  influência da cestaria  de  origem  indígena,  carece  de  estímulo,  orientação  técnica  e,  principalmente,  direcionamento comercial,  para  constar  como  item  de  destaque  na  cadeia  produtiva  do  turismo  no  Vale.  Também  a pequena  agro‐indústria  local,  caracterizada  pela  produção  de  doces,  laticínios,  conservas  e  embutidos, demanda a  criação de pólos de distribuição e  comercialização  regional para poder ganhar  visibilidade e escala comercial.  O fraco desempenho dos setores adjacentes do Vale veio contribuindo para sua condição de exportador de renda para outros municípios brasileiros e no plano  interregional para os municípios de maior força econômica, principalmente Volta Redonda e Barra do Piraí (e também Barra Mansa). A maior parte  do  valor  dos  gastos  feitos  pelos  visitantes  sai  imediatamente  da  economia  local  para  cobrir  as despesas com as  importações de produtos de outros municípios, e às vezes de outros estados, como no caso do artesanato e dos doces, que vêm de Minas Gerais. A dinâmica econômica  local  fica prejudicada. Sem a pretensão de que a economia  local possa produzir e satisfazer todas as necessidades dos turistas, sem qualquer fornecedor externo, um planejamento de  longo prazo deve ser  instituído na região do Vale do Café, no intuito de fortalecer os setores adjacentes como importante fator de geração e internalização de  renda. Com exemplo, a organização estratégica do  turismo  rural paulista  levou mais de 20 anos para começar a produzir resultados confortáveis e estimulantes para uma dinâmica empreendedora.  

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VI. O FOMENTO AO TURISMO CULTURAL E RURAL NO BRASIL 

VI ‐ 1. Turismo no Espaço Rural: um segmento estratégico sem crédito 

O  Turismo  Rural  existe  de  fato  no  Brasil,  com  importância  em  diversas  regiões  brasileiras. No  entanto, poucas vezes aparece nos planos de desenvolvimento e inclusão social das diversas esferas governamentais que abordam a falência social do meio rural brasileiro. Até hoje é um tema relegado a assunto de segundo plano pelo poder público. 

O  Turismo  Rural  (TR)  se  fortaleceu,  em  muitos  países,  a  partir  da  modernização  das  atividades agropecuárias e da conseqüente decadência das comunidades rurais que não acompanharam o processo. Em muitos países, o TR foi norteado por políticas públicas de fomento e financiamento. Em outros não, que é o caso do Brasil. Aqui, o TR vem crescendo apesar da inexistência de políticas públicas. Ou melhor, cresce em meio a programas e  linhas de crédito que se destinam exclusivamente ao turismo urbano e aos pólos turísticos consolidados.  

Todas as linhas de fomento e de financiamento do turismo no Brasil são: 

Concentradas  ou  exclusivamente  focadas  no  Turismo  Urbano  em  grandes  cidades  ou  em complexos turísticos largamente conhecidos; 

Voltadas  para  empresas  que  já  pertencem  ao  segmento  turístico,  portanto  excluindo  os empreendedores potenciais, sobretudo os do meio rural; 

Acessíveis exclusivamente a empresas legalmente constituídas e atuantes no mercado turístico. 

Programas Nacionais de Crédito 

Todas as linhas de financiamento no Brasil negligenciam o turismo em espaço rural: 

O FUNGETUR – Fundo Geral do Turismo – é gerido pelo Ministério do Turismo, e pode financiar projetos  de R$400 mil  a R$10 milhões. Menciona  o  “incentivo  a  investimentos  turísticos  em regiões potenciais remotas, ainda não desenvolvidas”, embora seja  inteiramente pautado para investimentos urbanos  realizados por empresas estabelecidas no mercado.  Foi  recentemente regulamentado  pelo MTur  (Port.  nº  92  de  29/05/09),  que  apresenta  a  CEF  como  operadora financeira do Fundo. No entanto, a CEF não divulga qualquer informação sobre isso.  

O PROGER Turismo, um dos principais programas em operação a nível nacional, que  repassa recursos  do  FAT  através  do  Banco  do  Brasil,  da  CEF  e  do  Banco  da  Amazônia,  indica expressamente que as atividades  rurais são consideradas um  item não  financiável. O PROGER financia projetos de até R$400 mil. 

O BNDES apóia projetos de  implantação, modernização e expansão de empresas estabelecidas no segmento turístico, nas linhas BNDES Automático e BNDES Finem e a aquisição isolada de máquinas e equipamentos nacionais, na linha BNDES Finame e Cartão BNDES. O perfil de itens financiáveis da linha  BNDES  Automático,  por  exemplo,  revela  uma  clara  orientação  para  empreendimentos urbanos. A linha Finem financia o valor mínimo de R$3 milhões no segmento do turismo. 

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Programas Regionais de Crédito 

Os programas de financiamento regionais do Turismo do Norte, Nordeste e Centro‐Oeste têm uma vocação original de apoio a empreendimentos no meio rural, embora tenham seus recursos  largamente  investidos nos principais centros urbanos. Os critérios de apoio são  rigorosamente os mesmos das principais  linhas nacionais de financiamento ao turismo: 

PROATUR  –  Programa  de  Apoio  ao  Turismo  Regional  –  que  tem  recursos  do  Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e é operado pelo Banco do Nordeste. 

FNO – Programa de Financiamento do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, com abrangência em toda a Região Norte, e operado pelo Banco da Amazônia. 

FCO Empresarial – Linha de Crédito de Desenvolvimento do Turismo Regional, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro‐Oeste, para empreendimentos localizados na Região Centro‐Oeste, e operada pelo Banco do Brasil. 

As duas únicas linhas de crédito para o Turismo Rural no Brasil 

1. Linha FEAP‐BANAGRO para o Turismo Rural em São Paulo: 

Após anos de discussão, o atual Governo do Estado de São Paulo aprovou em 2009 uma  linha de crédito que atenderia mais de 800 propriedades rurais cadastradas e abertas ao turismo: unidades de agricultura familiar, Fazendas Históricas e Não Históricas, bem  como as propriedades  rurais que ofertam o Turismo Equestre, o Turismo Rural Pedagógico e aquelas que queiram dar início ao negócio. 

Os recursos são do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista ‐ O Banco do Agronegócio Familiar (FEAP‐BANAGRO), com pagamento  feito em cinco anos, com até dois anos de carência, a  juros de 3% por ano, com teto de financiamento de até R$80 mil por produtor e até R$ 300 mil por cooperativa ou associação. Os  beneficiários  são  produtores  rurais  ‐  pessoas  físicas  ou  jurídicas  (micro  e  pequenas  empresas),  bem como  suas  cooperativas  ou  associações,  enquadradas  como  beneficiárias  do  FEAP  (renda  agropecuária bruta anual de até R$ 400 mil). 

Embora muito  aquém  das  expectativas  da  ABRATURR  SP  ‐  Associação  Paulista  de  Turismo  Rural  e  do Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural ‐ IDESTUR, principais entidades paulistas nesse segmento, essa  linha de crédito é considerada como uma ferramenta simbólica da necessidade de apoio ao Turismo Rural no Brasil, mas que ainda não é operativa. É  consenso entre os principais atores que ainda não  se procedeu a uma  intervenção  substantiva e  séria nesse  segmento estratégico, mobilizada por governos e seus instrumentos de política, em escala nacional.  

2. PRONAF Turismo Rural: 

Apóia  o  desenvolvimento  de  projetos  turísticos  em  propriedades  familiares  enquadradas  no  Programa Nacional  de  Fortalecimento  da  Agricultura  Familiar  –  PRONAF  (grupos  C,  D  e  E),  tais  como  pousadas, restaurantes, locais de "pesque e pague" e cafés coloniais. Os recursos são do próprio PRONAF, e os limites de crédito variam de R$1.500,00 a R$36.000,00. 

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Mesmo  com  a  possibilidade  de  os  tetos  serem  elevados  em  até  50%,  sob  condições  determinadas,  é evidente que o programa não pode ter a menor repercussão significativa no segmento TR, a começar pela falta de repercussão da própria linha de crédito. 

Turismo rural: experiências européias bem sucedidas   

Na  União  Européia,  o  estímulo  ao  Turismo  Rural  veio  como  resposta  dos  governos  locais,  regionais  e nacionais  à  situação  de  crise  das  regiões  rurais  de  seus  países.  Um  planejamento  estratégico macrorregional,  aliado  à  ação  empreendedora  das  comunidades,  promoveu  o  desenvolvimento  de negócios voltados para a economia do turismo ‐ pequena produção familiar de agroindústria; hotelaria de pequena  escala;  serviços  e  entretenimento  cultural  de  caráter  local;  artesanato  e  gastronomia  regional apurados; transporte, interpretação, agenciamento e guiamento turísticos. Os investimentos realizados em infraestrutura  turística  ‐ estradas,  trens,  sinalização,  telecomunicações  ‐ assim como o planejamento e a articulação política e institucional com os diversos atores regionais, nacionais e internacionais, inicialmente foram de responsabilidade de governos, em parceria com o terceiro setor e as empresas. 

Todos os países europeus que fomentaram o TR viram em pouco tempo suas pequenas e médias cidades e comunidades  rurais  ressurgirem em seus espaços econômicos, abrindo oportunidades para a  fixação das pessoas no campo, diminuindo o êxodo para as metrópoles. 

Alguns  países,  como  a  França  e  a  Irlanda,  iniciaram  seus  programas  de  fomento  estimulando  o envolvimento  do  turista  com  as  propriedades  rurais  produtivas,  através  do  Turismo  Pedagógico, Gastronômico  e  Eqüestre,  por  exemplo.  Certamente  o  enorme  patrimônio  histórico  e  arquitetônico  do interior europeu ajudou bastante. Os programas iniciados já no pós‐guerra e fortalecidos a partir da década de  1970  tinham  como  base  a  constatação  da  crise  da  profissão  do  agricultor  e  do  pecuarista  com  a modernização  tecnológica e  a  conseqüente propalada desertificação  social do  campo. Para  citar  apenas duas das mais de trinta organizações francesas envolvidas com o TR, a “Gîtes de France”, a maior e mais antiga associação de proprietários, reúne aproximadamente 40.000 grupos de empreendedores rurais, e a associação “Bienvenue à la Ferme”, reúne aproximadamente 20.000 agricultores. 

Em outros países europeus, como a Espanha e a Itália, o TR foi inicialmente estimulado pelos governos seguindo os mesmos princípios de implantação de grandes empreendimentos hoteleiros voltados para o lazer, a estética, convenções, sempre também ancorados na diversidade cultural e patrimonial das regiões rurais européias.  

Os países que começaram nessa linha tiveram que reorientar suas políticas a partir de 1996, quando a Comissão Européia  lança o Proder, no  contexto da  Iniciativa  Leader, destinado  às  zonas  rurais desfavorecidas. Com o Proder,  a  prioridade  do  fomento  e  do  crédito  passa  a  ser  o  turismo  focado  na  tradição  rural  produtiva, envolvendo  as  comunidades  locais  e  os  pequenos  empreendedores,  num  pretensioso  novo  modelo  de desenvolvimento  rural  da  União  Européia. Mas  o  fator  mais  importante  é  que  o  financiamento  passa  a contemplar as pessoas físicas, e não apenas as pequenas empresas rurais estabelecidas. 

Portugal induziu de forma planejada seu TR, sobretudo a partir dos anos 1990, com o apoio governamental explícito a empreendimentos de natureza familiar. Com forte apoio e recursos de programas da Comissão Européia  (PRODER/LEADER)  adotou  um  modelo  que  surge  com  uma  “terceira  via”  do  TR,  aquele fortemente  voltado  para  turismo  cultural  e  para  o  patrimônio  arquitetônico  rural, mas  assentado  em famílias, agricultores ou não, ou em  redes ou associações  congregando potenciais empreendedores que não  atuavam no  segmento  turístico ou mesmo que não possuíssem  empresa,  fato que  não  impediu  se beneficiarem desses programas de geração de renda. 

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O  resultado  dessas  experiências  é  óbvio:  emprego,  capacitação  profissional  em  programas  paralelos, fortalecimento das associações de TR através de infraestrutura de comercialização com centrais de reservas e operadoras turísticas, estímulo às estratégias locais e regionais de desenvolvimento, entre muitos outros. Ao nível macro, as ações indutoras abrangem desde zonas rurais remotas confrontadas com problemas de despovoamento  e  declínio,  até  zonas  rurais  periurbanas  sujeitas  a  uma  atração  crescente  dos  grandes centros urbanos. Os resultados positivos são incontestáveis. 

Porque o desinteresse público pelo Turismo Rural no Brasil? 

Resposta: não há explicação. Na ausência de uma explicação plausível, atribui‐se à falta de tempo e interesse pelo tema nos grandes centros urbanos decisórios e à desmobilização estrutural das cidades do  interior, que vivem precária e essencialmente do comércio, dos serviços e de salários das prefeituras, com a população jovem sem maiores expectativas além de se deslocar para as grandes cidades. O que todo prefeito do interior quer é... INDÚSTRIAS! FÁBRICAS! Um hotel‐fazenda num distrito turístico de um município do Vale do Café, por exemplo, mantém cerca de 40 empregos diretos em sua atividade, fora os cerca de 35 empregos diretos em obras de ampliação de  instalações.  Sem  contar a  cadeia produtiva elástica do Turismo, onde produção  agroindustrial local,  artesanato,  combustível,  farmácia, padarias,  etc;  são  tradicionais  agregadores de  valor. No  entanto,  a atividade hoteleira e do Turismo Cultural não recebem o status de investimento que uma fábrica de roupas de 30 empregos merece, da parte de prefeitos e deputados. 

Mesmo sendo um setor estratégico, e que pode até ser considerado de segurança nacional, privilegiado por todas as ações de planejamento de  longo prazo em muitos países, amplamente conhecidas, divulgadas e bem  sucedidas, o poder público brasileiro não  trata estrategicamente o  assunto.  Talvez  em  virtude dos infindáveis problemas que atacam os  centros urbanos,  como a violência, educação,  saúde,  saneamento, etc; mas que são ainda mais graves se olharmos com acuidade para as cidades situadas no espaço rural. Quanto aos dirigentes dos municípios de forte viés rural, por outro lado, falta‐lhes, além do conhecimento do tema, visto que estão também envolvidos com as demandas por infraestrutura, também não dispõem, em geral, de quadros com a capacidade  técnica para a elaboração de projetos e propostas consistentes, direcionadas para essa temática. 

Um cenário base para se pensar o Turismo Rural 

Um primeiro rol de realidades que justifique  o estímulo ao Turismo Rural no Brasil: 

A experiência de outros países. Não precisamos reinventar a Roda. Um modo prático de motivar a comunidade governamental  seria  acompanhar o que  foi  feito na União Europeia,  começando pelas  resoluções da CCE – LEADER 1, 2, Plus e agora 3, e seus resultados. Foram algumas décadas de planejamento e ação, com tentativas e erros, o que fornece um enorme subsídio para o estudo e o planejamento seguro das adaptações necessárias às realidades regionais brasileiras. Não se trata de escolher outros países como modelo, pois no Brasil o meio rural é diferente: pode‐se dizer que o meio rural brasileiro é basicamente urbano, a começar pelos proprietários rurais, que na sua maioria moram nas grandes cidades, diferentemente do caso europeu. 

O denso, extenso e contínuo êxodo rural para as grandes cidades. Como escape contíno à desagregação das comunidades rurais e também das cidades de municípios com forte vocação rural, os jovens que tentam uma formação profissional não encontram e cada vez encontrarão menos oportunidades em suas cidades e vilas de origem. Resultado: desorientação total da  juventude sobre oportunidades de vida e de emprego. O que será feito das milhões de crianças que a todo ano ingressam nas escolas públicas das cidades do interior brasileiro? 

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Uma disposição e iniciativas concretas existem no Brasil. O Turismo Rural já vem tomando força a partir dos anos 90, quando  foram criadas câmaras  setoriais  junto à EMBRATUR e aos órgãos estaduais de  fomento ao turismo. O agroturismo, modalidade que ganhou adeptos nas regiões do sul do país, assim como em estados de economia predominantemente rural como Minas Gerais e Espírito Santo, também se desenvolveu rapidamente, alavancando com isso as pequenas economias agrárias do interior.  Com a criação do Ministério do Turismo, em 2000, o Brasil ingressou no processo de segmentação do turismo, passando a desenvolver programas específicos para diversas categorias, dentre elas o Turismo Rural e também o Turismo Cultural.  

Necessidades de financiamento e de ações estratégicas de fomento. 

Existe  uma  forte  demanda  de  financiamento  para  o  turismo  no  Vale  do  Café,  constatada  a  partir  de levantamento  feito  pelo  Instituto  PRESERVALE  e  pelo  próprio  Diagnóstico  das  Fazendas  Históricas.  A demanda  é  de  credito,  primeiro,  para  reforma,  restauração  e  ampliação  das  construções  históricas  de empreendimentos privados  já  atuantes no  Turismo Cultural. Assim  como  existe  também  uma demanda reprimida  de  reforma  e  ampliação  de  hotéis  urbanos,  pousadas  e  hotéis‐fazenda  sem  perfil  histórico, reforma e ampliação de restaurantes e bares tradicionais do Vale do Café. Também existiria a necessidade de crédito para a implantação e ampliação de negócios adjacentes integrados à cadeia turística, como os de produtos alimentícios, de bebidas e  cooperativas de artesanato. Outro  componente que necessitaria de apoio  financeiro,  integrado a  todos os  segmentos  listados acima,  relaciona‐se  com a própria gestão dos negócios  do  Turismo  Cultural,  aqui  envolvendo  inúmeros  dispositivos  possíveis  e  necessários.   No  caso específico do patrimônio histórico direcionado para  funções  turísticas – hoteleiras ou de entretenimento cultural  –  faz‐se  imperativo  o  controle  e  acompanhamento  das  autoridades  governamentais  de  âmbito Municipal, Estadual e Federal, visando ao bom desempenho no trato dos recursos destinados ao restauro, bem como no resultado adequado das intervenções feitas no patrimônio. 

O gosto ou perfil cultural particular de proprietários e gestores de bens históricos não pode ser o  fiel da balança no que diz respeito à qualidade e respeito aos estilos, materiais e características históricas a serem adotados  num  processo  de  restauração. Mesmo  quando  não  são  objetos  de  tombamento,  os  prédios históricos do Vale –  rurais ou urbanos –  já  são  relativamente protegidos por estudos,  inventários e pela própria Constituição, de modo que os pedidos de financiamento e crédito para as intervenções necessárias deverão ser submetidos à orientação técnica e orientadas e acompanhadas pelos órgãos oficiais para evitar eventuais danos ou descaracterizações ao patrimônio. 

Por fim, todas essas demandas, somadas à articulação existente e a se construir com instituições de fomento, como SENAC/SENAI/ SEBRAE/ SENAR/ SESC, justificam a criação de um “Programa Regional de Financiamento do  Turismo Cultural do Vale do Café”, proposta de  ação  estratégica que poderia  ser  aprofundada para  ser submetida, por exemplo, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES. 

O proprietário  rural, via de  regra, não está  familiarizado com os mecanismos de  renúncia  fiscal, e  tampouco dispõe  de  contatos  pessoais  junto  a  eventuais  empresas  de  elaboração  e  captação  de  recursos  para  levar adiante um projeto baseado nas leis de incentivo. Por outro lado, eles têm experiências bem sucedidas com o crédito  rural, utilizado  frequentemente para  a  renovação de pastagens, para  a  instalação de ordenhadeiras mecânicas ou para o plantio de  culturas  sazonais. O  crédito  confere  independência ao produtor, e  lhe dá a possibilidade de realizar os investimentos necessários à sua propriedade com autonomia e de modo planejado sem, contudo, ficar obrigado junto a outras partes além do agente financiador. 

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Algumas fazendas no Vale do Café (Fazenda Santa Rita, Valença; Fazenda São Luiz da Boa Sorte, Vassouras, dentre outras), enquadraram projetos de restauração nas  leis de  incentivo à cultura (Lei Rouanet e Lei do ICMS), visando à recuperação do seu patrimônio histórico. Para tanto, foram protocolados os pedidos de tombamento junto ao INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio de Janeiro, e iniciaram  a  captação  de  recursos  para  as  obras.  No  entanto,  não  são  todos  os  proprietários  que  têm aptidão, interesse ou condições para encaminharem projetos dessa natureza, como também para a busca de patrocínios empresariais. Afinal, trata‐se, na maior parte dos casos, de patrimônios familiares. Por outro lado,  as  instalações  para  a  hotelaria  nesses  patrimônios  não  está  contemplada  nas  propostas  de intervenção,  e,  seguramente,  estas  instalações  demandam  recursos  tão  altos  e  são  tecnicamente  tão exigentes quanto as obras de recuperação física. Considerando estas peculiaridades do mundo rural e das características específicas das propriedades históricas, uma ação viável e inquestionável é a instauração de um “Programa Regional de Financiamento do Turismo Cultural do Vale do Café”. 

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VII – SEGMENTOS DO PROJETO: ARQUITETURA   

As  viagens  de  pesquisa  de  campo,  realizadas  em  conjunto,  proporcionaram  à  equipe  de  arquitetos  do Projeto uma  visão do Vale do Café bastante diferente do que originalmente eles  imaginavam. Puderam observar proprietários empreendedores, conscientes da  importância da preservação, não apenas pela sua dimensão  histórica,  mas,  sobretudo,  pelo  significado  estratégico  que  representa  em  seus  respectivos negócios. O bem  tem que estar em bom estado, recuperado com zelo e autenticidade, pois ele é a base fundamental da economia criativa do Turismo Cultural. Suas observações revelam a fragilidade com que o patrimônio rural enfrenta as exigências de sua conservação e adequação ao turismo, hoje também a sua principal  –  se não  exclusiva  –  condição de  sobrevivência. Revelam  também  o  esforço que proprietários empreendem,  seja  do  ponto  de  vista  financeiro  (os  altos  custos  e  dificuldades  de  manutenção  e recuperação das  Fazendas e/ou de  seus acervos),  seja daquele da  falta de orientação e diálogo  com os órgãos oficiais responsáveis.  

Os arquitetos puderam perceber a  lacuna que existe no  trato da questão da preservação do patrimônio aqui, no Rio, no Brasil, em relação a outros países, onde a legislação e o entendimento das autoridades vão na direção do apoio, do  financiamento, da orientação  técnica e da  viabilização econômica deste  legado patrimonial que é compreendido em sua dimensão cultural mas, principalmente, como ativo econômico e social das comunidades detentoras desta riqueza.

Vale do Café ‐ Arquitetura, Patrimônio e Infraestrutura 

VII – 1. Valor Arquitetônico 

Predomina entre os proprietários uma consciência dos valores arquitetônicos existentes nas edificações das fazendas.  Entretanto,  raramente  torna‐se  claro  o  potencial  que  a  arquitetura  possui  para  o  negócio econômico.  A  conscientização  quanto  à  importância  da  integridade  do  patrimônio  para  a  valorização  e qualificação do negócio é fundamental.    

VII – 2. Patrimônio Histórico e Tombamento 

De modo geral, ainda é precária a compreensão do significado e do papel do patrimônio histórico para a sociedade. No Vale do Café, embora os proprietários tenham noção clara da importância da preservação ‐ alguns até desejam consagrar a preservação  (tombamento) de seu  imóvel  ‐ a maioria, no entanto, ainda tem aversão aos órgãos de defesa do patrimônio. A restauração, recuperação e manutenção do patrimônio histórico  só  adquirem  sentido  quando  esta  ação  torna‐se  um  agente  ou  um  fator  do  desenvolvimento econômico da propriedade. 

O  projeto  de  revitalização  do  acervo  existente  em  várias  das  fazendas  visitadas  deverá  ser  objeto  de integração com os projetos de  restauro e adaptação  física das  fazendas, possibilitando uma melhoria na apresentação, conservação e segurança dos objetos. 

 

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VII – 3. Queixas Frequentes 

Ausência  de  regras  claras,  de  normas  e  de  orientação  técnica  para  recuperação  e  manutenção  do patrimônio. Carência de informação: sobre fontes de recursos e procedimentos para obtê‐los; sobre como obter orientação técnica e mão de obra qualificada. 

Ocorrem também casos onde há uma demora excessiva na resposta por parte dos órgãos de preservação aos questionamentos dos proprietários gerando uma insatisfação dos mesmos. 

VII – 4. Mão‐de‐Obra para Obras de Restauro 

Foi  constatada  uma  dificuldade  na  obtenção  de mão‐de‐obra  adequada  para  a  execução  das  obras  de restauro, verificando‐se até a “importação” de mão‐de‐obra de outras localidades, tais como: Juiz de Fora e Tiradentes.  A  ocasião  é  propícia  para  que  se  desenvolva  uma  estrutura  de  formação  de mão‐de‐obra especializada através da  integração de órgãos e entidades, tais como: IPHAN, INEPAC, SENAI, unidades de ensino superior da região etc. 

A elaboração de  listagem de mão‐de‐obra  capacitada  requer uma  investigação muito mais aprofundada para  o  reconhecimento  e  credenciamento  destes  oficiais  e  empreiteiros.  É  importante  ressaltar  a dificuldade generalizada entre os proprietários de compreender o caráter indispensável de contratação de profissionais habilitados ao planejamento, condução e direção de obras desta natureza. Por conseqüência  verificam‐se resultados negativos como  má qualidade,  atrasos na conclusão, prejuízos financeiros etc. 

VII – 5. Formação de Custos e Orçamento das Obras  

Há uma complexidade na padronização de valores unitários para este tipo de obra em função dos seguintes aspectos: 

Características  muito  distintas  nas  tecnologias  originalmente  utilizadas  e  no  estado  de conservação de cada imóvel;  

Necessidade de prospecções anteriores para avaliação do estado geral de cada propriedade; 

A  variação  de  custo  dos materiais  antigos  (madeiramento,  telhas  canal  etc.)  em  função  da disponibilidade  ou  não  destes  no mercado  fornecedor  específico  (depósito  de materiais  de demolição).  Somente  a  formação  de  um  banco  de  dados  permitirá  se  obter  parâmetros confiáveis para a elaboração de tabelas de referência confiáveis.   

VII – 6. Sinalização 

A  sinalização  é outro ponto negativo. As placas  existentes  são poucas  e  estão  em mau  estado. Não há planejamento e uniformidade gráfica.  

É  indispensável  um  plano  que  articule  as  necessidades  das  fazendas  com  o  comprometimento  da administração pública  (prefeituras e órgãos do estado) em  implantar um  sistema de  comunicação visual atraente e forte para a região. 

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VII – 7. Infraestrutura 

Os acessos se constituem num dos maiores problemas da região. 

A partir das duas vias principais (Via Dutra, a BR 40 e BR 393) as rodovias de acesso à região se encontram em péssimo estado de conservação, com problemas, tais como a precariedade ou mesmo  inexistência de sinalização  e  o mau  estado  de  conservação  da  pavimentação.  Estes  problemas  têm  causado  prejuízos recorrentes ao Turismo Receptivo, desestimulando o afluxo de visitantes. 

VII – 8. Plano de Turismo  

É necessária a elaboração de um Plano que indique as diretrizes para o desenvolvimento turístico da região.  

VII – 9. Envolvimento do Governo Estadual 

Providências:  

Criação urgente de um documento capaz de seduzir e convencer as autoridades estaduais (em especial  Governador,  Vice‐Governador  e  Secretário  de  Desenvolvimento  Econômico)  da potencialidade de expansão econômica da  região e do caráter  indispensável do envolvimento do Governo Estadual estabelecendo uma parceria profícua com o capital privado já investido ao longo de décadas.  

Acentuar os vínculos com os próximos grandes eventos no Rio. 

VII – 10. Comunicação 

A  Região  deverá,  através  do  PRESERVALE  e  do  Conselho  Regional  (CONCICLO),  e  buscando  apoios institucionais adequados, criar um Plano de Comunicação  Integrado que possa, periodicamente, atuar na mídia viária, impressa e na web, informando e estimulando o Turismo Cultural, destacando o compromisso crescente dos proprietários e cidadãos com a preservação e auso sustentável dos patrimônios.  

Museus e Parques Naturais 

Foi empreendida, pela equipe de museólogos e assistentes do Projeto, durante três meses, uma verdadeira varredura nos principais museus, coleções e centros culturais da região. O relatório completo encontra‐se disponível no site do  Instituto PRESERVALE  (www.preservale.com.br). Vamos  transcrever, para efeito de comentário e sugestões, as principais conclusões do  trabalho, nas quais  inúmeras situações espelham as mesmas deficiências  identificadas na pesquisa pelo questionário, na  leitura dos arquitetos, na análise dos consultores  da  roteirização  e  da  capacitação.  Por  esta  razão,  não  reproduzimos  todos  os  relatórios  na íntegra:  seria  repetitivo  para  o  leitor.  No  entanto,  é  fundamental  que  as  questões  principais  sejam evidenciadas e apontadas as suas possíveis soluções. 

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Uma primeira observação, que atravessa todas as recomendações, é a da falta de pessoal qualificado para o cuidado das coleções, sejam mobiliário, documentos, obras e objetos de arte ou de natureza  técnica e científica. Não  existe,  igualmente,  tratamento destes  acervos,  catalogação,  classificação ou manutenção adequadas, o que evidencia uma percepção muito rudimentar da importância deste trabalho. Via de regra, os  responsáveis  por  estes  “museus”  são  voluntários,  pessoas  de  boa  vontade  ou  contratados  para  o atendimento  ao  visitante  (de modo  amadorístico),  sem qualquer  formação na  área. A  segurança destes acervos e dos prédios que os abrigam é inexistente, assim como inexistem as reservas técnicas ou critérios para exposições  temporárias ou eventuais. O que  se  vê é um  apanhado de  coleções, muitas  vezes  sem condições mínimas de cuidado na  sua exibição ou guarda, pondo em  risco a  integridade das mesmas. A necessidade de qualificação de pessoal se  impõe, sob pena de vermos perecer  todo este  rico arsenal de identidade cultural. Um processo de qualificação do pessoal teria um primeiro resultado: permitir que os guardiões destes acervos percebam o quão vulneráveis eles estão e o quanto é preciso fazer para que sua enorme  potencialidade  educativa,  cultural,  de  entretenimento  de  formação  da  identidade  regional  seja efetivamente usufruída por moradores e visitantes. 

 

 

A questão dos Parques Naturais, tendo em vista as diferentes esferas de gestão – privada, municipal, estadual – merece ser objeto de projetos específicos, visando a que sejam melhoradas suas condições  infraestruturais e que recebam divulgação integrada ao conjunto dos atrativos culturais e turísticos da região. 

SUGESTÕES DE AÇÕES ESTRATÉGICAS para a questão dos “MUSEUS” 

As sugestões que podem ser apontadas no caso são: 

Elaboração de documento dirigido às autoridades da cultura e da museologia locais, estaduais e federais  sobre o estado destes acervos e a necessidade de  investimento em um processo de qualificação  técnica e  institucional  (neste documento deve ser enfatizada a necessidade de se contar com pessoal devidamente capacitado para o funcionamento e manutenção destas casas de cultura abertas ao público). 

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Promoção  de  cursos  de  capacitação  para  o  pessoal  encarregado  destes  pequenos  “museus”, usando o termo dentro da ressalva feita anteriormente. 

Elaboração de projeto de conservação e restauração dos acervos mais significativos; 

Elaboração de projeto de catalogação das coleções locais e da região, que inclua a fotografia das peças, como medida de prevenção contra roubo e furto. 

Elaboração de projeto de modernização e requalificação museográfica e museológica da maioria dos citados espaços e coleções ditos “museus”. 

Elaboração de projeto de Educação Patrimonial visando a capacitação das professoras da rede pública e privada para o uso destas coleções e espaços ditos “museus” no processo de ensino e aprendizado. 

Sugestões de Ações Estratégicas para a questão dos PARQUES. 

Os  Parques Naturais  analisados  neste  relatório  necessitam  de  investimento  em  sua  infraestrutura  para viabilizar o  incremento da visitação;  será preciso elaborar um projeto comum que  facilite a captação de recursos  e  a  mobilização  social  em  defesa  destes  recursos  ambientais  e  culturais,  já  que  ambos  são documentos vivos da história e da paisagem cultural em que estão inseridos. 

O  Parque  Arqueológico  e  Ambiental  de  São  João Marcos  pode  ser  um modelo  ou  um  “piloto”  para  a adequação desta  infraestrutura e  tratamento paisagístico, destacando‐se a  instalação de um CENTRO DE VISITAÇÃO e, neste  caso especial, de  salas de estudo, pesquisa e Reserva Técnica do material  recolhido durante a escavação e implantação do Parque. 

Todos os Parques deveriam  ser dotados dos mesmos  recursos para  suportar e dar qualidade à visitação pública e escolar, incluindo banheiros, auditório e sala de refeições ou lanchonete. 

A  SINALIZAÇÃO  é  praticamente  inexistente,  bem  como  de  materiais  e  folhetaria  para  divulgação  e orientação ao turista que percorre a região. 

O  conjunto  de  PARQUES  naturais  e  de MUSEUS  identificados  neste  relatório  constitui  o  conteúdo  e  o objeto das AÇÕES E METAS DO “PARQUE CULTURAL” a ser criado, incluindo‐se aí a possibilidade de criação de um “PARQUE FLUVIAL DO RIO PARAIBA DO SUL”.  

Primeiros Passos: 

Considerando o exposto, sugerimos: 

1. A  elaboração de projeto de  conservação,  restauração  e qualificação dos  acervos  e pequenos “museus” da região; 

2. A  elaboração  de  projeto  didático  de  Educação  Patrimonial,  baseado  nos  acervos  e  coleções encontradas na região, para uso dos professores e alunos; 

3. A  elaboração  de  projeto  de  conservação  e  qualificação  da  infraestrutura  dos  Parques Ambientais da Concórdia, do Açude da Concórdia e do Santuário de Vida Silvestre da Serra da Concórdia; 

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4. A elaboração de alguns projetos “exemplares” em algumas das Fazendas Históricas analisadas e que já recebem visitação escolar e turística, conforme Indicação de Projetos ao final deste Relatório. 

5.  A  elaboração  de  projeto  de  qualificação  e  formação  de mão‐de‐obra  especializada  para  o serviço dos Museus, Parques e outros atrativos culturais da região; 

6. A plantação obrigatória de pequena área de pés de  café, nas propriedades que  se anunciam como “Fazendas de Café”, no Vale do Paraíba. 

Recomendações e Conclusões Finais 

O conjunto de estabelecimentos e ou instituições denominadas “museus” na região estudada não corresponde à definição de Museu aceita internacionalmente e proposta pelo ICOM/UNESCO. A única exceção parece ser a “Casa  da  Hera”,  em  Vassouras,  dependendo  do  nível  de  investimento  técnico  e  institucional  que  venha  a receber das autoridades do IBRAM/MINC, após a constatação de seu estado de decadência e abandono. 

O “Museu Rodoviário de Paraibuna” não pode ser considerado como tal, dado o estado de total abandono e  deterioração  em  que  se  encontra,  fazendo  jus  a  uma  denúncia  formal  por  parte  do  INSTITUTO PRESERVALE ao Ministério Público e ao INEPAC e IPHAN/IBRAM. 

Os demais museus analisados neste  relatório  também não  se  configuram  como  “instituições museológicas”, sendo na verdade coleções de temas diversos, coletados e organizados ao longo dos anos e abertos à visitação pública.  Caso dos Museus de Valença e de Conservatória. Podem funcionar como atrativos turístico‐culturais e educacionais, desde que passem por um processo de qualificação e reformulação. 

Em todos os casos, a ausência de pessoal técnico e de profissionais do setor está na origem dos problemas mais críticos, como a conservação e o estudo das coleções.  

Grandes Passos: 

1. A  elaboração  de  projeto  do  “PARQUE  CULTURAL  DO  VALE  DO  PARAÍBA”,  baseado  em  LEI ESTADUAL,  a  ser  decretada  por  iniciativa  das  Secretarias  de  Cultura,  Turismo,  Educação, Planejamento e Desenvolvimento Social; 

2. A elaboração de projeto de Lei visando o objetivo anterior; 

3. A elaboração de projeto para a criação do “PARQUE FLUVIAL DA BACIA DO PARAÍBA” e de Lei visando sua implantação; 

4. A  implantação  dos  “PARQUES”  acima  citados,  como  instrumentos  estruturantes  de  um programa  de  desenvolvimento  local,  que  envolva  a  conservação,  proteção  e  valorização  dos recursos naturais e culturais da região; 

5. A realização de FÓRUM regional, com a presença de autoridades públicas e privadas, bem como da sociedade, para discutir e aprofundar o conceito e os usos de tais instrumentos em benefício de todos. 

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Em  todas  estas  iniciativas,  a  ação  do  INSTITUTO  PRESERVALE  poderá  ser  o  motor  energético  que propulsione  um  processo  de  desenvolvimento  local  e  social,  com  a  participação  integrada  de  todas  as instâncias, de modo a que sejam alcançados os objetivos almejados e planejados.  

Um bom planejamento e uma boa difusão das propostas em diferentes e amplas esferas, articulando‐se um projeto intermunicipal, contribuirão para o sucesso do empreendimento. 

Roteirização Turística 

Resumo dos Objetivos do Trabalho de Roteirização: 

1. Elaborar  uma  listagem  combinando  atrativos  e  locais  de  hospedagem/alimentação  que  virá integrar  os  roteiros  de  cada  uma  das  regiões‐tema:  Barra  do  Piraí/Valença/Vassouras; Valença/Conservatória/Rio  das  Flores;  Vassouras/Paty  do  Alferes/Miguel  Pereira/Paulo  de Frontin; Barra do Piraí/Volta Redonda/Barra Mansa. 

2. Levantar contatos (endereços, telefones, websites e e‐mails) de todos os locais indicados; 

3. Compor  sugestão  de  itinerários  por  interesse  temático,  combinando  os  atrativos  listados  de modo a atender aos diferentes públicos‐alvo.  

4. Encaminhar aos Coordenadores da Pesquisa Qualitativa (José Matias de Lima e Pedro Quintslr) questionários de seu conhecimento que  tenham sido anteriormente aplicados sobre os  temas referentes a essa área de atuação. 

Atividades Desenvolvidas:  

1. Elaboração de um plano de visitas aos atrativos turísticos, atrativos em potencial; equipamentos e artesanato, combinando roteirização, negócios sustentáveis, financiamento e museologia.  

2. Elaboração de uma  ficha para cada município da  região das Fazendas Históricas, contendo os seguintes  dados:  caracterização  do  município  (área,  população,  clima  etc.);  transportes rodoviários; posto de informações turísticas; ponto de táxi; correio; estabelecimentos bancários; serviço 24 horas (hospitais/pronto socorro, drogarias, posto de abastecimento e delegacia); lan house; espaços culturais; atrativos culturais; fazendas abertas à visitação pública; restaurantes; hotéis e pousadas; artesanato. Os critérios adotados para a escolha dos serviços, equipamentos e atrativos turísticos de cada município foram os seguintes: está em boas condições de acesso e de higiene; ser de interesse histórico‐cultural e ecológico; está funcionando regularmente já há algum  tempo.  Foram utilizados  também  ícones para  classificação dos meios de hospedagem, restaurantes  e  atrativos,  tais  como:  Para  atrativos:  Vale  a  viagem  ***, merece  a  visita  **, interessante*.  Para meios  de  hospedagem:  ^^^  confortável,  ^^ médio  conf.,  ^  simples.  Para restaurantes:  xxx excelente cozinha,  xx médio,  x  regular.   As  fichas  serão destinadas ao  sítio do PRESERVALE.       

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3. Foram  elaborados  opções  de  roteiros  turístico‐temáticos,  combinando  atrativos  listados  de modo a atender a diferentes públicos‐alvo. Os roteiros são os seguintes: 1.Volta Redonda, Barra Mansa, Piraí e São João Marcos; 2. Valença, Rio das Flores e Conservatória; 3.Vassouras, Barra do Piraí e Conservatória; 4. Miguel Pereira, Paty do Alferes e Engenheiro Paulo de Frontin. A partir de  cada um dos quatro  roteiros, estabelecemos uma cidade para dar nome ao  roteiro. Para  isso  foram  adotados  os  seguintes  critérios: melhor  e  a maior  ocorrência  de meios  de hospedagem, gastronomia, maior números de atrativos turísticos e equidistância (um raio de no máximo 30 km de um atrativo do outro). Com o objetivo de atender os diferentes públicos‐alvo, cada atrativo foi  identificado com um  ícone, que são os seguintes: atrativo Cultural “C”, Étnico “E”, Ecológico “ECO”, Gastronômico “G”, Histórico “H”, Lazer “L”, Pedagógico “P” e Produção “PR”. Foram listados os atrativos de cada cidade incluindo os telefones de contato, bem como, das Secretarias Municipais de Turismo. 

Informações Complementares e Conclusões da Equipe 

Durante  as  visitas  técnicas  aos  atrativos  e meios  de  hospedagem  da  cada  cidade,  foram  constatados diversos problemas que impedem o bom funcionamento da atividade turística, tais como: 

1. Acessibilidade: Cerca de 99% dos atrativos  turísticos não possuem qualquer  tipo de  indicação ou acesso de cadeirantes ou qualquer outro tipo de pessoas com necessidades especiais.    

2. Limpeza  das  Cidades:  A maior  parte  das  cidades  da  Região  está  com  sérios  problemas  de limpeza urbana. Algumas permanecem limpas durante os dias da semana, porém aos sábados e domingos  ficam  sujas.  Principalmente  em  dias  de  eventos.  Acreditamos  que  a  colocação  de lixeiras em locais públicos (praticamente inexistentes nos municípios da região) e campanhas de conscientização da população, além de coleta de lixo sistemática, também colaborariam para a melhoria dessa situação. 

3. Guias de Turismo Credenciados: Há alguns bons Guias de Turismo atuando no Vale, porém a maioria  não  é    credenciada  como manda  a  Lei,  ou  seja,  enquadrados  no  exercício  ilegal  da profissão.    Existe  um  curso  de  formação  de Guias  de  Turismo  em Valença,  cuja  chancela  do Ministério do Turismo foi dada à Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro. O Curso que funciona no Colégio Estadual Coronel Benjamim Guimarães, forma profissionais todo ano. Muitos desses profissionais não são absorvidos pela ausência de formação específica para atuação no Vale do Café. Além de não falarem idiomas, estes Guias carecem de noções sobre a história,  características  dos  atrativos  e  da  cultura  regional,  indispensáveis  para  um  bom guiamento no Vale. Muitos acabam dedicando‐ se a outro  tipo de atividade. Dos “Guias” que atuam  em  todo  o  Vale,  muitos  acabam  trabalhando  como  freelancers  e  geralmente  são indicados pelos hotéis que trabalham com roteiros das Fazendas Históricas.   

4. Posto de Informações Turísticas: A maioria das cidades da região possui instalações de Posto de Informações  Turísticas,  porém  encontram‐se  desativados  (90%).  Alguns  até  mesmo  em localização estratégica como no caso da cidade de Piraí, uma das principais entradas do Vale. Na cidade de Rio das Flores, o Posto tem funcionado com regularidade.   

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5. Profissionais  de  Vários  Segmentos  do  Turismo:  Não  avaliamos  os  profissionais  quanto  ao  seu conteúdo técnico, mas sim no aspecto sobre conhecimentos gerais sobre as cidades em que atuam. A falta de informação é muito grande. Além disso, durante o último ano, as universidades da região encerraram seus cursos de Turismo, deixando de qualificar profissionais que se fazem necessários para  o  desenvolvimento  do  setor.  Cabe  aqui  uma  reflexão  sobre  a  viabilidade  de  utilização  dos conteúdos oferecidos por esses cursos no dia‐a‐dia dos equipamentos turísticos da região. Será que eles atendiam às necessidades de ordem prática do turismo da região do Vale do Café? 

6. Atrativos: Podemos dividir em duas categorias  ‐ os urbanos (espaços de memórias) e as Fazendas Históricas. No que se refere aos atrativos urbanos, além dos problemas  já colocados em relação à acessibilidade, ressaltamos que a maioria dos monitores que recebem o visitante (quando o atrativo os possui) não é preparada ou treinada para tal, salvo algumas exceções. Geralmente são voluntários que disponibilizam  tempo para atuar nos espaços culturais. Quando estes espaços são Museus, a situação  se  agrava,  pois,  nem mesmo  os  responsáveis  pela  administração  do  espaço  possuem qualquer formação museológica ou outra similar. Também atuam como voluntários. Há exceções, como é o caso do Museu Capitão Pitaluga, em Valença, embora o espaço seja muito exíguo. A falta de recursos financeiros e profissionais capacitados é seu principal problema. A maioria é dependente do poder público.  Nas Fazendas Históricas, a situação é um pouco diferente, mesmo porque o foco da  visita  é  a  história  da  propriedade  contada  pelo  proprietário,  que  pode  ser  dividida  em  duas etapas: como se vivia e quem foram os proprietários da fazenda; e a segunda etapa, quando o atual proprietário  a  adquiriu  e  qual  a  experiência  dele  naquela  fazenda.  Esta  característica  de interpretação do patrimônio criou uma marca para cada fazenda, sem, no entanto, perder o foco da história.  A  história  da  maioria  das  fazendas  em  funcionamento  é  interpretada  pelo  próprio proprietário, com boa qualidade de informação (o suficiente). A maior parte das Casas de Fazendas que integram o rol do PRESERVALE são limpas, bem cuidadas e preparadas para receber o visitante. Algumas  estão  em  estado  precário  de  conservação  precisando  urgentemente  de  restauração. Quanto  ao  bom  funcionamento  da  atividade  turística  ressaltamos  como maiores  problemas:  a acessibilidade,  as  estradas  de  acesso  (principalmente  as  estradas  de  terra),  a  sinalização  e  as telecomunicações (telefonia convencional/celular/internet). Gostaríamos de ressaltar a importância de capacitação para os proprietários que estão abrindo suas propriedades no momento, para que os mesmos possam adequar‐se aos padrões de qualidade esperados pelo setor turístico,  levando em conta a profissionalização dos serviços, bem como a preservação do patrimônio. 

7. Artesanato:  Poucos  são  os  artesãos  em  atividade  comercial  nas  fazendas  ou  nos  pontos  de venda dos municípios cujo  trabalho se  identifica com a cultura e as histórias regionais; alguns até mesmo se enquadram como trabalhos de terapia ocupacional ou trabalhos manuais.  

8. Site  na  Web:  Quase  todos  os  sites  visitados,  principalmente  os  institucionais  não  fazem qualquer  referência  à  Região  do  Vale  do  Café.  Alguns municípios  sequer  citam  as  fazendas abertas  à  visitação. Outros  citam  atrativos que nem existem mais,  como é o  caso do  site da Prefeitura  de  Vassouras,  que  inclui  a  Fazenda  do  Pocinho  como  atrativo  turístico  quando  a mesma foi demolida há mais de dez anos. Outros  incluem atrativos aos quais os visitantes não têm acesso.  

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9. Sinalização  Turística:  Tendo  em  vista  as  normas  estabelecidas  pelo  “Guia  Brasileiro  de Sinalização  Turística”,  verificamos  que  a  sinalização  do  Vale  do  Café  se  encontra  aquém  do desejado  em  uma  região  que  busca  o  desenvolvimento  sócioeconômico  proporcionado  por empreendimentos  turísticos  ordenados  e  sustentáveis.  Encontramos  as  fazendas,  alguns atrativos  e  as  entradas  dos municípios  sinalizadas,  porém  não  há  sistematização  no modelo adotado, tampouco padronização das placas existentes, o que pode provocar confusão e ruído na comunicação pretendida. 

10. Patrimônio Histórico: Houve um  avanço quando  importantes  sítios históricos  como os da cidade  de  Valença,  Vassouras  e  Conservatória  foram  tombados  pelo  poder  público,  em diferentes épocas e níveis administrativos.  Foram  criados dois escritórios  técnicos: um do IPHAN,  em Vassouras,  e outro do  INEPAC,  em Valença. A demanda  é  grande  e  a  falta de recursos é maior.  Infelizmente os órgãos de patrimônio não conseguiram conter a ruína de importantes  patrimônios  como  o  Solar  do  Barão  de  Vassouras  e  o  Asilo  do  Barão  do Amparo, em Vassouras, e o Solar dos Nogueira e a Chácara Barcelos em Valença, apesar de seus  esforços.  A má  fé  e  a  falta  de  informação  são  os maiores  inimigos  do  Patrimônio Histórico.  O  Patrimônio  Rural  é  o  que  mais  sofre  e  está  desaparecendo  aos  poucos. Fazendas  são  demolidas  ou  descaracterizas  na  calada  da  noite.  O  IPHAN  tombou  em diferentes épocas as Fazendas Santa Mônica e Santa Eufrásia  (esta em estado precário). O INEPAC tombou recentemente as Fazendas Ponte Alta, Ribeirão Frio, São Paulo, Santa Rita, Vista Alegre,  Santo Antônio do  Paiol, Maravilha,  Santo André,  São  Luís da Boa  Sorte,  São Domingos,  Espuma  e  Forquilha.  Algumas  dessas  fazendas  foram  salvas  da  demolição  e outras  contempladas  com  as  Leis  de  Incentivos  Culturais  para  fins  de  restauração.  O Patrimônio Ferroviário é imenso e, como as fazendas, também precisa de cuidados. 

11. Terminais  Rodoviários  ou  Estações  Rodoviárias:  “são  estruturas  onde  ônibus  urbanos  ou interurbanos param para que passageiros embarquem ou desembarquem. Distinguem‐se da parada de ônibus pela sua maior dimensão e  infraestruturas oferecidas aos usuários  ‐ normalmente uma paragem é simplesmente um local na beira da estrada ou passeio ‐ e por frequentemente ser o local de  início  e  término  de  carreiras”  (Wikipédia).  Constatamos  que  poucas  cidades  da  região  estão devidamente aparelhadas nos seus terminais rodoviários, salvo raras exceções, como as rodoviárias de Volta Redonda  (melhor equipada), Barra Mansa e Valença, para o atendimento adequado aos viajantes.  Banheiros  imundos,  guichês  desorganizados,  bancos  e  cadeiras  quebrados  (como  em Vassouras)  ou  inexistentes,  falta  de  informação  e  lanchonetes  que  não  passariam  pelo  crivo  de inspeção  sanitária  são alguns dos problemas encontrados. No  caso de Paracambi,  constatamos a total inexistência de um terminal rodoviário. Verificamos ainda que não há informações relativas às conexões dos municípios da região entre si.   

Indicações: 

Melhoria nas estradas e nos terminais rodoviários; 

Sinalização indicativa de acessos ao Vale do Café; 

Painéis informativos sobre conexões entre os municípios; 

Postos de informações turísticas em pleno funcionamento; 

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Qualificação do atendimento ao turista; 

Qualificação de Guias Turísticos Regionais; 

Conscientização e preparo das populações locais para interação efetiva com os turistas; 

Plantio de café nas propriedades e criação de cafeterias especializadas em degustação.  

 

Mão‐de‐Obra: Diagnóstico e Necessidades de Qualificação Profissional 

1. Introdução 

Com  base  nas  visitas  e  informações  levantadas  na  pesquisa  realizada  pela  equipe  do  Projeto  “Ações Estratégicas de Revitalização do Vale do Café” foi possível  identificar as carências existentes na formação de pessoas, bem como a potencial demanda que a própria região apresenta por profissionais qualificados, a fim de viabilizar o Vale do Café como uma alternativa econômica de desenvolvimento através do Turismo Cultural e Educacional. 

2. Objetivos 

Identificar as  carências na  formação de pessoas para atuar nos diferentes nichos do Turismo Cultural, a saber, na Hotelaria, no Atendimento ao Visitante, na área de serviços de alimentação, transportes, guiamento  turístico, assim como nos Espaços de Memórias e Fazendas Históricas do Vale do Café; 

Mapear as necessidades de profissionais no Vale do Café para maximizar o turismo local; 

Reconhecer as mais apropriadas estratégias para capacitar e desenvolver pessoas para atender ao potencial do Vale do Café. 

3. Diagnóstico da Mão‐de‐Obra no Vale do Café 

A  região  do  Vale  do  Café  vem  crescendo  como  destino  turístico‐cultural  para  o  mercado  nacional  e internacional. No entanto, as carências de mão‐de‐obra representam hoje um fator crítico, seja do ponto de vista dos negócios – que demandam pessoal minimamente qualificado – quanto das oportunidades de emprego e  renda, pois as populações não dispõem de capacitação nos segmentos em demanda, criando um “gap” entre os empregos disponíveis e a possibilidade de ingresso do pessoal em busca de emprego. 

No tocante aos serviços de recepcionista, garçom, cozinheiro e arrumadeira, segundo a Pesquisa Especial realizada  pelo  Projeto  “Ações  Estratégicas  de  Revitalização  do  Vale  do  Café”,  encontra‐se  oferta  de posições  e  pouca  ou  nenhuma  oportunidade  de  treinamento,  a  não  ser  aquele  fornecido  pelos empreendedores no estabelecimento de trabalho. 

Da mesma forma, as pessoas ocupadas do guiamento de turistas, embora dispondo de curso de formação, enfrentam carências de qualificação que limitam sua inserção no mercado de trabalho. 

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De  acordo  com o Relatório de Roteirização,  apresentado  pelos  coordenadores do  segmento no  Projeto “Ações”, existe um Curso de  Formação de Guias de Turismo em Valença, de nível médio  (técnico), que funciona no Colégio Estadual Coronel Benjamim Guimarães, com a chancela do Ministério do Turismo, sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro. 

No entanto, a maioria dos profissionais formados não é absorvida pelo mercado de trabalho da região, devido à falta de qualificação profissional específica na temática histórica e cultural do Ciclo do Café, bem como pela falta de qualificação em idiomas estrangeiros, resultando que muitos decidem dedicar‐se a outro tipo de atividade.  

De  outro  lado,  os municípios,  atrativos, museus,  parques  naturais,  fazendas  e  hotéis  vivem  a  falta  de guiamento especializado na região como um fator extremamente limitante nos negócios.  

Foi  constatado  que  no  último  ano  (2009),  as  universidades  dessa  região  encerraram  seus  cursos  de Turismo, com exceção da Universidade Severino Sombra, de Vassouras, o que  resultará, certamente, em escassez de profissionais no Vale do Café.  

O diagnóstico dos profissionais que atuam no Vale do Café revelou a seguinte situação: 

3.1 – Profissionais de Guiamento e Receptivo de Turismo. 

Os profissionais de guiamento possuem precária especialização, enquanto os envolvidos na  recepção de turismo atuam sem formação, adquirindo algum conhecimento através de treinamento em serviço.  

3.2 – Proprietários e Gestores de Fazendas, Museus e Espaços Culturais. 

A grande maioria dos proprietários das fazendas atua como Monitores, uma vez que já conhecem a história da propriedade ou passaram a conhecer através de realização de pesquisa histórica. Alguns proprietários investem na formação de Monitores que ocorre no próprio  local, com a socialização do conhecimento do proprietário para formar o Monitor que irá atuar junto aos visitantes. 

Nos Museus  e  Espaços  Culturais  verificou‐se  também  que  os  responsáveis  pela  administração  desses espaços, em sua maioria, não possuem formação específica na área, acarretando sua desvalorização, uma vez que inexistem formas adequadas de explorar o potencial existente.  Foi constatada ausência de pessoal técnico para atuar nas áreas de conservação e de estudo das coleções existentes nos diversos Museus, bem como de profissionais capacitados em recepção e segurança.  

É necessário destacar a dificuldade em obter profissionais especializados em obras de restauração das fazendas no Vale do Café, o que leva a importação de mão‐de‐obra de outros locais, como Tiradentes e Juiz de Fora.    

3.3 – Pessoal de Hotelaria Rural. 

Recepcionista, garçom, camareira entre outros profissionais de hotelaria apresentam pouca qualificação para atuar nos cargos, sem o profissionalismo necessário para assegurar o pleno atendimento dos visitantes.  

3.4 – Profissionais de Campo. 

A mão‐de‐obra local que atua nas Fazendas Históricas – horta, jardim, piscina, “peões” entre outros ‐ não está preparada para o turismo, com foco apenas nas tarefas relativas ao desempenho da sua função.