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ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO PROFISSIONAL RESUMO Relatório Final de Estágio Supervisionado, que teve por objetivo descrever uma experiência de estágio vivenciada na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, realizado em órgão Público do Estado de Pernambuco, em Unidade voltada para a gestão de pessoas. A principal atividade realizada foi a de Atendimento e Acompanhamento Psicológico de Servidores em Casos de Disfunção Profissional. Para dar suporte teórico às atividades, foram usados, basicamente, os fundamentos da Orientação Profissional e do Aconselhamento Psicológico, além de estudos e discussões acerca das principais demandas trabalhadas. As principais questões encontradas com relação à Disfunção Profissional durante a prática estiveram relacionadas ao alcoolismo, a depressão, ao estresse e ao relacionamento interpessoal. A atividade de acompanhamento consistiu, essencialmente, em atender as pessoas que estavam apresentando um desempenho deficiente no local de trabalho, para oferecer o apoio necessário à readaptação às rotinas de trabalho e, dependendo da complexidade dos casos surgidos, fazer orientações no sentido de encaminhar os demandantes para acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico da própria instituição, ou, até mesmo, para tratamento/internamento em clínicas especializadas. Para promover a integração entre teoria e prática, a estagiária foi supervisionada por profissional habilitado na área e orientada na Universidade por professor com conhecimentos técnicos sobre o campo de atuação do Psicólogo Organizacional e do Trabalho. O objetivo desta experiência foi proporcionar a oportunidade de se aplicar as competências profissionais do psicólogo na prática cotidiana de uma organização, na perspectiva de uma melhor formação. Palavras chave: Psicologia; Disfunção profissional; Acompanhamento.

ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO …newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/2011/3re-MariaSoutoMaior.pdf · 2011. 9. 21. · UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA

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ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO PROFISSIONAL

RESUMO

Relatório Final de Estágio Supervisionado, que teve por objetivo descrever uma experiência de estágio vivenciada na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, realizado em órgão Público do Estado de Pernambuco, em Unidade voltada para a gestão de pessoas. A principal atividade realizada foi a de Atendimento e Acompanhamento Psicológico de Servidores em Casos de Disfunção Profissional. Para dar suporte teórico às atividades, foram usados, basicamente, os fundamentos da Orientação Profissional e do Aconselhamento Psicológico, além de estudos e discussões acerca das principais demandas trabalhadas. As principais questões encontradas com relação à Disfunção Profissional durante a prática estiveram relacionadas ao alcoolismo, a depressão, ao estresse e ao relacionamento interpessoal. A atividade de acompanhamento consistiu, essencialmente, em atender as pessoas que estavam apresentando um desempenho deficiente no local de trabalho, para oferecer o apoio necessário à readaptação às rotinas de trabalho e, dependendo da complexidade dos casos surgidos, fazer orientações no sentido de encaminhar os demandantes para acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico da própria instituição, ou, até mesmo, para tratamento/internamento em clínicas especializadas. Para promover a integração entre teoria e prática, a estagiária foi supervisionada por profissional habilitado na área e orientada na Universidade por professor com conhecimentos técnicos sobre o campo de atuação do Psicólogo Organizacional e do Trabalho. O objetivo desta experiência foi proporcionar a oportunidade de se aplicar as competências profissionais do psicólogo na prática cotidiana de uma organização, na perspectiva de uma melhor formação. Palavras chave: Psicologia; Disfunção profissional; Acompanhamento.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO PROFISSIONAL

MARIA CECÍLIA SOUTO MAIOR DA FONSÊCA

Relatório Final de Estágio Supervisionado

Relatório de estágio supervisionado, elaborado pela aluna Maria Cecília Souto Maior da Fonseca, sob orientação do Prof. José Teotonho de Barros Padilha, apresentado ao colegiado para conclusão do Curso de Psicologia.

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1. INTRODUÇÃO

As definições da Psicologia têm variado ao longo dos anos e são reflexo da linha

teórica escolhida por seus autores. Muchinsky (2004, p.2) a define “como um estudo

científico do pensamento e do comportamento”. A partir desse conceito, é imperioso

destacar que Psicologia passou a ser vista como ciência apenas no final do século XIX,

quando Wilhelm Wundt criou o primeiro Laboratório de Experimentos em

Psicofisiologia, na Alemanha. Desde então, esta ciência foi se distanciando de idéias

abstratas e espiritualistas, fortalecendo seu vínculo com princípios e métodos

científicos.

A Psicologia científica parece ter se consolidado apoiada nos fundamentos de

três escolas em especial, quais sejam: Associacionismo, Estruturalismo e

Funcionalismo. Com o seu desenvolvimento, surgiram novas teorias que deram um

novo rumo à Psicologia e dentre essas, as mais importantes são: Behaviorismo, Gestalt e

Psicanálise (Bock, 2002).

Os profissionais da área de Psicologia, ao que nos parece, possuem uma atuação

muito especializada, de modo que precisam desenvolver e aplicar, da melhor forma,

uma intervenção no processo psicológico do homem, para que este possa enfrentar, com

possibilidade de sucesso, as dificuldades encontradas. Os conhecimentos adquiridos por

meio de pesquisas científicas contribuem para uma correta e efetiva atuação dos

psicólogos.

Mas é a partir das informações obtidas no contato com o seu cliente, que o

psicólogo decidirá de que forma procederá sua intervenção, podendo esta se dar, por

exemplo, através de uma terapia, de um treinamento, orientação de grupo ou até mesmo

uma intervenção institucional, sempre visando a melhoria da saúde e bem-estar daquele

que está recebendo o seu serviço.

A Psicologia pode ser subdividida em diversas especializações, e dentre essas, a

área que reúne o maior número de psicólogos é a psicologia clínica. Mas é

imprescindível ressaltar que a Psicologia deve ser vista como um todo, podendo ser

aplicada em diversos espaços. Interessante o entendimento de Bock (2002, p. 159):

Estamos querendo dizer, com isso, que não há uma Psicologia Clínica, outra Escolar, e ainda outra Organizacional, mas há uma Psicologia, como corpo de conhecimento científico, que é aplicada a processos

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individuais ou a relações entre pessoas, nas escolas, nas indústrias e nas clínicas, assim como em hospitais, presídios, orfanatos, ambulatórios, centros de saúde etc.

Como a área de atuação do psicólogo pode ser muito ampla, vamos deter nossos

relatos à inserção do homem no ambiente de trabalho e o estudo da Psicologia acerca

deste tema. Passemos a uma breve explanação sobre a Psicologia Organizacional e do

Trabalho.

A Psicologia Organizacional, segundo Spector (2004), surgiu diante da

necessidade de se estudar o homem e suas relações dentro das organizações; há uma

preocupação maior com o indivíduo do que havia na Psicologia Industrial.

Compreender o comportamento humano e aumentar a satisfação do trabalhador no

ambiente laboral aparecem como principais objetivos dessa área de estudo da

Psicologia.

Em sua atuação, o psicólogo organizacional parece envolver o uso de princípios

psicológicos para resolver problemas (como, por exemplo, o estresse e um desempenho

deficiente) que interferem na capacidade produtiva, mas não fazem um atendimento

clínico, embora possam e até devam recomendá-lo.

A fim de expressar com mais detalhes a atuação do psicólogo organizacional,

segue o pensamento de Spector (2004, p.05):

Os psicólogos organizacionais não lidam diretamente com os problemas emocionais ou pessoais do funcionário. Essa atividade pertence ao domínio da psicologia clínica. Entretanto, um psicólogo organizacional pode recomendar a contratação de um psicólogo clínico para auxiliá-lo em problemas como o de alcoolismo.

A expansão da Psicologia Organizacional e seu processo de desenvolvimento

aconteceram a partir de 1913, conforme evolução relatada por Spector (2004):

Quadro 01: Linha do tempo com os principais acontecimentos da Psicologia Organizacional:

Quadro 01. LINHA DO TEMPO COM OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

1913 É publicado o primeiro compêndio de psicologia organizacional

1917 São desenvolvidos os testes psicológicos para admissão de funcionários

1921 O primeiro Ph.D. de psicologia organizacional é concedido

1921 A Psychological Corporation é fundada

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1924 São iniciados os estudos de Hawthorne

1939 Inicia a Segunda Guerra Mundial

1964 A lei que protege os direitos civis é aprovada nos Estados Unidos

1970 A APA (Associação Americana de Psicologia) aceita o nome da Divisão de Psicologia Industrial e Organizacional

1991 A lei que favorece os americanos com invalidez é aprovada nos Estados Unidos

From: Spector (2004)

O progresso da história da Psicologia Organizacional mostrou a preocupação em

trazer melhores condições de trabalho para os funcionários. De tal modo, percebe-se que

a Psicologia Organizacional surge no ambiente de trabalho visando fortalecer as

relações humanas que ali se estabelecem; atua na compreensão dos comportamentos

apresentados, buscando proporcionar o bem-estar para os trabalhadores (tanto físico

como emocional), dentro das organizações.

Os estudos de Spector (2004) mostram que as principais atividades dos

psicólogos organizacionais parecem estar relacionadas à: análise de tarefas e sua

condução, objetivando solucionar a demanda organizacional; realização de pesquisas;

planejamento e execução de programas voltados à seleção, treinamento avaliação de

desempenho de funcionários; implementação de mudanças organizacionais.

Uma visão mais recente nos mostra que a Psicologia Organizacional possui um

vínculo com as atividades administrativas de uma empresa e suas metas podem

extrapolar a visão tradicional de ‘adequação’ dos indivíduos ao ambiente de trabalho.

Nesse sentido, o pensamento de Zanelli (2002, p. 35):

Trata-se de priorizar o desenvolvimento da pessoa, por meio de mudanças planejadas e participativas, nas quais o homem possa adquirir maior controle de seu ambiente. O crescimento individual a que se pretende, deve conduzi-lo a aprender sua inserção nas relações do grupo com a estrutura organizativa e com a sociedade.

Com relação à Psicologia do Trabalho, Campos (2008) nos informa que esta é

advinda da Psicologia Organizacional e busca a valorização da dignidade e da

subjetividade da pessoa humana nas relações entre trabalhador e empresa. A Psicologia

do Trabalho aparece como interlocutora do trabalhador no espaço organizacional em

que ele está inserido.

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O psicólogo do trabalho, assim, atua nas dificuldades organizacionais ligadas à

gestão de pessoas e estuda o comportamento humano na relação de trabalho. O campo

de atuação do psicólogo do trabalho não se restringe apenas aos trabalhos de

recrutamento, seleção e treinamento de pessoal. Campos (2008, p.06) aponta uma

possibilidade de atuação realmente muito ampla do psicólogo do trabalho e diz:

Creio ser pertinente ainda à atuação do psicólogo do trabalho propor alternativas para o desemprego, trabalho em cooperativas, táticas e estratégias de sobrevivência organizacional e, mais precisamente, debater os processos psicossociais que possibilitam a construção de relações significativas.

No entendimento de Fiorelli (2003), a atuação do psicólogo dentro da

organização se faz de maneira ampla, contemplando fenômenos relacionados ao

funcionamento de indivíduos e grupos, estendendo-se às mais diversas áreas e

abarcando diversos fatores (estruturais e socioculturais), que afetam o indivíduo e a

Organização.

Conflitos interpessoais podem surgir a qualquer momento no ambiente de

trabalho e, diante destes, é fundamental que o psicólogo trabalhe com a equipe, usando

técnicas comportamentais e cognitivas que contribuam para tornar os profissionais

menos sensíveis a essas situações e com mais habilidade para gerenciá-las.

No que diz respeito à melhoria das relações interpessoais no ambiente de

trabalho, Fiorelli (2003, p. 25) nos informa que “técnicas ligadas à habilidade para dar e

receber feedback e aumento da disposição para o trabalho cooperativo vêm obtendo

sucesso, nas mais diversas organizações”. Após essas ações do psicólogo no ambiente

de trabalho, tanto os funcionários como a organização podem, ambos, ser beneficiados.

Por fim, pode-se percebe que o papel do psicólogo dentro da organização se faz

necessário para promover o crescimento pessoal e profissional dos funcionários, bem

como contribuir para o bem-estar destes quando no ambiente laboral.

1.1. Importância do Estágio Profissional em Psicologia Organizacional e do Trabalho.

A vivência do estágio se mostra como um momento essencial para uma boa

formação profissional, pois é durante essa prática que o estudante faz um treino acerca

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da matéria aprendida na graduação. O estágio possibilita ao estudante integrar as

diversas disciplinas do curso e testar o seu conhecimento sobre elas.

O estágio proporciona ao aluno a oportunidade de verificar, antecipadamente,

como será sua vida enquanto profissional; como é a realidade prática daquilo que está

aprendendo na teoria.

Durante a realização dessa experiência, é possível se perceber que além de serem

chamados a promover a integração entre teoria e prática, os estudantes são

supervisionados por um profissional da área, geralmente com conhecimento técnico,

que os instiga a solucionar demandas sociais de maneira inovadora. Ao fazer referência

aos objetivos do estágio, Campos (2008, p. 13) faz as seguintes colocações:

Os estágios objetivam oferecer treinamento e orientação em forma de supervisão; capacitar o aluno de forma ética, técnica e conceitual; atender da maneira mais eficaz possível às demandas da comunidade; e reavaliar continuamente os programas aplicados.

Outra importância do estágio está no acompanhamento feito por um supervisor,

pois esta supervisão tem como um dos objetivos sanar dificuldades encontradas pelo

estagiário no exercício da atividade profissional.

Essa troca de informações e saberes entre estagiário e supervisor parece

indispensável para o bom acompanhamento do caso ou situação, além de capacitar o

estudante para a compreensão e manejo de situações institucionais e de grupo, onde lhe

é possibilitado traçar e expor estratégias para a melhor solução do caso. Avaliações

contínuas e pontuações acerca do desempenho de suas atividades se mostram muito

enriquecedoras para aquele que está dando os primeiros passos como profissional.

O estágio, para quem estuda e pretende atuar na área de Psicologia

Organizacional e do trabalho é muito importante, pois, é nesse momento que o

estudante inicia o processo de conhecimento real da organização. A partir de então, vai

se tornando capaz de fazer uma análise do contexto organizacional, identificando os

pontos fortes e fracos da instituição, pensando em possíveis intervenções, a fim de

elevar a capacidade produtiva como um todo.

Perante as constantes mudanças que a globalização impõe às organizações,

mostra-se de grande importância uma familiarização do estudante com a realidade

institucional, para que possa intervir, quando acionado, da maneira mais eficiente.

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1.2. Acompanhamento Psicológico e Disfunção Profissional.

A experiência de estágio desenvolveu-se em órgão Público do Estado de

Pernambuco, mais precisamente em Unidade voltada para a gestão de pessoas. Essa

Unidade, onde se realizou a experiência de estágio, tem por missão acompanhar e apoiar

os seus colaboradores, buscando a melhoria de seu desempenho laboral, através de

ações que visem seu bem-estar e qualidade de vida, contribuindo, assim, na eficácia da

prestação dos serviços. Compete, então, à unidade, criar sistemas de acompanhamento

dos servidores que estão apresentando dificuldades no seu desempenho profissional.

Basicamente, essas eram as principais atividades realizadas pela referida

Unidade: acompanhamento de servidores com inadequação e/ou disfunção profissional;

desenvolvimento de projetos e programas voltados para a valorização dos servidores -

principalmente em prol dos servidores com deficiência; além de realizações de eventos

voltados à capacitação de servidores dentro de temáticas específicas.

Em meio a todas as atividades citadas como realizadas e desenvolvidas pela

Unidade, a que a estagiária desempenhou 90% do tempo em que se encontrou à

disposição da Instituição concedente do estágio foi a de acompanhamento psicológico

de servidores que apresentavam disfunção profissional.

É possível perceber uma semelhança entre os atendimentos realizados na

Unidade com aquilo que prega o Aconselhamento, pois, a psicóloga da unidade e a

estagiária faziam considerações sobre a situação de disfunção do servidor e refletiam,

junto com ele, quais as novas diretrizes que poderiam ser tomadas a fim de obter uma

melhora na qualidade de vida daquele servidor, tanto a nível profissional como pessoal.

Pôde-se perceber a estreita relação entre aquilo que foi trabalhado no estágio e o

Aconselhamento, a partir da definição de Rosenberg (1987, p. IX): “Aconselhar, nesse

sentido, não significa fazer ou pensar pelo outro, mas fazer ou pensar com o outro”.

Havia um trabalho de ajuda, para que o indivíduo pudesse escolher um caminho a

trilhar. A profissional não escolhe o caminho pelo servidor, nem trilha esse caminho por

ele – há um trabalho de reflexão.

De acordo com essa breve explicação acerca dos passos da Psicologia e das

atividades realizadas pela estagiária na unidade onde foi realizado o estágio, passaremos

a fazer um estudo focado no Acompanhamento Psicológico em Casos de Disfunção

Profissional.

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2. DESCRIÇÃO DO TRABALHO

As atividades de estágio, embasadas nas teorias acadêmicas descritas no capítulo

da fundamentação teórica, estão aqui relatadas numa relação de congruência entre a

teoria e a prática profissional. Este capítulo trata, portanto, da prática efetiva e reflexiva,

ocorrida no estágio. A maior parte do tempo programado foi dedicada ao Atendimento e

ao Acompanhamento Psicológico nos casos de disfunção profissional que foram

verificados na instituição.

2.1. Atividades Práticas

As atividades práticas foram cumpridas sempre com supervisão no local de

estágio e, simultaneamente, com a orientação recebida na Universidade, visando,

principalmente, o suporte acadêmico e o embasamento profissional, além da construção

do presente relatório.

A unidade onde se realizou o estágio supervisionado tem como atividade

principal atender, e se for o caso, acompanhar os servidores daquela instituição que

apresentam dificuldades na atuação laborativa, e que, por seu turno, interferem

diretamente como variável causal no desempenho profissional dos sujeitos afetados. Por

motivos diversos, alguns gestores colocam servidores à disposição, sendo estes, muitas

vezes, encaminhados para atendimento e possível acompanhamento na Unidade, a

depender das particularidades de cada caso.

A equipe de trabalho, durante o estágio, foi composta por 01 (uma) Psicóloga,

01 (uma) Analista com formação em Direito, 01 (um) Técnico, 01 (um) Estagiário de

Administração de Empresas e 01 (uma) Estagiária de Psicologia.

Apesar de a atividade de atendimento e acompanhamento de servidores em casos

de disfunção profissional ser a principal atividade realizada pela Unidade, há muitas

outras também atribuídas em particular a esta unidade, como: o acompanhamento de

programas, que buscam dar assistência ao servidor de licença médica e à família do

servidor falecido; projetos voltados à sensibilização dos gestores sobre a importância da

inclusão das pessoas com deficiência, como forma de facilitar as relações e interação,

como também a valorização do potencial desses servidores enquanto pessoa e

profissional; há também um programa que promove uma pausa durante o horário do

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expediente para a redução do estresse. Além desses projetos e programas a Unidade

também organiza palestras e eventos integradores, objetivando a capacitação de

servidores; faz visitas institucionais e domiciliares abrangendo o Recife, a Área

Metropolitana e o Interior do estado.

Dentro da atividade de acompanhamento de servidores em casos de disfunção

profissional há outras ações que complementam o acompanhamento, como o caso do

Projeto “Sonho” (nome fictício, apenas para efeito desse relatório), que acontece uma

vez no mês e visa dar suporte aos servidores com demandas mais complexas e que

precisam de um acompanhamento profissional mais efetivo por parte da organização.

Esses atendimentos eram realizados de forma individual, em sala reservada

para esse propósito, contígua à Unidade. O ambiente se mostrava acolhedor e nele as

pessoas podiam expressar através da fala, do olhar, das emoções e dos gestos, os

desprazeres que estavam sentindo no ambiente laboral. A sala tinha uma acústica

adequada, onde não era possível, de fora dela, ouvir o que se estava sendo falando no

seu interior, considerando o sigilo das informações. Enfim, o setting de atendimento

guardava os elementos e características apropriados para um atendimento ético,

comprometido com os demandantes e dentro dos requisitos técnicos recomendados.

2.1.1. Atendimentos e Demografia

Os atendimentos eram realizados quando os servidores, a partir de uma

demanda, compareciam a unidade com alguma dificuldade pessoal que já estava

interferindo no seu desempenho profissional, ou após terem sido colocados, por alguma

outra razão, à disposição. Fatos como este os levavam a buscar os serviços oferecidos

pela Unidade, para que pudessem refletir sobre as dificuldades que poderiam estar

afetando o desempenho e, assim, buscar apoio e suporte para solucioná-las. Os

atendimentos eram feitos de forma individual, onde o servidor podia falar sobre suas

dificuldades sem medo de ser exposto aos demais colegas de trabalho. A maioria dos

casos ocorridos era de natureza menos complexa. O servidor, nestas circunstâncias, era

atendido apenas uma só vez e já conseguia amenizar a angústia, pois a demanda trazida

ao setting não exigia maior aprofundamento e podia ser mais facilmente resolvida (em

casos, por exemplo, de relacionamento e interação onde a simples mudança de lotação

resolvia o problema). Já as demandas mais complexas (casos de depressão, por

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exemplo), exigiam um acompanhamento mais efetivo, tanto em relação ao estado de

saúde do servidor como da readaptação para a desenvoltura de suas atividades laborais.

No período de estágio foram realizados 325 atendimentos. Alguns servidores

com quadros mais complexos ainda se encontram em acompanhamento; outros, que

atendidos apenas uma ou duas vezes (já que as demandas relacionadas à disfunção

profissional foram mais pontuais), puderam ter suas questões mais facilmente

resolvidas.

As principais demandas relacionavam-se mais especificamente ao alcoolismo, à

depressão, ao estresse e às dificuldades de relacionamento interpessoal no ambiente de

trabalho. O Gráfico abaixo mostra, através de percentuais, as demandas mais freqüentes

que foram identificadas e trabalhadas durante o período do estágio.

As demandas que não tiveram percentuais significativos foram agrupadas e

inseridas dentro do recorte ‘outros’, estando entre elas: dificuldades familiares,

insubordinação, problemas de saúde (como o câncer, aborto, doenças neurológicas,

doenças cardiológicas, problemas ósseos) e lotação em local muito distante da

residência. Como era necessário delimitar os principais assuntos trabalhados durante o

estágio, o gráfico acima apenas fez referência ao alcoolismo, estresse, depressão e

dificuldades de relacionamento interpessoal, pois foram as demandas mais ocorrentes.

A equipe da Unidade vem desenvolvendo ações preventivas, objetivando

minimizar a incidência dessas demandas, contando com o apoio das Gerências e

Diretoria. Aponta como meta para 2011 promover encontros que possibilitem reflexões

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sobre essas temáticas com os gestores, trabalhando ferramentas de desenvolvimento de

equipes, além de dar continuidade aos projetos já existentes.

Os resultados apurados informam que, talvez pelas prováveis poucas diferenças

entre homens e mulheres com relação aos postos de trabalho hoje desempenhados, e

também pelas poucas diferenças de papéis sociais e familiares, é que se obtém este

quadro. Percentualmente, a diferença é pouco significativa ou quase insignificante: 49%

dos atendidos era do gênero masculino e 51% do gênero feminino.

A faixa etária das pessoas atendidas indica que a maior concentração está no

intervalo de 41 a 50 anos (36%) e também como segundo maior intervalo (28%) nas

pessoas com idades entre 51 e 67 anos, ou seja, poderíamos afirmar que 64% das

pessoas atendidas e acompanhadas representam o grupo dos mais idosos.

O dado parece ser bastante revelador na medida em que o indivíduo, ao avançar na

idade cronológica, parece tender a se desadaptar com mais facilidade do que os mais

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jovens. Contudo, as atividades de estágio não tiveram nenhuma intenção de aprofundar

esta questão. Mas, o quadro, bastante elucidativo, pode servir, no futuro, para estudos

mais aprofundados desta questão pela própria Unidade.

A maioria dos servidores, após o atendimento, consegue se readaptar a um novo

local de trabalho, quando lhe é oportunizada a fala e a possibilidade de renovar as

relações interpessoais e até experimentar o exercício de novas atividades. Nesta

perspectiva, os feedbacks obtidos dão conta de que vêm sendo observadas boas

desenvolturas profissionais nas novas unidades de trabalho, após curto período de

tempo.

Alguns servidores, excepcionalmente, têm sido colocados à disposição por

inúmeras vezes, em pequeno espaço de tempo, tendo em vista apresentarem

desempenho aquém do esperado, em decorrência da dificuldade de se readaptar.

2.1.2. Acompanhamento dos Servidores

Como já mencionado anteriormente, alguns servidores são colocados à

disposição, para que possam ser ouvidos e acompanhados, se necessário, devendo ser

recolocados em outras unidades de trabalho. Geralmente, esses funcionários

acompanhados apresentam dificuldades nos relacionamentos interpessoais, problemas

de saúde, dificuldades de ordem emocional (estresse), uso de substância química

(álcool) ou alguma patologia mental (depressão). Quando um servidor era recebido para

atendimento, realizávamos algumas ações como:

a) Oportunizar momentos de escuta, existindo necessidade e consentimento do servidor.

Esses momentos também se estenderam, em alguns casos, aos familiares, amigos e

gestores;

b) Levantar junto à unidade responsável quais as unidades organizacionais que

necessitavam de pessoas, para assim colocar o servidor, em fase de readaptação, em

nova lotação, considerando o perfil da unidade e do gestor, bem como o interesse do

servidor;

c) Orientar os servidores com dificuldades mais complexas a procurar tratamento em

instituições especializadas, quando o mesmo se apresentasse como usuário de

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substâncias químicas ou apresentasse alguma patologia mental, que necessitasse de

acompanhamento médico ou psicológico continuado;

d) Guiar o servidor no sentido de procurar o profissional de medicina que o acompanha,

visando ingressar com licença para tratamento de sua saúde, quando for observada a

incompatibilidade com o trabalho; e

e) Acompanhar o servidor em sua readaptação e recuperação, tanto dentro como fora da

organização.

Essas atividades, de forma combinada, constituíram o que foram os

procedimentos vivenciados durante o estágio com relação ao Acompanhamento

Psicológico em Casos de Disfunção Profissional.

É importante destacar que os atendimentos realizados contaram sempre com a

devida supervisão. Após o atendimento dos servidores que compareceram à Unidade,

estagiária e supervisora discutiram sobre a situação e dificuldades trazidas pelos sujeitos

e, em conjunto, definiram as intervenções que deveriam ser realizadas. A partir do

encaminhamento indicado para o caso, entraram em contato com a unidade de apoio

especializada, para que se pudesse dar um apoio mais especifico ao servidor, tomando

como base o conteúdo da demanda trazida por ele.

Muitas vezes, as pessoas eram encaminhadas para o Centro Médico do órgão,

onde recebiam um atendimento (clínico, psiquiátrico, psicológico) mais focado na

problemática apresentada pela demanda.

Como a maioria dessas pessoas chegava à Unidade após serem colocadas, por

seus gestores, à disposição - por apresentarem dificuldades que estavam interferindo na

qualidade do trabalho ou da equipe como um todo, elas já compareciam bastante

fragilizadas. Cabia, então, à equipe de atendimento refletir sobre a situação de saúde do

servidor e questionar se estes aceitariam ou não ser encaminhados para alguma unidade

de apoio especializada para receber um tratamento mais apropriado em função da

demanda apresentada. Quando esses servidores eram internados em instituições

especializadas, a unidade entrava em contato com a família (nos casos em que o contato

com o servidor configurava-se como impossibilitado) para acompanhar, à distância, o

desenrolar do processo, verificando a validade das licenças médicas e disponibilizando

o apoio necessário.

Nos casos em que a estratégia de mudança de lotação, como meio de readaptar

o servidor, poderia minimizar a dificuldade, cabia entrar em contato com o Núcleo

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responsável pela lotação, para processar a mudança ao novo local de trabalho,

obedecendo às diretrizes da instituição. Após a efetivação da mudança, o

acompanhamento se dava mediante contatos com os próprios funcionários e seus novos

gestores, para saber sobre a inserção e adaptação ao novo local de trabalho. Havia uma

preocupação maior e um acompanhamento mais efetivo com relação aos servidores que

foram re-lotados, e com os que haviam sido encaminhados para instituições de saúde ou

de apoio psicológico.

No sentido de evitar a exposição das dificuldades apresentadas a partir dos

Cargos na instituição concedente de estágio, foram substituídas as suas denominações,

para a finalidade deste relatório, utilizando-se as nomenclaturas: Cargos A, B e C.

Mostra-se indispensável informar que para a investidura no Cargo A, a pessoa precisa

ter como nível de instrução o Curso Superior Completo em qualquer área de formação.

Já para o Cargo B, é indispensável ter concluído o Curso de Direito, enquanto que para

a investidura no Cargo C é necessário, apenas, ter concluído o Nível Médio.

As dificuldades de relacionamento interpessoal, demanda de maior incidência

entre as demais, mostrou que entre os profissionais acompanhados, aqueles que ocupam

o Cargo C (81% do total e do gênero feminino também 81% dos casos atendidos) foram

os que mais demonstraram problemas de interação social e de comunicação.

13%

6%

81%

Incidência das Dificuldades de

Relacionamento Interpessoal

Cargo A

Cargo B

Cargo C

19%

81%

Dificuldade de

Relacionamento

Interpessoal por Gênero

Homens

Mulheres

O índice de servidores que apresentaram problemas de alcoolismo esteve

notavelmente mais presente entre os ocupantes do Cargo C, num índice de 64%,

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enquanto que os investidos no Cargo B representam 36% dos casos. Não foi detectado

nenhum caso entre as pessoas que ocupam o Cargo A, e também não se verificou

qualquer índice entre pessoas do sexo femino, sendo, portanto, 100% dos casos

presentes em pessoas do gênero masculino.

O alcoolismo como sendo um estado patológico originado pelo consumo

excessivo do álcool, tem sido há muito tempo considerado como uma doença pela OMS

– Organização Mundial da Saúde, além de ser um dos mais recorrentes e debatidos

temas nas organizações do mundo moderno.

Neste quadro evidencia-se naturalmente uma forma de mecanismo de fuga,

quando o indivíduo parece consumir álcool como uma forma de fugir de uma realidade

que lhe parece ser ameaçadora (BARBOR, 2003). E, neste quadro que se mostra tão

presente nos casos dos atendimentos realizados durante o estágio, há que se considerar

que mais uma vez os investidos no Cargo C apresentam maior índice desse tipo de

sintoma advindo das demandas surgidas para acompanhamento.

O sintoma depressão, por sua vez, se mostra também numa maior incidência

neste mesmo tipo de profisional (Cargo C), pois traz 63% de pessoas com problemas de

humor depressivo.

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A maior concentração de sintomas depressivos está no grupo das mulheres

(54%). E, com os dados colhidos dos atendidos e acompanhados, se pode inferir que

parece haver predisposições diferentes, do ponto de vista do gênero. Enquanto os

homens parecem utilizar mais o mecanismo de fuga através do álcool, as mulheres

tendem mais à depressão. É no caso do humor depressivo, a forma de reação contra a

realidade ameaçadora. Nas mulheres, o sofrimento talvez seja mais intenso do que nos

homens, através dos quadros depressivos. Ademais, as mulheres foram as mais afetadas

por essa patologia mental, a partir dos dados obtidos com esse levantamento.

No sentido de dar continuidade ao trabalho de Acompanhamento Psicológico em

Casos de Disfunção Profissional, a Unidade realizava, uma vez por mês, o Encontro

“Sonho” (nome fictício, para evitar exposição) com alguns servidores que precisavam

de acompanhamento mais efetivo e contínuo. Nesses encontros, buscava-se estimular o

processo criativo dos participantes, através de reflexões e percepções de si mesmo e dos

outros, com relação às posturas apresentadas, tanto no âmbito familiar como laboral.

Nesta ação eram trabalhadas, também, questões referentes às mudanças; ao cuidado

com a saúde, ao relacionamento interpessoal. Nessas atividades, eram apresentados

textos referentes ao tema de cada encontro, no intuito de se discutir questões que

poderiam ajudar a maiores reflexões para um desenvolvimento de posturas mais

adequadas ao ambiente de trabalho, como também numa perspectiva mais pedagógica,

orientar as pessoas a cuidar melhor da saúde.

2.1.3. Programas Realizados

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Nessa mesma perspectiva pedagógico-construtivista, foram realizados alguns

programas voltados para a melhoria e a valorização da qualidade de vida dos servidores.

Dentre todos os Programas, aqueles que merecem atenção especial estiveram voltados

para a assistência aos servidores com deficiência (física e mental), como também aos

servidores sob algum tipo de licença do trabalho.

2.1.3.1. Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência.

Dentro do programa de inclusão de pessoas com deficiência, foram feitas duas

ações importantes, quais sejam:

a) Um levantamento anual para identificar as principais dificuldades

encontradas no exercício das funções dos servidores (por exemplo,

dificuldades de locomoção dentro do ambiente de trabalho, no caso

dos cadeirantes; dificuldades audiovisuais durante o uso dos

equipamentos eletrônicos, no caso dos deficientes auditivos e visuais);

b) O projeto “Paz” (nome fictício), que objetiva, através de uma palestra,

sensibilizar os gestores sobre a importância da inclusão das pessoas

com deficiência, não pelo cumprimento de cotas previstas na

legislação, mas como forma de facilitar as relações e interação, como

também a valorização do seu potencial enquanto pessoa e profissional.

O citado levantamento foi feito a partir de uma entrevista semi-estruturada,

realizada, por telefone, com os servidores, em seus locais de trabalho. O objetivo maior

desse levantamento era verificar as dificuldades que os servidores enfrentavam no

exercício de suas atividades laborais, sendo, nestas ocasiões, pesquisados quais os

equipamentos que poderiam ser disponibilizados para melhorar as suas condições de

trabalho já que apresentavam limitações sob, principalmente, o ponto de vista físico. E,

a partir desses contatos, providências eram tomadas para minimizar as dificuldades

identificadas, como também para potencializar a satisfação, estimulando a motivação e

o interesse do servidor com deficiência para o trabalho. Durante o levantamento, os

entrevistados também apontaram dificuldades no trajeto para o trabalho e no horário do

expediente. Dessa forma, cabia também à Unidade verificar possibilidades de lotação

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próxima a residência do servidor, em parceria com o Núcleo responsável pelas lotações,

no intuito de alocar o servidor em local de fácil acesso, tendo em vista a sua deficiência.

2.1.3.2. Programa “Esperança” (nome fictício)

O Programa Esperança consistia em prestar apoio emocional e orientação de

ordem administrativa aos servidores que se encontravam sob algum tipo de licença do

trabalho. Ainda, em diversas situações, eram também enviados cartões de condolências

nos casos de falecimento de familiares, e também de felicitações nos casos de

nascimento de filhos ou matrimônio. Quando as pessoas acompanhadas entravam de

licença médica, eram feitos contatos telefônicos para avaliação da situação de saúde

desses servidores e para lembrar e verificar a validação das licenças. Os cartões

personalizados eram os mais variados possíveis e todos alusivos ao objetivo do

Programa. A ação de Assistência à família do servidor falecido tem como principal

objetivo prestar solidariedade e apoio de ordem emocional, e também de ordem

administrativa (burocracias relacionadas às formalizações dos óbitos) para as famílias.

2.2 Atividades Teóricas

As reflexões sobre as atividades teóricas aconteceram em dois locais distintos:

na instituição concedente do estágio e na Universidade Federal de Pernambuco.

Importante se fez, durante a experiência de estágio, ancorar-se nos referenciais teóricos

que embasaram e subsidiaram as práticas vivenciadas. Fizeram-se presentes, durante

todo o decorrer do estágio, momentos em que a estagiária se debruçou no arcabouço

teórico apontado pelo orientador e pela supervisora, o que lhe trouxe aprendizado e,

conseqüentemente, mais segurança para o exercício das atividades práticas. Utilizando

os recursos que dispõem, os estudantes podem otimizar a troca de idéias e sugerir

leituras que ajudem nas práticas que estão vivenciando. Essas leituras podem servir

como veículos de crescimento, proporcionando impacto no conhecimento aplicado à

realidade do contexto profissional.

2.2.1. No Estágio

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No local de estágio, as atividades teóricas aconteceram durante a supervisão de

estágio, com sugestões de leituras de textos referentes aos temas trabalhados na

Unidade, além de incluir discussões posteriores a estes estudos, no sentido de se refletir

sobre o que foi lido e sua relação com a prática. Não houve agendamento prévio de dias

e horários para a supervisão de estágio, tendo em vista tal procedimento ocorrer

diariamente, durante o exercício das atividades, havendo abertura para reflexões e

orientações. A leitura de textos direcionou-se para temas como alcoolismo, deficiências,

estresse, depressão, qualidade de vida no trabalho, e outros pertinentes à realização das

atividades práticas. A sugestão dos temas ocorreu por parte da supervisora e também

pelo próprio interesse da estagiária. As discussões giraram em torno “do como” as

atividades estavam sendo realizadas e de que procedimentos e melhorias poderiam ser

implementadas durante os processos de intervenção no setting dos atendimentos, e

como as reflexões e as teorias estudadas poderiam ser aplicadas em favor de uma prática

cada vez mais efetiva.

2.2.2. Na Universidade

As orientações de estágio dentro da Universidade ocorreram em dois momentos

distintos. O primeiro foi voltado para discussão em pequenos grupos sobre a absorção

da prática de estágio para composição do relatório final. Estes encontros eram divididos

pelas áreas de atuação de cada estagiário. Nestes encontros foram debatidas as

experiências dos diversos alunos sobre os estágios em andamento. Depois, cada aluno

isoladamente era orientado mais detalhadamente sobre suas práticas; sobre os textos

bibliográficos pertinentes e sobre a elaboração dos relatórios de estágio. As aulas de

estágio também propiciaram a participação e a interação de todos os estagiários de

Psicologia, quando ocorria a realização dos seminários discursivos, onde todo o grupo

de estagiários, tanto da disciplina estágio supervisionado I, como de estágio

supervisionado II, puderam assistir as apresentações dos relatórios finais.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A disciplina de estágio se mostra como um desafio para os estudantes do curso

de graduação em Psicologia, pois prepara os acadêmicos para aplicar competências

profissionais na prática cotidiana. As demandas do mercado exigem, cada vez mais, um

profissional engajado, competente e atuante, e que participe do dia-a-dia da sociedade e,

principalmente, do mercado de trabalho.

No exercício da prática profissional, o estagiário pode se deparar com um

mercado de trabalho e uma realidade que não demandam os conhecimentos que foram

aprendidos durante a graduação, pois, sem a menor sombra de dúvidas há um enorme

gap entre a teoria da academia e a teoria que hoje lastreia as atividades dos profissionais

de psicologia, pelo menos neste campo da psicologia organizacional e do trabalho. A

partir do estágio, tive a possibilidade de conjugar teoria e prática e descobrir novas

possibilidades teóricas para uma melhor atuação. Por isso é tão importante que os

acadêmicos conheçam a realidade prática antes de sair da universidade, para assim, ter

maior consciência e mais informação a respeito da profissão escolhida.

Antes de se começar o exercício das atividades práticas, os estudantes parecem

ter apenas noções de como devem atuar em determinada atividade. A partir da

experiência, de fato, o estagiário passa a saber melhor como fazer, utilizar e atualizar os

conhecimentos adquiridos em favor da sua atuação.

O estágio se mostrou, também, como a oportunidade em que o futuro

profissional pode se permitir errar. Esse errar enquanto estagiário pressupõe a

capacidade do estudante testar as teorias que domina; aprender novas teorias; seguir as

orientações dos supervisores de estágio, além de sugerir e efetuar melhorias nas

atividades que está executando. Um estágio bem feito, onde o estudante questiona; tira

dúvidas com relação às atividades práticas e pode corrigir erros, parece ser uma

oportunidade de se começar a carreira profissional de forma bem estruturada.

Nesse contexto, os estudantes e professores trabalham em conjunto nos projetos

que conjugam informações práticas e profissionalizantes, que envolvem um conjunto

articulado de ações e teorias, para uma excelente formação.

Os professores devem incentivar os seus alunos a ter um pensamento mais

crítico, rompendo a visão departamentalizada, e abrindo novas perspectivas de saber e

de fazer, além, é claro, de possibilitar um atuar embasado nas competências necessárias,

diga-se de passagem: saber, fazer e agir no trabalho da psicologia aplicada.

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A subárea do estágio, “acompanhamento psicológico em casos de disfunção

profissional” induz o profissional a estar bem atento à saúde mental, tanto no nível

individual como coletivo, tendo todo o cuidado e toda a ética ao fazer identificações de

patologias; interpretações; avaliações das condutas e prestar orientações. Ainda,

salientando mais apropriadamente, deve ter muito cuidado com a questão da ética ao

trabalhar com a comunicação, lembrando sempre do dever do sigilo, além de

administrar bem as forças de trabalho que incidem sobre estas situações, buscando a

harmonia do homem com o ambiente laboral. Devemos, contudo, ressaltar que esses

pontos aqui mostrados e reforçados não são exaustivos, mas muito importantes para o

exercício profissional do psicólogo neste campo.

3.1. Avaliação do Estágio O estágio proporcionou, numa perceptiva bem sedimentada de estudos,

orientações, supervisões, aplicações práticas dos conhecimentos adquiridos ao longo do

curso, bem como uma revisão e atualização da literatura. Esta vivência possibilitou,

ainda, o cruzamento de experiências; a conquistas de espaços; o empreendimento de

atitudes desafiadoras; enfim, me propiciou muito aprendizado. As contribuições do

orientador, do supervisor e dos colegas de turma e de trabalho foram muito importantes

para a construção do meu saber e para a fixação dos pontos mais essenciais no que diz

respeito à atuação do psicólogo no ambiente laboral.

Na prática efetiva, atender, acompanhar e encaminhar pessoas para tratamento

em casos de disfunção profissional foi um grande desafio e uma experiência bastante

interessante, pois, foi um fazer psicológico que fugiu um pouco aos assuntos estudados

e ao meu conhecimento prévio, da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Como já

dito, foi uma experiência muito desafiadora, mas que proporcionou muito crescimento

profissional e até mesmo pessoal. Fui capaz de vencer desafios, superar o temor e a

insegurança para trabalhar com o aquilo me era muito desconhecido e pude, ainda,

perceber outra maneira de se trabalhar com Psicologia em organizações, diferentemente

daquilo vem sendo proposto pelos subsistemas de RH.

3.2. A Supervisão do Estágio

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A supervisora de estágio se mostrou como indispensável para o funcionamento

do meu aprendizado prático. Durante a experiência do estágio houve trocas freqüentes

de informações que foram imprescindíveis para o bom andamento dos casos

trabalhados, onde, inclusive, foi possível compreender e manejar as situações

institucionais e de grupo, que a todo instante surgiram, além de me permitir traçar

estratégias para promover uma prestação de serviços cada vez mais satisfatória.

A supervisão proporcionou muito aprendizado e desenvolvimento, para que eu

pudesse me adequar às rotinas da organização e ao uso dos instrumentos, suporte de

apoio e da própria teoria explorada. Nos momentos de supervisão pude perceber que

seria possível e viável uma atuação segura e apropriada ao psicólogo no universo das

organizações, tendo como foco a saúde mental do trabalhador, as injunções da

organização e o poder de transformação das pessoas na direção das suas relações com o

trabalho.

3.3. As Aulas de Orientação de Estágio As aulas de orientação na universidade, com o professor orientador, foram

decisivas para que eu pudesse perceber que a Psicologia do Trabalho não estava

fechada, nem imobilizada diante das práticas dos subsistemas da Administração de

Recursos Humanos, como tem sido a praxis dos muitos estágios ocorridos nesta área.

Houve sim, uma desconstrução dessas percepções arraigadas, com uma reconstrução de

visão e de saberes em outra perspectiva sobre a matéria. Foi como obter uma nova

versão do saber, direcionada para a valorização da inserção das pessoas na organização,

da saúde mental dos sujeitos e das relações interpessoais dos indivíduos no contexto

organizacional.

O professor orientador instigou o pensamento crítico entre nós estagiários,

fazendo com que buscássemos percepções e idéias muito além daquilo que

conseguíamos enxergar, enquanto estudantes da graduação. As aulas foram verdadeiras

incursões pela própria Psicologia Organizacional e do Trabalho, por sua historia, suas

perspectivas e principalmente por sua utilidade no mundo das organizações. A postura

científica nos foi apontada a todo o momento, ora pela investigação diagnóstica, ora

pela própria intervenção e até pela própria escrita acadêmica, nos dando suporte para a

construção dos planos e dos relatórios de estágio. Ainda, se faz necessário registrar as

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observações com relação ao papel do psicólogo de forma ampla, e principalmente com

relação à ética profissional.

3.4. Auto-avaliação Um dos pontos mais importantes que a experiência de estágio me proporcionou

foi a percepção de que a Psicologia Organizacional e do Trabalho não se prende às

práticas e aos procedimentos técnicos da área de Recursos Humanos. Recrutar,

selecionar e treinar, sabemos, faz parte do universo no qual o psicólogo pode atuar, mas

não resume o trabalho dos profissionais da psicologia quando em organizações.

Importante dizer, então, que o trabalho realizado durante o estágio não tinha muita

relação com a rotina, os procedimentos e os afazeres das pessoas que atuam como

profissional de Recursos Humanos, como eu imaginava que seria o meu estágio

curricular.

Quando iniciei o estágio, guardava o sentimento de que talvez não pudesse pôr

em prática aquilo que havia aprendido nas disciplinas para o perfil de Psicologia do

Trabalho e pensando qual seria a base teórica para minha atuação. Fiquei surpresa com

a riqueza de informações e postulados acadêmicos em torno desse campo da psicologia

aplicada. Esse momento anterior ao início das minhas atividades foi bastante temeroso,

e até permeado de inseguranças, pois não imaginava como poderia alcançar os objetivos

estabelecidos no plano de estágio. A reformulação do cronograma, ajustando melhor as

minhas atividades, me assegurou uma postura mais firme e que me levou a acreditar ter

alcançado, de maneira sólida e concreta, os objetivos ali determinados.

Agora, no final da experiência, pude perceber que o psicólogo do trabalho é

chamado, durante sua atuação para ajudar as pessoas a promover o seu bem-estar e o

seu crescimento no ambiente laboral, além de trazer resultados positivos para o

ajustamento e a interação das pessoas na organização. Aprendi a pensar no ser humano

como um agente de sua vida nas relações cotidianas do trabalho e, ainda, que essas

relações não são imutáveis. Assim, cabe ao psicólogo propor ações com o objetivo de

melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho e minimizar o sofrimento dos

trabalhadores quando em disfunção profissional.

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APRESENTAÇÃO DO LOCAL E CONDIÇÕES NAS QUAIS A ATIVIDADE DE ESTÁGIO ACONTECEU

A experiência de estágio, que teve a duração de um ano, foi realizada em órgão

da administração pública do Estado de Pernambuco. A unidade onde se realizou o

estágio supervisionado tem como atividade principal atender e, se for o caso,

acompanhar os servidores daquela instituição que apresentam dificuldades na atuação

laborativa e que, por seu turno, interferem diretamente como variável causal no

desempenho profissional dos sujeitos afetados.

Esses atendimentos foram realizados de forma individual, em sala reservada

para esse propósito, contígua à Unidade. O ambiente se mostrava acolhedor e nele as

pessoas podiam expressar através da fala, do olhar, das emoções e dos gestos, os

desprazeres que estavam sentindo no ambiente laboral. A sala tinha uma acústica

adequada, onde não era possível, de fora dela, ouvir o que se estava sendo falado no seu

interior, considerando o sigilo das informações. Enfim, o setting de atendimento

guardava os elementos e características apropriados para um atendimento ético,

comprometido com os demandantes e dentro dos requisitos técnicos recomendados.

A equipe de trabalho, durante o estágio, foi composta por 01 (uma) Psicóloga,

01 (uma) Analista com formação em Direito, 01 (um) Técnico, 01 (um) Estagiário de

Administração de Empresas e 01 (uma) Estagiária de Psicologia.

A estagiária foi, durante todo o tempo, supervisionada pela Psicóloga da

Unidade, que fazia pontuações acerca do trabalho desenvolvido, buscando fortalecer e

agregar valores à formação da estudante.

O local de estágio sempre esteve em ótimas condições físicas (com instalações

novas, recursos tecnológicos) e proporcionou ótimas condições psicológicas à

estagiária, por se tratar de uma equipe muito unida, onde todos colaboravam com o

crescimento e desenvolvimento do seu próximo, tanto a nível profissional quanto

pessoal.

No capítulo sobre a descrição das atividades, há detalhes de como se procedeu a

maior parte do trabalho que foi desenvolvido ao longo do período de estágio.

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RESUMO Relatório Final de Estágio Supervisionado, que teve por objetivo descrever uma experiência de estágio vivenciada na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, realizado em órgão Público do Estado de Pernambuco, em Unidade voltada para a gestão de pessoas. A principal atividade realizada foi a de Atendimento e Acompanhamento Psicológico de Servidores em Casos de Disfunção Profissional. Para dar suporte teórico às atividades, foram usados, basicamente, os fundamentos da Orientação Profissional e do Aconselhamento Psicológico, além de estudos e discussões acerca das principais demandas trabalhadas. As principais questões encontradas com relação à Disfunção Profissional durante a prática estiveram relacionadas ao alcoolismo, a depressão, ao estresse e ao relacionamento interpessoal. A atividade de acompanhamento consistiu, essencialmente, em atender as pessoas que estavam apresentando um desempenho deficiente no local de trabalho, para oferecer o apoio necessário à readaptação às rotinas de trabalho e, dependendo da complexidade dos casos surgidos, fazer orientações no sentido de encaminhar os demandantes para acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico da própria instituição, ou, até mesmo, para tratamento/internamento em clínicas especializadas. Para promover a integração entre teoria e prática, a estagiária foi supervisionada por profissional habilitado na área e orientada na Universidade por professor com conhecimentos técnicos sobre o campo de atuação do Psicólogo Organizacional e do Trabalho. O objetivo desta experiência foi proporcionar a oportunidade de se aplicar as competências profissionais do psicólogo na prática cotidiana de uma organização, na perspectiva de uma melhor formação. Palavras chave: Psicologia; Disfunção Profissional; Acompanhamento

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MEMORIAL

Um grande desafio. Talvez seja essa a melhor maneira de descrever a

experiência de estágio vivida há pouco. No início, guardava o sentimento de que talvez

não pudesse pôr em prática aquilo que havia aprendido nas disciplinas para o perfil de

Psicologia do Trabalho. Veio a indagação sobre qual seria a base teórica para minha

atuação, já que eu iria trabalhar com Acompanhamento Psicológico nos casos de

Disfunção Profissional, mas não tinha me preparado especificamente para aquela

atuação - fugia bastante do conhecimento teórico que havia aprendido na área escolhida.

A riqueza de informações e postulados acadêmicos que estão em torno desse campo da

psicologia aplicada foi uma surpresa. Esse momento anterior ao início das atividades foi

bastante temeroso, e até permeado pela vontade de desistir, pois não imaginava como

poderia alcançar os objetivos estabelecidos no plano de estágio. De certo modo, a

própria reformulação do cronograma, ajustando melhor as atividades, e o desejo de

vencer mais um desafio, me asseguraram uma postura mais firme e que me levou a

acreditar que poderia alcançar de maneira sólida e concreta, os objetivos ali

determinados – e que hoje, acredito ter alcançado.

Trabalhar com Acompanhamento Psicológico em casos de disfunção

profissional exige muita sensibilidade e persistência diante de uma era “tecnológica”,

em que se busca informatizar tudo e trocar, cada vez mais, postos de trabalhos por

máquinas. Além do mais, hoje em dia, muitas empresas preferem demitir aquele

empregado “dificultoso” do que tentar resolver seus problemas - relacionados com a

atividade laboral. É fundamental ter a consciência de que são as pessoas que conduzem

a organização para o futuro. Para a atuação como Psicólogo do trabalho é preciso se

libertar um pouco das amarras do capitalismo e do lucro, focando o trabalho

essencialmente no bem-estar do ser humano. É mister compreender o outro em sua

subjetividade, valorizá-lo e dar a devida importância a cada um dos recursos humanos,

pois a organização é feita de pessoas e precisa delas para promover as mudanças

necessárias para continuar movendo a grande máquina.

As demandas surgidas durante os atendimentos foram as mais diversas, o que

tornou o trabalho mais rico e dinâmico. Houve dias em que foram atendidas de quatro a

cinco demandas totalmente distintas (entre elas: dificuldades com uso imoderado de

álcool; problemas de relacionamento interpessoal; depressão) e nós, membros da

Page 30: ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO …newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/2011/3re-MariaSoutoMaior.pdf · 2011. 9. 21. · UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA

Unidade, tínhamos que receber aquela demanda e desenvolver, naquele momento, uma

ação que pudesse confortar o sujeito e, quem sabe, solucionar aquela dificuldade

trazida.

Agora, no final da experiência, pude perceber que o psicólogo do trabalho é

chamado, durante sua atuação, para ajudar as pessoas a promover o seu bem-estar e o

seu crescimento no ambiente laboral, além de trazer resultados positivos para o

ajustamento e a interação das pessoas na organização. Aprendi a pensar no ser humano

como um agente de sua vida nas relações cotidianas do trabalho e, ainda, que essas

relações são dinâmicas e imprevisíveis. Assim, cabe ao psicólogo propor ações com o

objetivo de melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho e minimizar o

sofrimento dos trabalhadores quando em disfunção profissional.

Um dos pontos mais importantes que a experiência de estágio me proporcionou

foi a percepção de que a Psicologia Organizacional e do Trabalho não se prende às

práticas e aos procedimentos técnicos da área de Recursos Humanos. Recrutar,

selecionar e treinar, sabemos, faz parte do universo no qual o psicólogo pode atuar, mas

não resume o trabalho dos profissionais da psicologia quando em organizações.

Importante dizer, então, que o trabalho realizado durante o estágio não tinha muita

relação com a rotina, os procedimentos e os afazeres das pessoas que atuam como

profissional de Recursos Humanos, como eu imaginava que seria o meu estágio

curricular – a experiência vivida tornou-se mais enriquecedora por ter ampliado o meu

horizonte no que se refere a atuação do Psicólogo dentro das organizações.