Upload
fabricioours
View
875
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
Identificação
Acórdão 325/2007 - Plenário
Número Interno do Documento
AC-0325-09/07-P
Grupo/Classe/Colegiado
Grupo I / Classe I / Plenário
Processo
003.478/2006-8
Natureza
Administrativo
Entidade
Órgão: Tribunal de Contas da União
Interessados
Interessado: Tribunal de Contas da União
Sumário
ADMINISTRATIVO. CRITÉRIOS DE ACEITABILIDADE DO LUCRO E
DESPESAS INDIRETAS - LDI EM OBRAS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO E
SUBESTAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA. APROVAÇÃO DE VALORERS
REFERENCIAIS. ORIENTAÇÕES ÀS UNIDADES TÉCNICAS.
Assunto
Administrativo
Unidade Técnica
SECOB - Sec. de Fisc. de Obras e Patr. da União
Dados Materiais
(com 3 anexos)
Relatório do Ministro Relator
Cuidam os autos do Relatório do Grupo de Trabalho constituído por
força de determinação do Acórdão 1.566/2005 - Plenário, com o objetivo de
propor critérios de aceitabilidade para o Lucro e Despesas Indiretas (LDI) em
obras de implantação de linhas de transmissão de energia elétrica.
Adoto como Relatório o trabalho produzido pelo Grupo e
referendado pelo Diretor e pelo Titular da Secretaria de Fiscalização de Obras e
Patrimônio da União - SECOB:
“INTRODUÇÃO
O Plenário deste Tribunal, em 05/10/2005, determinou, por meio do
subitem 9.3 do Acórdão 1.566/2005, que fosse constituído Grupo de Trabalho
com o objetivo de propor critérios de aceitabilidade para o Lucro e Despesas
Indiretas (LDI) em obras de implantação de linhas de transmissão de energia
elétrica, identificando os itens passíveis de serem considerados na composição
do LDI, os valores médios ou medianos praticados e a respectiva faixa de
variabilidade, com vistas a subsidiar o trabalho de fiscalização deste tipo de
obra e, mais especificamente, a análise da razoabilidade dos valores de LDI
propostos pelo Consórcio Alusa/Amper, no Contrato n.º 4500007623, firmado
com a Eletronorte.
Preliminarmente, como medida precursora ao atendimento da
determinação do colegiado máximo desta Corte, a Secretaria-Geral de Controle
Externo editou a Ordem de Serviço - SEGECEX n.º 01, de 24 de janeiro de
2006, que constituiu Grupo de Trabalho, composto pelos Analistas de Controle
Externo Luís Emílio Xavier dos Passos, Eustáquio José Rodrigues e Marcelo
Rocha do Amaral, para apresentar proposta de trabalho para definir os critérios
de aceitabilidade do Lucro e Despesas Indiretas em obras de implantação de
linhas de transmissão de energia elétrica.
Após apresentação e aprovação da proposta pelo Grupo supracitado,
foi constituído novo Grupo, por meio da Ordem de Serviço - SEGECEX n.º 06,
de 16 de março de 2006, composto pelos analistas Daniel Fernandes da Cunha
Gonçalves Basto, Marcelo Rocha do Amaral e Rogério Blass Staub, para
execução dos trabalhos para definir os critérios de aceitabilidade do LDI em
obras de implantação de linhas de transmissão de energia elétrica.
2 OBJETIVO DO TRABALHO
O principal objetivo deste trabalho é propor critérios/parâmetros de
aceitabilidade para o LDI - Lucro e Despesas Indiretas, também denominado
BDI(1) - Bonificação e Despesas Indiretas ou Benefícios e Despesas Indiretas
em obras de implantação de linhas de transmissão de energia elétrica. Cabe
ressaltar que, além das obras de implantação de linhas de transmissão, o
trabalho abrangeu obras de subestações, que também compõem o sistema de
transmissão de energia elétrica.
--------------------
(1) Neste trabalho será usado indistintamente tanto o termo LDI
como BDI.
--------------------
Além disso, procurou-se identificar os elementos passíveis de serem
incluídos na composição do LDI, os valores praticados e a respectiva faixa de
variabilidade. desses itens.
Embora trate de LDI para obras de linhas de transmissão e de
subestações, o presente trabalho pode fornecer uma referência genérica, pois
sua especificidade limita-se aos valores observados para o setor, sendo os
conceitos e a composição do LDI propostos aplicáveis a outros tipos de obras.
3 METODOLOGIA
Foram realizadas pesquisas de publicações sobre LDI, sobre custos
de implantação de linhas de transmissão e de subestações e levantamento de
dados junto a empresas estatais da União que atuam no setor elétrico.
O levantamento de dados abrangeu visita às empresas Furnas,
Chesf, Eletronorte, Eletrosul e Eletrobrás, além da ANEEL, para obtenção das
seguintes informações e documentos:
- estudos e metodologias de cálculo de LDI em obras de linhas de
transmissão e subestações desenvolvidos pela empresa;
- critérios de aceitabilidade de percentual e de composição de LDI
adotados pela empresa em procedimentos licitatórios;
- contratos recentes de obras de construção de linhas de
transmissão e de subestações firmados na modalidade concorrência com
discriminação do LDI adotado e planilha orçamentária da proposta vencedora.
Além das informações e documentos, as visitas propiciaram
discussões sobre a abordagem dada ao LDI em cada empresa com as áreas
técnicas responsáveis pela elaboração dos orçamentos.
4 LUCRO E DESPESAS INDIRETAS - LDI
4.1 Conceito
Vários conceitos podem ser utilizados para se compreender o LDI.
Explicados de formas distintas, tentam definir uma parcela do orçamento de
obras, em razão da sua segmentação em custos diretos e indiretos.
O Instituto de Engenharia conceitua BDI como ‘o resultado de uma
operação matemática para indicar a margem que é cobrada do cliente incluindo
todos os custos indiretos, tributos, etc. e logicamente sua remuneração pela
realização de um empreendimento’.(2)
--------------------
(2) Instituto de Engenharia. Metodologia de cálculo do orçamento de
edificações - composição do custo direto e do BDI/LDI. Disponível em
http://www.institutodeengenharia.org.br/IE_documentos.html. Acesso em
03/05/2006.
--------------------
André Luiz Mendes e Patrícia Reis Leitão Bastos definem BDI como a
‘taxa correspondente às despesas indiretas e ao lucro que, aplicada ao custo
direto de um empreendimento (materiais, mão-de-obra, equipamentos), eleva-
o ao seu valor final’.(3)
--------------------
(3) MENDES, André Luiz e BASTOS, Patrícia Reis Leitão. Um aspecto
polêmico dos orçamentos de obras públicas: Benefícios e Despesas Indiretas
(BDI). Revista do Tribunal de Contas da União. Brasília, v. 32, n.88, abr/jun
2001.
--------------------
O TCU, na Decisão 255/1999-Plenário, definiu o BDI ‘como um
percentual aplicado sobre o custo para chegar ao preço de venda a ser
apresentado ao cliente’.
Compreendida como uma relação matemática entre os custos
indireto e direto para formação do preço da obra, essa incidência pode ser
explicitada pela seguinte fórmula:
onde PV = preço de venda;
CD = custo direto;
LDI = taxa de lucro e despesas indiretas.
Visto o papel do LDI no orçamento de uma obra, para que se possa
avaliar sua adequada aplicação, faz-se necessária a classificação dos
componentes orçamentários em custos diretos e indiretos, bem como a
definição daqueles que devem ou não integrar o LDI. Sendo uma relação
matemática que estimará o preço de uma obra, qualquer componente indevido
no LDI causará distorções na estimativa.
A parcela de custo direto - CD - sobre a qual incidirá o BDI é
definida pelo Instituto de Engenharia como o ‘resultado da soma de todos os
custos unitários dos serviços necessários para a construção da edificação,
obtidos pela aplicação dos consumos dos insumos sobre os preços de mercado,
multiplicados pelas respectivas quantidades, mais os custos da infra-estrutura
necessária para a realização da obra’.(4)
--------------------
(4) Instituto de Engenharia. Metodologia de cálculo do orçamento de
edificações - composição do custo direto e do BDI/LDI. Disponível em
http://www.institutodeengenharia.org.br/IE_documentos.html. Acesso em
03/05/2006.
--------------------
O custo direto, consoante o Sindicato da Indústria da Construção
Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon/SP), é conceituado como a ‘soma de
todos os custos parciais obtidos através da composição de custos unitários pela
aplicação dos consumos dos insumos representados por materiais, mão-de-
obra e equipamentos, multiplicados pelas respectivas quantidades, formatados
numa planilha de custo direto ou planilha orçamentária’.(5)
--------------------
(5) Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São
Paulo. Nova Conceituação do BDI. Disponível em
http://www.sindusconsp.com.br/downloads/BDI_Eventos_IE_PROPOSTAS_E_R
ECOM ENDAÇÕES.DOC. Acesso em 30.03.2006.
--------------------
De forma mais objetiva, consideram-se custos diretos, aqueles que
podem ser associados aos aspectos físicos da obra, detalhados no projeto de
engenharia, bem como ao seu modo de execução, determinados pela
organização operacional e pela infra-estrutura necessária. Assim, custos diretos
são aqueles relacionados aos materiais e equipamentos que comporão a obra,
além dos custos operacionais e de infra-estrutura necessários para sua
transformação no produto final, tais como mão-de-obra (salários, encargos
sociais, alimentação, alojamento e transporte), logística (canteiro, transporte e
distribuição de materiais e equipamentos) e outros dispêndios derivados, que
devem ser discriminados e quantificados em planilhas.
O DNIT considera os seguintes custos diretos(6) :
--------------------
(6) Brasil, Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Diretoria Geral. Manual de custos rodoviários. 3. ed. - Rio de
Janeiro, 2003. pp. 7/8.
--------------------
‘- Custo Direto dos Serviços - representa a soma dos custos dos
insumos (equipamentos, materiais e mão-de-obra) necessários à realização dos
serviços de todos os itens da planilha.
- Custo de Administração Local - representa todos os custos locais
que não são diretamente relacionados com os itens da planilha e, portanto, não
são considerados na composição dos custos diretos. Inclui itens como: Custo da
Estrutura Organizacional (pessoal), Seguros e Garantias de Obrigações
Contratuais e Despesas Diversas.
- Mobilização e Desmobilização - a parcela de mobilização
compreende as despesas para transportar, desde sua origem até o local aonde
se implantará o canteiro da obra, os recursos humanos, bem como todos os
equipamentos e instalações (usinas de asfalto, centrais de britagem, centrais
de concreto, etc.) necessários às operações que aí serão realizadas. Estão,
também, aí incluídas as despesas para execução das bases e fundações
requeridas pelas instalações fixas e para sua montagem, colocando-as em
condição de funcionamento. Como, de um modo geral, a desmobilização de
equipamentos e instalações se faz a fim de transportá-los para uma nova obra,
não será prevista parcela especifica para este fim, com vistas a evitar dupla
remuneração.
- Canteiro e Acampamento - esta rubrica tem por finalidade cobrir
os custos de construção das edificações e de suas instalações (hidráulicas,
elétricas, esgotamento) destinadas a abrigar o pessoal (casas, alojamentos,
refeitórios, sanitários, etc.) e as dependências necessárias à obra (escritórios,
laboratórios, oficinas, almoxarifados, balança, guarita, etc.), bem como dos
arruamentos e caminhos de serviço’.
4.2 Despesas Indiretas
Definidos os custos diretos, necessário se faz apresentar aqueles
que não podem ser definidos como tais, e que, associados aos custos diretos e
ao lucro, formarão o preço final da obra.
A Eletrobrás diz que o custo indireto ‘compreende todas as despesas
não alocáveis diretamente à execução da obra’.(7) São custos decorrentes, por
conseguinte, das necessidades e obrigações do executor e não diretamente do
projeto de engenharia.
--------------------
(7) Revisão das diretrizes para elaboração de orçamentos de linhas
de Transmissão. Divisão de Engenharia de transmissão - Eletrobras S.A. 2005.
p. 19.
--------------------
Enquanto os custos diretos são objetivos e vinculados à
especificação do projeto da obra e suas quantificações, os indiretos são
subjetivos e associados ao executor, às suas necessidades operacionais
(administração central, seguros, garantia, caixa), de rentabilidade e obrigações
tributárias. A denominação indiretos se dá em razão da sua valoração ser
obtida em função de percentuais dos custos diretos, representando o caráter
intrínseco ao projeto da obra que tem os custos diretos, diferentemente dos
indiretos, que poderiam ser considerados extrínsecos, pois são subseqüentes ao
projeto já quantificado.
Portanto, consideram-se inadequados aqueles conceitos que
definem como indiretos os custos que são associados com objetividade e
segurança a uma obra específica e que, para serem apropriados, precisariam
ser rateados, isto é, distribuídos entre as diversas obras realizadas pela mesma
empresa. A falha deste conceito se torna evidente em uma análise de itens de
despesas indiretas, a exemplo dos tributos, cujo valor é resultante de uma obra
determinada.
São normalmente considerados custos indiretos: despesas
financeiras, administração central, tributos federais (PIS/Cofins, CPMF), tributos
municipais (ISS), seguros, riscos e garantias.
4.2.1 Despesas financeiras
Despesas financeiras são gastos relacionados ao custo do capital
decorrente da necessidade de financiamento exigida pelo fluxo de caixa da obra
e ocorrem sempre que os desembolsos acumulados forem superiores às
receitas acumuladas. Nas obras públicas, as empresas construtoras
normalmente necessitam investir capital, pois as entidades contratantes só
podem legalmente pagar pelos serviços efetivamente realizados (Lei n.º
4.320/1964, arts. 62 e 63) e dispõem de 30 (trinta) dias para realizar o
pagamento. No entanto, a empresa pode equilibrar seu fluxo de caixa com os
prazos obtidos junto aos seus fornecedores.
O capital investido pelas empresas pode ser próprio, quando
utilizarem recursos que já possuam em seus caixas, ou de terceiros, quando
adquiridos junto a operadores financeiros (bancos, financeiras, etc.). No caso
do capital próprio, sua remuneração normalmente é calculada com o fim de
promover sua atualização monetária. Com relação a capital de terceiros, deve-
se analisar qual o custo de oportunidade do capital, ou seja, deve-se apurar
qual seria o seu rendimento se o capital de giro tivesse sido aplicado no
mercado financeiro naquele período. Assim, a Administração deve resguardar-
se de taxas abusivas, pois o preço da obra não pode ser onerado por
ineficiência operacional do executor. Dessa forma, a taxa de juros referencial
para o mercado financeiro mais adequada é a taxa SELIC, taxa oficial definida
pelo comitê de política monetária do Banco Central.
As despesas financeiras podem ser calculadas pela fórmula:
onde:
- DF é a taxa de despesa financeira;
- j é a taxa mensal de atualização monetária ou de juros de
referência;
- n é o número de dias decorridos entre o centro de gravidade dos
desembolsos e a efetivação do pagamento contratual.
Ressalte-se que a competitividade nas licitações estimula a queda
dos preços propostos pelas empresas e faz com que as empresas que possuam
capital próprio ou acesso a capital de baixo custo obtenham vantagem nas
propostas para obras públicas.
4.2.2 Administração Central
Toda empresa possui uma estrutura administrativa com custo e
dimensão próprios. A sua representação no LDI de uma obra é definida
estabelecendo em que proporção esse custo é apropriado como despesa de
uma obra. Pode ser de forma integral, quando a empresa executa apenas uma
obra, de forma parcial, na hipótese de rateio entre várias obras executadas
pela empresa ou, até mesmo, não ser apropriada em uma obra específica, caso
a empresa tenha como alocar esses custos em outras atividades.
O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT)
define Administração central como a parcela do Preço Total que corresponde à
quota parte do custo da Administração central do Executor, a ser absorvida
pela obra em tela(8) .
--------------------
(8) Brasil, Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Diretoria Geral. Manual de custos rodoviários. 3. ed. - Rio de
Janeiro, 2003. p. 8.
--------------------
O Instituto de Engenharia define como rateio da administração
central a parcela de despesa da Administração central debitada a determinada
obra segundo os critérios estabelecidos pela direção da empresa. As despesas
da Administração central são aquelas incorridas durante um determinado
período com salários de todo o pessoal administrativo e técnico lotado ou não
na sede central, no almoxarifado central, na oficina de manutenção geral, pró-
labore de diretores, viagens de funcionários a serviço, veículos, aluguéis,
consumos de energia, água, gás, telefone fixo ou móvel, combustível,
refeições, transporte, materiais de escritório e de limpeza, seguros, etc.(9)
--------------------
(9) Instituto de Engenharia. Metodologia de cálculo do orçamento de
edificações - composição do custo direto e do BDI/LDI. Disponível em
http://www.institutodeengenharia.org.br/IE_documentos.html. Acesso em
03/05/2006.
--------------------
Diversos fatores podem influenciar as taxas de administração
central praticadas pelas empresas, dentre elas podem ser citadas: estrutura da
empresa, número de obras que a empresa esteja executando no período,
complexidade e prazo das obras.
Daí, se depreende que, por exemplo, uma empresa com maior
número de obras poderá praticar uma taxa de administração central inferior à
empresa do mesmo porte com apenas um canteiro.
4.2.3 COFINS/PIS
O Programa de Integração Social (PIS) foi instituído pela Lei
Complementar n.º 7, de 7 de setembro de 1970.
O PIS tem como objetivo o financiamento do programa do Seguro-
Desemprego e o abono aos empregados que recebem até dois salários mínimos
mensais.
A Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social
(COFINS) foi instituída pela Lei Complementar n.º 70, de 30 de dezembro de
1991, com a finalidade de financiar as despesas das áreas de Saúde,
Previdência e Assistência Social.
Até janeiro de 1999, as bases de incidência do PIS e da COFINS,
eram, salvo exceções, a receita bruta das vendas de mercadorias e da
prestação de serviços, tendo como alíquota 0,65% para o PIS e 2% para a
COFINS, calculados sobre as referidas receitas.
A partir de fevereiro de 1999, com a edição da Lei n° 9.718, de 27
de novembro de 1998, as bases de incidências do PIS e da COFINS foram
ampliadas e passaram a contemplar não somente a receita bruta de vendas e
da prestação de serviços, mas também as demais receitas auferidas pela
pessoa jurídica, independente de sua classificação contábil. A alíquota do PIS
foi mantida em 0,65% e a alíquota da COFINS foi majorada para 3%.
Com a Lei n.º 10.637, de 30 de dezembro de 2002, foi estabelecido
o sistema não cumulativo para o cálculo desta contribuição para o PIS,
passando a mesma a incidir sobre o valor agregado em cada etapa do processo
produtivo. A alíquota do tributo foi majorada de 0,65%, para 1,65%.
Com o advento da Lei n° 10.833, de 29 de dezembro de 2003, a
apuração não-cumulativa foi estendida também para a COFINS, com alteração
da alíquota de 3% para 7,6%.
A não-cumulatividade de PIS/COFINS, consoante os arts. 10, inciso
XX, e 15, inciso V, da Lei n.º 10.833/2003, só será aplicável às receitas
decorrentes da execução por administração, empreitada ou subempreitada, de
obras de construção civil a partir de 01/01/2007, até a véspera vigorarão as
alíquotas de 3% e 0,65%. Essa não-cumulatividade significa a possibilidade de
se efetuar descontos de créditos obtidos pela empresa, de acordo com o art. 3º
da referida norma, sobre os valores resultantes da aplicação das novas
alíquotas. Cabe ressaltar que as pessoas jurídicas tributadas pelo imposto de
renda com base no lucro presumido ou arbitrado e as optantes pelo simples não
se enquadram no novo sistema de não-cumulatividade, ou seja, permanecem
sujeitas às normas da legislação do PIS e da COFINS vigentes anteriormente às
Leis n.ºs 10.637/2002 e 10.833/2003, respectivamente, consoante o art. 8º,
incisos II e III, e art. 10, incisos II e III, das referidas leis.
Essa mudança na legislação traz uma nova complexidade para o
cálculo do LDI, já que esses tributos deixam de ser fixos para assumirem
percentuais variáveis conforme o perfil dos dispêndios da empresa. Como a
legislação discrimina os dispêndios que podem gerar esses créditos (dentre eles
bens adquiridos para revenda; bens e serviços utilizados como insumos na
prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos
destinados à venda; despesas como aluguéis, energia etc), os que não estão
relacionados (custo de mão-de-obra, tributos e lucro, por exemplo) não irão
gerá-los. Assim, as empresas que têm maior participação das operações
geradoras de crédito nas suas atividades levam vantagem na redução das
alíquotas efetivas para o PIS e a COFINS. Por exemplo, para as empresas que
já estão operando sob o efeito dessa nova forma de cálculo, observa-se que na
indústria e no comércio, devido a créditos recebidos, as alíquotas efetivamente
pagas têm ficado abaixo dos 0,65% e 3%, para as alíquotas de PIS e COFINS,
respectivamente. No entanto, para empresas prestadoras de serviços, que têm
na mão-de-obra seu principal insumo, as alíquotas geralmente são superiores
aos referidos percentuais, pois não possuem muitos créditos para compensar.
A complexidade advém de se estabelecer parâmetros para esses
valores que são variáveis. No caso concreto, as empresas proponentes poderão
fixar os percentuais de PIS e COFINS para o cálculo do seu LDI, pois já
conhecem, pela sua estrutura organizacional e pelo tipo de contrato a ser
executado, os possíveis créditos e valores aproximados das alíquotas sob as
quais deverão trabalhar. Para efeito de orçamentação do contratante, esses
percentuais deverão ser estimados.
Como exercício para simulação dos efeitos das novas alíquotas do
PIS e da COFINS no cálculo do LDI para obras do setor elétrico, tomou-se como
referência inicial os valores médios observados na Tabela II (Tópico 9.7 - Faixa
de Variação do LDI, deste trabalho). Em seguida, foi necessário estimar o
percentual de crédito que a empresa pode obter para se estabelecer a alíquota
efetiva.
No caso da construção civil, há estudos (10) que estimam, de forma
geral, que o custo da mão-de-obra representa em torno de 40% do custo total
de uma obra, enquanto os materiais representam cerca de 60%. No entanto,
como há incidência do LDI sobre o custo direto para a formação do Preço de
Venda, o custo com a mão-de-obra representará um percentual menor que
40% em relação ao faturamento. Por exemplo, com a utilização de um valor
médio de LDI de 22,61% (Tabela II), a mão-de-obra representará um
percentual de aproximadamente 33% (0,40 ? 1,2261) do Preço de Venda. De
forma geral, esse percentual mais os relativos aos tributos e ao lucro
representam a parte do faturamento que não gera crédito para apuração dos
valores devidos do PIS e da COFINS. Portanto, ao avaliar esses últimos
percentuais, a parte remanescente do faturamento, teoricamente,
corresponderia aos créditos possíveis de serem utilizados para determinar a
base de cálculo e a alíquota efetiva desses tributos.
--------------------
(10) Limmer, Carl V. Planejamento, Orçamentação e Controle de
Projetos e Obras. Ed. LTC, 1ª edição, 1997, pgs. 101 e 104
--------------------
Considerando-se, por hipótese, que 50% dos créditos poderão ser
descontados (um valor intermediário entre a expectativa desses benefícios para
os setores de indústria e comércio e para o setor de serviços), as alíquotas
efetivas da COFINS e PIS resultarão em percentuais de 3,8% e 0,825%,
respectivamente. Agregando-se aos valores médios de ISS - 3,5% e CPMF -
0,38%, obtém-se um total de tributos de 8,5%.
Para finalizar, considerando um percentual médio de lucro de 8%, e
somando-se todas essas parcelas (mão-de-obra - 33%, tributos - 8,5% e lucro
- 8%), alcança-se um total de 49,5% do faturamento, que não representam
crédito para abatimento na apuração do PIS e da COFINS. Isso quer dizer que
50,5% poderiam ser descontados do faturamento para se chegar à base de
cálculo da COFINS e do PIS. Pelo exercício hipotético, as alíquotas efetivas
desses tributos, de forma simplificada, resultariam em 3,76% (7,6% x 49,5%)
e 0,82% (1,65% x 49,5%) para COFINS e PIS, respectivamente.
Evidentemente, trata-se de uma análise hipotética e que sofre de
valores reincidentes, como as próprias alíquotas do PIS e da COFINS.
Entretanto, considerado o perfil do setor de construção civil, supõe-se que a
utilização possível de créditos para se estabelecer a taxa efetiva desses tributos
não deve ser inferior a 50%. Pode-se notar também que uma pequena variação
em torno desse percentual não afeta significativamente a estimativa desses
tributos no LDI. No caso concreto, o orçamentista terá uma melhor condição de
estimar esses valores. Como exemplo, adotando uma variação de 5% positiva e
negativa em torno da média de 50%, com um crédito sobre o faturamento de
45%, as alíquotas efetivas da COFINS e do PIS ficam em 4,18% e 0,91%,
respectivamente. De outro modo, se esse percentual ficar em 55% as alíquotas
passam para 3,42% e 0,74%. Ou seja, a apropriação desses tributos somados
no LDI, variaria de 4,16% a 5,09%.
Além disso, é interessante notar que, para os casos em que a não-
cumulatividade desses tributos já está vigorando, a legislação sobre o assunto
ainda não está consolidada. Inúmeros atos normativos já foram editados para
definir questões ligadas ao cálculo dos dois tributos. Como essa nova
sistemática de cálculo só entrará em vigor a partir de 01/01/2007 para as
receitas decorrentes da execução por administração, empreitada ou
subempreitada, de obras de construção civil, não é possível prever com
exatidão como ela funcionará na prática.
Não há como enquadrar o PIS e a COFINS como custos de
produção, pois não são gastos obtidos no processo de obtenção dos serviços
e/ou bens que estão sendo executados. Tratam-se, portanto, de despesas
indiretas.
De acordo com o que já foi mencionado para distinção dos custos
diretos e indiretos, o cálculo desses tributos, como demonstrado, está
relacionado com a empresa e com suas receitas, não sendo conseqüência direta
do projeto e da execução da obra e, sim, da receita dela resultante,
confirmando o caráter de despesa indireta.
4.2.4 CPMF e ISS
4.2.4.1 CPMF
A Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de
Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF) foi instituída
pela Lei n.º 9.311, de 24 de outubro de 1996, que considerou como
movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza
financeira qualquer operação liquidada ou lançamento realizado pelas entidades
referidas no seu art. 2º, que representam circulação escritural ou física de
moeda e de que resulte ou não transferência de titularidade dos mesmos
valores, créditos e direitos.
O fato gerador da CPMF, conforme o inciso I do art. 2º da Lei n.º
9.311/1996, é o lançamento a débito, por instituição financeira, em contas
correntes de depósito, em contas correntes de empréstimo, em conta de
depósito de poupança, de depósito judicial e de depósitos em consignação de
pagamento.
A CPMF possui as seguintes alíquotas, de acordo com seu período de
incidência:
I - 0,20%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período
de 23 de janeiro de 1997 a 22 de janeiro de 1999;
II - 0,38%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período
de 17 de junho de 1999 a 16 de junho de 2000;
III - 0,30%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período
de 17 de junho de 2000 a 17 de março de 2001;
IV - 0,38%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período
de 18 de março de 2001 a 31 de dezembro de 2007;
4.2.4.2 ISS
O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), de
competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a
prestação de serviços relacionados na lista anexa à Lei Complementar n.º
116/2003, de 01 de agosto de 2003, mesmo que tais serviços não se
constituam atividade preponderante do prestador do serviço.
O contribuinte do ISS é o prestador do serviço (art. 5º da LC n.º
116/2003).
O art. 3º da LC n.º 116/2003 estabelece que o serviço se considera
prestado e o imposto devido no local do estabelecimento prestador ou, na falta
do estabelecimento, no local do domicílio do prestador, exceto nas hipóteses
relacionadas nos itens I a XXII do citado artigo, que indicam o local em que o
imposto será devido.
Considera-se estabelecimento prestador, conforme definição do art.
4º da LC n.º 116/2003, o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de
prestar serviços, de modo permanente ou temporário, e que configure unidade
econômica ou profissional, sendo irrelevantes para caracterizá-lo as
denominações de sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal,
escritório de representação ou contato ou quaisquer outras que venham a ser
utilizadas.
Conforme o art. 7º da LC n.º 116/2003, a base de cálculo do
imposto é o preço do serviço, nela não se incluindo o valor dos materiais
fornecidos pelo prestador dos serviços previstos nos itens 7.02 e 7.05(11) da
lista de serviços anexa à lei.
--------------------
(11) 7.02 - Execução, por administração, empreitada ou
subempreitada, de obras de construção civil, hidráulica ou elétrica e de outras
obras semelhantes, inclusive sondagem, perfuração de poços, escavação,
drenagem e irrigação, terraplanagem, pavimentação, concretagem e a
instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos (exceto o
fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador de serviços fora do
local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS).
--------------------
O art. 88 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, com a
redação dada pela Emenda Constitucional n.º 37/2002, fixou a alíquota mínima
do ISS em 2% (dois por cento), ao passo que a alíquota máxima foi fixada em
5% (cinco por cento) pelo art. 8º, II, da LC n.º 116/2003. Os municípios gozam
de autonomia para fixar as alíquotas do ISS, desde que respeitados esses
limites.
Seguindo a mesma linha de raciocínio aplicada à classificação do
PIS/COFINS, a CPMF e o ISS são tributos que devem ser considerados como
despesas indiretas. Estes, como aqueles, não decorrem da especificação do
projeto ou da execução da obra e, também, são subseqüentes a esses custos
diretos, pois tanto a movimentação financeira da empresa, base de cálculo da
CPMF, quanto as faturas da obra, base de cálculo do ISS, englobam as parcelas
correspondentes aos custos diretos e indiretos.
4.2.5 Risco, Garantias e Seguros
O Instituto de Engenharia conceitua a taxa de risco do
empreendimento como aquela que se ‘aplica para empreitadas por preço
unitário, preço fixo, global ou integral, para cobrir eventuais incertezas
decorrentes de omissão de serviços, quantitativos irrealistas ou insuficientes,
projetos mal feitos ou indefinidos, especificações deficientes, inexistência de
sondagem do terreno, etc’.(12)
--------------------
(12) Instituto de Engenharia. Metodologia de cálculo do orçamento
de edificações - composição do custo direto e do BDI/LDI. Disponível em
http://www.institutodeengenharia.org.br/IE_documentos.html. Acesso em
03/05/2006.
--------------------
Embora o Instituto de Engenharia tenha conceituado o risco para
obras comuns, sob a ótica do empreendedor, esse não se aplica às obras
regidas por contratos administrativos. Para a realização desses contratos, é
necessária a existência prévia de projeto básico pelo qual os licitantes devem
se orientar assumindo os riscos da avaliação e precificação do projeto, dada por
preços unitários e quantitativos especificados. Cabe lembrar que, conforme
definido no art. 6º, inciso IX, da Lei n.º 8.666/1993, o projeto básico deve
contemplar o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de
precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras
ou serviços objeto da licitação, que assegurem a viabilidade técnica e o
adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que
possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos construtivos
e do prazo de execução. Ou seja, se esses requisitos forem cumpridos a
necessidade de modificações decorrentes de projetos mal feitos ou indefinidos
serão minimizados.
Assim, no contrato administrativo, a obra é pactuada pelos
quantitativos do projeto e os custos unitários estabelecidos. Quaisquer
alterações dependerão de repactuação do contrato, a ser aprovada pela
Administração, não incorrendo o executor em riscos de quantitativos.
Entretanto, existem ocorrências não previstas em projetos e que
podem repercutir no custo da obra e deverão ser arcadas pelo contratado.
Dentre elas podemos citar: perdas excessivas de material (devido a quebra ou
retrabalho), perdas de eficiência de mão-de-obra, greves, condições climáticas
atípicas, dentre outros.
A taxa de riscos é determinada em percentual sobre o custo direto
da obra e depende de uma análise global do risco do empreendimento em
termos orçamentários.
Questões que podem ser previamente convencionadas no contrato
ou ensejarem solicitação de reequilíbrio econômico-financeiro, como a variação
cambial (e o seu seguro - hedge) não devem ser enquadradas no LDI.
A fim de se resguardar de incidentes do empreendimento, o licitante
pode firmar contrato de seguro, a fim de ser indenizado pela ocorrência de
eventuais sinistros. Dessa forma, o seguro deve corresponder a objetos
definidos da obra, pelos quais o empreendedor deseja ser ressarcido no caso de
perdas e pode abranger casos de roubo, furto, incêndio, perda de máquinas ou
equipamentos, dentre outros aspectos das obras civis.
A garantia contratual está prevista no art. 56 da Lei n.º 8.666/1993,
que estatui poder a Administração Pública para exigi-la:
‘Art. 56 A critério da autoridade competente, em cada caso, e desde
que prevista no instrumento convocatório, poderá ser exigida prestação de
garantia nas contratações de obras, serviços e compras’. (grifos nossos).
Esta exigência faz parte das cautelas que a Administração Pública
pode tomar para assegurar o sucesso da contratação. Trata-se, contudo, de
exigência discricionária, que poderá ser requerida nas hipóteses em que
existirem riscos de lesão ao interesse público, caso contrário, a Administração
pública não necessitará impô-la. A exigência de garantia deve constar do
instrumento convocatório.
As garantias e os seguros das obrigações contratuais são custos que
resultam de exigências contidas nos editais de licitação e só podem ser
estimadas caso a caso, mediante avaliação do ônus econômico-financeiro que
poderá recair sobre o licitante.
4.3 Lucro
O lucro é um conceito econômico que pode ser descrito de diversas
formas para representar uma remuneração alcançada em conseqüência do
desenvolvimento de uma determinada atividade econômica. Para o setor em
comento, execução de obras civis, são enunciados diversos conceitos, que, em
resumo, irão reproduzir essa mesma idéia.
O Sinduscon/SP conceitua lucro como:
‘parcela destinada a remunerar o acervo de conhecimentos
acumulados ao longo dos anos de experiência no ramo, capacidade
administrativa e gerencial, conhecimento tecnológico acumulado, treinamento
do pessoal, fortalecimento da capacidade de reinvestir em novos projetos e o
risco do negócio em si’. (13)
--------------------
(13) Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São
Paulo. Nova Conceituação do BDI. Disponível em
http://www.sindusconsp.com.br/downloads/BDI_Eventos_IE_PROPOSTAS_E_R
ECOM ENDAÇÕES.DOC. Acesso em 30.03.2006.
--------------------
O Instituto de Engenharia define lucro como:
‘parcela destinada a remunerar o custo de oportunidade do capital
aplicado, capacidade administrativa, gerencial e tecnológica adquirida ao longo
de anos de experiência no ramo, responsabilidade pela administração do
contrato e condução da obra por estrutura organizacional da empresa e
investimentos na formação profissional do seu pessoal e criar a capacidade de
reinvestir no próprio negócio’.(14)
--------------------
(14) Instituto de Engenharia. Metodologia de cálculo do orçamento
de edificações - composição do custo direto e do BDI/LDI. Disponível em
http://www.institutodeengenharia.org.br/IE_documentos.html. Acesso em
03/05/2006.
--------------------
O DNIT utiliza o termo margem para definir a parcela que:
‘complementa a formação do Preço de Venda, sem que possa ser
considerada como item de custo, ela é, na verdade, uma parcela destinada a
remunerar os fatores da produção do Executor que intervêm na obra, tais
como: custo de oportunidade do capital aplicado nos equipamentos mobilizados
na obra; capacidade administrativa e gerencial para a administração do
contrato e a condução da obra, representada pelas estruturas organizacionais
da empresa e pelo conjunto de normas e procedimentos de que se utiliza;
conhecimento tecnológico adquirido através de experiências pregressas e pelo
investimento em formação, treinamento de pessoal e compra de ‘know how’ e,
finalmente, o risco do negócio. A margem é, assim, um excedente sobre o
custo orçado, através do qual o Executor buscará realizar seu Lucro, bem como
prover recursos para pagamento de impostos sobre o resultado’. (grifo nosso).
O lucro esperado num contrato de obras civis é expresso por um
percentual sobre o valor do contrato disposto como parcela do LDI. Esse
percentual é determinante para formação do preço da obra e, embora seja
fruto da expectativa de cada licitante, pode ser previsto um padrão para cada
ramo de atividade econômica. No caso dos contratos administrativos, o próprio
histórico de percentuais praticados pode fornecer uma referência para esse
padrão.
Desse modo, muitos órgãos da Administração pública procuram
identificar uma tendência de lucro praticada dentro de suas atividades, com
base em estudos disponíveis ou em registros de contratos.
A Secretaria de Governo e Gestão Estratégica do Estado de São
Paulo, com base em estudos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas -
FIPE, considera que deve ser adotada uma faixa de valores obtida a partir das
demonstrações financeiras das empresas do setor, o que limitaria uma possível
variação da taxa de lucro (‘Estudos de Serviços Terceirizados’ - Publicações -
Versão maio/1999 - Volume I -‘Prestação de Serviços de Limpeza, Asseio e
Conservação Predial’ - Capítulo VII - Benefícios e Despesas Indiretas.).
Com base nesse critério, aquela Secretaria adota para a contratação
com órgãos da Administração pública estadual uma margem de lucro de 7,2%.
Esse percentual foi obtido a partir da média aritmética das relações
Lucro/Vendas da demonstração de resultados financeiros e contábeis das 309
maiores empresas de construção civil (dados obtidos na revista Conjuntura
Econômica).
O estudo publicado pela Associação Brasiliense de Construtores -
ASBRACO (Estudo sobre composição de BDI, obtido diretamente junto a
Associação Brasiliense de Construtores - ASBRACO em maio de 2000) considera
como margem de lucro o valor de 7,2%.
O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte, no
Sistema de Custos Rodoviários - SICRO-2(2003), considera uma margem de
lucro de 7,2% na composição do BDI, sendo 5,0% de lucro líquido, 1,2% de
IRPJ e 1,0% de CSLL.
Com base nos estudos anteriormente citados, poder-se-ia
considerar que uma margem de lucro entre 7,0% e 8,5% estaria perfeitamente
adequada aos valores atualmente praticados no mercado da construção civil.
Embora os diversos estudos citados procurem estabelecer uma faixa
de variação considerada aceitável para o percentual de lucro praticado pelas
empresas em licitações públicas, lembramos que trata-se apenas de uma faixa
de referência, não havendo previsão legal para que essa seja fixada ou
limitada.
Este raciocínio encontra supedâneo na interpretação de artigos da
Constituição que disciplinam a ordem econômica, bem como na correspondente
legislação regulamentadora.
A Constituição Federal, no seu art. 173, § 4º, condena o abuso do
poder econômico, exteriorizado pela ‘dominação dos mercados’, pela
‘eliminação da concorrência’ e pelo ‘aumento arbitrário dos lucros’:
‘Art. 173.
§ 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à
dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário
dos lucros’. (grifos nossos).
A fim de regulamentar o dispositivo constitucional, foi editada a Lei
n.º 8.884/1994(15) , que, no inciso IIII do seu art. 20, tipifica a conduta de
‘aumentar arbitrariamente os lucros’ como infração da ordem econômica:
--------------------
(15) Esta lei trata da transformação do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) em Autarquia, dispõe sobre a prevenção e a
repressão às infrações contra a ordem econômica e dá outras providências.
--------------------
‘Art. 20. Constituem infração da ordem econômica,
independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que
tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não
sejam alcançados:
...
III - aumentar arbitrariamente os lucros;
...’ (grifo nosso)
Observa-se que não há condenação à prática de lucros ou qualquer
definição que considere o que seja lucro abusivo ou aceitável, o que se condena
é o aumento arbitrário, que caracterize abuso de poder econômico.
Acerca do aumento arbitrário de lucros GASTÃO ALVES DE TOLEDO
explica que:
‘o aumento dos lucros em si mesmo considerado não é incompatível
com uma sadia atividade econômica, apenas quando arbitrário o mesmo deve
ser combatido’.(16)
--------------------
(16) TOLEDO, Gastão Alves de. O Direito Constitucional Econômico e
sua Eficácia. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p221.
--------------------
Dos citados dispositivos, verifica-se que não há, nos textos
constitucional e legal, condenação ao poder econômico, mas sim ao seu abuso.
Sobre o assunto, CARLOS JACQUES VIEIRA GOMES(17) leciona que ‘a detenção
de poder econômico, além de lícito em si, constitui fato comum no atual estágio
do sistema capitalista, deve o direito voltar-se para o controle do exercício
abusivo do poder econômico’.
--------------------
(17) GOMES, Carlos Jacques Vieira. Ordem Econômica
Constitucional e Direito Antitruste. Sérgio Antônio Fabris Editor: Porto Alegre,
2004, p.90.
--------------------
O ordenamento jurídico vigente no país, fundado nos princípios da
livre iniciativa e da livre concorrência, assegura à empresa a liberdade para agir
e conquistar mercados, para estabelecer os preços pelos quais vai vender seus
produtos e serviços, sendo vedados o abuso do direito, o uso arbitrário da
condição de agente econômico e a obtenção de vantagens ilícitas, na medida
em que impõe a toda a coletividade condições que lhe são absolutamente
desfavoráveis.
Vale observar, ainda, a disposição do parágrafo único do art. 21 da
Lei n.º 8.884/1994:
‘art. 21. Parágrafo único. Na caracterização da imposição de preços
excessivos ou do aumento injustificado de preços, além de outras
circunstâncias econômicas e mercadológicas relevantes, considerar-se-á:
I - o preço do produto ou serviço, ou sua elevação não justificados
pelo comportamento do custo dos respectivos insumos, ou pela introdução de
melhoria de qualidade.
II - o preço do produto anteriormente produzido, quando se tratar
de sucedâneo resultante de alterações não substanciais.
III - o preço de produtos e serviços similares, ou sua evolução, em
mercados competitivos comparáveis.
IV - a existência de ajuste ou acordo, sob qualquer forma, que
resulte em majoração de bem ou serviço ou dos respectivos custos’. (grifos
nossos).
Resta ainda claro que para a caracterização do aumento arbitrário
de lucros será levado em consideração o grau de concentração econômica do
setor eventualmente acusado daquela prática.
Não foram identificados outros dispositivos legais que impusessem
limitação aos lucros ou que conceituassem o que seriam lucros abusivos ou
excessivos. A Lei n.º 1.521/1951, ao tipificar no seu art. 4º, alínea ‘b’, o crime
de usura pecuniária ou real, quantificou como excessivo o lucro patrimonial que
exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida.
Contudo, tal definição só se aplica aos casos de abuso da premente
necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte. Trata-se, por
conseguinte, de negócio jurídico eivado de vício de lesão, nos termos do art.
157 do Código Civil, passível de anulação.
‘art. 4º, b. obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da
premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro
patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita
ou prometida’. (grifo nosso).
A Lei n.º 8.666/1993, no seu art. 43, IV(18) , ao estabelecer o
critério de julgamento dos preços praticados na licitação, considera como
parâmetro o preço de mercado. Por conseguinte, sendo o preço proposto pelo
licitante, incluindo o BDI, compatível com o preço de mercado estimado pela
Administração, não há que se falar em lucro excessivo.
--------------------
(18) Lei 8.666/93, Art.43, IV - verificação da conformidade de cada
proposta com os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços
correntes no mercado ou fixados por órgão oficial competente, ou ainda com os
constantes do sistema de registro de preços, os quais deverão ser devidamente
registrados na ata de julgamento, promovendo-se a desclassificação das
propostas desconformes ou incompatíveis. (grifos nossos)
--------------------
Suponhamos uma empresa que, ao otimizar a utilização de seus
fatores de produção, minimize seus custos totais. Ao participar de um
procedimento licitatório, essa empresa deverá, necessariamente, reduzir sua
margem de lucro ou poderá ser selecionada para prestar serviços à
Administração, mesmo que sua margem de lucro atinja percentual considerado
elevado? A redução poderá ser cogitada, caso desconheça o mercado. Porém,
como na maioria das vezes, sendo empresa de mercado, detentora de
informações, utilizará de sua vantagem na otimização dos custos para
maximizar seu lucro por meio da diferença entre a receita e o custo de
produção. Isto é lícito e aceitável.
Ademais, se utilizarmos o conceito de lucro anteriormente
mencionado e considerarmos que o lucro representa a remuneração de fatores
como ‘o custo de oportunidade do capital aplicado, capacidade administrativa,
gerencial e tecnológica adquirida ao longo de anos de experiência no ramo,
responsabilidade pela administração do contrato e condução da obra por
estrutura organizacional da empresa e investimentos na formação profissional
do seu pessoal e criar a capacidade de reinvestir no próprio negócio’, e não
somente da atividade econômica da empresa, ficará evidente a árdua tarefa de
se definir um percentual máximo para a aceitação do lucro.
Diante do exposto, consideramos que não há, pela mera análise do
percentual de juros praticados, como caracterizá-lo como excessivo ou abusivo,
também não se podendo limitar o lucro praticado pelo empreendedor se não for
constatado abuso de poder econômico decorrente de seu aumento abusivo.
Mais importante que estabelecer limitação de lucros é definir
adequadamente os itens que devem integrar o LDI, bem como assegurar que o
procedimento licitatório permita a seleção da proposta mais vantajosa para a
Administração Pública.
5 DESPESAS QUE NÃO DEVEM SER INCLUÍDAS NO LDI
Vistos os principais componentes do LDI e, em razão da sua
incidência sobre os custos diretos para formação do preço da obra, é
importante evitar a inclusão de itens inadequados, cujas características
predominantes determinem sua classificação como custos diretos, ou não se
classifiquem como custos diretos ou indiretos, como os tributos sobre o lucro e
a renda, que não devem ser computados no preço da obra.
Como se depreende dos já lançados conceitos de custos diretos e
indiretos, a distinção entre eles é essencial nesse método de formação de preço
de obra, pelo qual se utiliza o LDI. Este critério, além de facilitar a medição e a
fiscalização dos itens executados, possibilita à Administração evitar indesejáveis
impactos que eventuais aditivos para mudança de especificações de materiais
e/ou equipamentos, por exemplo, possam acarretar no preço final da obra sem
que aumento nos custos indiretos de fato tenha ocorrido.
Como exemplo, a administração local, a mobilização/desmobilização
e a instalação do canteiro, são itens que, embora não representem serviços
unitários, são custos diretos e devem ser apropriados como tais no orçamento
da obra, pois decorrem diretamente da sua execução.
Há também elementos que, por sua natureza, não devem estar
embutidos no preço da obra e, portanto, não podem compor o LDI. Entre eles
estão o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Embora tenha sido verificado que algumas empresas e entidades
públicas, ao elaborarem os seus orçamentos, incluem alguns deles, ou até
todos, como parte do LDI, considera-se inadequada essa prática.
Nas próximas linhas são analisadas cada uma dessas despesas
quanto a sua adequada classificação.
5.1 Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)(19) :
--------------------
(19) Os argumentos utilizados neste ponto tem como base um
estudo desenvolvido pela 1ª SECEX denominado “Análise sobre a inclusão do
IRPJ e CSLL nos orçamentos e nos preços propostos pelas licitantes no âmbito
da Administração Pública” (fls. 176/209 Anexo II).
--------------------
O IRPJ e a CSLL são tributos que têm como fato gerador a obtenção
de resultados positivos (lucros) pelas empresas em suas operações industriais,
comerciais e de prestação de serviços, além do acréscimo patrimonial
decorrente de ganhos de capital (receitas não-operacionais).
A base de cálculo do IRPJ e da CSLL é o lucro real, presumido ou
arbitrado, correspondente ao período de incidência, e deve ser determinado
observando-se a legislação vigente na data da ocorrência do fato gerador (Lei
n.º 9.430/1996, art. 1º, c/c o art. 28(20)).
--------------------
(20) Esta lei dispõe sobre a legislação tributária federal
(especialmente IRPJ), as contribuições para a Seguridade Social (especialmente
CSLL), o processo administrativo de consulta e dá outras providências.
--------------------
Quanto à sua natureza, esses tributos são classificados como
tributos diretos.
No ordenamento jurídico brasileiro, existem tributos que por sua
natureza permitem a transferência do respectivo encargo financeiro para
terceiros, e outros que não permitem. Este fenômeno é chamado de
repercussão econômica dos tributos, ou seja, o contribuinte de jure ou de
direito ao pagar o tributo sofre um ônus econômico que procurará transladar
para outra pessoa, o contribuinte de fato. Este, ao suportá-lo, consuma o
fenômeno da trajetória do ônus econômico do tributo, isto é, sua repercussão.
A repercussão econômica do tributo é um critério utilizado por
grande parte da doutrina especializada, pela quase totalidade da jurisprudência
dos tribunais superiores pátrios, e, sobretudo, pelo legislador do Código
Tributário Nacional para classificação dos tributos como diretos ou indiretos.
O professor Luiz Emygdio F. da Rosa Junior(21) descreve:
--------------------
(21) Manual de Direito Financeiro & Direito Tributário, 16º edição,
ed. Renovar, págs.358 e 359.
--------------------
‘Observando-se o fenômeno econômico da translação ou
repercussão dos tributos, impostos diretos são aqueles que, por sua natureza,
não comportam a transferência da carga tributária do contribuinte obrigado por
lei ao seu pagamento (contribuinte de direito) para o contribuinte de fato
(pessoa não obrigada por lei ao pagamento). Em outras palavras, os impostos
diretos não se prestam à repercussão, pelo que o contribuinte de direito
suporta em definitivo a carga tributária, sem transferi-la para outra pessoa.
Impostos indiretos são aqueles que se prestam, por sua natureza, à
repercussão, podendo o ônus tributário ser transferido pelo contribuinte
designado pela lei (contribuinte de direito) para outra pessoa que suportará,
em definitivo, e ao final do processo econômico de circulação de riquezas, a
carga tributária (contribuinte de fato). Por esse critério são impostos diretos o
IR, o IPTU, o ITR etc., enquanto são impostos indiretos o IPI, o ICMS etc.’
Hugo de Brito Machado esclarece que:
‘pode-se dizer que o tributo é direto quando o respectivo ônus
financeiro é suportado pelo próprio contribuinte; e indireto quando esse ônus é
transferido para terceiros. Em outras palavras, o tributo é direto quando a
pessoa legalmente obrigada a seu pagamento suporta efetivamente o ônus.
Diz-se que é indireto quando a pessoa legalmente obrigada a seu pagamento
transfere o ônus correspondente para terceiros’.(22)
--------------------
(22) Curso de Direito Tributário, 25ª edição, ed., Malheiros,
pág.201.
--------------------
A Secretaria da Receita Federal (SRF), a própria administradora
desses tributos, utiliza a repercussão econômica em seus estudos e trabalhos,
como visto abaixo:
‘A teoria econômica abriga a tradicional classificação dos tributos,
segundo a incidência efetiva da taxação, em diretos e indiretos. Na incidência
direta o gravame financeiro imposto pelo Estado é direta e integralmente
assumido pelo contribuinte, que tem sua renda reduzida pelo exato valor da
exação. Na incidência indireta, surge a figura de um intermediário (contribuinte
de direito) que, embora se encontre na obrigação de apurar e antecipar o
pagamento do tributo devido, não o suporta, pois tem a faculdade de reaver de
outro agente econômico (contribuinte de fato) o valor repassado aos cofres
públicos.
O tributo paradigmático do primeiro caso (incidência direta) é o
imposto de renda das pessoas físicas, em que o contribuinte recolhe ao erário
uma fração de sua renda, reduzindo seu bem-estar na proporção do montante
subtraído. Não é por acaso que as políticas tributárias de cunho redistributivo
apoiam-se basicamente nesse imposto, pois fica garantido, ao menos
teoricamente, que o contribuinte não poderá transferir a outrem à carga
tributária que lhe é imposta. Portanto, uma vez definida (como é praxe em
quase todos os países) uma estrutura progressiva de taxação (tabela
progressiva de alíquotas), garante-se uma tributação progressiva em relação à
renda auferida.
De outra espécie é o tributo indireto. Em geral a incidência indireta
tem como alvo os atos negociais praticados pelas pessoas jurídicas. O valor do
imposto pago antecipadamente por uma empresa é recuperado, em geral, pela
incorporação do custo tributário ao preço negociado nas transações com
terceiros. Se o terceiro também é uma pessoa jurídica, o processo de
transferência de custo se repete de tal sorte que assumirá o ônus tributário o
consumidor final do bem ou serviço transacionado. Praticamente todos os
impostos pagos pelas empresas, sejam sobre a venda de mercadorias, folha de
pagamentos, ativos, etc., são, integral ou parcialmente, agregados ao preço e
suportados por quem dá o destino final ao produto/serviço.
Este estudo limita-se à análise da incidência indireta sobre a venda
de mercadorias e serviços ou, de forma equivalente, sobre o faturamento.
(...)
Considerando que os tributos analisados têm incidência indireta
(PIS/COFINS, IPI e ICMS) e são, portanto, regressivos em relação à renda
total, propõe-se investigar as características da incidência em relação ao
consumo das famílias. Tendo em vista que cada tributo tem estrutura de
alíquotas e grau de abrangência própria, é de se esperar que produza efeitos
distintos sobre as famílias, resultando em cargas tributárias diferenciadas. O
principal desafio dessa abordagem é estimar, em uma economia complexa
como a brasileira, o impacto final de cada tributo no consumo nas diversas
faixas de renda’.(23) .
--------------------
(23) Estudo realizado pela Receita Federal - “A Progressividade no
Consumo - Tributação Cumulativa e sobre o Valor Agregado” -
www.receita.fazenda.gov.br/TextConcat/Default.asp?Pos=1&Div=Historico/Es
tTributarios/TopicosEspeciais/Progressividade/
--------------------
Em outros estudos, a SRF explicita que o IR é um tributo direto:
‘Embora a lei que institua o tributo defina, entre outras coisas, o
fato gerador e o sujeito passivo da obrigação tributária, persiste o problema da
identificação do real receptor da carga tributária. Seguiremos, aqui, a
abordagem usualmente adotada em que os tributos considerados indiretos são
integralmente repassados aos consumidores finais de bens e serviços.
(...)
Neste cômputo, limitar-nos-emos, quanto à tributação direta (sobre
os rendimentos), ao imposto de renda e às contribuições para a seguridade
social e, quanto à tributação indireta (sobre o consumo), ao ICMS, IPI, COFINS
e PIS. Esta limitação prende-se tanto a questões de ordem prática (falta de
dados relativos aos impostos patrimoniais e ao Imposto sobre a Prestação de
Serviços - ISS) como à falta de uma análise mais rigorosa quanto ao efeito
translação, descrito na Seção 02.2, de alguns tributos indiretos como o IOF.
Os conceitos de tributação direta e indireta utilizados de forma
recorrente no texto devem ser assim entendidos:
Tributação Direta: refere-se às incidências tributárias que guardam
relação direta com a renda do contribuinte. (...)
Tributação Indireta: refere-se às incidências tributárias que não
visam a fonte de renda do contribuinte, gravando a circulação de mercadorias,
a prestação de serviço ou o faturamento das empresas. No presente contexto
eqüivale à tributação sobre o consumo.
(...)
Entretanto, ao considerar a abordagem aqui adotada, e para captar
com maior precisão os efeitos reais da tributação direta e indireta, deve-se
levar em conta o seguinte:
a) A tributação direta tem como principal apelo o sempre desejável
princípio da justiça fiscal, pois individualiza o contribuinte, tributando-o
segundo sua real capacidade contributiva...
b) A tributação indireta, que em sua forma mais racional, limita-se
aos impostos sobre o valor agregado, apresenta o atrativo da simplicidade e
universalidade...
(...)
Para se determinar a carga fiscal sobre o consumo, é necessário
considerar não apenas os tributos que, por sua natureza econômica e jurídica,
são transferidos aos preços (impostos sobre valor agregado) como também
aqueles que, independentemente da incidência legal, findam por onerar o
produto final, recaindo de fato sobre o consumidor. O primeiro passo consiste
na identificação de ambos tipos de incidência e na determinação, quando
possível, da alíquota aplicada’.(24) (grifos nossos).
--------------------
(24) Estudo realizado pela Receita Federal - “Carga Tributária sobre
os Salários” -
http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/EstTributarios/cargatributar
ia/default.htm
--------------------
Dessa forma, verifica-se que esses tributos (IRPJ e CSLL)
apresentam o mesmo fato gerador, obtenção de resultados positivos (lucros),
praticamente a mesma base de cálculo e possuem a mesma natureza
tributária, quando se trata da repercussão econômica.
Além disso, se esses tributos fossem repassados, o ‘contribuinte de
fato’ seria a própria Administração. Ora, isso seria um forma disfarçada e não
prevista em lei de Incentivo Fiscal, ferindo a isonomia entre empresas de
diferentes ramos.
Um outro aspecto a ser analisado é a questão da repercussão da
alteração da carga tributária do IRPJ e da CSLL para o pleito de recomposição
do equilíbrio econômico-financeiro conforme preceitua o art. 65, II, alínea ‘d’ e
o § 5º do mesmo artigo da Lei n.º 8.666/1993, in verbis:
‘Art. 65. Os contratos regidos por esta lei poderão ser alterados,
com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
(...)
II - por acordo das partes:
(...)
d) para restabelecer a relação que as parte pactuaram inicialmente
entre os encargos do contratado e a retribuição da Administração para a justa
remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de sobreviverem
fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de conseqüências incalculáveis,
retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou ainda, em caso de
força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica
extraordinária e extracontratual.
(...)
§ 5º Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou
extintos, bem como a superveniência de disposições legais, quando ocorridas
após a data da apresentação da proposta, de comprovada repercussão nos
preços contratados, implicarão a revisão destes para mais ou para menos,
conforme o caso’.
Apesar de a alteração da carga tributária ensejar revisão dos preços
contratados, o professor Marçal Justen Filho ressalta que no caso do alteração
da carga do IR não caberia recomposição, conforme descrito abaixo:
‘O §5º alude, expressamente, à instituição ou supressão de tributos
ou encargos legais como causa de revisão dos valores contratuais. O dispositivo
seria desnecessário mas é interessante a expressa determinação legal. O fato
causador do rompimento do equilíbrio econômico-financeiro pode ser a
instituição de exações fiscais que onerem, de modo específico, o cumprimento
da prestação pelo particular. Assim, por exemplo, imagine-se a criação de
contribuição previdenciária sobre o preço de comercialização de um certo
produto agrícola. O fornecedor da Administração Pública terá que arcar com o
pagamento de uma nova contribuição, a qual inexistia no momento da
formulação da proposta. É necessário, porém, um vínculo direto entre o
encargo e a prestação. Por isso, a lei que aumentar a alíquota do imposto de
renda não justificará alteração do valor contratado. O imposto de renda incide
sobre o resultado das atividades empresariais, consideradas globalmente (lucro
tributável). O valor percebido pelo particular será sujeito, juntamente com o
resultado de suas outras atividades, à incidência tributária. Se a alíquota for
elevada, o lucro final poderá ser inferior. Mas não haverá relação direta de
causalidade que
caracterize rompimento do equilíbrio econômico-financeiro. (e não
aumentará o ‘custo’)
A forma prática de avaliar se a modificação da carga tributária
propicia desequilíbrio da equação econômico-financeira reside em investigar a
etapa do processo econômico sobre o qual recai a incidência.
Ou seja, a materialidade da hipótese de incidência tributária
consiste em certo fato signo-presuntivo de riqueza. Cabe examinar a situação
desse fato signo-presuntivo no processo econômico. Haverá quebra da equação
econômico-financeira quando o tributo (instituído ou majorado) recair sobre
atividade desenvolvida pelo particular ou por terceiro necessária à execução do
objeto da contratação. Mais precisamente, cabe investigar se a incidência
tributária configura-se como um ‘custo’ para o particular executar sua
prestação. A resposta positiva a esse exame impõe o reconhecimento da
quebra do equilíbrio econômico-financeiro.
Diversa é a situação quando a incidência recai sobre a riqueza já
apropria pelo particular, incidindo economicamente sobre os resultados
extraídos da exploração.
Assim, a elevação do ICMS produz desequilíbrio sobre contratos que
imponham ao particular, como requisito de execução de sua prestação, a
necessidade de participar de operações relativas à circulação de mercadorias. O
mesmo se diga quando se eleva o IPVA se a execução da prestação envolver
necessariamente a utilização de veículos automotores. Mas a instituição de
imposto sobre a renda apresenta outro contorno, eis que a incidência se dá
sobre os resultados obtidos pelo particular na exploração de um
empreendimento’.(25) [grifos nossos].
--------------------
(25) Filho, Marçal Justen. Comentários à Lei de Licitações e
Contratos Administrativos. 10ª edição, ed. Dialética, pg. 532, 2004.
--------------------
Além disso, existe a questão da imprevisibilidade de o lucro se
realizar, pois como este será determinado em função de um conjunto de obras
executadas pela empresa pode acontecer que a empresa tenha prejuízo no
exercício financeiro em questão e não tenha IRPJ e CSLL a pagar. André
Mendes e Patrícia Bastos(26) ressaltam esse aspecto conforme abaixo:
--------------------
(26) MENDES, André; BASTOS, Patrícia Reis Leitão, Um Aspecto
Polêmico dos Orçamentos de Obras Públicas: benefícios e Despesas Indiretas
(BDI). In: Revista do Tribunal de Contas da União - TCU, v. 32, n? 88, Brasília,
abr./jun. 2001, p. 13 - 28.
--------------------
‘Mostra-se bastante lógica essa não-inclusão do imposto de renda
no BDI, já que por não ser um imposto que incide especificamente sobre o
faturamento, não pode ser classificado como despesa indireta decorrente da
execução de determinado serviço.
Se a contratante concordar em pagar determinada taxa percentual
do imposto de renda embutida no LDI, estará pagando um gasto que na
verdade é imprevisível, podendo coincidir ou não com o valor pactuado como
despesa indireta.
Ademais, pode até ser que ao final do exercício o desempenho
financeiro negativo de outras obras da contratada suplante o lucro obtido com a
obra da contratante, e aquela, de acordo com a atual legislação fiscal, não
recolha imposto de renda. Assim, teria sido ressarcido à contratada o valor de
uma despesa que, na verdade, não se efetivara.
(...)
Como a legislação que instituiu a CSLL determina que a incidência
seja sobre o lucro líquido do exercício, excluída a provisão para o imposto de
renda, não se pode, contabilmente, definir este gasto como sendo despesa
indireta resultante da execução de alguma obra.
Dessa forma, assim como o IRPJ, não é adequado incluir o CSLL no
BDI do orçamento da construção civil, já que ele não está atrelado ao
faturamento decorrente da execução de determinado serviço, mas ao
desempenho financeiro da empresa como um todo’.
É interessante apresentar a estrutura da Demonstração de
Resultado do Exercício - DRE (Anexo I deste trabalho), segundo o art. 187 da
Lei n.º 6.404/1976, onde se verifica claramente a distinção entre tributos que
incidem sobre o faturamente (PIS, COFINS, ISS, por exemplo), alterando o
resultado operacional da empresa, dos tributos que só incidem sobre o
resultado do exercício (IRPJ e CSLL), que ao final do ano, depois de
consideradas todas as atividades da empresa, podem até não serem devidos
caso o conjunto de obras vier a trazer prejuízo.
Estudos da Secretaria de Governo e Gestão Estratégica do Estado de
São Paulo(27) e da Associação Brasiliense de Construtores (ASBRACO)(28)
também não consideram o imposto de renda como integrante do BDI.
--------------------
(27) “Estudos de Serviços Terceirizados” - Publicações - Versão
maio/1999 - Volume I - “Prestação de Serviços de Limpeza, Asseio e
Conservação Predial” - Capítulo VII - Benefícios e Despesas Indiretas.
(28) Estudo sobre composição de BDI, obtido diretamente junto a
Associação Brasiliense de Construtores - ASBRACO em maio de 2000.
--------------------
Ora, conforme exposto nos parágrafos acima, o IRPJ e a CSLL, por
serem tributos diretos, não permitem a transferência do seu encargo financeiro
para outra pessoa, ou seja, a pessoal legalmente obrigada ao seu pagamento
suportará efetivamente o ônus. Dessa forma, considera-se inadequada a
inclusão do IRPJ e da CSLL na composição do LDI.
Cabe ressaltar que este Tribunal já se pronunciou sobre a inclusão
indevida desses tributos na composição do LDI, como por exemplo no Acórdão
1.595/2006-Plenário no item 9.5.11 transcrito abaixo:
‘9.5. determinar à Petrobras que:
(...)
9.5.11. exclua dos seus orçamentos parcelas relativas ao IRPJ e à
CSLL, bem como oriente as licitantes, em seus editais, que tais tributos não
deverão ser incluídos no BDI, por se constituírem em tributos de natureza
direta e personalística, que onera pessoalmente o contrato, não devendo ser
repassado ao ofertado, conforme, inclusive, conclusões do setor jurídico da
estatal, mediante o DIP SEJUR/DITRIB 37216/97 e DIP/Jurídico/JFT 4391/03’.
5.2 Administração Local:
A Administração Local consiste em despesas incorridas para
manutenção das equipes técnica e administrativa e da infra-estrutura
necessárias para a consecução da obra. Entre as despesas que normalmente
são alocadas nesse item, encontram-se: gastos relativos a pessoal
(engenheiros, mestres, encarregados, almoxarifes, vigias, pessoal de recursos
humanos e demais mãos-de-obra não computadas nas planilhas de custos
unitários dos serviços) e despesas administrativas (contas de telefone, luz e
água, cópias, aluguéis), dentre outros.
A Administração Local, conforme definido pelo DNIT no Sistema de
Custos Rodoviários 2 - SICRO 2:
‘Compreende o conjunto de atividades realizadas no local do
empreendimento pelo Executor, necessárias à condução da obra e à
administração do contrato. É exercida por pessoal técnico e administrativo, em
caráter de exclusividade. Seu custo é representado pelo somatório dos salários
e encargos dos componentes da respectiva equipe, que inclui pessoal de
serviços gerais e de apoio. Segundo a metodologia adotada, estão incluídos
também na administração local, os mestres e encarregados gerais, visto que os
níveis inferiores da hierarquia estão incluídos diretamente nas Composições de
Atividades e Serviços. Este custo depende da estrutura organizacional que o
Executor vier a montar para a condução de cada obra e de sua respectiva
lotação de pessoal. Não existe modelo rígido para esta estrutura. As
peculiaridades inerentes a cada obra determinarão a estrutura organizacional
necessária para bem administrá-la’(29) .
--------------------
(29) DNIT - Sicro 2. Manual de Custos Rodoviários - Volume 1 -
Metodologia e Conceitos. pág 12, 2003.
--------------------
Os itens que integram a Administração Local, apesar de comporem
o custo direto, não estão associados diretamente a uma composição de serviço
do empreendimento. Cabe, portanto, ressaltar que o custo direto pode ser visto
de modo stricto senso e lato senso. De maneira restrita pode-se considerar o
custo direto como aquele em que estão inseridos os serviços que integrarão o
produto final. De forma ampla, o custo direto, além dos custos anteriormente
descritos, englobará aqueles que, apesar de não especificamente associados ao
produto final, estão diretamente ligados à execução dos serviços de construção
civil como um todo. O estudo de André Luíz Mendes e Patrícia Bastos(30)
exemplifica essas situações:
--------------------
(30) MENDES, André; BASTOS, Patrícia Reis Leitão, Um Aspecto
Polêmico dos Orçamentos de Obras Públicas: benefícios e Despesas Indiretas
(BDI). In: Revista do Tribunal de Contas da União - TCU, v. 32, n? 88, Brasília,
abr./jun. 2001, p. 13
--------------------
‘Assim, por exemplo, o item de serviço ‘alvenaria’ contempla os
custos de mão-de-obra do pedreiro e do servente (além dos materiais
aplicados), mas os custos com o encarregado de pedreiros ou com o mestre-
de-obras (que supervisionaram o trabalho) serão computados no componente
‘administração local’.
(...)
Sabe-se que a estrutura da administração local varia de acordo com
as características de cada obra. Há entretanto algumas atividades básicas que
são inerentes à execução da administração de qualquer projeto:
a) trânsito entre obras ? transporte no trajeto entre o escritório
central e o local da obra, do engenheiro de obras, de documentos em geral, de
pequeno suprimento de materiais, etc;
b) direção técnica dos serviços ? definição, junto aos operários, do
ritmo de andamento dos serviços e da forma de execução;
c) atendimento a clientes ? elaboração de relatórios para
esclarecimento aos clientes sobre o andamento e a qualidade dos serviços e
atendimento nas visitas para medição dos serviços executados;
d) fiscalização da qualidade dos materiais e serviços ? conferência
da qualidade dos materiais que foram recebidos no canteiro e supervisão das
condições de estocagem e de distribuição ao local de aplicação dos materiais;
e) controle do consumo da mão-de-obra ? fiscalização da
quantidade de horas gastas com cada serviço, observando a produtividade e o
andamento geral dos serviços e comparando com o cronograma físico-
financeiro da obra;
f) pedido antecipado de insumos ? solicitação de material para o
canteiro de obras, tomando como base o planejamento existente e o
andamento real dos serviços;
g) programação e fiscalização dos serviços ? distribuição de tarefas
e fiscalização da qualidade de execução dos serviços;
h) apontamento das horas trabalhadas ? conferência e
contabilização das horas trabalhadas pelos operários, para efeito de pagamento
de salários;
i) recebimento e controle de estoque de materiais ? recebimento de
materiais entregues, conferência da quantidade e da descrição de cada material
analisando a nota fiscal e o pedido interno, documentação da entrada e da
saída de materiais no canteiro e controle do estoque de materiais;
j) equipe de limpeza contínua ? efetuar a limpeza permanente da
construção e do canteiro de obras;
k) equipe de carga e descarga ? descarregar os materiais entregues
no canteiro de obras e carregar aqueles que irão ser transportados para fora do
canteiro’.
No mesmo sentido, em estudo apresentado no site do Sinduscon-SP
(‘Nova Conceituação do BDI’ (31)) foi proposto que o item Administração Local
não mais integrasse o BDI:
--------------------
(31) Estudo no site do Sinduscon-SP - “Nova Conceituação do BDI”.
Pg. 5
http://www.sindusconsp.com.br/downloads/BDI_EVENTO_IE_PROPOSTAS_E_R
ECOME NDACOES.doc
--------------------
‘1 - ADMINISTRAÇÃO LOCAL - Propõe-se passar a compor a planilha
de Custo Direto e não mais o BDI.
Todas as despesas havidas ou incorridas direta ou indiretamente em
torno do ambiente da obra para a consecução do produto final serão
considerados CUSTOS DIRETOS.
A Administração Local compreende as seguintes atividades básicas:
Chefia da obra - engenheiro responsável;
Administração do Contrato;
Engenharia e Planejamento;
Segurança do Trabalho;
Produção - mestre de obra e encarregados;
Manutenção dos equipamentos;
Gestão de Materiais;
Gestão de Recursos Humanos;
Administração da obra.
Assim, as despesas da Administração Local e a sua manutenção,
Alimentação e Transporte do pessoal administrativo e de produção da obra, EPI
e uniformes, controle tecnológico e ensaios, ferramentas e equipamentos não
contemplados na composição de custos unitários, deverão fazer parte da
Planilha de Orçamento e não mais na composição do BDI.
Essas despesas farão parte da Planilha de Orçamento em itens
independentes da composição de custos unitários, especificados como
Administração Local, podendo-se adotar as seguintes alternativas:
Preços compostos analiticamente;
Custo mensal ou horário de mão-de-obra administrativa ou técnica;.
Custos mensal reembolsável;
Custo mensal ou total de manutenção do canteiro de obras;
Verba;
Módulo de Verba’.
Estudo semelhante foi apresentado no site do Sinduscon-BA, onde
também é defendida a inserção da Administração Local no custo direto e não no
BDI.(32)
--------------------
(32) Estudo no site do Sinduscon-BA - “Metodologia de Cálculo do
Orçamento de Edificações - Composição do Custo Direto e do BDI/LDI.”,
www.sinduscon-ba.com.br/docs/bdildi.pdf.
--------------------
É importante destacar, além da alocação da administração local nos
custos diretos, a abrangência deste item. Os custos diretos são geralmente
quantificados em planilhas de valores unitários dos serviços. Nos casos em que
isso não é possível, os custos associados diretamente à execução da obra
devem estar alocados em algum subitem do item administração local. Por
exemplo, além de todas as despesas administrativas e de infra-estrutura
necessárias, a administração local deve abrigar os custos derivados da mão-de-
obra, que não foram apropriados nas planilhas de custos unitários, usualmente
os encargos complementares como alimentação, transporte, alojamento, EPI
(equipamentos de proteção individual) e ferramentas.
É importante esse destaque, pois em deliberações do TCU que
versam sobre contratos de obras, verificou-se a orientação de desonerar o LDI
dos respectivos contratos com a exclusão de custos a esses assemelhados(33) .
Confirma-se, dessa forma, a orientação de evitar, no cálculo do LDI, o cômputo
de qualquer custo que possa ser associado diretamente à execução da obra,
impedindo a incidência indevida ou em duplicidade desses elementos sobre os
demais custos diretos calculados para a obra.
--------------------
(33) Decisão 1332/2002 - TCU - Plenário. Ver também Manual de
Custos Rodoviários - Vol. 1 - Metodologia e Conceitos do DNIT (2003) que na
pág. 12 cita a mesma Decisão deste Tribunal para justificar a mudança na
metodologia de cálculo do LDI.
--------------------
Vale ressaltar que a inclusão da Administração Local ou de algum
elemento que a devesse integrar eleva o percentual do LDI, o que, em casos de
repactuação de preços ou de mudanças de especificação de algum item da
obra, pode elevar o preço da obra de forma inadequada. Como exemplo, cite-se
o caso da mudança de especificação de um piso cerâmico comum para granito.
Essa mudança não trará mais trabalho para o engenheiro, para o mestre ou o
almoxarife (cujos custos estão inseridos na Administração Local). Afetará
apenas o custo direto da composição referente ao serviço de assentamento do
piso (o material, a mão-de-obra e os equipamentos envolvidos no serviço) e o
preço final. Caso a Administração Local esteja no LDI, haverá um aumento do
preço da obra sem um correspondente aumento de trabalho para o engenheiro,
o mestre ou o almoxarife, por exemplo.
5.3 Instalação de Canteiro e Acampamento e Mobilização e
Desmobilização:
‘Denomina-se de Canteiro e Acampamento ao conjunto de
instalações destinadas a apoiar as atividades de construção. Compreende
número expressivo de elementos, com características bastante diferenciadas,
que, embora não se incorporem fisicamente ao empreendimento, representam
parcela significativa do custo de investimento e, como tal, devem ser
criteriosamente orçados.
Não existem padrões fixos para esse tipo de instalações. Elas são
função do porte e das peculiaridades do empreendimento, das circunstâncias
locais em que ocorrerá a construção e das alternativas tecnológicas e
estratégicas para sua realização’.(34)
--------------------
(34) DNIT - Sicro 2. Manual de Custos Rodoviários - Volume 1 -
Metodologia e Conceitos. pág 13, 2003.
--------------------
O Acampamento se constitui de um local onde as pessoas que irão
executar a obra ficarão alojadas e terão apoio de certas instalações para o seu
conforto e segurança.
Já o Canteiro compreende as instalações físicas das unidades
técnicas, administrativas e de apoio da obra como por exemplo: escritório de
engenharia, almoxarifado, refeitório, sanitários, ambulatório, laboratórios,
sistemas de abastecimento de água, luz, oficina de manutenção de
equipamentos, central de concreto, armação, carpintaria, entre outros.
‘A mobilização e desmobilização são constituídas pelo conjunto de
providências e operações que o Executor dos serviços tem que efetivar a fim de
levar seus recursos, em pessoal e equipamento, até o local da obra e,
inversamente, para fazê-los retornar ao seu ponto de origem, ao término dos
trabalhos. No momento em que se necessita desses valores, para incluí-los no
orçamento, uma série de parâmetros relativos às circunstâncias reais em que
se darão a mobilização e a desmobilização são ainda desconhecidas, pois
dependem de particularidades inerentes à empresa que vier a se encarregar
dos serviços. Esse obstáculo só poderá ser contornado através da admissão de
algumas hipóteses que supram a deficiência apontada’.(35)
--------------------
(35) DNIT - Sicro 2. Manual de Custos Rodoviários - Volume 1 -
Metodologia e Conceitos. pág 16, 2003.
--------------------
As empresas, geralmente, após transportarem os seus
equipamentos para uma obra, ao fim desta, buscam deslocá-los para uma nova
obra. Então, é comum que constituam pátios de equipamentos em locais
próximos às obras concluídas para que aguardem uma remobilização para outra
obra.
Para se calcular os gastos com mobilização, além da questão da
origem e do destino, devem ser consideradas a estimativa de força de trabalho
a ser deslocada e os custos de mobilização de equipamentos.
Como os itens de Instalação de Canteiro e Acampamento e
Mobilização e Desmobilização são passíveis de serem orçados analiticamente e
como, contabilmente, são gastos incorridos no processo de obtenção de bens e
serviços destinados à venda, podem ser inseridos no custo direto, em um item
independente da composição dos custos unitários.
As mesmas observações tecidas à Administração Local quanto ao
impacto de uma eventual repactuação de preços ou mudança na especificação
de algum material/equipamento valem para a Instalação de Canteiro e
Acampamento e a Mobilização e Desmobilização, casos esses itens sejam
considerados no LDI.
6 DESPESAS REFERENTES À AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS
Situação peculiar quanto à aplicação do LDI, surge na aquisição de
bens (equipamentos e materiais) que correspondam a um percentual
significativo do preço global da obra, na qual a incidência da mesma
composição de LDI paga para serviços pode gerar distorções no preço final do
insumo, razão pela qual consideramos que a composição de LDI aplicável, neste
caso, deve ser mais restrita que aquela referente à prestação de serviços.
Primeiramente, durante os estudos de viabilidade e anteprojetos, ou
seja, antes mesmo de se realizar a licitação para contratação do
empreendimento, o gestor deve estudar a possibilidade de adquirir os
equipamentos em separado com o objetivo de proceder o parcelamento do
objeto previsto no art. 23, § 1º, da Lei n.º 8.666/1993. Esse dispositivo legal
dispõe que:
‘§ 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela administração
serão divididas em tantas parcelas quantas se comprovem técnica e
economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor
aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da
competitividade, sem perda da economia de escala’.
O próprio Tribunal já se pronunciou diversas vezes sobre essa
questão, como nos Acórdãos 159/2003-Plenário, 446/2005-Plenário e o
1601/2004-Plenário que reproduzimos trecho in verbis:
‘...constitui irregularidade grave a falta de licitação autônoma, sem
o parcelamento do objeto da licitação quanto à compra de equipamentos,
conforme preconizado no art. 23, § 1°, da Lei n.º 8.666/1993...’
Assim, quando existir parcela de natureza específica que possa ser
executada por empresas com especialidades próprias e diversas ou quando for
viável técnica e economicamente, o parcelamento em itens se impõe, desde
que seja vantajoso para a Administração. Uma das vantagens que se pode
apontar é que a administração estará evitando de pagar LDI sobre LDI, ou seja,
o LDI da empresa fabricante de equipamentos/materiais e o da empresa
construtora que incidirá sobre aquele.
Um outro benefício é que, realizando uma licitação autônoma para
aquisição de equipamentos/materiais, poderá haver um ampliação da
competitividade e a administração terá a possibilidade de obter preços mais
vantajosos.
Caso tal parcelamento não se comprove técnica ou economicamente
viável, com base em estudos fundamentados, a aquisição dos equipamentos e
materiais poderá ser realizada juntamente com a execução da obra. Neste
caso, o administrador público no seu orçamento deve adotar para compra dos
equipamentos/materiais uma taxa de LDI diferenciada em relação aos adotados
para os serviços de engenharia e deve exigir dos licitantes a composição das
suas taxas para comparação com o que foi orçado.
No que tange aos itens do LDI passíveis de serem cobrados, no caso
da aquisição de equipamentos/materiais por intermédio dos empreiteiros,
inicialmente cabe uma ressalva em relação aos tributos. Em que pese ter sido
observado o ICMS em composições da Chesf, quando da adoção de um LDI
diferenciado para equipamentos/materiais, este não é um tributo passível de
cobrança. Primeiramente, porque empresas construtoras não se enquadram
como contribuintes deste imposto, conforme se depreende dos artigos 3º, V, e
4º da Lei Complementar n.º 87/1996. Além disso, o valor deste tributo já está
embutido no custo dos equipamentos/materiais a serem adquiridos, ou seja, a
administração ao pagar à empreiteira pelo bem, o valor do ICMS já está
inserido no preço pago. Pelo exposto, verifica-se que a discriminação desse
imposto na composição do LDI está incorreta, pois a sua cobrança não é
devida.
Quanto à Administração Central e ao Lucro, nesta situação,
entende-se que seus percentuais devem ser inferiores em relação aos
estabelecidos para a execução da obra, tendo em vista que a natureza desta
operação tem complexidade menor, exigindo menos esforço e tecnologia para
sua realização do que os demais serviços prestados.
Também deve-se considerar que as atividades precípuas da
construtora são serviços de engenharia e o fornecimento de equipamentos uma
atividade acessória. Portanto, sua estrutura e seus recursos tecnológicos são
dedicados à prestação de serviços e têm seus custos estimados para isso. A
intermediação para fornecimento de equipamentos é uma tarefa residual, que
não deve onerar os custos operacionais da empreiteira e, em conseqüência, seu
impacto no custo de administração central previsto no LDI deve ser mínimo.
Assim sendo, o LDI resultante calculado para aquisição de
equipamentos será menor que o calculado para a prestação de serviços.
Portanto, o gestor deve avaliar a forma mais vantajosa de adquiri-
los, se diretamente, junto ao fabricante ou fornecedor, ou através da
intermediação da contratada, a fim de identificar qual alternativa se revela
técnica e economicamente mais adequada. É importante esclarecer que a
possibilidade de discricionariedade fica bastante limitada quando uma das
alternativas se apresentar mais onerosa.
7 FÓRMULA DO LDI
Para que se obtenha a taxa que corresponda ao LDI é necessário
dispor de uma fórmula que reflita adequadamente a incidência de cada um de
seus componentes sobre os custos diretos.
Para o cálculo do LDI considera-se a seguinte fórmula(36) :
--------------------
(36) Fórmula elaborada pela equipe com base nas fórmulas de
Furnas e na fórmula do trabalho de MENDES, André; BASTOS, Patrícia Reis
Leitão, Um Aspecto Polêmico dos Orçamentos de Obras Públicas: benefícios e
Despesas Indiretas (BDI). In: Revista do Tribunal de Contas da União - TCU, v.
32, n? 88, Brasília, abr./jun. 2001, p. 26.
--------------------
onde AC = taxa de rateio da Administração Central;
DF = taxa das despesas financeiras;
R = taxa de risco, seguro e garantia do empreendimento;
I = taxa de tributos;
L = taxa de lucro.
As taxas no numerador incidem sobre os custos diretos e as taxas
no denominador, sobre o preço de venda (faturamento).
Serão definidos, a seguir, os principais aspectos envolvidos no
cálculo do LDI em empresas do setor elétrico brasileiro.
8 LDI NAS EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO
8.1 Eletrosul Centrais Elétricas S.A.
Identificou-se que a Eletrosul contrata suas obras de subestações e
de linhas de transmissão em licitações do tipo menor preço, sob regime de
empreitada por preço global, podendo incluir o fornecimento de equipamentos.
O preço total orçado e o proposto contemplam o lucro e todos os
tributos, encargos sociais, previdenciários e trabalhistas incorridos pela
contratada, não sendo indicado o percentual de BDI praticado, tampouco a sua
composição.
8.2 CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
Nos contratos analisados, a CHESF contratou obras de subestações
e de linhas de transmissão em licitações do tipo menor preço, sob regime de
empreitada por preço global, que incluem o fornecimento dos equipamentos.
Contudo, houve casos em que a CHESF contratou apenas os serviços,
adquirindo os equipamentos separadamente.
Tanto a CHESF, para fins de orçamento, quanto os fornecedores,
para fins de proposta, preenchem planilha com o detalhamento do LDI, cuja
fórmula e composição são descritas a seguir.
8.2.1 Composição de LDI
A CHESF adota a seguinte composição de LDI detalhada:
VIDE TABELA NO DOCUMENTO ORIGINAL
Alguns itens podem variar de licitação a licitação, a depender do
serviço e da estrutura de custos do fornecedor.
Em contratações de obras, nas quais a representatividade dos
equipamentos tenha maior participação relativa no valor total, foram
observadas composições de LDI diferenciadas para os serviços de engenharia e
para o fornecimento desses bens. Em relação ao LDI estabelecido para o
fornecimento de equipamentos, quando o contratado atua apenas como um
intermediário entre o fabricante e a administração pública, sua composição
consistiu apenas do lucro e dos tributos incidentes sobre a transação.
8.2.2 Fórmula do LDI
A Fórmula utilizada pela CHESF para o cálculo do LDI é dada por:
LDI (%) = AC(%) + AL (%) + EF (%) + T(%) + Lucro (%)
Trata-se de um somatório dos itens que compõem o LDI. Diverge da
fórmula proposta no item 7, à medida que naquela, por ser um produto das
taxas, há a incidência de um item sobre o outro, o que forneceria um
percentual de LDI superior.
Nota-se, também, a presença na fórmula de itens que se considera
não dever integrar o LDI, tais como Administração Local e tributos como o IRPJ
e a CSLL. A inclusão da Administração Local na fórmula se deve ao fato de a
empresa utilizar as definições da PINI nas Tabelas de Composição de Preços
para Orçamentos. - TCPO. O IRPJ e a CSLL têm sua inclusão considerada
inadequada por serem tributos diretos, que não permitem a transferência do
encargo financeiro para outra pessoa, isto é, a pessoa legalmente obrigada ao
seu pagamento deverá suportar efetivamente o ônus.
8.2.3 Valores praticados em licitações
Nos contratos analisados foram praticados os valores relacionados
na Tabela III.
8.3 FURNAS Centrais Elétricas S.A.
Nas licitações realizadas pela empresa é publicado nos editais
apenas o orçamento dos custos diretos sem o LDI. No entanto, as propostas
devem contemplar tanto os custos diretos quanto o LDI, ou seja, o preço total
da obra. Em FURNAS, o detalhamento do LDI ocorre apenas para fins de
orçamentação e controle interno. Com os custos diretos e a composição de LDI,
a empresa tem o seu preço total da obra para comparar com os valores
praticados no certame.
As licitações analisadas foram realizadas sob o regime de
empreitada global, na qual o preço total contempla o lucro e todos os custos,
despesas, tributos e encargos sociais e trabalhistas incorridos pela contratada.
Furnas não realiza licitações que incluam fornecimento conjunto de serviços e
equipamentos. Estes são adquiridos em processo licitatório separado.
8.3.1 Composição de LDI
Para fins de elaboração de orçamentos, FURNAS adota a seguinte
composição de LDI e faixa de variação dos itens:
VIDE TABELA NO DOCUMENTO ORIGINAL
8.3.2 Fórmula do LDI
A Fórmula adotada por FURNAS para o cálculo do LDI é dada por:
Onde:
ACC% = Administração Central da Contratada
EF% = Encargos Financeiros
TR% = Taxa de Risco
IS% = Impostos e Seguros
PIS
COFINS
CPMF
CSLL
IRPJ
ISSQN
Garantias
L% = Lucro
Furnas aloca o item Administração Local como parte do custo direto,
em sintonia com a proposta contida neste trabalho. A fórmula considerada pela
empresa inclui, contudo, tributos diretos como o IRPJ e a CSLL, cujo encargo
deve ser suportado pela pessoa legalmente obrigada ao pagamento, não sendo
permitida a transferência do encargo financeiro para outra pessoa.
8.3.3 Valores praticados em licitações
Os valores fornecidos por Furnas encontram-se consolidados na
Tabela IV, e variam entre 24,50% e 33,84%.
8.4 Eletrobrás - Centrais Elétricas Brasileiras S.A.
No âmbito do acordo de cooperação técnica firmado entre a
ANEEL(37) e a Eletrobrás, em outubro de 2002, com o objetivo de conceber um
banco de dados de custos de linhas de transmissão e de subestações, visando a
geração e a atualização dos custos padrões de transmissão, foram
desenvolvidos estudos que levaram à revisão e à reformulação das diretrizes
para elaboração de orçamentos de ilhas de transmissão(38) e de
subestações(39) . Participaram dos trabalhos Eletrosul, Furnas, Chesf,
Eletronorte e CEPEL, além da própria Eletrobrás.
--------------------
(37) ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
(38) BRASIL, Revisão das Diretrizes para Elaboração de Orçamentos
de Linhas de Transmissão - OLT, Divisão de Engenharia de Transmissão -
Eletrobras S.A. Fevereiro, 2005
(39) BRASIL, Diretrizes para Elaboração de Orçamentos de
Subestações, Divisão de Engenharia de Transmissão - Eletrobras S.A. 2005
--------------------
De acordo com esses estudos, o custo total de uma obra é dado
pela soma dos custos diretos, indiretos e eventuais.
O custo indireto compreende o total das despesas não alocáveis
diretamente à execução da obra, e envolve, segundo a Eletrobrás, apenas os
custos referentes à Administração Central.
O item denominado eventuais é calculado através de um índice
percentual sobre o custo direto e destina-se a cobrir imprevistos que
virtualmente possam ocorrer durante a execução do projeto ou construção,
entre os quais sobressaem: gastos com indenizações de danos causados aos
proprietários de terrenos ao longo da faixa de passagem da linha, desvios de
estradas, relocação de linhas de transmissão e redes de distribuição ou
telecomunicações, etc.
Cabe ressaltar que a Eletrobrás não realiza contratações de obras,
serviços e ou equipamentos, os conceitos abordados referem-se a custos
modulares, visando auxiliar a ANEEL na elaboração de orçamentos para os
leilões do setor elétrico.
8.5 Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A.
A Eletronorte contrata suas obras de linhas de transmissão e de
subestações para execução sob regime de empreitada por preço unitário,
contudo, na seleção da proposta é considerado o menor preço global.
O licitante discrimina o preço para a execução do empreendimento
objeto da licitação, o qual deverá incluir todos os impostos e taxas vigentes
para a execução do empreendimento objeto da licitação, bem como os custos
diretos e indiretos inerentes, tais como os a seguir indicados, porém sem se
limitar aos mesmos: despesas com pessoal (inclusive obrigações sociais,
viagens e diárias), despesas administrativas, administração, lucro e outras
despesas necessárias a boa realização dos serviços. Quaisquer tributos, custos
e despesas diretas ou indiretas omitidos da Proposta ou incorretamente cotados
serão considerados como inclusos nos preços, não sendo considerados, em caso
de adjudicação, pleitos de acréscimos.
O licitante vencedor firma declaração (contudo, sem efetuar a
discriminação por itens) informando o percentual de LDI praticado no preço
ofertado, o qual inclui todos os custos de administração central, taxas,
emolumentos, impostos, contribuições, seguros, benefícios e materiais de
consumo necessários para a execução das obras civis e montagem
eletromecânica, com fornecimento parcial de materiais, para ampliação da
obra.
9 CRITÉRIOS DE ACEITABILIDADE PARA OS ELEMENTOS QUE
COMPÕEM O LUCRO E AS DESPESAS INDIRETAS
9.1 Contexto
Primeiramente, se faz necessário apresentar o contexto deste
trabalho para compreender as inferências que serão feitas sobre os valores dos
componentes do LDI.
O estabelecimento de critérios de aceitabilidade para os elementos
que compõem o lucro e as despesas indiretas deve ser visto de forma relativa,
se nos ativermos ao significado do termo aceitabilidade de preços no contexto
da contratação pública.
Critério de aceitabilidade, observando pela ótica da contratação
pública, é um termo empregado pela Lei de Licitações para atuar como mais
um instrumento de controle da eficácia dos procedimentos de licitação e
execução dos contratos realizados pela administração pública. É um atributo de
controle do gestor.
A Lei n.º 8.666/1993 estabelece várias regras, em especial quanto
aos contratos de obras, para controle dos preços de contratação e
acompanhamento de sua execução. Desde a necessidade de projeto básico e
orçamento detalhado em custos unitários (artigo 7º) até a fixação de critérios
de aceitabilidade dos preços unitários e global (artigo 40, inciso X), as regras
visam que a administração estime bem os valores que serão contratados.
Assim, quando se trata de critérios de aceitabilidade, a norma está
regrando o gestor para que este estabeleça o seu controle, que é particular
para cada caso. Para isso, ele se orienta a partir de um orçamento-base, onde
o LDI responde por uma parte da formação dos preços. Portanto, não se pode
tratar de orçamentação de obra e aceitabilidade de preços sem calcular
analiticamente o LDI assim como se faz com os custos diretos.
Esse controle se estende da licitação à execução do contrato. Ao ter
como objetivo acolher a proposta mais vantajosa para a administração na
licitação, é importante certificar, após essa etapa, que a vantagem inicialmente
obtida se manterá até o final da execução do contrato. A aceitabilidade dos
preços irá repercutir no acompanhamento contratual e em eventuais alterações
nos seus quantitativos. A cada variação dos quantitativos, é afetado o custo
direto do contrato, refletindo no preço final pela incidência do LDI. Daí a
importância de se avaliar o LDI, da mesma forma que se examina os outros
componentes do orçamento da obra.
Estimar o LDI dos proponentes na formação de preços para
apresentação das proposta é tarefa complementar para avaliação do
orçamento. Considerando como parte mais objetiva dessa avaliação a cotação
dos valores dos insumos, equipamentos e mão-de-obra (dados vinculados
diretamente à parte de engenharia), a questão mais subjetiva é relativa à
estimativa do LDI (valores atribuídos ao lucro, administração financeira e
operacional e encargos tributários da empresa).
Se considerarmos que a parte de engenharia deve ser similar entre
as concorrentes, por se tratar de especificação técnica, relacionada ao projeto
da obra, a parte relativa ao LDI não segue, necessariamente, uma
homogeneidade entre as empresas proponentes.
Diferentemente dos custos diretos de engenharia, o LDI tem menos
a ver com o projeto e mais com as características da empresa executora e com
a legislação tributária aplicada. O que vai preponderar para a formação do LDI,
além dos encargos tributários definidos por lei, são as característiscas da
empresa como estrutura gerencial, logística, tecnológica, financeira e a
estratégia escolhida de mercado, especificamente para a obra pretendida.
Dessa forma, pelas características de cada empresa, se apresentam
seus custos administrativos, capacidade financeira, estratégias e necessidades
de lucratividade em cada contrato.
Em razão da formação dos critérios de aceitabilidade ser uma
atribuição do contratante e ter influência direta e particular do projeto da obra,
não se pode estabelecer parâmetros para o LDI, de forma genérica, para que
estes substituam os critérios de aceitabilidade de LDI em uma contratação. A
rigor, o que se pretende é encontrar uma variação de referência dos
componentes do LDI para que sirva de parâmetro às análises de adequabilidade
dos critérios de aceitabilidade a serem praticados em cada contrato.
Considerando, ainda, que os percentuais relativos aos tributos são
fixos para cada contrato (são obtidos pela legislação tributária aplicada a cada
caso, conforme os bens e serviços contratados e a localidade da prestação ou
fornecimento), somente os demais componentes do LDI serão examinados
quanto a sua variabilidade.
A seguir, ao comentar os itens que compõem o LDI, serão
apresentadas duas faixas de valores percentuais para cada item: uma,
reproduzindo os valores observados pela pesquisa realizada junto às empresas
contratantes do setor elétrico, já citadas; outra, indicando uma referência
sugerida para esses valores, resultante das avaliações procedidas no presente
estudo. Posteriormente, esses percentuais serão tratados estatisticamente para
uma melhor adequação dos seus valores à realidade de mercado. Esse
tratamento é necessário, pois não seria coerente a simples aplicação da fórmula
do LDI aos valores mínimos e apresentados. Ao ser aplicada a fórmula aos
mínimos e máximos de cada item do LDI obter-se-ia percentuais de LDI
extremos muito baixos e muito elevados, respectivamente, distorcendo, assim,
dos valores observados ou dos propostos como referência.
Abaixo apresenta-se tabela com os itens que poderão compor o LDI
e sobre os quais serão tecidos comentários (à exceção dos tributos que são
definidos em lei):
Descrição
Garantia
Risco
Despesas Financeiras
Administração Central
Lucro
Tributos
COFINS
PIS
ISS
CPMF
9.2 Garantia
A despesa estimada para esse item decorre da necessidade de
apresentação da garantia contratual, quando exigida na licitação, que
geralmente corresponde a 5% do valor do contrato, podendo alcançar, no
máximo, 10%. Portanto, a estimativa para este custo será uma fração do valor
da garantia contratual, dependendo do modo de fixação da garantia (fiança-
bancária, seguro-garantia ou caução).
Cabe esclarecer que a Garantia foi observada apenas na composição
de LDI de Furnas, e que a sua cobrança em obras civis em geral não é usual.
Como no caso específico deste trabalho está sendo abordada as práticas no
setor elétrico, essa despesa será considerada.
9.2.1 Faixa de Variação Observada
Mínimo Máximo Média
0,00% 1,20% 0,65%
A média observada na pesquisa para esse custo foi de 0,65% no
LDI, que teoricamente corresponderia a um prêmio de 13% do valor de
garantia, caso ela corresponda a 5% do valor do contrato.
O valor máximo verificado foi de 1,20%, correspondente, nesse
caso, a um prêmio de 24% do valor da garantia, permanecendo o cálculo com
base em 5% do valor do contrato da obra.
9.2.2 Faixa de variação de referência
VIDE TABELA NO DOCUMENTO ORIGINAL
Referências de instituições operadoras de seguros indicam que o
prêmio pela garantia situa-se no intervalo percentual de 0,45% a 4,0% ao ano
sobre o valor da apólice, conforme a classificação obtida pela empresa junto à
instituição seguradora. Isso corresponde a uma variação de 0,0225% a 0,2%
sobre o valor do contrato, para as garantias equivalentes a 5% desse valor e,
uma variação de 0,045% a 0,4%, quanto a garantia atingir 10% do valor
contratado. Portanto, o percentual atribuível à garantia no LDI depende do
prazo de execução da obra, da classificação de risco da empresa e da
negociação do prêmio com a seguradora. Desse modo, a referência indicada
observa base de cálculo anual.
9.3 Taxa de risco
Embora sirva como provisão para ocorrências não previstas em
projetos e que podem repercutir no custo da obra, a taxa de risco representa
uma margem de reserva e não pode ser muito significativa. Os valores que
foram observados nos contratos pesquisados são razoáveis e podem servir
como referência.
9.3.1 Faixa de variação observada
Mínimo Máximo Média
0,00% 2,00% 1,00%
9.3.2 Faixa de variação de referência
Mínimo Máximo Média
0,00% 2,00% 1,00%
9.4 Despesas financeiras
As despesas financeiras decorrem do custo de capital necessário que
a empresa tem que dispor para execução da obra. Eventuais necessidades de
desembolso sem a contrapartida de saldo de caixa proveniente dos pagamentos
do contrato irão acarretar um custo financeiro que será calculado em função da
taxa de remuneração desse capital (juros ou custo de capital próprio) e do
período de sua alocação (em dias), quando necessária.
Esse capital é uma necessidade específica para aquele contrato,
chamado, muitas vezes, de caixa da obra. Seu montante é variável de acordo
com as fases da obra, perfil operacional da empresa, características dos gastos
da obra e sincronia com os recebimentos de contraprestação.
Existem vários fatores que podem reduzir esses custos ou, até,
inverter o fluxo e gerar superávit financeiro.
A parte das despesas da obra relativa aos fornecedores da
empreiteira pode ter prazo de pagamento igual ou superior aos dos
recebimentos programados para o contrato. O gerenciamento de compras da
empresa procura otimizar esse fluxo de caixa para tornar a maior parcela
possível das despesas com custo ‘zero’ de capital.
Outra influência é a taxa de remuneração desse capital. A taxa
SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), média ponderada pelo
volume das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos
públicos federais, é uma taxa básica utilizada como referência, pois as taxas de
juros cobradas pelo mercado são balizadas pela mesma. Ela pode servir como
parâmetro para remuneração deste encargo.
Há a possibilidade também da empreiteira ter acesso a capitais com
custo de TJLP (taxa de juros de longo prazo), inferior à SELIC (atualmente a
TJLP está 8,15% ao ano, enquanto a SELIC está no patamar de 15,25% ao ano
- taxa obtida no mês de junho/2006).
Dessa forma, considera-se que pode não haver custo de capital ou,
até superávit financeiro. Havendo necessidade de aporte de recursos,
recomenda-se a referência da taxa SELIC para cálculo do custo do capital,
devendo-se calcular o período médio da necessidade de alocação desse capital.
Para referência máxima, será indicada a taxa SELIC para 30 dias, cotação de
junho de 2006.
9.4.1 Faixa de variação observada
Mínimo Máximo Média
0,00% 3,52% 2,10%
9.4.2 Faixa de variação de referência
Mínimo Máximo Média
0,00% 1,28% 0,64%
9.5 Administração central
Os custos relativos à administração central são os mais complexos
entre os indiretos. A gama de fatores que podem ser computados nesse item é
grande. São todos os relativos à manutenção das atividades operacionais da
empresa construtora. Custos administrativos, financeiros e comerciais, que já
foram citados no tópico específico.
A magnitude e distribuição desses custos dependem do perfil e
estrutura de cada empresa.
O que vai importar, na estimativa para orçar um contrato de obra, é
de que forma esses custos irão ser apropriados no contrato.
Para uma empresa executora de um contrato somente, este deve
suportar todo o seu custo. Em compensação, as despesas da administração
central devem ser as menores possíveis para possibilitar a realização de lucro
operacional.
Nos casos mais comuns, a empreiteira administra mais de um
contrato de obra e, então, esses custos devem ser apropriados na forma de
rateio proporcional aos contratos por ela executados, considerados o valor, o
período de execução e as necessidades operacionais.
Excepcionalmente, a consideração desses custos em determinado
contrato pode ser mínima, caso a estrutura da empresa permita que sua
administração central possa ser suportada por outros contratos e,
estrategicamente, ela reduza a sua apropriação em um contrato específico, com
intuito de ganhar competitividade na proposta de preços.
9.5.1 Faixa de variação observada
Normalmente, as empresas fazem a apropriação desses custos
distribuída entre os seus contratos. Dentre os contratos pesquisados, os valores
indicados nos orçamentos são os seguintes:
Mínimo Máximo Média
2,00% 13,05% 4,48%
9.5.2 Faixa de variação de referência
Como visto, a estipulação do custo de administração central em um
contrato depende de sua situação e estratégia. Assim, poderá uma empresa até
mesmo não atribuir esse custo a um contrato. Em contrapartida, não há limite-
teto para esse custo, já que são várias as hipóteses de causas incidentes,
podendo-se justificar vários níveis percentuais. Entretanto, considerando os
contratos pesquisados (descartado o maior valor registrado), o percentual
máximo de 8% situa-se próximo a outras referências de custo citadas na
bibliografia utilizada neste trabalho. Para a média será adotado o percentual de
4% (média aritmética de 0 e 8) por se aproximar da média de 4,13%
(percentual médio dos valores pesquisados tratado estatisticamente - Tabelas I
e VII), sinalizando a coerência, portanto, com os dados obtidos na pesquisa.
Mínimo Máximo Média
0,00% 8,00% 4,00%
9.6 Lucro
Considerados os custos diretos e indiretos necessários para a
realização da obra, o lucro é o acréscimo final no orçamento para remuneração
da empreiteira para a execução do contrato da obra.
Para a determinação do lucro a empresa vai considerar dois fatores:
a expectativa de retorno do projeto analisado e a sua estratégia comercial.
O que é esperado comumente na fixação dos lucros para estimar o
valor de um contrato de obra é a utilização da expectativa de retorno de um
projeto (execução da obra) para a empresa, comparada com investimentos
alternativos e com a oportunidade do contrato pretendido. Para esse resultado
esperado, normalmente é realizada uma avaliação financeira, de acordo com a
condição da empresa.
Dependendo da escolha da estratégia comercial, a empresa pode ser
bem agressiva na proposta de preços, relegando a segundo plano o retorno do
investimento considerado para o contrato. Quanto menor for a taxa percentual
exigida para análise sobre o retorno do investimento, maior será a
competitividade de proposta.
As motivações para perseguir o sucesso em uma licitação em
detrimento da remuneração possível pela execução da obra variam: a empresa
pode estar interessada na obra específica por sinergia com suas atuais
atividades; pode haver interesse em quebrar barreiras impostas pelos
concorrentes no mercado para o tipo de obra a ser executada; pode haver
interesse em incrementar o portfolio de execução de obras da empresa; pode
haver interesse na formação de um novo fluxo de caixa advindo do contrato e
que pode contribuir com outros tipos de ganho para a empresa, entre outras.
Esses exemplos podem traduzir ganhos indiretos atuais para
empresa ou mesmo ganho futuro, na ótica de longo prazo para o mercado.
Assim, é possível que empresas atuem com margem de lucro mínima em
propostas para concorrer nas contratações de obras, desde que bem estimados
os custos diretos e indiretos.
Comentadas hipóteses de estipulação de lucros excepcionalmente
reduzidos deve-se desconsiderar, por sua vez, a formação de lucros elevados.
Primeiro, porque espera-se que a concorrência obtida para as licitações faça
com que o mercado iniba os excessos em função da perda de competitividade
que eles geram. Em segundo lugar, caso não funcione a regulação pelo
mercado, deve a administração zelar por proposta vantajosa, evitando excessos
nos preços praticados.
Não há norma que fixe ou limite o percentual de lucro das
empresas. Para verificar e classificar um valor como excessivo, a administração
deverá trabalhar com parâmetro de referência, tecnicamente justificado e
baseado em prática observada no mercado, para, caso o valor analisado
extrapole o parâmetro, seja examinada a causa e, auxiliada pela análise da
adequabilidade dos custos diretos, a administração possa negociar a
readequação da margem de lucro proposta, ainda que vencedora de um
certame.
Assim, mesmo sem estipular um valor-teto para o lucro, considera-
se os percentuais atribuídos nos contratos observados como normais ao
compará-los com os dados apresentados nos estudos contidos nas bibliografia
citada.
9.6.1 Faixa de variação observada
Mínimo Máximo Média
0,00% 11,44% 8,58%
9.6.2 Faixa de variação de referência
A recomendação de percentuais de referências para a indicação do
lucro no LDI será melhor discutida no tópico seguinte onde os dados sofrerão
tratamento estatístico.
9.7 Faixa de variação do LDI
Agregando-se os valores comentados para cada item e
acrescentando os tributos, estipulados, para esse exemplo, em COFINS
(3,00%), PIS (0,65%), ISS (variando de 2 a 5% a depender do município) e
CPMF (0,38%), apresenta-se a seguir tabelas demonstrativas do LDI, tomando-
se como base, na primeira situação, os valores observados na pesquisa, em
segunda condição, os valores sugeridos como referência, ambos tratados
estatisticamente.
Para os valores observados na pesquisa (dados obtidos em Furnas e
na Chesf), primeiramente, foram eliminados aqueles que não deveriam constar
no LDI, como por exemplo IRPJ, CSLL e Administração Local. Os tributos que
tiveram valores divergentes dos que estabelece a legislação foram corrigidos de
forma a espelhar a situação real. Cabe esclarecer que o item Riscos (que foi
observado em apenas um orçamento de LDI) não foi considerado neste
primeiro momento para avaliar a variação dessa taxa nas empresas
pesquisadas. Os itens e valores observados na pesquisa - já ajustados,
conforme o caso - estão elencados na Tabela V.
Depois (na parte inferior da mesma Tabela V) foram avaliados os
pontos que representam ‘observações discrepantes’ (outliers)(40) , ou seja,
percentuais de LDI extremos que não representam adequadamente o conjunto
de valores, mas podem afetar significativamente o resultado da análise. Para
tal, foi aplicada a ferramenta do ‘Desenho esquemático’ (Box plot), na qual é
calculado o ‘intervalo interquartil’ da distribuição, representado pela diferença
entre o 3º (Q3-) e o 1º quartil (Q1), ou seja, (Q3 - Q1), procurando eliminar os
pontos que estiverem abaixo de Q1 - 1,5x(Q3-Q1) ou acima de Q3 + 1,5x(Q3-
Q1).
--------------------
(40) BUSSAB, Wilton, MORETTIN, Pedro. Estatística básica. 4. ed.
São Paulo: Atual, 1987. p. 34 a 39.
--------------------
A partir dos dados da Tabela V, foi eliminado da amostra o item 16,
por representar ponto extremo que não representa adequadamente o conjunto
de dados. Em que pese o item 17 estar um pouco acima do valor obtido como
máximo, este foi mantido por não se afastar muito dos valores observados.
Nesse momento, foi definida a amostra final de dados, com 24 itens, para a
qual foram calculados os valores de média e desvio padrão.
Para os itens Administração Central, Garantia, Despesas
Financeiras, Lucro e para o próprio valor total de LDI (os tributos não foram
considerados, pois são valores fixos definidos em lei, à exceção do ISS que
pode variar a depender do município) foram definidos intervalos e a ocorrência
dos valores pesquisados em cada intervalo. Após isso, foi realizado um estudo
envolvendo dois tipos de distribuições estatísticas, a Distribuição Normal e a
Distribuição Gamma, e feito um comparativo das probabilidades acumuladas da
ocorrência dos valores em cada intervalo para as duas distribuições com o
comportamento dos valores da amostra (vide anexo a este trabalho Tabelas e
Gráficos específicos para cada um dos itens).
Os intervalos foram redefinidos de forma a que todos possuíssem
pelo menos 5 eventos com o objetivo de aplicar o Teste Qui-Quadrado
conforme descrito abaixo(41) :
--------------------
(41) KREYSZING, Erwin. Introductory Mathematical Statistics -
Principles and Methods. New York: Wiley, p. 249-250
--------------------
1º Passo: Subdividir o eixo x em K intervalos I1, I2, ..., IK tal que
cada intervalo contenha pelo menos 5 valores da amostra x1, ..., xn.
Determinar o número bj dos valores da amostra no intervalo Ij (j = 1, ..., K).
Se um valor da amostra cair em um limite comum de 2 intervalos, somar 0,5
para cada um dos valores bj correspondentes.
2º Passo: Usando a função F(x), computar a probabilidade pj que o
valor aleatório X considerado assuma qualquer dos valores no intervalo Ij (j =
1, ..., K). Calcular ej = npj (Esse é o número de valores da amostra
teoricamente esperados no Ij se a hipótese for verdadeira).
- Função da Distribuição Normal
, onde , e - Função da Distribuição Gama
OBS: O cálculo dessas funções foi realizado por meio do programa
Excel.
3º Passo: Calcular o desvio
4º Passo: Escolher um nível de significância ? (5%, 1% ou outro
desejado - no caso deste estudo foi de escolhido 5%).
5º Passo: Determinar a solução c da equação:
P(X2 ? c) = 1 - ?
Utilizando o tabela da distribuição Qui-Quadrada (não foi utilizada a
tabela, pois o cálculo foi realizado diretamente no programa Excel, mas, de
qualquer forma, a tabela está presente na Table 6 - fl. 175 do Anexo 2 do
Volume Principal) com K - 1 graus de liberdade. Se Xo2 ? c, não rejeitar a
hipótese. Se Xo2 > c, a hipótese deve ser rejeitada. Com base nesse passos
foram realizados os cálculos e elaboradas as Tabelas e Gráficos específicos para
cada um dos itens, que encontram-se anexos. Verifica-se que a hipótese foi
aceita para todos os itens tanto para a Distribuição Normal como para a
Gamma. Dessa forma, decidiu-se por utilizar a Distribuição Normal para balizar
os cálculos de mínimos e máximos dos valores observados na pesquisa (com
95% de probabilidade de chance dos valores se encontrem entre esses
máximos e mínimos). Foi utilizada a função Inverso da Normal (INV.NORM) do
programa Excel para se obter os valores de máximos e mínimos. Abaixo estão
apresentados esses valores:
Tabela I - Faixa de variação observada consolidada
Descrição Mínimo Máximo Média
Garantia 0,00* 1,50 0,65
Despesas Financeiras 0,37 3,79 2,08
Administração Central 1,29 6,96 4,13
Lucro 3,86 13,34 8,60
Tributos 6,03 9,03 7,62
COFINS 3,00 3,00 3,00
PIS 0,65 0,65 0,65
ISS 2,00 5,00 3,59
CPMF 0,38 0,38 0,38
Total 19,51 31,34 25,42
*Considerado o valor zero, pois não é possível ter valor negativo,
com base nos cálculos presentes na Tabela VII, além do que o valor encontra-
se muito próximo de zero.
Já para os valores de referência foi adotado um outro tratamento
estatístico. Com base nas faixas de variação de referência apresentada no
tópico anterior foi elaborada uma planilha(42) com os valores mínimos e
máximos e foram calculados as médias e desvio padrão de cada item. Foram
gerados 100 números aleatórios para cada um deles (função ALEATÓRIO do
programa Excel). Com base nesses números foram efetuados cálculos para se
obter 100 simulações distintas para os valores de cada item e do LDI total
(utilizando a fórmula da Inversa da Normal - INV.NORM do Excel e tendo como
probabilidade os números aleatórios gerados). A partir dessas simulações foi
possível se calcular nova média e desvio padrão, assim como estabelecer novos
limites mínimos e máximos para cada um dos itens do LDI e para o seu
percentual total (tendo como referência essas novas informações geradas e
utilizando novamente a fórmula da Inversa da Normal - INV.NORM, só que
agora com uma probabilidade de 95% de chance daqueles valores simulados
encontrarem-se entre os mínimos e máximos definidos inicialmente).
--------------------
(42) Pelo fato da Planilha ser extensa está gravado arquivo “Tabela
VIII - LDI de Referência” no disquete acostado à contracapa do Volume
Principal com os cálculos e simulações efetuados.
--------------------
Para esses cálculos foi admitida a taxa de Risco. Para o valor
mínimo do Lucro foi adotado o percentual da Tabela I e para o máximo foi
estabelecido o percentual de 10%, tendo em vista que: em que pese ser
possível alguma empresa adotar lucro zero é algo bem raro de acontecer e esse
valor pode estar mascarado em outra despesa ou custo do orçamento; e, como
é difícil se estabelecer um teto para o lucro, conforme defendido neste trabalho,
decidiu-se por estabelecer o percentual máximo mais observado na pesquisa,
que foi de 10%.
Tabela II - Faixa de variação de referência consolidada
Descrição Mínimo Máximo Média
Garantia 0,00 0,42 0,21
Risco 0,00* 2,05 0,97
Despesas Financeiras 0,00* 1,20 0,59
Administração Central 0,11 8,03 4,07
Lucro 3,83 9,96 6,90
Tributos 6,03 9,03 7,65
COFINS 3,00 3,00 3,00
PIS 0,65 0,65 0,65
ISS 2,00 5,00 3,62
CPMF 0,38 0,38 0,38
Total 16,36 28,87 22,61
*Considerado o valor zero, pois não é possível ter valor negativo,
com base nos cálculos efetuados na Tabela VIII em meio eletrônico - disquete
acostado à contracapa do Volume Principal (Arquivo ‘Tabela VIII - LDI de
Referência’), além do que os valores são muito próximos a zero.
10 CONCLUSÃO
Diversos estudos procuram desenvolver métodos de cálculo de
custos indiretos para orçamentação de obras. No entanto, não existe uma
norma ou metodologia única e consensual para realizar o cálculo do LDI, nem
para definir os componentes que devam integrá-lo.
Neste trabalho, procurou-se abordar este tema à luz dos princípios e
dispositivos legais que regem as licitações e contratos administrativos,
considerando a necessidade do gestor em estimar e controlar adequadamente
os preços das obras e serviços a serem contratados. Mais especificamente, o
objeto deste trabalho está relacionado a contratos de obras de linhas de
transmissão e subestações. Para isso, foram estudados casos reais relativos às
empresas estatais do setor elétrico brasileiro.
A partir dos métodos adotados pelas empresas do setor elétrico, dos
casos estudados e da análise da natureza dos diversos itens normalmente
utilizados para seu cálculo, avaliou-se a adequada composição do LDI, com o
objetivo de apresentar uma metodologia de cálculo, fundamentando a
pertinência de cada um dos seus componentes.
Em razão disso, houve uma avaliação de cada um dos itens da
composição do LDI observados nos métodos das empresas estudadas, ou nos
estudos pesquisados, o que resultou na recomendação de exclusão de alguns
desses itens, tais como: Administração Local, Mobilização e Desmobilização,
IRPJ e CSLL.
Em seqüência, houve a preocupação de identificar uma faixa de
variabilidade para os valores dos componentes do LDI, com a indicação, se
possível, de níveis de aceitabilidade. Apesar disso, julgou-se não ser possível
definir critérios de aceitabilidade, assim entendidos como limites rígidos, para o
LDI e seus diversos componentes, mas somente parâmetros de referência, a
partir das faixas de variação observadas nos casos estudados e de ajustes
efetuados pela equipe.
Tal posição se justifica em função dos fatores que determinam os
valores de cada componente.
Os percentuais variáveis dos elementos que compõem o LDI, com
exceção dos tributos, cujas alíquotas são definidas em lei, guardam estreita
relação com características particulares de cada empresa, em especial, aquelas
consideradas no momento em que se realiza a orçamentação, tais como porte e
situação financeira da empresa, número de obras em execução,
representatividade do porte e da natureza da obra para a empresa, logística
necessária, necessidades operacionais, atratividade estratégica do contrato,
dentre outros aspectos. Assim, o orçamento proposto por uma empresa pode
variar conforme seu perfil e interesse na obra.
Um valor de referência, contudo, não deve ser desconsiderado. Pelo
contrário, uma referência é necessária para possibilitar que o gestor, por
exigência legal, estime o orçamento, uma vez que este não possui as
características de uma empresa e precisa se orientar por um padrão que simule
sua estrutura de custos. Isso não significa que não haja discrepâncias nas
propostas apresentadas. Porém, maiores divergências da referência adotada
somente poderão ser justificadas caso identificadas as características ou as
causas que as originaram.
Entende-se, então, que limitar a faixa de variação do LDI não é
necessário, visto que a aceitabilidade, pelo gestor, só se dará em seqüência,
com a análise conjunta dos custos direto e indireto que formarão o preço da
obra.
Para tanto, a estimativa do LDI será aplicada à estimativa dos
custos diretos para fornecer o preço da obra, resultado esse para o qual é
pertinente e necessária a utilização de critérios de aceitabilidade.
Tão importante quanto estabelecer critérios de aceitabilidade para o
LDI e para seus componentes é definir com precisão e clareza os elementos que
deverão integrá-lo, de forma a torná-lo mais enxuto,
buscando, assim, alocar como custo direto o maior número possível
de itens. Esse procedimento facilita o acompanhamento dos serviços
executados na obra e evita repercussões indesejadas no seu preço total,
decorrentes de eventuais aditamentos contratuais, pois quaisquer aumentos
dos custos diretos ampliariam as distorções causadas por um LDI inadequado.
Por isso, dedicou-se parte do trabalho a definir, dentre os
componentes usualmente utilizados no cálculo dos custos indiretos, conforme
os critérios e tipos de obras observados, tanto os que são considerados
adequados para composição do LDI, quanto os que não são recomendados para
esse cálculo.
Uma vez analisada uma referência para o LDI e para seus
componentes, conclui-se que para adequada orçamentação de uma obra é
preciso que se tenha com o LDI os mesmos cuidados exigidos para os custos
unitários diretos, de modo que o orçamento estimado seja detalhado, conforme
previsto no art. 6º, IX, f, c/c os arts. 7º, § 2º, e 40, X, da Lei n.º 8.666/1993, e
reflita uma realidade de mercado, de acordo com o art. 43, IV, da citada Lei.
Assim, como se deve determinar o detalhamento dos custos unitários, há
necessidade de se exigir dos licitantes o detalhamento de sua composição de
LDI e dos respectivos percentuais praticados, não só para realização de crítica
dos componentes considerados pelos licitantes, mas também para a formação
de uma memória de valores que permita à Administração pública, considerando
as peculiaridades de cada obra e empresa, realizar orçamentos com precisão
cada vez maior.
Esse orçamento estimado constitui, na realidade, o critério de
aceitabilidade de preços a ser utilizado pelo gestor no processo licitatório.
Portanto, a aceitabilidade do LDI não pode ser vista de maneira isolada, mas
deve ser avaliada conjuntamente com os demais custos unitários para
formação do preço de aquisição da obra ou do serviço a serem contratados.
Apesar de o escopo original do trabalho referir-se somente a obras
de linhas de transmissão, os trabalhos foram estendidos para obras de
subestações, estruturas comumente associadas àquelas. Cabe registrar que,
atualmente, as empresas pesquisadas executam maior número de contratos de
subestações do que de linhas de transmissão, por uma peculiaridade do
mercado que realiza leilões para contratação de novos empreendimentos de
linhas de transmissão e de subestações, que não são necessariamente ganhos
pelas estatais do setor elétrico. Residualmente, cabe a essas empresas
desenvolver atividades de modernização, manutenção e ampliação relacionados
à estrutura já existente.
Esse aspecto poderia sugerir o estabelecimento de critérios
diferentes de cálculo de LDI para obras de linhas de transmissão e de
subestações. Apesar das peculiaridades de cada obra, a pesquisa efetuada
indicou que os custos dos serviços podem ser tratados de maneira homogênea,
envolvendo, normalmente, as mesmas empresas participantes, e cujas
estimativas de custos são realizadas pelo mesmo setor das empresas
contratantes.
Vale destacar que a diferença de LDI passa a ser significativa não
para o tipo de obra, se de Linhas de Transmissão ou de Subestações, mas
quando se discrimina a compra de equipamentos dos serviços de engenharia.
Considerando-se que, em média, o valor dos equipamentos corresponde a um
percentual expressivo dos custos das obras de linha de transmissão e de
subestações, é essencial discriminar essa diferença para avaliar a melhor
solução entre um contrato global, abrangendo serviços e bens (equipamentos e
materiais), sob responsabilidade da construtora, ou a aquisição direta dos
equipamentos junto ao fornecedor e a contratação em separado dos serviços de
engenharia correspondentes.
Nas empresas pesquisadas verificou-se que a aquisição direta de
bens junto ao fabricante ou fornecedor, tem-se revelado mais vantajosa. No
caso da CHESF, identificou-se que, em casos em que essas aquisições foram
realizadas por intermédio do empreiteiro, havia a prática de um LDI com
composição diferenciada, constituído apenas de lucro e de tributos. Ou seja,
para esses casos, existe uma adaptação na composição do LDI, eliminando-se o
item administração central e reduzindo o percentual de lucro.
Diante dos estudos realizados, conclui-se que é possível e
necessário que o gestor estabeleça critérios de aceitabilidade de preços para
cada contratação. Para tanto, faz-se necessária a utilização de referências
técnicas, bem com o conhecimento das práticas de mercado, obtidas a partir do
histórico de contratações anteriores.
No sentido de aperfeiçoar a sistemática de formação de critérios, é
importante que as propostas de preços contenham o detalhamento de seus
custos indiretos, com a especificação dos componentes do LDI. Esse
detalhamento pode ser útil, ainda, no caso em que o gestor necessite negociar
os preços para homologar uma licitação ou, também, no caso em que a
negociação ocorra em eventual aditamento ao contrato.
Portanto, dentro do escopo definido pela Ordem de Serviço
SEGECEX n.º 06, de 16 de março de 2006, este estudo pretende fornecer
referências para direcionar a atuação do gestor ou para a avaliação dos seus
atos na utilização adequada dos instrumentos previstos nas normas que regem
licitações e contratos administrativos.
11 PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Em face do exposto, encaminhamos os autos à consideração
superior, com as seguintes propostas:
I. Que as seguintes premissas acerca dos componentes de Lucros e
Despesas Indiretas - LDI passem a ser utilizadas como referenciais pelas
unidades técnicas do Tribunal quando dos trabalhos de fiscalização em obras
públicas:
I.1 Os tributos IRPJ e CSLL não devem integrar o cálculo do LDI,
nem tampouco a planilha de custo direto, por se constituírem em tributos de
natureza direta e personalística, que oneram pessoalmente o contratado, não
devendo ser repassado à contratante;
I.2 Os itens Administração Local, Instalação de Canteiro e
Acampamento e Mobilização e Desmobilização, visando a maior transparência,
devem constar na planilha orçamentária e não no LDI;
I.3 O gestor público deve exigir dos licitantes o detalhamento da
composição do LDI e dos respectivos percentuais praticados;
I.4 O gestor deve promover estudos técnicos demonstrando a
viabilidade técnica e econômica de se realizar uma licitação independente para
a aquisição de equipamentos/materiais que correspondam a um percentual
expressivo das obras de linhas de transmissão e de subestações, com o
objetivo de proceder o parcelamento do objeto previsto no art. 23, § 1º, da Lei
n.º 8.666/1993; caso seja comprovada a sua inviabilidade, que aplique um LDI
reduzido em relação ao percentual adotado para o empreendimento, pois não é
adequada a utilização do mesmo LDI de obras civis para a compra daqueles
bens.
II. Aprovar os valores abaixo listados como faixa referencial para o
LDI em obras de linhas de transmissão e subestações.
Descrição Mínimo Máximo Média
Garantia 0,00 0,42 0,21
Risco 0,00 2,05 0,97
Despesas Financeiras 0,00 1,20 0,59
Administração Central 0,11 8,03 4,07
Lucro 3,83 9,96 6,90
Tributos 6,03 9,03 7,65
COFINS 3,00 3,00 3,00
PIS 0,65 0,65 0,65
ISS 2,00 5,00 3,62
CPMF 0,38 0,38 0,38
Total 16,36 28,87 22,61
I. determinar à Secob que oriente as Secretarias de Controle
Externo para verificarem, no âmbito das fiscalizações realizadas nos próximos
exercícios, o cumprimento das premissas contidas nos itens I.1 a I.4 supra.
II. Encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida,
acompanhada de cópia deste relatório:
- à SECEX-MT para subsidiar os trabalhos do TC -003.658/2003-1;
- às empresas CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco,
Eletrosul Centrais Elétricas S.A., Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do
Brasil S.A., FURNAS Centrais Elétricas S.A., e Eletrobrás - Centrais Elétricas
Brasileiras S.A., para subsidiar procedimentos a serem adotados em futuras
contratações”.
É o Relatório.
Voto do Ministro Relator
Como se pode depreender do Relatório que precede este Voto, os
presentes autos tratam dos estudos e das conclusões do Grupo de Trabalho
constituído com o objetivo de propor critérios de aceitabilidade para o Lucro e
Despesas Indiretas (LDI), em obras de implantação de linhas de transmissão de
energia elétrica.
Preliminarmente, foi necessário definir com clareza os elementos
que deveriam integrar o LDI, de forma a se evitar repercussões indesejadas no
preço total contratado.
Tal etapa foi de extrema importância, pela sua abrangência, pois
levou à elaboração das premissas acerca dos componentes do LDI, a serem
observadas pelas unidades técnicas quando da realização de todos os trabalhos
de fiscalização em obras públicas a cargo desta Corte. Nesse particular, parece-
me necessário dar ciência às unidades jurisdicionadas ao Tribunal de tais
procedimentos.
Essa questão, há muito tempo, demandava um estudo mais
aprofundado, já que tem sido preocupação crescente do Tribunal a
possibilidade de distorções nos valores contratados com a administração
pública, em decorrência tanto de inclusões indevidas de itens como despesas
indiretas como também da falta de discriminação dos componentes de tais
despesas.
Nesse sentido, podem inclusive ser citadas deliberações do Plenário
em que esses problemas foram suscitados: Acórdãos 1125/2005, 1180/2005,
1324/2005, 1595/2006, 1578/2006, 865/2006, 1045/2006, 1387/2006,
1578/2006, 1592/2006, 1622/2006, 2063/2006, 62/2007.
Cabe ressaltar, por oportuno, que a não-cumulatividade do
PIS/COFINS, prevista inicialmente para ser aplicável às receitas decorrentes da
execução por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de
construção civil a partir de 01/01/2007, consoante o art. 10, inciso XX, da Lei
n.º 10.833/2003, somente será aplicável a partir de 01/01/2009, nos termos
do art. 7º da Lei n.º 11.434, de 28/12/2006.
Especificamente sobre as obras de implantação de linhas de
transmissão de energia elétrica, objeto do presente processo, o Grupo de
Trabalho apresentou uma variação de referência dos componentes do LDI que
poderá servir de base às análises de adequação dos critérios de aceitabilidade a
serem praticados em cada contrato. Nada obstante, reconhece a equipe que a
formação dos critérios de aceitabilidade é uma atribuição do contratante e tem
influência própria do projeto de cada obra.
Com essas considerações, acolho as conclusões do grupo,
parabenizando a SECOB pelo consistente trabalho técnico apresentado, e VOTO
no sentido que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à apreciação deste
Plenário.
Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14
de março de 2007.
GUILHERME PALMEIRA
Ministro-Relator
Acórdão
VISTOS, relatados e discutidos estes autos do Relatório do Grupo de
Trabalho, constituído por força de determinação do Acórdão 1.566/2005 -
Plenário, com o objetivo de propor critérios de aceitabilidade para o Lucro e
Despesas Indiretas (LDI) em obras de implantação de linhas de transmissão de
energia elétrica.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em
Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. orientar as unidades técnicas do Tribunal que, quando dos
trabalhos de fiscalização em obras públicas, passem a utilizar como referenciais
as seguintes premissas acerca dos componentes de Lucros e Despesas
Indiretas - LDI:
9.1.1. os tributos IRPJ e CSLL não devem integrar o cálculo do LDI,
nem tampouco a planilha de custo direto, por se constituírem em tributos de
natureza direta e personalística, que oneram pessoalmente o contratado, não
devendo ser repassado à contratante;
9.1.2. os itens Administração Local, Instalação de Canteiro e
Acampamento e Mobilização e Desmobilização, visando a maior transparência,
devem constar na planilha orçamentária e não no LDI;
9.1.3. o gestor público deve exigir dos licitantes o detalhamento da
composição do LDI e dos respectivos percentuais praticados;
9.1.4. o gestor deve promover estudos técnicos demonstrando a
viabilidade técnica e econômica de se realizar uma licitação independente para
a aquisição de equipamentos/materiais que correspondam a um percentual
expressivo das obras, com o objetivo de proceder o parcelamento do objeto
previsto no art. 23, § 1º, da Lei n.º 8.666/1993; caso seja comprovada a sua
inviabilidade, que aplique um LDI reduzido em relação ao percentual adotado
para o empreendimento, pois não é adequada a utilização do mesmo LDI de
obras civis para a compra daqueles bens;
9.2. aprovar os valores abaixo listados como faixa referencial para o
LDI em obras de linhas de transmissão e subestações:
Descrição Mínimo Máximo Média
Garantia 0,00 0,42 0,21
Risco 0,00 2,05 0,97
Despesas Financeiras 0,00 1,20 0,59
Administração Central 0,11 8,03 4,07
Lucro 3,83 9,96 6,90
Tributos 6,03 9,03 7,65
COFINS 3,00 3,00 3,00
PIS 0,65 0,65 0,65
ISS 2,00 5,00 3,62
CPMF 0,38 0,38 0,38
Total 16,36 28,87 22,61
9.2. encaminhar cópia da presente deliberação, acompanhada do
Relatório e Voto que a fundamentam à SECEX-MT para subsidiar os trabalhos
do TC 003.658/2003-1 e às empresas CHESF - Companhia Hidro Elétrica do
São Francisco, Eletrosul Centrais Elétricas S.A., Eletronorte - Centrais Elétricas
do Norte do Brasil S.A., FURNAS Centrais Elétricas S.A., e Eletrobrás - Centrais
Elétricas Brasileiras S.A., para subsidiar procedimentos a serem adotados em
futuras contratações;
9.3. determinar à SEGECEX que dê conhecimento às unidades
jurisdicionadas ao Tribunal das premissas acerca dos componentes de Lucros e
Despesas Indiretas - LDI, contidas no item 9.1 supra, que passarão a ser
observadas por esta Corte, quando da fiscalização de obras públicas.
Quorum
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente),
Marcos Vinicios Vilaça, Valmir Campelo, Guilherme Palmeira (Relator), Ubiratan
Aguiar, Benjamin Zymler, Augusto Nardes e Aroldo Cedraz.
13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.
13.3. Auditor presente: Marcos Bemquerer Costa.
Publicação
Ata 09/2007 – Plenário
Sessão 14/03/2007
Aprovação 15/03/2007
Dou 16/03/2007 - Página 0
Referências (HTML)
Documento(s):TC-003-478-2006-8.doc